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Estudos realizados em modelos murinos demonstraram que, na modulação da resposta imune, macrófagos para- sitados e outras células apresentadoras de antígeno (APC) apresentam antígenos de Leishmania aos linfó- citos T do tipo CD4+. Estes linfócitos são estimulados a produzir interleucinas (IL) e dependendo do perfil estimu- lado, ocorre o desenvolvimento de duas subpo-pulações de linfócito TH (T helper). TH do tipo 1 (TH1) secreta grande quantidade de TNF-y associado a produção de ci- tocinas pró inflamatórias, enquanto TH do tipo 2 (TH2) produz grande quantidade de IL-4 associada citocinas promotoras da produção de anticorpos produzidos por linfócitos B. Também foi caracterizado nesse modelo que a resposta THI está associada a capacidade do hospedei- ro em controlar a infecção e a resposta TH2, mais corre- lacionada com o processo progressivo da doença. A in- dução preferencial das células THI ou TH2 depende de alguns fatores, como a dose infectante, o mecanismo de apresentação pela APC, a via de inoculação e o padrão genético do hospedeiro. Algumas das citocinas produzi- das pela resposta do tipo THl ou TH2 possuem caráter regulador, favorecendo ou inibindo a expansão celular de um ou outro gmpo. A leishmaniose visceral é caracterizada pela incapacida- de do macrófago em destruir as amastígotas. Nos doentes, tem sido observada a produção de níveis elevados de IL-10. O aumento de IL- 1 O em sinergismo com IL-4 parece ser hn- damental na progressão da doença, desde que ambas são capazes de inibir: a ativação de macrófagos pelo INF-y pro- duzido pelas células TCD4+; a transcrição do TNF-a; e a produção de H,O,. A produção de anticorpos, principalmente IgG, é muito elevada. Entretanto, como a ativação de LB é policlonal, a maioria das imunoglobulinas são inespecíficas. A presença de anticorpos específicos contra Leishmania é importante, principalmente para o diagnóstico. Esses eventos perpetuam a infecção, tomando a doen- ça progressiva e eventualmente letal, se não controlada. O curso da infecção é dependente, ainda, da capacidade do hospedeiro em estabelecer uma resposta imune mediada por células. Indivíduos assintomáticos ou pós-tratamento apre- sentam resposta celular do tipo hipersensibilidade tardia, positiva para antigenos do parasito, o teste de Montenegro. Após a terapêutica específica, os níveis de anticorpos caem drasticamente. PATOGENIA A L. chagasi é um parasito de células do SMF, principal- mente do baço, fígado, linfonodo e medula óssea. Entretan- to, no curso da infecção outros órgãos e tecidos podem ser afetados, como intestino, sangue, pulmões, rins e pele. Nas fases mais avançadas da doença são raros os órgãos onde não se encontra o parasito. A pele é a porta de entrada para a infecção. A inocu- lação das formas infectantes é acompanhada da saliva do inseto vetor, que é rica em substâncias com atividade in- flamatória. Esta atividade é muito importante para o aumen- to de células fagocitárias neste local e crucial para a ins- talação da infecção. Alguns indivíduos podem desenvol- ver uma lesão nodular local, principalmente nas infecções por Leishmania donovani. Quando ocorre, o sinal de porta de entrada é transitório, e representado por reação inflarna- tória que determina a formação de um nódulo, o leishmanioma. No entanto, na infecção por Leishmania chagasi, o local da inoculação dos parasitos normalmente passa desapercebido. O processo pode evoluir para a cura espontânea ou, a partir da pele, ocorrer a migração dos pa- rasitos, principalmente para os linfonodos, seguida da mi- gração para as vísceras. Nas vísceras, os parasitos induzem uma infiltração focal ou dihsa de macrófagos não-parasitados, além