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ENDOCRINOLOGIA — HIPERTIREOIDISMO Caracteriza-se por hiperfunção da glândula tireoide. Tireotoxicose refere-se às manifestações clínicas e bioquímicas do excesso de hormônios em nível tecidual. A tireotoxicose é relativamente comum (2% em mulheres e 0,2% em homens). A doença de Graves é a causa mais comum de tireotoxicose (60-80%), seguida por bócio multinodular tóxico, adenoma tóxico e tireoidites. Clínica Resultado dos efeitos de quantidades excessivas de T3/T4. O nível hormonal se correlaciona com a clínica. Aumento de metabolismo celular causa aumento da produção de energia e termogênese, com intolerância ao calor, sudorese, pele quente e úmida. O aumento do consumo de oxigênio causa perda de peso e disfunção muscular. Ocorre inotropismo e cronotropismo positivos, e força de contração cardíaca aumentada, além de redução da resistência vascular periférica (aumento de receptores adrenérgicos beta-1 no coração e beta-2 nos vasos), com aumento do débito cardíaco. No hipertireoidismo prolongado e grave, essas alterações podem culminar em miocardiopatia com ICC. Em idosos, a clínica pode ser ausente ou discreta, manifestando-se por arritmias cardíacas ou depressão. Diagnóstico História: sintomas de tireotoxicose, tempo de início, história de exposição excessiva a iodo (contraste), gestação recente, história familiar de doença tireoidiano autoimune. Exame físico: presença de bócio (difuso ou nodular, sensível ou doloroso), sopro tireoidiano, dor à palpação da tireoide, tremor, taquicardia, pele quente e úmida, tremor fino, sinais oculares, alterações na pele e cabelos. Pode haver mixedema violáceo em casca de laranja (5%). Exames complementares A avaliação inicial consiste em determinar TSH, T4, T4L e T3. TSH é o método mais sensível para tireotoxicose: normalmente está baixo ou indetectável, com exceção de raros casos de adenoma secretor de TSH ou síndrome da resistência aos hormônios tireoidianos. TSH normal exclui o diagnóstico e valor reduzido confirma a suspeita clínica e indica continuidade da investigação. T4L normal e TSH baixo sugere hipertireoidismo recente ou leve (subclínico). Pacientes com doenças sistêmicas graves ou em uso de Oftalmopatia de Graves: envolve hiperatividade dos fibroblastos da órbita; 20-40% dos casos; antes durante ou depois do quadro de hipertireoidismo e com curso independente. Exoftalmia bilateral, olhar fixo, retração palpebral com exposição da esclera acima da margem superior do limbo (lid lag), edema periorbitário, edema e hiperemia conjuntival e oftalmoplegia. As formas graves (5% dos pacientes) se caracterizam por quemose intensa, ulceração, infecção da córnea e lesão do nervo óptico por compressão desta estrutura por músculos edemaciados. Pode culminar em lagoftalmo. Deve-se pesquisar déficit de motilidade ocular no exame físico. Obs.: retração palpebral e exoftalmia ocorrem em outros tipos de tireotoxicose. Baixado por Festa das Comissoes (marketingcomissaoesfest@gmail.com) lOMoARcPSD|34224540 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=hipertireoidismo medicamentos (corticosteroides ou dopamina) podem apresentar T4L normal e TSH baixo. Em casos de tireotoxicose factícia, tireoglobulina baixa pode ser útil no diagnóstico. T3 é o hormônio metabolicamente ativo e níveis séricos elevados tem valor prognóstico para recorrência após tratamento cirúrgico ou medicamentoso e desenvolvimento ou piora da oftalmopatia após radioablação na doença de Graves. A dosagem do anticorpo anti-TR (TRAb) pode auxiliar na avaliação de eutireoideanos com