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AULA 1 DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO Profª Sonia de Oliveira 2 CONVERSA INICIAL Nesta primeira aula, o tema central de estudo será a evolução do direito do trabalho nas constituições brasileiras, como forma de demonstrar a dinâmica da matéria de acordo com o momento histórico do Brasil e do mundo. Os trabalhadores no Brasil sempre foram livres? Sempre foram previstos tantos direitos aos trabalhadores como atualmente se faz? De que forma os direitos trabalhistas atualmente vigentes foram conquistados pelos trabalhadores? Essas e outras perguntas serão respondidas no decorrer do estudo. CONTEXTUALIZANDO No contexto constitucional, os direitos trabalhistas passaram de nenhum, quando do Império, época em que a escravidão ainda era a forma mais comum de labor, a uma série deles atualmente previstos na Constituição de 1988. Nesta evolução do direito constitucional do trabalho, será que existe algum período que pode ser considerado mais relevante para a conquista dos direitos dos trabalhadores? TEMA 1 – CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO Desde o descobrimento do Brasil, os portugueses adotaram o regime de escravidão, sendo forçados ao trabalho inicialmente os índios e depois os negros trazidos da África. Este modelo vigeu até final do século XIX. “A riqueza, o conforto e o luxo dos ricos no período colonial e no império são resultados de trabalho servil, da exploração desumana dessas populações” (Cervo, 2008, p. 28). Nessa época, o Brasil era predominantemente agrícola, e as tarefas eram exercidas por escravos, os quais não eram possuidores de qualquer direito. As rebeliões sempre tinham como fim se libertarem dos senhores violentos, mas sem o objetivo de alcançar igualdade jurídica. As indústrias eram raras e contavam com métodos primitivos de uso de cerâmica e madeira, cuja organização era precária (Cervo, 2008, p. 28). Apesar da existência do trabalho, ainda que escravo, não houve desenvolvimento de legislação trabalhista, mesmo que no país existissem condições de emprego em 1888. Em relação à primeira Constituição do Brasil, Dom Pedro convocou a primeira Assembleia Constituinte em junho de 1822, ou seja, antes mesmo da 3 declaração de independência do Brasil, ocorrida em 7 de setembro de 1822, mas se passaram quase dois anos para a outorga da primeira Constituição do país, fato que se deu em 25 de março de 1824 (Ferreira, 1995, p. 196). A primeira Constituição não foi elaborada por representantes do povo e expressava somente a vontade do imperador. A Constituição do Império vigorou por 65 anos e neste período sofreu pequenas alterações, como o Ato Adicional de 1843, pela Lei Interpretativa de 1840 e pela lei ordinária responsável pela antecipação da maioridade de Dom Pedro II, também em 1840 (Ferreira, 1995, p. 196). Entre as principais previsões desta Constituição, estão: instituição do regime da monarquia hereditária, catolicismo como religião oficial do país, sistema eleitoral, separação de poderes, organização militar, asseguração da liberdade de expressão e de pensamento e a manutenção da escravidão (Brasil, 1824). A leitura da Constituição de 1824 pode trazer algumas surpresas em seu texto quando considerado o atual regime democrático vigente no país, por exemplo o art. 92, inciso III, que vedava aos “criados de servir” o direito de votar nas assembleias paroquiais: Os criados de servir, em cuja classe não entram os Guarda livros, e primeiros caixeiros das casas de commercio, os Criados da Casa Imperial, que não forem de galão branco, e os administradores das fazendas ruraes, e fabricas. (Brasil, 1824) No ano seguinte ao da publicação da Lei Áurea, no dia 15 de novembro de 1889, aconteceu a Proclamação da República, a qual, inicialmente foi chefiada pelo governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, cuja função era governar o país até a elaboração na nova Constituição, a qual será estudada no tópico seguinte (Ferreira, 1995, p. 286). Leitura complementar Você pode ler a Constituição de 1824 online. