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TEMA 2 - AULA 01 - DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO

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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL DO 
TRABALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Sonia de Oliveira 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta primeira aula, o tema central de estudo será a evolução do direito do 
trabalho nas constituições brasileiras, como forma de demonstrar a dinâmica da 
matéria de acordo com o momento histórico do Brasil e do mundo. 
Os trabalhadores no Brasil sempre foram livres? Sempre foram previstos 
tantos direitos aos trabalhadores como atualmente se faz? De que forma os 
direitos trabalhistas atualmente vigentes foram conquistados pelos trabalhadores? 
Essas e outras perguntas serão respondidas no decorrer do estudo. 
CONTEXTUALIZANDO 
No contexto constitucional, os direitos trabalhistas passaram de nenhum, 
quando do Império, época em que a escravidão ainda era a forma mais comum 
de labor, a uma série deles atualmente previstos na Constituição de 1988. Nesta 
evolução do direito constitucional do trabalho, será que existe algum período que 
pode ser considerado mais relevante para a conquista dos direitos dos 
trabalhadores? 
TEMA 1 – CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO 
Desde o descobrimento do Brasil, os portugueses adotaram o regime de 
escravidão, sendo forçados ao trabalho inicialmente os índios e depois os negros 
trazidos da África. Este modelo vigeu até final do século XIX. “A riqueza, o conforto 
e o luxo dos ricos no período colonial e no império são resultados de trabalho 
servil, da exploração desumana dessas populações” (Cervo, 2008, p. 28). 
Nessa época, o Brasil era predominantemente agrícola, e as tarefas eram 
exercidas por escravos, os quais não eram possuidores de qualquer direito. As 
rebeliões sempre tinham como fim se libertarem dos senhores violentos, mas sem 
o objetivo de alcançar igualdade jurídica. As indústrias eram raras e contavam 
com métodos primitivos de uso de cerâmica e madeira, cuja organização era 
precária (Cervo, 2008, p. 28). 
Apesar da existência do trabalho, ainda que escravo, não houve 
desenvolvimento de legislação trabalhista, mesmo que no país existissem 
condições de emprego em 1888. 
Em relação à primeira Constituição do Brasil, Dom Pedro convocou a 
primeira Assembleia Constituinte em junho de 1822, ou seja, antes mesmo da 
 
 
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declaração de independência do Brasil, ocorrida em 7 de setembro de 1822, mas 
se passaram quase dois anos para a outorga da primeira Constituição do país, 
fato que se deu em 25 de março de 1824 (Ferreira, 1995, p. 196). 
A primeira Constituição não foi elaborada por representantes do povo e 
expressava somente a vontade do imperador. A Constituição do Império vigorou 
por 65 anos e neste período sofreu pequenas alterações, como o Ato Adicional de 
1843, pela Lei Interpretativa de 1840 e pela lei ordinária responsável pela 
antecipação da maioridade de Dom Pedro II, também em 1840 (Ferreira, 1995, p. 
196). 
Entre as principais previsões desta Constituição, estão: instituição do 
regime da monarquia hereditária, catolicismo como religião oficial do país, sistema 
eleitoral, separação de poderes, organização militar, asseguração da liberdade de 
expressão e de pensamento e a manutenção da escravidão (Brasil, 1824). 
A leitura da Constituição de 1824 pode trazer algumas surpresas em seu 
texto quando considerado o atual regime democrático vigente no país, por 
exemplo o art. 92, inciso III, que vedava aos “criados de servir” o direito de votar 
nas assembleias paroquiais: 
Os criados de servir, em cuja classe não entram os Guarda livros, e 
primeiros caixeiros das casas de commercio, os Criados da Casa 
Imperial, que não forem de galão branco, e os administradores das 
fazendas ruraes, e fabricas. (Brasil, 1824) 
No ano seguinte ao da publicação da Lei Áurea, no dia 15 de novembro de 
1889, aconteceu a Proclamação da República, a qual, inicialmente foi chefiada 
pelo governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, cuja função era 
governar o país até a elaboração na nova Constituição, a qual será estudada no 
tópico seguinte (Ferreira, 1995, p. 286). 
Leitura complementar 
Você pode ler a Constituição de 1824 online. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso 
em: 12 jul. 2018. 
TEMA 2 – CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE 1891 
Em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a Constituição da República 
dos Estados Unidos do Brasil, cujo texto sofreu grande influência da constituição 
norte-americana, pois estabelecia: a federação dos Estados, o sistema 
 
