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XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro Diferenças Possíveis de Produzir: um Ensaio Teórico sobre os Nexos de Inteligibilidade da Diferença nos Fenômenos de Liderança, Identificação Organizacional e Sentido Autoria Tarsila Santos Ribeiro - tarsila17@hotmail.com Mestr e Dout em Admin de Empresas/IAG-A Esc de Negócios da PUC-Rio - IAG/PUC-Rio - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Resumo Liderança, identificação organizacional e sentido são fenômenos sociais crescentes em suas literaturas, revelando-se como importantes organizadores do cotidiano das organizações. Todavia, poucos estudos parecem considerar os pressupostos epistemológicos utilizados para as concepções desses fenômenos e, assim, dos termos de suas dinâmicas. Acredita-se que o desordenamento dessas elaborações conceituais é problemática, sobretudo quando se considera o potencial interexplicativo desses fenômenos em um contexto sistêmico. Assim, o objetivo deste ensaio teórico é revisitar esses fenômenos à luz das diferenças que podem ser produzidas a partir de seus pressupostos epistemológicos, no registro da perspectiva sociocognitivo-construtivista; e de suas dinâmicas processuais, no registro do pensamento dialético. Para tal, refletiu-se sobre os nexos de inteligibilidade da diferença nesses fenômenos e suas concepções predominantes possibilitaram responder a seguinte pergunta: ?quais diferenças podem ser produzidas por esses fenômenos a partir da perspectiva sociocognitivo-construtivista e do pensamento dialético??. Sugere-se que a resposta para essa pergunta está em diferenças entendidas no registro de uma lógica formal, a partir da estruturação das multiplicidades em sistemas prévios de possibilidades, onde as identidades são passíveis de total desconstrução (e reconstrução). Como contribuição, o aprofundamento dessas reflexões permitirá qualificar melhor a subestrutura filosófica desses fenômenos, abordando os impactos organizacionais dessas elaborações conceituais. XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 1 Diferenças Possíveis de Produzir: um Ensaio Teórico sobre os Nexos de Inteligibilidade da Diferença nos Fenômenos de Liderança, Identificação Organizacional e Sentido RESUMO Liderança, identificação organizacional e sentido são fenômenos sociais crescentes em suas literaturas, revelando-se como importantes organizadores do cotidiano das organizações. Todavia, poucos estudos parecem considerar os pressupostos epistemológicos utilizados para as concepções desses fenômenos e, assim, dos termos de suas dinâmicas. Acredita-se que o desordenamento dessas elaborações conceituais é problemática, sobretudo quando se considera o potencial interexplicativo desses fenômenos em um contexto sistêmico. Assim, o objetivo deste ensaio teórico é revisitar esses fenômenos à luz das diferenças que podem ser produzidas a partir de seus pressupostos epistemológicos, no registro da perspectiva sociocognitivo-construtivista; e de suas dinâmicas processuais, no registro do pensamento dialético. Para tal, refletiu-se sobre os nexos de inteligibilidade da diferença nesses fenômenos e suas concepções predominantes possibilitaram responder a seguinte pergunta: “quais diferenças podem ser produzidas por esses fenômenos a partir da perspectiva sociocognitivo- construtivista e do pensamento dialético?”. Sugere-se que a resposta para essa pergunta está em diferenças entendidas no registro de uma lógica formal, a partir da estruturação das multiplicidades em sistemas prévios de possibilidades, onde as identidades são passíveis de total desconstrução (e reconstrução). Como contribuição, o aprofundamento dessas reflexões permitirá qualificar melhor a subestrutura filosófica desses fenômenos, abordando os impactos organizacionais dessas elaborações conceituais. Palavras-chave: (1) Liderança; (2) Identificação Organizacional; (3) Sentido; (4) Diversidade e diferença; (5) Ensaio teórico I. INTRODUÇÃO O tema central deste ensaio teórico são os nexos de inteligibilidade da diferença nos fenômenos de liderança, identificação organizacional e sentido a partir de seus pressupostos epistemológicos, no registro da perspectiva sociocognitivo-construtivista; e de suas dinâmicas processuais, no registro do pensamento dialético. Esse tema desperta interesse científico em razão do notável crescimento de estudos sobre esses fenômenos encontrados na literatura, revelando-os como importantes organizadores do cotidiano das organizações e, portanto, merecendo um lugar de destaque nas políticas de subjetivação que acompanham o registro moderno-ocidental. Em termos de liderança, observa-se o crescimento de seus estudos desde a publicação dos primeiros trabalhos científicos sobre o tema, no início do século XX, destacando-se aqueles que centralizam sua dinâmica na constituição do sentido das experiências interacionais dos indivíduos nas organizações, bem como aqueles que centralizam a dinâmica do sentido na constituição dos termos dessa influência (FAIRHURST; CONNAUGHTON, 2014, FAIRHURST; UHL-BIEN, 2012, THIEL et al., 2012, PYE, 2005, ROULEAU, 2005, WEICK, SUTCLIFFE; OBSTFELD, 2005, GIOIA; CHITTIPEDDI, 1991). Já em termos de identificação, o interesse está no crescimento de estudos sobre as dinâmicas nas quais os indivíduos/entidades, interagindo, reconhecem atributos em comum entre suas identidades, vinculando-se a partir delas e, assim, constituindo o sentido de pertencimento à organização (ASHFORTH et al., 2013, ASHFORTH; HARRISON; CORLEY, 2008, SLUSS; ASHFORTH, 2008, EDWARDS, 2005, RIKETTA, 2005). Todavia, dentre os estudos contemporâneos sobre liderança, identificação e sentido, poucos parecem considerar os pressupostos epistemológicos utilizados para suas concepções XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 2 e, por consequência, os termos de suas dinâmicas; o que contribui para o desconhecimento acerca das condições de produção desses fenômenos e lentifica o avanço do conhecimento científico acerca da expressão de suas realidades, nas organizações. Afinal, quem poderia responder, diante da complexidade conceitual desses fenômenos, quais aspectos devem ganhar lugar de relevância? Como chegamos à compreensão das dinâmicas de desenvolvimento desses aspectos? Dessa forma, acredita-se que o desordenamento das elaborações conceituais desses fenômenos é problemática, sobretudo em termos das diferenças que podem ser produzidas a partir de suas concepções predominantes, aqui representadas pelo paradigma funcionalista de orientação realista e objetivista, a partir da perspectiva sociocognitivo-construtivista e do pensamento dialético. Logo, pergunta-se: “quais diferenças podem ser produzidas por esses fenômenos a partir da perspectiva sociocognitivo-construtivista e do pensamento dialético?”