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso em: 12 jul. 2018. TEMA 2 – CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE 1891 Em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, cujo texto sofreu grande influência da constituição norte-americana, pois estabelecia: a federação dos Estados, o sistema 4 presidencialista, a separação entre a igreja católica e o Estado, o casamento civil, a divisão dos poderes em três (Executivo, Legislativo e Judiciário) e a autonomia dos municípios (Ferreira, 1995, p. 287). Esta Constituição sofreu influências dos Estados Unidos e teve caráter individualista e crença no estilo laissez-faire, cujo modelo levou a grande república a alto grau de desenvolvimento. Era uma constituição com ideias-bases do liberalismo com a adoração da soberania individual. A Constituição Republicana não continha previsões sobre os direitos sociais do trabalhador. Após a Emenda Constitucional nº 3, de 3 de setembro de 1926, no art. 72, parágrafo 24, declarou-se a liberdade para o exercício de qualquer profissão moral, intelectual e industrial. Já o art. 31, item 28, previu a competência do Congresso Nacional para legislar acerca do trabalho (Brasil, 1891). Esta Constituição previu expressamente a competência do Congresso Nacional para legislar sobre o trabalho, mas, ao consultar a legislação da época, nota-se que nada foi elaborado para os trabalhadores em geral. Historicamente, no final do Império e no período inicial da primeira República, a economia do país era basicamente agrícola, ainda que o comércio e a industrialização estivessem iniciando alguma evolução. No setor primário, os principais produtos eram o café, o açúcar para o consumo interno, a borracha e o cacau (Ferreira, 1995, p. 305). No período entre a Constituição de 1891 e a seguinte, somente editada em 1934, vários acontecimentos foram registrados, como nos ensina Gustavo Garcia: As transformações ocorridas na Europa, com o crescente surgimento de leis de proteção ao trabalho, e a instituição da OIT em 1919, influenciaram o surgimento de normas trabalhistas no Brasil. Do mesmo modo, os imigrantes em nosso país deram origem a movimentos operários, reivindicando melhores condições de trabalho. Começa, assim, a surgir a política trabalhista de Getúlio Vargas, em 19308. Destaca-se, ainda, a Lei Eloy Chaves (Decreto 4.682/1923), ao criar a caixa de aposentadoria e pensões para os ferroviários, bem como estabilidade para esses trabalhadores quando completavam dez anos de emprego. Na década de 1930, diversos Decretos do Poder Executivo estabeleciam normas referentes a questões trabalhistas. (Garcia, 2016, p. 4) Leitura complementar Você também pode ler a Constituição de 1891 online. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em: 12 jul. 2018. 5 TEMA 3 – CONSTITUIÇÕES DE 1934 E DE 1937 (A POLACA) Neste tema, vamos abordar a Constituição de 1934, a qual foi um marco para o nascimento dos direitos constitucionais dos trabalhadores, e a de 1937, que basicamente manteve os previstos na sua antecessora. Ambas são oriundas do governo de Getúlio Vargas, que também é responsável pela promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho, como será mais adiante estudado. 3.1 Constituição de 1934 O Brasil pouco evoluiu na matéria referente aos direitos dos trabalhadores após a Constituição de 1891. Neste período, entre 1891 e 1934, foi editado o Código Civil, de 1919, que regia os atos da vida civil, entre eles o contrato de locação de serviços, prevendo que este poderia ser escrito, que a contratação não poderia se dar por mais de quatro anos quando por prazo determinado, que o pagamentose daria após a prestação do serviço etc., além de outros acontecimentos como mencionado no texto de Gustavo Garcia, antes transcrito. É importante entendermos um pouco mais do contexto histórico do Brasil quando da origem da Constituição de 1934. Para as eleições de 1930, foi criada a Aliança Liberal a partir de um acordo entre políticos mineiros e gaúchos com o objetivo de fazer com que o então Presidente Washington Luís desistisse de apoiar a candidatura de Júlio Prestes para presidência da república. Diante da resistência do presidente, a Aliança lançou Getúlio Vargas para concorrer ao cargo maior da república e