de infiltra- do de linfócitos e células plasmáticas, com focos de plasmacitogênese. As alterações mais particulares são des- critas nos tecidos esplênico, hepático, sanguíneo, pulmonar e renal. A via de disseminação de Leishmania pode ser a hema- togênica elou linfática. Leishmania chagasi raramente tem sido encontrada no sangue periférico humano de indivíduos considerados imunocompetentes; no entanto, em cães ou ra- posas este achado é frequente. A patogenia da doença é determinada por múltiplos fatores que envolvem os hospe- deiros os parasitos, além de fatores genéticos determinan- tes da susceptibilidade para a infecção e para a cura, o es- tado imunológico e nutricional do indivíduo. Esplenomegalia é o achado mais importante e freqüente 1 no calazar. Na fase inicial da doença, a esplenomegalia pode j não ocorrer ou ser pouco acentuada, mas na doença esta- 1 belecida e crônica toma-se uma característica invariável. Ao corte, o órgão apresenta superfície vermelha amar- i ronzada e o tecido friável e congesto. Podem ser identifica- das áreas de infarto. A cápsula é espessa e mostra áreas de inflamação. Ocorre hiperplasia e hipertrofia das células do SMF, os macrófagos e as células plasmáticas podem ser observados densamente parasitados, na polpa branca e vermelha. Na polpa branca, no entanto, o parasitismo é menos frequente e há diminuição da população de células em áreas T depen- dentes. Hepatomegalia é outra característica marcante no calazar. O órgão mantém consistência firme e ocasional- mente mostra congestão passiva. Ocorre hiperplasia e hipertrofia das células de Kupffer, em geral densamente parasitadas. É frequente a presença de infiltrado difuso de células, plasmáticas e linfócitos, intraparenquimal. Podem ser observadas fibrose septal e portal, leve ou moderada, ao longo do infiltrado inflamatório. A deposição de mate- rial hialino, PAS positivo, no espaço de Disse é um acha- do comum e associado a espessamento reticular e áreas de fibrose intralobular (fibrose de Rogers). Hiperplasia regenerativa nodular dihsa tem sido relatada em casos de associação HIVILeishmania. Estas alterações contribuem possivelmente para a grave desproteinemia que ocorre em pacientes com calazar. Os baixos níveis de albumina asso- ciados a fatores vasculares locais podem levar a formação de edema dos membros inferiores. Capitulo 10 A medula óssea é em geral encontrada com hiperpla- sia e densamente parasitada. A eritropoese e granulo- poese são normais no início do processo infeccioso. Du- rante as fases mais adiantadas da infecção, ocorre desre- gulação da hamatopoese, caracterizada pela diminuição da produção celular, com reflexo no quadro hematológi- co em períodos sucessivos: a) hiperplasia no setor histiocitário; b) hipoplasia no setor formador de sangue e, por fim, c) aplasia. A anemia é o achado mais frequente 'nos indivíduos doentes. As contagens de eritrócitos nesses casos são / muito baixas, entre 2 e 3 milhões/mm3 de sangue. Em ge- r ral, a anemia é normocítica e normocrômica. Entre os me- I' canismos envolvidos na anemia está a destruição dos / eritrbcitos no baço, a fagocitose e a hemólise, que podem i ser imunologicamente mediadas. Na contagem diferenci- I a1 de leucócitos é frequente a ausência de eosinófilos e 1 basófilos e, marcadamente reduzida, a presença de neutrófilos, caracterizando a leucopenia. A contagem ab- i soluta de linfócitos e monócitos é usualmente baixa, po- rbm, em termos porcentuais, na contagem total é alta. As plaquetas também estão diminuídas nos quadros graves 1 e letais, principalmente nas fases mais adiantadas da do- i ença, o que facilita a gênese de hemorragias. 