. Para responder essa pergunta, este ensaio: 1) apresenta breves considerações paradigmáticas sobre liderança, identificação organizacional e sentido; 2) apresenta os nexos de inteligibilidade da diferença nas concepções predominantes acerca desses fenômenos, a partir da perspectiva epistemológica sociocognitivo-construtivista; 3) apresenta as concepções acerca de suas dinâmicas, a partir do pensamento dialético; 4) apresenta as diferenças que podem ser produzidas a partir dessas concepções; e 5) recomenda futuras direções e possibilidades de avanço do conhecimento científico sobre esses fenômenos. Nesse sentido, cabe ressaltar que este ensaio tem como objetivo revisitar esses fenômenos à luz das diferenças que podem ser produzidas a partir de seus pressupostos epistemológicos e de suas dinâmicas. Dessa forma, não é objetivo deste ensaio revelar uma inovação no campo de estudos desses fenômenos, nem realizar uma revisão sistemática de suas literaturas, e nem explorá-los de forma exaustiva, esgotando suas possibilidades à luz da perspectiva sociocognitivo-construtivista ou do pensamento dialético.Dessa forma, a contribuição deste ensaio é tripla. Primeiramente, oferece um aprofundamento dos aportes epistemológicos utilizados para as concepções acerca desses fenômenos e de suas dinâmicas, permitindo qualificar melhor a subestrutura filosófica de suas pesquisas. Em segundo lugar, oferece uma ordenação tópica que pode servir para esclarecer o que essa subestrutura é capaz de produzir em termos das diferenças entre os indivíduos que experienciam esses fenômenos; e quais questões essa subestrutura pode colocar aos próprios fenômenos e aos seus modelos de ação. Em terceiro, oferece uma reflexão sobre as diversas possibilidades de inscrição das diferenças na realidade social. II. LIDERANÇA, IDENTIFICAÇÃO E SENTIDO: BREVES CONSIDERAÇÕES PARADIGMÁTICAS Há várias maneiras de abordar o conhecimento acerca dos fenômenos sociais e as escolhas feitas no início da pesquisa são importantes, pois afetam a maneira como pensamos e agimos em relação a determinada realidade social. Sempre há crenças (ou pressupostos) orientadoras de práticas de pesquisa – crenças sobre a natureza da realidade (o que pode ser conhecido sobre a realidade e quem pode conhecê-la) e sobre o conhecimento (qual conhecimento é relevante e como chegamos à sua compreensão). Juntos, esses pressupostos formam a subestrutura filosófica da pesquisa, informando tanto a teorização desses fenômenos quanto suas práticas, decisões que vão desde a elaboração da pesquisa até a disseminação de seus resultados através de ações sobre determinada realidade. Nesse sentido, entende-se paradigma como uma estrutura por meio da qual o conhecimento é filtrado através da assunção de um conjunto de pressupostos que orientam a pesquisa: enquanto pressupostos que versam sobre a realidade são conhecidos como ontologia, aqueles que versam sobre o conhecimento são conhecidos como epistemologia. Por fim, em termos da estrutura prática da XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 3 pesquisa, os pressupostos metodológicos são informados pela ontologia e pela epistemologia, versando sobre o método e a teorização escolhidos como aporte para sua condução (LEAVY, 2017, LINCOLN; LYNHAM; GUBA, 2011, DENZIN; LINCOLN, 2006, KUHN, 1962). Nesse sentido, ressalta-se que não há uma definição única e acordada para os fenômenos de liderança, identificação e sentido, devido à pulverização de suas raízes intelectuais, de modo que as concepções acerca desses fenômenos podem variar entre diversas abordagens, que irão entende-los e defini-los a partir de diferentes paradigmas e pressupostos. Todavia, ainda que não haja consenso, observa-se que os desenvolvimentos teóricos desses fenômenos foram predominantemente influenciados pelo paradigma funcionalista de orientação ontológica realista, epistemológica positivista (ou pós-positivista – objetivista) e metodológica quantitativa (RAELING, 2016, HE; BROWN, 2013, GORDON, 2011, HERNES; MAITLIS, 2010, FAIRHURST, 2009, EDWARDS, 2005, PYE, 2005). O paradigma funcionalista fornece o quadro de referência dominante para os estudo organizacionais, sendo caracterizado pela sociologia da regulação e pela perspectiva objetivista na abordagem de seus objetos de estudo, os fenômenos organizacionais. Já o positivismo, por sua vez, abarca um conjunto de pressupostos epistemológicos que procuram explicar e predizer o que acontece na realidade através de regularidades e relacionamentos causais entre elementos, a partir do entendimento do conhecimento como um processo cumulativo (LEAVY, 2017, DENZIN; LINCOLN, 2006, BURRELL; MORGAN, 1979). Sendo assim, dependendo de como o fenômeno da liderança é entendido e definido nos estudos organizacionais, a concepção acerca da sua dinâmica pode variar entre diversas abordagens. Segundo Gordon (2011), a concepção predominante acerca dessa dinâmica é informada por aportes realistas, objetivistas e quantitativos; a partir do que o autor nomeou de abordagens tradicionais de liderança, cujas teorizações se concentram nos Estados Unidos e em saberes designados à Psicologia, especificamente, tendo como ponto comum a aderência dos seus estudos à estruturas formais, hierárquicas, e ao controle organizacional (GORDON, 2002). Além disso, o autor entende que as relações estabelecidas entre líderes e liderados (relações de liderança – por definição, de influência) são compreendidas em termos dualísticos, onde o líder tende a estar em posição de privilégio, uma vez que é considerado superior aos liderados, seja a partir de heranças biológicas, seja a partir de atributos apropriados à prática da liderança, condições necessárias para que o líder possa