 
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presidencialista, a separação entre a igreja católica e o Estado, o casamento civil, 
a divisão dos poderes em três (Executivo, Legislativo e Judiciário) e a autonomia 
dos municípios (Ferreira, 1995, p. 287). 
Esta Constituição sofreu influências dos Estados Unidos e teve caráter 
individualista e crença no estilo laissez-faire, cujo modelo levou a grande república 
a alto grau de desenvolvimento. Era uma constituição com ideias-bases do 
liberalismo com a adoração da soberania individual. 
A Constituição Republicana não continha previsões sobre os direitos 
sociais do trabalhador. Após a Emenda Constitucional nº 3, de 3 de setembro de 
1926, no art. 72, parágrafo 24, declarou-se a liberdade para o exercício de 
qualquer profissão moral, intelectual e industrial. Já o art. 31, item 28, previu a 
competência do Congresso Nacional para legislar acerca do trabalho (Brasil, 
1891). 
Esta Constituição previu expressamente a competência do Congresso 
Nacional para legislar sobre o trabalho, mas, ao consultar a legislação da época, 
nota-se que nada foi elaborado para os trabalhadores em geral. 
Historicamente, no final do Império e no período inicial da primeira 
República, a economia do país era basicamente agrícola, ainda que o comércio e 
a industrialização estivessem iniciando alguma evolução. No setor primário, os 
principais produtos eram o café, o açúcar para o consumo interno, a borracha e o 
cacau (Ferreira, 1995, p. 305). 
No período entre a Constituição de 1891 e a seguinte, somente editada em 
1934, vários acontecimentos foram registrados, como nos ensina Gustavo Garcia: 
As transformações ocorridas na Europa, com o crescente surgimento de 
leis de proteção ao trabalho, e a instituição da OIT em 1919, 
influenciaram o surgimento de normas trabalhistas no Brasil. Do mesmo 
modo, os imigrantes em nosso país deram origem a movimentos 
operários, reivindicando melhores condições de trabalho. Começa, 
assim, a surgir a política trabalhista de Getúlio Vargas, em 19308. 
Destaca-se, ainda, a Lei Eloy Chaves (Decreto 4.682/1923), ao criar a 
caixa de aposentadoria e pensões para os ferroviários, bem como 
estabilidade para esses trabalhadores quando completavam dez anos 
de emprego. 
Na década de 1930, diversos Decretos do Poder Executivo estabeleciam 
normas referentes a questões trabalhistas. (Garcia, 2016, p. 4) 
Leitura complementar 
Você também pode ler a Constituição de 1891 online. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso 
em: 12 jul. 2018. 
 
 
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TEMA 3 – CONSTITUIÇÕES DE 1934 E DE 1937 (A POLACA) 
Neste tema, vamos abordar a Constituição de 1934, a qual foi um marco 
para o nascimento dos direitos constitucionais dos trabalhadores, e a de 1937, 
que basicamente manteve os previstos na sua antecessora. 
Ambas são oriundas do governo de Getúlio Vargas, que também é 
responsável pela promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho, como será 
mais adiante estudado. 
3.1 Constituição de 1934 
O Brasil pouco evoluiu na matéria referente aos direitos dos trabalhadores 
após a Constituição de 1891. Neste período, entre 1891 e 1934, foi editado o 
Código Civil, de 1919, que regia os atos da vida civil, entre eles o contrato de 
locação de serviços, prevendo que este poderia ser escrito, que a contratação não 
poderia se dar por mais de quatro anos quando por prazo determinado, que o 
pagamentose daria após a prestação do serviço etc., além de outros 
acontecimentos como mencionado no texto de Gustavo Garcia, antes transcrito. 
É importante entendermos um pouco mais do contexto histórico do Brasil 
quando da origem da Constituição de 1934. 
Para as eleições de 1930, foi criada a Aliança Liberal a partir de um acordo 
entre políticos mineiros e gaúchos com o objetivo de fazer com que o então 
Presidente Washington Luís desistisse de apoiar a candidatura de Júlio Prestes 
para presidência da república. Diante da resistência do presidente, a Aliança 
lançou Getúlio Vargas para concorrer ao cargo maior da república e João Pessoa 
para vice-presidente (Ferreira, 1995, p. 334). 
A vitória nas eleições foi disparada de Júlio Prestes, resultando na 
insatisfação dos membros da Aliança Liberal, os quais passaram a sustentar a 
existência de fraude na contagem de votos. Além da insatisfação dos partidários 
da Aliança Liberal, a Revolta de 1930 também foi resultado do assassinato de 
João Pessoa, por conta de lutas políticas na região do Recife (Ferreira, 1995, p. 
335). 
Poucas semanas após o início da Revolta, o movimento já havia 
conseguido chegar ao Rio de Janeiro, onde Washington Luís estava na intenção 
de resistir à revolta até o fim. Porém, em 24 de outubro de 1930, o presidente foi 
deposto, e, em seu lugar, assumiu uma junta militar composta por generais e 
 
