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inseminacao-capitulo-2

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Gado de Leite
Erick Fonseca de Castilho
Inseminação Artificial em 
Tempo Fixo (IATF)
Em Bovinos Leiteiros
C A P Í T U L O
2
2. Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
2.1 Introdução
Ao longo do tempo, o controle da reprodução dos mamíferos deixou de ser con-
siderado como regulado apenas pelo sistema nervoso central (SNC), passando 
a ser visto como uma função controlada por dois sistemas separados: o sistema 
nervoso central e o sistema endócrino (Figura 15). A seguir, descobriu-se que 
o hipotálamo ligava esses dois sistemas por meio do sistema porta vascular 
hipotálamo-hipofisário, coordenando as funções das gônadas.
Entretanto, muitos fenômenos não podiam ser explicados exclusivamente pelo 
controle neuroendócrino. Portanto, nos últimos anos testemunhou-se a descober-
ta de determinados mensageiros químicos (fatores de crescimento), bem como 
a presença de sistemas regulatórios parácrinos e autócrinos nas gônadas. Tais 
avanços ajudaram a desvendar fenômenos que não conseguiram ser explicados 
apenas pelo controle neuroendócrino.
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
42 IEPEC
Figura 15:. Cronologia da modificação dos conceitos sobre o controle da reprodução 
em mamíferos.
 » (A) O SNC atua através das vias nervosas (controle nervoso).
 » (B) A descoberta do sistema endócrino (SE) mudou a ênfase do 
SNC para controle endócrino.
 » (C) Mais tarde, o reconhecimento do sistema porta hipotalâmico-
hipofisário propiciou a rota para hormônios hipotalâmicos contro-
larem a hipófise anterior (controle neuroendócrino).
 » (D) os reguladores intragonadais ou fatores de crescimento, agin-
do via mecanismos autócrinos/parácrinos, modulam a secreção 
dos hormônios gonadotróficos hipofisários. FONTE: HAFEZ e HAFEZ 
(2004).
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
43O portal do agroconhecimento
Ambos os sistemas, nervoso e endócrino, funcionam no sentido de iniciar, coor-
denar ou regular as funções do sistema reprodutivo. Diferentemente do sistema 
nervoso, que controla as funções orgânicas por meio de impulsos nervosos elé-
tricos como, por exemplo, a regulação musculoesquelética, o sistema endócrino 
utiliza mensageiros químicos ou hormônios para regular processos orgânicos 
mais lentos, como o crescimento e a reprodução.
Um hormônio é classicamente definido como uma substância química fisiológica, 
orgânica, sintetizada e secretada por uma glândula endócrina sem ducto e trans-
portada via corrente sanguínea. Os hormônios têm a ação básica de estimular, 
inibir ou regular a atividade funcional de seus órgãos ou tecidos-alvo. Entretanto, 
órgãos como o útero e hipotálamo produzem hormônios que não se enquadram 
nessa definição clássica.
Além dos hormônios das glândulas endócrinas, os “fatores de crescimento” são 
substâncias peptídicas relacionadas aos hormônios e que controlam o crescimen-
to e o desenvolvimento de diversos órgãos, tecidos e células em cultivo. Diferen-
temente dos hormônios, os fatores de crescimento são produzidos e secretados 
por células de diferentes tecidos para se difundirem por meio das células-alvo.
Os objetivos deste capítulo são:
 » Discutir os conceitos de hormônios, bem como seus tipos e modos 
regulatórios;
 » Discutir a anatomia funcional das glândulas endócrinas e seus 
principais hormônios envolvidos no controle reprodutivo das fê-
meas bovinas;
 » Discutir a importância do eixo-hipotalâmico-hipofisário-gonadal na 
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em Bovinos Leiteiros
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regulação hormonal reprodutiva;
 » Descrever a cronologia da ocorrência da puberdade em fêmeas 
bovinas;
 » Descrever os eventos celulares e endócrinos durante a foliculogê-
nese, maturação oocitária e ovulação regulação hormonal e sua 
importância na fisiologia reprodutiva dos bovinos.
 » Discutir a endocrinologia do ciclo estral das fêmeas bovinas.
2.2 Hormônios
Atualmente se conhecem mais de 50 hormônios. Na Tabela 2.1 se relacionam 
os principais hormônios com efeito na função reprodutiva. Existem quatro grupos 
químicos de hormônios da reprodução: peptídeos, esteroides, ácidos graxos e 
aminas. Os vários tipos de hormônios têm diferentes características quanto a sua 
forma de síntese, armazenagem, meia-vida, forma de transporte no sangue e 
mecanismo de ação.
Tabela 2: Principais hormônios que agem na função reprodutiva 
feminina.
Hormônio Órgão secretor Órgão-alvo Principal ação
GnRH Hipotálamo Adeno-hipófise Liberação de LH
PIF Hipotálamo Adeno-hipófise Inibe a liberação 
de PRL
PRF Hipotálamo Adeno-hipófise Liberação de PRL
Prolactina Adeno-hipófise Glândula mamária Favorece a lactação
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
45O portal do agroconhecimento
Hormônio Órgão secretor Órgão-alvo Principal ação
FSH Adeno-hipófise Folículo ovariano Maturação folicular
LH Adeno-hipófise Ovário
Ovulação, manu-
tenção do corpo 
lúteo e maturação 
oocitária
Ocitocina Corpo lúteo Miométrio Favorece o parto
Ocitocina Hipotálamo Glândula mamária Favorece a descida 
do leite
Tiroxina Tireoide Todas as células Aumento do meta-
bolismo
Triiodotironina Tireoide Todas as células Aumento do meta-
bolismo
Estrógeno Ovário Órgãos sexuais 
secundários
Função cíclica ova-
riana e caracteres 
sexuais
Estrógeno Ovário Glândula mamária Desenvolvimento
Progesterona Ovário Glândula mamária Desenvolvimento 
mamário
Progesterona Ovário Útero Manutenção da 
gestação
Relaxina Ovário Sínfise pubiana Relaxamento do 
canal do parto
hCG Placenta Ovário Similar ao LH
eCG Placenta Ovário Similar ao FSH
Lact. plac. Glândula mamária Glândula mamária
Similar ao hormônio 
do crescimento 
(GH) e PRL
PGF2α Miométrio Corpo lúteo Luteólise
PGF2α Miométrio Miométrio Contração uterina
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46 IEPEC
Os hormônios peptídicos podem ter desde 3 até 200 resíduos de aminoácidos, 
com peso molecular variando entre 300 e 70.000 dáltons e constituem o grupo 
de hormônios mais numeroso. Os principais órgãos que produzem hormônios 
peptídicos são o hipotálamo, a hipófise, as ilhotas pancreáticas, a placenta, a 
glândula paratireoide e o trato gastrointestinal. Exemplos: FSH, LH e ocitocina.
Os hormônios esteroides são derivados principalmente do colesterol, com peso 
molecular entre 300 e 400 dáltons. São produzidos pelo córtex adrenal, pelas 
gônadas e pela placenta, e incluem os corticosteroides, os estrógenos, os andró-
genos e a progesterona. Neste grupo está incluída a forma hormonal da vitamina 
D (1,25-dihidroxi-colecalciferol).
Os hormônios do grupo das aminas são derivados da tirosina ou do triptofano. 
Incluem as catecolaminas, que são produzidas pela medula adrenal e algumas 
células nervosas, e as iodotironinas, derivadas do aminoácido tirosina, que são 
produzidas exclusivamente pela tireoide. A melatonina também se enquadra no 
neste grupo, sendo produzida a partir do triptofano.
Finalmente, os ácidos graxos (eicosanoides) incluem as prostaglandinas, os leu-
cotrienos e os tromboxanos, compostos derivados do ácido araquidônico, produ-
zidos em quase todos os tecidos e com peso molecular em torno de 400 dáltons. 
Na função reprodutiva são importantes a PGF2α e a PGE
2
.
2.2.1 Modos de comunicação intercelular
O sistema nervoso central era considerado o principal dos sistemas orgânicos 
até a descoberta das glândulas endócrinas. A partir daí, compreendeu-se que a 
regulação da reprodução era compartilhada por dois sistemas distintos, com o hi-
potálamo servindo de interface entre ambos. Atualmente, mensageiros químicos 
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
47O portal do agroconhecimento
que não se encaixam em nenhum dos dois sistemas, os fatores de crescimento, 
estão sendo descobertos como importantes fatores no controle da reprodução.
As células se comunicam entre si por meio de mensageiros químicos, como 
peptídeos, esteroides, aminas e ácidos graxos. Portanto,existem quatro modos 
de comunicação intercelular: endócrina, parácrina, autócrina e neural (Figura 16).
Figura 16: Modos de comunicação intercelular. Fatores de crescimento produzidos 
localmente agindo de diferentes modos nas células-alvo. Fonte: HAFEZ e HAFEZ 
(2004).
2.2.1.1 Hormônios do sistema endócrino hormonal
No sistema endócrino, o hormônio é sintetizado e armazenado em células es-
pecializadas de uma glândula anatomicamente definida. Estes hormônios são 
liberados na corrente sanguínea e transportados (geralmente por proteínas 
específicas de transporte) a um órgão-alvo, geralmente distante da origem.
O sistema endócrino inclui glândulas secretórias que liberam seus hormônios na 
circulação geral (por exemplo, a insulina) ou ainda em sistemas de circulação 
fechada (como o GnRH).
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2.2.1.2 Hormônios parácrinos
São denominados parácrinos os hormônios que influenciam células ou órgãos em 
sua vizinhança imediata. Por exemplo, os andrógenos produzidos pelas células da 
teca interna, para agir nas células da granulosa adjacentes no interior do folículo 
ovariano.
2.2.1.3 Hormônios autócrinos
Um processo autócrino se refere ao mecanismo em que a célula produtora é 
também a célula-alvo. Exemplo: prostaglandinas.
2.2.1.4 Neurotransmissores
Os neurotransmissores estão sendo frequentemente considerados hormônios nos 
dias de hoje, isto é, são mensageiros hormonais. Neurotransmissores como a 
acetilcolina podem também ser considerados hormônios parácrinos.
O conhecimento a respeito das funções endócrinas é bem maior do que em 
relação ao restante do sistema hormonal. Nos últimos anos, pesquisadores têm 
dado mais atenção às funções parácrinas e endócrinas, mas muitos detalhes 
ainda são pouco compreendidos.
