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AULA 2 DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO Profª Sonia de Oliveira 2 CONVERSA INICIAL Não existem princípios informadores do direito do trabalho previstos expressamente na Constituição de 1988, mas é possível extrair na análise do texto da lei maior alguns princípios gerais que podem ser aplicados à disciplina, os quais serão estudados de forma indireta quando abordarmos as normas constitucionais gerais aplicáveis ao direito do trabalho, em aula futura. Então, estudaremos neste encontro os princípios específicos do direito do trabalho, ainda que não previstos constitucionalmente, pois também são uma forma de garantir os direitos sociais dos trabalhadores, descritos no art. 7º da Constituição de 1988. Ao final desta aula, será possível concluir que os princípios não têm apenas função informativa ou figurativa na solução de lides trabalhistas e na garantia de direitos, o que justifica o seu estudo específico e aprimorado. Serão objeto de estudo nesta aula princípio da proteção, princípio da irrenunciabilidade de direitos, princípio da continuidade da relação de emprego, princípio da primazia da realidade, princípio da razoabilidade e princípio da intangibilidade salarial. Em seguida, estudaremos a aplicação prática desses princípios pelos tribunais, tomando como base decisões do TRT da 9ª Região. A doutrina básica e recomendada para este estudo é a do autor uruguaio Americo Plá Rodrigues, cujo texto aprofundado é essencial neste assunto, por ser uma referência sempre atual, independentemente da época em que tenha sido escrito. CONTEXTUALIZANDO Vamos considerar a seguinte situação: você é procurado pelo seu cliente, sr. João, o qual informa que tem interesse de entrar com uma ação trabalhista contra a empresa em que trabalhava até o mês passado. Ele conta que foi dispensado sem justa causa, as verbas rescisórias já foram pagas e a CTPS foi anotada corretamente. Então, você questiona o sr. João sobre o seu horário de trabalho e se ele fazia horas extras. Sobre isso, João conta que batia cartão de ponto, mas na hora do almoço tinha que almoçar correndo e voltar a trabalhar. Então, quando completava uma hora de intervalo, ele saía do posto de trabalho e ia bater o ponto, para ficar com uma hora de intervalo corretamente registrada no documento. 3 Ele também diz que à tarde, pelos menos duas vezes por semana, batia o ponto para ir embora, mas tinha que voltar para o trabalho, quando, então, continuava trabalhando por mais uma hora. E então, como fica essa situação? O cartão ponto do sr. João está anotado de acordo com a lei, mas, de fato, ele trabalhava muito mais tempo do que o documento consigna. Será que o sr. João pode pedir horas extras? Será que algum princípio de direito do trabalho pode auxiliar João nesta situação? Com certeza, ao final desta aula, você poderá responder esta pergunta com segurança. TEMA 1 – PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO O princípio da proteção, como o próprio nome já indica, tem o objetivo de proteger o trabalhador na relação de emprego, como forma de compensar a superioridade econômica do empregador, o qual agrega tal condição em relação àquele (Martins, 2013, p. 72). Maurício Godinho Delgado informa que este princípio é considerado “cardeal” do direito do trabalho, pois reflete em toda a estrutura e nas características de ramo jurídico especializado (Delgado, 2012, p. 193). Américo Plá Rodriguez ensina que o princípio da proteção “está ligado à própria razão de ser do Direito do Trabalho”, pois a liberdade de contratação, por envolver partes de diferentes níveis econômicos, resultaria em diversas formas de exploração, incluindo as mais abusivas (1996, p. 30). Para Américo Plá Rodrigues, o princípio da proteção se desdobra em três outros subprincípios: in dubio pro operário, regra da aplicação da norma mais favorável e regra da condição mais benéfica. Para Maurício Godinho Delgado, na condição de princípio