João Pessoa para vice-presidente (Ferreira, 1995, p. 334). A vitória nas eleições foi disparada de Júlio Prestes, resultando na insatisfação dos membros da Aliança Liberal, os quais passaram a sustentar a existência de fraude na contagem de votos. Além da insatisfação dos partidários da Aliança Liberal, a Revolta de 1930 também foi resultado do assassinato de João Pessoa, por conta de lutas políticas na região do Recife (Ferreira, 1995, p. 335). Poucas semanas após o início da Revolta, o movimento já havia conseguido chegar ao Rio de Janeiro, onde Washington Luís estava na intenção de resistir à revolta até o fim. Porém, em 24 de outubro de 1930, o presidente foi deposto, e, em seu lugar, assumiu uma junta militar composta por generais e 6 contra-almirantes. Essa junta provisória tratou de pacificar o país, e, em 3 de novembro, Getúlio Vargas assumiu a Presidência da República. É o único caso conhecido em que o candidato derrotado nas eleições assume o cargo em detrimento do candidato eleito pelo povo (Ferreira, 1995, p. 338). Quando assumiu a Presidência em 1930, Getúlio Vargas suspendeu a vigência da Constituição de 1891, dissolveu o Congresso Nacional e passou para o Poder Executivo os poderes do Legislativo. Os quatro anos seguintes, até a Constituição de 1934, são de uma democracia de fachada, pois vivia-se uma ditadura velada. O Estado Novo, como é conhecido o período em que Getúlio esteve na Presidência da República, vigorou entre os anos de 1930 e 1945. Este período foi muito importante para os avanços dos direitos trabalhistas, se não o mais importante em toda a história do Brasil, ante as novidades que inseriu no texto constitucional quanto a ordem econômica e social, ainda que em outros aspectos o governo de Getúlio Vargas não fosse dos mais democráticos. Sobre a criação da Constituinte de 1933, analise o texto a seguir transcrito: No dia 3 de maio de 1933 são realizadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte. Aproximadamente 1.285.000 eleitores comparecem às urnas. Cada Estado da Federação escolhe deputados em número proporcional à sua população. Minas Gerais, o mais populoso, contou com 37 representantes, o que veio a lhe garantir a presidência dos trabalhos da nova Assembleia. No dia 10 de novembro, no plenário do Palácio Tiradentes, a Mesa Diretora, sob a presidência do ministro Hermenegildo de Barros, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, inicia o recebimento dos diplomas dos 254 deputados constituintes eleitos. Entre eles uma única mulher, Carlota Pereira de Queiroz (SP - Chapa Única), que havia participado ativamente da Revolução Constitucionalista. O Deputado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (MG – PP) é eleito para dirigir os trabalhos constituintes no dia 12. No dia 15, a Assembleia é instalada solenemente com a presença do chefe do Governo Provisório. A Comissão Constitucional, composta de 26 membros (um representante de cada bancada estadual e de cada um dos quatro grupos profissionais representados), encarregada de examinar o anteprojeto apresentado pelo Governo Provisório, começa seus trabalhos no dia 16 e os encerra no mês de março de 1934, apresentando ao Plenário da Assembleia Nacional Constituinte um substitutivo ao anteprojeto governamental para o encaminhamento das discussões. No mês de junho, o Plenário aprova os atos do Governo Provisório, tornando-os imunes à revisão judicial. Ao terminar a votação final do projeto de Constituição, é aprovada a anistia geral a todos os que, em virtude das agitações anteriores, principalmente as de 1932, haviam sido tolhidos em sua liberdade. A assinatura e promulgação da nova Constituição acontecem no dia 16 de julho de 1934. (Brasil, 2009) Promulgado o texto da Constituição de 1934, nota-se que é inédito na previsão de direitos dos trabalhadores. A partir do art. 115, a Constituição passava 7 a dispor sobre a ordem econômica e social, e o primeiro artigo previa que a ordem econômica deveria ser organizada conforme os princípios da justiça e as necessidades da vida nacional, de modo a permitir a existência digna de todos. Quanto aos direitos dos trabalhadores, foram previstos no art. 121 