Após atingir uma célula-alvo, o hormônio deve provocar uma reação, ativada pe-
los receptores específicos da célula-alvo. Os receptores são estruturas molecula-
res com alta afinidade específica para uma determinada configuração hormonal.
Assim, os receptores exercem duas importantes funções:
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
49O portal do agroconhecimento
a) Reconhecimento do hormônio específico pela célula-alvo;
b) Tradução do sinal em uma resposta celular específica.
A estrutura bioquímica dos receptores hormonais pode variar, mas em geral, cada 
um deles pode reconhecer e interagir com uma unidade hormonal altamente 
específica (em contraste com o modelo chave-fechadura que rege a interação 
substrato-enzima).
Todos os receptores apresentam dois componentes chave:
 » um domínio de ligação que se liga especificamente ao hormônio 
correspondente;
 » um domínio efetor, que reconhece o complexo formado pela liga-
ção entre o domínio de ligação e o hormônio, e ativa a resposta 
biológica específica da célula, a qual geralmente envolve a ativa-
ção ou desativação de enzimas nas células-alvo.
Os receptores de hormônios esteroides (lipofílicos) são geralmente encontrados 
no citosol e no núcleo das células-alvo, onde interagem diretamente com o DNA. 
Já os receptores para peptídeos e hormônios proteicos (lipofóbicos) geralmente 
se localizam na membrana externa da célula. A maioria dos receptores, especial-
mente os da membrana celular, requer um segundo mensageiro para transmitir 
a mensagem. Um dos segundos mensageiros mais conhecidos é o AMP cíclico 
(cAMP), representado na Figura 17. Após ligar-se ao receptor, o hormônio ativa 
o sistema adenilciclase na membrana celular.
O ATP é então convertido em AMP cíclico. O segundo mensageiro cAMP, por 
sua vez, ativa a cAMP-proteína-quinase-A que se torna uma unidade catalítica 
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ativa e uma unidade regulatória. A unidade catalítica ativa da proteína-quinase 
estimula a fosforilação de uma proteína ou enzima, que provoca então os efeitos 
celulares, como síntese proteica, crescimento ou secreção hormonal. Como as 
concentrações hormonais circulantes geralmente são baixas, o receptor precisa 
ter um mecanismo de captura muito eficiente.
Figura 17: AMP cíclico como segundo mensageiro. FONTE: INTERVET (2006).
O efeito da secreção de um hormônio endócrino pode variar, conforme a cir-
cunstância particular. O número e o tipo de receptores de uma célula-alvo não 
são fixos, e sua formação e degradação é um processo dinâmico. A função de 
um hormônio em uma célula pode ser a indução ou a degradação de receptores 
para outro mensageiro. Além disso, os receptores podem ser bloqueados por 
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
51O portal do agroconhecimento
uma quantidade excessiva de hormônio. Neste caso, a superestimulação por 
doses maiores que a dose normal não irá potencializar o efeito. Muitas condições 
patológicas no processo reprodutivo são causadas por distúrbios em receptores 
hormonais.
2.2.2 Regulação da secreção hormonal
O sistema nervoso desempenha papel essencial na regulação da atividade go-
nadal por meio do mecanismo de retroalimentação endócrina das vias neurais e 
do controle imunoendócrino.
2.2.2.1 Retroalimentação endócrina
2.2.2.1.1 Gônadas
Um hormônio da glândula-alvo (por exemplo, o estrógeno) pode influenciar a 
secreção do estímulo trófico que causou sua liberação (por exemplo, FSH). O 
controle por retroalimentação (feedback) ocorre no nível do hipotálamo e da 
hipófise (Figura 18). Dependendo de suas concentrações na corrente circulatória, 
os hormônios esteroides podem exercem uma retroalimentação estimulatória 
(positiva) ou inibitória (negativa).
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52 IEPEC
Figura 18: Complexo hipotalâmico-hipófise. Células nervosas hipotalâmicas liberan-
do neuro-hormônios nos vasos porta para transportar à hipófise anterior via vasos 
hipotalâmicos-hifofisários. Partículas sólidas nas células nervosas representam 
neuro-hormônios. O sangue é transportado pelo sistema venoso retrógrado de 
volta para o hipotálamo. FONTE: HAFEZ e HAFEZ (2004).
2.2.2.1.2 Retroalimentação inibitória ou negativa (Feedback 
negativo)
Esse sistema envolve inter-relações recíprocas entre duas ou mais glândulas e 
órgãos-alvo. Por exemplo, a estimulação dos ovários pelo FSH eleva a secreção 
de estrógenos, os quais, aumentando na corrente circulatória, consequentemente 
diminuem a secreção de FSH. De modo semelhante, quando os hormônios hipo-
fisário alcançam um determinado nível, alguns núcleos hipotalâmicos respondem 
diminuindo a produção de seus hormônios liberadores específicos, há um declínio 
na secreção do hormônio trófico hipofisário e, finalmente, uma diminuição do 
nível funcional da glândula-alvo.
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
53O portal do agroconhecimento
2.2.2.1.2 Retroalimentação estimulatória ou positiva (Feedback 
positivo)
Nesse sistema, a elevação de determinado hormônio provoca o aumento de 
outro hormônio. Por exemplo, o aumento dos níveis de estrógeno durante a 
fase pré-ovulatória acarreta um pico do LH hipofisário. Esses dois eventos são 
precisamente sincronizados, uma vez que o pico de LH é necessário para a ruptura 
do folículo ovariano.
2.2.2.1.3 Retroalimentação de alça longa e curta
Tanto os hormônios hipofisário quanto os esteroides regulam a síntese, o ar-
mazenamento e a liberação dos hormônios hipotalâmicos por meio de dois 
mecanismos de retroalimentação: alça longa e alça curta. O mecanismo de re-
troalimentação de alça longa envolve a interação entre a gônada, a hipófise e o 
hipotálamo. Enquanto que o de alça curta permite às gonadotrofinas hipofisárias 
influenciar a atividade secretória dos hormônios liberadores hipotalâmicos sem 
a mediação das gônadas.
2.2.2.1.4 Reflexo neuroendócrino
Além dos mecanismos de retroalimentação acima citados, o sistema nervoso 
também pode controlar a liberação de hormônios por meio de vias nervosas, 
como, porexemplo, a descida do leite pela ocitocina.
2.2.2.1.5 Controle imunoendócrino
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
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54 IEPEC
Os sistemas endócrino e imune interagem extensivamente regulando-se entre si. 
Diversos órgãos endócrinos estão envolvidos em alguns aspectos desse processo 
regulatório: hipotálamo, hipófise, gônadas, adrenais, pineal, tireoide e timo. Mui-
tos desses órgãos são afetados pela função imune.
2.3 Glândulas endócrinas
2.3.1 Hipotálamo
O hipotálamo é uma porção especializada do sistema nervoso central (SNC) que 
se encontra situada na base do cérebro (região do terceiro ventrículo), acima e 
atrás do quiasma óptico, estendendo-se do quiasma óptico aos corpos mamilares 
(Figura 19).
Figura 19: Desenho esquemático dos núcleos hipotalâmicos e da hipófise. AH, 
adeno-hipófise; ARQ, núcleo arqueado; AHA, área hipotalâmica anterior; AHD, área 
hipotalâmica dorsal; NMD, núcleo medial dorsal; EM, eminência média; NH, neuro-
hipófise; CM, corpo mamilar; PM, núcleo pré-mamilar; QO, quiasma óptico; NPV, 
núcleo paraventricular; NPO, núcleo pré-óptico; AHP, área hipotalâmica posterior; PT, 
pars tuberalis; NSQ, núcleo supraquiasmático; NOS, núcleo supra-óptico; NVM, núcleo 
ventro-medial. FONTE: HAFEZ e HAFEZ (2004).
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
55O portal do agroconhecimento
Os elementos celulares hipotalâmicos que regulam a secreção da hipófise an-
terior não estão localizados em uma região específica. No entanto, os núcleos 
nervosos mais importantes do hipotálamo foram identificados como o supra-
óptico e o paraventricular.
Existem conexões neurais entre o hipotálamo e a hipófise posterior através pelo 
eixo hipotalâmico-hipofisário e conexões vasculares do hipotálamo com a hipó-
fise anterior (Figura 18). O sangue arterial ganha a hipófise através da artéria 
hipofisária superior e inferior. A artéria hipofisária superior forma alças capilares 
no nível da eminência média e hipófise posterior. Destes capilares, o sangue 
flui para o sistema porta-hipotalâmico-hipofisário, o qual começa e termina em 
capilares sem a passagem pelo coração. Parte do fluxo venoso que sai da hipófise 
anterior se dá através de um fluxo retrógrado, que expõe o hipotálamo a altas 
concentrações dos hormônios da hipófise anterior. Tal fluxo sanguíneo possibilita 
ao mecanismo hipofisário a retroalimentação negativa de regulação das funções 
hipotalâmicas. Esse tipo de retroalimentação é conhecido como retroalimentação 
de alça curta.
Os hormônios hipotalâmicos relacionados com a reprodução incluem o Hormônio 
Liberador de Gonadotrofinas (GnRH), os Fatores Liberador (PRF) e Inibidor (PIF) da 
Prolactina, o Hormônio Liberador de Tireotropina (TRH) e o Hormônio Liberador 
de Corticotropina (CRH). O hipotálamo ainda é a principal fonte de ocitocina e 
vasopressina, que são estocadas na hipófise posterior.
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56 IEPEC
2.3.1.1 Hormônio Liberador de Gonadotrofinas (GnRH)
O GnRH é um hormônio decapeptídeo (p-Glu-His-Trp-Ser-Tyr-Gly-Leu-Arg-Pro-
Gly-NH
2
) com peso molecular de 1.183 dáltons, sintetizado e armazenado no 
hipotálamo basal médio. O GnRH fornece uma ligação humoral entre os sistemas 
nervoso e endócrino. Em resposta à estimulação nervosa, pulsos de GnRH são 
liberados no sistema porta-hipotalâmico-hipofisário promovendo a liberação do 
Hormônio Luteinizante (LH) e Hormônio Folículo-Estimulante (FSH) da hipófise 
anterior.