internalizar seu papel e/ou representar seus liderados; e para que os liderados possam seguir o líder. No que diz respeito às estruturas mencionadas, Raelin (2016) entende que sua importância está relacionada ao entendimento da liderança como um fenômeno organizador da vida social, que permite, mas também restringe a liberdade dos indivíduos, isto é, sua agência. Assim, o autor entende que a aderência dessas abordagens a tais estruturas preordena a agência da liderança a um dos indivíduos envolvidos nessa relação de influência (líder ou liderado), sugerindo que a agência seja sempre atribuída a um ator, individualmente, ainda que este esteja em relação. Por fim, corroborando com os autores, Uhl-Bien (2006) entende que abordagens tradicionais de liderança (pela autora, nomeadas entitárias) situam essa dinâmica na relação, ocorrendo a partir de cognições, percepções individuais, atributos e comportamentos; onde os indivíduos acabam por se alinharem a partir da superação de suas diferenças, possibilitando o atingimento de objetivos comuns e, assim, promovendo o desenvolvimento organizacional. Já a concepção acerca da dinâmica de identificação organizacional pode variar entre abordagens estática e processual, variando de acordo com o entendimento do processo de identificação entre os envolvidos. Segundo Ashforth, Harrison e Corley (2008), a concepção acerca da dinâmica desse fenômeno também é informada pelos mesmos aportes, podendo se dar como um substantivo ou como um verbo: o primeiro (substantivo), representando a abordagem estática, tende a seguir as premissas de estabilidade dinâmica do fenômeno; capturando seu estado de ser, e definindo-o em termos do por que essa dinâmica ocorre a XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 4 partir do enfoque nos estágios de identificação entre as partes envolvidas. O segundo (verbo), representando a abordagem processual, no entanto, tende a seguir as premissas de instabilidade dinâmica do fenômeno; capturando seu modo de ser, e definindo-o em termos de como essa dinâmica ocorre a partir do enfoque no processo de vir a tornar-se identificado com a organização que se pertence. Segundo os autores, ainda que a concepção predominante acerca dessa dinâmica não se dê a partir da abordagem processual, observa-se o crescimento de estudos a partir dessa abordagem. Partindo dela, então, os autores entendem que, ainda que não seja possível organizar as etapas do processo de identificação sempre em sequência, o mesmo ocorre a partir de algumas etapas, a saber: 1) incorporação identitária (sensebreaking e sensegiving) individual de elementos sociais, através do ato de enunciar identidades, a partir da superação das diferenças entre os indivíduos/entidades envolvidos; 2) interpretação das respostas às enunciações (sensemaking); 3) construção de narrativas identitárias, como uma forma de articular identidades, gerando uma história que integra ‘quem sou agora’, ‘quem fui’ e ‘quem poderia ser’; e 4) identificação com a organização de forma auto referencial (por afinidade) ou auto definida (por emulação) (PRATT, 1998). Por fim, a concepção acerca da dinâmica do sentido (mais especificamente, das atividades relacionadas ao mesmo: sensemaking, sensegiving e sensebreaking) teve seu desenvolvimentoteórico vastamente atribuído a Weick (1969), tendo sua fundamentação teórica derivada do pragmatismo (DEWEY, 1910, JAMES, 1890/1950, 1907), interacionismo simbólico (BLUMER, 1969, MEAD, 1934), etnometodologia (GARFINKEL, 1967), fenomenologia (SCHÜTZ, 1967) e construcionismo social (BERGER; LUCKMANN, 1967). Assim, essa concepção também pode variar entre diversas abordagens. Segundo Weick, Sutcliffe e Obstfeld (2005), a concepção predominante acerca da dinâmica desse fenômeno também é informada pelos mesmos aportes, ocorrendo a partir de algumas etapas não sequenciais, a saber: 1) sensebreaking (ou sense unmaking), referindo-se aos modos pelos quais os indivíduos experienciam a quebra ou esvaziamento de significado dos conteúdos subjetivos da realidade frente às contradições produzidas pelas diferenças entre os indivíduos/entidades envolvidos, manifestando-se quando o processo de sensemaking é interrompido por evidências contraditórias durante a experiência; 2) sensegiving, referindo-se à atribuição de novos significados para a redefinição da realidade, manifestando-se a partir da superação dessas diferenças; e 3) sensemaking, referindo-se à construção de novos significados para a experiência, manifestando-se a partir do esforço para compreendê-los, redefinindo a realidade (WEICK, 1995, DERVIN, 1998, 1992). Portanto, observa-se que as concepções predominantes acerca desses fenômenos são informadas pelas subestruturas filosóficas (também predominantes) na elaboração de suas pesquisas, resultando no entendimento dos limites e possibilidades tanto para suas teorizações quanto para suas práticas, isto é, os pressupostos orientadores das pesquisas desses fenômenos legitimam certas possibilidades e práticas interacionais, enquanto deslegitimam outras; e, por consequência, delimitam os modelos de ação sobre suas realidades. Porém, ainda que esses fenômenos tenham sido predominantemente influenciados pelo paradigma funcionalista de orientação realista e objetivista, não é objetivo deste ensaio traçar aproximações e distanciamentos gerais entre esses fenômenos, nem entre eles e esse paradigma, para evitar possíveis reduções dedutivas dos mesmos. Dessa forma, para atingir o objetivo de revisitar esses fenômenos à luz das diferenças que podem ser produzidas a partir de seus pressupostos epistemológicos e de suas dinâmicas, este ensaio apenas buscará alguns dos seus nexos de inteligibilidade da diferença, a partir de como os mesmos são predominantemente concebidos nos estudos organizacionais. Para tal, como existem múltiplos paradigmas orientadores da pesquisa social sem consenso na literatura em torno de suas nomenclaturas, sugere-se, neste ensaio, dois termos para categorizá-los: 1) funcionalista e 2) interpretativista. Nesses paradigmas, o enfoque estará em seus pressupostos epistemológicos positivista (ou pós- XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 5 positivista – objetivista), observado na perspectiva cognitivista (a partir da Teoria Social