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8INTERAÇÃO ANTÍGENO E RESPOSTA ADAPTATIVA LOCAIS DA INTERAÇÃO ANTIGÊNICA Os antígenos do sistema digestivo, respiratório e genituriná- rio encontram os linfócitos nos tecidos associados às mucosas, como placas de Peyer do digestivo ou os linfócitos subepiteliais. Os antígenos dos diferentes tecidos dirigem-se aos linfonodos, onde são combatidos por linfócitos. Os antígenos da circulação e do peritônio dirigem-se ao baço, onde encontram linfócitos. O tipo de resposta celular ou humoral predominante depende da defesa necessária para combater o antígeno. O predomínio de T e B, e de suas subpopulações, é também determinado pelo hospedeiro, na dependência de seu perfil imunológico. Na resposta adaptativa humoral, o antígeno é reconheci- do por anticorpos sintetizados por plasmócitos (linfócitos B com extrema diferenciação), enquanto na adaptativa celular os linfócitos T são responsáveis por tal reconhecimento (Figura 8.1). As imunoglobulinas ou proteínas efetoras da resposta adap- tativa humoral, ao se ligarem aos antígenos, passam a ser de- nominadas de anticorpos. No fragmento de ligação ao antíge- no (Fab – fragment antigen binding), existe a região variável e, dentro desta, a hipervariável, a qual determina a especificidade do anticorpo ao antígeno. A região constante, formada pelas cadeias constantes, dá a atividade biológica da imunoglobulina, não se unindo diretamente ao antígeno. Na resposta adaptativa celular, mediada por linfócitos T, a união ao antígeno é mediada por receptor de célula T (TCR), sendo este TCR específico para o antígeno que determinou sua formação (Figura 8.2). Na resposta adaptativa humoral, o epítopo (parte da molé- cula do antígeno que promove a resposta imunológica) une-se ao anticorpo por meio de sua parte hipervariável, também de- nominada região determinante de complementaridade (CDR) do anticorpo. Essa união pode ocorrer diretamente, sem ne- cessidade de célula apresentadora (Figura 8.3). Figura 8.1. Interação entre epítopo antigênico e resposta adaptativa humoral (anti- corpos) e celular (linfócitos T). INTERAÇÃO ANTÍGENO E RESPOSTA ADAPTATIVA Antígeno é reconhecido por Linfócitos T Anticorpos Figura 8.2. Na imunoglobulina, a especificidade ao antígeno é dada pela região hi- pervariável, contida na variável, a qual, por sua vez, faz parte do Fab. O TCR situa-se na superfície de linfócitos T e é responsável pela especificidade do linfócito T. LINFÓCITOS T ESPECIFICIDADE NA RESPOSTA HUMORAL E CELULAR Região hipervariável Especi�cidade do anticorpo Fab Especi�cidade de T TCR 72 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO Na resposta celular, para que ocorra esse reconhecimento entre epítopo e TCR, é necessária a presença de célula apre- sentadora, a qual expressa antígenos leucocitários humanos (HLA). Epítopos, associados a HLA de célula apresentadora, podem ativar linfócitos T. Existem outras moléculas de adesão necessárias para tal ativação, que serão estudadas no capítulo 11 – Apresentação Antigênica (Figura 8.4). Atualmente, sabe-se que a interação entre o antígeno e a resposta adaptativa, tanto humoral como celular, depende do componente genético de cada indivíduo, uma vez que as espe- cificidades dos CDR de imunoglobulina e dos TCR de linfóci- tos T são geneticamente herdadas (Figura 8.5). VALÊNCIA DAS IMUNOGLOBULINAS A IgG, a maior parte da IgA sérica, a IgE e a IgD, assim como a IgM de superfície, são monômeros, sendo, portanto, bivalentes: apresentam dois locais de união ao antígeno, ou seja, duas regiões hipervariáveis ou determinantes de comple- mentaridade (CDR) (Figura 8.6). A IgA secretora é na quase totalidade um dímero e, por- tanto, tetravalente, podendo se unir a quatro antígenos (Figura 8.7). A IgM plasmática, por sua vez, sendo um pentâmero, teo- ricamente é decavalente, o que nem sempre ocorre: as regiões da dobradiça, ricas em hidroxiprolina, sendo próximas entre si, nem sempre podem passar da forma de um “Y” para a for- ma de um “T”, por