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274 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO de e funcionalidade, elimina o agente agressor, não permitin- do que atinja os pulmões ou os seios da face. As secreções das mucosas, ricas em substâncias microbicidas, como lisozima e lactoferrina, completam a defesa. A descamação natural da pele e das mucosas age na eliminação de patógenos, levando junto microrganismos patogênicos eventualmente presentes. permeabilidade capilar, retração de células endoteliais e ex- pressão de moléculas de adesão em células endoteliais e leu- cócitos, com consequente passagem de mediadores solúveis e migração transendotelial: saída de leucócitos da circulação para defesa do tecido agredido. Entre os mediadores solúveis, encontram-se as proteínas da fase aguda da inflamação, os leucotrienos, o fator ativador de plaquetas, a bradicinina, os componentes do complemento e as citocinas, incluindo as quimiotáticas, que atraem as dife- rentes células do processo inflamatório. Os neutrófilos são as primeiras células atraídas. Segue-se o afluxo de fagócitos mononucleares e de eosinófilos. Após o afluxo de fagócitos é que são acionados os linfócitos, respon- sáveis pela resposta imunológica adaptativa e principais célu- las da infecção crônica. A ativação de linfócitos leva cerca de três a cinco dias após o início do processo infeccioso ou até mais, em um primeiro contato. O resultado desses mecanis- mos, quando ocorrem de forma localizada, é a clássica tétrade da inflamação: dor, calor, rubor e edema. Pode haver, conco- mitantemente à inflamação, febre, ativação de osteoclastos, adipócitos, fibroblastos, distúrbios do metabolismo, incluindo aumento da glicemia, variações hormonais, assim como várias outras alterações generalizadas, resultantes principalmente das atividades biológicas das citocinas, sintetizadas desde o início do processo infeccioso. LEUCÓCITOS NA INFLAMAÇÃO Os leucócitos fazem parte ativa do desenvolvimento da inflamação. Originam-se de células hematopoiéticas primor- diais (stem cells), a partir de células progenitoras mieloides (neutrófilos, monócitos/macrófagos, eosinófilos, mastócitos/ basófilos) e de progenitoras linfoides (linfócitos). O número de leucócitos totais varia com a idade. No re- cém-nascido, é de cerca de 20.000 leucócitos/mm3, diminuin- do depois e mantendo-se em torno de 5.000 a 10.000 a partir de 12 anos. Geralmente, considera-se leucopenia para conta- gens abaixo de 2.000 e leucocitose, acima de 10.000 leucócitos/ mm3. Em leucoses, esse número pode ser muito maior. A denominação dos diferentes tipos de leucócitos granu- locíticos baseia-se na coloração dos grânulos citoplasmáticos com hematoxilina-eosina, corante básico e ácido. Os leucóci- tos com afinidade pelo corante básico hematoxilina são deno- minados basófilos; os eosinófilos têm afinidade pela eosina. Os polimorfonucleares neutrofílicos necessitam de corantes neu- tros para coloração de seus grânulos. Os linfócitos são agranu- lócitos e suas subpopulações são indistinguíveis à microscopia ótica comum. As inflamações podem ser agudas e crônicas, sob a influên- cia do tempo de permanência/virulência do agente agressor e da defesa do hospedeiro. Em processos inflamatórios agudos Figura 24.2. A defesa inicial contra agentes infecciosos é dada pela resposta inata, seguindo-se a adaptativa. RESPOSTA IMUNOLÓGICA 1. Barreira físico-química • Pele, mucosas, tosse, espirros • pH gástrico, intestinal • Proteínas da fase aguda • Febre 2. Fagócitos • Neutrófilos • Monócitos/macrófagos • Eosinófilos 