Cognitiva); e anti-positivista (subjetivista/transacional), observado na perspectiva construtivista (a partir da Teoria Socioconstrutivista). Ao encontro de tais perspectivas epistemológicas, deu-se o nome de perspectiva epistemológica sociocognitivo-construtivista, a partir da qual os nexos de inteligibilidade da diferença nesses fenômenos serão buscados de modo mais específico. III. BUSCANDO NEXOS, CONTORNANDO DISTÂNCIAS NOS FENÔMENOS DE LIDERANÇA, IDENTIFICAÇÃO E SENTIDO: A PERSPECTIVA SOCIOCOGNITIVO-CONSTRUTIVISTA O movimento epistemológico que levou ao estabelecimento da perspectiva cognitivista ganhou projeção no início da década de 60, representando uma reação ao Behaviorismo, ainda que na mesma direção epistemológica. A partir da crítica aos modelos clássicos da teoria behaviorista – que tendiam a ignorar atividades humanas e sociais, tais como raciocínio, planejamento, tomada de decisões e comunicação; um número crescente de psicólogos buscou entender o que acontecia dentro da mente humana – os processamentos cognitivos, sobretudo do pensamento; dando início ao movimento conhecido como cognitivista. Greene (1976, p. 3) concebe esse movimento como uma “corrente que julga impossível entender as relações input/output registradas no comportamento humano sem levar em conta as estratégias e regras que determinado sujeito está usando frente a um impasse”. Moreira e Masini (1982) elaboram o conceito de cognição: É o processo através do qual o mundo de significados tem origem. À medida que o ser se situa no mundo, estabelece relações de significação, isto é, atribui significados à realidade em que se encontra. Esses significados não são entidades estáticas, mas pontos de partida para a atribuição de outros significados. Tem origem, então, a estrutura cognitiva (os primeiros significados), constituindo-se nos pontos básicos de ancoragem dos quais derivam outros significados (p. 3, grifo da autora). Considera-se, assim, que a perspectiva cognitivista reverteu o entendimento sobre as atividades humanas e sociais, sustentando que as heranças biológicas dos indivíduos não determinam suas experiências, isto é, não servem como causa universal para comportamentos. Desde então, observa-se uma inflexão nas análises organizacionais – bem como no conhecimento sobre elas, a partir da ampliação da equação behaviorista para além do estudo dos estímulos que vem de fora do indivíduo, bem como de suas respostas/reforços e punições; trazendo à luz a importância dos processamentos cognitivos desses estímulos, sobretudo aqueles situados na relação (sociocognitivismo), e permitindo compreender, por exemplo, processos de categorização (TAJFEL, 1981, TAJFEL et al., 1971), que possibilitam organizar discursivamente a experiência, constituindo convenções e adaptações a uma realidade social dotada de significados atribuídos. Em suma, essa perspectiva se orienta a partir de quatro princípios fundamentais: 1) o indivíduo responde primariamente as representações cognitivas da realidade, atribuindo-lhe significados, ao invés de responder diretamente à realidade; 2) essas representações estão relacionadas aos processos de aprendizagem; 3) a maior parte da aprendizagem é mediada por processos cognitivos; e 4) pensamentos, sentimentos e comportamentos interagem de maneira causal (MAHONEY,1977). A partir desses princípios, então, sugere-se que, nessa perspectiva, variáveis tidas como internas (por exemplo, crenças e expectativas) constroem a estrutura cognitiva responsável pela atribuição dos significados à realidade, tendo maior valor preditivo aos comportamentos, representações objetivas da realidade em que o indivíduo se encontra, do que variáveis externas; e que representações são XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 6 modificáveis a partir de processos de aprendizagem (NEUFELD; BRUST; STEIN, 2011, ABREU; SHINOHARA, 1998, RANGÉ, 1998, MOSCOVICI, 1978). Nesse sentido, alinhando-se à perspectiva cognitivista, Bandura (1986, 1977) desenvolve a Teoria Social Cognitiva, nomeada, inicialmente, de Teoria da Aprendizagem Social. De acordo com essa teoria, a aprendizagem é um constructo social, que pode ocorrer tanto pela observação quanto pela experiência direta (e não por reforços e punições). Assim, o autor entende que a modelagem comportamental se dá a partir de processos de aprendizagem socialmente construídos, sendo resultado da interação entre três variáveis, a saber: 1) pessoa (em termos das capacidades cognitivas individuais, por exemplo, percepções e atributos individuais), 2) ambiente e 3) comportamento. Acreditando na primazia da primeira variável (pessoa) sobre as demais, e na capacidade do indivíduo de influenciar seus próprios comportamentos, o autor entende que a agência do indivíduo, na estrutura social, está relacionada às características de autorregulação, autorreflexão, auto-organização e ação proativa.Da característica de autorreflexão, especificamente, o autor elabora o conceito de auto-eficácia, isto é, as crenças do indivíduo a respeito de si e de suas capacidades para realizar uma ação ao lidar com determinadas situações. Segundo o autor, tais crenças (expectativas de eficácia) são determinantes na decisão de iniciar uma estratégia de enfrentamento (coping), bem como da quantidade de esforço e de tempo despendidos face à ocorrência de obstáculos ou não. Todavia, com o advento do movimento construtivista, mais uma inflexão desafiou os modelos clássicos da teorização vigente. Dessa vez, o encontro desses movimentos (cognitivista e construtivista) observou uma significativa perda de musculatura do pensamento na atribuição dos significados à realidade, cedendo às emoções um lugar de relevância na influência desse processamento conceitual. Assim, a perspectiva construtivista amplia ainda mais a equação behaviorista, estendendo a teoria cognitivista à luz da importância do processamento vivencial, isto é, dos significados que não são construídos a partir do ato (lógico e reflexivo) do pensar, isto é, dos processamentos cognitivos clássicos de algo que vem de fora na forma de estímulos; mas da atividade emocional, enfocando todos os estímulos tácitos ou corporificados da experiência, sobretudo aqueles situados na relação (socioconstrutivismo), e permitindo compreender, por