questão espacial, como costuma acontecer com imunoglobulinas monoméricas e, dessa forma, nem sem- pre é possível a união a dez antígenos (Figura 8.8). Figura 8.3. A interação entre antígeno e resposta adaptativa humoral se dá pela união entre epítopo (parte do antígeno que promove a resposta imunológica) e CDR ou parte hipervariável do anticorpo (contida no Fab). INTERAÇÃO ENTRE ANTÍGENO E RESPOSTA HUMORAL Região hipervariável ou Determinante de complementaridade (CDR) A união ocorre entre o epítopo do antígeno e a região hipervariável ou determinante de complementaridade do anticorpo AG Epítopo AG Epítopo Figura 8.4. A interação entre antígeno e resposta adaptativa celular ocorre entre epítopo (parte do antígeno promotora da resposta imunológica) e TCR, necessitando da associação do epítopo ao antígeno leucocitário humano (HLA) de uma célula apre- sentadora. INTERAÇÃO ENTRE ANTÍGENO E RESPOSTA CELULAR HLA TCR Célula apresentadora Linfócitos TEpítopo INTERAÇÃO ENTRE ANTÍGENO E RESPOSTA ADAPTATIVA A interação entre epítopo e anticorpo ou epítopo e TCR depende do componente genético do indivíduo Um indivíduo tem a possibilidade de produzir determinados anticorpos e TCR mesmo antes do contato com o antígeno Figura 8.5. O componente genético do indivíduo predetermina o determinante de complementaridade do anticorpo a ser sintetizado e o TCR a ser expresso por linfócitos T. Figura 8.6. Os monômeros IgG, IgA sérica, IgE, IgD e IgM de superfície são anticorpos bivalentes. ANTICORPOS BIVALENTES Fab Fc • IgG • IgA sérica • IgE • IgD • IgM de superfície AG AG Figura 8.7. A maior parte da IgA secretora é um dímero tetravalente. ANTICORPOS TETRAVALENTES IgA secretora AG AG AGAG J Figura 8.8. A IgM sérica é um pentâmero e teoricamente decavalente. ANTICORPOS DECAVALENTES IgM sérica AG AG AG AG AG AG AG J AG AG AG 73capítulo 8 INTERAÇÃO ANTÍGENO E RESPOSTA ADAPTATIVA CARACTERÍSTICAS DA UNIÃO ANTÍGENO- -ANTICORPO Trata-se de uma união reversível, não covalente, sem ca- racterísticas chave-fechadura. Isso é decorrente do fato de que não há apenas um anticorpo para cada antígeno, inexistindo fusão entre ambos (Figura 8.9). As forças envolvidas por essa interação são sequenciais e diretamente proporcionais à distância entre o antígeno e o an- ticorpo. As principais forças de atração são, sequencialmente: forças hidrofóbicas, eletrostáticas, hidrogeniônicas e de Van der Walls (Figura 8.10). As forças hidrofóbicas são responsáveis por mais da meta- de da interação, com atuação importante, porque os antígenos e os anticorpos comportam-se como hidrofóbicos, afastando complexos hidrofílicos e atraindo-se entre si. Após essa inte- ração, estando antígenos e anticorpos mais próximos, podem ser acionadas as forças eletrostáticas, unindo grupos ioniza- dos com cargas eletricamente opostas. Havendo, ainda, maior proximidade entre antígeno e anticorpo, podem ter sequência as forças hidrogeniônicas, dadas por pontes de hidrogênio en- tre átomos de antígeno e de anticorpo. Essas são mais fracas, porém importantes pela grande quantidade com que surgem. Por último, sete vezes inversamente proporcionais a distância, aparecem forças de Van der Walls, decorrentes da união entre nuvens de elétrons com cargas elétricas opostas entre antígeno e anticorpo. AFINIDADE E AVIDEZ A afinidade é a força total resultante entre um epítopo e seu determinante de complementaridade, mensurável pelas mem- branas que separam antígeno e anticorpo. Uma união pode ter afinidade alta ou baixa, dependendo da dimensão das forças que sobre ela atuam. Para um mesmo epítopo, a imunidade humoral promove a formação de vários anticorpos, prove- nientes de diferentes plasmócitos, prevalecendo a formação do anticorpo que apresente maior afinidade. A avidez resulta da soma de todas as afinidades existentes entre antígeno e anticorpo, ou seja, é o resultado das forças de união entre todos os epítopos de um antígeno e seus determi-nantes de complementaridade. A avidez define melhor se uma interação é fraca ou