e nos seguintes da Constituição, dentre eles: • Proibição de salários diferentes para o mesmo trabalho por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil • Salário mínimo, o qual deveria atender, de acordo com condições de cada região, as necessidades básicas do trabalhador • Duração diária do trabalho de no máximo oito horas • Proibição de trabalhar aos menores de 14 anos • Proibição do trabalho noturno aos menores de 16 anos • Proibição de trabalhos insalubres a menores de 18 anos e às mulheres; • Repouso preferencialmente aos domingos • Férias anuais remuneradas • Indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa • Assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante • Descanso à gestante antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego • Previsão de regulamentação das profissões • Reconhecimento das convenções coletivas de trabalho • Igualdade de importância ao trabalho manual e ao intelectual ou técnico, bem como aos seus profissionais • Indenização por acidente de trabalho ocorrido em obras públicas (Brasil, 1934) Além da previsão de todos esses direitos trabalhistas, o desenvolvimento da indústria no período da Era Vargas foi bastante significativo. A partir de 1940, foram construídas no Brasil fábricas de aviões, usina siderúrgica (Companhia Siderúrgica Nacional), a usina hidrelétrica de Paulo Afonso, a Companhia Vale do Rio Doce e rodovias por todo o país. Por consequência, o crescimento da indústria fortaleceu o comércio (Ferreira, 1995, p. 359). O período que vai de 1930 até 1935 foi marcado por intensa mobilização das classes trabalhadoras urbanas. Aos poucos, o governo de Getúlio Vargas foi atendendo algumas de suas reivindicações estabelecendo uma legislação sindical, que inibia as manifestações autônomas da 8 classe operária. Depois da Intentona Comunista (1935) e, principalmente, durante o Estado Novo, as organizações de trabalhadores que não controladas pelo governo foram desaparecendo, em virtude da repressão que sofreram. O Estado chefiado por Getúlio Vargas procurou tomar posição como árbitro dos conflitos políticos e sociais. [...]. Seguindo essa linha de atuação, o governo procurou regulamentar as relações entre o capital e o trabalho (Ferreira, 1995, p. 361). Esse era o cenário interno do país quando da vigência da Constituição de 1934, marcado pelo atendimento à classe trabalhadora, a qual continua lutando para ver garantidos na prática direitos previstos nesta época. De todas as Constituições brasileiras, a de 1934 foi a que menos tempo se manteve em vigência, pois em 1937, com o golpe de Estado, teve início o Estado Novo, e uma nova Constituição foi outorgada por Getúlio Vargas. 3.2 Constituição de 1937 (a polaca) Esta Constituição foi promulgada por Getúlio Vargas após o golpe de Estado, dando início ao Estado Novo. O apelido de a polaca se deve pela grande influência que sofreu pela Constituição fascista em vigência na Polônia, cujas características eram o caráter autoritário e centralizador do poder. Com relação aos direitos trabalhistas,a Constituição de 1937 manteve as previsões da Constituição de 1934, com algumas diferentes. Em agosto de 1943, os direitos trabalhistas constitucionais foram suspensos por meio do Decreto nº 10.358, de 1º de setembro de 1942, o qual foi responsável por declarar o Estado de guerra no Brasil. O texto legal vedou expressamente a greve e o lock-out, por entender se tratarem de recursos antissociais nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os interesses de produção nacional. Contudo, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) entrou em vigor em 10 de novembro de 1943, prevendo outros direitos trabalhistas além daqueles elencados nas Constituições da Era Vargas. Os direitos consignados na CLT serão estudados nas matérias pertinentes, razão pela qual seu conteúdo não será analisado nesta oportunidade. TEMA 4 – A CONSTITUIÇÃO DE 1946 E A DE 1967 COM EMENDA DE 1969 As Constituições de 1946 e de 1967 representam dois momentos históricos diversos em nosso país: acaba a Era Vargas, dando-se início ao Regime Militar 9 brasileiro, momento em que diversos abusos sociais foram cometidos contra os cidadãos, dentre eles os trabalhadores. 