A secreção dos hormônios liberadores hipotalâmicos é modulada pelos níveis 
dos hormônios secretados nos órgãos-alvo primários e secundários. No caso do 
GnRH, o controle da secreção na fêmea é feito pelas próprias gonadotrofinas 
hipofisiárias (LH e FSH), progesterona e o estradiol.
Existem agonistas sintéticos do GnRH que são utilizados com fins terapêuticos na 
prática veterinária. Um deles, a buserelina, é 17 vezes mais potente que o GnRH 
natural devido a sua menor taxa de degradação e, portanto, maior meia-vida.
2.3.1.2 Fator Liberador Prolactina (PRF), Fator Inibidor de Prolactina 
(PIF) e Hormônio Liberador de Tireotropina (TRH)
Os fatores PRF e PIF controlam a biossíntese e a secreção da prolactina. O efeito 
inibitório parece prevalecer durante o estado basal através do PIF. A secreção 
de prolactina também é estimulada por neurotensina, substância P, histamina, 
serotonina e agentes α-adrenérgicos. O Hormônio Liberador de Tireotropina (TRH) 
tem sido pesquisado como o PRF devido a que estimula a secreção de prolactina.
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
57O portal do agroconhecimento
O TRH é um tripeptídeo, sendo o menor hormônio peptídico que se conhece e 
tendo a seguinte sequência: p-Glu-His-Pro-NH
2
. O TRH estimula a liberação de 
tireotropina (TSH) e prolactina (PRL) na hipófise e sua secreção é controlada pelos 
hormônios tireoidianos (T
3
 e T
4
) e pelo TSH. Seu mecanismo de ação é através 
do cAMP.
2.3.2 Hipófise (Glândula Pituitária)
A hipófise está localizada na sela túrcica, uma depressão óssea localizada na base 
do cérebro, logo, diretamente abaixo do hipotálamo.
A hipófise ou pituitária é uma estrutura altamente complexa formada por grupos 
celulares que sintetizam diferentes tipos de hormônios. É dividida em três por-
ções: hipófise anterior; hipófise posterior; e lóbulo intermediário.
2.3.2.1 Adeno-hipófise ou hipófise anterior
Os tipos celulares da hipófise anterior têm sido tradicionalmente classificados de 
acordo com suas características de coloração, em cromófilos acidófilos e basófilos. 
A hipófise anterior tem cinco tipos diferentes de células, que secretam seis hor-
mônios: os gonadótrofos, que secretam o Hormônio Folículo-Estimulante (FSH) 
e o Hormônio Luteinizante (LH); os mamótrofos, responsáveis pela secreção de 
prolactina; os corticótrofos, que secretam o Hormônio adenocorticotrófico (ACTH); 
os tireótrofos, que secretam o Hormônio Tireotrópico (TSH); e os somatótrofos, 
que secretam o Hormônio do Crescimento (GH).
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58 IEPEC
2.3.2.1.1 Hormônio Folículo-Estimulante (FSH) e o Hormônio 
Luteinizante (LH)
Cada subunidade proteica das gonadotropinas possui duas cadeias de oligossa-
carídeos unidos por ligações N-glicosídicas, sendo as unidades monossacarídicas 
mais comuns manose, glicosamina, fucose e ácido siálico. Este último é o respon-
sável pela meia-vida do hormônio devido ao fato de que antes da degradação do 
hormônio, deve ocorrer a remoção dos resíduos de ácido siálico. Assim, quanto 
maior é a proporção de ácido siálico na molécula, maior é a meia-vida do hor-
mônio (Tabela 3).
Tabela 3: Conteúdo de carboidratos e meia-vida das gonadotropi-
nas.
Hormônio
Peso 
molecular 
(Dáltons)
Glicódios 
(%)
Ácido siáli-
co (%)
Meia-vida 
(horas)
LH 28.500 16 1-2 0,5
FSH 34.000 30 5 2
hCG 36.700 32 8,5 11
eCG 68.000 48 10,4 26
A secreção das gonadotropinas hipofisiárias está sob controle do GnRH hipotalâ-
mico, obedecendo a uma modulação feedback negativa por parte dos esteroides 
gonadais (estrógeno e progesterona na fêmea, testosterona no macho). A secre-
ção basal das gonadotropinas é pulsátil sendo interrompida por um pico massivo 
de LH durante o estro, no caso dos mamíferos que têm ovulação espontânea. 
Esse pico de LH é disparado por um pico de GnRH hipotalâmico, o qual, por sua 
vez, é causado por um aumento na liberação de 17β-estradiol durante o proestro 
(feedback positivo).
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
59O portal do agroconhecimento
Os agentes opioides endógenos causam diminuição, tanto da frequência quanto 
da altura, dos picos de secreção de LH. Este fato pode ter importância quando 
se relaciona o estresse, e a consequente secreção de opioides endógenos com 
inibição da função reprodutiva.
O FSH na fêmea é responsável pelo crescimento e a maturação dos folículos 
ovarianos ou folículosde De Graaf. O FSH por si só não causa a secreção de 
esteroides (estrógenos) no ovário; ao contrário, o FSH necessita da presença do 
LH para estimular a produção estrogênica.
O LH tem como função de maturação oocitária, induzir a ovulação e manter o 
corpo lúteo, além de estimular, junto com o FSH, a secreção de esteroides no 
ovário (estrógenos antes da ovulação e progesterona no corpo lúteo).
2.3.2.1.2 Prolactina
A prolactina (PRL) ou hormônio lactogênico é sintetizado nas células mamotró-
picas da adeno-hipófise. É o maior hormônio peptídico que existe (199 amino-
ácidos, peso molecular 23,3 kDa) considerando uma cadeia só. Existe grande 
variabilidade das PRLs entre as distintas espécies. A meia-vida da PRL é de 15 
minutos.
A secreção de prolactina é pulsátil sendo controlada inibitoriamente por ação 
da dopamina (PIF) e estimulada pelas endorfinas, pois estas inibem a secreção 
de dopamina. A secreção de PRL também está favorecida por PRF, TRH, estróge-
nos, progesterona e por estímulos neurogênicos como a sucção das tetas pelo 
lactente, a ordenha ou por sensações de calor, dor e estresse. Os estrógenos, 
especialmente o 17β-estradiol, estimulam a secreção de prolactina por inibir o 
fator inibidor de prolactina (dopamina) e, também, aumentam a secreção de 
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60 IEPEC
PRL por modular os receptores de TRH, hormônio que estimula a secreção de PRL 
na hipófise. A secreção de PRL pode ser inibida por derivados do ergot como a 
bromocriptina, um agonista da dopamina. A PRL pode também regular sua pró-
pria secreção atuando diretamente sobre o hipotálamo (feedback de alça curta 
sobre o TRH). A dopamina, que constitui o único fator hipotalâmico não-peptídico, 
parece atuar impedindo a mobilização de Ca+2 ao interior da célula lactotrópica 
secretora da prolactina na adeno-hipófise. A amamentação parece inibir a secre-
ção da dopamina e, portanto, aumenta os níveis de prolactina. A prolactina, por 
sua vez, provoca a liberação de dopamina da eminência média, conformando 
uma regulação feedback negativa. A PRL é secretada com flutuações durante os 
diferentes estágios do ciclo reprodutivo e sua concentração se difere entre as 
espécies domésticas (Tabela 4). Aumentos de PRL ocorrem durante a ovulação e 
também durante a fase luteal do ciclo ovariano na vaca.
Tabela 4: Níveis sanguíneos de prolactina em várias espécies.
Espécie Valor (ng/mL)
Cadela (anestro) 9,1 ± 1,2
Cadela (2ª semana de lactação) 86 ± 19
Cadela (pós-parto) 117 ± 24
Cadela (ovarioectomizada) 7,9 – 11,5
Gata (início de gestação) 7,0 ± 0,3
Gata (fim de gestação) 43,5 ± 4,5
Vaca (fase luteal) 23,3 ± 4,8
Vaca (fase folicular) 15,8 ± 2,7
Porca (2ª semana de lactação) 9,1 – 26,1
Porca (pós-desmame) 1,4 – 1,9
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
61O portal do agroconhecimento
Também ocorre aumento de PRL durante a lactação e no parto. A prolactina 
faz parte do complexo mamotrófico que promove o crescimento da glândula 
mamária, junto com o hormônio do crescimento, estradiol, progesterona, glico-
corticoides e hormônios tireoidianos.
A PRL tem efeito luteotrópico na ovelha e roedores, mas não na vaca. Em vários 
animais, a PRL parece ter um efeito inibitório sobre a secreção das gonadotro-
pinas hipofisiárias, pelo qual tem sido sugerido que a PRL seria um hormônio 
anti-gonadotrópico, uma vez que estimula a biossíntese de dopamina, a qual tem 
efeito negativo sobre a secreção de GnRH.
A PRL tem sido responsabilizada pela ação inibitória da amamentação sobre o 
início da atividade ovárica durante o pós-parto em vacas de corte. Por outro lado, 
tem sido utilizada bromocriptina, agente agonista da dopamina, com a ideia de 
desbloquear o suposto efeito da PRL sobre a ciclicidade ovárica em vacas. Foi 
encontrado que a bromocriptina causa diminuição dos níveis de PRL, porém sem 
ocorrer redução do intervalo do parto ao primeiro cio pós-parto e nem aumento 
nos níveis de LH. Os indícios levam a aceitar que é o efeito do estímulo neural 
do amamentamento como tal e não a maior quantidade de PRL secretada, o 
responsável pela supressão da secreção de gonadotropinas durante o pós-parto 
de vacas de corte.
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
62 IEPEC
2.3.2.1.3 ACTH ou corticotropina
O mais importante glicocorticoide envolvido na reprodução dos animais domésti-
cos é o cortisol. A concentração sérica média de cortisol em bovinos oscila entre 
2 e 12 mg/ml.
A secreção de glicocorticoides é controlada pelo hipotálamo. O estressor atua, 
via sistema nervoso central, sobre as células neuro-secretoras do hipotálamo, as 
quais reagem com uma maior secreção do Hormônio Liberador de Corticotropina 
(CRH). Através de um sistema portal vascular, o CRH é transportado do hipotála-
mo até os lóbulos anteriores da hipófise onde provoca uma elevada secreção 
do hormônio adenocorticotrófico (ACTH) ou corticotrofina. Circulando na corrente 
sanguínea, este estimula o córtex da adrenal a produzir glicocorticoides (cortisol). 