tutelar, o princípio da proteção não se limita a esses três desdobramentos, mas atua na condição de agente inspirador de todo o complexo de regras, princípios e institutos do direito do trabalho (Delgado, 2012, p. 194). Ainda que sejam de grande importância os ensinamentos de Delgado, o princípio da proteção será analisado sob a ótica de Américo Plá Rodrigues. Normalmente, as legislações tendem a proteger o réu devedor (favor pro reo), mas no direito do trabalho essa condição não é atendida se considerarmos que o devedor, nessa hipótese, é o empregador. Isso se deve ao fato de na relação de trabalho a parte hipossuficiente da relação ser o trabalhador (credor), 4 em desvantagem à condição econômica do empregador. Portanto, busca-se proteger a parte mais frágil da relação, ainda que seja ela a parte credora. Contudo, como ressalta Maurício Godinho Delgado, havendo dúvida do juiz quanto ao conteúdo probatório formado no processo, ele deverá decidir desfavoravelmente àquele que tinha o ônus de fazer a prova e não o fez, sem aplicar, nesta hipótese, o princípio do in dubio pro operario (Delgado, 2012, p. 208). A aplicação da norma mais favorável deve atender a três situações: no instante da elaboração da regra (orientação legislativa, portanto); no confronto de regras concorrentes (hierarquização das normas trabalhistas); e no contexto de interpretação das regras jurídicas (revelação do sentido da regra trabalhista) (Delgado, 2012, p. 194). A norma mais favorável: na fase legislativa (essencialmente política), o princípio é apenas informativo, agindo como fonte material para elaboração da norma trabalhista. A influência exercida pelo princípio nesta fase é muito evidente, especialmente nos governos democráticos. Já na fase jurídica, após a constituição da regra, portanto, tal princípio atua como critério de hierarquia de regras jurídicas, bem como princípio de interpretação destas regras (Godinho, 2012, p. 195). Como critério de hierarquia, colabora para eleger a regra que deve prevalecer no caso concreto em detrimento de outras, sempre considerando a mais benéfica ao empregado, contudo não pode se sobrepor ao caráter sistemático da norma jurídica já cientificado (por exemplo, regra de convenção coletiva de trabalho não pode se sobrepor a previsão constitucional). Já como princípio de interpretação do direito, permite que a norma seja interpretada de forma a beneficiar o trabalhador caso haja duas ou mais formas de “leitura” de seu conteúdo, sendo vedado, contudo, ao aplicador suplantar critérios científicos impostos pela hermenêutica jurídica (Godinho, 2012, p. 195). TEMA 2 – PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DOS DIREITOS TRABALHISTAS E DA CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO Neste tema, vamos estudar dois princípios: da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas e da continuidade da relação de emprego. 5 São princípios independentes, porque se aplicam na vigência do contrato de trabalho, mas também podem servir de instrumento para a garantia de direitos em ação trabalhista posterior. 2.1 Princípio da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas O nome do princípio já remete ao seu significado: ao empregado, é vedado renunciar a direitos laborais previstos na lei constitucional e nas demais normas infraconstitucionais. Há autores que criticam o fato de se nomear este princípio como de “irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas”, a exemplo de Maurício Godinho Delgado, que entende a impropriedade do termo irrenunciabilidade por não revelar toda a amplitude do princípio, porque se trata a renúncia de ato unilateral, e a indisponibilidade também abrange os atos bilaterais de disposição de direitos (Delgado, 2010, p. 138). Traduz-se na inviabilidade técnico-jurídica de o empregado poder despojar- se de suas proteções e vantagens asseguradaspela ordem jurídica por simples manifestação de vontade, constituindo-se, desta forma, no “principal veículo utilizado pelo Direito do Trabalho para tentar igualizar, no plano jurídico, a assincronia clássica existente entre os sujeitos da relação socioeconômica de emprego” (Delgado, 2009, p. 186). 