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AULA 5 DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO Profª Sonia de Oliveira 2 CONVERSA INICIAL Neste encontro, daremos continuidade ao estudo dos direitos individuais do trabalho previstos na Constituição de 1988, incluindo algumas das previsões do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT. Serão abordados os temas: • segurança e medicina do trabalho, incluindo o trabalho do menor; • trabalho da mulher e a proteção da maternidade e paternidade; • não discriminação do trabalho e o direito à aposentadoria; • trabalho doméstico, incluindo previsões da Lei Complementar n. 150/2015; • prescrição. Leia os materiais, assista os vídeos e bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Você foi procurado no seu escritório pela senhora Maria dos Anjos, no dia 01/05/2018. Ela lhe informa que trabalhou como técnica em enfermagem em uma clínica médica. Foi contratada em 10/01/2013 e dispensada, sem justa causa, em 04/04/2016. Ela relata como era o trabalho na empresa e você conclui que ela poderia pleitear diferenças a título de horas extras, adicional noturno e adicional de insalubridade. Contudo, seria possível ingressar com a ação trabalhista ainda, tendo em vista a data de sua dispensa? Dica: Lembre-se que o aviso-prévio é tempo de serviço para todos os fins. TEMA 1 – SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO Durante muitos anos, especialmente nos idos da Revolução Industrial, homens, mulheres e crianças eram submetidos a trabalho exaustivo e em condições degradantes, sem que existisse qualquer preocupação com a sua saúde. No Brasil, a Revolução Industrial foi tardia, sendo que no início do século XX, especialmente após o término da 2ª Guerra Mundial, é que se iniciaram, ainda que timidamente, os processos de industrialização. Assim, no Brasil, o tema “saúde do trabalhador” passou a ser discutido mais tardiamente do que nos países da Europa. Quando da instalação de estabelecimentos fabris no Brasil, a Revolução Industrial já tinha ocorrido há mais 3 de meio século na Inglaterra, o que fez com que os operários brasileiros não sentissem o impacto de maneira tão marcante. Com o passar do tempo, normas foram sendo editadas no sentido de proteger a saúde do trabalhador, até se chegar ao texto constitucional de 1988, que não ficou alheio a isso. É o disposto no art. 7º da Constituição quanto à proteção da saúde do trabalhador, no que inclui a proteção do meio ambiente do trabalho (Brasil, 1988): XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; Neste ponto, apesar de prever a proteção, o texto constitucional merece crítica, pois o pagamento de adicional pela exposição a agentes insalubres, não impedem à violação da saúde do trabalhador, tratando-se de mera compensação desproporcional pela exposição ao agente de risco, que deveria ser totalmente eliminado para conservação do meio ambiente do trabalho e da saúde do obreiro. Analisando conjuntamente as redações dos artigos 10, inciso II, letra “a”, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias1, art. 7º, inciso XXVIII2, art. 1963, art. 200, incisos II a VIII4, todos da Constituição de 1988, e art. 1845 da CLT, Raimundo Simão de Melo conclui que “é o meio ambiente do trabalho um dos 1 “Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7 º, I, da Constituição: II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: a) do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes, desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato ”. 2 “Art. 7º, inciso XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa ”. 3 “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. 4 “Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atr ibuições, nos termos da lei: II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico; VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”. 5 “Art.184 - As máquinas e os equipamentos deverão ser dotados de dispositivos de partida e parada e outros que se fizerem necessários para a prevenção de acidentes do trabalho, especialmente quanto ao risco de acionamento acidental ”. 