Buscar

leitura micro e macro-42

Prévia do material em texto

4 0 2 Economia M icro e Macro • Vasconcellos BtlEK
3. Nas discussões sobre tributos, faz-se distinção entre impostos progressivos,
regressivos e proporcionais. Define-se que um imposto é:
a) Progressivo, quando se retira uma proporção decrescente da renda do 
contribuinte à medida que a renda deste aumenta.
b) Proporcional, quando se retira uma proporção constante da renda do 
contribuinte, independentemente da renda que este aufere.
c) Regressivo, quando se retira uma porção crescente da renda do contri­
buinte à medida que sua renda aumenta.
d) Regressivo, quando se retira uma porção decrescente da renda do con­
tribuinte à medida que sua renda decresce.
e) Proporcional, quando a alíquota cresce proporcionalmente com o ní­
vel de renda do contribuinte.
4. O Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é:
a) Um imposto progressivo, porque se aplica tanto sobre artigos de luxo 
como sobre gêneros de primeira necessidade.
b) Um imposto regressivo, porque os ricos gastam menor porcentagem de 
sua renda total em mercadorias tributadas e, daí, a proporção dos pa­
gamentos de impostos em relação à renda é maior para as pessoas 
pobres.
c) Um imposto progressivo, porque os ricos gastam mais do que os po­
bres.
d) Um imposto regressivo, porque há mais dinheiro arrecadado de um 
homem pobre do que de um rico.
5. Em relação às finanças públicas, uma das afirmativas a seguir é falsa. Iden­
tifique-a:
a) O conceito de déficit primário inclui os juros reais da dívida passada.
b) O imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) pode ser caracterizado 
como imposto indireto.
c) Em períodos de inflação, um imposto progressivo sobre a renda contri­
buiria para frear a expansão da renda disponível e, em conseqüência, 
do consumo do setor privado.
d) Se a alíquota de um imposto sobre vendas não variar segundo o produ­
to vendido, esse imposto será regressivo, do ponto de vista da renda do 
consumidor.
e) No cálculo do déficit público, segundo o conceito operacional, exclu­
em-se as despesas com correção monetária.
N oções de C rescim ento e 
D esenvolvim ento E conômico
1 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
Na quase totalidade dos livros introdutórios de Economia, o estudo da 
Macroeconomia dá ênfase a questões de curto prazo ou conjunturais, relacio­
nadas com o nível de atividade, o emprego e preços (as chamadas políticas de 
estabilização).
A Teoria do Crescimento e do Desenvolvimento Econômico, entretanto, 
concentra-se na discussão de estratégias de longo prazo, isto é, quais as medi­
das que devem ser adotadas, para um crescimento econômico equilibrado e 
auto-sustentado. Nessa teoria, a oferta ou produção agregada joga um papel 
importante na trajetória de crescimento de longo prazo, ao contrário da análise 
de curto prazo, que se concentra mais no curto prazo.
Geralmente, supõe-se na teoria do crescimento que os recursos estejam 
plenamente empregados. Assim, concentra-se em analisar o comportamento 
do produto potencial, ou de pleno emprego, da economia.
Crescimento e desenvolvimento econômico são dois conceitos diferentes. 
Crescimento econômico é o crescimento contínuo da renda per capita ao lon­
go do tempo. O desenvolvimento econômico é um conceito mais qualitativo, 
incluindo as alterações da composição do produto e a alocação dos recursos 
pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de 
bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições 
de saúde, nutrição, educação e moradia).
Os dados internacionais indicam as amplas diferenças de renda entre os 
países em desenvolvimento. Os níveis de renda médios em muitos desses países, 
especificamente na América Latina, são semelhantes aos níveis de renda ameri­
canos do século passado. No entanto, em outros países em desenvolvimento, na 
Ásia e na África, as rendas per capita são ainda menores. Além disso, existem 
grandes disparidades na distribuição de renda de cada país, com uma pequena
parcela da população vivendo realmente muito bem, e a maioria com rendas 
bem abaixo do nível de renda médio.
Que respostas seriam dadas para essas diferenças de desempenho eco­
nômico? Quais são as fontes de crescimento econômico? É o que discutiremos a 
seguir.