4.1 Constituição de 1946 Em 20 de outubro de 1945, Getúlio Vargas foi deposto do cargo de presidente da república, e o chefe do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, assumiu a Presidência interinamente. Permaneceu no cargo em torno de quatro meses, apenas para garantir o funcionamento da administração pública federal, e convocou novas eleições para o mês de dezembro de 1945 (Ferreira, 1995, p. 372). Com o apoio de Getúlio Vargas, o General Eurico Gaspar Dutra venceu as eleições, e seu Governo se deu entre os anos de 1946 e 1951. Em setembro de 1946, promulgou a nova Constituição do país (Ferreira, 1995, p. 372). Além dos direitos trabalhistas presentes originalmente na Constituição de 1934, outros foram previstos, são eles: • Salário mínimo passou a ter o dever de manter as necessidades do trabalhador e de sua família • Salário noturno deveria ser superior ao diurno • Participação dos empregados nos lucros e resultados das empresas, de acordo com lei regulamentar • Proibição do trabalho noturno ao menor de 18 anos (na Constituição de 1934, a proibição deste trabalho era somente ao menor de 16 anos) • Convenções coletivas de trabalho foram reconhecidas, passando a fazer lei entre as partes do contrato de trabalho • Previdência em favor da maternidade e contra as consequências de doenças, velhice, invalidez e morte • Assistência médica e preventiva • Direito de greve, cuja regulamentação se faria por lei específica • Liberdade de associação profissional ou sindical, regulada por lei Em 1951, Getúlio Vargas foi novamente eleito, e seu Governo se estendeu até 1954. Nesse período, a sua Presidência também foi marcada pela política de busca de apoio nas classes trabalhadoras. Manteve certa tolerância com movimentos grevistas e com as lideranças sindicais. Em 1954, o então ministro do trabalho, João Goulart, concedeu aumento de 100% ao salário mínimo. 10 A Constituição de 1946 vigeu em torno de 21 anos, subsistindo aos governos presidenciais de Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, João Café Filho, Carlos Coimbra da Luz, Nereu de Oliveira Ramos (estes três últimos ocuparam a Presidência nos 17 meses posteriores à morte de Getúlio), Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart, cujo Governo foi alvo do Golpe Militar de 1964, que passou a Presidência ao Marechal Castelo Branco e, depois, ao General Costa e Silva (Ferreira, 1995, p. 380-399). No Governo de Castelo Branco, foi criado o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em detrimento do antigo sistema de estabilidade no emprego e de indenizações aos trabalhadores demitidos, e desenvolveu-se um sistema de controle dos salários (Ferreira, 1995, p. 398). 4.2 Constituição de 1967 com emenda de 1969 Foi promulgada em 24 de janeiro de 1967 durante o Governo presidencial do General Costa e Silva, segundo presidente do Regime Militar instalado no país. Esta Constituição elevou o trabalho como um desdobramento do princípio da dignidade da pessoa humana. As inovações quanto ao direito do trabalhador foram: • Salário-família aos dependentes do trabalhador • Duração do trabalho de no máximo oito horas, com intervalo para descanso • Proibição de qualquer trabalho aos menores de 12 anos • Estabilidade no emprego, indenização equivalente ou Fundo de Garantia • Seguro-desemprego, contra acidente de trabalho • Colônias de férias e clínicas de repouso, recuperação e convalescência, mantidas pela União • Previsão de tempo para aposentadoria da mulher e dos professores • Disposição sobre eleições sindicais • Proibição do direito de greve dos prestadores de serviços públicos e atividades especiais Após o início da vigência da Constituição de 1967, outros presidentes do Regime Militar ainda governaram o país: General Médici, General Ernesto Geisel, General Figueiredo, cujo mandato encerrou-se em 1985. No período entre 1979 e 1981, diversos movimentos grevistas se formaram no país por trabalhadores de diversas categorias econômicas, cuja principal 11 reivindicação era a melhoria dos salários. O governo reprimiu as greves e passou a intervir em sindicatos, chegando a destituir seus diretores