1 Verifica-se plasmocitose, embora no sangue periférico seja comum níveis bixos de linfócitos B (CDI9+), pois estas cblulas produtoras de imunoglobulinas encontram-se se- 1 qüestradas nos órgãos linfóides. A principal alteração que ocorre nos rins está relaciona- ' da com a presença de imunocomplexos circulantes. Em muitos casos ocorre glomerolonefrite proliferativa e nefrite intersticial. Estudos a microscopia eletrônica e imunofluo- rescência revelam o espessamento da membrana basal e proliferação das células mesangiaiscomo achados mais freqüentes. A deposição de imunocomplexos, além do complemento e fibrinogênio, na matriz mesangial determi- na um quadro de glomerulonefrite mesangioproliferativa. Em decorrência das lesões renais, ocorrem distúrbios de sua função. As formas amastígotas de Leishmania são ra- ramente visualizadas, mesmo com a utilização de colora- ções mais específicas. A perda de albumina na urina - albuminúria - ocorre em cerca de 50% dos pacientes no Brasil, e elevados níveis de creatinina, uréia e hematúria são vistos nos casos termi- nais. Após tratamento eficaz, estas alterações são revertidas ti função normal. Os linfonodos encontram-se frequentemente aumenta- dos. Ocorre reatividade nos centros germinativos dos folí- culos linfóides, reflexo do aumento na celularidade perifoli- cular. Na zona paracortical há depleção de células T e pre- sença de plasmócitos e macrófagos parasitados. A presen- ça destes plasmócitos explica em parte a hipergamaglobuli- nemia presente durante a infecção. Nos pulmões ocorre, com relativa frequência, pneumo- nite intersticial com o espessamento dos septos pulmona- res, devido a tumefação endotelial e proliferação das célu- las septais, as vezes com fibrose septal, e de linfócitos e cé- lulas plasmáticas. As amastígotas são raras ou ausentes no pulmão. Estudos mostraram a associação entre a pneumo- nite intersticial e a presença de material antigênico de Leish- mania nos septos alveolares, através de técnicas de detec- ção de antígenos do parasito pelo método imunoenzimático peroxidase-antiperoxidase (PAP). Como resultado do envol- vimento pulmonar, pacientes apresentam como principal sin- toma a tosse seca. Em conseqüência desse quadro de pneumonia intersti- cial associada a infecções secundárias, o paciente pode de- senvolver broncopneumonia, que é uma importante causa de óbito na doença. Há, com frequência, excessiva proliferação de células do SMF, especialmente no jejuno e íleo, com presença de amastígotas. Ocorre edema e alongamento das vilosidades, sem ocorrência de alterações na arquitetura da mucosa e dos vasos linfáticos. Os parasitos podem, por vezes, ser encontrados na pele normal. Pode ocorrer descamação e queda de cabelos. Na Índia e África, são relatados casos de intenso parasitismo cutâneo, associado a lesões nodulares, a leishmaniose dérmica pós-calazar. A doença pode ter desenvolvimento abrupto ou gradual. Os sinais sistêmicos típicos estão associados a febre inter- mitente (Fig. 10.1), palidez de mucosas, esplenomegalia as- sociada ou não a hepatomegalia, e progressivo emagreci- mento com enfraquecimento geral do hospedeiro. Na Tabe- la 10.2 são apresentados os principais sintomas e a frequên- cia com que eles ocorrem em crianças. A tosse não-produ- tiva, a diarréia e a dor abdominal são queixas frequentes na fase aguda da infecção. Progressivamente. no curso da doen- ça, o paciente pode apresentar anemia epistaxes, hemorra- gia gengival, edema, ictencia e ascite. A anorexia e a desnu- trição aumentam a debilidade do paciente. Nestes pacientes, o óbito pode ser decorrente do parasitismo, porém geral- mente é determinado pelas hemorragias e infecções intercor- rentes. As hemorragias digestivas e a icterícia são sempre indicadoras de gravidade. Na doença abrupta e nos pacientes