4 0 4 Economia M icro c Macro • V a s c o n c e IIo s _______________________________________________________________________________________________________________________ HtlfR
2 FONTES DE CRESCIMENTO
Um caminho para analisar as diferenças de desenvolvimento é partir dos 
elementos que constituem a função de produção agregada do país. O cresci­
mento da produção e da renda decorre de variações na quantidade e na quali­
dade de dois insumos básicos: capital e mão-de-obra. Nesse sentido, as fontes de 
crescimento são as seguintes:
a) aumento na força de trabalho (quantidade de mão-de-obra), deri­
vado do crescimento demográfico e da imigração;
b) aumento do estoque de capital, ou da capacidade produtiva;
c) melhoria na qualidade da mão-de-obra, por meio de programas de 
educação, treinamento e especialização;
d) melhoria tecnológica, que aumenta a eficiência na utilização do 
estoque de capital;
e) eficiência organizacional, ou seja, eficiência na forma como os 
insumos interagem.
Evidentemente, o desenvolvimento é um fenômeno global da sociedade, 
que atinge toda a estrutura social, política e econômica. Para efeito de análise, 
estamos enfatizando aqui apenas os fatores econômicos estratégicos para o cres­
cimento.
Capital Humano
No estudo das fontes do crescimento, muita ênfase é dada ao capital físico. 
Todavia, o capital humano é muito importante. O capital humano é o valor do 
ganho de renda potencial incorporado nos indivíduos. O capital humano inclui 
a habilidade inerente à pessoa e o talento, assim como a educação e as habilida­
des adquiridas.
O trabalhador médio em países industrializados é muito mais produtivo do 
que o trabalhador médio em países em desenvolvimento. Em parte, isso se expli­
ca porque ele trabalha com mais capital físico. No entanto, também se explica 
pelo fato de ele ser mais qualificado.
O capital humano é adquirido por meio da educação formal e do treina­
mento informal e pela experiência. O problema para os países em desenvolvi­
mento é que é extremamente difícil acumular fatores de produção, capital hu-
Noções de Crescim ento e Desenvolvim ento Econôm ico 4 0 5
mano ou físico, com baixos níveis de renda. O mínimo que sobra, após a provi­
são da subsistência, não permite investir muito em educação ou em capital físi­
co. Decidir se a criança deve começar a trabalhar ou ir para a escola é crítico 
para as famílias com níveis de renda muito baixos. Da mesma forma, é difícil 
para o governo decidir como usar os recursos muito limitados que ele tem sob 
seu comando. E mesmo que os recursos financeiros estejam disponíveis, ainda 
leva anos para que se eleve o nível de educação e de treinamento.
Portanto, os países não podem saltar de um nível de renda para outro mui­
to mais alto. Assim, alguns economistas, inclusive, utilizam para descrever esse 
caso a expressão círculo vicioso da pobreza. O crescimento está limitado ao 
tempo que os fatores de produção levam para se acumularem; a educação é 
fator de crescimento mais lento, mas também é um dos mais poderosos, além de 
contribuir para a redução das desigualdades.
Capital Físico
O capital físico tem sido sempre o centro das explicações para o progresso 
econômico, simplesmente por causa da presença notável de maquinário e de 
equipamentos sofisticados e abundantes em países ricos e de sua escassez e 
ausência em países pobres.
Um conceito muito utilizado, para realçar o papel do capital físico no pro­
cesso de desenvolvimento econômico, é o da relação produto-capital, que é a 
razão entre a variação do produto nacional (Ay) e a variação da capacidade 
produtiva (ou estoque de capital) AK, assim:
Ay
v = -------
A K
sendo v a relação produto-capital (ou relação marginal ou incrementai pro­
duto-capital, porque se refereàs variações ou acréscimos). Ou seja, é a produti­
vidade do capital físico (quanto ele aumenta o produto).
Por exemplo, uma relação produto-capital igual a 0,33 (aproximadamen­
te à brasileira) indica que, para aumentar o produto em 33 bilhões de reais, 
precisamos aumentar os investimentos em 100 bilhões de reais.
Portanto, esse conceito revela que é possível aumentar a taxa de cresci­
mento econômico quando ocorrer um aumento da taxa de investimento e/ou 
deslocamento dos investimentos para os setores em que a relação produto-capi­
tal seja mais elevada.
