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Da Teoria de Relações Humanas aos Estruturalistas (Etzioni)1 A teoria de Relações Humanas nasceu de uma reação à abordagem formal clássica. Focaliza, na organização, elementos de pouca ou nenhuma importância para a escola clássica. Elton Mayo é geralmente reconhecido como o pai da escola; John Dewey, indiretamente, e Kurt Lewin, mais diretamente também contribuíram muito para sua iniciação. Mayo e seus colaboradores descobriram que: (1) a quantidade de trabalho executada por um trabalhador (e, portanto, o nível de competência e racionalidade da organização) não é determinada por sua capacidade física, mas por sua "capacidade" social; (2) as recompensas não-econômicas desempenham um papel central na determinação da motivação e felicidade do trabalhador; (3) a maior especialização não é a forma mais eficiente de divisão de trabalho; (4) os trabalhadores não reagem à administração e suas normas e recompensas como indivíduos, mas como membros de grupos. Acima de tudo, a Escola de Relações Humanas, por razões que discutiremos logo mais, salientava o papel da comunicação, da participação e da liderança. Cada uma dessas intuições foi documentada por um ou mais experimentos, ou estudos de campo, muitos dos quais tornaram-se "clássicos" muito citados pelos cientistas sociais. DETERMINANTES FÍSICOS E DETERMINANTES SOCIAIS DA PRODUÇÃO O primeiro desses estudos foi realizado na Western Electric Company's Hawthorne Works, em Chicago, de 1927 a 1932; esta série de estudos (da qual discutiremos apenas uma parte) passou a ser conhecida como os estudos de Hawthorne. Desde o primeiro, houve alguns resultados muito inesperados. Roethlisberger e Dickson, em seu livro A Administração e o Trabalhador, mostram que, ao examinar a influência de maior iluminação no nível de produção (as teorias de Administração Científica previam que melhor iluminação provocaria aumento da produtividade), os pesquisadores se surpreenderam ao verificar que não havia qualquer relação entre as duas variáveis. Na realidade, num dos estudos posteriores, em que os trabalhadores foram colocados numa sala de controle, os resultados mostraram que a produtividade continuou a aumentar mesmo quando foi reduzida a iluminação! Só diminuiu quando a luz se tornou tão fraca, que os trabalhadores não mais podiam enxergar direito. Esse resultado perturbador inspirou uma série de estudos que puseram em dúvida, uma a uma, todas as afirmações dos autores clássicos, segundo as quais havia uma relação simples e direta entre as condições físicas de trabalho e a taxa de produção. Depois do estudo da iluminação, os pesquisadores estudaram a influência dos intervalos de descanso na produção de 5 trabalhadores colocados numa sala de exame. Tentaram-se diversas combinações diferentes de períodos de repouso de 5, 10 e 15 minutos, a fim de julgar sua influência nas taxas de produção. Embora a taxa de produção tenha apresentado um aumento muito consistente e geral, não estava ligada a aumentos nos intervalos, e portanto não podia ser a eles atribuída. Este fato foi surpreendentemente demonstrado quando, depois de abolidos os intervalos, no fim do experimento, e restaurado o dia de trabalho mais longo e "fatigante", no grupo experimental a produção continuou a ser mais elevada do que a taxa geral da fábrica. A conclusão foi que não havia "...provas para confirmar a hipótese de que o aumento da taxa de rendimento... era provocado pela redução da fadiga." Uma sugestão a respeito dos fatores responsáveis pelo 1 ETZIONI, A. Da Teoria de Relações Humanas aos Estruturalistas. In: ETZIONI, A. Organizações Modernas. São Paulo: Pioneira, 1989. p.43-65. aumento da produção, bem como pela melhoria geral da atitude dos trabalhadores, foi apresentada, como hipótese, pelos pesquisadores: o aumento da produção resultava da modificação da situação social dos trabalhadores, modificações em seu nível de satisfação psicológica, e novos padrões de interação social, provocados pela sua colocação na sala de experimentação e pela atenção especial que lhes foi dispensada. A descoberta da significação dos "fatores sociais" iria tornar-se o principal resultado dos estudos de Hawthorne. A ruptura decisiva na pesquisa dá-se com o famoso experimento da Sala de Instalações Elétricas de Séries, que incluía a instalação de painéis de distribuição. Esse experimento pôs em dúvida praticamente todas as suposições da Administração Científica. Muitos outros estudos foram realizados a partir de então, e verificaram e desenvolveram os resultados do Estudo da Mesa de Instalações Elétricas. Quando esse experimento foi proposto, os pesquisadores já sabiam que os grupos de trabalhadores tinham feito fracassar o sistema de pagamento individual e coletivo por peça, estabelecido pela administração. Os trabalhadores estavam produzindo muito menos do que eram fisicamente capazes; seguiam uma norma social imposta pelos colegas, que definia a quantidade adequada de produção, em vez de procurar preencher a quota que os engenheiros da administração julgavam que poderiam atingir, embora essa quota lhes permitisse ganhar tanto quanto lhes era fisicamente possível. A frase "restrição artificial de produção foi cunhada pelos observadores desse fenômeno, a fim de contrastá-la com a produção "natural", fisicamente possível. Que aconteceu, de fato, no grupo e que provocou essas restrições de quota, auto- impostas? Organizou-se um grupo de 14 trabalhadores, como uma unidade de trabalho, numa sala separada, na qual foram observados detidamente, durante seis meses. O seu trabalho era instalar painéis de ligações telefônicas (chamadas "séries"), que exigiam trabalho individual e alguma cooperação coletiva. O sistema de pagamento era o mesmo utilizado para o resto da companhia. Os trabalhadores eram pagos por hora, individualmente, de acordo com seu rendimento individual médio, mais um bônus determinado pelo rendimento médio do grupo. Além disso, recebiam uma ajuda de custo individual, por interrupções de trabalho fora de seu controle, a fim de que os produtores mais competentes não ficassem prejudicados pelo atraso no trabalho, causado pelos trabalhadores menos competentes. De acordo com as teorias de Taylor sobre os incentivos, a administração supunha que os homens trabalhariam tanto quanto pudessem, pois quanto mais trabalhasse, maior número de horas receberiam; que se esforçariam para cooperar e coordenar seus esforços, pois isso lhes aumentaria o salário, por aumentar a produtividade do grupo; que haveria registros minuciosos e precisos da produção e das causas de interrupção que permitiriam estabelecer a quantidade de pagamento dos trabalhadores. Na prática, os operários estabeleceram uma norma do "dia adequado de trabalho", que consistia em cada homem ligar dois conjuntos completos de equipamento por dia. Os trabalhadores que produzissem mais eram ridicularizados como "reis da velocidade" e criticados como "colossos de velocidade". Os que trabalhavam muito menos eram rotulados de "cinzeladores". As médias