Cinco minutos após a injeção com ACTH, soros sanguíneos de bovinos mostram 
elevada concentração de glicocorticoides.
A concentração de cortisol no plasma é regulada por um rígido mecanismo de 
feedback negativo. Em condições normais, a concentração sanguínea de cortisol 
atua, principalmente, sobre o hipotálamo, inibindo a secreção de CRH, reduzin-
do produção de ACTH e, consequentemente, reduzindo a secreção dos próprios 
hormônios do córtex adrenal.
Em condições de intenso e prolongado estresse (calórico, nutricional, ambiental 
etc.), os estressores estimulam diretamente a liberação de CRH, com secreção 
posterior de ACTH e cortisol, contornando o status “regulador” do hipotálamo e 
desprezando o feedback negativo. Com a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-
adrenal, ocorrem mudanças em quase todo sistema endócrino. Por exemplo, um 
organismo sob estresse, a hipófise secreta menos hormônio do crescimento, além 
de menos TSH e GnRH, conduzindo, os dois últimos, a uma reduzida atividade da 
tireoide e das gônadas. Dado o efeito catabólico e a gliconeogênese estimulados 
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
63O portal do agroconhecimento
pelos glicocorticoides, pode ocorrer constante degradação de tecidos musculares 
e gordurosos, assim como a inibição da síntese desses tecidos, resultando com 
isso a perda de peso e reduzido crescimento. Não menos importante é o efeito 
dos glicocorticoides causando a atrofia do sistema timo-linfático, diminuindo a 
concentração dos linfócitos e anticorpos, resultando na queda da resposta imu-
nológica do organismo no combate a quaisquer infecções.
2.3.2.2 Neuro-hipófise ou hipófise posterior
Os hormônios da hipófise posterior diferem dos outros hormônios hipofisário 
pelo fato de que não se originam da hipófise, mas são apenas armazenados ali 
até quando forem necessários, pois são produzidos no hipotálamo (Figura 20). 
A neuro-hipófise possui terminações axônicas de neurônios hipotalâmicos que 
armazenam dois hormônios: a arginina-vasopressina (AVP) ou hormônio anti-
diurético (ADH) e a ocitocina (hormônio da descida do leite). Esses hormônios 
são transferidos do hipotálamo para a hipófise posterior não através do sistema 
porta vascular, mas ao longo dos axônios do sistema nervoso. Do ponto de vista 
reprodutivo o hormônio neuro-hipofisiário de interesse é a ocitocina.
Os neurônios produtores da ocitocina no hipotálamo têm em abundância retículos 
endoplasmáticos rugosos e aparelhos de Golgi, além de grânulos secretores, 
os quais se localizam no corpo do neurônio e nos axônios que se estendem à 
neuro-hipófise. Os neurônios secretores de ocitocina se encontram em núcleos 
específicos do hipotálamo: o núcleo supraóptico e o núcleo paraventricular. Os 
hormônios, dentro dos grânulos, estão unidos a uma proteína transportadora cha-
mada neurofisina e são secretadosà circulação desta forma. Existe uma grande 
similaridade entre as neurofisinas de bovinos, suínos e equinos.
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em Bovinos Leiteiros
64 IEPEC
Figura 20: Conexão nervosa entre o hipotálamo e hipófise posterior. PVN, núcleo 
paraventricular; SON, núcleo supra-óptico. Fonte: CUNNINGHAM (1999).
2.3.2.2.1 Ocitocina
A secreção da ocitocina é estimulada via neurogênica por amamentação, ordenha, 
parto, dilatação cervical ou vaginal ou estímulo clitoridiano, sendo a acetilcolina 
o modulador estimulante e a adrenalina e a noradrenalina os agentes inibidores. 
Os níveis de ocitocina têm variações entre as espécies (Tabela 5) e durante 
o ciclo estral na vaca, ovelha e cabra. A concentração sanguínea de ocitocina 
aumenta depois do pico pré-ovulatório de LH e diminui depois da regressão do 
corpo lúteo. Os estrógenos ovarianos estimulam a liberação de ocitocina pituitária 
enquanto que a progesterona a inibe. Têm sido encontrados outros fatores não-
reprodutivos, como o estresse, que afetam a liberação de ocitocina.
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
65O portal do agroconhecimento
Tabela 5: Concentração plasmática de ocitocina em alguns animais.
Espécie Valor (pmol/L)
Cadela (lactação) 15 – 66
Vaca (pré-odenha) 1,6 ± 0,6
Cabra (basal) 4,5 ± 1,0
A ocitocina desempenha um importante papel na fase folicular do ciclo estral, 
estimulando a contração uterina para facilitar o transporte dos espermatozoides 
para o oviduto durante o estro (cio).
A dilatação da cérvix no momento do parto, causada pela passagem do feto, 
estimula a liberação reflexa de ocitocina (Reflexo de Ferguson; Figura 21) que 
promove a contração do miométrio, facilitando a expulsão do feto e da placenta.
Figura 21: Esquema do reflexo de Ferguson ou de expulsão do feto. Através do ner-
vo pudendo, realizada pela presença das bolsas fetais e/ou feto no canal vaginal, 
estabelece-se um estímulo na medula espinhal que resulta na ocorrência dos esfor-
ços por meio das contrações abdominais. FONTE: PRESTES e LANDIM-ALVARENGA 
(2006).
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em Bovinos Leiteiros
66 IEPEC
A ocitocina também causa a contração das células mioepiteliais (células muscu-
lares lisas) que circundam os alvéolos da glândula mamária durante a lactação, 
resultando na descida do leite. Na fêmea lactente, estímulos táteis, visuais, olfati-
vos e auditivos associados à sucção ou ordenha induzem a liberação de ocitocina 
na corrente sanguínea.
O estrógeno é necessário para a ação da ocitocina, pois estimula a síntese de 
receptores para ocitocina; portanto os estrógenos aumentam a resposta do útero 
à ocitocina. A progesterona, por sua parte, inibe a secreção de ocitocina, o que 
explica que durante a gestação a resposta do útero à ocitocina está muito redu-
zida. A adrenalina, secretada no estresse, diminui a descida do leite da glândula 
mamária por bloquear a ação da ocitocina mediante a inibição de sua secreção 
na neuro-hipófise e também, possivelmente, por bloquear os receptores da oci-
tocina nas células mioepiteliais.
O corpo lúteo também secreta a ocitocina, estando envolvida no processo da lute-
ólise (regressão do corpo lúteo) na maioria dos mamíferos. A ocitocina ovariana, 
secretada sem a neurofisina, tem receptores no endométrio e sua ação estimula 
a biossíntese de prostaglandina-F
2α (PGF
2α). A síntese dos receptores de ocitocina 
no endométrio é estimulada por 17β-estradiol. Portanto, a ocitocina tem dois 
sítios de origem: um hipotalâmico e outro ovariano.
2.3.3 Gônadas (ovários)
Os ovários desempenham um papel duplo: a produção de células germinativas 
(gametogênese) e a secreção de hormônios gonadais (esteroidogênese). As uni-
dades estruturais e funcionais do ovário que garantem essas funções são: folículo 
ovariano (gametogênese e esteroidogênese) e o corpo lúteo (esteroidogênese).
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
67O portal do agroconhecimento
As células intersticiais ovarianas ou células da teca interna do folículo ovariano 
são as fontes primárias dos estrógenos circulantes. Após a ruptura do folículo 
(ovulação), as células da granulosa e da teca são substituídas pelo Corpo Lúteo 
(CL), que secreta a progesterona. O estrógeno, progesterona e testosterona são 
hormônios esteroides derivados do colesterol (Figura 22). Na cascata da reação, 
o colesterol é uma molécula esteroide de 27 átomos de carbono que se con-
verte em pregnolona (20 átomos de carbono). A pregnolona é convertida em 
progesterona, que por sua vez, converte-se em andrógenos e estrógenos. Entre 
os sexos, a fêmea apresenta uma maior quantidade de enzimas específicas nesta 
cascata, o que lhe favorece maior facilidade em converter estrógenos a partir 
dos andógenos. Animais com baixa ou nenhuma reserva de gordura (colesterol) 
apresentam maior dificuldade em produzir esteroides reprodutivos, resultando 
em falhas reprodutivas na fêmea.
Os folículos contêm em seu interior as células germinativas ou ovócitos ou oóci-
tos. Com cada ciclo estral, vários folículos crescem e se desenvolvem, sendo que 
somente um folículo, nas espécies uníparas, ou alguns deles, nas espécies multí-
paras, serão ovulados. Os folículos são responsáveis pela produção de estrógenos 
e o corpo lúteo pela produção de progesterona. O ovário também é responsável 
pela produção de hormônios peptídicos, tais como, a inibina, o fator de inibição 
de maturação do ovócito, a relaxina e a gonadocrinina.
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68 IEPEC
Figura 22: Vias metabólicas envolvidas na produção dos principais hormônios este-
roides. Fonte: CUNNINGHAM (1999).
Os dois ovários não funcionam de igual maneira. Em ovelhas e cabras, 55 a 60 % 
das ovulações ocorrem no ovário direito, enquanto que na vaca este valor chega 
a 60-65 %. Na égua e na porca, o ovário esquerdo é mais ativo, produzindo 55 
a 60 % dos ovócitos.
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
69O portal do agroconhecimento
Diferentemente dos testículos, os ovários permanecem na cavidade abdominal. 
A forma do ovário varia em função da espécie e da fase do ciclo estral. 