 
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contra-almirantes. Essa junta provisória tratou de pacificar o país, e, em 3 de 
novembro, Getúlio Vargas assumiu a Presidência da República. É o único caso 
conhecido em que o candidato derrotado nas eleições assume o cargo em 
detrimento do candidato eleito pelo povo (Ferreira, 1995, p. 338). 
Quando assumiu a Presidência em 1930, Getúlio Vargas suspendeu a 
vigência da Constituição de 1891, dissolveu o Congresso Nacional e passou para 
o Poder Executivo os poderes do Legislativo. Os quatro anos seguintes, até a 
Constituição de 1934, são de uma democracia de fachada, pois vivia-se uma 
ditadura velada. 
O Estado Novo, como é conhecido o período em que Getúlio esteve na 
Presidência da República, vigorou entre os anos de 1930 e 1945. Este período foi 
muito importante para os avanços dos direitos trabalhistas, se não o mais 
importante em toda a história do Brasil, ante as novidades que inseriu no texto 
constitucional quanto a ordem econômica e social, ainda que em outros aspectos 
o governo de Getúlio Vargas não fosse dos mais democráticos. 
Sobre a criação da Constituinte de 1933, analise o texto a seguir transcrito: 
No dia 3 de maio de 1933 são realizadas eleições para a Assembleia 
Nacional Constituinte. Aproximadamente 1.285.000 eleitores 
comparecem às urnas. Cada Estado da Federação escolhe deputados 
em número proporcional à sua população. Minas Gerais, o mais 
populoso, contou com 37 representantes, o que veio a lhe garantir a 
presidência dos trabalhos da nova Assembleia. 
No dia 10 de novembro, no plenário do Palácio Tiradentes, a Mesa 
Diretora, sob a presidência do ministro Hermenegildo de Barros, 
presidente do Tribunal Superior Eleitoral, inicia o recebimento dos 
diplomas dos 254 deputados constituintes eleitos. Entre eles uma única 
mulher, Carlota Pereira de Queiroz (SP - Chapa Única), que havia 
participado ativamente da Revolução Constitucionalista. O Deputado 
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (MG – PP) é eleito para dirigir os 
trabalhos constituintes no dia 12. No dia 15, a Assembleia é instalada 
solenemente com a presença do chefe do Governo Provisório. A 
Comissão Constitucional, composta de 26 membros (um representante 
de cada bancada estadual e de cada um dos quatro grupos profissionais 
representados), encarregada de examinar o anteprojeto apresentado 
pelo Governo Provisório, começa seus trabalhos no dia 16 e os encerra 
no mês de março de 1934, apresentando ao Plenário da Assembleia 
Nacional Constituinte um substitutivo ao anteprojeto governamental para 
o encaminhamento das discussões. No mês de junho, o Plenário aprova 
os atos do Governo Provisório, tornando-os imunes à revisão judicial. Ao 
terminar a votação final do projeto de Constituição, é aprovada a anistia 
geral a todos os que, em virtude das agitações anteriores, principalmente 
as de 1932, haviam sido tolhidos em sua liberdade. A assinatura e 
promulgação da nova Constituição acontecem no dia 16 de julho de 
1934. (Brasil, 2009) 
Promulgado o texto da Constituição de 1934, nota-se que é inédito na 
previsão de direitos dos trabalhadores. A partir do art. 115, a Constituição passava 
 
