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QUÍMICA GERAL AULA 4 Prof. Marcos Baroncini Proença 2 CONVERSA INICIAL Todas as reações químicas geradas, desde a matéria-prima da roupa que vestimos, até os materiais de engenharia, os combutíveis, fertilizantes, produtos da indústria de alimentos e a velocidade da reação que infla o air bag em um acidente, partem de algumas regras comuns – como, por exemplo, determinação da quantidade de reagentes ou matérias-primas necessários para gerar uma quantidade estabelecida de produtos. Essa determinação é feita pela estequiometria, que é uma técnica de investigação e determinação quantitativa da proporção dos elementos químicos nos reagentes e produtos de uma reação química. Nesta aula, vamos apresentar os fundamentos da estequiometria e habilitá-los a usar esta importante ferramenta para obter indicativos que serão usados na instrumentação, planejamento e controle de processos químicos industriais. TEMA 1 – FUNDAMENTOS DA ESTEQUIOMETRIA Para que se possa usar a estequiometria para obter parâmetros necessários para a geração de produtos, é necessário conhecer os conceitos que fundamentam esta importante ferramenta da química. Trataremos, neste primeiro tema da Aula 4, de sua definição e origens e também dos conceitos que a fundamentam. 1.1. Definição e Origens A palavra estequiometria tem sua etimologia nas palavras gregas stoicheion (elemento) e metron (medida), que juntas significam “mensuração de elementos”. Podemos dizer que sua origem data do século IV a.C., por volta dos anos 305 a.C., em Alexandria, cidade fundada em 332 a.C. no delta do Nilo por Alexandre o Grande, que já havia consolidado o império Macedônico dominando o Egito, a Pérsia, a Mesopotâmia e a Índia. Surgiu como resultado de uma confluência de filosofias e tecnologias orientais e ocidentais, com grande influência da filosofia da Índia e dos pensamentos de Aristóteles, de quem Alexandre fora aluno, sobre a matéria. O princípio fundamental que norteava os experimentos dos alquimistas era de que metais menos nobres, como cobre, estanho e ferro, eram formas impuras dos metais mais nobres como, prata e principalmente ouro. Assim, todos os experimentos buscavam uma substância 3 que, mesmo adicionada em mínimas quantidades, promovesse a transformação desses metais menos nobres principalmente em ouro. A essa substância chamaram de pedra filosofal. Como resultado desses experimentos, surgiram várias técnicas de geração de ligas metálicas, e os primeiros estudos sobre as quantidades de substâncias que reagem para formar um produto. Assim floresceu a alquimia ocidental, cujo conceito se expandiu, chegando até a China através da Rota da Seda. Em 220 a.C., já como o primeiro Imperador da China unificada, Quin Shi Huang Di exigiu que médicos formulassem um elixir que lhe impedisse de morrer, o qual chamaram de elixir da longa vida, que deu origem à alquimia chinesa. Obviamente, o elixir criado na época não funcionou, pois levou o imperador à demência e morte, devida a uma intoxicação por mercúrio. Este imperador tirano ficou famoso pelo exército de terracota em seu mausoléu e pelo início da construção das muralhas da China. A alquimia chinesa continuou seu desenvolvimento, tendo como principal produto a pólvora, descoberta na Dinastia Han, já no século I d.C. Acabou sendo dividida em duas grandes áreas, a Waidanshu (Alquimia Externa), conceito que une a metalurgia à manipulação de substâncias químicas para gerar o elixir da longa vida, e a Neidanshu (Alquimia Interna), que buscava este elixir pela própria mudança espiritual do alquimista. Enquanto a alquimia chinesa foi desaparecendo com o crescimento do Budismo, dando origem à medicina chinesa, a alquimia ocidental se fortaleceu, atingindo seu ápice na Península Itálica na Idade Média. Em diversos mosteiros, foram gerados manuscritos sobre quantidades de reagentes e produtos. É curioso que esse desenvolvimento tenha acontecido justamente no período da Inquisição, quando aqueles que praticavam a alquimia fora dos mosteiros eram considerados bruxos e bruxas. Uma das principais substâncias que usavam, o Enxofre (S), até