exemplo, processos linguísticos e comunicativos (BOUWEN; HOSKING, 2000), que também possibilitam organizar discursivamente a experiência. Em suma, essa perspectiva se orienta a partir do princípio que variáveis interacionais (tidas como internas e externas, a partir do que ficou conhecido como projeto conciliador) também desempenham importante papel na estruturação cognitiva responsável pela atribuição dos significados, tendo maior valor preditivo aos comportamentos (ABREU; SHINOHARA, 1998, GREENBERG, 1998). Alinhando-se à perspectiva construtivista, Vygotsky (1986, 1978) desenvolve a Teoria Socioconstrutivista, por vezes, nomeada Sociointeracionista. De acordo com essa teoria, a aprendizagem é um constructo social com ênfase histórica e cultural, que, para ocorrer, depende mais da interação social (e de suas interpretações) que das capacidades cognitivas individuais (e do seu desenvolvimento). Assim, o autor entende que a modelagem comportamental também se dá a partir de processos de aprendizagem socialmente construídos, porém, como resultado da interação entre diversas variáveis culturais: é no processo de apropriação das variáveis externas presentes na cultura, que, por meio das relações sociais, desenvolvem-se as variáveis internas, a individualidade. Dessa forma, no encontro das perspectivas cognitivista e construtivista – perspectiva sociocognitivo-construtivista; observa-se que, em termos de liderança, a concepção acerca desse fenômeno é majoritariamente informada por aportes realistas, objetivistas e quantitativos, devido a supremacia da perspectiva cognitivista na fundamentação teórica do construtivismo, ocorrendo a partir do enfoque cognitivo das relações de liderança, cujas XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 7 variáveis ora internas (capacidades cognitivas individuais), ora internas e externas (culturais) disputam um lugar de destaque na estruturação cognitiva responsável pelas representações dessas relações de influência, em termos da atribuição dos seus significados e da predição dos comportamentos dos indivíduos envolvidos na liderança. Em outras palavras, a liderança é entendida como uma relação na qual líderes e liderados interagem para atingir objetivos comuns, sendo suas características individuais e/ou contextuais influências determinantes no processo de significação dessa relação, dos seus termos de influência, e dos comportamentos dos envolvidos. Nesse sentido, a aprendizagem se dá, a partir do mesmo enfoque, como resultado da interação entre variáveis ora internas, ora internas e externas, com o objetivo de reestruturar cognitivamente essas relações, logo, suas representações, através do desenvolvimento de ações de educação corporativa, cuja gestão é comumente entendida como responsabilidade da liderança (LORD; GATTI; CHUI, 2016, CARROLL; SIMPSON, 2012, FAIRHURST; GRANT, 2010, UHL-BIEN, 2006). Já em termos de identificação, essa perspectiva também concebe esse fenômeno através dos mesmos aportes, majoritariamente, ocorrendo a partir do enfoque cognitivo das identificações estabelecidas entre os indivíduos/entidades envolvidos, cujas variáveis identitárias ora internas (produtos das capacidades cognitivas individuais – auto-definição, valores e afetos), ora internas e externas (produtos culturais – valores, objetivos, crenças, traços e competências) também se destacam na estruturação cognitiva responsável pelas representações dessas identificações, levando o fenômeno a ser definido como autoconceito em termos da percepção de pertencimento organizacional. Em outras palavras, a identificação é entendida como uma relação de identidades (identidade pessoal e identidade organizacional) na qual os indivíduos/entidades, interagindo, reconhecem atributos em comum entre suas identidades, vinculando-se a partir delas (identificação), sendo suas características identitárias influências determinantes no processo de significação dessa identificação. Nesse sentido, a aprendizagem se dá, a partir do mesmo enfoque, como resultado da interação entre variáveis com o objetivo de reestruturar cognitivamente as identificações e suas representações (ASHFORTH; HARRISON; CORLEY, 2008, EDWARDS, 2005, RIKETTA, 2005). Por fim, em termos de sentido, essa perspectiva também concebe esse fenômeno através dos mesmos aportes, majoritariamente, ocorrendo a partir do enfoque cognitivo dos sentidos construídos pelos indivíduos/entidades envolvidos, cujas variáveis ora internas (produtos cognitivos – sensebreaking e sensegiving), ora internas e externas (produtos culturais – sensemaking) também se destacam na estruturação cognitiva responsável pelas representações dessas construções sensíveis. Em outras palavras, o sentido é entendido como uma relação de estruturação de sistemas conceituais na qual os indivíduos/entidades, interagindo, constroem redes de conhecimento que se transformam em estruturas, esquemas ou modelos mentais com o objetivo de explicar e predizer o que acontece na realidade, sendo as características de construção do sentido influências determinantes no processo de significação das relações entre os envolvidos, bem como as práticas discursivas cotidianas entendidas como espaços de negociação intersubjetiva responsáveis pela configuração desses modelos. Nesse sentido, a aprendizagem se dá, a partir do mesmo enfoque, como resultado da interação entre variáveis com o objetivo de reestruturar cognitivamente os sentidos construídos e suas representações (MAITLIS; CHRISTIANSON, 2014). Portanto, observa-se que os fenômenos de liderança, identificação e sentido adotam pressupostos ontológicos ora mais realistas – quando cognitivista, ora mais antirrealistas (ou idealistas, relativistas) – quando construtivista, com especial atenção aos primeiros, devido a supremacia da perspectiva cognitivista na fundamentação teórica do construtivismo. De forma análoga, observa-se a adoção de pressupostos epistemológicos ora mais objetivistas, ora mais subjetivistas/transacionais, com especial atenção aos primeiros, novamente. Ressalta-se, assim, que a configuração paradigmática majoritária (funcionalista de orientação realista e XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 8 objetivista) do encontro das perspectivas cognitivista e construtivista forma