 
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a dispor sobre a ordem econômica e social, e o primeiro artigo previa que a ordem 
econômica deveria ser organizada conforme os princípios da justiça e as 
necessidades da vida nacional, de modo a permitir a existência digna de todos. 
Quanto aos direitos dos trabalhadores, foram previstos no art. 121 e nos 
seguintes da Constituição, dentre eles: 
• Proibição de salários diferentes para o mesmo trabalho por motivo de 
idade, sexo, nacionalidade ou estado civil 
• Salário mínimo, o qual deveria atender, de acordo com condições de cada 
região, as necessidades básicas do trabalhador 
• Duração diária do trabalho de no máximo oito horas 
• Proibição de trabalhar aos menores de 14 anos 
• Proibição do trabalho noturno aos menores de 16 anos 
• Proibição de trabalhos insalubres a menores de 18 anos e às mulheres; 
• Repouso preferencialmente aos domingos 
• Férias anuais remuneradas 
• Indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa 
• Assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante 
• Descanso à gestante antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do 
emprego 
• Previsão de regulamentação das profissões 
• Reconhecimento das convenções coletivas de trabalho 
• Igualdade de importância ao trabalho manual e ao intelectual ou técnico, 
bem como aos seus profissionais 
• Indenização por acidente de trabalho ocorrido em obras públicas (Brasil, 
1934) 
Além da previsão de todos esses direitos trabalhistas, o desenvolvimento 
da indústria no período da Era Vargas foi bastante significativo. A partir de 1940, 
foram construídas no Brasil fábricas de aviões, usina siderúrgica (Companhia 
Siderúrgica Nacional), a usina hidrelétrica de Paulo Afonso, a Companhia Vale do 
Rio Doce e rodovias por todo o país. Por consequência, o crescimento da indústria 
fortaleceu o comércio (Ferreira, 1995, p. 359). 
O período que vai de 1930 até 1935 foi marcado por intensa mobilização 
das classes trabalhadoras urbanas. Aos poucos, o governo de Getúlio 
Vargas foi atendendo algumas de suas reivindicações estabelecendo 
uma legislação sindical, que inibia as manifestações autônomas da 
 
 
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classe operária. Depois da Intentona Comunista (1935) e, 
principalmente, durante o Estado Novo, as organizações de 
trabalhadores que não controladas pelo governo foram desaparecendo, 
em virtude da repressão que sofreram. 
O Estado chefiado por Getúlio Vargas procurou tomar posição como 
árbitro dos conflitos políticos e sociais. [...]. Seguindo essa linha de 
atuação, o governo procurou regulamentar as relações entre o capital e 
o trabalho (Ferreira, 1995, p. 361). 
Esse era o cenário interno do país quando da vigência da Constituição de 
1934, marcado pelo atendimento à classe trabalhadora, a qual continua lutando 
para ver garantidos na prática direitos previstos nesta época. 
De todas as Constituições brasileiras, a de 1934 foi a que menos tempo se 
manteve em vigência, pois em 1937, com o golpe de Estado, teve início o Estado 
Novo, e uma nova Constituição foi outorgada por Getúlio Vargas. 
3.2 Constituição de 1937 (a polaca) 
Esta Constituição foi promulgada por Getúlio Vargas após o golpe de 
Estado, dando início ao Estado Novo. O apelido de a polaca se deve pela grande 
influência que sofreu pela Constituição fascista em vigência na Polônia, cujas 
características eram o caráter autoritário e centralizador do poder. 
Com relação aos direitos trabalhistas,a Constituição de 1937 manteve as 
previsões da Constituição de 1934, com algumas diferentes. Em agosto de 1943, 
os direitos trabalhistas constitucionais foram suspensos por meio do Decreto nº 
10.358, de 1º de setembro de 1942, o qual foi responsável por declarar o Estado 
de guerra no Brasil. 
O texto legal vedou expressamente a greve e o lock-out, por entender se 
tratarem de recursos antissociais nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis 
com os interesses de produção nacional. 
Contudo, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) entrou em vigor em 
10 de novembro de 1943, prevendo outros direitos trabalhistas além daqueles 
elencados nas Constituições da Era Vargas. 
Os direitos consignados na CLT serão estudados nas matérias pertinentes, 
razão pela qual seu conteúdo não será analisado nesta oportunidade. 
TEMA 4 – A CONSTITUIÇÃO DE 1946 E A DE 1967 COM EMENDA DE 1969 
As Constituições de 1946 e de 1967 representam dois momentos históricos 
diversos em nosso país: acaba a Era Vargas, dando-se início ao Regime Militar 
 