e a prender alguns integrantes (Ferreira, 1995, p. 406). Em 1981, as classes de trabalhadores se reuniram em um evento intitulado Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT), no intuito de organizar os sindicatos em âmbito nacional. Dois anos mais tarde foi criada a CUT – Central Única dos Trabalhadores, a qual abrangia grande parte dos trabalhadores, ainda que não tivesse reconhecimento de entidade oficial (Ferreira, 1995, p. 406). Em 1982, iniciou-se timidamente o movimento das Diretas Já, cujo objetivo era realizar eleições abertas para escolha do novo presidente, mas não houve sucesso a princípio. Em 1985, o Congresso elegeu para presidente Tancredo Neves, o primeiro presidente civil depois de 21 anos de governo militar. Era o início da Nova República (Ferreira, 1995, p. 411). Contudo, Tancredo Neves não chegou a assumir a presidência, pois foi internado um dia antes, às pressas, e faleceu 38 dias depois. O vice-presidente, José Sarney, tomou posse definitivamente como presidente da república. Desde o início do seu Governo, debatia-se a elaboração de um novo texto constitucional, pois a Constituição de 1967 havia sido alterada de forma arbitrária diversas vezes (Ferreira, 1995, p. 429). Assim, em 1987, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte, cuja presidência era exercida pelo Deputado Ulysses Guimarães, e os trabalhos duraram 18 meses. Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a nova Constituição da República Federativa do Brasil. TEMA 5 – CONSTITUIÇÃO DE 1988 A Constituição de 1988, sem dúvida, é documento jurídico dos mais avançados do mundo e contém ricas previsões acerca dos direitos sociais dos trabalhadores. Faz previsões nunca antes pensadas, e o constituinte originário coloca o trabalho como instrumento eficaz à promoção de justiça social. No art. 1º, inciso IV, da Constituição, o trabalho é previsto como um dos fundamentos do Estado democrático de direito, um direito fundamental, cujas particularidades estão expressas no art. 6º, fundamento da ordem econômica do país, conforme disposto no art. 170, caput, da Constituição, e fundamento da 12 ordem social, de acordo com art. 193. Transcrevem-se os artigos mencionados para facilitar o estudo: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde,a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. (Brasil, 1988) Diante destas previsões constitucionais, é correto afirmar que o trabalho humano deve ser entendido como um dos principais fundamentos do crescimento social e econômico do país. O trabalho não se limita àquele formal, ou seja, aquele com anotação em CTPS, mas a qualquer trabalho honesto realizado por pessoa digna, pois todas as suas formas representam valores sociais em razão da utilidade nas localidades em que é desenvolvido. No capítulo II, título II, a partir do art. 6º, a Constituição de 1988 previu seus principais itens em relação ao direito do trabalho. Evidentemente, a CLT foi revogada no que contrariava o texto constitucional, em razão da óbvia impossibilidade de qualquer norma jurídica estar em desacordo com a lei maior do país. Sobre a nova Constituição e a sua relação com os direitos trabalhistas, assim se manifesta Maurício Godinho Delgado: A nova Constituição firmou largo espectro de direitos individuais, cotejados a uma visão e normatização que não perdem relevância do nível social e coletivo em que grande parte das questões individuais deve ser proposta. Nesse contexto é que ganhou coerência a inscrição que produziu de diversificado painel de direitos sociotrabalhistas, ampliando garantias já existentes na ordem jurídica, a par de criar novas no espectro normativo dominante. (Delgado, 2011, p. 124) O artigo 6º da Constituição de 1988 previu como direitos sociais do cidadão saúde, educação, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. O artigo seguinte (art. 7º) previu todos os direitos básicos dos trabalhadores urbanos e rurais, os quais serão apenas apontados, pois seu estudo se realizará mais detalhadamente em momento oportuno, quais sejam: proteção do 13 trabalhador contra despedida imotivada; seguro-desemprego; FGTS; salário mínimo capaz de atender as necessidades