forte, podendo também ser mensurada (Figura 8.11). Figura 8.9. As características da união antígeno-anticorpo são importantes, porque existem vários anticorpos para um mesmo antígeno, permitindo a união ao anticorpo que melhor defenda o organismo. CARACTERÍSTICAS DA UNIÃO ANTÍGENO-ANTICORPO • Não é chave-fechadura • Não há fusão AG-AC • É reação reversível Figura 8.10. Os quatro tipos de forças que unem antígeno e anticorpo: ocorrem se- quencialmente, à medida que antígeno e anticorpo se aproximam. FORÇAS ATRATIVAS DA UNIÃO ANTÍGENO-ANTICORPO 1) Forças hidrofóbicas Mais da metade da força total 2) Forças eletrostáticas União entre grupos ionizados com cargas elétricas opostas 3) Forças hidrogeniônicas Pontes de hidrogênio entre átomos 4) Forças de Van der Waals Interação entre nuvens de elétrons Figura 8.11. Conceitos de afinidade e de avidez. AFINIDADE E AVIDEZ DA UNIÃO ANTÍGENO-ANTICORPO AFINIDADE É a força resultante da união entre um epítopo e seu determinante de complementaridade AVIDEZ É a soma das diversas a�nidades (quando existem vários epítopos) PODER ANTIGÊNICO O poder antigênico é a capacidade que um antígeno tem de determinar maior ou menor intensidade da resposta imu- nológica, ou seja, capacidade de induzir o nível de resposta imunológica (Figura 8.12). Figura 8.12. Conceito de poder antigênico. PODER ANTIGÊNICO É a capacidade do antígeno em determinar a intensidade da resposta imunológica As características antigênicas fazem com que um antígeno apresente maior ou menor poder antigênico. Entre os antíge- nos com alta capacidade antigênica encontram-se os antíge- nos proteicos ou com estrutura complexa, os que apresentam maior avidez; antígenos com peso molecular acima de 100.000 daltons ou 100 kDa determinam elevada resposta imunológi- ca, enquanto os de peso molecular entre 5 e 50 kDa muitas vezes se comportam como alergênicos, por desencadear res- postas específicas exacerbadas. São ainda antígenos de alto poder antigênico os resistentes a mudanças de temperatura, 74 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO aos ácidos, às enzimas, à desnaturação, e os microrganismos vivos. Os antígenos lineares podem determinar intensa res- posta imunológica quando seus epítopos forem resistentes. Os antígenos tridimensionais têm alto poder antigênico quando apresentam vários determinantes antigênicos, podendo, entre- tanto, perder seus epítopos após mudanças de conformação. Um antígeno administrado por via intraperitoneal ou endove- nosa tem maior poder antigênico do que quando utilizado por via oral ou subcutânea em doses equivalentes (Figura 8.13). formação de TCR e de imunoglobulinas de superfície: tanto os linfócitos T como os B permanecem imaturos (Figura 8.14). A especificidade antigênica nos receptores de células T en- contra-se principalmente nas diferenças sequenciais de ami- noácidos da região variável das cadeias glicopolipeptídicas a e b ou γ e d. Figura 8.13. Características de antígenos com alto poder antigênico. DIVERSIDADE Diversidade é a capacidade de os linfócitos apresentarem grande número de diferentes receptores antigênicos. Burnet, em 1959, postulou que a diversidade de anticorpos ocorre durante a vida fetal, mediante processos aleatórios com mutações somá- ticas, culminando com a lise de plasmócitos produtores de an- ticorpos autorreativos e a existência de repertório de anticorpos desde o nascimento, ganhando posteriormente o prêmio Nobel. Repertório linfocitário refere-se ao número total de clones de linfócitos com diferentes especificidades antigênicas. Acre- dita-se que um adulto apresente cerca de 107 a 109 clones de linfócitos para epítopos diferentes. DIVERSIDADE DE TCR Na grande maioria, o TCR é formado por cadeia a (com segmentos VDJ) e cadeia b (segmento VJ). A síntese de tais cadeias é resultante de uma combinação aleatória de DNA de múltiplos segmentos de genes VDJ nos timócitos: há uma recombinação gênica ou diversidade combinatória. Os genes ativadores da recombinação (RAG-1 e RAG-2) codificam