hoje está ligado ao Demônio. Com o avanço dos séculos, a alquimia foi sendo substituída pela química; a partir de 1760, com a publicação da Lei da Conservação das Massas de Mikhail Lomonosov, de 1797, com a Lei das Proporções Constantes de Joseph Louis Proust, e de 1803, com a Lei das Proporções Múltiplas de John Dalton, a estequiometria ganhou os fundamentos que a fizeram ser desenvolvida até a forma que a usamos hoje. https://pt.wikipedia.org/wiki/1797 4 1.2 Fundamentos e Definições Qualquer aplicação dos conceitos de estequiometria para as diversas áreas da indústria passa pelo balanceamento de equações químicas. O balanceamento nada mais é que a obtenção da quantidade molar de reagentes e de produtos necessários em uma reação química, de modo a garantir as mesmas quantidades dos elementos nos reagentes e nos produtos. O balanceamento é feito por várias técnicas; a que abordaremos aqui é a técnica de tentativa e erro. Mas, antes, vamos passar por alguns conceitos, como mol, massa molar, constante de Avogadro, tipos de reações químicas, simbologia e coeficientes estequiométricos. 1.2.1 Mol, Massa Molar e Constante de Avogadro Em 1971, houve uma unificação da definição de mol, tanto para o SI (Sistema Internacional de Unidades) quanto para a IUPAC (União Internacional de Química Pura e Aplicada). Desde então, o mol é definido como sendo a quantidade de matéria de um sistema que contém tantas entidades elementares quantos são os átomos contidos em 0,012 kg de carbono 12. As entidades elementares devem ser especificadas, podendo ser átomos, moléculas, elétrons ou agrupamentos de partículas. Portanto, a definição antiga de que o mol é a massa atômica ou molecular expressa em gramas foi substituída, pois pela definição atual fica claro que o mol não se refere à grandeza massa, mas sim à unidade de medida da grandeza quantidade de matéria. Outras definições, como a massa molar, ainda permanecem. Assim, para qualquer substância ou material, temos que sua massa (m) é diretamente proporcional à sua quantidade de matéria (n). Esta proporcionalidade é conhecida como massa molar (M). m = M.n Portanto, podemos dizer que massa molar é a massa da substância por unidade de quantidade de matéria, sendo sua unidade no SI dada em g/mol. Vamos analisar como exemplo as moléculas de Oxigênio (O2) e de Gás Carbônico (CO2). Uma quantidade de matéria de gás oxigênio tem duas vezes 5 sua massa atômica. Consultando a Tabela Periódica, temos que uma quantidade de matéria do átomo de oxigênio tem massa de 16g. Portanto, para duas quantidades de matéria de oxigênio presentes na molécula O2, teremos massa 32g. Sua massa molar (M) será: 32 g = MO2. 1 mol MO2 = 32g/mol Assim, se tivermos 320 g de oxigênio, qual será sua quantidade de matéria? Basta aplicarmos na expressão da definição, pois temos o valor de MO2 e de m: 320g = 32 g/mol. n n = 320/32 n = 10 mol Da mesma forma, podemos analisar agora o Gás Carbônico. Consultando a tabela periódica, podemos ver que uma quantidade de massa de Carbono (C) tem massa de 12g, e já vimos que para O2 teremos massa de 32g. Assim, para o CO2 teremos a massa de C mais a do O2, resultando em 44g. Portanto, sua massa molar será: 44g = MCO2. 1mol MCO2 = 44 g/mol Assim, se tivermos 880 g de gás carbônico, qual será sua quantidade de matéria? Basta aplicarmos a expressão da definição, pois temos o valor de MCO2 e de m: 880g = 44 g/mol. n n = 880/44 n = 20 mol Mas como quantificar isso em termos de elementos presentes? Isto é feito usando a constante de Avogadro. Amadeo Avogadro foi um cientistaitaliano que, no século XIX, propôs pela primeira vez que o volume ocupado por um gás a uma determinada temperatura e pressão é diretamente proporcional à quantidade de átomos ou moléculas presentes, independentemente do elemento. Mais tarde, já no início do século XX, o francês Jean Baptiste Perrin, 6 ao desenvolver seu trabalho de determinação da quantidade de átomos e moléculas em um volume de gás, verificou que este número era constante. Surgia aí a constante de Avogadro, em homenagem ao cientista italiano. O valor mais recente adotado pela IUPC para esta constante é de 6,02214.1023 mol-1. Podemos aplicar em nossas análises o valor de 6,02. 