Deve ser observado que a relação produto-capital refere-se ao impacto do 
aumento do estoque de capital sobre a produção agregada de pleno emprego. 
Por essa razão, a produção varia menos que proporcionalmente ao aumento do 
capital físico. É bastante diferente do efeito do multiplicador keynesiano, visto 
anteriormente. O multiplicador keynesiano de gastos considera as despesas em 
investimento, em uma economia com capacidade ociosa e desemprego, quando 
então é possível que a produção aumente mais que proporcionalmente aos gas­
tos em investimentos. O conceito de relação produto-capital, na teoria do de­
senvolvimento, supõe pleno emprego, e preocupa-se com o efeito dos investi­
mentos, após sua maturação, sobre a oferta agregada.
4 0 6 Economia M icro e Macro • Vasconcellos e tk ft
A relação produto-capital também é chamada produtividade marginal 
do capital. Algumas vezes, essa relação aparece como capital-produto, e não 
produto-capital. Uma relação produto-capital de 0,33 corresponde a uma rela­
ção capital-produto de 3: três unidades de capital produzem uma unidade do 
produto.
3 FINANCIAMENTO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Para investir, um país pode tanto utilizar sua poupança interna como ain­
da ter acesso à poupança estrangeira por meio de empréstimos ou ajuda finan­
ceira. Se a poupança doméstica é o pré-requisito para a acumulação de capital, 
então, a atenção deve ficar voltada para as políticas que incentivem as pessoas 
a se absterem de parte do consumo presente. Um mercado financeiro e de capi­
tais razoavelmente desenvolvido é um fator importante na mobilização de re­
cursos para a formação de capital e na canalização destes recursos das famílias, 
via intermediários financeiros, para o investimento das empresas.
Em economias socialistas, a poupança obrigatória tem sido uma maneira 
poderosa de limitar o consumo e aumentar o nível da poupança. Uma taxa de 
poupança extremamente alta é uma demonstração desse processo e está na 
base do crescimento bem-sucedido dos últimos 20 anos na China.
Em economias de mercado ou economias capitalistas, uma política equi­
valente pode ser alcançada via orçamento: se o governo coletar mais em im­
postos do que ele gasta em bens correntes e serviços, os recursos deixados 
podem ser investidos pelo governo na infra-estrutura e podem ser canalizados 
para empresas, via bancos de desenvolvimento ou de fomento. Contudo, nem 
sempre a alocação de recursos públicos é realizada de acordo com critérios de 
eficiência, e, além disso, o aumento da carga tributária pode reduzir os inves­
timentos privados, podendo então constituir-se em fator inibidor do cresci­
mento econômico.
Um país em desenvolvimento pode atrair poupança estrangeira de três 
maneiras. Uma possibilidade é a de que empresas estrangeiras invistam dire­
tamente no país. Por exemplo, no século XIX, companhias européias construí­
ram estradas de ferro na América Latina; hoje, empresas japonesas constro- 
em fábricas na Indonésia. A segunda maneira de um país atrair recursos es­
trangeiros é tomar emprestado nos mercados mundiais de capitais ou de ins­
tituições como o Bird - Banco Mundial. A terceira forma é através da ajuda 
externa.
A importância dessas três fontes de poupança externa tem variado ao lon­
go do tempo e entre os países. Há, porém, pouca dúvida quanto ao fato de a 
poupança externa sempre ter sido importante na suplementação da poupança 
doméstica. É claro, contudo, que a poupança estrangeira é mais importante 
quanto menor for a renda per capita, pois suprir internamente as necessidades 
mais básicas absorve quase totalmente a renda doméstica.
Noções de Crescim ento e Desenvolvim ento Econôm ico 4 0 7
4 ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO
Vários economistas desenvolveram teorias que mostram que a economia 
de qualquer sociedade deve necessariamente passar por estágios sucessivos. Por 
exemplo, para CLARK, o primeiro estágio é dominado pelo setor de produção 
primário (agropecuária); a seguir, predominaria o setor secundário (manufa­
turados); e, finalmente, o setor terciário (comércio e serviços). O crescimento 
econômico iniciar-se-ia na passagem do período de predominância do setor pri­
mário para o secundário.