 
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brasileiro, momento em que diversos abusos sociais foram cometidos contra os 
cidadãos, dentre eles os trabalhadores. 
4.1 Constituição de 1946 
Em 20 de outubro de 1945, Getúlio Vargas foi deposto do cargo de 
presidente da república, e o chefe do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, 
assumiu a Presidência interinamente. Permaneceu no cargo em torno de quatro 
meses, apenas para garantir o funcionamento da administração pública federal, e 
convocou novas eleições para o mês de dezembro de 1945 (Ferreira, 1995, p. 
372). 
Com o apoio de Getúlio Vargas, o General Eurico Gaspar Dutra venceu as 
eleições, e seu Governo se deu entre os anos de 1946 e 1951. Em setembro de 
1946, promulgou a nova Constituição do país (Ferreira, 1995, p. 372). 
Além dos direitos trabalhistas presentes originalmente na Constituição de 
1934, outros foram previstos, são eles: 
• Salário mínimo passou a ter o dever de manter as necessidades do 
trabalhador e de sua família 
• Salário noturno deveria ser superior ao diurno 
• Participação dos empregados nos lucros e resultados das empresas, de 
acordo com lei regulamentar 
• Proibição do trabalho noturno ao menor de 18 anos (na Constituição de 
1934, a proibição deste trabalho era somente ao menor de 16 anos) 
• Convenções coletivas de trabalho foram reconhecidas, passando a fazer 
lei entre as partes do contrato de trabalho 
• Previdência em favor da maternidade e contra as consequências de 
doenças, velhice, invalidez e morte 
• Assistência médica e preventiva 
• Direito de greve, cuja regulamentação se faria por lei específica 
• Liberdade de associação profissional ou sindical, regulada por lei 
Em 1951, Getúlio Vargas foi novamente eleito, e seu Governo se estendeu 
até 1954. Nesse período, a sua Presidência também foi marcada pela política de 
busca de apoio nas classes trabalhadoras. Manteve certa tolerância com 
movimentos grevistas e com as lideranças sindicais. Em 1954, o então ministro 
do trabalho, João Goulart, concedeu aumento de 100% ao salário mínimo. 
 
 
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A Constituição de 1946 vigeu em torno de 21 anos, subsistindo aos 
governos presidenciais de Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, João Café Filho, 
Carlos Coimbra da Luz, Nereu de Oliveira Ramos (estes três últimos ocuparam a 
Presidência nos 17 meses posteriores à morte de Getúlio), Juscelino Kubitschek, 
Jânio Quadros, João Goulart, cujo Governo foi alvo do Golpe Militar de 1964, que 
passou a Presidência ao Marechal Castelo Branco e, depois, ao General Costa e 
Silva (Ferreira, 1995, p. 380-399). 
No Governo de Castelo Branco, foi criado o Fundo de Garantia do Tempo 
de Serviço (FGTS) em detrimento do antigo sistema de estabilidade no emprego 
e de indenizações aos trabalhadores demitidos, e desenvolveu-se um sistema de 
controle dos salários (Ferreira, 1995, p. 398). 
4.2 Constituição de 1967 com emenda de 1969 
Foi promulgada em 24 de janeiro de 1967 durante o Governo presidencial 
do General Costa e Silva, segundo presidente do Regime Militar instalado no país. 
Esta Constituição elevou o trabalho como um desdobramento do princípio da 
dignidade da pessoa humana. As inovações quanto ao direito do trabalhador 
foram: 
• Salário-família aos dependentes do trabalhador 
• Duração do trabalho de no máximo oito horas, com intervalo para descanso 
• Proibição de qualquer trabalho aos menores de 12 anos 
• Estabilidade no emprego, indenização equivalente ou Fundo de Garantia 
• Seguro-desemprego, contra acidente de trabalho 
• Colônias de férias e clínicas de repouso, recuperação e convalescência, 
mantidas pela União 
• Previsão de tempo para aposentadoria da mulher e dos professores 
• Disposição sobre eleições sindicais 
• Proibição do direito de greve dos prestadores de serviços públicos e 
atividades especiais 
Após o início da vigência da Constituição de 1967, outros presidentes do 
Regime Militar ainda governaram o país: General Médici, General Ernesto Geisel, 
General Figueiredo, cujo mandato encerrou-se em 1985. 
No período entre 1979 e 1981, diversos movimentos grevistas se formaram 
no país por trabalhadores de diversas categorias econômicas, cuja principal 
 