portadores de HIV, o óbito pode ocorrer, antes que os sintomas sejam desen- volvidos. Os sinais mais frequentes são as hemorragias gás- tricas e a icterícia. A relação parasitohospedeiro no calazar assume cará- ter espectral e é possível atribuir diversas formas clínicas, variando de uma forma silenciosa assintomática, considera- da subclínica, ou oligossintomáticas, forma aguda até a for- ma crônica ou de evolução clássica. Capítulo 10 Leucopenia + Anemia + Amastigotas + (medula óssea) Leucopenia ++ Anemia ++ Amastigotas ++ Proteinograma t 7 Proteinoarama normal normal I I I I I I I I I I I I I I I I Período de 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 incubação (2 a 7 meses) Dias Meses Decurso da infecção Fig. 10.1 - Curso evolutivo do calazar humano crônico. Após período de incubação variável, manifesta febre com dois a tr6s picos diários. Pequenas alterações hematológicas e presença de amastígotas na medula óssea. As proteínas do soro estão em níveis normais. Meses após o período pré-patente, acentuam-se as alteraçôes hematológicas e permanece parasitismo de medula óssea. Os níveis de albumina estão baixos enquanto há hipergamaglobuli- nemia com inversão na taxa albumina/gamaglobulinas. FORW ASSINTO~~ZATICA ~absla 102 Os indivíduos podem desenvolver sintomatologias pou- F r e q Q l l n c i a d Q S i n d s d 8 1 ~ o m ~ I n f e n a r c o m Lsish vismal-* . ., co es~ecíficas, aue se manifestam Dor febre baixa recorren- . L te, tosse seca, diarréia, sudorese, prostração e apresentar cura espontânea ou manter o parasito, sem nenhuma evo- lução clínica por toda a vida. O diagnóstico pode ser aciden- tal ou epidemiológico. Acredita-se que esta represente a maior parcela da população infectada em área endêmica. O equilíbrio apresentado por estes indivíduos pode, entretan- to, ser rompido pela desnutrição ou por um estado imunes- supressivo, como na AIDS, ou pela infecção por HTV ou de- corrente do uso de fármacos pós-transplante. Aparentemen- te esta ruptura é induzida pela quebra da barreira funcional dos linfonodos acompanhada de aumento da prostaglan- dina E e baixa na produção de IL 1 O. Corresponde ao período inicial da doença. Observam-se febre alta, palidez de mucosas e hepatoesplenomegalia dis- cretas. A evolução em geral e não ultrapassa dois meses. Muitas vezes o paciente apresenta tosse e diarréia. Clinica- mente, é confundida com febre tifóide, malária, esquistosso- mose, doença de Chagas aguda, toxoplasmose aguda, histoplasmose, entre outras doenças febris agudas que apresentam hepatoesplenomegalia. Os pacientes apresentam Sinais e Sintomas % Esplenomegalia Febre Hepatomegalia Palidez Anemia Perda de peso Dor abdominal Tosse Edema Aumento de linfonodos Anorexia Epistaxe Diarréia 'Dados médios compilados de várias fontes altos títulos de IgG anti-Leishmania. O parasitismo é mais h- quente no figado e no baço e em menor número na medula. Capitulo 10 infecções concomitantes por Plasmodium ou Schis- tosoma, principalmente nas áreas onde há concomi- tância de distribuição destas endemias; A leishmaniose visceral é considerada infecção oportu- nista para indivíduos com AIDS e em portadores de Hn! Forr ~erío- do de e! Ire irregular e associada ao continuo agravamento aos sintomas. O emagrecimento é progressivo e conduz o paciente para desnutrição protéi- co-calórica, caquexia acentuada, mesmo com apetite preser- vado. A hepatoesplenomegalia, associada à ascite determi- nam o aumento ie (Fig. 10 ia ge- neralizado, disp iléia, dorí urba- ções digestivas, 1, e retard~ também ( ANIOSE A leisnmaniose dérmica pos-caiazar (LDPK) é uma ma- nifestação cutânea da leishrnaniose causada pela Leishma- nia donovani, que ocorre após o tratamento da forma vis- ceral. A