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Avaliação laboratorial dos rins

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Avaliação laboratorial dos rins
INTRODUÇÃO
A doença renal possui uma alta casuística e pode levar a problemas crônicos, sistêmicos e metabólicos. 
É um órgão altamente vascularizado para poder filtrar o sangue, eliminando tóxicos como a ureia e creatinina.
Se o tutor relata uma queixa relacionada a urina do cão ou gato é imprescindível solicitar uma urinálise (pouca urina, muita urina, urina avermelhada, flocos brancos na urina, entre outros).
FUNÇÕES RENAIS
· Filtração 
O sangue passa pelos glomérulos para ser filtrado, originando o filtrado glomerular que é muito semelhante ao plasma (rico em água e proteína), o glomérulo impede a passagem de macromoléculas. 
· Reabsorção
A parte cortical dos rins é o local que ocorre a maior parte da reabsorção. O filtrado glomerular vai para o túbulo contorcido proximal onde é reabsorvido algumas substâncias, depois para a alça de Henle (normalmente fica na porção mais medular) onde ocorre a maior reabsorção de água e depois para o tubo contorcido distal.
· Excreção
Então o conteúdo que sobrou depois de várias absorções é então excretado.
Realiza também o controle arterial e a hemostasia.
· Secreção
Os rins secretam hormônios como eritropoetina e calcitriol, entre outros. 
COMO ACESSAR O SISTEMA RENAL?
Uma das dificuldades é que não é tão fácil coletar a urina de um paciente, às vezes é necessário cistocentese (em pacientes obstruídos, você é obrigado a fazer cistocentese para descomprimir a bexiga e também porque não dá para passar a sonda). Porém, outra forma de acessar o sistema renal pode ser pelos exames de imagem e exames laboratoriais.
EXAMES DE IMAGEM X EXAMES LABORATORIAIS
O ultrassom exibe informações sobre a arquitetura renal, um possível laudo é perda da região corticomedular. O exame pode dizer que a região cortical ou medular não está normal, pontos de fibrose, porém não diz sobre as lesões.
A erliquiose é uma doença que causa bastante glomerulopatias, isso ocorre devido a deposição de imunocomplexos (complexo antígeno-anticorpo) nos glomérulos já que essas moléculas são grande demais para passar, e acabam recrutando mediadores inflamatórios para área, causando no glomérulo um processo inflamatório tendo todos os sinais de inflamação, é importante ressaltar que os rins não possuem o mesmo poder de regeneração que outros órgãos como o fígado, por exemplo, com isso, após a resolução da inflamação é comum originar fibroses, isso contribui para uma perda estrutural e de função.
Os exames laboratoriais são biomarcadores de injúria e perda de função renal. É importante lembrar que nem toda a injúria renal vai levar a uma perda de função, porém, uma série de injúrias renais levam a insuficiência renal adquirida. 
· A urinálise é um exame barato e fácil que pode ser feito nas clínicas veterinárias, é um exame de triagem, muito importante para detectar lesões renais iniciais, a principal alteração inicial encontrada no exame de urina é a presença de proteína (moléculas grandes para passarem nas redes glomerulares), porém nem toda proteinúria é renal (casos de cistite tem hematúria, no sangue tem proteínas mas essas proteínas são do trato urinário inferior como a bexiga e não dos rins), por outro lado, caso a urina esteja límpida, sem sedimentos e com cilindrúria (lesões tubulares), é provável que a proteína seja de origem renal, principalmente glomerulopatias. 
· O exame SDMA é um marcador molecular renal e que não sofre interferência extra renal, é uma substância 100% filtrada pelos glomérulos, então caso você encontre alguma % no sangue, é sinal que os glomérulos não estão fazendo sua função, porém ainda é um exame caro (100 a 300 reais). Deve ser feito junto com outros exames, bem como corroborando com os achados clínicos do paciente. 
POR ONDE COMEÇAR?
Antes de começar, precisa-se entender se está lidando com pacientes que está passando por uma injúria ou um paciente que já está passando por um quadro de insuficiência renal. Importante saber que animais acima de 7 anos têm grandes chances de desenvolverem insuficiência renal adquirida, em pacientes mais novos é raro ocorrer, porém podem ser diagnosticados com insuficiência renal congênita.
DOENÇA RENAL CRÔNICA
Surge de injúrias/lesões renais que levaram a uma perda progressiva das funções, até chegar a um quadro irreversível. Geralmente acomete animais acima de 7 anos em cães, mas em gatos a doença pode acontecer mais cedo, por isso, é importante realizar os exames de acompanhamento pois o paciente só entra em doença renal crônica caso não seja acompanhada previamente a perda das funções renais.
MARCADORES DE FUNÇÃO
· Ureia (catabólito da transformação nitrogênio em amônia), é eliminada na urina pois é tóxica devido a presença de amônia. Apesar de ser tóxica, 50% da ureia é reabsorvida nos túbulos renais pois é também precursora de proteínas, logo, caso tenha um aumento acima do normal desse composto é sinal de lesão tubular/cortical. Alguns fatores extra renais podem desencadear aumento no teor de ureia como uma dieta com alto consumo de proteínas, pacientes com febre, infecções (principalmente bacteriana pois quando elas se multiplicam liberam compostos nitrogenados), diabetes, entre outros, nesse caso terá um aumento na ureia, porém o histórico clínico dele não tem alterações urinárias, nem alterações na função renal, da mesma forma, pacientes obstruídos terão dificuldades em eliminar a urina, sendo assim a ureia irá se acumular juntamente com a creatinina. Em casos de dano renal a ureia e a creatinina vão estar aumentadas igualmente. Por outro lado, uma das funções do fígado é a síntese de ureia, em casos de doenças hepáticas severas ocorre diminuição da ureia.
· Creatinina (catabólito das proteínas musculares), são eliminados na urina pois é um catabólito. Ela é filtrada pelo glomérulo e não sofre reabsorção tubular por isso está muito associada com a taxa de filtração glomerular (se estiver funcionando bem, eliminada na urina, caso não, retém a creatinina na corrente sanguínea), sendo assim, ela possui uma alta especificidade, entretanto, só aparece alta na corrente sanguínea quando 75% dos néfrons estão afuncionais, não é uma substância tóxica igual a ureia. Da mesma forma que a ureia, alguns fatores extra renais podem causar aumento da creatinina como fome (ocorre catabolização do músculo para gerar energia), pacientes obstruídos e com muita massa muscular, e a sua diminuição pode ser devido à caquexia avançada (pouco músculo). 
· O fósforo em pacientes com alterações renais geralmente está aumentado (hiperfosfatemia) já que este composto sofre filtração glomerular e reabsorção tubular.
· O cálcio em pacientes com alterações renais geralmente está diminuído pois o rim não produz mais o calcitriol que é responsável pela absorção do cálcio, sendo assim, terá ação da paratireoide que ativa o paratormônio que tira o cálcio dos ossos e aumenta na corrente sanguínea para que ele entre em equilíbrio com o fósforo, como é necessário muito cálcio para entrar em equilíbrio com o fósforo que está em excesso, o cálcio pode se depositar em tecidos moles causando, por exemplo, calcificação de artérias. Por outro lado, o aumento do paratormônio dificulta o recebimento de eritropoetina por parte das células da medula óssea, isso gera quadros de anemia normocítica e normocrômica sem regeneração.

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