4 mais importantes aspectos do meio ambiente, que agora, pela primeira vez na história [...] recebe proteção jurídica adequada”. (Melo, 2013, p. 37) A Constituição, como se lê no inciso XXIII, art. 7º, prevê o pagamento de adicional para os casos de trabalho insalubre, perigoso ou penoso. Igualmente, a CLT prevê expressamente as hipóteses de trabalho insalubre e perigoso, contudo inexiste regulamentação do que seja trabalho penoso para fins de pagamento do adicional. A Constituição obriga o empregador ao pagamento de seguro por acidente do trabalho aos seus empregados. As hipóteses consideradas como acidente de trabalho estão previstas na Lei n. 8.213/1991, nos art. 19, 20 e 21. O art. 19 da Lei n. 8.213/1991 estabelece o conceito de acidente do trabalho (Brasil, 1991): Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. No caso de acidente de trabalho, constatando-se dolo ou culpa do empregador, ele deverá indenizar civilmente o empregado, de acordo com os ditames dos artigos 189 e 927, parágrafo único, ambos do Código Civil. A regra é que a responsabilidade civil do empregador seja subjetiva (apurando-se dolo ou culpa), mas os tribunais do trabalho têm admitido a responsabilidade civil objetiva nos casos em que a atividade empresarial tiver natureza perigosa (atividades de risco). A essas indenizações civis a que estão obrigados os empregadores também está incluída pensão ou indenização pela redução da capacidade laborativa do trabalhador em razão de acidente do trabalho. Considerando os reflexos que o acidente do trabalho é capaz de gerar para os empregados (dano físico e moral) e aos empregadores (indenizações), tem-se que o melhor “remédio” é a prevenção aos acidentes do trabalho mediante adoção das normas de segurança e saúde do trabalhador, treinamento dos empregados e investimento em equipamento de proteção individual e coletivo. Você pode consultar as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho, as quais mencionei no vídeo anterior, acessando este link: <http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas- regulamentadoras>. 5 1.1 Automação Atualmente, a sociedade passa pela chamada RevoluçãoTecnológica. É cada vez mais comum que homens sejam substituídos por máquinas que conseguem realizar o mesmo trabalho com maior rapidez e perfeição técnica. Nesse sentido, ao estabelecer a proteção do trabalho contra a automação, a Constituição de 1988 trouxe grande avanço ao ordenamento jurídico, sendo uma norma de proteção ao trabalho humano (Brasil, 1988, art. 7º, inciso XXVII). Arnaldo Süssekind (1999, p.279-280), ao analisar a questão da automação, afirma que “as despedidas coletivas, motivadas pelo implemento de nova tecnologia, deveriam ser submetidas a procedimentos especiais, na tentativa de reduzi-las ao mínimo indispensável, estipular justos critérios e promover a readaptação profissional dos trabalhadores atingidos”. Desse modo, a Constituição buscou a proteção de postos de trabalho tentando impedir que máquinas substituam o homem na sua essência. Mas pense, será que essa proteção já é violada? Até quando se poderá manter a “harmonia” entre homem e máquina nos meios de produção? 1.2 O trabalho do menor A Constituição de 1988 não impede o trabalho do menor de 18 anos, mas estabelece alguns critérios para que se concretize. O art. 7º, inciso XXXIII, da Constituição de 1988, permite o trabalho do menor, a partir dos 16 anos. Entretanto, na condição de aprendiz o labor pode iniciar a partir dos 14 anos. Desse modo, somente está absolutamente impedido de exercer qualquer trabalho os menores de 14 anos, já que a partir de então podem ser aprendizes, fazendo com que sejam inseridos no ambiente laboral, mas sempre com o intuito de aprendizagem e não de se tornar mão de obra na condição de empregado. Entretanto, buscando proteção dos menores de 18 anos, a Constituição proíbe expressamente o labor deles em horário noturno, no trabalho perigoso ou insalubre. Também é importante lembrar que a Lei n. 10.097/2000 regulamenta o trabalho do menor aprendiz, o qual poderá manter essa condição dos 14 aos 24 anos, salvo os deficientes, para os quais não há idade limite. O contrato de aprendizagem deve ser anotado na carteira de trabalho do menor e o tempo 6 máximo do contrato é de 2 anos. É obrigatório que o menor esteja cursando a escola para poder ser aprendiz. A OIT – Organização Internacional do Trabalho promove campanhas em todo o mundo para a erradicação do trabalho infantil, assunto levado bastante a sério. TEMA 2 – TRABALHO DA MULHER E PROTEÇÃO DA MATERNIDADE E DA PATERNIDADE O art. 7º, inciso XX, da Constituição de 1988, aduz expressamente que, nos termos da lei, é preciso promover a proteção do