3. Sistema complemento 4. Células NK INATA 1. Humoral: linfócitos B 2. Celular: linfócitos T ADAPTATIVA O pH ácido do estômago atua como microbicida; o pH alcalino do intestino delgado e da secreção vaginal (este dado por lactobacilos) inibe a replicação bacteriana. O peristaltis- mo intestinal é benéfico para a eliminação de patógenos e um aumento deste, quando na presença de microrganismos pato- gênicos beneficia o hospedeiro. As proteínas plasmáticas da fase aguda da inflamação apa- recem desde o início de um processo infeccioso, sendo mui- tas vezes a principal barreira contra a disseminação do agente agressor. A proteína C reativa é uma potente opsonina, com receptores em fagócitos; a a1-antitripsina e a a2-macroglobu- lina são proteases inibitórias, que preservam o colágeno e as proteínas plasmáticas, respectivamente; a ceruplasmina pro- tege a matriz proteica; a substância amiloide-A é quimiotática, promovendo inflamação local e impedindo a disseminação do processo. Pacientes portadores de neuropatias apresentam muitas vezes diminuição do reflexo da tosse, o que contribui para aumento de secreções em vias aéreas e tendência a infecções nesses locais. Os pirógenos endógenos interleucina (IL-1), Fator de Ne- crose Tumoral (TNF) e IL-6 elevam a temperatura basal cor- pórea, com consequente aumento do metabolismo, necessário para a defesa contra o agente agressor. Diante de um agente agressor, há uma resposta do tecido agredido, com aumento do fluxo sanguíneo no local atingido por meio de vasodilatadores, como prostaglandinas e citoci- nas como TNF-a e interferon-gama (IFN-γ). Há aumento da 275capítulo 24 DEFESA IMUNOLÓGICA CONTRA AGENTES INFECCIOSOS predominam os fagócitos: neutrófilos e, sequencialmente, eo- sinófilos e monócitos; os linfócitos promovem a defesa na in- flamação crônica (Figura 24.3). Os fagócitos iniciam a resposta inata ao reconhecerem re- síduos repetitivos de carboidratos com espaçamento de bac- térias e certos vírus, por meio de receptores para padrões re- gulares. Apresentam, ainda, receptores Toll-like, que, unidos a PAMPs (padrões moleculares associados a patógenos) de bactérias e vírus, ativam o fator de transcrição nuclear NFkB, o qual se desloca para o núcleo ativando genes promotores da síntese de glicoproteínas que iniciam a resposta inata e a adap- tativa (Figura 24.4). Figura 24.3. Os neutrófilos são as primeiras células a chegarem aos locais de infecção. Os linfócitos tornam-se ativados três a cinco dias depois do contato inicial, podendo demorar mais tempo. CÉLULAS DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA 1. Neutrófilos 2. Monócitos/macrófagos 3. Eosinófilos 4. Células NK Resposta in�amatória aguda 1. Linfócitos B 2. Linfócitos T Resposta in�amatória crônica NEUTRÓFILOS A diferenciação ontogênica dos neutrófilos ocorre na me- dula óssea, necessitando de IL-3, G-CSF (fator estimulador de colônias de granulócitos) e GM-CSF (fator estimulador de colônias de granulócitos-macrófagos). Os neutrófilos ori- ginados na medula óssea tornam-se maduros, sendo, então, liberados na circulação periférica. Na neutropenia congênita grave, pode ser utilizado o G-CSF, assim como em infecções graves dos períodos de crise da neutropenia cíclica. Os fagó- citos neutrofílicos apresentam meia-vida curta, em torno de 7 horas após liberados pela medula. Os neutrófilos contêm uma série de grânulos, como hi- drolases: colagenases e outras proteinases, fosfatase alcalina, fosfatase ácida, lisozima; apresentam, ainda, mieloperoxidase, lactoferrina e glicosamina sulfatada. Grânulos contidos no li- sossomo