uma subestrutura filosófica cuja geração do conhecimento acerca desses fenômenos tende a se dar através da análise de padrões estruturais (gerais) e tendências de larga escala, buscando explicar e predizer o que acontece narealidade de forma objetiva e universal (leis gerais), através de regularidades e relacionamentos causais, informando, assim, uma metodologia baseada no modelo de cientificidade e verdade matemática. Mais associados a essa configuração paradigmática estariam, portanto, os métodos quantitativos. Sendo baseados em medidas numéricas e análises estatísticas, e nas relações entre variáveis com o intuito de descrever padrões, testar teorias (hipóteses causais) e fazer predições, o foco desses métodos está na investigação de regularidades dos fenômenos analisados a partir de uma metodologia dedutiva, afirmando a distância entre pesquisador-pesquisado e a imparcialidade da pesquisa. No entanto, embora a busca da causalidade seja considerada uma característica central dos métodos quantitativos, essa também pode estar nos métodos qualitativos (CRESSWELL; CLARK, 2017, RAGIN; AMOROSO, 2010, ABBOTT, 1998). Sendo assim, pode-se esperar que características individuais e/ou contextuais sejam influências determinantes no processo de significação da relação de liderança, por exemplo, uma vez que tais características, variáveis estruturais dos processamentos cognitivos, podem ser apreendidas por essa configuração paradigmática. IV. BUSCANDO NEXOS NAS DINÂMICAS: O PENSAMENTO DIALÉTICO Em termos dos nexos de inteligibilidade da diferença nas dinâmicas dos fenômenos de liderança, identificação e sentido, observa-se que tanto suas teorias e quanto suas práticas versam sobre suas ocorrências a partir de dinâmicas orientadas pela centralidade dada à contradição. Em outras palavras, as dinâmicas desses fenômenos parecem ser frequentemente organizadas sob a forma da contradição, figura inerente ao pensamento dialético (principalmente em Hegel), a partir do qual os nexos da diferença nesses fenômenos também serão buscados de modo mais específico. Forjado no registro moderno-ocidental, no âmbito do idealismo alemão, como resultado da interiorização de princípios fundamentais do Iluminismo, o pensamento dialético hegeliano ganhou projeção no início do século XIX, representando um novo modelo de crítica aos limites do conhecimento (primado do entendimento e de suas conceitualizações), que opera e produz representações, organizando o universo da experiência sensível, a realidade. A partir da crítica aos modelos de crítica anteriores (conhecidos como transcendentais), que consistiam em esclarecer quais estruturas normativas apareciam prévias às experiências; Hegel (2011, 2017) desenvolve um modelo que busca compreender o campo de predicação do conhecimento e, principalmente, o que aparece como dotado de validade, nesse campo, a normatividade estabelecida. Assim, o autor entende que, para representar as realidades, sobretudo aquelas dotadas de força normativa, não basta esclarecer suas estruturas, também é preciso analisar as condições históricas necessárias para que as mesmas ocorram, reivindicando e apresentando sua gênese, com o objetivo de explicitar aquilo que a normatividade procura deixar implícito (SAFATLE, 2016). Todavia, quais são os métodos das representações? Como é possível representar as realidades, suas dinâmicas, organizando as diferenças supostas entre conceitos, a partir de suas identidades? Nesse sentido, Hegel (2011, 2017) concebe que o movimento do pensamento necessário ao resgate da gênese das realidades se dá a partir da dialética, definida pelo autor como o “espírito de contradição organizado” (ARANTES, 1996), isto é, uma forma de organizar a contradição, para que a mesma não mais represente uma impossibilidade de se pensar a realidade. Em suma, a contradição é o que coloca o pensamento em movimento: a partir da tentativa de representar as realidades, tal como estas foram representadas XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 9 anteriormente através da organização identitária dos conceitos (determinidades), produz-se o entendimento contrário dos mesmos (negatividades), impossibilitando o processo de representação. Todavia, a partir da desorganização desse processo de representação das realidades – e para vias de conservação das possibilidades inscrição das experiências no real, integra-se as contradições que pareciam negar os conceitos aos que virão a ser considerados novos conceitos, elevando-os a um novo patamar (elevações). Assim, o movimento do pensamento dialético, tal qual uma espiral ascendente, é orientado pela contradição, sendo constituído por três momentos que representam (e estruturam) as realidades. Posteriormente, esses momentos ficaram conhecidos como tríade dialética ou esquemas de duelo do pensamento dialético: tese, antítese e síntese, um movimento contínuo de vir à ser (devir), onde um momento prepara o outro, mas, para que o outro momento surja, transformando a identidade dos conceitos, o momento anterior deve ser negado (MORGAN, 2015, VAN DE VEN; POOLE, 1995). Portanto, além da predominância do paradigma funcionalista de orientação realista e objetivista nas teorizações e práticas dos fenômenos de liderança, identificação e sentido, observa-se que a dialética também informa as dinâmicas desses fenômenos. Pode-se dizer que isso se deve à compatibilidade ontológica e epistemológica fundamental entre as concepções predominantes acerca das dinâmicas desses fenômenos e o movimento considerado necessário ao resgate de suas realidades. Dessa forma, a centralidade dada à contradição, nesses fenômenos poderia levar ao entendimento de suas dinâmicas através do redimensionamento contínuo do campo de possibilidades de suas experiências. Por exemplo: a partir da tentativa de representar a liderança, tal como esta foi representada anteriormente (determinidades – tese), produz-se o entendimento contrário ou oposto da presença da liderança, ou seja, produz- se sua ausência (negatividades – antítese), impossibilitando o processo representação da mesma. Todavia, a partir da desorganização desse processo de representação da liderança – e para vias de conservação das possibilidades inscrição dessa experiência no real, busca-se integrar as