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ENDOCRINOLOGIA RENATA RAUBER FELKL • ATM 192 1 Aula 12 – Hipertireoidismo Prof. Dra. Fernanda Lain A tireoide é uma glândula que se localiza na região cervical anterior e tem a forma de uma borboleta. A hipófise produz TSH, que estimula a hipófise a tireoide a produzir T3 e T4, que agem na periferia. HIPERTIREOIDISMO X TIREOTOXICOSE • Hipertireoidismo: síntese excessiva e liberação sustentada de hormônios tireoidianos, causando hiperfunção da tireoide. O principal exemplo é a doença de Graves (hiper e tireotoxicose). • Tireotoxicose: síndrome clínica do excesso de hormônio tireoidiano circulante, secundária ao hipertireoidismo, ou não. Ex: paciente com tireoidite. TIREOIDITE • Ocorre uma fase hipertireoidea (T3 e T4 aumentados, com TSH reduzido pelo feedback negativo). • Ao aguardar o fluxo natural na doença, o TSH começa a se elevar novamente, ao mesmo tempo que os níveis de hormônios tireoidianos decaem. • Isso ocorre até o momento que os níveis voltam ao normal e o paciente volta ao estado de eutireoidismo. • Pode ser tanto dolorosa quanto assintomática. COMO DIFERENCIAR TIREOIDITE DE DOENÇA DE GRAVES? Através do exame da captação de iodo radioativo. Se a tireóide está inflamada, ela vai liberar todo o T3 e T4 que havia armazenado, e sua captação de iodo vai ser 0% ou praticamente zero. Já na doença de Graves, a tireóide vai estar hiperfuncionante, portanto, ávida por iodo para continuar produzindo os hormônios tireoidianos, e a captação será geralmente acima de 40%. DOENÇA DE GRAVES Liberação excessiva e sustentada de hormônios tireoidianos. EPIDEMIOLOGIA • Etiologia mais comum de hipertireoidismo – 80% • Afeta principalmente mulheres entre 20-40 anos. • Doenças autoimunes geralmente são mais comum em mulheres. • É uma doença auto-imune que produz anticorpos pelos linfócitos B, e eles vão contra o receptor de TSH. ANTICORPOS TRAb • É o anticorpo contra o receptor do TSH (anti-receptor de TSH). • Presente em até 90% dos casos de Graves ( nos 10% restantes, a quantidade de anticorpos pode ser tão pequena a ponto de não poder ser dosado). • Ligam-se no receptor do TSH na tireoide e o ativa, estimulam o crescimento e a função glandular, causando bócio e a produção excessiva de T3 e T4. • O excesso de hormônios tireoidianos provoca o feedback negativo, inibindo liberação de TSH pela hipófise, estando esse mais baixo no exame laboratorial. ANTICORPO ANTI-TPO • Marcador universal de doença tireoidiana auto-imune. • Presente em 80% dos casos de doença de Graves e em quase 100% das pessoas com Hashimoto. FATORES PREDISPONENTES • Genéticos: nítida predisposição familiar (tanto hiper como hipo)., CTLA-4 e HLA. • Ambientais: stress emocional, infecções bacterianas e virais, anti-retrovirais, interferon alfa e tabagismo (?). • Também pode ocorrer sem fatores predisponentes. Captação 0% Captação 89 Baixado por Festa das Comissoes (marketingcomissaoesfest@gmail.com) lOMoARcPSD|34224540 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=hipertireoidismo ENDOCRINOLOGIA RENATA RAUBER FELKL • ATM 192 2 DIAGNÓSTICO Feito por três fatores: hipertireoidismo (TSH baixo, T3 e T4 altos), bócio difuso e oftalmopatia infiltrativa. # Sintomas 1. Hipertireoidismo - TSH baixo ou supresso + elevação de T3 e T4 - Nervosismo, ansiedade, sudorese excessiva, intolerância ao calor, palpitação, taquicardia, tremor de mãos, pele quente e úmida, bócio, fadiga, perda de peso, fraqueza, dispneia, aumento de apetite e insônia. - Onicólise: descolamento da unha do seu leito ungueal. - Amenorreia ou oligomenorreia - Pacientes idosos podem ter manifestações clinicas pouco evidentes (hipertireoidismo apático) com predomínio de manifestações cardiovasculares: fibrilação atrial. - Sintomas comuns idoso: anorexia, perda de peso, fraqueza muscular, astenia, agitação, confusão mental, depressão. 2. Bócio - Caracteristicamente difuso: aumento difuso da glândula tireoide. - Presença de frêmito e sopro em 77% dos casos pelo fluxo aumentado. - Quando associado ao hipertireoidismo: diagnóstico de doença de graves até que se prove o contrário. - Se for de um lado só: pensar em nódulo quente (tóxico), solicitar cintilografia. 3. Oftalmopatia infiltrativa - Auto-imune: anticorpos TRAb infiltram os músculos extra-oculares, causam agressão intra-orbitaria. - Clinicamente evidente em 50% dos casos. - Ocorre aumento do volume MEO e gordura retrobulbar empurrando olho p/ frente, causando proptose (exoftalmia) e quemose (edema conjuntiva ocular), retração palpebral (pelos hormônios adrenérgicos em excesso) e olhar fixo. - Pode ocorrer antes (20%), depois (20%) ou concomitantemente (40%) à doença. - Pode ter dor, e em casos mais graves, ter essa condição tratada por meio de radioterapia, para diminuir inflamação. 