encontram-se sob a forma inativa devido ao alto pH: o baixo pH do fagolisossomo permite sua atuação; a mielo- peroxidase participa do metabolismo oxidativo da etapa da digestão da fagocitose. As proteinases hidrolisam proteínas da matriz extracelular e, quando essa hidrólise ocorre de forma desordenada, pode haver lesão tecidual intensa; colagenases degradam colágeno tecidual, participando da formação de abscessos. A lisozima destrói a parede bacteriana, principal- mente de bactérias Gram-positivas e a lactoferrina une-se ao ferro, diminuindo esse nutriente bacteriano. Quando os neutrófilos são destruídos, há ruptura da mem- brana citoplasmática e consequente liberação de enzimas li- sossômicas para o interstício, determinando necrose tecidual. O pus é formado principalmente por neutrófilos destruídos e por bactérias mortas, restos teciduaise sangue. Os grânulos neutrofílicos não são refeitos após a fagocitose, o que impede nova defesa por essas células. Figura 24.4. Os fagócitos apresentam receptores Toll-like que se unem a PAMPs (padrões moleculares associados a patógenos). O resultado é a ativação do fator de transcrição NFkB (fator nuclear de cadeias kappa de células B), que se desloca para o núcleo, promovendo o início da resposta inata e adaptativa. RECEPTORES TOLL-LIKE EM FAGÓCITOS Proteoglicanos de bactérias Gram+ LPS de bactérias Gram- RNA DNA Início da resposta inata e adaptativa Receptores Toll-like: TRL-2, TRL-4, TRL-3, TRL-9 Ativação de NFκB: desloca-se para o núcleo e ativa genes promotores da resposta imunológica Fagócitos Uma característica dos neutrófilos é sua alta velocidade durante a migração, atingindo os locais afetados rapidamente, constituindo a linha inicial de defesa e participando da etapa inicial da reação inflamatória aguda. EOSINÓFILOS Os eosinófilos são diferentes nas espécies animais, sendo úteis na identificação da espécie animal. A unidade eosinofílica da célula primordial necessita de IL-3, IL-5, G-CSF e GM-CSF para a diferenciação ontogênica. Eosinófilos maduros são lançados na circulação periférica, e a maior parte deles dirige-se a tecidos e mucosas. A meia-vida dos eosinófilos é cerca de meia hora na circulação e de 12 dias nos tecidos. As ações dos eosinófilos também são quimiotaxia e fagoci- tose. A fagocitose ocorre por exocitose: eosinófilos lançam os grânulos para o extracelular, em helmintos ou locais de pro- 276 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO cessos alérgicos. Os principais grânulos são proteína básica principal e proteína catiônica eosinofílica, que lesam tecidos e helmintos da luz intestinal. Os eosinófilos aparecem na etapa tardia da inflamação aguda. MONÓCITOS/MACRÓFAGOS Originam-se da unidade formadora de mononucleares da célula hematopoiética primordial, com maturação dependen- te de IL-3 e GM-CSF. Pequena parte desses mononucleares permanece na circulação periférica, e a maioria dirige-se a diferentes locais do organismo, recebendo diferentes denomi- nações. São considerados fagócitos profissionais, por serem célu- las grandes, contendo grânulos citoplasmáticos (hidrolases ácidas, lisozima) que podem ser refeitos após 12 horas de um processo fagocítico. Além de quimiotaxia e fagocitose, os fagó- citos mononucleares produzem as citocinas inflamatórias da resposta inata: IL-1, TNF, IFN-α, IL-8 e IL-12. Aparecem na etapa de resolução do processo (monocitose pode ser indício de melhora), e no caso de persistência do pa- tógeno, fagócitos mononucleares e células dendríticas promo- vem a apresentação antigênica para linfócitos T. CÉLULAS NK As células