de produção real foram, durantes os meses, todos os dias, surpreendentemente próximas das normas do grupo. Havia muita pressão para que não se revelasse, ao mestre e aos outros representantes da administração, que os trabalhadores podiam produzir muito mais. Os trabalhadores acreditavam firmemente que, se produzissem muito mais, sua taxa de pagamento seria reduzida ou alguns deles perderiam o emprego (o estudo foi feito durante a Grande Depressão) e, se produzissem muito menos, seriam injustos com a administração ("não dariam um dia de trabalho pelo pagamento recebido") e isso poderia também "pô-los em apuros". Nenhuma das crenças tinha qualquer fundamento nas práticas da companhia estudada. A administração não era muito mais realista; pensava que dois painéis por dia era o queum homem que trabalhasse muito poderia ligar. A seguir estão os principais resultados e conclusões dos experimentos de Hawthorne: 1. O nível de produção é estabelecido por normas sociais, não pela capacidade fisiológica, ponto já exemplificado pelos estudos anteriores sobre a iluminação e a fadiga. 2. As recompensas e sanções não-econômicas influem significativamente no comportamento dos trabalhadores e limitam, em grande parte, o resultado de planos de incentivo econômico. Duas recompensas e sanções foram especificamente poderosas e ambas eram "simbólicas" e não materiais. Os trabalhadores que produziram significativamente mais (ou menos) que a norma socialmente determinada perderam a afeição e o respeito dos colegas e amigos. Todos os trabalhadores na sala de ligações preferiam, claramente, manter relações amistosas com os amigos a ganhar mais dinheiro. Num estudo posterior, Merville Dalton mostrou que nem sempre isso ocorre. Verificou que os que eram "colossos de velocidade" eram indivíduos cuja educação e experiência social lhes ensinara como viver com menos afeição e respeito, pelo menos no contexto do trabalho. Dalton verificou que nenhum dos 98 católicos praticantes, nos grupos que estudou, era um colosso de velocidade e que apenas um dos oito colossos de velocidade tinha nascido católico. (Acredita-se que os católicos sejam mais "sociáveis" e sensíveis à afeição e respeito dos outros; os protestantes são considerados mais auto-orientados.) Os colossos de velocidade, em sua maioria, tinham crescido em fazendas ou pequenas cidades, enquanto os conformados vinham das grandes cidades, onde tinham aprendido a lealdade aos grupos de companheiros, nas turmas de rua. Os colossos de velocidade estavam mais interessados em progredir e subir na organização que os outros trabalhadores. Ainda assim, os resultados de Dalton não contradizem os de Hawthorne; só alguns dos trabalhadores estudados por Dalton romperam as normas do grupo, e os que o fizeram não eram membros integrados no grupo de trabalho. A influência de outro fator não-econômico, na taxa de produção, está melhor expressa na famosa afirmação de W. I. Thomas: "Se os homens definem as situações como reais, são reais em suas conseqüências." De um lado, os operários acreditavam que, se trabalhassem mais, a taxa de pagamento seria reduzida, e, de outro, que se não produzissem uma determinada quantidade, seriam injustos com a administração e poderiam ser despedidos. As concepções das expectativas da administração, implícitas nessas crenças, influíram na norma de grupo que aí surgiu. Mas a verdade era que a administração, embora desejasse que os operários produzissem o mais possível, não tinha um nível específico de produção que considerasse "adequada". Embora as crenças dos trabalhadores tivessem pouca base objetiva, elas influíram no nível de produção na fábrica, se é que não o determinaram. 3. Freqüentemente, os trabalhadores não agem ou reagem como indivíduos, mas como membros de grupos. Cada indivíduo não se sentia livre para estabelecer, por si mesmo, uma quota de produção; esta foi estabelecida e imposta pelo grupo. Os trabalhadores que se desviavam significativamente, em qualquer direção, das normas do grupo, sofriam punições de seus colegas. O comportamento individual se apóia no grupo. Uma pessoa que, como indivíduo, resiste à pressão para mudar o seu comportamento, muitas vezes pode mudá-lo prontamente, se o grupo de que participa mudar o comportamento. Lewin escreveu que "Enquanto os padrões do grupo permaneceram imutáveis, o indivíduo resistirá a mudanças, tão mais firmemente quanto menos disposto estiver a se afastar dos padrões do grupo. Se este for modificado, elimi- na-se a resistência devido à relação entre o indivíduo e o padrão do grupo”. O poder do grupo para provocar mudanças no comportamento é analisado por Lewin, em sua discussão dos experimentos sobre a mudança de hábitos alimentares. Os experimentos foram realizados para verificar a maneira mais eficiente de fazer com que as pessoas consumissem tipos de alimentos que, habitualmente, não pensariam consumir. Alguns dos experimentos realizados durante a Segunda Grande Guerra tentaram descobrir maneiras de persuadir as pessoas a comer rins, pâncreas e coração. Vamos nos limitar a um experimento que estudou a maneira de fazer com que as mães dessem suco de laranja e óleo de fígado de bacalhau a seus filhos. Um hospital queria convencer as mães de recém-nascidos a dar óleo de fígado de bacalhau e suco de laranja a seus filhos, imediatamente depois de sair do hospital. Os pesquisadores distribuíram as mães entre dois tipos de programas. No primeiro, um representante do hospital falava isoladamente com cada mãe, durante cerca de 25 minutos, explicando-lhe as virtude do óleo de fígado de bacalhau e do suco de laranja para seu filho. No segundo programa, grupo de seis mães discutiram com uma autoridade do hospital, e entre si, o valor do uso desses itens para seus nenês. A discussão de grupo também durava 25 minutos. Os resultados foram conclusivos. Quando verificaram as duas amostras depois de duas semanas e, novamente, depois de quatro semanas, os pesquisadores verificaram que as mães que tinham participado do grupo de discussão tinham dado aos filhos suco de laranja e óleo de fígado de bacalhau com mais freqüência que as outras, embora os dois grupos estivessem mais inclinados a dar suco de laranja que óleo de fígado de bacalhau. Depois de quatro semanas, 90 por cento das mães que tinham recebido instruções em grupo estavam dando óleo de fígado de bacalhau, em comparação com 50 por cento das mães que tinham recebido instruções individuais. No caso do suco de laranja, os números comparáveis eram 100 por cento e cerca de 58 por cento. Outros experimentos sobre a modificação dos hábitos alimentares das pessoas revelaram, consistentemente, o mesmo fenômeno: discussões de grupo tinham muito maior eficiência para mudar atitudes que outros métodos, tais como as discussões entre duas pessoas ou conferências para grupos. A escola de Relações Humanas concluiu que certamente a Administração não pode tratar com os trabalhadores, um a um, como se fossem átomos isolados; precisa tratá-los como membros de grupos de trabalho, sujeitos à influência desses grupos. 