1023 mol-1 para a constante de Avogadro. Portanto, teremos que a quantidade de matéria de 1 mol tem 6,02. 1023 átomos de um elemento ou 6,02.1023 moléculas de uma substância ou material. Aplicando este conceito para os exemplos anteriores, referentes à molécula de oxigênio (O2) e de gás carbônico (CO2), poderemos concluir que, para 320g de O2, teremos 10 mol de O2 e 10. 6,02. 1023 = 6,02. 1024 moléculas de O2. Já para 880g de CO2, teremos 20 mol de CO2 e 20. 6,02. 1023 = 12,04. 1024 moléculas de CO2. 1.2.2 Tipos de Reações Químicas Reações químicas são as interações entre moléculas de substâncias químicas que têm como resultado a geração de outras substâncias. Assim, podemos ter reações químicas onde é possível unir duas moléculas gerando um produto, a chamada reação de adição, representada por: A + B C H2O + CO2 H2CO3 Água Gás Carbônico Ácido Carbônico Há um caso particular desta reação, que será visto mais adiante, na disciplina de Tecnologia de Materiais, que é a formação de um polímero, onde temos centenas de moléculas de uma substância gerando uma única molécula de polímero: n [A] [A]n n [HC-CH] [HC-CH]n n moléculas de etileno polietileno Podemos também ter reações em que uma molécula de substância se dissocia, gerando duas moléculas de substâncias diferentes, a chamada reação de decomposição: A B + C 7 Um bom exemplo é a decomposição da água em hidrogênio e oxigênio, que ocorre nos eletrodos de uma pilha eletroquímica, assunto que veremos mais adiante, na Aula 5, cujo tema será eletroquímica e corrosão. 2H2O 2 H2 + O2 Outra reação é aquela em que um elemento de uma molécula troca de lugar com um elemento de outra molécula, ou os elementos de moléculas diferentes trocam de lugar; são as chamadas reações de deslocamento. A + BC AC + B Um bom exemplo é a reação de combustão, em que o oxigênio reage com o combustível, gerando gás carbônico e água, reação que aprofundaremos mais adiante, quando tratarmos das aplicações da estequiometria, e também na Aula 6, quando trataremos da química ambiental. O exemplo abaixo é o da combustão do metano, que, reagindo com o oxigênio, irá gerar gás carbônico e água. CH4 + 2O2 CO2 + 2H2O Repare que o oxigênio deslocou o carbono ligado ao hidrogênio e o hidrogênio ligado ao carbono. 1.2.3 Simbologia Quando escrevemos uma reação química, estamos descrevendo o que está ocorrendo no momento, em termos físicos e químicos, no sistema que estamos analisando. Assim, há a necessidade de padronizar a simbologia usada para esta representação. A representação padronizada, de forma universal, que serve para os químicos tratarem de uma reação química, é a Equação Química. Dentro desta representação, há diversas regras, as quais apresentaremos agora. 1.2.3.1 Representação dos elementos nas moléculas Os elementos que compõem uma molécula de uma substância são representados pelos seus símbolos da Tabela Periódica. Além disso, as 8 quantidades que se encontram nas moléculas são representadas abaixo e do lado direito do elemento. Assim, para AxBy – A e B são os símbolos dos elementos da Tabela Periódica e x e y são suas quantidades presentes na molécula. Observamos que, quando x ou y tiverem valor 1, não precisarão ser escritos na representação da molécula. Por exemplo, vamos analisar a representação da molécula de metano e do ácido sulfúrico: CH4 – esta representação indica que a molécula de metano é composta por 1 átomo de Carbono (C) e por 4 átomos de Hidrogênio (H). H2SO4 – esta representação indica que o ácido sulfúrico é composto por dois átomos de Hidrogênio (H), um átomo de Enxofre (S) e quatro átomos de Oxigênio (O). 