natural killer (NK) fazem parte da resposta ina- ta. São ativadas quando células perdem antígeno leucocitário humano (HLA) de suas superfícies, o que acontece com célu- las tumorais e infectadas por vírus, promovendo, assim, a de- fesa antitumoral e antiviral. Para a ativação, células NK neces- sitam ainda de IL-12, a qual é produzida por Th1. NK, assim como Th1, sintetizam IFN-γ, um potente imunomodulador que ativa de forma especial a fagocitose por mononucleares, os quais poderão destruir patógenos intracelulares latentes no seu interior. LINFÓCITOS Os linfócitos provêm da unidade formadora linfoide da cé- lula hematopoiética primordial, na presença de IL-3 e IL-7. A maior parte deles dirige-se para o timo, sofrendo diferenciação em linfócitos T, responsáveis pela imunidade adaptativa celular. Um menor número de linfócitos diferencia-se na medula óssea em linfócitos B promotores da imunidade humoral. Esses lin- fócitos T e B atingem, então, órgãos linfoides secundários (lin- fonodos, baço e tecido linfoide associado às mucosas – MALT), onde, em contato com antígenos, sofrem diferenciação final e apresentam a proliferação necessária para a defesa. Os linfóci- tos T citotóxicos e T auxiliares para serem ativados necessitam que os antígenos estejam respectivamente associados a HLA I e II de células apresentadoras. T citotóxicos (CD8+) destroem células infectadas e T auxiliares (CD4+) cooperam com B na mudança de classe de IgM para IgG, IgA e IgE, uma vez que linfócitos B, sem a cooperação de Th, só sintetizam IgM. Os linfócitos são ativados após três a cinco dias do contato antigênico, na dependência de ser uma resposta primária ou secundária. São as células responsáveis da fase crônica da res- posta inflamatória. DEFESA IMUNOLÓGICA CONTRA AGENTES INFECCIOSOS Os diferentes setores da resposta imunológica são acio- nados em processos infecciosos na dependência dos agentes etiológicos. A seguir, a defesa imunológica será estudada conforme o tipo de patógeno a ser combatido, com o intuito de melhor compreensão. DEFESA CONTRA MICRORGANISMOS CATALASE- -POSITIVOS Os neutrófilos são as principais células de defesa contra microrganismos catalase-positivos – Staphylococcus aureus, Aspergillus fumigatus, enterobactérias Gram-negativas (Pseu- domonas spp., Serratia marcescens), além de Mycobacterium tuberculosis e Pneumocystis jirovecii (Figura 24.5). Figura 24.5. Os neutrófilos são as principais células de defesa contra bactérias e fun- gos catalase-positivos. DEFESA CONTRA MICRORGANISMOS CATALASE-POSITIVOS • Catalase-positivos: Staphylococcus aureus, Aspergillus fumigatus, Enterobactérias Gram-negativas: Pseudomonas spp. Serratia marcescens • Mycobacterium tuberculosis • Pneumocystis jirovecii NEUTRÓFILO 277capítulo 24 DEFESA IMUNOLÓGICA CONTRA AGENTES INFECCIOSOS Na presença de lipopolissacarídeos da parede bacteriana, ocorre aumento da expressão de moléculas de adesão. Neu- trófilos passam a expressar sialil-Lewis, LFA-1 (antígeno-1 as- sociado à função leucocitária), VLA-4 (antígeno-4 de ativação muito tardia); células endoteliais expressam as moléculas de adesão: selectina-E, selectina-P, ICAM-1, ICAM-2 (molécu- las-1 e 2 de adesão intercelular), VCAM (molécula de ade- são da célula vascular), as quais se unem, respectivamente, às moléculas apresentadas por neutrófilos. A ligação entre essas moléculas é aumentada por TNF e possibilita a saída de neu- trófilos de vasos sanguíneos por migração transendotelial para o interstício em que se encontra o patógeno (Figura 24.6). Após essa migração, o neutrófilo começa uma quimiotaxia ou