2.2 Princípio da continuidade da relação de emprego Entender a relação de emprego como um contrato de trato sucessivo, cujo cumprimento não se dá mediante a execução de único ato, pois perdura no tempo, ajuda na compreensão da ideia central do princípio em análise. Trata-se de uma vinculação prolongada e nunca de natureza efêmera (Rodriguez, 1996, p. 138). Apesar de ser um princípio direcionado ao trabalhador, é possível defender a existência de benefícios aos empregadores, pois a permanência do empregado no mesmo posto de trabalho lhe confere experiência e, por consequência, um serviço mais bem executado (Rodrigues, 1996, p. 141). A continuidade do trabalhador no emprego provoca três correntes de repercussões favoráveis ao empregado: tendencial elevação dos direitos trabalhistas, o que pode se dar de diversas formas, entre elas avanço da legislação, convenções coletivas de trabalho, conquistas especificamente aos 6 contratos de trabalho; investimento educacional e profissional do empregador aos empregados de longos contratos, pois é uma forma de elevar a produção e os custos trabalhistas e, ainda, atua como faceta do papel social da empresa e da propriedade potencializando o ser humano que trabalha; favorecimento do indivíduo por este longo contrato, pois a renda por ele constantemente auferida permite sua integração na sociedade (Godinho, 2012, p. 203-204). A Constituição de 1988 protege a relação de emprego ao prever que a dispensa do empregado não deve ser arbitrária, tanto na modalidade com como na sem justa causa, sob pena de indenização compensatória, conforme disposto no art. 7º, inciso I, do seu texto. Ocorre que este artigo nunca foi regulamentado por lei complementar, então não há, atualmente, qualquer indenização prevista para os casos de abusos do empregador. TEMA 3 – PRINCÍPIOS DA PRIMAZIA DA REALIDADE E DA RAZOABILIDADE O princípio da primazia da realidade e o da razoabilidade incidem sobre o dia a dia do contrato de trabalho. O primeiro estabelece que o que vale e deve ser considerado para todos os fins, inclusive processuais, é a real intenção dos agentes e fatos efetivamente ocorridos na prestação do labor. Já o segundo define que as decisões que se aplicam a situações fáticas da relação laboral devem ser tomadas com ponderação. 3.1 Princípio da primazia da realidade O princípio da primazia da realidade remete à ideia de que a realidade dos fatos ocorridos durante o contrato de trabalho sempre deve prevalecer em relação ao disposto em documentos ou acordos formais assinados pelas partes contratantes (Rodriguez, 1996, p. 217). 3.2 Princípio da razoabilidade A ideia de razoabilidade enquanto princípio impõe às partes o dever de, em se tratando de direito do trabalho, atuar razoavelmente nas decisões quotidianas, o que também é elementar a todos os ramos do direito. A arbitrariedade é a contrapartida da razoabilidade em todas as esferas (Rodriguez, 1996, p. 257). Especialmente em relação ao direito do trabalho, este princípio pode ser aplicado para medir a verossimilhança de determinada explicação ou solução e 7 para frear certas faculdades, cuja amplitude se possa prestar à arbitrariedade (Rodriguez, 1996, p. 257-258). Na prática, este princípio é utilizado, por exemplo, como balizador da proporcionalidade existente entre eventual falta laboral cometida pelo trabalhador e a sanção aplicada a ele pelo empregador. Assim, pode-se considerar totalmente desproporcional dispensar por justa causa o empregado que falta ao trabalho sem justificativa. A falta pode ser considerada leve, e a medida, extremada. Este é um exemplo grosseiro, mas esboça de maneira didática a forma como os Tribunais do Trabalho aplicam este princípio. TEMA 4 – PRINCÍPIO DA INTANGIBILIDADE SALARIAL O salário é o instrumento que permite ao trabalhador