4. A importância da liderança para o estabelecimento e imposição das normas de grupo e a diferença entre a liderança informal e a formal constituem outra importante modificação da Administração Científica, causada por estes estudos. A Administração Científica tendia a supor que o contramestre e os supervisores forneceriam a única liderança dos trabalhadores, pelo menos no que se referisse a questões de produção. No Estudo da Sala de Ligações de Séries, um dos operários surgiu claramente como líder informal no grupo. Era o homem mais apreciado da sala e um dos que mais encarnava as normas do grupo. Seu conselho era mais solicitado que o de qualquer outro e, na medida em que isso acontecia, era quem mantinha maior controle sobre o comportamento de seu grupo. Era admirado por sua capacidade de "conseguir que as coisas fossem feitas" e era, até certo ponto, o porta-voz do grupo com o resto do pessoal da fábrica. Em resumo, ajudava os operários a agir como um grupo social. No Estudo de Ligações de Séries, o supervisor não exercia grande influência sobre o grupo de trabalhadores. Na verdade, estava sob uma forte pressão para se conformar às normas do grupo que, supostamente, devia controlar. Estudos posteriores mostram que o mestre tem maior probabilidade de ser aceito se exercer o que veio a ser conhecido como o estilo de liderança de Relações Humanas. Um dos primeiros e mais conhecidos estudos a demonstrar a influência da liderança no comportamento do grupo foi o de Lippitt e White, "Liderança e Vida do Grupo".' Esse estudo faziaparte da série de trabalhos iniciados em 1930, sob a orientação de Kurt Lewin, e destinados a comparar estilos de liderança. Designaram-se três tipos de líderes para dirigir o trabalho de arte e artesanato de crianças, em quatro clubes diferentes. O primeiro tipo de líder era autoritário. Devia manter-se afastado do grupo e utilizar principalmente ordens, para dirigir as atividades do grupo. O líder democrático devia dar sugestões orientadoras, encorajar as crianças e participar do grupo. O terceiro tipo de líder, o laissez-faire, ensinava os membros do grupo, mas demonstrava pouco interesse emocional e um mínimo de participação nas atividades do grupo. http://virtude.do/ A finalidade do experimento era observar a atmosfera geral dos diferentes grupos, estudar as influências nos grupos e nos membros, individualmente, quando eram trocados os líderes, e verificar como os diferentes estilos de liderança influíam nas atividades do grupo. Compararam-se os membros dos grupos quanto a Ql, popularidade, energia etc., e todos trabalharam no mesmo projeto de artesanato de fazer máscaras. As diferenças entre as reações dos grupos aos diferentes estilos de liderança foram estudadas através de observações, do exame das máscaras feitas, e de "experimentos" - por exemplo, observando como os grupos reagiam quando o líder deixava a sala, por um tempo especificado. Foram encontradas grandes diferenças. O grupo de liderança democrática apresentou relações afetuosas e amistosas entre os participantes; estes freqüentemente trabalhavam nas atividades do grupo; quando o líder deixava a sala, o grupo demonstrava capacidade para ser independente e continuar a trabalhar no projeto. O grupo democrático não produziu tanto quanto o grupo autoritário, mas foi superior a qualidade de suas máscaras. O grupo de laissez-faire não se saiu muito bem, seja na realização, seja na satisfação do grupo. Suas máscaras foram as piores; freqüentemente pediam informações ao líder e demonstravam pouca independência; foi baixo o nível de cooperação de grupo. Os pesquisadores verificaram um alto nível de frustração entre os membros do grupo. Houve dois tipos de reações, da parte do grupo, à liderança autoritária. A reação "agressiva" era rebelde e chamava a atenção do líder. As crianças que reagiam agressivamente também se ocuparam em escolher bodes expiatórios, entre outros membros do grupo. A reação "apática" apresentava tendência a ser menos crítica do líder. Quando o líder de seu grupo era substituído por um não-autoritário, os "apáticos" participavam de grandes explosões de brincadeiras pesadas e alívio emocional. Fizeram-se tentativas para aplicar os resultados de Lippitt e White aos grupos da indústria, a fim de melhorar a eficiência da liderança formal (isto é, a liderança dos que, como os mestres, mantêm posições na estrutura formal da organização). Coch e French mostraram que a liderança de tipo democrático tem muita influência sobre as atitudes dos operários com relação aos seus empregos.' A administração da fábrica estudada tinha muita dificuldade para fazer com que os operários aceitassem inovações tecnológicas na fábrica. A Harwood Manufacturing Corporation descobriu que seus operários apresentavam resistência a aperfeiçoamentos na produção de pijamas. Coch e French, ao estudar a fábrica, acreditavam que a resistência poderia provir apenas parcialmente da frustração do operário, por ter de alterar hábitos estabelecidos de trabalho e que, em parte, devia ser causada por uma forte pressão de grupo para que não se adaptassem com excessiva rapidez. O fato de que os grupos de trabalho resistiam à mudança provocava a pressão sobre cada membro, a fim de que resistissem à adaptação às novas técnicas, mantendo baixa produção. A fim de verificar suas hipóteses, Coch e French tomaram um certo número de operários, cujos trabalhos iam ser mudados e dividiram-nos em três grupos, emparelhando seus membros, a fim de garantir sua semelhança. Os grupos eram comparáveis quanto à competência anterior, à coesão do grupo e à quantidade necessária de aprendizagem no executar a nova tarefa. O primeiro grupo não recebeu outra orientação para a mudança senão uma curta comunicação, da administração, de que a mudança iria ser feita. O segundo grupo foi informado, pela administração, da necessidade da mudança e do que ocorreria nesta; foi também solicitado a escolher representantes, a fim de auxiliar o planejamento do programa necessário de retreinamento. O terceiro grupo, como o segundo, foi informado da mudança e recebeu explicações das suas razões. Mas, neste caso, todo o grupo participava do esquema e planejamento dos novos trabalhos, bem como do retreinamento. Os resultados mostraram claramente que os dois grupos que tinham participado do programa de orientação, retreinamento e planejamento, rapidamente se ajustaram à mudança, enquanto o primeiro grupo não se ajustou. Os grupos II e III melhoraram consideravelmente sua produção, enquanto no grupo I a produção decresceu. O grupo III, em que havia uma participação total, saiu-se um pouco melhor que o grupo II. Além disso, enquanto o abandono do emprego e queixas aumentaram no grupo I, não houve praticamente abandono de emprego e queixas nos outros grupos. Como estes resultados não foram suficientemente convincentes, Coch e French realizaram um estudo de acompanhamento com o grupo I. Vários meses mais tarde, os membros do grupo I foram obrigados novamente a mudar de tarefa, mas desta vez participaram de um programa semelhante ao do grupo III, no experimento anterior. Apresentaram o mesmo êxito na adaptação à mudança que o grupo III, com aumento da produção e satisfação do grupo. Esse resultado nega a possibilidade de que os desajustamentos anteriores tenham sido causados por fatores de personalidade dos membros do grupo. 