migração dirigida, com o que pode atingir de forma mais rá- pida o foco lesado. São fatores quimiotáticos para neutrófilos as próprias substâncias bacterianas, como lipopolissacarídeos, além de componentes C5a e C3a do complemento, IL-8, IL-1 e TNF, leucotrieno-B4 e fator ativador de plaquetas (PAF) (Figura 24.7). A defesa seguinte é a fagocitose, com suas etapas de ade- são, ingestão, digestão e eliminação. O principal mecanismo da digestão é o metabolismo oxidativo das pentoses, que, na presença de oxigênio, origina radicais livres microbicidas. A fagocitose por neutrófilos é facilitada por opsoninas C3b e C5b do complemento e estimulada por IL-1 e TNF. O resul- tado da fagocitose para microrganismos catalase-positivos é que são eliminados restos não patogênicos para o organismo (Figura 24.8). Figura 24.6. A expressão de moléculas de adesão em neutrófilos e em células endo- teliais permite a migração transendotelial de neutrófilos. DEFESA CONTRA MICRORGANISMOS CATALASE-POSITIVOS Migração transendotelial de neutrófilos Neutró�lo Célula endotelial selectina-E, selectina-P ICAM-1, ICAM-2 VCAM Célula endotelial Neutrófilo Célula endotelial Sialil-Lewis LFA-1 VLA-4 Figura 24.7. Fatores quimiotáticos atraem neutrófilos para o local onde se encontra o patógeno; neutrófilos possuem receptores para os fatores quimiotáticos. DEFESA CONTRA MICRORGANISMOS CATALASE-POSITIVOS Quimiotaxia por neutró�los Fatores quimiotáticos para neutrófilos: • Lipopolissacarídeo bacteriano • Componentes C3a e C5a do complemento • IL-8, IL-1, TNF • LTB4, PAFNeutrófilo dirige-se para os fatores quimiotáticos: apresenta receptores para fatores quimiotáticos Figura 24.8. A fagocitose por neutrófilos resulta na eliminação de restos bacterianos não mais patogênicos. DEFESA CONTRA MICRORGANISMOS CATALASE-POSITIVOS Fagocitose por neutró�los Etapas da fagocitose: 1) Adesão 3) Digestão 2) Ingestão 4) Eliminação Receptor Fagolisossomo: metabolismo oxidativo das pentoses Vacúolo fagocítico Restos não patogênicos DEFESA CONTRA BACTÉRIAS DO GÊNERO NEISSERIA Neisseria meningitidis e Neisseria gonorrhoeae necessitam da defesa mediada por sistema complemento, sendo opsoniza- das por C3b e C5b e, principalmente, sofrendo lise pelos com- ponentes C5bC6C7C8C9 constituintes do complexo de ataque à membrana (MAC). É necessário que o sistema complemento esteja em perfeita funcionalidade para que essas bactérias se- jam eliminadas (Figura 24.9). DEFESA CONTRA BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS Bactérias Gram-negativas, como Escherichia coli, Salmo- nella typhi, Shigella flexneri e Pseudomonas aeruginosa, ne- cessitam de linfócitos B que se diferenciam em plasmócitos produtores de IgM. A IgM atua por meio de ativação do complemento, aglutinação e neutralização de toxinas (Fi- gura 24.10). 278 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO DEFESA CONTRA BACTÉRIAS ENCAPSULADAS Bactérias encapsuladas como Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae, para serem fagocitadas, necessitam de uma resposta humoral com produção de IgG anti o polissa- carídeo existente na cápsula bacteriana. A primeira imunoglobulina sintetizada é a IgM, a qual não tem atividade biológica de opsonização. Para a mudança de classe para IgG, há necessidade da ativação de Th1, sintetizador de IFN-γ. A cooperação entre Th1 e B ocorre mediante a união de moléculas de adesão de Th1 e B, respectivamente: CD40L/ CD40, ICOS/ICOSL (inducible co-stimulatory molecule), BAFF/ TACI (B-cell activating factor receptor/transmembrane activator and calcium modulator and cyclophilin ligand