contradições que pareciam negar a presença da liderança ao que virá a ser considerada uma nova possibilidade de entendimento desse fenômeno, como uma transposição de um obstáculo epistemológico, elevando o conceito de liderança a um novo patamar, uma nova inteligibilidade teórica e prática acerca desse fenômeno (elevações – síntese), que só foi possível a partir do redimensionamento contínuo das possibilidades de sua experiência, acabando por reafirmar o que estaria inicialmente pressuposto em um sistema prévio de possibilidades para a liderança. Sendo assim, pode-se esperar que o alinhamento suposto entre os indivíduos envolvidos na relação de liderança ocorra a partir da superação de suas diferenças, isto é, a partir da integração das contradições que pareciam negar a presença representativa desses indivíduos nessa relação ao que virá a ser considerada uma nova possibilidade de entendimento dela. V. DOS NEXOS ÀS DIFERENÇAS QUE PODEM SER PRODUZIDAS A partir dos nexos de inteligibilidade da diferença nos fenômenos de liderança, identificação e sentido, inclusive em termo de suas dinâmicas, quais diferenças podem ser produzidas por esses fenômenos a partir da perspectiva sociocognitivo-construtivista e do pensamento dialético? De que maneira a perspectiva sociocognitivo-construtivista concebe a relevância das diferenças e chega à sua compreensão? De que maneira o movimento proposto pela dialética compreende as dinâmicas de desenvolvimento dessas diferenças? Primeiramente, observa-se que, quando os fenômenos de liderança, identificação e sentido são concebidos à luz da perspectiva sociocognitivo-construtivista, seus pressupostos epistemológicos ora mais objetivistas, ora mais subjetivistas/transacionais concebem a possibilidade de conhecer esses fenômenos em termos dos seus potenciais de fornecer uma XLIII Encontro da ANPAD- EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 10 explicação definitiva, ou pelo menos mais próxima da verdade, para suas realidade. Dito de outra forma, as maneiras como os pressupostos epistemológicos dessa perspectiva compreendem esses fenômenos é indissociável dos seus potenciais de explicação de suas realidades. Assim, o objetivismo, perspectiva inerente à orientação epistemológica positivista (ou pós-positivista), considera que existe uma realidade verdadeira, independente das interpretações, que pode ser conhecida através de uma investigação científica que afirma a distância entre pesquisador-pesquisado e a imparcialidade da pesquisa. Já o subjetivismo, inerente à orientação anti-positivista, considera que existem múltiplas realidades, logo, que essa verdade não pode ser conhecida, pois a inevitável proximidade do pesquisador influencia a realidade dos fenômenos investigados de acordo com os pressupostos que o orientam, o que afirma a parcialidade da pesquisa. Isso não significa que esses pressupostos epistemológicos sejam radicalmente independentes ou que sejam desprovidos de aspectos controversos, mas que a associação desses fenômenos ao conhecimento acerca de suas realidades pode vir à reduzir suas potencialidades, caso suas análises ganhem status de todo real possível para essas experiências, o que seria o risco de qualquer pressuposto epistemológico. Porém, dada a supremacia da perspectiva cognitivista e, assim, dos aportes epistemológicos objetivistas utilizados para concepção acerca desses fenômenos, o risco se mantem e complexifica, dada a natureza indócil desses fenômenos à representação lógica. Por exemplo: representações de liderança produzidas a partir de estruturas cognitivas, tidas como responsáveis pela atribuição dos significados à realidade desse fenômeno, irão considerar características individuais e/ou contextuais, produzindo, necessariamente, o entendimento lógico-formal da liderança, uma vez que a manipulação dessas variáveis estruturais garantiria a significação dessa relação, dos seus termos de influência, e dos comportamentos dos indivíduos envolvidos. Assim, ainda que houvesse a substituição das descrições quantitativas desse fenômeno, para vias de redução do caráter dedutivo dessas variáveis, seu entendimento ainda se daria a partir de descrições lógicas, o que Baars (1986) chamou de linguagem matemática não quantitativa, gerando uma inteligibilidade que, ao mesmo tempo que confere objetividade e falsificabilidade ao fenômeno, também o restringe em sistemas formais de representação, que não operam contradições. Sendo assim, a diferença produzida a partir da perspectiva objetivista versaria sobre a possibilidade de haver diferenças que se inscrevam no registro de uma lógica formal, apenas, isto é, diferenças que possam ser essencialmente entendidas como variáveis interna e/ou externa, com especial atenção às primeiras. Em segundo lugar, quanto às concepções acerca das dinâmicas dos fenômenos de liderança, identificação e sentido à luz do pensamento dialético, observa-se que centralidade dada à contradição, nesses fenômenos, concebe as diferenças existentes entre os indivíduos envolvidos nos mesmos. Dito de outra forma, a maneira como a dialética compreende o movimento dinâmico desses fenômenos é indissociável da possibilidade de organizar contradições e, portanto, toda sorte de diferenças entre os indivíduos, sendo essas diferenças marcadores da conservação de suas identidades. Isso não significa que a contradição hegeliana seja uma forma radicalizada de contrariedade estrutural, mas que a associação das contradições à possibilidade de organização das diversas modalidades de diferenças entre os indivíduos pode vir a reduzir as possibilidades de contemplação de marcadores identitários mais sutis ou inauditos, multiplicidades não-estruturadas em sistemas prévios de possibilidades. Por exemplo: representações de liderança diferentes das anteriores irão produzir, necessariamente, o entendimento de ausência da liderança, uma vez que novas possibilidades de representação desse fenômenos não estariam estruturadas previamente. Assim, desconformando-se à representação anterior, essas novas possibilidades seriam postas como negativo, contrárias ou opostas à representação anterior. Da mesma forma, a integração das contradições produzidas pelas diferenças a essas novas possibilidades de representação ainda estaria subordinada