pro- teínas que permitem a recombinação V(D)J. O resultado fi- nal é uma grande diversidade de TCR em cada indivíduo. Na ausência de RAG-1 e RAG-2 (síndrome de Omenn), não há Figura 8.14. A diversidade de TCR é resultante da recombinação gênica individual que codifica as cadeias a e b formadoras do TCR. DIVERSIDADE DE TCR Formação de diferentes cadeias α e β do TCR É dada por recombinações gênicas no timo mediadas por proteínas codi�cadas pelos genes ativadores da recombinação (RAG-1 e RAG-2) Diversos TCR DIVERSIDADE DE ANTICORPOS Brunet propôs que um tipo de linfócito dá origem ao anti- corpo com a mesma especificidade do anticorpo que apresenta em sua superfície; o anticorpo da superfície celular reconhece o antígeno, resultando na proliferação de um único clone ce- lular desses linfócitos antigenicamente comprometidos. Ma- dawar confirmou a teoria da seleção clonal, ganhando, ambos, o prêmio Nobel. Tonegawa propôs que o genoma contém a informação para a síntese de grande diversidade de molécu- las de anticorpos, demonstrando a geração e a combinação de anticorpos, estudos que resultaram no prêmio Nobel de 1987. Durante o desenvolvimento de linfócitos B nos órgãos centrais, há grande variedade de rearranjos gênicos no DNA individual, resultando na codificação de cadeias leves (VJ) e pesadas (VDJ) da IgM de superfície. Tal recombinação gêni- ca é feita por enzimas recombinases, codificadas por RAG-1 e RAG-2. Enzimas recombinases reconhecem sequências de nucleotídeos, aproximando-as e clivando-as a partir de seu domínio endonuclease. Além da recombinação gênica, ocor- rem altas taxas de mutações no gene codificador da imunoglo- bulina nos órgãos linfoides centrais: é a hipermutação central. Existe, ainda, uma hipermutação somática periférica adi- cional, ou seja, ocorre um rearranjo gênico adicional após os linfócitos B encontrarem o antígeno nos órgãos linfoides peri- féricos. A hipermutação adicional ocorre quando um linfócito B reconhece o antígeno, por meio da parte hipervariável da IgM de superfície. Há uma tentativa de formação de B produtor de anticorpos com alta afinidade pelo processo de “maturação de afinidade”. Os mutantes com baixa afinidade são descartados e os de alta afinidade são importantes na defesa, além de per- manecerem como B de memória. Durante sucessivas respostas adaptativas prevalecem os B de memória, que, após estímulo antigênico, são produtores de anticorpos com maior afinidade. ANTÍGENOS COM ALTO PODER ANTIGÊNICO • Proteicos ou com estrutura complexa • Alta avidez • Com peso molecular entre 5 e 70 kDa - podem ser alergênicos (resposta imunológica exacerbada) • Termoestáveis • Resistentes aos ácidos, às enzimas, à desnaturação • Antígenos lineares com epítopos resistentes • Antígenos tridimensionais com vários epítopos • Administrados por via intraperitoneal ou endovenosa 75capítulo 8 INTERAÇÃO ANTÍGENO E RESPOSTA ADAPTATIVA Assim, um antígeno promove a formação de anticorpos, iniciando-se sempre por IgM, a qual, como resposta imunoló- gica adaptativa, leva a tentativas em gerar IgM de maior afini- dade, resultando na formação de mais do que uma IgM para o mesmo epítopo. O resultado é a síntese de imunoglobulina de alta afinidade, a qual permanece unida por maior tempo ao antígeno. Os próximos encontros com o mesmo antígeno induzem linfócitos B a serem produtores de imunoglobulina cada vez com maior afinidade. A resultante desses rearranjos e hipermutações é uma série de especificidades para os diferentes antígenos, denominada repertório de anticorpos ou de imunoglobulinas. Os rearranjos são mantidos para as imunoglobulinas sintetizadas por plasmó- citos, isto é, a parte hipervariável da IgM de membrana é manti- da por todas as imunoglobulinas sintetizadas por determinado plasmócito, mesmo após mudança de classe da imunoglobulina.Trata-se da adaptação do sistema imunológico em pro- duzir a imunoglobulina mais eficiente contra determinado antígeno. Esse mecanismo é, então, resultante da diversidade central, da hipermutação