interactor). Os anticorpos antipolissacarídeos, contidos na subclas- se IgG2, são opsoninas que revestem esses microrganismos encapsulados, facilitando a fagocitose. Para Haemophilus influenzae, são necessários também anticorpos proteicos, es- pecialmente da classe IgG1 (Figura 24.11). DEFESA CONTRA AGENTES INFECCIOSOS EM MUCOSAS Vários microrganismos necessitam da defesa em mucosas, para impedir sua penetração na circulação e até a dissemina- ção. Assim ocorre com enterobactérias, enterovírus (incluindo o vírus da poliomielite) e Giardia lamblia. Da mesma forma, a defesa em mucosas impede a penetração de alérgenos. A defesa inicial contra agentes infecciosos em mucosas é feita pela resposta inespecífica, principalmente por meio da barreira física, completando-se com a resposta adaptativa com a dimerização de IgA. A mudança de classe de IgM para IgA necessita de ativação de Th2 e da síntese de IL-5, IL-10 e TGF-β. A transformação de IgA monomérica em dimérica é esti- mulada pela presença de patógenos nas mucosas, não ocor- rendo ao acaso. Plasmócitos secretam IgA e cadeia J, que une os dois monômeros de IgA. O complexo das duas IgA e cadeia J, ao atravessar células epiteliais, recebe componente secretor, sintetizado por essas células. O componente secretor torna o dímero de IgA estável a enzimas proteolíticas das secreções (Figura 24.12). A IgA dimérica combate as bactérias, atuando como an- titoxinas, agindo no pili bacteriano, tanto globular como fila- mentoso, aglomerando patógenos e impedindo sua penetra- ção na mucosa. Havendo mutação bacteriana, como modifi- cações no pili, os plasmócitos iniciam a síntese de nova IgA específica para a bactéria mutante. A defesa contra a microflora intestinal, constituinte da resposta inata, é feita por IgA, exigindo então a ativação da resposta adaptativa. Assim, a microflora intestinal é tida como promotora da interligação entre a resposta inata e a adaptativa. Figura 24.9. Bactérias do gênero Neisseria necessitam da perfeita integridade e fun- cionalidade do sistema complemento para que sejam eliminadas. DEFESA CONTRA BACTÉRIAS DO GÊNERO NEISSERIA AG-AC C1qrs C3a C5a Anafilatoxinas quimiotaxia C3b C5b Opsonização C5b6789 MAC Buraco funcional Lise: • Neisseria meningitidis • Neisseria gonorrhoeae AG C3C4b2a C5b6789 Figura 24.10. A IgM tem ação eficaz contra bactérias Gram-negativas. DEFESA CONTRA BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS Linfócito B Plasmócito IgM Escherichia coli Salmonella typhi Shigella flexneri Pseudomonas aeruginosa Figura 24.11. Anticorpos antipolissacarídeos, contidos em IgG2, permitem a opsoni- zação de bactérias encapsuladas (Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae), sendo necessária a cooperação de Th1 com B. DEFESA CONTRA BACTÉRIAS ENCAPSULADAS CD40L CD40 Linfócitos T auxiliares (Th1) Célula dendrítica (APC) Linfócitos B IgG2 Anticorpos antipolissacarídeos Streptococcus pneumoniae Haemophilus influenzae 279capítulo 24 DEFESA IMUNOLÓGICA CONTRA AGENTES INFECCIOSOS DEFESA CONTRA BACTÉRIAS PRODUTORAS DE TOXINAS As bactérias toxigênicas exigem uma resposta mais elabo- rada, não bastando a inespecífica. Na maioria dos casos, faz-se necessária a cooperação de T auxiliares, pois são necessários diferentes isotipos de imunoglobulinas. Assim, há apresentação antigênica de epítopo associado ao HLA classe II de célula apresentadora a T auxiliares. São expressas moléculas de adesão: TCR/CD3/CD4, CD28, LFA-1 e LFA-2 em Th, que se unem a epítopo/HLA-II, B7, ICAM-1 e LFA-3 da célula apresentadora, respectivamente. Após o pri- meiro sinal