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O�cina literária
Aula 5: Outras formas de narrar – o conto
Apresentação
Nesta aula, estudaremos a estrutura do conto e aquilo que o diferencia do romance.
 
Objetivo
Entender o conto como uma outra forma de narrar.
Conhecer o objetivo do conto.
Conhecer a origem do conto.
Identi�car todos os elementos que fazem parte da estrutura do conto.
Introdução
Na última aula, falamos sobre o romance. Mas existem outras formas de narrar, ou seja, de contar os fatos como, por
exemplo, o conto.
Mas, a�nal, o que é o conto?
Muita gente de�ne o conto como sendo uma narrativa pequena. Mas, a de�nição precisa não é esta.
A chave para se entender o conto, enquanto gênero, está na concentração de sua trama. Não é possível falar de
vários assuntos ou apresentar várias situações dentro de um conto. Ele trata, geralmente, de uma situação, a qual se
desenrola sem pausas e sem recuos.
 Fonte: Byerson Retamal por Pixabay
No conto, deve existir um cuidado na seleção de tudo aquilo que será apresentado ao leitor. Tudo deve ser muito simples,
sem grandes complicações psicológicas e sem grandes peripécias.
O seu foco é levar o leitor ao desfecho, que é, também, o clímax da história. É o momento com o máximo de tensão.
Neste momento �nal, quase não há descrições.
Origem do conto
O conto surgiu com as narrativas religiosas.
Você já ouviu falar da parábola do �lho pródigo, da mulher que tinha um �uxo de sangue, da ressurreição de Lázaro ou do
con�ito entre Caim e Abel?
Todas são pequenas histórias bíblicas que fazem parte do nascimento do conto. Depois de anos, muitas narrativas
religiosas foram, aos poucos, perdendo suas características, pois o folclore inseriu, em tais narrativas, dragões, seres
fantásticos, fadas. Dessa forma, os contos de fadas e as fábulas vão absorver os elementos do folclore.
A palavra conto deriva do verbo contar, que tem sua origem em computare, isto é, enumerar objetos ou enumerar
acontecimentos.
Quem já não ouviu falar de As mil e uma noites, Aladim e a lâmpada maravilhosa, Simbad: o marujo ou Ali-Babá e os
quarenta ladrões?
Pois é, são exemplos típicos de contos que surgiram na Pérsia, na Arábia e povoam, até hoje, o acervo cultural do
mundo todo.
 Fonte: Karina Mannott por Pixabay
Na Idade Média, contar era a mesma coisa que enumerar fatos ou relatar algo, construindo, assim, narrativas. Só no
século XVI, ganha, especi�camente, um sentido literário, caracterizando-se como gênero.
O século XIX foi a época de maior esplendor do conto.
É o tempo em que ele se torna nobre e passa a dividir espaço, no universo literário, com o romance. Surge, então, autores
contistas como:
Balzac;
Flaubert;
Machado de Assis.
Unidade
Como já dissemos, o conto não fala de várias situações. Ele gravita em volta de um só con�ito. Isso lhe garante unidade
de ação.
E, de onde surge o con�ito? Ora, surge do embate entre as personagens. Tudo pode detonar o con�ito, ou seja, pode surgir
da dor, de um sofrimento qualquer, da angústia, da inquietude, da consciência da morte ou mesmo da noção da fragilidade
da existência humana.
Tudo que movimenta o conto converge para um único núcleo. O drama é
só um, por isso não há grandes questionamentos a respeito de nada.
Em Missa do Galo, de Machado de Assis, o con�ito se estabelece pela atração entre a mulher de 30 anos e um rapaz de 17
anos. O diálogo sensual que os dois travam, antes da missa do galo, é uma situação única e importante na vida do
narrador-protagonista. Tanto é assim que ele lembra de tudo que aconteceu em algumas horas daquela noite.
Leitura
Clique aqui para acessar o conto Missa do galo, de Machado de Assis, disponível no site Domínio Público.
Características
Clique nos botões para ver as informações.
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Em todo conto, há, sempre, uma limitação de espaço. As personagens não têm muito por onde circular. Pode ser
uma rua, uma casa, um quarto ou uma sala. Qualquer um desses lugares serve para a organização e um enredo.
À unidade de ação corresponde a unidade de espaço. O que isto signi�ca? Ora, apenas um ambiente se con�gura
como palco do con�ito. Ali está concentrada a dramaticidade. Em Missa do galo, tudo se passa na sala da frente de
uma casa mal assombrada da rua do Senado. Ali o drama começa e termina.