promover seu sustento próprio e da sua família, tratando-se de um direito fundamental, já que permite a subsistência de todos (parcela de natureza alimentar). Dispõe o art. 7º, inciso IV, da Constituição de 1988 que é direito do trabalhador o recebimento de salário mínimo que garanta o seu sustento e de seus dependentes. Vejamos: IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; (Brasil, 1988) A Constituição também protege o salário ao prever expressamente no art. 7º, inciso X, que a sua retenção dolosa é crime, ou seja, todo e qualquer desconto que não seja legalmente previsto (como INSS e vale transporte, por exemplo) é considerado abusivo, o que pode fazer a empresa ser condenada judicialmente a devolver o valor retido. Ainda é previsto constitucionalmente o direito de irredutibilidade salarial (salvo por acordo ou convenção coletiva), de modo que ao empregador é vedado reduzir o salário do empregado se dele continuar a exigir o mesmo labor com a mesma carga horária. O salário também não pode ser inferior ao mínimo legal para aqueles trabalhadores que recebem remuneração variável (apenas comissão de vendas, por exemplo). 8 O 13º salário é outra previsão constitucional, constante no art. 7º, inciso VIII, como forma de uma gratificação natalina ao empregado, que já era previsto antes do Texto Maior de 1988 e a ele foi incorporado. Vemos, portanto, que diversas são as previsões em relação ao salário do empregado na Constituição, dada a sua importância alimentar, pelo que se defende como princípio a sua intangibilidade. Neste sentido é o entendimento de Maurício Godinho Delgado: O atual princípio justrabalhista projeta-se em distintas direções: garantia do valor do salário; garantias contra mudanças contratuais e normativas que provoquem a redução do salário (aqui o princípio especial examinado se identifica pela expressão princípio da irredutibilidade salarial, englobando-se também contra práticas que prejudiquem seu efetivo montante – trata-se dos problemas jurídicos envolventes aos descontos no salário do empregado (o princípio aqui também tende a se particularizar em uma denominação diferente: princípio da integralidade salarial): finalmente garantias contra interesses contrapostos de credores diversos, sejam do empregador, sejam do próprio empregado. (Delgado, 2012, p. 202) TEMA 5 – APLICABILIDADE PRÁTICA DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO Após a análise dos princípios aplicáveis ao direito do trabalho, pode-se ter a falsa impressão de que a matéria é teórica e não importa para a prática trabalhista. Engana-se quem pensa dessa forma. Os princípios do direito do trabalho são invocados constantemente em julgados para fundamentar decisões judiciais, deferindo ou não os pedidos formulados pelas partes reclamantes nos processos judiciais. Saiba mais Para ilustrar a aplicação prática dos princípios do direito do trabalho, são indicados os seguintes julgados: a) Princípio da Proteção – in dubio pro operario TRT-PR-28-01-2011 PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO OPERARIO. APLICABILIDADE. O princípio do in dubio pro operario tem aplicação nas hipóteses em que há dúvidas quanto à interpretação de dispositivos normativos, aí sim sendo cabível decidir-se de forma mais favorável ao trabalhador. Já quando há conflito entre elementos de prova constantes do processo, devem ser aplicadas as disposições legais que regem a distribuição do ônus probatório, decidindo-sea questão em desfavor a quem detinha o ônus. TRT- PR-01504-2009-245-09-00-1-ACO-02638-2011 - 4A. TURMA Relator: MÁRCIA DOMINGUES Publicado no DEJT em 28-01-2011 9 b) Princípio da Proteção – aplicação da norma mais favorável TRT-PR-06-06-2008 PRINCÍPIO "IN DUBIO PRO MISERO". PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO AO TRABALHADOR. PRINCÍPIOS NÃO APLICÁVEIS AO PROCESSO DO TRABALHO, MAS SIM AO DIREITO MATERIAL DO TRABALHO - O princípio da proteção ao empregado rege o direito material do trabalho. A regra da aplicação