 
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reivindicação era a melhoria dos salários. O governo reprimiu as greves e passou 
a intervir em sindicatos, chegando a destituir seus diretores e a prender alguns 
integrantes (Ferreira, 1995, p. 406). 
Em 1981, as classes de trabalhadores se reuniram em um evento intitulado 
Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT), no intuito de 
organizar os sindicatos em âmbito nacional. Dois anos mais tarde foi criada a CUT 
– Central Única dos Trabalhadores, a qual abrangia grande parte dos 
trabalhadores, ainda que não tivesse reconhecimento de entidade oficial (Ferreira, 
1995, p. 406). 
Em 1982, iniciou-se timidamente o movimento das Diretas Já, cujo objetivo 
era realizar eleições abertas para escolha do novo presidente, mas não houve 
sucesso a princípio. Em 1985, o Congresso elegeu para presidente Tancredo 
Neves, o primeiro presidente civil depois de 21 anos de governo militar. Era o 
início da Nova República (Ferreira, 1995, p. 411). 
Contudo, Tancredo Neves não chegou a assumir a presidência, pois foi 
internado um dia antes, às pressas, e faleceu 38 dias depois. O vice-presidente, 
José Sarney, tomou posse definitivamente como presidente da república. Desde 
o início do seu Governo, debatia-se a elaboração de um novo texto constitucional, 
pois a Constituição de 1967 havia sido alterada de forma arbitrária diversas vezes 
(Ferreira, 1995, p. 429). 
Assim, em 1987, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte, cuja 
presidência era exercida pelo Deputado Ulysses Guimarães, e os trabalhos 
duraram 18 meses. Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a nova Constituição 
da República Federativa do Brasil. 
TEMA 5 – CONSTITUIÇÃO DE 1988 
A Constituição de 1988, sem dúvida, é documento jurídico dos mais 
avançados do mundo e contém ricas previsões acerca dos direitos sociais dos 
trabalhadores. Faz previsões nunca antes pensadas, e o constituinte originário 
coloca o trabalho como instrumento eficaz à promoção de justiça social. 
No art. 1º, inciso IV, da Constituição, o trabalho é previsto como um dos 
fundamentos do Estado democrático de direito, um direito fundamental, cujas 
particularidades estão expressas no art. 6º, fundamento da ordem econômica do 
país, conforme disposto no art. 170, caput, da Constituição, e fundamento da 
 
 
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ordem social, de acordo com art. 193. Transcrevem-se os artigos mencionados 
para facilitar o estudo: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
(...) 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde,a alimentação, o 
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, 
na forma desta Constituição. 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho 
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência 
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: 
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como 
objetivo o bem-estar e a justiça sociais. (Brasil, 1988) 
Diante destas previsões constitucionais, é correto afirmar que o trabalho 
humano deve ser entendido como um dos principais fundamentos do crescimento 
social e econômico do país. O trabalho não se limita àquele formal, ou seja, aquele 
com anotação em CTPS, mas a qualquer trabalho honesto realizado por pessoa 
digna, pois todas as suas formas representam valores sociais em razão da 
utilidade nas localidades em que é desenvolvido. 
No capítulo II, título II, a partir do art. 6º, a Constituição de 1988 previu seus 
principais itens em relação ao direito do trabalho. Evidentemente, a CLT foi 
revogada no que contrariava o texto constitucional, em razão da óbvia 
impossibilidade de qualquer norma jurídica estar em desacordo com a lei maior 
do país. 
Sobre a nova Constituição e a sua relação com os direitos trabalhistas, 
assim se manifesta Maurício Godinho Delgado: 
A nova Constituição firmou largo espectro de direitos individuais, 
cotejados a uma visão e normatização que não perdem relevância do 
nível social e coletivo em que grande parte das questões individuais deve 
ser proposta. Nesse contexto é que ganhou coerência a inscrição que 
produziu de diversificado painel de direitos sociotrabalhistas, ampliando 
garantias já existentes na ordem jurídica, a par de criar novas no 
espectro normativo dominante. (Delgado, 2011, p. 124) 
O artigo 6º da Constituição de 1988 previu como direitos sociais do cidadão 
saúde, educação, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência 
social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. 
O artigo seguinte (art. 7º) previu todos os direitos básicos dos trabalhadores 
urbanos e rurais, os quais serão apenas apontados, pois seu estudo se realizará 
mais detalhadamente em momento oportuno, quais sejam: proteção do 
 