central e periférica para a imunoglo- bulina (Figura 8.15). Os novos anticorpos são resultantes das variações da sequência de aminoácidos que compõem a região hipervariável do pri- meiro anticorpo. Forma-se uma rede denominada idiotípica anti-idiotípica ou rede imunológica. A rede finaliza quando se esgotam as recombinações: o último anticorpo formado tem a mesma sequência polipeptídica do primeiro, situação que exi- ge a formação de, no mínimo, três novos anticorpos. Assim, tanto o primeiro como o último anticorpo formado combate- rão diretamente o antígeno, o qual será eliminado, finalizando a resposta humoral (Figura 8.17). O fenômeno é conhecido como teoria de Niels Jerne e é comprovado laboratorialmente. Alterações na rede idiotípica anti-idiotípica podem per- petuar a resposta imunológica humoral, contribuindo com o aparecimento de doenças autoimunes e de hipersensibilidades humorais (Figura 8.18). Figura 8.15. A diversidade de anticorpos é resultante da recombinação gênica indi- vidual que codifica a imunoglobulina de superfície e das elevadas taxas de mutações (hipermutações) que ocorrem tanto em órgãos linfoides centrais como em periféricos, e nos últimos as hipermutações ocorrem após o encontro com o antígeno, aumentando a afinidade do anticorpo. DIVERSIDADE DE ANTICORPOS Nos órgãos linfoides periféricos: Hipermutação periférica Nos órgãos linfoides centrais: Recombinações gênicas (RAG-1 e RAG-2) + Hipermutação central + Formação de diferentes imunoglobulinas Diversidade de anticorpos REDE IDIOTÍPICA ANTI-IDIOTÍPICA OU REDE IMUNOLÓGICA Quando um anticorpo é formado, na verdade trata-se de uma molécula desconhecida até então pelo organismo, e a re- gião hipervariável atuará como novo epítopo. O conjunto de epítopos apresentados pelo anticorpo é denominado idiotipo (Figura 8.16). O idiotipo ativa linfócitos B para produzirem um segun- do anticorpo, dirigido contra o primeiro (antianti-idiotipo). Figura 8.16. Idiotipo é o conjunto de regiões determinantes de complementaridade, que atuam como epítopos, entre um conjunto de anticorpos formados. Figura 8.17. Rede idiotípica anti-idiotípica imunológica: um primeiro anticorpo leva à formação de um segundo, e assim sucessivamente. O último anticorpo formado tem a mesma estrutura do primeiro, e ambos combaterão o antígeno, eliminando-o e ces- sando a resposta humoral. REDE IDIOTÍPICA ANTI-IDIOTÍPICA Anti-idiotipo Antianti-idiotipo Epítopo do AC formado ou idiotipo AG AG Figura 8.18. Consequências de alterações na rede idiotípica anti-idiotípica. ALTERAÇÕES DA REDE IDIOTÍPICA • Reações de hipersensibilidade (alergias) • Doenças autoimunes IDIOTIPO A região hipervariável do anticorpo formado é uma substância nova ao organismo: apresentará novos epítopos Epítopo do AG Epítopo do AG Idiotipo é o conjunto dos epítopos do anticorpo recém-formado EXEMPLOS CLÍNICOS Caso 1. Paciente de 22 anos, do gênero feminino, apresentava vômitos e diarreia com estrias de sangue há dois dias, sem aparecimento de febre. Ao exame, encontrava-se em bom estado geral, sem alterações aparentes. Evolução: Colhida coprocultura e administrado medicamento antiemético, com observação domiciliar e retorno em dois dias. O exame de fezes revelou Salmonella typhi. No retorno, apresentava-se bem, tendo cessado a diarreia. Discussão: A paciente parece ter apresentado boa defesa imunológica, acreditando-se que os mecanismos imunológicos desenvolvidos tenham sido eficazes, tornando o processo autolimitado. Assim, inicialmente deve ter ocorrido uma resposta inata, que pode ter sido insuficiente, pois a Salmonella typhi necessita de defesa adaptativa humoral para combater as toxinas produzidas. Provavelmente, houve formação de anticorpos de alta avidez, quer fossem predominantemente IgA ou IgM ou IgG, uma vez que todas essas classes têm capacidade antitoxigênica. Houve reconhecimento antigênico por IgM de superfície de linfócitos B. Essa IgM apresenta especificidade antigênica própria em sua região hipervariável, dada pela diversidade