5. Depois desses experimentos e dos trabalhos de Mayo e Lewin, a abordagem de Relações Humanas passou a salientar a importância da comunicação entre as posições, da explicação aos participantes interiores, das razões de uma determinada orientação; a importância da participação nas decisões em que as posições inferiores participam das decisões tomadas pelas superiores, principalmente em assuntos que as atingem diretamente; as virtudes da liderança democrática que não só é extremamente comunicativa e encoraja a participação, como também é justa, não arbitrária, e tem preocupação com os problemas dos trabalhadores, não só com os do trabalho. Existem poucos estudos e intuições em ciência social que tenham recebido mais atenção e tenham sido mais difundidos na literatura popular e em manuais comerciais que esses experimentos e as conclusões que a escola de Relações Humanas deles tirou. Muitos milhares de gerentes e supervisores de posição mais baixa participaram de seminários de Relações Humanas ou se instruíram com esse material. Embora, sem dúvida, muitos outros fatores, além da escola de Relações Humanas, tenham tido influência no caráter da administração norte- americana, e embora ninguém tenha documentado a influência dos esforços educacionais da teoria de Relações Humanas, a administração norte-americana - e, até certo ponto, a administração em outras sociedades industriais - mudou nitidamente seus pensamentos e hábitos, por influência dessa escola. Esta continua a ser aceita nos círculos administrativos. CONCLUSÃO A Administração Científica e a escola de Relações Humanas foram, em muitos sentidos, diametralmente opostas. Os fatores considerados como decisivos e cruciais por uma escola, mal eram considerados pela outra, e as variáveis, que uma considerava centrais, eram quase ignoradas pela outra. As duas escolas, contudo, tinham um elemento comum: nenhuma delas via qualquer contradição fundamental ou dilema insolúvel na relação entre a procura de racionalidade da organização e a busca de felicidadehumana. A Administração Científica supunha que a organização mais competente seria, também, a mais satisfatória, pois poderia aumentar ao máximo tanto a produtividade quanto o pagamento do trabalhador. Como este era visto como um homem econômico, que procurava aumentar seu orçamento, e como se supunha que estivesse satisfeito com a sua parte da renda da companhia, mantinha-se a crença implícita de que o que é melhor para a organização é melhor para os trabalhadores, e vice-versa. Neste sentido, a Administração Científica é a contraparte, na organização, da perfeita teoria da competição no mercado econômico, que supõe que a competição perfeita (o estado racional) eleva tanto o bem-estar da economia quanto o de suas diversas unidades. A teoria de Relações Humanas supunha que a organização mais satisfatória deveria ser a mais competente. Sugeria que os operários não se dariam bem em organizações frias, formais e "racionais" que satisfizessem apenas suas necessidades econômicas. A escola de Relações Humanas não acreditava que a administração fosse capaz de estabelecer uma organização que mantivesse os trabalhadores satisfeitos, apenas através da distribuição do trabalho e da autoridade de maneira mais competente, determinada pela natureza intrínseca da tarefa. Todavia, como a Administração Científica, não considerava o problema da satisfação e da produtividade do trabalhador como inerentemente insolúvel. De fato, a administração precisa ser esclarecida e é preciso dar alguns passos, como o encorajamento do desenvolvimento de grupos sociais de trabalho e a apresentação de uma liderança democrática, participante e comunicativa; todavia, depois de compreender a verdadeira natureza das necessidades dos trabalhadores, de sua vida informal de grupo e de suas organizações, nada impede a administração de tornar feliz a vida da organização. Além disso, a escola de Relações Humanas ensinou que é preciso ligar o trabalho e a estrutura da organização às necessidades sociais dos empregados pois, dessa maneira, ao tornar feliz o empregado, a organização obteria sua completa cooperação e esforço, o que aumentaria a sua competência. A maneira de tornar a organização inteiramente racional é aumentar, através de esforços intencionais, a felicidade dos trabalhadores. Existem muitas páginas quase líricas nas obras de Ralações Humanas que descrevem o trabalhador como ansioso por não perder um dia na fábrica, ou por chegar muito tarde, temendo perder algum tempo de convívio com seus amigos, e mesmo ansioso por não desapontar seu mestre, que para ele é como um pai afetuoso e compreensivo. A equipe de trabalho é freqüentemente descrita como uma família. A teoria de Relações Humanas sustentava que "os empregados devem ter o sentimento de que o objetivo da companhia merece seus esforços; devem sentir-se como parte da companhia e orgulhar-se da sua contribuição para o objetivo. Isso significa que os objetivos da companhia devem ser tais que inspirem confiança nas intenções da administração e permitam acreditar que cada um obterá recompensas e satisfações ao trabalhar por esses objetivos". Em resumo, a escola de Relações Humanas indicava um equilíbrio perfeito entre os objetivos da organização e as necessidades dos trabalhadores. Os dois pontos de vista só divergiam no conteúdo do equilíbrio que descreviam: enquanto a Administração Científica via o equilíbrio como natural, se não houvesse limitações, a teoria de Relações Humanas acreditava que o estado ideal precisava ser intencionalmente construído. Em muitos livros de Relações Humanas encontra-se implícita a sugestão de que a tarefa do cientista social é mostrar, à administração, como dedicar-se à arte da engenharia social, em benefício de todos os interessados. Por isso, coube aos Estruturalistas indicar que a alienação e o conflito são inevitáveis e ocasionalmente desejáveis, e salientar que a ciência social não é um veículo capaz de servir às necessidades do trabalhador ou da organização. Ela não está interessada em melhorar a organização da administração nem em melhorar a organização dos empregados. Dois conceitos básicos e afins, que surgiram das escolas de Administração Científica e de Relações Humanas continuaram centrais nos estudos de organização, qualquer que tenha sido sua orientação - por uma das tradições de organização ou por nenhuma delas. São os conceitos de organização formal e informal. O primeiro deriva do conjunto de fatores considerado decisivo pela Administração Científica; o último, dos acentuados pela escola de Relações Humanas. A organização formal refere-se, geralmente, ao padrão da organização determinado pela administração: o esquema de divisão de trabalho e