Por sua vez, para outro importante economista, Simon Kuznets, no come­
ço do processo de crescimento de uma economia aumenta a desigualdade entre 
as classes de renda. Essa redução ocorreria, posto que, nas etapas iniciais de 
crescimento, uma importante percentagem da força de trabalho não está capaci­
tada para ingressar nos setores mais dinâmicos da economia, situação que pode 
ser posteriormente revertida com melhoria na qualificação da mão-de-obra.
Uma das primeiras formulações nessa área é a chamada Teoria de Etapas 
de Rostow, que, analisando a evolução histórica dos países desenvolvidos, de­
tectou cinco estágios de desenvolvimento:
a) sociedade tradicional;
b) pré-requisitos para o arranco;
c) arranco ou decolagem ( take off);
d) crescimento auto-sustentável (marcha para o amadurecimento); e
e) idade do consumo de massa.
A sociedade tradicional, normalmente, é predominantemente agrária, 
com pouca tecnologia e baixa renda per capita.
Na segunda etapa, são criadas as condições prévias para o arranco, a 
partir de importantes mudanças econômicas e não econômicas. Há um aumen­
to da taxa de acumulação de capital, em relação à taxa de crescimento 
demográfico, e uma melhoria no grau de qualificação da mão-de-obra, habilita­
da para a produção especializada em grande escala. Ocorre um aumento da 
produtividade agrícola, o que permite criar um excedente de recursos que vai 
financiar a expansão industrial (começando com a produção de bens de consu­
mo básicos, como alimentos, vestuário, calçados etc...). Paralelamente, durante 
esse período, se empreendem grandes investimentos em infra-estrutura básica 
(transportes, comunicações, energia, saneamento).
O período crucial é o arranco ou decolagem (take off) (terceira etapa do 
processo). Nessa etapa, o processo de crescimento contínuo institucionaliza-se na 
sociedade. Isso porque, na segunda etapa, ainda há certa resistência, porque a soci­
edade se caracteriza ainda por atitudes e técnicas produtivas tradicionais. Mais pre­
cisamente, Rostow define a etapa do arranco com base nas seguintes mudanças:
a) a taxa de investimento líquida eleva-se de 5% para mais de 10% da 
renda nacional;
408 Economia M icro e Macro • V a s c o n c e llo s ______________________________________________________________________________________________________________________ ntferc
b) surgem novos segmentos industriais, de rápido crescimento, asso­
ciados, principalmente, a bens de consumo duráveis (TV geladeira 
etc.);
c) emerge uma estrutura política social e institucional, que é bastan­
te favorável ao crescimento sustentado.
Com base na experiência histórica da Grã-Bretanha, Japão, Estados Uni­
dos e Rússia, Rostow conclui que só esse período dura cerca de 20 anos.
A quarta etapa, a da “marcha para o amadurecimento”, leva cerca de 40 
anos. Em seu transcurso, a moderna tecnologia estende-se dos setores líderes, que 
impulsionaram o arranco, para outros setores. A economia demonstra que tem a 
habilidade tecnológica e empresarial para produzir qualquer coisa que decida.
Finalmente, a economia atinge a quinta etapa, a “era do alto consumo de 
massa”, quando os setores líderes se voltam para a produção de bens de consu­
mo duráveis de alta tecnologiae serviços. Nessa fase, a renda ascendeu a níveis 
onde os principais objetivos de consumo dos trabalhadores não são mais a ali­
mentação básica e a moradia, mas, automóveis, microcomputadores etc. Além 
disso, a economia, por meio de seu processo político, expressa um desejo de 
destinar recursos ao bem-estar e à seguridade social.
Segundo Rostow, os Estados Unidos, o Japão e a maior parte das nações da 
Europa Ocidental já alcançaram a última etapa.
Existem algumas críticas à teoria formulada por Rostow. Tratar-se-ia mais de 
uma análise empírica, ad hoc, pela observação do que ocorreu historicamente com 
os países desenvolvidos, do que uma análise científica. Não existiria uma clara dis­
tinção entre a segunda e a terceira etapas (período de condições prévias e o take 
ojf). Ainda, Rostow parece dar a entender que a evolução industrial só pode dar-se 
após a melhoria da produtividade agrícola, e não ocorrerem simultaneamente. Fi­
nalmente, não enfatiza o papel representado pelo comércio internacional.