4. Dermopatia - Mixedema pré-tibial: presente em 5-10% dos pacientes (é raro mas se presente é quase patognomonico). - Quase sempre está associada à oftalmopatia e a títulos elevados de TRAb. - Causada por aumento de glicosaminoglicanos provocando espessamento da pele (casca de laranja, inchaço s/ cacifo). # Laboratoriais - TSH baixo + elevação de T3 e T4 - TRAb (quase não se pede). # Exame complementar: Captação de iodo radioativo em 24h - Elevada em praticamente 100% dos casos de Graves. - Diferencia dos casos de tireoidite. - Se captação maior que 40%, com clínica e laboratoriais sugestivos: Doença de Graves. TRATAMENTO # Tionamidas - Inibem síntese de T4 e T3, dentro das células foliculares. - Tem efeito imunomodulador: ajudam a reduzir níveis de TRAb - Efeitos terapêuticos observados em 10-15 dias (redução T3 e T4). - Eutireoidismo ocorre entre 6-8 semanas. 1. Metimazol - Mais eficaz em obter eutireoidismo e o mais utilizado - Dose inicial 10-30mg/dia e dose manutenção: 5-15mg/dia - Após inicio: avaliar a cada 4-6 semanas. - Ajustar dose, uma vez sendo atingido eutireoidismo. - TSH pode permanecer suprimido por vários meses, mesmo com T4 e T3 normalizados. - Tem risco de aplasia cútis na gravidez: ausência de uma parte da pele ao nascimento. 2. Propiltiouracil - Risco de hepatotoxicidade - Administrada de 8 em 8h. - Indicada na gestação (primeiro trimestre), pois atravessa menos a barreira placentária. Efeitos colaterais Eritema cutâneo, urticária, agranulocitose, (uma vez que ocorra está CI, prefere-se usar iodo) artralgia, febre, leucopenia transitória, anemia aplástica, hepatite, vasculites, trombocitopenia. Baixado por Festa das Comissoes (marketingcomissaoesfest@gmail.com) lOMoARcPSD|34224540 ENDOCRINOLOGIA RENATA RAUBER FELKL • ATM 192 3 Após 2 anos de uso, apenas 30% ficam eutireoideos após a suspensão do medicamento. Os fatores que podem levar a essa falha na remissão são: - Doença bioquímica mais severa, sexo masculino, - Pacientes jovens (< 40 anos), - Alta concentração de anticorpos anti-TSH (TRAb), - Presença de um bócio muito grande, - Tabagismo. * Esses fatores prognósticos levam a uma preferência para a escolha de tratamento com iodo radioativo ou cirurgia. # Iodo Radioativo (I131) - Tem fácil administração e baixo custo - Seu mecanismo de ação é causar uma tireoidite intensa (dolorosa ou não), secundária à radiação, causando atrofia e destruição glandular após 6-18 semanas. - Pode levar a um hipotireoidismo transitório ou permanente pela destruição da tireóide. - Pode ocorrer uma piora da oftalmopatia. - Quase não tem efeitos colaterais. A dose da radiação é baixa e, portanto, é muito raro a irradiação para outro órgão. # Cirurgia - Bócio muito volumoso - Efeito compressivo (dispneia, disfagia) - Nódulos com suspeita de malignidade - Crianças e gestantes alérgicas às medicações antitireoidianas ou que não apresentam aderência ao tratamento. - Opção do paciente # Beta-bloqueador- Pouco indicada. - É utilizada para a redução de tremores finos e controlar a frequência cardíaca. - Há trabalhos que indicam uma redução da produção dos níveis de T3 e T4. CASO CLÍNICO Paciente de 34 anos, sexo feminino, encaminhada do posto de saúde para nosso ambulatório por TSH < 0,01 um/L. Relata perda de peso importante nos últimos meses, apesar do aumento de apetite. Muito ansiosa e irritada durante a consulta e queixando-se de palpitações. Ao EF: taquicardica, com tremores finos em extremidades, tireóide difusamente aumentada de tamanho (bócio). 1. Qual seria a lista de problemas da paciente? Paciente jovem (< 40 anos), mulher, TSH < 0,01, perda ponderal, ansiosa/irritada, palpitações, bócio. 2. Baseado na lista de problemas, qual seria sua principal hipótese? Hipertireoidismo – Doença de Graves 3. Baseado na hipótese diagnóstica, o que esperaria encontrar ao exame físico? Pele quente e úmida, tremores de mãos, etc. 4. Diante da suspeita, quais exames seriam importantes de ser solicitados e quais resultados você esperaria? Exame de captação de iodo em 24h. Dosagem de T3 e T4 se quiser, TRAb se quiser. 5. Quais tratamentos poderiam ser propostos? Em que situações iria ser indicado cirurgia? Drogas antitireoidianas, iodo radioativo, cirurgias. A cirurgia seria indicada em casos de bócio volumoso e sintomas obstrutivos (dispneia, disfagia) 6. Quais os possíveis efeitos colaterais do uso de antitireoidianos? Eritema cutâneo, urticária, agranulocitose, etc. Baixado por Festa das Comissoes (marketingcomissaoesfest@gmail.com) lOMoARcPSD|34224540 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=hipertireoidismo
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