O desenvolvimento dos folículos pode ser avaliado em função do seu tamanho, 
o número de camadas de células granulosas, o desenvolvimento das células da 
teca, a posição do ovócito dentro do cumulus oophorus e o tamanho do antro 
folicular (Figura 23). Em função desses fatores, os folículos podem ser classifica-
dos em:
 » Folículos primários ou primordiais: são ovócitos envolvidos por 
uma única camada de células foliculares planas ou cuboides, rode-
adas de tecido intersticial;
 » Folículos secundários: nos quais o número de células foliculares 
aumenta e passam a ser chamadas de células granulosas, com 
aparência irregular poliédrica e com pouco líquido folicular nos 
espaços intercelulares;
 » Folículos terciários: quando as células granulosas começam a se-
cretar uma grande quantidade de líquido folicular que se acumula 
nos espaços intercelulares, formando um antro. Nesse ponto, os 
capilares do estroma invadem a camada fibrosa de células que 
rodeia o folículo e formam uma camada vascular chamada de teca 
interna. Contudo, as células granulosas dentro do folículo estão 
privadas de suprimento sanguíneo pela membrana basal. A zona 
pelúcida que contorna o ovócito está rodeada por uma massa só-
lida de células granulosas radiais que formam a corona radiata;
 » Folículo de De Graaf ou folículo maduro: no qual as células da 
granulosa aumentam de tamanho, o antro aumenta em função da 
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
70 IEPEC
maior secreção de líquido folicular e o ovócito é pressionado pelo 
líquido para um extremo do folículo. O ovócito agora é rodeado 
por inúmeras células foliculares e forma o cumulus oophorus. As 
células deste folículo se diferenciam em células granulosas, sob amembrana basal, e em células das tecas interna e externa. O ovó-
cito apresenta duas membranas distintas, a membrana vitelina ou 
membrana plasmática, e a zona pelúcida, membrana homogênea 
composta de proteínas suscetíveis de serem dissolvidas por enzi-
mas proteolíticas.
Figura 23: Classificação fisiológica e morfológica dos folículos ovarianos. P, folículos 
primordiais; PM, folículos primários; S, folículos secundários; T, folículos terciários. 
FONTE: HAFEZ e HAFEZ (2004).
2.3.3.1 Estrógeno
O estradiol é o estrógeno primário, sendo que a estrona e o estriol representam 
outros estrógenos metabolicamente ativos.
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
71O portal do agroconhecimento
O 17β-estradiol é o estrógeno biologicamente ativo produzido pelos ovários, com 
quantidades menores de estrona. Todos os estrógenos são produzidos a partir 
dos andrógenos.
As células da teca interna são responsáveis pela produção de andrógenos que são 
transportados para as células da granulosa, no interior dos folículos ovarianos. A 
partir destes andrógenos, as células da granulosa secretam enzimas específicas 
para a conversão em estrógenos e liberados no fluido folicular e na corrente 
sanguínea.
Os estrógenos são carregados pela corrente sanguínea por meio de proteínas 
ligadoras. As funções dos estrógenos são:
 » Atuam no SNC induzindo o comportamento de estro (cio) na vaca;
 » Atuam no útero aumentando tanto a amplitude quanto a frequên-
cia das contrações, potencializando os efeitos da ocitocina e PGF
2α;
 » Desenvolvimento físico das características sexuais secundárias fe-
mininas;
 » Estimulam o crescimento dos ductos e desenvolvem as glândulas 
mamárias;
 » Exercem efeitos de feedback tanto negativos quanto positivos no 
controle da liberação de LH e FSH no hipotálamo. O efeito nega-
tivo ocorre no centro tônico do hipotálamo e o efeito positivo, no 
centro de pré-ovulatório.
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
72 IEPEC
Em ruminantes, os estrógenos também possuem um efeito anabólico proteico, 
aumentando o ganho de peso e o crescimento. O mecanismo pode estar rela-
cionado à habilidade dos estrógenos em estimular a hipófise para a liberação de 
maiores quantidade de hormônio do crescimento.
Dentre os estrógenos sintéticos disponíveis no mercado, destacam-se o benzoato 
de estradiol e o cipionato de estradiol. A explanação destes hormônios será 
abordada nos capítulos seguintes.
2.3.3.2 Progesterona
A progesterona é o progestágeno natural de maior prevalência, sendo secretada 
pelas células luteínicas do corpo lúteo, pela placenta e pelas glândulas adre-
nais. A progesterona, assim com os estrógenos e andrógenos, é transportada 
na corrente sanguínea por uma proteína de ligação. Sua secreção é estimulada 
primariamente pelo LH.
A progesterona desempenha as seguintes funções:
 » Prepara o endométrio para a implantação embrionária e a manu-
tenção da prenhez, aumentando a atividade secretora das glându-
las endometriais e inibindo a motilidade do endométrio;
 » Atua sinergicamente com os estrógenos na indução do comporta-
mento do estro;
 » Auxilia no desenvolvimento do tecido secretor (alvéolos) da glân-
dula mamária;
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
73O portal do agroconhecimento
 » Provoca a inibição do estro e do pico pré-ovulatório do LH quando 
em níveis elevados. Portanto, a progesterona desempenha papel 
fundamental na regulação hormonal do ciclo estral;
 » Inibe a motilidade uterina.
Alguns progestágenos sintéticos estão disponíveis para a sincronização do ciclo 
estral de ruminantes. Tais hormônios podem ser administrados por via oral, inse-
ridos no interior da vagina por meio de dispositivos intravaginais ou por implantes 
auriculares (subcutâneos) pelo período correspondente à fase luteínica do ciclo 
estral. A explanação destes hormônios será abordada nos capítulos seguintes.
2.3.3.3 Relaxina
A relaxina é um hormônio polipeptídico com peso molecular de 5.700 dáltons. A 
relaxina é secretada primariamente pelo corpo lúteo durante a gestação. A princi-
pal ação biológica da relaxina é a dilatação da cérvix e da vagina durante o parto. 
Ela inibe também as contrações uterinas e causa o crescimento das glândulas 
mamárias quando administradas em conjunto com o estradiol.
2.3.3.4 Inibina, ativina e folistatina
A inibina e a ativina foram isoladas de fluidos gonadais por causa de seus efei-
tos na produção de FSH. Elas são reguladoras parácrinas, pois modulam o sinal 
endócrino do LH.
As gônadas são as principais fontes de inibina e proteínas correlatas, que contri-
buem para a regulação endócrina do sistema reprodutivo. Na fêmea, as células 
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
74 IEPEC
da granulosa são as produtoras de inibina. As inibinas não são esteroides, mas 
proteínas compreendendo duas subunidades alfa e beta interligadas por pontes 
dissulfídicas, liberadas pela corrente sanguínea.
As inibinas desempenham um papel importante na regulação hormonal da folicu-
logênese ovariana durante o ciclo estral. Elas atuam como sinalizadores químicos 
para a hipófise sobre o número de folículos em crescimento no ovário. A inibina 
reduz a secreção de FSH até certo nível, o que mantém o número de ovulações 
espécie-específico tanto nas espécies mono quanto poliovulatórias. Pela inibição 
da liberação de FSH sem alteração da liberação de LH, as inibinas podem ser 
parcialmente responsáveis pela liberação diferenciada de LH e FSH pela hipófise.
O fluido folicular ovariano contém uma fração que estimula ao invés de inibir a 
secreção de FSH. As proteínas responsáveis por essa atividade são caracterizadas 
como ativinas. As ativinas são potentes liberadores de FSH, tendo ação contrária 
à inibina.
A folistatina é outra proteína isolada do fluido folicular ovariano. Ela não somente 
inibe a secreção de FSH como a inibina, mas também se liga à ativina, neutra-
lizando sua atividade biológica. Portanto, constitui-se num agente modulatório 
da secreção de FSH.
2.3.3.5 Prostaglandinas
As prostaglandinas, primeiramente foram isoladas de fluidos das glândulas se-
xuais acessórias do macho, receberam essa nomenclatura por causa de sua as-
sociação com a glândula prostática, sendo que quase todos os tecidos orgânicos 
podem secretá-las. O ácido aracdônico, um ácido graxo essencial, é o precursor 
da maioria das prostaglandinas mais intimamente associadas com a reprodu-
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
75O portal do agroconhecimento
ção, principalmente a prostaglandina F2α (PGF
2α) e a prostaglandina E2 (PGE
2
) 
(Figura 24). Na reprodução, as prostaglandinas estão envolvidas na liberação de 
gonadotrofinas, ovulação, regressão do corpo lúteo, motilidade uterina, parto e 
transporte de espermatozoides.
A maioria das prostaglandinas atua localmente no seu sítio de produção numa 
interação célula a célula e, portanto, não se encaixa perfeitamente na definição 
clássica dos hormônios. Mas, também podem ser liberadas na corrente sanguí-
nea para atuar em tecidos-alvo distantes de seu sítio de produção.
A PGF
2α é o agente luteolítico natural associado ao final da fase luteínica (corpo 
lúteo) do ciclo estral, permitindo o início de um novo ciclo quando da ausência 
de fertilização. Uma elevação nos níveis de estrógenos, os quais promovem o 
crescimento do miométrio, estimula a síntese e a liberação de PGF
2α. Ela é parti-
cularmente potente na interrupção da gestação em sua fase inicial. Em fêmeas 
prenhes, o embrião em desenvolvimento envia um sinal ao útero (reconheci-
mento materno da prenhez), prevenindo os efeitos luteolíticos da PGF
2α. 
Como nos casos de inflamação, na involução uterina pós-parto, as prostaglandi-
nas exercem importante função (BENCHARIF et al., 2000). Além de acelerar o 
processo de involução, a PGF
2α estimula a contração da camada muscular uterina 
(miométrio)após o parto. Esta substância é normalmente produzida pelo útero, 
sendo responsável pela correta involução uterina pós-parto, em tempo normal.
A capacidade da PGF
2α em induzir a luteólise é explorada para a manipulação do 
ciclo estral (sincronização do estro) e também para a indução do parto.
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
76 IEPEC
2.3.3.6 Hormônios placentários
A placenta secreta diversos hormônios idênticos ou com atividades biológicas 
similares aos hormônios reprodutivos dos mamíferos. Dentre eles, destacam-se: 
Gonadotrofina Coriônica Equina (eCG) e a Gonadotrofina Coriônica Humana (hCG).
O hormônio eCG (originalmente denominado PMSG) foi descoberto quando se 
verificou que o sangue de éguas prenhes produzia maturidade sexual quando 
administrado em ratos imaturos. A eCG é uma glicoproteína com subunidades 
alfa e beta similares ao LH e ao FSH, porém com conteúdo de carboidrato mais 
elevado (principalmente o ácido siálico). O alto conteúdo de ácido siálico parece 
contribuir para a longa meia-vida de diversos dias da eCG. Portanto, uma única 
administração de eCG possui efeitos biológicos por mais de uma semana. Este 
hormônio é comumente utilizado em programas de IATF, com a finalidade de 
prolongar a ação folículo estimulante no folículo dominante.