combinatória e juncional predeterminada em órgãos linfoides centrais. Após o contato inicial, houve uma tentativa de produção de anticorpos com afinidade maior, para melhor combater o antígeno. Cada anticorpo foi específico para cada epítopo, prevalecendo a união de maior afinidade, ou seja, predomínio de determinado anticorpo entre os diversos produzidos para aquele epítopo (maturação da afinidade). Caso 2. Paciente com 23 anos, do gênero masculino, apresentava há quatro meses história de tosse produtiva, febre baixa esporádica no final da tarde e discreto emagrecimento. O questionamento sobre epidemiologia para tuberculose revelou que havia um morador da mesma casa em tratamento para tuberculose, há seis meses. Foram solicitados exames que mostraram a presença de bacilo de Koch (BK) no escarro. Evolução: Iniciado esquema tríplice, com rápida melhora do quadro. Discussão: A rápida melhora sugere defesa imunológica adequada. Microrganismos intracelulares necessitam de resposta imunológica inata inicial por monócitos/macrófagos e, no caso de Mycobacterium tuberculosis, resposta adaptativa celular. O paciente em questão deve ter linfócitos T com TCR de alta especificidade aos epítopos de Mycobacterium tuberculosis, especificidade essa dada principalmente pela diversidade combinatória e juncional no órgão linfoide central. As demais moléculas de adesão e as citocinas necessárias para ativação de linfócitos T citotóxicos e T auxiliares tipo 1 também devem estar perfeitamente funcionantes para maior ativação de linfócitos T e de monócitos/macrófagos. QUESTÕES 1a – Quais os locais de união entre antígenos e anticorpos? 2a – Por que, na maioria das vezes, um antígeno tridimensional apresenta maior poder antigênico? 3a – Qual a valência de união das classes IgG, IgA secretora e IgM? 4a – Existe apenas um anticorpo para um epítopo? 5a – Como é dada a diversidade de anticorpos? 9MOLÉCULAS DE ADESÃO CONCEITO Moléculas de adesão do sistema imunológico são molé- culas expressas na superfície de células imunológicas e em células de outros sistemas, que permitem a interação entre as diferentes células. A união entre as células por meio das moléculas de adesão possibilita a resposta imunológica, ati- vando ou inibindo tal resposta. Assim, as moléculas de ade- são são essenciais para a atuação do sistema imunológico (Figura 9.1). gantes, ora são receptores ou correceptores. Há tendência a se utilizar só o termo “ligante”, mas isso ainda não ocorre. Os ligantes unem-se sempre aos mesmos receptores, ou seja, dois ligantes unem-se sempre entre si (Figura 9.2). Figura 9.1. As moléculas de adesão do sistema imunológico são expressas na su- perfície de células do sistema imunológico e de outros sistemas, unindo-se entre si e ativando ou inibindo a resposta imunológica. CONCEITO DE MOLÉCULAS DE ADESÃO Moléculas de adesão do sistema imunológico são moléculas da superfície celular que permitem a interação entre as células Resultado: Ativação ou inibição da resposta imunológica Figura 9.2. As moléculas de adesão podem atuar como ligantes ou como receptores. Os ligantes unem-se sempre aos mesmos receptores. APARECIMENTO DAS MOLÉCULAS DE ADESÃO Em condições habituais, as células imunológicas estão afastadas, situação referida como células em repouso. As cé- lulas em repouso circulam pelo sangue e linfa ou localizam-se nos órgãos e tecidos. Em tais condições, baixas expressões das moléculas de adesão e cargas negativas existentes nas mem- branas celulares diminuem a aproximação entre essas células (Figura 9.3). LIGANTES E RECEPTORES As moléculas de adesão unem-se entre si, podendo atuar como ligantes ou receptores Moléculas de adesão Os ligantes unem-se sempre aosmesmos receptores Ligante Receptor + LIGANTES E RECEPTORES DE MOLÉCULAS DE ADESÃO As moléculas de adesão são consideradas ligantes que se unem a receptores, também denominados correceptores. Como as moléculas de adesão unem-se entre si, ora são li- 09 MOLÉCULAS DE ADESÃO
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