poder de controle, as regras e regulamentos de salários, multas, controle de qualidade etc. A organização informal refere-se às relações sociais que se desenvolvem entre o pessoal ou os trabalhadores, acima e além da formal, determinada pela organização (por exemplo, não só trabalham como uma equipe na mesma máquina, como são também amigos), ou às relações reais da organização, que se desenvolvem em conseqüência de interação entre o programa da organização e as pressões das relações interpessoais entre os participantes (por exemplo, formalmente, nenhum trabalhador deve sair da fábrica antes das cinco horas mas aceita-se, informalmente, que às sextas- feiras os secretários saiam às 4 e 45, como todos os outros empregados de escritório). Uma discussão da organização formal propõe questões de relações entre as divisões ou posições da organização; a organização informal sugere grupos de companheirismo entre seus membros, bem como relações entre líderes e seguidores nesses dois grupos. Em grande parte, coube à escola Estruturalista a proposição sistemática do problema das relações entre a organização formal e a informal. A CRÍTICA ESTRUTURALISTA Com muitas origens e apenas um adversário, a teoria Estruturalista é uma síntese da escola Clássica (ou formal) e da teoria de Relações Humanas (ou informal), inspirando-se também no trabalho de Max Weber e, até certo ponto, no de Karl Marx. Todavia, seu principal diálogo foi com a escola de Relações Humanas. Compreendem-se melhor seus fundamentos através do exame da crítica que apresentou à teoria de Relações Humanas. Ao analisar a visão de "harmonia" dos autores desta escola, os Estruturalistas reconheceram, inteiramente, e pela primeira vez, o dilema da organização: as tensões inevitáveis - que podem ser reduzidas, mas não eliminadas - entre as necessidades da organização e as necessidades de seu pessoal; entre a racionalidade e a irracionalidade; entre disciplina e autonomia; entre relações formais e informais; entre administração e trabalhadores ou, mais genericamente, entre posições e divisões. Enquanto a escola de Relações Humanas se concentrava em organizações industriais e comerciais, os Estruturalistas estudaram também hospitais e prisões, igrejas e exércitos, serviços de assistência social e escolas, ampliando o alcance da análise de organização, a fim de atender aos tipos existentes de organização. Nesta secção examinamos o desenvolvimento da teoria Estruturalista, como resposta à escola de Relações Humanas, em que alguns dos princípios mais importantes desta última são absorvidos no quadro de referência mais amplo da primeira. O capítulo seguinte trata do maior autor estruturalista; o resto do livro está escrito, em grande parte, em função da síntese apresentada pelo estruturalismo. O SISTEMA DA ORGANIZAÇÃO Os estruturalistas sugeriram que a teoria de Relações Humanas não permitia uma visão completa da organização e que sua visão parcial favorecia a administração e iludia os trabalhadores. Os estruturalistas vêem a organização como uma unidade social grande e complexa, onde interagem muitos grupos sociais. Embora esses grupos compartilhem algunsinteresses (por exemplo, a viabilidade econômica da companhia) têm outros, incompatíveis (por exemplo, referentes à maneira de distribuição dos lucros brutos da organização). Compartilham alguns valores, principalmente os nacionais, cuja influência se torna evidente em períodos de crise internacional, mas discordam em muitos outros, como, por exemplo, suas avaliações do lugar do trabalho na sociedade. Os diversos grupos poderiam cooperar em certas esferas e competir em outras, mas dificilmente são ou podem tornar-se uma grande família feliz, como freqüentemente dão a entender os autores de Relações Humanas. Dois grupos da organização cujos interesses freqüentemente entram em conflito são a administração e os operários. Isso ocorre, em grande parte, porque o esforço da administração para fazê-los trabalhar é fundamentalmente alienados para o operário. Existem muitas maneiras para tornar o trabalho mais agradável, mas nenhuma que o torne satisfatório, num sentido absoluto. Os estruturalistas aceitaram esse ponto de vista e, de acordo com as análises de Marx e Weber, procuraram, no contraste entre o artesão medieval ou agricultor e o operário moderno, alguns indícios da origem da insatisfação deste último. Segundo Marx, a mão-de-obra da fábrica moderna está alienada de seu trabalho, pois não possui os meios de produção nem o produto de seu trabalho. A especialização fragmentou a produção de tal maneira, que o trabalho de cada operário tornou-se cheio de repetições, monótono e sem oportunidade para criação e auto-expressão. O operário tem pouca idéia do processo total de trabalho ou de sua contribuição para ele; seu trabalho não tem sentido. Tem pouco controle sobre a hora de início e do fim do trabalho, ou sobre o ritmo em que deve ser feito. A esta análise de Marx, Weber acrescentou que esse alheamento básico não existe apenas entre o operário e os meios de produção, mas também entre o soldado e os meios de guerra, o cientista e os meios de pesquisa etc. Isso não é apenas uma questão legal de propriedade (por exemplo, que a arma pertença ao exército e não ao soldado) mas, ao contrário, a propriedade implica no direito de controlar e que aqueles que fornecem os meios definem também sua utilização; o operário, o soldado e o pesquisador - e por inferência todos os empregados de todas as organizações - são frustrados e infelizes, pois não podem controlar a utilização de seus esforços, não possuem o instrumento necessário para executar independentemente o trabalho que precisa ser feito. Diante da pergunta "bem feitas as contas, até que ponto você gosta de seu trabalho?" cerca de 80 por cento dos operários americanos responderam "não gosto". A alienação é um conceito que exprime esse sentimento e a análise de sua origem nos termos de Marx e Weber. Na verdade, a teoria de Relações Humanas indicou algumas maneiras de reduzir as frustrações resultantes mas, segundo os estruturalistas, existem limites rígidos para essa possibilidade. O desenvolvimento de grupos sociais no trabalho pode tornar o dia do trabalhador mais agradável, mas não torna sua tarefa menos monótona e não-criadora. De maneira semelhante, a rotação de trabalho facilita o problema da monotonia, mas não muda sua natureza básica, pois a rotação está limitada pelas possibilidades de tarefas alternativas de que se dispõe, todas semelhantes em sua natureza enfadonha, rotineira e insignificante. Sugeriu-se que os operários passam a maior parte de seu dia de trabalho num delírio semiconsciente, sonhando com sua principal fonte de satisfação: o dia depois do trabalho. Ao apresentar um quadro irreal de "felicidade", ao perceber a fábrica como uma família, e não como uma luta de poder entre grupos com alguns valores e interesses em conflito - bem como alguns valores e interesses comuns - e ao vê-Ia como uma importante fonte de satisfação humana, e não de alienação, a teoria de Relações