1.2.3.2 Representação dos reagentes e dos produtos Uma reação química é o resultado da interação entre substâncias para gerar outras substâncias. As substâncias que reagem para formar outras substâncias são chamadas de reagentes e sempre são representadas do lado esquerdo da equação química. As substâncias geradas são chamadas de produtos e sempre são representadas do lado esquerdo da equação química. Assim, se reagirmos a substância AxBy com a substância CzDw para gerarmos EkFl e GmHn, escreveremos na equação química AxBy e CzDw do lado esquerdo e EkFl e GmHn do lado direito: AxBy + CzDw EkFl + GmHn Por exemplo, na reação do ácido clorídrico com o hidróxido de sódio, que gera cloreto de sódio e água, os reagentes são o ácido clorídrico e o hidróxido de sódio, e os produtos são o cloreto de sódio e a água. Assim: HCl + NaOH NaCl + H2O 1.2.3.3 Símbolos Você reparou que na equação acima aparecem os símbolos “+” e“ “. Esses símbolos tem um significado físico e químico, juntamente com outros símbolos apresentaremos abaixo. 9 A seta unidirecional horizontal indica que a reação só acontece em um sentido, sendo, portanto, irreversível. Indica também o sentido no qual a reação ocorre espontaneamente. Observamos que pode acontecer de encontrarmos as setas uma sobre a outra, indicando a reversibilidade da reação. Neste caso, uma será sempre maior que a outra, indicando o sentido preferencial da reação. Assim, poderemos ter: Aa + Bb Cc + Dd Mostrando que é uma reação irreversível e que acontece espontaneamente no sentido dos reagentes para os produtos. Aa + Bb Cc + Dd Mostrando que há uma reversibilidade na reação e que o sentido preferencial é dos reagentes para os produtos. Temos também a seta bidirecional horizontal: que indica que a reação ocorre espontaneamente nos dois sentidos, sendo, portanto, totalmente reversível. Repare que é bidirecional porque ambos os sentidos são preferenciais. Assim: Aa + Bb Cc + Dd Mostra que a reação ocorre espontaneamente e em igual intensidade nos dois sentidos, sendo totalmente reversível. Na sequência, a seta unidirecional vertical para cima: indicando que o produto gerado sairá da reação na forma de gás. Assim: Aa + Bb Cc + Dd Mostra que o produto Dd sairá da reação na forma de gás. Depois, a seta unidirecional vertical para baixo: . Ela indica que o produto gerado sairá da reação na forma de precipitado sólido. Assim: Aa + Bb Cc + Dd Mostra que o produto Cc sairá da reação na forma de precipitado sólido. 10 O triângulo (∆) indica que a reação ocorrerá com aquecimento. Assim: Aa + Bb Cc +Dd Mostra que a reação ocorre com aquecimento. Já os símbolos (s), (l), (aq) e (g) indicam o estado físico dos reagentes e dos produtos – (s) é o estado sólido, (l) é o estado líquido, (aq) é o estado aquoso e (g) é o estado gasoso. A diferença entre o estado líquido e o aquoso é que o estado líquido representa uma substancia totalmente liquefeita e o estado aquoso significa que a substância está dissolvida em água. Assim: Aa (aq) + Bb (l) Cc(s) + Dd (g) Mostra areação entre Aa aquoso com Bb líquido, resultando Cc sólido e Dd gasoso. 1.2.3.4. Coeficientes Estequiométricos Coeficientes estequiométricos representam as quantidades de matéria dos reagentes e dos produtos gerados, em uma equação química, dada em mol. São obtidos como resultado das leis que fundamentam a estequiometria, ou seja, Lei da Conservação das Massas, Lei das Proporções Constantes e Lei das Proporções Múltiplas. Esses coeficientes sempre são representados no lado esquerdo de cada substância. Podem ser números inteiros ou fracionários, mas sua representação preferencial é por números inteiros, para dar um significado físico, uma vez que não existem frações de substâncias e sim substâncias inteiras. Observamos que, quando os coeficientes tiverem o valor 1, não precisarão ser escritos na equação química. São obtidos quando são determinadas as quantidades de reagentes e produtos em uma reação química, as quais resultarão nas mesmas quantidades de elementos químicos presentes nos reagentes e nos produtos. Portanto, fornecem uma relação de proporcionalidade entre reagentes e produtos para uma reação. 