mercado de trabalho para as mulheres. O artigo trata-se de uma norma aberta, porque a Constituição não diz como isso deve ser feito, sendo que a lei regulatória ainda não foi editada pelo legislador. A proteção específica do trabalho da mulher representa uma concretização do Princípio da Igualdade, insculpido no art. 5º da Constituição de 1988, segundo o qual os desiguais devem ser tratados na medida de sua desigualdade. É importante lembrar que as particularidades socioculturais do nosso país pesam quando se pensa na necessidade de normas especiais para proteção do trabalho da mulher, que estão destinadas, na maioria dos casos, a conter opressões sociais e discriminação no ambiente de trabalho, salários menores para os mesmos cargos em relação aos homens etc. A CLT também tem um capítulo específico acerca da proteção do trabalho da mulher, que inclui não apenas o mercado de trabalho, mas também as condições de labor, ou seja, o ambiente de trabalho feminino. Para ver tais normas, acesse a CLT e leia o art. 372 e seguintes (Brasil, 1943). Estabelece expressamente o texto constitucional, no art. 7º, inciso XVIII, que toda mulher gestante terá o direito de 120 dias de licença-maternidade sem prejuízo ao salário e ao emprego. Essa é uma das formas pelas quais o constituinte originário buscou proteger o trabalho da mulher gestante, proporcionando a ela a tranquilidade de poder permanecer junto à criança nos momentos de adaptação após o nascimento, além de permitir a sua recuperação física e emocional. De certa forma, a norma constitucional também procura proteger a criança, que necessita de atenção especial. A Lei nº 11.770/2008, chamada de Empresa Cidadã, permite que a empregada gestante tenha licença-maternidade de 180 dias por meio de 7 incentivos fiscais às empresas que adotarem esta prática. Sem dúvida, é uma norma de cunho social e benéfica a ambas as partes; contudo, somente empresas de grande porte podem adotar essa prática para incentivos fiscais. As convenções coletivas de trabalho também podem fixar prazos maiores de licença-maternidade para as trabalhadoras inseridas naquela categoria profissional. Nesse caso, a norma é de observância obrigatória pelo empregador. O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT prevê, no art. 10, algumas estabilidades no emprego, dentre as quais está a estabilidade da gestante. O art. 10, II, “b” do ADCT dispõe que a mulher gestante não pode ser dispensada desde a confirmação da gravidez até 5 meses após o parto. Mas, se ampliado o prazo de licença-maternidade, como exposto logo acima, também será estendido o prazo de estabilidade gestacional. Com relação a proteção da maternidade, também é importante o conhecimento da Súmula n. 244 do TST (Brasil, 2012): GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA (redação do item III alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012 I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, "b" do ADCT). II - A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos correspondentes ao período de estabilidade. III - A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art. 10, inciso II, alínea “b”, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, mesmo na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado. Entretanto, é importante destacar que a estabilidade antes mencionada não impede a dispensa por justa causa da empregada gestante que pratique atos que se enquadrem no art. 482 da CLT. O art. 7º, inciso XIX da Constituição, aduz que é direito do trabalhador a licença-paternidade, nos termos da lei. Todavia, essa lei ainda não foi editada; o ADCT prevê que, enquanto perdurar a lacuna infraconstitucional, a licença- paternidade será de cinco dias. Vale destacar que as convenções coletivas de trabalho podem estabelecer prazos maiores de licença-maternidade e paternidade, mas nunca períodos inferiores aos previstos constitucionalmente. Por fim, destaca-se que à mãe e ao pai adotantes também são garantidos os mesmos prazos de licença em relação aos pais biológicos. 