O útero equino secreta gonadotrofina placentária, sendo os cálices endometriais a 
fonte específica da eCG. Tais cálices, que são formados ao redor de 40 dias, per-
manecem até 85 dias de gestação. A eCG possui atividade biológica semelhante 
ao FSH e ao LH, porém, predominantemente ao FSH. A eCG circula na corrente 
sanguínea das éguas prenhes e não é excretada na urina. A secreção de eCG es-
timula o desenvolvimento dos folículos ovarianos. Alguns folículos ovulam, mas a 
maioria transforma-se em folículos luteinizados devido à ação da eCG semelhan-
te ao LH. Tais corpos lúteos acessórios produzem progesterona, o que mantém a 
prenhez da égua. A eCG foi uma das primeiras gonadotrofinas comercialmente 
disponíveis usadas para indução da superovulação em animais domésticos.
A glicoproteína hCG consiste de uma subunidade alfa e outra beta com peso mo-
lecular de 40.000 dáltons. A subunidade alfa do hCG é similar à subunidade alfa 
do LH em humanos, suínos, ovinos e bovinos. A hCG é primariamente luteinizante 
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
77O portal do agroconhecimento
e luteotrófico, possuindo baixa atividade de FSH. As células do sinciciotrofoblasto 
na placenta dos primatas são responsáveis pela síntese de hCG, que pode ser 
encontrada tanto no sangue quanto na urina. Sua presença na urina no início da 
gestação constitui a base de vários testes laboratoriais para a gravidez humana. 
Ela pode ser detectada na urina por meio de imunoensaios sensíveis a partir de 
8 dias após a concepção.
2.4. Regulação hormonal da reprodução na fêmea
Na maior parte da vida reprodutiva de uma fêmea fértil, ela não se apresenta em 
atividade cíclica regular (ou seja, apresenta-se em anestro). Quando somados, os 
períodos de inatividade durante a pré-puberdade, gestação e lactação são muito 
maiores que os períodos relativamente curtos de atividade cíclica. Entretanto, os 
períodos em que é possível interferir no processo reprodutivo (cruzar/não cruzar; 
escolha do macho/sêmen; controle do estro; indução da ovulação etc.) são os 
mais importantes e é nesta fase que a maior parte dos problemas reprodutivos 
pode acontecer.
Os princípios do mecanismo hormonal da reprodução são basicamente os mes-
mos para todos os mamíferos domésticos, embora haja algumas diferenças entre 
eles. Alguns animais são poliéstricos contínuos como os bovinos e os suínos, 
ciclando durante todo o ano, enquanto outros são poliéstricos estacionais, como 
os equinos, ovinos e felinos.
Além disso, há diferenças no mecanismo de ovulação. A maioria dos animais 
ovula espontaneamente, mas na gata, coelha e camela a ovulação é induzida 
pela estimulação de receptores sensoriais na vagina e na cérvix durante o coito.
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
78 IEPEC
O processo reprodutivo dos mamíferos é regulado por uma complexa cascata de 
atividades combinadas do sistema nervoso central, tecidos secretórios, tecidos 
alvo e vários hormônios. A Figura 24 é uma representação esquemática dos 
órgãos e hormônios mais importantes envolvidos na reprodução da fêmea, com 
algumas de suas funções e interações.
Figura 24: Inter-relações no controle da função reprodutiva da fêmea. FONTE: IN-
TERVET (2006).
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
79O portal do agroconhecimento
O sistema nervoso central recebe informações do ambiente em que o animal se 
encontra (estímulo visual olfatório, auditivo e tátil) e envia a informação relevante 
do ponto de vista reprodutivo para as gônadas via eixo hipotalâmico-hipofisário-
gonadal. O hipotálamo e a hipófise estão firmemente ligados à parte ventral do 
cérebro. Não são apenas produtores de hormônios, mas também órgãos-alvo, 
formando um sofisticado sistema homeostático de feedback, por meio do qual 
regulam sua própria taxa de secreção.
A partir de um estímulo do SNC, os neurônios endócrinos no hipotálamo pro-
duzem o hormônio liberador de gonadotrofinas. O GnRH é transportado pelo 
sistema porta hipotálamo-hipofisário ao lobo anterior da pituitária, seu órgão-
alvo, estimulando as células da pituitária a secretar o FSH e LH. O GnRH, FSH e LH 
não são secretados em níveis constantes, mas em uma série de pulsos. O FSH 
estimula o desenvolvimento dos folículos ovarianos. Na teca interna do folículo, 
o LH estimula a síntese de androstenediona a partir do colesterol.
A androstenediona é convertida em testosterona, que é aromatizada em 
17β-estradiol sob a influência do FSH, nas células da granulosa do folículo. O 
estradiol exerce um feedback positivo no hipotálamo e na pituitária, aumentando 
a frequência dos pulsos de GnRH. Quando o estradiol ultrapassa certo nível, o 
hipotálamo responde com um pico de GnRH que, por sua vez, induz um pico de 
LH que inicia a ovulação. Assim, o FSH estimula o crescimento dos folículos ova-
rianos, enquanto o LH estimula sua maturação, produção de estradiol e ovulação. 
O LH dá suporte à formação e à função inicial do corpo lúteo.
Um dos principais efeitos do estradiol é a indução dos sintomas de estro. O 
estro pode ser descrito como os sinais comportamentais e físicos que indicam 
aos outros animais que a fêmea está na fase fértil de seu ciclo, e vai permitir a 
cobertura pelo macho.
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em Bovinos Leiteiros
80 IEPEC
As células da granulosa também produzem inibina. Nem todos os efeitos deste 
hormônio são compreendidos, mas seu nome é derivado do feedback negativo 
que provoca na liberação de FSH da glândula pituitária, controlando assim o 
desenvolvimento dos folículos. Depois da ovulação, os restos do folículo são 
remodelados, formando o corpo lúteo, sob a influência do LH. A cavidade folicular 
é preenchida com vasos sanguíneos, e as células da granulosa aumentam de 
tamanho. O corpo lúteo é um órgão que produz basicamente progesterona e 
ocitocina.
A progesterona é essencial para o ciclo normal na vaca e, após a concepção, 
é o principal hormônio responsável pela manutenção da prenhez. Ela provoca 
redução da liberação dos pulsos de GnRH, e assim inibe novas ovulações. Além 
disso, prepara o endométrio para a implantação do embrião em desenvolvimen-
to, e inibe as contrações da parede uterina pelo folículo durante a ovulação não 
é fertilizado, não são recebidos sinais de prenhez vindos do embrião. Por volta 
do dia 16 pós-ovulação, o endométrio do útero não gestante irá liberar PGF
2α.
A prostaglandina-F2α dá início à regressão do corpo lúteo, denominada luteóli-
se. O mecanismo luteolítico da prostaglandina envolve redução do suprimento 
sanguíneo para o corpo lúteo via vasoconstrição,bem como um efeito direto 
nas células luteínicas propriamente ditas. A ocitocina produzida no corpo lúteo 
também desempenha um papel importante na luteólise.
Como resultado da regressão do corpo lúteo, as concentrações de progesterona 
diminuem, removendo o bloqueio sobre a liberação de GnRH pelo hipotálamo. 
Isto provoca início de uma nova fase folicular, com desenvolvimento de um folí-
culo pré-ovulatório. A fase que envolve crescimento folicular, estro e ovulação é 
denominado de fase folicular do ciclo estral. A fase dominada pela progesterona, 
a partir da ovulação até a luteólise, é chamada fase luteínica ou luteal (Figura 25 
e 26; observar que as duas figuras se complementam).
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
81O portal do agroconhecimento
Figura 25: Níveis hormonais durante o ciclo estral. Fonte: INTERVET (2006).
Figura 26: Dinâmica folicular em um ciclo estral de 3 ondas foliculares, mostrando o 
as secreções de FSH, LH e estradiol. FONTE: INTERVET (2006).
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em Bovinos Leiteiros
82 IEPEC
2.5 Endocrinologia da puberdade
A puberdade na fêmea pode representar tanto o primeiro cio, quanto a primeira 
ovulação, eventos que geralmente não chegam juntos. A rigor, a puberdade é 
definida como a época em que a fêmea está em capacidade fertilizante, o que 
compreende tanto o aspecto comportamental (cio) como de formação de game-
tas e de capacidade de manter e desenvolver o embrião e o feto até o parto. A 
primeira ovulação costuma ser “silenciosa”, isto é, sem sintomas de cio. Somente 
a segunda ou terceira ovulações são acompanhadas de sinais evidentes de estro.
O início da puberdade vem precedido por um pico de LH, seguido de uma peque-
na elevação da progesterona circulante. Um 2º pico de LH marca a apresentação 
da 1ª ovulação, que é silenciosa. É só no 3º pico de LH que se caracteriza a 
puberdade completa, ou seja, sintomas de cio junto com ovulação.
Durante o período da pré-puberdade ocorrem pulsos de LH com amplitude similar 
às observadas na puberdade, porém com frequência bem menor (2-3 h). Durante 
a puberdade ocorre uma pronunciada diminuição da sensibilidade de inibição 
dos esteroides às gonadotropinas, rompendo o forte feedback negativo entre 
estradiol e LH. Este é o fundamento da hipótese gonadostática para explicar o 
início da puberdade, a qual sugere que o eixo hipotâlamo-hipofisário-ovariano 
estaria já maduro desde antes da puberdade, porém sem funcionar de forma 
adulta devido ao mencionado efeito feedback. A hipótese gonadostática está 
sustentada em quatro considerações.
Na primeira, o mecanismo de secreção de LH em resposta à ação estimulató-
ria exógena de estradiol é observado desde antes da puberdade. Esta resposta 
aumenta com a idade, o que supõe que a falta de uma produção permanente 
de estradiol é o que impede uma secreção de LH no período da pré-puberdade.
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
83O portal do agroconhecimento
Na segunda consideração, o ovário tem a capacidade de produzir níveis folicula-
res de estradiol em resposta a pulsos horários de LH desde antes da puberdade, o 
que é coerente com o fato de que o ovário possui folículos terciários, portanto está 
relativamente maduro desde antes da puberdade. Isto foi provado em ovelhas 
ao administrar eCG/hCG na pré-puberdade obtendo indução da ovulação com 
formação de corpo lúteo. Portanto, a falta de produção de estradiol não seria 
devido à imaturidade do ovário, mas à falta de estímulo gonadotrópico.