de ativação por tais moléculas, há um segundo sinal por meio de citocinas, em especial IL-2 e IFN-γ, comple- tando a ativação de T auxiliar. Linfócitos T auxiliares, agora ativados, passam a cooperar com B, após a união entre as moléculas CD40L a CD40, ICOS a ICOSL, BAFF a TACI, de T auxiliar e B, respectivamente. O resultado é que linfócitos B conseguem se diferenciar em plasmócitos produtores de outras classes de imunoglobulinas, uma vez que sem essa cooperação só sintetizam IgM. Assim, Th1 sintetizando IFN-γ, promove a diferenciação de B em plasmócito produtor de IgG; Th2 ao sintetizar IL-4 e IL-13, coopera com B para a produção de IgE; Th2 sintetizador de IL-4, IL-10 e TGF-b, auxilia B na diferenciação para plasmócito produtor de IgA (Figura 24.13). O mecanismo de ação das antitoxinas é por união do de- terminante antigênico da toxina à porção Fab da antitoxina, união essa que pode atuar diretamente na neutralização da toxina ou aumentar o seu clareamento. Tanto a neutralização como o clareamento inibem os efeitos deletérios da toxina. A IgM e a IgG atuam principalmente em exotoxinas, enquanto a IgA tem sua atuação em endotoxinas (Figura 24.14). Entre os principais agentes produtores de exotoxinas en- contram-se Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, Corynebacterium diphtheriae, Clostridium tetani e Vibrio cho- lerae. As endotoxinas são integrantes da parede celular de bac- térias Gram-negativas, como Escherichia coli, Salmonella ty- phi, Shigella flexneri e Pseudomonas aeruginosa (Figura 24.14). DEFESA CONTRA OUTRAS BACTÉRIAS EXTRACELULARES As bactérias Gram-positivas e Gram-negativas contendo respectivamente peptídeos e lipopolissacarídeos nas pare- des citoplasmáticas, após atravessarem pele e mucosas, ati- vam diretamente a via alternativa do sistema complemento, Figura 24.12. A dimerização da IgA permite a defesa adaptativa em mucosas, im- pedindo a penetração de patógenos, assim como de elementos potencialmente aler- gênicos. DEFESA HUMORAL DAS MUCOSAS Dimerização da IgA PLASMÓCITO CÉLULA ENDOTELIAL IgA IgA CADEIA J Componente secretor IgA dimérica • Enterobactérias • Enterovírus • Giardia lamblia • Penetração de alérgenos J Figura 24.13. Bactérias produtoras de toxinas necessitam de defesa mediada por linfócitos B independentes de T (IgM) e dependentes de Th1 (IgG) e Th2 (IgA ou IgE). DEFESACONTRA BACTÉRIAS PRODUTORAS DE TOXINAS Célula apresentadora ICAM-1 LFA-1 VLA-4 CD28LFA-2 Th1 Th2 CD3 TCR CD4 LFA-3 VCAM B7HLA - classe II TOXINA Linfócitos T auxiliares Linfócitos B IgG Linfócitos B IgA, IgE Figura 24.14. A principal defesa contra toxinas (exotoxinas e endotoxinas) é dada por antitoxinas. MECANISMOS DE AÇÃO DOS ANTICORPOS ANTITOXINAS 1º. Clareamento de toxinas 2º. Neutralização IgM e IgG atuam contra exotoxinas: • Staphylococcus aureus • Streptococcus pyogenes • Corynebacterium diphtheriae • Clostridium tetani • Vibrio cholerae IgA atua contra endotoxinas: • Escherichia coli • Salmonella typhi • Shigella flexneri • Pseudomonas aeruginosa 280 IMUNOLOGIA DO BÁSICO AO APLICADO tornando-se revestidas por opsoninas do complemento, os componentes C3b e C5b, os quais se unem a receptores de fagócitos, sendo as bactérias opsonizadas e, dessa forma, destruídas (opsonização). O resultado pode ser lise media- da pelos componentes terminais C5bC6C7C8C9 (MAC) do complemento. A resposta imunológica continua por meio da imunidade humoral. São sintetizados anticorpos principalmente contra a parede bacteriana. Esses anticorpos podem ativar a via clássica do complemento (IgM, IgG1, IgG3) e atuar como opsoninas (IgG, IgA). Anticorpos do isótipo IgM podem promover a destruição de bactérias por ativação do complemento ou por ADCC. Pode haver produção de diferentes classes de imuno- globulinas em resposta às citocinas geradas por linfócitos: Th1, sintetizando IFN-γ, auxilia B na mudança de classe para IgG; Th2, por meio de IL-4 e IL-13, permite a mudança para IgE e de IL-5, IL-10 e TGF-b para IgA (Figura 24.15). vírus, determinando a síntese de proteína antiviral que modifi- ca o RNA mensageiro do vírus e inibe sua replicação. A união antígeno-anticorpo inicia a via clássica do sistema complemento, ativando sequencialmente: C1qrs, C4b2a, C3 e C5b6789. A via alternativa ativa diretamente o componente C3, seguindo-se a cascata pela via comum. Os componentes terminais C5b6789 formam o complexo de ataque à membra- na (MAC), responsável por uma alteração funcional dos fos- folipídios da membrana da célula infectada, acarretando intu- mescimento e lise celular com destruição dos microrganismos intracelulares. A defesa por complemento parece ser maior em crianças, por causa da imaturidade da resposta adaptativa ce- lular (Figura 24.16). Havendo permanência do patógeno intracelular em Mø, essas células passam a expressar características de células apre- sentadoras, com maior expressão de HLA. Ativam então lin- fócitos T citotóxicos, que, por meio de perfurinas e apoptose, destroem células infectadas. Ativam, ainda, T auxiliares tipo 1, que, atuando por apoptose, também destroem células infecta- das (Figura 14.17). Figura 24.15. Defesas contra bactérias extracelulares não descritas anteriormente. DEFESA CONTRA OUTRAS BACTÉRIAS EXTRACELULARES Ativação do complemento por: • Peptídeos da parede de bactérias Gram-positivas • Polissacarídeos da parede de bactérias Gram-negativas Opsoninas C3b e C5b unem-se a receptores de fagócitos MAC (C5b6789) promove lise do patógeno a ser destruído Ativação de linfócitos com síntese de citocinas B IgM Th1 IFN-γ IgG Th2 IL-5, IL-10, TGF-β IgA Th2 IL-4, IL-13 IgE DEFESA CONTRA MICRORGANISMOS INTRACELULARES Os monócitos/macrófagos (Mø) e células NK são células importantes na defesa contra microrganismos intracelulares, como vírus, certas bactérias (Mycobacterium tuberculosis e Mycobacterium lepra) e fungos patogênicos. O sistema comple- mento também atua contra células infectadas (Figura 24.16). Os Mø são produtores de IL-1 e TNF, responsáveis por grande parte da sintomatologia: mal-estar, anorexia, sono- lência, emagrecimento, osteoporose, fraturas pós-infecções prolongadas, além de ativarem todas as células da resposta inflamatória. Ainda, IL-1, TNF e IL-6 (esta sintetizada por Th1) são pirógenos endógenos, atuando em hipotálamo por meio de prostaglandinas. A IL-1, assim como a IL-6, promove o aumento da glicemia, sendo ambas muitas vezes responsá- veis pelo diagnóstico do diabetes durante infecções. O interfe- ron-a sintetizado por Mø atua em outra célula infectada por Figura 24.16. A defesa inicial contra microrganismos intracelulares é dada pela imu- nidade inata. DEFESA CONTRA MICRORGANISMOS INTRACELULARES Resposta inata • Lise de células infectadas Sistema complemento Monócitos/ Macrófagos • Quimiotaxia e fagocitose • Síntese de citocinas • Células apresentadoras • Lise de células infectadas por vírus Células NK Figura 24.17. Sendo a imunidade inata insuficiente contra microrganismos intrace- lulares, é acionada a imunidade adaptativa. DEFESA CONTRA MICRORGANISMOS INTRACELULARES Resposta adaptativa Lise e apoptose de células infectadas T citotóxico Th1
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