da norma mais favorável significa que, caso haja uma pluralidade de normas aplicáveis a uma relação de trabalho específica, deve-se optar por aquela que seja mais favorável ao trabalhador. Neste mesmo sentido, independentemente da sua colocação na escala hierárquica das normas jurídicas, aplica-se, em cada caso, a que for mais favorável ao trabalhador. O processo do trabalho, a despeito de sua simplicidade, não se pauta pelo princípio da proteção ao trabalhador nem pelo princípio "in dubio pro misero", mas segundo os princípios atinentes à teoria geral da prova. Na ausência de meios de prova, ou sua insuficiência, ou ainda se ocorrer a chamada "prova dividida", a lide deve ser solucionada considerando-se a quem incumbia o ônus da prova quanto aos fatos alegados na petição inicial ou na contestação (art. 818 da CLT e art. 333 do CPC). Ressalte-se que ao Juiz é licito julgar a causa segundo seu livre convencimento motivado (art. 131 do CPC), cabendo-lhe a valoração dos meios de prova. Desta forma, deve o Julgador apreciar livremente os meios de prova produzidos durante a instrução processual e decidir de acordo com o seu convencimento, fundamentando os motivos de sua decisão (art. 93, X, da CRFB/1988), a qual deve pautar-se pelos ditames legais. Recurso do reclamante ao qual se nega provimento, no particular. TRT-PR-04426-2007-021-09-00-9-ACO-19129-2008 - 1A. TURMA Relator: EDMILSON ANTONIO DE LIMA Publicado no DJPR em 06-06-2008 c) Princípio da Proteção – regra da condição mais benéfica TRT-PR-20-08-2013 COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. PREVI. ESTATUTOS DE 1980 E 2006. ALTERAÇÃO PREJUDICIAL. PRINCÍPIO DA CONDIÇÃO MAIS BENÉFICA. As alterações promovidas no Estatuto PREVI de 2006, no que tange ao cálculo do complemento de aposentadoria da parte autora, por se tratarem de modificações prejudiciais que importam na redução do valor inicial do benefício, acarretam o acolhimento do pleito de pagamento das diferenças de complementação de aposentadoria decorrentes da observância das regras mais favoráveis estipuladas no Estatuto PREVI de 1980, vigente quando da formação do contrato de trabalho entre as partes. Aplicação da Súmula 288 do C. TST. TRT-PR-08622-2010-008-09-00-8-ACO- 32913-2013 - 4A. TURMA Relator: LUIZ CELSO NAPP Publicado no DEJT em 20-08-2013 d) Princípio da Irrenunciabilidade de Direitos TRT-PR-08-07-2008 DIREITOS TRABALHISTAS - IRRENUNCIABILIDADE - Vigora no direito do trabalho o princípio da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas. Dessa forma, compete à reclamada produzir prova cabal e robusta quanto à alegação de renúncia da estabilidade do empregado cipeiro, não podendo a situação gerar nenhuma dúvida quanto à veracidade do termo de renúncia, sob pena de não se desvencilhar a ré do seu ônus probatório. TRT-PR-14656-2006-008-09-00-5-ACO-23954-2008 - 4A. TURMA Relator: MÁRCIA DOMINGUES Publicado no DJPR em 08-07-2008 e) Princípio da Continuidade da Relação de Emprego TRT-PR-12-03-2013 EXTINÇÃO CONTRATUAL - AUSÊNCIA DE PROVA - PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO. Os elementos probatórios voltados à caracterização da extinção contratual, seja a prova 10 documental (termo de rescisão), seja a prova oral, não se encontram no mundo dos autos, não se tratando de fato público e notório, não podendo, enfim, ser reconhecida a ruptura por via de presunção ou por meros indícios, haja vista o interesse do trabalhador na manutenção do vínculo empregatício (princípio da continuidade da relação de emprego - Súmula 212/TST), ante a natureza eminentemente alimentar do contrato de trabalho. Não demonstrada a formalização da rescisão contratual, alegada em contestação, cujo encargo processual competia ao reclamado (art. 477 da CLT c/c Súmula 212/TST), não há como se antecipar a data de ruptura do pacto laboratício, prevalecendo aquela cuja anotação foi determinada em sentença. Recurso da parte reclamada ao qual se nega provimento. TRT-PR-00455-2012-657-09-00-8- ACO-08133-2013 - 4A. TURMA Relator: CÁSSIO COLOMBO FILHO Publicado no DEJT em 12-03-2013 f) Princípio da Primazia da Realidade TRT-PR-04-06-2013 VÍNCULO DE EMPREGO. DESCARACTERIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA. FRAUDE. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE. Por força do princípio da primazia da realidade que vige no Direito do Trabalho, a constituição da pessoa jurídica pode perfeitamente ser descaracterizada para fins de reconhecimento de vínculo de emprego, caso reste demonstrada a existência de fraude e a prestação de serviços pela pessoa física, tal como ocorrido no caso presente. Atendidos também os demais requisitos do artigo 3º da CLT, inafastável a declaração da natureza empregatícia da relação. Sentença mantida. TRT-PR-27593-2011-010-09-00-0-ACO-20918-2013 - 6A. TURMA Relator: SUELI GIL EL-RAFIHI Publicado no DEJT em 04-06-2013 g) Princípio da Razoabilidade TRT-PR-23-03-2012 Acordo em Câmara de Conciliação Prévia- Desconhecimentos, ameaças e coação - Nulidade É nulo acordo em Câmara de Conciliação Prévia quando não fruto de diálogo franco e aberto e sem amplos esclarecimentos ao trabalhador, tanto sobre os direitos transacionados como sobre os efeitos da quitação, respeitado o princípio da razoabilidade. Pior ainda quando se somam a ausência de regular assistência, ao menos por representante de classe, e assinatura do documento, sob ameaça de retaliações para novo emprego. TRT-PR-31329-2010-041-09-00-9-ACO- 12214-2012 - 2A. TURMA Relator: MÁRCIO DIONÍSIO GAPSKI Publicado no DEJT em 23-03-2012 h) Princípio da Intangibilidade Salarial EMENTA: DESCONTOS SALARIAIS. USO DE TELEFONE FORNECIDO PELA EMPRESA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO. ILICITUDE. O princípio da intangibilidade salarial insculpido no artigo 462 da CLT, não é absoluto. Entretanto, somente podem ser considerados legítimos os descontos realizados pelo empregador quando houver consentimento expresso do empregado e não existir prova de que foi obtido mediante coação, conforme diretriz sufragada na Súmula nº 342 do colendo Tribunal Superior do Trabalho (TST), não se admitindo autorização tácita. Ausente prova de autorização, são ilícitos os descontos pelo uso de telefone, cabendo a respectiva devolução. Recurso ordinário da reclamada conhecido e desprovido. TRT-PR-11312-2015-663-09- 00-6-ACO-33873-2017 - 7A. TURMA Relator: ALTINO PEDROZO DOS SANTOS Publicado no DEJT em 24-11-2017. 11 Os julgados antes citados são todos do TRT da 9ª Região, mas é possível afirmar com segurança que decisões que fazem referência aos princípios do direito do trabalho serão encontradas em tribunais de todas as regiões do país, no que se inclui, certamente, o Superior Tribunal do Trabalho. FINALIZANDO Com este estudo dos princípios, finalizamos mais uma aula. A partir do conteúdo estudado, aprendemos que os princípios aplicáveis ao direito do trabalho não são somente acessórios, uma vez que podem ser utilizados diretamente como fundamento para garantir direitos e exigir obrigações. O estudo não abordou todos os princípios de direito do trabalho, já que são muitos e bastante variados na melhor doutrina trabalhista, mas foram abordados os mais recorrentes na busca pela proteção do trabalhador. Algum deles estão previstos diretamente na Constituição de 1988, como o da intangibilidade salarial, e outros são decorrentes da interpretação das normas e da própria razão de ser do direito do trabalho. Lembramos que foram estudados os seguintes princípios: princípioda proteção, princípio da irrenunciabilidade de direitos, princípio da continuidade da relação de emprego, princípio da primazia da realidade, princípio da razoabilidade e princípio da intangibilidade salarial. 12 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. DELGADO, M. G. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2011. RODRIGUEZ, A. P. Princípios de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1996.
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