Na terceira consideração, existe o potencial de produzir picos de LH com alta 
frequência desde antes da puberdade. Entretanto, a frequência é pouca, não por 
insuficiente desenvolvimento pituitário, mas porque o sistema é muito sensível 
à ação inibitória do estradiol.
Enquanto que na quarta consideração, a inibição da secreção de LH em resposta 
ao estradiol diminui no período da puberdade permitindo a secreção da gona-
dotropina e, consequentemente, estimulando o ovário para funcionar de forma 
adulta.
Há uma quinta consideração que vem se tornando cada vez mais concreta à 
medida que novos estudos são realizados, que é a influência da progesterona 
na cronologia da puberdade. Quando ocorre o primeiro pico de LH, ocorre a 
luteinização de pequenos folículos em crescimento, aumentando a progesterona 
circulante. Quando ocorre o segundo pico de LH, a concentração de progesterona 
torna-se ainda maior na corrente circulatória, o que promove uma desensibiliza-
ção do hipotálamo em secretar GnRH, e consequentemente, gonadotrofinas. Com 
este aumento de progesterona, ocorre um aumento da armazenagem de GnRH 
no hipotálamo. Assim, a secreção de FSH, LH e estrógenos torna-se maior, o que 
acarreta os sinais de estro com ovulação (terceiro pico de LH), caracterizando o 
início da puberdade. Tal fato se observa em novilhas impúberes submetidas à 
indução da puberdade com implantes intravaginais impregnados com progeste-
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84 IEPEC
rona. Geralmente, utilizam-se implantes de terceiro ou quarto uso, dependendo 
do fabricante.
A inibição da secreção de LH por parte do estradiol antes da puberdade pode 
estar mediada por neurotransmissores como dopamina ou opioides. Essa inibição 
diminuiria quando se aproxima a puberdade. A progesterona de origem ovárica 
secretada antes da puberdade, embora em baixos níveis, pode também estar 
afetando o padrão de secreção de LH.
O mecanismo controlador da secreção de LH inclui um efeito feedback inibitório 
de alça curta sobre sua própria secreção determinado pela secreção pulsátil de 
GnRH hipotalâmico. Portanto, cada pulso de LH está associado com um pulso 
de GnRH. Assim, o hipotálamo pode ser visto como a via final que comanda os 
vários estágios da atividade reprodutiva. O ritmo gerador de pulsos de GnRH 
está afetado pelo estradiol de forma que durante períodos de alta sensibilidade 
feedback, a atividade do gerador está diminuída.
Depois da puberdade ocorrem várias mudanças no controle da secreção de LH. O 
sistema hipotâlamo-hipofisiário diminui sua capacidade para ser inibido por es-
tradiol. O novo esteroide inibitório passa a ser a progesterona e o novo mecanis-
mo que determina os intervalos entre os ciclos ovulatórios é a duração do corpo 
lúteo. O aumento de progesterona durante a fase luteal diminui a frequência dos 
pulsos de LH, inibindo o desenvolvimento dos folículos pré-ovulatórios. Com a 
regressão do corpo lúteo e a queda nos níveis de progesterona, a frequência de 
pulsos de LH aumenta e começa a fase folicular.
A possível explicação dos cios silenciosos no início da puberdade está no fato de 
que a progesterona tem um papel importante como “iniciador” da ação estrogê-
nica sobre o comportamento sexual. A sequência para a indução do estro seria a 
seguinte: aumento de progesterona, diminuição de progesterona e aumento de 
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
85O portal do agroconhecimento
estradiol. Antes da 1ª ovulação não há formação de corpo lúteo e, portanto, não 
se produz progesterona. A fase luteal subsequente é muito curta e não produz 
suficiente progesterona, de forma que o estradiol circulante não consegue fazer 
expressar o comportamento sexual do estro. Finalmente, após a exposição do 
cérebro a altas concentrações de progesterona durante a 1ª fase luteal normal, 
correspondente à 2ª ovulação, o cio pode ocorrer com os níveis de estradiol 
circulantes durante a 3ª fase folicular (3ª ovulação). Contudo, os primeiros cios 
podem ser curtos e pouco expressivos.
Em novilhas, a 1ª ovulação é seguida de um ciclo estral curto de 7 a 8 dias e a 2ª 
ovulação por um ciclo estral normal (21 dias). Existe um período de estabilização 
da função reprodutiva após o início da puberdade. A diferença entre puberdade 
e capacidade fertilizante se expressa nas diferenças de idade entre o início dapuberdade em novilhas e a idade ao 1º serviço. As raças zebuínas são menos 
precoces que as raças europeias.
O nível nutricional baixo aumenta a idade na qual se atinge a puberdade, talvez 
por afetar a pulsatilidade do LH. Em novilhas, é desejável um peso de 350 kg para 
o 1º serviço, o que pode implicar em uma alimentação consistente com ganhos 
de 700 g/dia ou mais a fim de conseguir o primeiro parto com 2 anos de idade. O 
mecanismo do efeito retardante da subnutrição sobre a época da puberdade não 
está totalmente esclarecido. Muitas perguntas surgem, tais como, quais seriam os 
sinais que inibem a atividade reprodutiva na subnutrição? Quando e como podem 
ser monitorados? Trata-se de hormônios metabólicos (insulina, GH, hormônios 
tireoidianos) ou de produtos de vias metabólicas? Os sensores são hipotalâmicos 
ou extra-hipotalâmicos? Como se comunicam esses sensores com o gerador de 
pulsos de GnRH para modificar sua atividade? De qualquer maneira, seja qual for 
o mecanismo, tais sinais devem provocar aumento da sensibilidade ao feedback 
negativo do estradiol causando inibição da secreção de GnRH e produzindo insu-
ficiente LH para desenvolver os folículos.
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
86 IEPEC
O ambiente social é outro fator que afeta o início da puberdade. Porcas em 
grupo acompanhadas de um cachaço chegam à puberdade antes das que estão 
isoladas. O efeito é também observado em vacas, ovelhas e éguas. O mecanismo 
pode ser através dos feromônios da urina do macho que estimulariam o sistema 
feedback desencadeante da puberdade.
Finalmente, temperaturas extremas ou estresse inespecífico também são causas 
de retardo ao início da puberdade, em virtude da ação do cortisol sobre o eixo 
hipotalâmico-hipofisário.
2.6 Fisiologia do ciclo estral
2.6.1 Foliculogênese
O crescimento e o desenvolvimento folicular nos ruminantes se caracterizam por 
duas ou três ondas foliculares consecutivas durante o ciclo estral. O advento da 
ultrassonografia permitiu a coleta de muitas informações sobre os estágios do 
crescimento folicular e sua seleção. Cada onda envolve o recrutamento de uma 
série de folículos do total do estoque folicular do ovário, e a seleção de um folículo 
dominante, que continua a crescer e a amadurecer até o estágio pré-ovulatório 
enquanto os outros sofrem atresia.
Podem-se distinguir três estágios distintos no desenvolvimento folicular: cresci-
mento, seleção e desvio.
Cada onda consiste no recrutamento simultâneo de três a seis folículos, que 
crescem acima de 4 a 5 mm de diâmetro.
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
87O portal do agroconhecimento
Dentro de alguns dias do início da onda, um folículo emerge como dominante. 
O folículo dominante continua a crescer e a se diferenciar, ao passo que os 
outros folículos param de crescer e regridem. Observa-se regressão do folículo 
dominante da primeira onda em ciclos de duas ondas, assim como dos folículos 
dominantes da primeira e segunda onda em ciclos de três ondas. Contudo, o 
folículo dominante de qualquer onda folicular, inclusive da primeira, pode ovular 
se forem fornecidas as condições endócrinas apropriadas pela indução de lute-
ólise (por meio da administração de PGF
2α) durante seu período de dominância.
2.6.1.1 O recrutamento de ondas de folículos
Nos bovinos e em outras espécies, as ondas foliculares são precedidas ou acom-
panhadas de um ligeiro aumento nas concentrações de FSH.
Todos os folículos que crescem em grupo contêm receptores específicos para 
FSH e dependem dessa gonadotrofina para seu crescimento. Nesse estágio, os 
folículos em crescimento não têm uma quantidade suficiente de receptores de 
LH para responder a uma estimulação por LH (como na secreção pré-ovulatória), 
que é a razão pela qual esse estágio de crescimento às vezes é chamado de FSH 
dependente.
Nos bovinos, os aumentos sequenciais de FSH, acompanhados por ondas folicu-
lares, ocorrem durante o ciclo estral, no período pós-parto, durante a prenhez e 
antes da puberdade.
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em Bovinos Leiteiros
88 IEPEC
2.6.1.2 Seleção do folículo dominante
Na vaca, por razões que ainda não foram completamente esclarecidas, somente 
um folículo dominante é selecionado do grupo recrutado. Uma característica que 
parece definir um folículo como dominante é sua maior capacidade de produzir 
estradiol e maior número de receptores para o FSH. A secreção de estradiol 
pelo folículo dominante está associada ao bloqueio da liberação de FSH e sua 
manutenção em níveis basais (GINTHER et al., 2000), impedindo o crescimento 
dos folículos subordinados. O futuro folículo dominante adquire receptores de LH, 
que lhe permitem continuar a crescer em um ambiente de baixos níveis de FSH 
e com níveis crescentes de LH.
Ao provocar indiretamente a redução dos níveis de FSH, o folículo dominante 
provoca redução do suporte dos folículos subordinados ao reduzir o componente 
vital para seu crescimento, enquanto ao mesmo tempo se beneficia tanto do 
baixo nível de FSH como do aumento dos níveis de LH.
Recentemente surgiram informações importantes sobre o papel de outros mo-
duladores tais como fatores de crescimento, inibina e insulina na diferenciação e 
seleção do folículo dominante (FORTUNE et al., 2001; MIHM et al., 2003).
2.6.1.3 Folículo dominante selecionado
O crescimento, a atividade estrogênica e o período de vida do folículo dominante 
selecionado são controlados pelo padrão dos pulsos de LH. Portanto, qualquer 
mudança no padrão de liberação do GnRH e, assim, do LH, terão um profundo 
efeito sobre a continuidade do crescimento do folículo dominante e sua ovula-
ção. Sabe-se bem que o aumento da frequência dos pulsos de LH observado 
após os tratamentos com progestágeno, por exemplo, prolongarão o período 
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
89O portal do agroconhecimento
de dominância desse folículo de 2 a 7 dias para mais de 14 dias, o que afeta a 
fertilidade do oócito (DISKIN et al., 2002). Fatores nutricionais, ambientais e até 
infecciosos, que afetam direta e indiretamente o padrão de GnRH/LH em bovi-
nos, apresentam um efeito considerável sobre o destino do folículo dominante 
e, consequentemente, sobre a ovulação e a fertilidade.