Espaço 
O passado e o futuro não interessam no conto. O que conta é o momento presente. Por isso, a personagem esgota,
em apenas algumas horas, todas as suas potencialidades.
Tudo, neste tipo de narrativa, se passa em um tempo curtíssimo. São, apenas, algumas horas ou dias.
Tempo 
No conto, há, também, o estabelecimento de um foco: o leitor. Ele tem que ser impactado pela história que vai ler.
Para ser interessante, o conto tem que ter um tom que desperte no leitor uma única impressão, a qual pode ser:
pavor, piedade, ódio, simpatia, ternura ou indiferença.
O conto sempre opera com ação. Não opera com caracteres. Isto, para despertar essa impressão única no leitor.
Foco 
Mas qual é o signi�cado da impressão única no leitor?
Signi�ca fazer com que os con�itos apresentados funcionem como espelho para o leitor. Cria-se um movimento de
identi�cação. Por isso, o contista se esforça para criar um drama que desperte, de forma quase imediata, um sentimento
forte no leitor.
Esta unidade de tom é evidenciada pela tensão interna da trama narrativa. Sendo assim, nada pode, no texto, ser
modi�cado, isto é, nenhuma palavra pode ser tirada ou acrescentada.
Qualquer conto é construído a partir de uma só ideia, de uma só
concepção da vida.
Em Missa do galo, por exemplo, qual é a impressão deixada no leitor? O que �ca após a leitura? Fica a impressão de que
qualquer pessoa pode passar, na vida, por algum tipo de situação subentendida. Tais situações podem ser de qualquer
ordem e só anos depois, muitas vezes, são avaliadas como decisivas para o destino de alguém.
 Personagens
 (Fonte: delo por Pixabay ).
Enquanto, no romance, temos um bloco considerável de
personagens, no conto são poucas. Há sempre um par
dialético, isto é, há sempre um diálogo que dá a direção
da história. Mesmo quando a personagem está sozinha,
ela fala. O seu diálogo, neste caso, é com o seu próprio
eu. Este eu é que vai ser o seu oponente dramático.
O diálogo e as ações das personagens conduzem para
um epílogo enigmático. Não imaginamos, ao iniciar a
leitura, como vai ser o �nal em contos como Missa do
galo, A cartomante ou O enfermeiro.
A personagem do conto não cresce como no romance. Não passa por
nenhuma transformação.
A personagem é estática, ou seja, não muda. Isto acontece porque é surpreendida num único instante de sua existência.
Ela é imobilizada no tempo, no espaço e em sua personalidade. Apenas uma faceta do seu caráter aparece. Por isso,
muitas vezes, nem sequer lembramos o nome de uma personagem. O mesmo não acontece no romance.
Leitura
Clique aqui para acessar o conto A cartomante e aqui para acessar o conto O enfermeiro, ambos de Machado de Assis,
disponível no site Domínio Público.
Linguagem
Se a compreensão de um conto deve ser imediata, o leitor não pode se deparar com muitas metáforas. A linguagem,
portanto, deve ser objetiva. Não há  espaço para segundas intenções nas palavras. Não há  espaço para obscuridades. As
coisas são da forma como são ditas. As palavras, que movem os diálogos, constroem ou destroem alguma coisa. Os
con�itos estão na fala. Estão em tudo aquilo que é dito ou pensado.
Daí, a grande importância do diálogo. A discórdia, os mal-entendidos ou os subentendidos  estão no diálogo. É a base
expressiva do conto.
Estrutura
Por �m, temos que pensar na estrutura do conto. Como
se dá o desenrolar da trama?
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Ora, a trama é linear e objetiva. O tempo predominante é o
cronológico. Segue a marcação regular do tempo. O leitor
vê os fatos acontecerem com a mesma sequência, com a
mesma continuidade da vida real.
O andamento é a ordem lógica da vida. Ele caminha
sempre para frente e, a qualquer momento, podedesencadear um con�ito. Além disso, o leitor só conhece
os acontecimentos que antecedem ao �m, ou seja, que
estão um pouco antes do clímax dramático, pois o conto,
quando começa, já está perto do �m.
 (Fonte: Christine Engelhardt por Pixabay ).
Aula Teletransmitida em LIBRAS
Assista a versão na Linguagem Brasileira de Sinais da Aulateletransmitida.
Notas
Referências
Próxima aula
origem da crônica;
características da crônica;
linguagem da crônica;
crônica e outros textos.
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