oftalmopatia de Graves e nos que intercalam hipo e hipertireoidismo devido a alternância do tipo de anticorpo. Também pode diferenciar tireoidite silenciosa e doença de Graves induzida por sobrecarga de iodo. Utilizado em gestantes para medir risco de tireotoxicose neonatal (passagem placentária de TRAb). Dosagem de TRAb é raramente necessária para diagnóstico de Graves, sendo utilizada em casos selecionados. A captação de iodo radioativo permite avaliar se há hiperfunção da glândula. Na tireotoxicose por hiperfunção, a captação estará elevada devido à estimulação tireoidiana por TRAb (Graves) ou beta-HCG (mola hidatiforme, coriocarcinoma) ou ainda por excesso de TSH (adenoma hipofisário). O hipertireoidismo também pode ocorrer como consequência de mutações no receptor de TSH que causam ativação contínua (adenomas tóxicos). A tireotoxicose na ausência de hiperfunção está associada à captação reduzida (hormônio exógeno ou ectópico suprime TSH e captação) como em casos de tireotoxicose factícia, tireoidites, struma ovarii ou carcinoma folicular metastático. A cintilografia tem indicações limitadas. A captação é difusa na doença de Graves e heterogênea no bócio multinodular tóxico. A principal indicação é na suspeita de adenoma folicular funcionante (nódulo quente). A US não está indicada na rotina. Reservada para nódulos identificados na palpação. Quando a captação de iodo está contraindicada (gestação e lactação) ou não for elucidativo (exposição recente ao iodo), a US com Doppler pode ser útil para identificar etiologia. Baixado por Festa das Comissoes (marketingcomissaoesfest@gmail.com) lOMoARcPSD|34224540 Diagnóstico diferencial — Causas de tireotoxicose Muda conduta. TSH SUPRESSO COM CAPTAÇÃO DE IODO RADIOATIVO NORMAL OU ELEVADA: • Doença de Graves: causa mais comum em jovens. Quadro clínico exuberante, com sinais e sintomas característicos de tireotoxicose. Tireoide difusamente aumentada e sopro tireoideo é patognomônico. Outras manifestações clássicas são oftalmopatia infiltrativa e mixedema pré-tibial. • Adenoma tóxico ou bócio multinodular tóxico: mais comum em idosos. Nódulo único ou múltiplos; cintilografia revela aumento da captação de iodo nos nódulos (quentes). • Mola hidatiforme/coriocarcinoma: níveis séricos de beta-HCG estimular o receptor de TSH. TSH SUPRESSO COM CAPTAÇÃO DE IODO REDUZIDA: • Tireoidite subaguda ou viral: dor cervical, hipersensibilidade à palpação, elevação de VSG. • Tireoidite silenciosa ou linfocítica: bócio indolor, firme e anti-TPO. • Tireoidite pós-parto: 12 primeiros meses pós-parto; tireoide indolor e anti-TPO elevado. • Tireotoxicose factícia: tireoglobulia reduzida. • Carcinoma folicular metastático: captação do radio-iodo pelas metástases. • Teratoma (struma ovarii): captação do radio-iodo pelo teratoma. Baixado por Festa das Comissoes (marketingcomissaoesfest@gmail.com) lOMoARcPSD|34224540 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=hipertireoidismo TSH NORMAL OU AUMENTADO (MUITO RARO): • Adenoma secretor de TSH: aparece na RNM. • Síndrome da resistência aos hormônios tireoidianos: mutação de receptores; TSH, T4 e T3 aumentados, com hipófise normal. TSH INDETECTÁVEL E T4L NORMAL: • Tireotoxicose por T3: aumento do T3 com T4L normal (< 5% dos casos). • Hipertireoidismo subclínico • Síndrome do eutireoideo doente Tratamento Pode-se utilizar beta-bloqueadores para controlar os sintomas adrenérgicos. Os mais utilizados são propranolol, atenolol e metoprolol. Os BCC, verapamil e diltiazem VO podem ser usados em casos de contra-indicação de beta-bloqueadores. No BMNT e no adenoma