8 Além da maternidade e paternidade, a Constituição de 1988 também procura proteger a criança quando prevê no art. 7º, inciso XXV, o direito a assistência gratuita aos filhos e dependentes do trabalhador desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas (Brasil, 1988). Quanto ao tema aposentadoria, assista o vídeo do tema para saber a proteção conferida pela Constituição. TEMA 3 – NÃO DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO A Constituição de 1988 faz diversas previsões no sentido de afastar a discriminação em relação aos trabalhadores, seja em razão de sexo, cor, idade, estado civil, condição de saúde ou pelo exercício de trabalho técnico, manual ou intelectual (Brasil, 1988): XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhadorportador de deficiência; XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; Há vedação expressa no texto da Constituição de diferença salarial, função e admissão em razão do sexo, idade, cor ou estado civil. Por exemplo, é evidente prática discriminatória a contratação exclusiva de mulheres para o trabalho de recepcionista, quando é perfeitamente possível que o homem exerça tal atividade igualmente. A Lei n. 8213/1991 também trata do trabalho da pessoa portadora de deficiência e, no artigo 93, dispõe que as empresas com mais de 100 empregados estão obrigadas a contratação de deficiente, nas seguintes proporções: “I - até 200 empregados: 2%; II - de 201 a 500: 3%; III - de 501 a 1.000: 4%; IV - de 1.001 em diante: 5%”. (Brasil, 1991). A outra discriminação vedada pela Constituição de 1988 é quanto à natureza do trabalho realizado pelo cidadão. Não se pode discriminar o trabalhador por ele exercer trabalho intelectual, técnico ou manual. Todos merecem o mesmo respeito e condições de tratamento e não podem ser explorados em detrimento do tipo de trabalho que exercem. TEMA 4 – TRABALHO DOMÉSTICO Quando falamos de trabalho doméstico, de imediato pensamos na empregada mulher que trabalha na casa de outrem fazendo limpeza, cozinhando 9 e atuando como babá. Entretanto, o empregado doméstico não se limita a esee importante profissional. O trabalhador doméstico é qualquer empregado que labore no ambiente residencial, para pessoa ou família que não vise fins lucrativos com o labor desse empregado. Desse modo, o trabalhador doméstico pode ser o motorista, o jardineiro, o cuidador de idoso, o fisioterapeuta etc.., desde que esteja inserido no ambiente doméstico. Importante destacar que a Lei Complementar n. 150/2015 prevê expressamente que o trabalhador doméstico é aquele que trabalha na residência da pessoa ou família mais de dois dias da semana. Assim, o trabalho em dois ou um dia configura o trabalho diarista, para quem não são garantidos os mesmos direitos. Os trabalhadores domésticos estão conquistando cada vez mais direitos laborais nos últimos anos, especialmente a partir da reforma da Constituição, por meio da Emenda Constitucional n. 72/2013, que ampliou os direitos constitucionais laborais previstos no art. 7º, parágrafo único, da Constituição de 1988: Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. (Brasil, 1988) Estão dentre esses direitos: salário mínimo, irredutibilidade de salário, 13º salário, jornada diária de 8 horas de trabalho e 44 horas semanais, descanso semanal remunerado, pagamento de horas extras, férias, licença-maternidade e paternidade, aviso-prévio, aposentadoria, proibição de discriminação no salário, proibição de trabalho noturno ou perigoso ao menor de 18 anos etc. Após essa emenda constitucional, foi promulgada a Lei Complementar n. 150/2015, que ampliou o rol de direitos previstos na Constituição de 1988. Assista o vídeo deste tema e conheça alguns desses direitos. TEMA 5 – PRESCRIÇÃO Ao trabalhador é garantido o acesso ao Poder Judiciário para reclamar direitos laborais que entenda terem sido violados na sua relação de trabalho com 10 empresa ou pessoa física. Contudo, esse direito não pode ser exercido eternamente, pois a Constituição prevê prazos limites. O artigo 7º, inciso XXIX, da Constituição, dispõe sobre os prazos prescricionais para ação relativa aos créditos trabalhistas (Brasil, 1988): “XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho”. Observa-se que o texto trata dos créditos resultantes “das relações de trabalho”, o que é muito mais amplo do que somente relações de emprego (estas, com CTPS anotada). Então, qualquer relação de trabalho, ainda que sem anotação na carteira de trabalho, deve obedecer a tais prazos para reclamação. Em linhas gerais, considerando o contrato de emprego, o inciso antes transcrito prevê que após o término do contrato de trabalho o empregado tem um prazo de 2 anos para ingressar com a ação trabalhista contra o empregador. Da data da propositura da ação trabalhista, o