 
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trabalhador contra despedida imotivada; seguro-desemprego; FGTS; salário 
mínimo capaz de atender as necessidades básicas do trabalhador e de sua 
família; piso salarial proporcional a extensão e complexidade do trabalho; 
irredutibilidade salarial, salvo se instituído por acordo coletivo de trabalho; garantia 
de salário nunca inferior ao mínimo àqueles que tenham salário variável; trabalho 
em jornada de 6 horas em turno ininterrupto de revezamento; 13º salário; adicional 
noturno; participação nos lucros e resultados de acordo com previsão legal; 
salário-família; duração do trabalho de oito horas diárias e 44 semanais, podendo 
haver compensação de horas se previsto em acordo com conveção coletiva de 
trabalho; repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; férias 
anuais remuneradas com adicional de um terço; licença maternidade sem prejuízo 
ao salário por 120 dias; licença paternidade; proteção do trabalho da mulher; aviso 
prévio de no mínimo 30 dias; redução de riscos inerentes ao trabalho; adicional 
de penosidade, insalubridade e periculosidade; aposentadoria; assistência 
gratuita aos filhos e dependentes do nascimento até 5 anos em creches e pré-
escolas; reconhecimento de acordos e convenções coletivas de trabalho; proteção 
face a automação; seguro contra acidente do trabalho a cargo do empregador; 
previsão de prazo prescricional para promoção de ação trabalhista; proibição de 
divergência de salário por questões que envolvam sexo, idade, cor ou estado civil; 
proibição de distinção do trabalho manual, técnico ou intelectual; proibição do 
trabalho noturno, insalubre ou perigoso aos menores de 18 anos, e de qualquer 
trabalho aos menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 
anos; igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício 
permanente e o trabalhador avulso. 
Com relação ao trabalhador doméstico, em razão de a ele não se aplicar 
as previsões da CLT, e para atender clamor antigo da sociedade, foram 
estendidos os seus direitos constitucionalmente previstos, conforme previsão do 
parágrafo único do art. 7º da Constituição. Entre os novos direitos previstos estão 
oito horas diárias de trabalho ou 44 semanais, adicional noturno, FGTS, 
irredutibilidade de salário, salário nunca inferior ao mínimo legal etc. Este item 
também será estudado mais detalhadamente em momento posterior. 
 
 
 
 
 
 
14 
FINALIZANDO 
Chegamos ao fim do estudo do histórico das Constituições brasileiras. 
Podemos notar que as conquistas sociais tiveram grande evolução na Era Vargas, 
e a Constituição de 1988 é o aperfeiçoamento de toda essa trajetória dos direitos 
sociais. Apesar de a matéria ser bastante teórica, existe a cobrança deste 
conteúdo em concursos públicos, como puderam notar com a questão-problema 
da aula. Portanto, este material pode servir de um roteiro de estudo sobre as 
Constituições brasileiras e os direitos dos trabalhadores, ainda que de forma 
resumida. 
Quanto ao questionamento feito lá no início da aula, com certeza a 
Constituição de 1934 é um marco histórico dos direitos constitucionais 
trabalhistas. Já a Constituição de 1988 pode ser considerada o maior 
aperfeiçoamento destes direitos, que em momento nenhum da história regrediram 
em prejuízos da sociedade e, especialmente, dos trabalhadores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Constituição (1824). Diário Oficial [da] República dos Estados Unidos 
do Brasil, Rio de Janeiro, 25 mar. 1824. 
_____. Constituição (1891). Diário Oficial [da] República dos Estados Unidos 
do Brasil, Rio de Janeiro, 24 fev. 1891. 
_____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967 (24 de janeiro de 
1967). Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm. Acesso em 
8/9/2013. 
_____. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. 
_____. A história da câmara dos deputados. Disponível em: 
<http://www2.camara.leg.br/a-
camara/conheca/historia/historia/a1republica.html>. Acesso em: 12 jul. 2018. 
CERVO, K. S. O direito fundamental ao trabalho na Constituição Federal de 
1988. 134 f. Dissertação (Mestrado em Direito). Universidade de Caxias do Sul. 
2008. 
DELGADO, M. G. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2011. 
GARCIA, G. F. B. Manual de direito do trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Método, 
2016.

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