tóxico, o controle medicamentoso é temporário e o tratamento de escolha é a radioablação com iodo ou tireoidectomia. Alcoolização percutânea e ablação térmica são alternativas. As tireoidites destrutivas caracterizam-se pela inflamação e liberação de hormônios pré-formados. A clínica é mais branda e têm curso autolimitado (2-6 semanas). Recomenda-se beta-bloqueadores apenas para os sintomáticos. Não recomenda-se antitireoidianos ou radioablação (a tireoide já está se destruindo). Somente em casos graves, existem relatos de uso de radio-iodo para controlar mais rápido o quadro.O tratamento da doença de Graves tem como objetivo reduzir sintomas do excesso de hormônios. As opções definitivas devem ser consideradas. Isso pode ser feito com medicamentos antitireoidianos, destruição do tecido tireoidiano com iodo radioativo ou tireoidectomia total. Os dois últimos são definitivos. Medicamentos antitireoidianos São eles: metimazol e propiltiouracil. Agem inibindo síntese pela tireoide por meio da interferência da utilização do iodeto e na reação de acoplamento (peroxidase tireoideana). O PTU também inibe a conversão de T4 em T3. São muito efetivos durante o uso, mas a remissão da doença fica em torno de 40%. Pacientes com doença de Graves com bócio de pequeno volume e T3 não muito elevado tem maior chance de remissão após uso por 12-18 meses. O metimazol é a primeira escolha. PTU fica para gestantes no primeiro trimestre. As doses de metimazol são de 5-10 mg/dia para casos leves, chegando até 40 mg/dia para casos graves. Após controle, pode ser reduzida para dose de manutenção de 5-10 mg/dia. PTU tem dose inicial de 300-600 mg/dia em 2-3 tomadas diárias, podendo ser reduzido para 100-200 mg/dia. Se ocorrer apenas rash, pode manter. O mais grave é a agranulocitose e o paciente deve ser orientado a procurar o médico e suspender em caso de febre, odinofagia ou lesões na mucosa oral. Baixado por Festa das Comissoes (marketingcomissaoesfest@gmail.com) lOMoARcPSD|34224540 Iodo radioativo Tratamento seguro, barato e definitivo. VO, ambulatorial, útil para doença de Graves, adenoma tóxico ou BMNT. O único efeito colateral é o hipotireoidismo iatrogênico. É necessário excluir gravidez e assegurar contracepção por 12 meses. Na doença de Graves, controla o hipertireoidismo em 2-3 meses e cura em 85% dos casos. Hipotireoidismo iatrogênico ocorre em até 80%. A dose de iodo pode ser calculada ou empírica (160-200 mcCi por grama de tecido). A dose empírica é 10-15 mCi. Tireoidectomia total Raramente indicada para doença de Graves. É indicada em sintomas compressivos, nódulos suspeitos ou malignos e gestantes com intolerância aos medicamentos. Deve ser realizada em paciente controlado par evitar taquiarritmias perioperatórias. Não há benefício na melhora da oftalmopatia. Tem risco de hipoparatireoidismo iatrogênico (1 a 2%). Vantagens: controle rápido e efetivo. Iodeto O iodeto diminui a síntese de T3 e T4 (efeito Wolff-Chaikoff). Utilizado para controle rápido como hipertireoidismo grave ou preparação para cirurgia. Efeito rápido, mas dura apenas alguns dias/semanas; depois ocorre “escape” glandular. Utiliza-se Lugol ou iodeto de potássio. Glicocorticoides Em doses elevadas, bloqueiam conversão de T4 em T3. Pouco usado devido aos efeitos adversos; reservado para crise tireotóxica grave. Indicado na prevenção da piora da oftalmopatia de Graves. Baixado por Festa das Comissoes (marketingcomissaoesfest@gmail.com) lOMoARcPSD|34224540 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=hipertireoidismo
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