ao redimensionamento da experiência da liderança a partir do como XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 11 esta fora representada anteriormente, gerando uma nova inteligibilidade que reafirma o que estava inicialmente pressuposto em um sistema prévio de possibilidades para a liderança. Sendo assim, a diferença produzida nas dinâmicas desses fenômenos a partir da dialética versaria sobre a possibilidade de haver multiplicidades estruturadas, apenas, produzindo diferenças que somente serão facilmente entendidas como tais quando estruturadas em sistemas prévios de possibilidades. Ainda à luz do pensamento dialético, outra observação diz respeito à destruição de marcadores identitários (dos mais sutis e inauditos aos mais consistentes) no momento em que as dinâmicas desses fenômenos produzem contradições: na passagem de um momento para outro momento, produz-se, através da integração das contradições, o que não se colocava como possível no momento anterior, que agora deve ser negado para que um novo momento de transformação surja. Por isso, pode-se dizer que o movimento do pensamento dialético não é mera modificação do que antes fora, mas a desconstrução das identidades inicialmente postas. Por exemplo: a integração das contradições às novas possibilidades de representação de liderança produz o que antes não se colocava como possível, mas, para que essa nova possibilidade se cumpra, isso deve ser negado, gerando uma nova inteligibilidade que, ao mesmo tempo que reafirma o que estava inicialmente pressuposto em um sistema prévio de possibilidades para a liderança, opõe-se ao sistema de possibilidades anterior. Sendo assim, a diferença produzida nas dinâmicas desses fenômenos a partir da dialética também versaria sobre a possibilidade de haver multiplicidades identitárias apenas enquanto estas forem entendidas como passíveis de total desconstrução (e reconstrução). VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do resgate dos nexos de inteligibilidades da diferença nos fenômenos de liderança, identificação organizacional e sentido, o objetivo deste ensaio teórico é revisitar esses fenômenos à luz das diferenças que podem ser produzidas a partir de seus pressupostos epistemológicos, no registro da perspectiva sociocognitivo-construtivista; e de suas dinâmicas processuais, no registro do pensamento dialético. Nesse sentido, cabe ressaltar que não foi objetivo deste artigo revelar uma inovação no campo de estudos desses fenômenos, mas esclarecer o que a subestrutura filosófica de suas concepções predominantes é capaz de produzir em termos das diferenças entre os indivíduos que experienciam esses fenômenos; e quais questões essa subestrutura pode colocar aos próprios fenômenos e aos seus modelos de ação. Também não foi objetivo deste artigo realizar uma revisão sistemática da literatura desses fenômenos, traçando aproximações e distanciamentos gerais entre eles, apenas buscar alguns dos seus nexos de inteligibilidade da diferença, contornando suas maiores distâncias, com respeito à todas as nuances que cabem entre seus estudiosos. Todavia, pergunta-se: até que ponto fenômenos distintos podem estar a exprimir experiências organizacionais em processo lento de convergência?. Por fim – e mais importante, também não foi objetivo deste artigo esgotar as possibilidades (e potencialidades) das perspectivas cognitivista e construtivista, nem do pensamento dialético, mas refletir sobre as diversas possibilidades de inscrição das diferenças construçãodesses fenômenos, na realidade social. Pelas orientações epistemológicas da perspectiva sociocognitivo-construtivista, foi possível compreender que essa perspectiva concebe a relevância das diferenças e chega à sua compreensão no registro de uma lógica formal, que, ao mesmo tempo que confere objetividade e falsificabilidade a esses fenômenos, também os restringem em sistemas formais de representação, que não operam contradições. Já pelas orientações do pensamento dialético, foi possível compreender que o movimento proposto por esse pensamento concebe as dinâmicas de desenvolvimento dessas diferenças a partir da estruturação das multiplicidades em sistemas prévios de possibilidades, onde as identidades são passíveis de total XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019 São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro 12 desconstrução (e reconstrução). A partir desses registros, entende-se que as diferenças produzidas – e seus mecanismos de normalização, prevenção ou eliminação, efeitos não intencionais de seus modelos de ação; pertencem a um centro de inteligibilidade onde as subestruturas filosóficas na elaboração das pesquisas sobre esses fenômenos legitimam certas possibilidades e práticas interacionais, enquanto deslegitimam outras, isto é, produzem modos de entender (e diferenciar) o que é diferença e o que é desvio, o que é diferença e o que é transgressão, quem são os transgressores e que ordem social deverá ser produzida/defendida nas organizações. Assim, as teorizações desses fenômenos e suas manifestações práticas estão relacionadas, informando-se mutualmente e convidando à reflexão sobre a produção e inscrição das diferenças (e suas consequências) na realidade. Como contribuição, entende-se que o aprofundamento das reflexões propostas neste ensaio permitirá qualificar melhor a subestrutura filosófica dos fenômenos de liderança, identificação e sentido, abordando os impactos organizacionais de suas elaborações conceituais. Para o futuro, no que diz respeito aos pressupostos epistemológicos desses fenômenos, sugere-se revisitá-los à luz das diferenças que podem ser produzidas a partir de outros registros, bem como revisitar outros fenômenos sociais. No que diz respeito às dinâmicas desses fenômenos, sugere-se a superação da ideia de que só há conhecimento onde seja possível tematizar o que aparece como absolutamente contraditório à experiência desses fenômenos, para que, a partir dessa superação, seja possível expandir os limites do conhecimento acerca dos mesmos, possibilitando a produção e inscrição de outras diferenças em suas concepções e, assim, a proposição de novos modelos de ação sobre suas realidades. REFERÊNCIAS ABBOTT, A. 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