Humanas chegou a encobrir as realidades da vida de trabalho. A insatisfação do operário é considerada como indicação de falta de compreensão da situação e não como sintoma de qualquer conflito real de interesses subjacentes. Embora Warner e Low, em seu estudo da greve numa fábrica de calçados, tivessem percebido o desejo dos operários de salários mais altos, numa situação em que os salários tinham sido muito reduzidos, viram, como fatores subjacentes ao conflito, a perda, pelos operários, do sentido de comunidade, o declínio das relações primárias e o bloqueio de comunicação entre a administração e os operários."Nos primeiros tempos da indústria de calçados, os proprietários e administradores das fábricas, bem como os operários, residiam em Yankee City; não havia expansões das estruturas sociais da fábrica fora da comunidade local. As fábricas estavam, então, inteiramente sob o controle da comunidade: não só o controle formal dos decretos e leis municipais, como também os controles informais mais difusos, das tradições e atitudes da comunidade. Havia relações de boa vizinhança e amizade entre o administrador e o operário, bem como responsabilidade mútua entre eles e a comunidade, que ultrapassavam o acordo formal empregado". Quando a hierarquia vertical do sistema fabril se expandiu com escritórios executivos em Nova York, até os administradores da fábrica local passaram a ser, em sua maioria, "de fora". Os operários sabiam ou sentiam que as forças que controlavam os homens locais não controlariam os de fora. A grande rede de relações e participação - que tornava os antigos proprietários líderes locais, além de industriais locais - tinha-se reduzido a uma relação puramente econômica de empregador e empregado. É a esta abordagem parcial - que coloca num plano secundário a importância das recompensas materiais - que os estruturalistas fazem objeção. Todavia, os estruturalistas aceitaram, embora com redução da acentuação, a compreensão obtida pela teoria das Relações Humanas da significação das recompensas sociais na indústria, mas criticaram o emprego dessa compreensão nos casos em que a administração procura apaziguar os operários, concedendo- lhes símbolos baratos de prestígio e afeição, em vez de aumento de salários. As diferenças de abordagens podem ser acentuadas no caso seguinte. Numa fita de cinema típica, para treinamento em Relações Humanas, vemos uma fábrica feliz, na qual as rodas zunem constantemente e os operários alimentam ritmadamente as máquinas, com rostos sorridentes. Chega um caminhão e descarrega grandes engradados com novas máquinas. Um tipo moreno, com grandes queimaduras, que varre o chão da fábrica, espalha o boato de que está iminente uma despedida em massa, pois as novas máquinas passarão a fazer o trabalho de muitos dos trabalhadores. As rodas giram mais devagar, os operários estão tristes. De noite, levam sua tristeza para suas casas suburbanas. Na manhã seguinte, a voz encorajadora de seu chefe se faz ouvir através da intercomunicação. Diz que o boato é absolutamente falso; as máquinas devem ser instaladas numa nova ala, e serão contratados novos operários, pois a fábrica está expandindo sua produção. Todos suspiram de alívio, os sorrisos aparecem novamente, as máquinas zunem de novo, rápidas e constantes. Apenas o varredor moreno está triste. Ninguém mais prestará atenção a seus boatos. A moral é clara: se a administração tivesse tomado o cuidado de comunicar seus planos de desenvolvimento aos operários, a crise teria sido evitada. Quando esta foi criada, o aumento de comunicação eliminou-a como num passe de mágica. O estruturalista não poria em dúvida a validade dessa fita de treinamento. Os problemas criados inicialmente pela falsa comunicação (o boato do varredor), e pela falta de comunicação autêntica, podem ser eliminados, ou pelo menos em grande parte reduzidos, através do aumento de comunicação autêntica. A questão que o estruturalista é obrigado apropor é a seguinte: o que faria a administração se o boato fosse verdadeiro, se fosse forçada a reduzir sua força de trabalho, digamos, por causa da automação? Mesmo nesse caso, a comunicação poderia ter facilitado um pouco a situação, ao esclarecer o alcance das dispensas esperadas e a que processo obedeceriam, mas certamente não poderia ter eliminado ou mesmo reduzido significativamente a alienação dos que deviam ser despedidos, e de muitos de seus amigos, cuja vez viria a seguir. Não se desfazem, pela comunicação, as diferenças de interesses econômicos e de posições de poder. O conflito industrial é considerado por muitos cientistas sociais da geração mais antiga, e pela maioria dos autores de Relações Humanas, como basicamente indesejável. Os especialistas de Relações Humanas procuram promover a harmonia industrial. Todavia, os estruturalistas indicam as numerosas e importantes funções sociais do conflito entre as quais se incluem suas contribuições positivas para o sistema da organização e não concordam com qualquer repressão artificial do conflito. A expressão do conflito permite o aparecimento -de diferenças autênticas de interesses e crenças, cuja luta pode conduzir a uma verificação do poder e do ajustamento do sistema da organização à situação real e, fundamentalmente, à paz da organização. Se forem disfarçados, o conflito e sua concomitante alienação latente procurarão outras formas de expressão, tais como o abandono do emprego ou o aumento de acidentes que no fim, apresentam desvantagens tanto para o operário como para a organização. A ACUSAÇÃO DE "CONTROLE" Um antropólogo anotou a seguinte conversa num sanatório de doenças mentais. Dela participavam o diretor médico, o diretor administrativo e uma enfermeira; a discussão referia-se a sessões em que os pacientes eram encorajados a exprimir suas reclamações com relação à rotina hospitalar. Senhorita Nugent (enfermeira): Vocês vão ter uma sessão de reclamações? Dr. Scott: Pessoalmente, sou contra essas sessões de reclamações. http://que.no/ http://que.no/ Dr. Shaw: Eu também, principalmente se os pacientes sentirem que estão legislando nessas sessões, e mais tarde, verificarem que isso não acontece. Dr. Scott: A única coisa boa nessas sessões é que, se conseguirmos fazer com que os pacientes, como grupo, observem o que está acontecendo em seu comportamento... Aqui, as conferências (sessões de reclamações), que os pacientes eram levados a considerar como oportunidade de comunicação para cima, eram utilizadas, na realidade, para orientação e comunicação para baixo. Para muitos estruturalistas, essas formas de "controle" são condenáveis, embora neste caso sua oposição pudesse ser um pouco menos intensa, pois tinham uma finalidade terapêutica, e se tratava, afinal de contas, de um hospital. Mas na maioria das outras organizações, e principalmente nas organizações industriais, esse "controle", como já se afirmou, não é ético; utilizam-se as técnicas de Relações Humanas para auxiliar as pessoas de posições superiores a controlar as de posições inferiores. Dois consultores de Relações Humanas, sob