básicas do trabalhador e de sua família; piso salarial proporcional a extensão e complexidade do trabalho; irredutibilidade salarial, salvo se instituído por acordo coletivo de trabalho; garantia de salário nunca inferior ao mínimo àqueles que tenham salário variável; trabalho em jornada de 6 horas em turno ininterrupto de revezamento; 13º salário; adicional noturno; participação nos lucros e resultados de acordo com previsão legal; salário-família; duração do trabalho de oito horas diárias e 44 semanais, podendo haver compensação de horas se previsto em acordo com conveção coletiva de trabalho; repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; férias anuais remuneradas com adicional de um terço; licença maternidade sem prejuízo ao salário por 120 dias; licença paternidade; proteção do trabalho da mulher; aviso prévio de no mínimo 30 dias; redução de riscos inerentes ao trabalho; adicional de penosidade, insalubridade e periculosidade; aposentadoria; assistência gratuita aos filhos e dependentes do nascimento até 5 anos em creches e pré- escolas; reconhecimento de acordos e convenções coletivas de trabalho; proteção face a automação; seguro contra acidente do trabalho a cargo do empregador; previsão de prazo prescricional para promoção de ação trabalhista; proibição de divergência de salário por questões que envolvam sexo, idade, cor ou estado civil; proibição de distinção do trabalho manual, técnico ou intelectual; proibição do trabalho noturno, insalubre ou perigoso aos menores de 18 anos, e de qualquer trabalho aos menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 anos; igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. Com relação ao trabalhador doméstico, em razão de a ele não se aplicar as previsões da CLT, e para atender clamor antigo da sociedade, foram estendidos os seus direitos constitucionalmente previstos, conforme previsão do parágrafo único do art. 7º da Constituição. Entre os novos direitos previstos estão oito horas diárias de trabalho ou 44 semanais, adicional noturno, FGTS, irredutibilidade de salário, salário nunca inferior ao mínimo legal etc. Este item também será estudado mais detalhadamente em momento posterior. 14 FINALIZANDO Chegamos ao fim do estudo do histórico das Constituições brasileiras. Podemos notar que as conquistas sociais tiveram grande evolução na Era Vargas, e a Constituição de 1988 é o aperfeiçoamento de toda essa trajetória dos direitos sociais. Apesar de a matéria ser bastante teórica, existe a cobrança deste conteúdo em concursos públicos, como puderam notar com a questão-problema da aula. Portanto, este material pode servir de um roteiro de estudo sobre as Constituições brasileiras e os direitos dos trabalhadores, ainda que de forma resumida. Quanto ao questionamento feito lá no início da aula, com certeza a Constituição de 1934 é um marco histórico dos direitos constitucionais trabalhistas. Já a Constituição de 1988 pode ser considerada o maior aperfeiçoamento destes direitos, que em momento nenhum da história regrediram em prejuízos da sociedade e, especialmente, dos trabalhadores. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1824). Diário Oficial [da] República dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, 25 mar. 1824. _____. Constituição (1891). Diário Oficial [da] República dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, 24 fev. 1891. _____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967 (24 de janeiro de 1967). Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm. Acesso em 8/9/2013. _____. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. _____. A história da câmara dos deputados. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/a- camara/conheca/historia/historia/a1republica.html>. Acesso em: 12 jul. 2018. CERVO, K. S. O direito fundamental ao trabalho na Constituição Federal de 1988. 134 f. Dissertação (Mestrado em Direito). Universidade de Caxias do Sul. 2008. DELGADO, M. G. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2011. GARCIA, G. F. B. Manual de direito do trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Método, 2016.
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