De qualquer modo, a essência da chamada Teoria de Etapas, de Rostow, 
ilustra o fato de que o desenvolvimento econômico é um processo que deve 
avançar em determinada seqüência de passos claramente definidos.
5 MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO
Existem vários modelos de crescimento econômico, enfatizando o papel da 
poupança no financiamento do investimento e, conseqüentemente, do cresci­
mento e desenvolvimento econômico. Vamos detalhar nesta parte um pouco 
mais o modelo mais tradicional de Harrod-Domar, e apresentaremos no Apêndi­
ce o modelo Solow, também bastante difundido na literatura econômica.
O modelo de crescimento de Harrod-Domar considera que o desenvolvi­
mento econômico é um processo gradual, contínuo e equilibrado. Embora sua 
aplicação à realidade dos países subdesenvolvidos seja muito questionada e apre­
sente uma visão excessivamente mecânica, ele destaca a importância de três
Noções de Crescim ento e Desenvolvim ento Econôm ico 4 0 9
variáveis básicas para o crescimento: a taxa de investimento, a taxa de poupan­
ça e a relação produto-capital.
Em síntese, no modelo de Harrod-Domar, a taxa de crescimento do produ­
to y, conforme demonstrado no Apêndice Matemático, é determinada por:
y = s • v
5
sendo: s = taxa de poupança = — = (propensão a poupar)
Ay Ay
v = relação marginal produto-capital = ^ ---- y
S é a poupança agregada, y a renda nacional, AK o aumento do estoque de 
capital e l a taxa de investimento agregado, todas as variáveis definidas em 
dado período de tempo.
A taxa de poupança S é a parcela da renda nacional y não consumida (tam­
bém chamada propensão média a poupar). No modelo, representa a fonte de finan­
ciamento do investimento. É composto da poupança interna e poupança externa.
A relação produto-capital, como definimos anteriormente, representa 
quantas unidades do produto podem ser produzidas por unidade de capital. E a 
produtividade do capital, que depende do nível de tecnologia e de qualificação 
da mão-de-obra. Uma hipótese do modelo Harrod-Domar é que a relação produ- 
to-capital é constante ou invariável.
Assim, se tivermos, por exemplo, uma taxa de poupança de 20% e relação 
produto-capital de 0,3, a taxa de crescimento será
y = 0,20 • 0,3 = 0,06 = 6%
significando que um crescimento potencial de 6,0% é possível, a partir de uma 
taxa de poupança de 20% da renda e de uma relação produto-capital de 0,3 (ou 
inversamente de uma relação capital-produto de 3,3).
Se considerarmos a taxa de crescimento da renda em termos per capita, 
devemos descontar a taxa de crescimento da população. Por exemplo, se essa 
taxa for de 1,5% ao ano, utilizando os dados apresentados, o crescimento da 
renda real per capita pode atingir 4,5% ao ano.
Esse modelo, muito utilizado em planejamento econômico, apresenta duas 
dificuldades. Primeiramente, é muito agregado, não permitindo estudar ques­
tões estruturais e regionais de cada país. Em segundo lugar, apresenta uma 
contradição básica, conhecida como “ equilíbrio em fio de navalha” : se um 
país sair da trajetória de equilíbrio de longo prazo, ele não consegue voltar mais 
para a trajetória do crescimento equilibrado.1
1 Isso se deve justamente à hipótese da relação produto-capital constante (ou coeficientes fixos de produção). De acordo 
com esse modelo, se o país tiver excesso de capital, ele precisa investir mais ainda: se tiver escassez de capital, ele precisa 
diminuir a taxa de investimento. Essa contradição explica por que, uma vez saindo da trajetória de equilíbrio, nunca se 
retornaria ao crescimento equilibrado. O modelo de Solow, no tópico seguinte, corrige essa contradição, ao supor coeficientes 
variáveis (ou seja, relação produto-capital e capital-mão-de-obra variáveis). Para maiores detalhes, ver LOPES e VASCONCELLOS. 