empregado poderá reclamar os direitos referentes aos últimos cinco anos do contrato de trabalho. Assim, se um empregado trabalhou o total de 6 anos para um empregador, e ingressar com a ação trabalhista no dia seguinte da dispensa, não poderá reclamar nada em relação ao primeiro ano de trabalho. Mas tem alguma outra prescrição que devemos considerar? A partir de quando começa a contar o prazo de dois anos para propor a ação trabalhista? Veja o vídeo deste tema e saiba mais. Com relação às ações referentes a acidentes de trabalho, a prescrição começa a contar da data da ciência inequívoca da lesão e não da rescisão do contrato de trabalho, para os acidentes ocorridos posteriormente à Emenda Constitucional n. 45/2004. Vejamos o julgado abaixo que analisam o tema: TRT-PR-04-10-2013 PRESCRIÇÃO TRABALHISTA. ARTIGO 7º, XXIX, DA CF. ACIDENTE DO TRABALHO OCORRIDO EM MOMENTO POSTERIOR À EC 45/2004. Se o alegado acidente do trabalho ocorreu em novembro de 2008, a prescrição incidente é a trabalhista, do artigo 7º, XXIX, da CF. Tratando-se de ação ajuizada em agosto de 2012, quando ainda em vigor o contrato de trabalho, não há que se falar em prescrição, pois o prazo bienal, conta-se, como taxativamente delimitado na Constituição Federal, com a extinção do contrato de trabalho. Sentença reformada. (TRT-PR-01266-2012-671-09-00-9-ACO-39790- 2013 - 6A. TURMA Relator: SUELI GIL EL RAFIHI Publicado no DEJT em 04-10-2013). TRT-PR-22-01-2014 PRESCRIÇÃO. ACIDENTE DE TRABALHO TÍPICO. PROJEÇÃO DOS DANOS PARA O FUTURO. MARCO PRESCRICIONAL. De acordo com a Súmula nº 278 do C. STJ, o prazo 11 de prescrição tem seu termo inicial a partir da ciência inequívoca da incapacidade laboral, ou seja, quando a vítima pode veicular com segurança sua pretensão reparatória, na medida em que ciente do dano e de sua real extensão. "In casu", embora se possa precisar a data do acidente, vislumbra-se que ele não foi de imediata e concreta lesividade. Os seus efeitos, sob o prisma da pretensão resistida, tiveram projeção futura, retratada em sucessivas intervenções cirúrgicas e constante acompanhamento médico, tendo culminado na amputação de parte de sua perna esquerda. Houve concessão de aposentadoria por invalidez em 08.11.10. Portanto, mesmo sendo aplicável a prescrição trabalhista estampada no art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, pode ser considerada como momento de inequívoca consolidação da lesão o da concessão do referido benefício previdenciário, de modo a afastar a possibilidade de se pronunciar a prescrição, tendo em conta o ajuizamento da ação em 22.11.11. Recurso ordinário das Reclamadas, a que se nega provimento, neste ponto. (TRT-PR-01715-2011-657-09- 00-1-ACO-00923-2014 - 7A. TURMA Relator: UBIRAJARA CARLOS MENDES Publicado no DEJT em 22-01-2014) Observe que na última ementa citada, a prescrição iniciou a contagem após a aposentadoria por invalidez do reclamante, considerando a data da concessão do benefício como o da ciência inequívoca da incapacidade laborativa do trabalhador. Portanto, muita atenção quanto aos prazos prescricionais! E, por fim, vale mencionar que o prazo prescricionalnão contempla os pedidos meramente declaratórios na ação trabalhista; ou seja, se o seu cliente lhe procurar apenas para requerer a declaração de vínculo de emprego com uma determinada empresa, não se aplica o prazo de 2 anos, podendo a ação ser proposta a qualquer tempo. FINALIZANDO Neste encontro, finalizamos o estudo dos direitos individuais do trabalho previstos na Constituição de 1988. Também incluímos neste estudo alguns dos direitos previstos na Lei Complementar n. 150/2015 destinados aos empregados domésticos. Lembre-se que os direitos constitucionais laborais devem ser analisados em conjunto com as previsões da CLT, cujas previsões serão estudadas em matéria específica! 12 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 ago. 1943. _____. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 25 jul. 1991. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 244, de 14 set. 2012. Disponível em: <http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_201_2 50.html#SUM-244>. Acesso em: 31 jul. 2018. MELO, R. S. de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. 5. ed. São Paulo: LTr, 2013. SÜSSEKIND, A. Direito constitucional do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
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