o título de "Participação do Grupo", afirmaram que: As administrações vêem com ceticismo os métodos de grupo que integram o conflito e utilizam o máximo de participação, porque fogem ao que estão habituados. O presidente de uma organização disse: "Você quer dizer que um menino da entrega pode me ajudar a administrar o meu negócio?" Na realidade, não é impossível que o menino da entrega possa dar algumas idéias ao presidente, mas este pensa que o menino irá sentar-se à mesa do conselho diretor. Não é isso que se pretende, e, de qualquer maneira, o menino da entrega se sentiria muito mal. Mas um encontro com o menino e alguns de seus companheiros de trabalho, para uma troca de opiniões e experiência, daria ao presidente algumas idéias de como lidar com os carregadores. (Os grifos são meus). Os indivíduos colocados nas posições inferiores podem ser convidados para participar de discussões "democráticas", que levam a aceitar a decisão, quando, na verdade, as decisões já estão tomadas e o verdadeiro propósito da conferência é fazer com que as posições inferiores as aceitem. Ou os de posições inferiores têm permissão para resolver questões relativamente pouco importantes, cujos resultados são indiferentes para a administração geral. O que se cria aqui é um sentido falso de participação e autonomia, intencionalmente provocado, a fim de despertar a cooperação dos operários e seu compromisso para com a iniciativa da organização. Já se disse, por isso, que ao proporcionar aos operários "sessões de reclamações" e urnas de sugestões, assistentes sociais e entrevistas psiquiátricas, como se faz em alguns programas de Relações Humanas, pode-se reduzir a alienação dos operários, sem melhorar a sua vida. Os proponentes das Relações Humanas respondem que não favorecem um grupo ou outro; seus resultados são públicos e, portanto, todos - operários e administração - podem utilizá-los. (Na verdade, alguns líderes sindicais fizeram cursos de Relações Humanas, a fim de aumentar seu controle sobre os membros do sindicato.) Os autores de Relações Humanas indicam que, de certa forma, os operários e a administração tentam "controlar" uns aos outros, e que o estudo do "controle" não o criou. Além disso, quase todos os estudos de ciência social podem ser utilizados para "controle", pois dão aos leitores a compreensão da estrutura e da dinâmica dos processos sociais, que poderia ser utilizada com desvantagem (ou vantagem) dos outros. Ademais, unicamente o observador mais viesado negaria que o aumento da comunicação e da participação, bem como a concessão de recompensas sociais - mesmo sem o aumento de salários - melhoraram a vida e o trabalho do operário. Finalmente, é preciso reconhecer que muitas fábricas com programas de Relações Humanas estão entre as que pagam mais, têm melhores condições de trabalho e onde os sindicatos são mais aceitos. A utilização da abordagem de Relações Humanas pode melhorar a situação social do operário, sem sacrificar seus interesses econômicos. ABORDAGEM MÚLTIPLA 1. Formal e informal. Segundo a principal crítica analítica, e não ideológica, da abordagem de Relações Humanas, esta apresenta a tendência a se concentrar numa pequena amplitude de variáveis e a estudá-las sem levar outras em consideração. Freqüentemente, não consegue estabelecer relações entre os resultados das variáveis estudadas num caso específico, e as examinadas num outro. O pessoal das Relações Humanas tende a dedicar muita atenção às relações informais entre trabalhadores e entre trabalhadores e supervisores, e pouca atenção às relações formais ou à articulação destas com as relações informais. É verdade que os operários constituem grupos informais, mas como é que estes se ligam à organização formal? Será que todos, a maioria ou apenas alguns operários, em qualquer unidade de trabalho, são também membros de um grupo informal? Será que os grupos informais atravessam as divisões formais ou tendem a ser paralelos? Será que os grupos informais têm a mesma probabilidade de se expandir em todas as posições e divisões da organização, ou têm mais probabilidade numas que em outras? É verdade que os grupos informais são sensíveis à liderança - mas, em que condições essa liderança é apresentada pelos líderes formais que têm posições na organização (isto é, líderes informais)? Ocorrerão, casos em que a liderança se divide entre os líderes formais e informais? Se isso acontece, como é que essa divisão influi sobre a racionalidade da organização e no compromisso ou alienação dos trabalhadores? Uma leitura cuidadosa de várias descrições, feitas por especialistas em Relações Humanas, de relações de trabalho, proporciona muito material sobre relações entre fatores informais - que os especialistasem Relações Humanas salientam - e fatores formais, que tendem a subestimar. Principalmente, existe pouco esforço sistemático para ligar os dois conjuntos de fatores. Esta foi, em grande parte, uma contribuição da escola estruturalista. 2. O campo dos grupos informais. Muitos estudos de Relações Humanas indicaram a existência de grupos informais na indústria e sua significação psicológica e sociológica, principalmente diante da desintegração da vida social fora da fábrica, sob o impacto da industrialização. Todavia, existem poucos estudos de Relações Humanas que indaguem a freqüência com que aparecem esses grupos informais de trabalho, em que medida são raros os grupos fora do trabalho e qual é realmente sua importância relativa. Os estruturalistas, em suas pesquisas sobre a organização, verificaram que os grupos informais de trabalho não são tão comuns, e que a maioria dos operários não pertence a qualquer um deles. Dubin, em seu levantamento dos "interesses centrais da vida" de 1.200 trabalhadores de indústria, verificou que "apenas 9 por cento dos operários na amostra preferiam a vida de grupo informal, centralizada no trabalho". Acrescentou que "especificamente, o trabalho não é um interesse central de vida dos operários industriais, quando estudamos as experiências do grupo informal e as experiências sociais gerais, que têm para eles algum valor afetivo (...)". “ Um trabalho de Walker e Guest, sobre 179 operários de linha de montagem, demonstrou a quase inexistência de grupos sociais no trabalho” Vollmer registrou que 53 por cento dos operários especializados do sexo masculino não têm "colegas como amigos íntimos, fora do trabalho". Mayo e muitos de seus colaboradores esperavam a atomização da sociedade, como resultado da industrialização. Pensavam que esta conduziria à desintegração dos grupos sociais tradicionais, como a família, a comunidade e os grupos religiosos. Predisseram o desaparecimento dos corpos intermediários entre o estado e o indivíduo, à medida que se expandisse a sociedade de massa. Portanto, viam a nova unidade social - a fábrica - como capaz de proporcionar um novo lar, um lugar de segurança emocional para o indivíduo atomizado. Esperava-se que a administração proporcionasse a necessária proteção social e emocional, e, por sua vez, fosse recompensada por