Manual de macroeconomia: básico e intermediário. 2. ed. São Paulo : Atlas, 1999.
4 1 0 Economia M icro e Macro • Vasconccllos a t fe n
5.1 MODELO DE SOLOW
Um modelo mais geral para explicar o crescimento econômico é o desen­
volvido pelo economista Robert Solow (Prêmio Nobel 1987).
O modelo parte das mesmas idéias de Harrod e Domar, ou seja, a poupança 
financia o investimento, e o crescimento depende do investimento, mas avança ao 
permitir a substituição de fatores, ao contrário da hipótese de coeficientes fixos, e 
evitando cair em resultados extremos como o “equilíbrio em fio da navalha”.
Assim, Solow propõe que o crescimento econômico pode ser explicado por 
uma função de produção agregada similar à que foi vista no Capítulo 5; do 
conhecido como “neo-clássico” :
Y = f (K ,N ),
onde Y é a produção agregada, K é o estoque agregado de capital físico e N é a 
mão-de-obra agregada.
Supondo que o crescimento da força de trabalho coincide com o cresci­
mento da população, podemos expressar a função anterior em termos per capita:
Y/N = y = f(K/N = k; N/N = 1) = /(fc), ou,
y=m
Em outras palavras, a produção per capita é função direta do capital per 
capita, como mostra a Figura 16.1
Figura 16.1 Função de produção per capita agregada.
Adicionalmente, supomos que o investimento agregado é completamente 
financiado pela poupança agregada, e que esta é uma fração s da renda (como 
em Harrod-Domar):
I = S = sY
Por outro lado, assumimos que a taxa de depreciação física do capital (d) e 
a taxa de crescimento da população (n) são constantes. Assim, a partir de algu­
N oções de Crescim ento e Desenvolvim ento Econôm ico 4 1 1
ma manipulação algébrica (ver Apêndice), chegamos à equação de equilíbrio 
de estado estacionário ou steady State (longo prazo) do modelo de Solow:
sy = (n + d)k
O sentido da expressão anterior é bastante intuitivo: no longo prazo ou 
estado estacionário (ponto A), a poupança per capita (sy) é apenas suficiente 
para fazer frente tanto à depreciação física (d) quanto ao aumento da força de 
trabalho (n). Assim, esse é o nível de poupança que permite uma quantidade de 
investimento mínima para manter o nível de capital per capita constante (esta­
do estacionário), como mostra a Figura 16.2.
y (n + d)k
^ ^ r s y
y*
/ X
■ ' *: 
•
|
|
j
V1 k* k2
Figura 16.2 Equilíbrio de estado estacionário.
A diferença entre y e sy é a parcela do consumo agregado.
Como o capital per capita mantém-se constante no longo prazo (k*), e a 
renda per capita depende exclusivamente dele, a renda per capita será constante 
no longo prazo, no nível y*. Isso, evidentemente, não quer dizer que o PIB real 
total dessa economia não esteja crescendo, apenas que sua expansão é exata­
mente igual à taxa de crescimento da força de trabalho n.
Outro ponto importante é que esse equilíbrio de estado estacionário é 
estável. Por exemplo, partimos de kí (Figura 16.2), como a poupança per capita 
supera as necessidades de investimento capazes de manter o capital per capita 
constante, ou seja, sy > (n + d)k teremos uma aumento dessa variável e, por­
tanto, da renda per capita, pois durante a transição a renda total é capaz de 
crescer mais doque a população. Contudo, como o requerimento mínimo de 
capital é crescente em relação ao estoque de capital (mais capital gera mais 
depreciação econômica e aumenta a quantidade de “máquinas” que requerem 
os novos habitantes para ser tão produtivos como os anteriores) e existem 
rendimentos decrescentes do capital, os aumentos de renda e, portanto, de 
poupança serão cada vez menores, levando a economia novamente ao nível de 
capital e renda (consumo) per capita de estado estacionário (k*, y * ). Nesse 
ponto, a renda total voltará a crescer tanto quanto a população. O mesmo 
ocorreria, porém, em sentido inverso, para um nível inicial de capital per capita 
k2, como também vemos na Figura 16.2.

Continue navegando