LPDK é mais fi-eauente em ~acientes na India e no e depois da ~arência va- : áreas com do abdom d i a , cef: epistaxes 1.2). E con :s muscul o da pube num ederr ares, pert :rdade. Uma vez que o calazar é uma doença de caráter debilitante e imunodepressivo, as infecções bacterianas são especialmente importantes na determinação do óbito. São infkqões comuns: Sudão, or cura clíni~ nada e sã . . . ide aparec ca do cala io caractei . - meses a :sões da p :lo aparec r . cinco ano ele têm ay :imento dt re de seis mr. As le rizadas pe , . pneumonia e broncopneumonia, favorecidas prova- velmente em decorrência da les intersticiais pulmonares; tuberculose, de forma particularmente fulminante; diarréia e disenteria, mente como última com- plicação fatal. Embc igotas sejam encontradasem lesões intestinai: rria é geralmente atribuí- da a amebíase elou shigelose; , rcmm oris; nipopigmenraçao, papuias ou macuias e, as vezes, nódulos, principalmente na face, tronco e membros. Embora o parasitismo cutâneo seja intenso, a medula óssea e vísceras em geral são negativas e não há febre ou outro sintoma de envolvimento visceral. As lesões podem levar meses ou anos para desaparecerem e o tratamento é sempre muito prolongado. Do ponto de vista epidemioló- gico, as pessoas infectadas são impoi te de infec- ção. A etiologia da LDPK é ainda inex rtante fon plicada. otite médi a, gengivi atite e calr 1 Fig. 10. aos 8-10 meses de infe~ fase adrantada, caquetico e com hepatoesplenomegalia. (fotos gentilmente cedidas Infectuosas e Parasitárias - Ed. Guanabara Koogan - P edição, 1983). aniose visce rai (calazar) : A) criança cção: hepatc .. . . . ialia e dister NDUDQ - n isão abdomi . . . 3) paciente I . - 9m iagnóstico e Tratamento das Doenças pelo Prof. Jayme Capitulo 10 73 A rotina do diagnóstico da leishmaniose visceral ba- seia-se nos sinais e sintomas clínicos, em parâmetros epi- demiológicos, e na grande produção de anticorpos. Entre- tanto, a confirmação do diagnóstico ainda é realizada pelo encontro do parasito em amostras biológicas de tecidos do paciente. Baseia-se nos sinais e sintomas apresentados pelos pa- cientes associados a história de residência em área endêmica. Entretanto, é preciso especial atenção para outras doenças que apresentam sintomatologia semelhante, como malária, toxoplasmose, brucelose, tuberculose e esquistos- somose, principalmente em áreas onde ocorre a superposi- ção na distribuição das doenças. Nos pacientes com AIDS, portadores do vírus HIV, de doenças malignas, como linfomas e lúpus eritematoso sistêmico, e naqueles submetidos a transplantes de órgãos, em uso de drogas contra a rejeição, os sinais e sintomas do calazar podem ser influenciados e modificados, de forma que as manifestações clínicas não mantenham as suas caracte- rísticas. Em particular, nos pacientes com AZDS, os sintomas mais relatados são as lesões de pele, manifestações hemorrágicas gastrointestinais e respiratórias, por vezes, na completa ausência de febre e esplenomegalia. Pesquisa do Parasito O diagnóstico parasitológico baseia-se na obse~ação direta do parasito em preparações de material obtido de as- pirado de medula óssea, baço, fígado e linfonodo, através de esfiegaços em lâmina de vidro, corados pelo Giemsa ou PanópticoB, inoculados em meio de cultura NNN (Novy, Nicolle e McNeal) ou em animais de laboratório (hamster e camundongos BalbIC). Quando obtidos por biópsia podem ser elaborados cortes histológicos de fragmentos dos ór- gãos para a pesquisa do parasito. A punção de medula óssea é a técnica mais simples e representa menos risco para o paciente. No adulto, é reali- zada na medula do estemo, no nível do segundo espaço in- tercostal e em crianças, na crista ilíaca. A sensibilidade