uma força de trabalho dedicada, esforçada e satisfeita. De fato, os grupos sociais tradicionais decaíram quanto à importância, alcance e grau de integração. A família moderna típica é menor quanto ao tamanho, menos estável e socialmente menos importante que a tradicional. Muitas comunidades rurais e grupos religiosos também declinaram. Mas a maioria desses grupos não desapareceu. Depois de um longo período de decadência, seu declínio se deteve e, em parte, se inverteu. Nas duas últimas décadas, a família passou por um ressurgimento quanto à avaliação social, ainda que não na estabilidade. O mesmo se deu com a religião e os grupos religiosos. Além disso, desenvolveram-se novas bases de relações sociais, principalmente em unidades ecológicas urbanas, e ainda mais nas suburbanas. Os sindicatos proporcionam alguma vida social fora da fábrica. Em conjunto, o operário moderno não chega à fábrica faminto de afeição e ligações. Algumas unidades sociais antigas e outras novas satisfazem senão todas, pelo menos grande parte de suas necessidades gregárias. Portanto, não é surpreendente verificar que os grupos informais não sejam comuns entre os operários. São um pouco mais comuns nas posições mais elevadas da organização (raramente estudadas pela escola de Relações Humanas) em que a mobilidade social e geográfica reduzem os laços sociais de uma pessoa à sua família consangüínea, sua comunidade inicial de residência e os amigos; portanto, o indivíduo tende a apoiar-se mais firmemente nos laços sociais encontrados no trabalho. É neste nível que a intuição de Mayo pode ser aplicada mais produtivamente. 3. A organização e seu ambiente. O estudo típico de Relações Humanas examina o grupo informal de trabalho na fábrica, e às vezes a fábrica como um todo, como uma ilha que deve ser estudada, como o antropólogo estuda uma tribo auto- suficiente. Nem todos os estruturalistas renunciam a essa limitação de perspectiva; todavia, mais recentemente, tem-se dado cada vez mais atenção aos processos ambientais que influem mais intimamente sobre a organização, e aos processos da organização que influem em suas relações com o ambiente - por exemplo, nos contatos com clientes, na interação entre organizações, entre organizações e estruturas mais elevadas de poder, como o governo. São muito importantes as influências da participação dos operários e outros componentes em muitos grupos, tanto na organização, como fora desta. Voltaremos a este problema mais adiante, em nossa discussão da organização e seu ambiente (V. Capítulo 10). 4. Recompensa material e social. Os estruturalistas consideram parciais os estudos que a Administração Científica e as Relações Humanas fazem sobre as recompensas; na tradição estruturalista, combina-se o estudo das duas. Já ficou demonstrada, fora de qualquer dúvida, a significação de recompensas sociais, afeição e estima. Sabe-se de advogados que desistiram de uma renda muito elevada, preferindo o cargo de juízes, com salários muitos menores, "compensados" pelo maior prestígio da posição. Vice-presidentes, infelizes por terem sido preteridos quando se elegeu um novo presidente, ficaram muito menos infelizes com sua "promoção", quando seu título foi mudado para vice-presidente-executivo. Tudo o que se inclui nos símbolos de posição - tamanho do escritório, lugares marcados no estacionamento da companhia, e assim por diante - é importante na vida de qualquer organização. Todavia, é preciso compreender que, para que as recompensas simbólicas sejam eficientes, quem as recebe deve antes ter-se identificado com a organização que as concede e, ainda mais importante, os símbolos devem ser prezados pelos "outros significativos" de quem os recebe - a mulher, os amigos, os vizinhos. Por essas razões, as recompensas sociais são menos eficientes com os operários do que com os funcionários, menos eficientes com os empregados de posição mais baixa do que com os de posição mais alta. Para um operário, o reconhecimento oficial pela administração pode ser uma fonte de prejuízo, pois os colegas podem ridicularizá-lo ou colocá-lo no "gelo". O mesmo ocorre com o "queridinho da professora" nas escolas, os "protegidos" nas prisões, ou o "soldado do mês" no exército. Embora se tenha verificado que as recompensas sociais são importantes nas organizações, isso não diminui a importância das recompensas materiais. Um levantamento, realizado pelo governo federal, em 514 fábricas que criaram planos de estímulo salarial, mostrou que, em média, a produção aumentou 38,99 por cento e os custos de trabalho decresceram de 11,58 por cento. Em outro caso, um salário diferencial, por hora, de cerca de 30 por cento, conduziu muitos metalúrgicos a trocar suas tarefas comparativamente não-repetidas, especializadas e autônomas por tarefas de linha de montagem, que não tinham essas qualidades, mas ofereciam melhor remuneração. 5. Fábricas, igrejas, prisões e escolas. Enquanto as Relações Humanas e a Administração Científica focalizaram quase exclusivamente algumas organizações - como fábricas, bancos e companhias de seguro - a abordagem estruturalista ampliou o campo da análise da organização, a fim de aí incluir uma grande variedade de organizações, desde o partido comunista até a igreja católica, desde a prisão de máxima segurança até um pequeno curso universitário com residência. As contribuições das duas escolas anteriores não só foram incorporadas na abordagem estruturalista, mas também são considerados outros fatores, não estudados anteriormente, e cobre-se todo ocampo das organizações. A grande síntese está longe de ser universal: existem ainda manuais de treinamento de Relações Humanas, cujos autores pouco aprenderam e pouco esqueceram desde os primeiros livros de Mayo; embora em número menor, existem ainda estudos "puros" de administração, no antigo sentido formal. Todavia, geralmente aqueles que ainda se identificam com uma ou outra dessas escolas anteriores conseguiram ampliar sua abordagem teórica e seguem a direção geral da síntese sugerida nas páginas anteriores. De modo geral, a análise da organização ampliou seus interesses, a fim de incluir: 1. Elementos formais e informais da organização, bem como sua articulação; 2. O campo dos grupos informais e as relações entre esses grupos, dentro e fora da organização; 3. Tanto as posições mais baixas quanto as mais altas; 4. As recompensas sociais e materiais e suas influências mútuas; 5. A interação entre a organização e seu ambiente 6. As organizações de trabalho e outros tipos de organização. Essa perspectiva mais extensa e equilibrada não só encoraja o desenvolvimento de um estudo não-valorativo - nem a favor da administração, nem a favor do operário - da análise da organização, mas também amplia seu campo, a fim de incluir todos os tipos de organizações e todos os elementos da organização, além de enriquecer o estudo de qualquer elemento isolado, fornecendo o contexto para colocá-lo e ponto de referência para julgar sua importância com relação à organização.
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