Os eventos de desenvolvimento, recrutamento, seleção e desvio folicular estão 
ilustrados na Figura 27, enquanto que o ciclo estral com 2 e 3 ondas foliculares 
estão ilustradas nas Figuras 28 e 29, respectivamente.
Figura 27: Fases do crescimento folicular: recrutamento (dependente de FSH); 
seleção e dominância (dependente de LH); ovulação ou atresia (na dependência da 
presença ou não do pico pré-ovulatório de LH). FONTE: TECNOPEC.
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
90 IEPEC
Figura 28: Esquema de ciclo estral com 2 ondas foliculares. A primeira onda culmina 
com a atresia do folículo dominante por falta do pico pré-ovulatório de LH (Fase 
luteínica) e a segunda onda culmina com a ovulação (Fase folicular, baixa progeste-
rona e pico pré-ovulatório de LH). FONTE: TECNOPEC.
Figura 29: Esquema de ciclo estral com 3 ondas foliculares. A primeira e a segunda 
onda culminam com a atresia dos folículos dominantes por falta do pico pré-ovula-
tório de LH (Fase luteínica). A terceira onda culmina com a ovulação (Fase folicular, 
baixa progesterona e pico pré-ovulatório de LH). FONTE: TECNOPEC.
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
91O portal do agroconhecimento
2.6.2 Maturação oocitária
A maturação oocitária se divide em dois estágios:
 » Período de crescimento;
 » Período de preparação nuclear e citoplasmática final, que é pré-
requisito para a fertilização e o desenvolvimento final.
2.6.2.1 Crescimento oocitário
Quando um folículo primordial deixa a reserva, o oócito e seu folículo iniciam o 
crescimento. O crescimento oocitário está quase completo na fase de formação 
do antro.Com os processos celulares, a atividade das células internas do cumulus 
cooperam ativamente com o processo de crescimento oocitário, tendo em vista 
que essas células estabelecem um contato íntimo com a membrana celular do 
oócito. Durante a formação da membrana externa do oócito (zona pelúcida), os 
processos celulares nas células do cumulus são fortalecidos.
A maturação oocitária ocorre independentemente da natureza da estimulação 
folicular, do diâmetro folicular do qual o oócito foi removido e da fonte do fluido 
folicular ou seu filtrado, de diversos folículos e diferentes fêmeas.
2.6.2.2 Preparação do oócito para a fertilização
Da oogênese em diante, o núcleo do oócito, que se encontra em diplóteno, 
permanece em repouso. A meiose normalmente não se reinicia antes do pico 
pré-ovulatório de LH (Figura 30). A liberação de LH suprime a produção do fa-
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
92 IEPEC
tor inibidor da meiose pelas células da granulosa. O pico de LH é seguido por 
modificações metabólicas na camada folicular. O reinício da meiose (maturação 
nuclear) é apenas um aspecto da maturação oocitária. A maturação citoplasmá-
tica também deve ocorrer.
Figura 30: Oócitos em processo de maturação. FONTE: HAFEZ e HAFEZ (2004).
2.6.3 Ovulação
Na vaca, a ovulação ocorre após o estro, ou seja, no início de metaestro. O folículo 
eleito recebe maior fluxo capilar, efeito influenciado pelo LH. A ovulação pode 
ocorrer em qualquer ponto do ovário, exceto na égua que ocorre numa área co-
nhecida como “fossa da ovulação”, onde fica concentrado o epitélio germinativo. 
A ovulação ocorre aleatoriamente em qualquer um dos ovários, mas geralmente 
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
93O portal do agroconhecimento
ocorre de forma alternada.
Na medida em que a ovulação se aproxima, o folículo ovulatório é projetado 
na superfície do ovário aumentando a sua vascularização, exceto numa área 
central onde ocorrerá a ruptura do folículo. A dissociação das células do cumulus 
oophorus liberta o ovócito e a meiose recomeça cerca de 3 horas após a onda de 
LH, terminando 1 hora antes da ovulação, quando ocorre a extrusão do 1º corpo 
polar e o ovócito secundário é formado.
As células do cumulus secretam glicoproteínas que rodeiam o ovócito e a corona 
radiata. Ocorrendo a ruptura, a massa viscosa facilita a captação do ovócito pelas 
fímbrias. As células granulosas dissociadas do folículo sofrem invasão das células 
da teca interna e dos vasos sanguíneos.
A ação do LH e do FSH é responsável pela dissociação das células do cumulus, ao 
mesmo tempo em que estimula a secreção de esteroides ovarianos. A proges-
terona estimula a ação da enzima colagenase na parede folicular e o estradiol 
aumenta o edema da teca. As prostaglandinas, secretadas pelas células granu-
losas, também têm efeito sobre a dissolução da parede folicular participando da 
ruptura do folículo (PGF
2α) e da transformação das células granulosas em células 
luteínicas (PGE
2
). Também ativam o plasminogênio para formar plasmina, a qual 
está envolvida na migração celular (PGE
2
) e estimulam as contrações ovarianas, 
as quais facilitam a ruptura folicular (PGF
2α).
A partir daí, as células da teca e da granulosa remanescentes do folículo ovula-
tório se diferenciam em células luteínicas sob efeito do LH, para a formação do 
corpo lúteo.
Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)
em Bovinos Leiteiros
94 IEPEC
2.6.4 Ciclo estral
O ciclo estral é definido como a sequência de eventos endócrinos, morfológicos 
e comportamentais que ocorrem entre dois estros ovulatórios sucessivos. O estro 
ou cio é definido como período de receptividade sexual da fêmea (aceitação da 
monta) e sua duração varia dependendo da espécie desde horas até dias. Na 
vaca, o dia de início do estro costuma ser designado como o dia zero do ciclo e 
tem duração média de 18 horas, com uma faixa de 4 a 24 horas. O ciclo estral da 
vaca dura 21 dias, em média, com uma faixa de 18 a 24 dias. 
O ciclo estral resulta da interação coordenada de 4 tecidos: sistema nervoso cen-
tral, hipotâlamo-hipófise, ovário e útero. A comunicação entre esses órgãos ocor-
re principalmente mediante 6 hormônios: GnRH (do hipotálamo), LH e FSH (da 
hipófise), estradiol e progesterona (do ovário) e prostaglandina F2α (do útero).
Três esteróides são produzidos pelo ovário durante o ciclo estral: progesterona, 
estradiol e androstenediona. A progesterona é secretada exclusivamente pelo 
corpo lúteo, o estradiol pelos folículos e a androstenediona é produzida pelo corpo 
lúteo, pelos folículos e pelo estroma ovárico.
O crescimento e a maturação dos folículos ováricos nos mamíferos dependem 
da ação sinérgica das gonadotropinas hipofisiárias FSH e LH. Ambas gonadotro-
pinas participam também da síntese de estrógenos. O FSH da pituitária anterior 
estimula o desenvolvimento dos folículos vesiculares e estimula as células da 
granulosa para produzir estradiol, o qual se acumula no líquido folicular e sai para 
a corrente circulatória.
O ciclo estral é classificado em fase folicular (proestro e estro) e fase luteal 
(metaestro e diestro).
Capítulo 2
Fisiologia reprodutiva da fêmea bovina
95O portal do agroconhecimento
A fase folicular costuma ser definida como aquele período desde a regressão 
do corpo lúteo até a ovulação e dura, em média, 4-5 dias na vaca. Entretanto, 
durante a fase luteal existe crescimento de folículos apesar da natureza inibitória 
da progesterona, principal hormônio secretado pelo corpo lúteo durante esta 
fase, de forma que as fases luteal e folicular se sobrepõem. Ocorre uma segunda 
onda de FSH, 20-30 horas após a onda pré-ovulatória de LH e FSH. A onda pós-
ovulatória de FSH desenvolve e seleciona os folículos a crescer e ovular no ciclo 
posterior.
2.6.5 Endocrinologia de vacas leiteiras de alta produção
A maioria dos conjuntos de dados disponíveis demonstra uma relação anta-
gônica entre produção de leite e fertilidade. Todavia, a extensão desse efeito 
vem sendo questionada, principalmente porque, no caso de muitos dos índices 
reprodutivos, não se estabeleceram ainda relações claras com a produção de 
leite. Mas, as observações no campo indicam claramente que as vacas leiteiras 
de alta produção apresentam taxas de concepção muito mais baixas do que as 
novilhas. O possível efeito negativo dos altos níveis de produção de leite sobre 
o desempenho reprodutivo das vacas de alta produção pode ser modulado por 
meio de vários aspectos da função reprodutiva.
Não existe uma confirmação uniforme na literatura de um efeito negativo dos al-
tos níveis de produção de leite com a intensidade e duração do cio. Por outro lado, 
tanto os profissionais veterinários como os criadores relatam que vacas leiteiras 
de alta produção apresentam problemas em relação à detecção de estros. Em 
um experimento relatado por Lopez et al. (2004), a duração do cio foi correlacio-
nada positivamente com o pico das concentrações de estradiol e correlacionada 
negativamente com a produção de leite. Wiltbank et al. (2006) sugeriram que 
altos níveis de produção de leite levam a uma diminuição das concentrações de 
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em Bovinos Leiteiros
96 IEPEC
estradiol circulante, resultando na diminuição da duração e intensidade do cio. 
A diminuição das concentrações de estradiol também pode causar aumento do 
tamanho do folículo devido à maior demora para a indução do cio pelo estradiol, 
para o pico de GnRH-LH e ovulação das vacas de alta produção.
Parece claro que vacas de produção muito alta apresentam condições endócri-
nas diferentes em relação às vacas não-lactantes, em virtude de sua alta taxa 
metabólica (balanço energético negativo). As vacas que produzem mais leite 
desenvolvem folículos maiores, mas com concentrações menores de estradiol 
circulante (LOPES et al., 2004). Além disso, vacas possuem maior volume de

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