da técnica encontra-se em tomo de 60-70%. O cultivo do aspi- rado pode melhorar a positividade do resultado e a seguran- ça do diagnóstico, entretanto é raramente é usado na roti- na da prática clínica, pois o crescimento dos parasitos po- dem levar dias ou semanas. A biópsia hepática oferece resultados questionáveis, em virtude da menor expressão do parasitismo do figado. A punção do baço apresenta riscos, podendo levar a ruptura do órgão e a hemorragias fatais. Por serem métodos de ris- co e muito invasivos, tendem a ser substituídos. A pesquisa de DNA de Leishmania em amostras clíni- cas através da reação em cadeia da polimerase, PCR, tem sido avaliada em diferentes centros para o diagnóstico de leishmaniose visceral, com base na alta sensibilidade e es- pecificidade da técnica. Estas características permitem seu uso em pequena quantidade de material biológico e sua apli- cação para o diagnóstico de Leishmania no sangue perifé- rico, o que toma o diagnóstico menos dependente de inter- venções invasivas. No entanto, a PCR tem sido utilizada com muita freqüência em estudos epidemiológicos, não es- tando, ainda, disponível para uso rotineiro no diagnóstico humano. Uma característica clínica imunológica marcante do calazar é a hipergamaglobulinemia, decorrente da expansão policlonal de linfócito B, que caracteriza a resposta especi- fica, através da produção de irnunoglobulinas G (IgG e IgM), com grande produção de proteínas inespecíficas. Os altos níveis de anticorpos produzidos pelos pacien- tes permitem a aplicação de uma variedade de técnicas so- rológicas para o diagnóstico. Os testes apresentam sensibi- lidade e especificidade variáveis, entretanto devem ser a es- colha imediata na suspeita clínica da doença, principalmen- te, pela ausência de riscos para o paciente. Sua aplicação no diagnóstico de pacientes imunossupri- midos requer cuidado na interpretação de resultados, des- de que, devido a ausência de clones de linfócitos T capa- zes de determinar a estimulação de LB, dependendo do mo- mento da infecção, o indivíduo pode não apresentar títulos de anticorpos. O diagnóstico sorológico pode, em algumas circunstân- cias, ser aplicado no controle da resposta terapêutica, entre- i tanto como controle de cura os resultados devem ser cuida- 1 dosamente analisados. As técnicas aplicadas podem ser inespecíficas, só ava- liando a hipergamaglobulinemia, como a reação de formol- gel, que mostra como resultado a precipitação e gelificação das proteínas do soro de pacientes, quando em contato com o formaldeído. Porém, os testes que procuram identificar IgG (e suas frações) e IgM, dirigidos contra o parasito, são os mais utilizados. Reaçáo de Imunofluorescência Indireta (RIFI) 1 Utiliza como antígeno formas promastígotas fixadas em lâmina. Trata-se de método de simples execução e que apresenta uma sensibilidade alta na detecção de casos de leishmaniose visceral, porém fornece reações cruzadas com outros tripanossomatídeos. Entretanto, no calazar os títu- los de anticorpos são muito mais altos durante a doença. E o teste mais usado, inclusive na avaliação da resposta a terapêutica. Ensaio Imunoenzimático (ELISA) Trata-se de metodologia que permite a realização de grande número de exames em curto espaço de tempo. Os antígenos utilizados são solúveis e o teste mostra sensibi- lidade muito alta na detecção de casos de calazar. Contudo, como o antígeno utilizado é produzido a partir de lisados de formas promastígotas do parasito, mostra reações cruzadas com outros tripanossomatídeos. Este problema pode ser solucionado com o emprego de antígenos purificados e recombinantes. Dentre os antígenos purificados, as pro- teínas de superfície presentes na membrana do parasito 74 Capitulo 10