11 A técnica de obtenção desses coeficientes estequiométricos é chamada balanceamento da equação química e será vista mais adiante. Assim, a representação dos coeficientes estequiométricos fica: N1 Aa +N2 Bb N3 Cc + N4 Dd Em que N1, N2, N3 e N4 são os coeficientes estequiométricos da equação química. Por exemplo, na reação de neutralização do ácido sulfúrico com o hidróxido de sódio que gera o sal sulfato de sódio e a água como produtos, teremos: H2SO4 (l) + 2 NaOH(s) Na2SO4(s) + 2H2O(l) Assim, teremos a mesma quantidade de elementos nos reagentes e produtos, senão vejamos: H – Temos 2 hidrogênios no reagente ácido mais 1 hidrogênio no reagente básico. Como há duas moléculas da base, multiplicamos por dois a quantidade dos elementos presentes; portanto, estarão presentes 2 hidrogênios participando da reação. Assim, nos reagentes haverá 4 hidrogênios (2 do ácido e 2 da base). Nos produtos temos 2 hidrogênios na água. Como há duas moléculas de água, multiplicaremos todos os elementos dela por dois. Assim, teremos 4 hidrogênios nos produtos. Portanto, temos a mesma quantidade de hidrogênio nos reagentes e produtos. Na – Temos 1 sódio no reagente básico. Como há duas moléculas da base, conforme já comentamos, teremos 2 sódios nos reagentes. No sal gerado temos 2 sódios e, portanto, teremos 2 sódios nos produtos. Portanto, temos a mesma quantidade de sódio nos reagentes e produtos. S – Temos 1 enxofre no ácido e, portanto, teremos 1 enxofre nos reagentes. Nos produtos, temos 1 enxofre no sal, e assim 1 enxofre nos produtos. Portanto, temos a mesma quantidade de enxofre nos reagentes e produtos. O – Temos 4 oxigênios no reagente ácido mais 1 oxigênio no reagente básico. Como há duas moléculas da base, multiplicamos por dois a quantidade dos elementos presentes nela; portanto, estarão presentes 2 oxigênios participando da reação. Assim, nos reagentes haverá 6 12 oxigênios (4 do ácido e 2 da base). Nos produtos temos 4 oxigênios no sal formado e 1 oxigênio na água. Como há duas moléculas de água, multiplicaremos todos os elementos dela por dois. Assim, teremos 6 oxigênios nos produtos. Portanto, temos a mesma quantidade de oxigênio nos reagentes e produtos. Assim, verificamos que os coeficientes estequiométricos da reação de neutralização do ácido sulfúrico com hidróxido de sódio, que resulta em sulfato de sódio e água, garantiram a presença dos elementos na mesma quantidade, nos reagentes e nos produtos. Os coeficientes estequiométricos serão 1 para o ácido, 2 para o hidróxido, 1 para o sal e 2 para a água. Disto resulta a seguinte relação de proporcionalidade molar: 1:2: 1:2 Isso significa que, em termos de quantidade de matéria, para cada mol de ácido sulfúrico serão necessários dois mol de hidróxido de sódio para que haja neutralização completa. Dessa neutralização, resultarão um mol de sulfato de sódio e dois de água. Veremos mais adiante como transformar essas informações em quantidades aplicadas em controle de processos, como massa e volume. TEMA 2 – BALANCEAMENTO DE UMA EQUAÇÃO QUÍMICA As equações químicas devem, como já vimos, apresentar a mesma quantidade de matéria nos reagentes e nos produtos. Mas como saber os valores desses coeficientes estequiométricos? A técnica usada para a obtenção destes valores é chamada de Balanceamento de uma Equação Química. É esta técnica que veremos e aplicaremos agora. 2.1. Definição Para que possamos determinar as quantidades de reagentes a partir de uma certa quantidade de produtos que desejamos obter, é necessário garantir que as reações concorram com a máxima eficiência. Assim, é necessário tratar as reações no nível molecular. Este nível de tratamento leva aos coeficientes estequiométricos. 13 Portanto, o tratamento de uma reação química no nível molecular leva à obtenção de coeficientes estequiométricos, de forma a garantir a máxima eficiência da reação, atendendo sempre às leis fundamentais (Lei da Conservação das Massas, Lei das Proporções Constantes e Lei das Proporções Múltiplas). Esse processo chamado de Balanceamento de uma Equação Química. 2.2. Métodos de Balanceamento de uma Equação Química Existem quatro métodos que podem ser usados para o Balanceamento de uma Equação Química. Dois deles são aplicados exclusivamente às Reações de Oxirredução e dois são de Aplicação Geral. 2.2.1. Métodos de Balanceamento Aplicados às Reações de Oxirredução Veremos as reações de Oxirredução mais adiante, nas Aulas 5 e 6. Mas por ora, basta apontar que recebem este nome porque um dos reagentes irá oxidar, ou seja, irá perder elétrons, enquanto o outro irá reduzir, ou seja, ganhará elétrons. Há dois métodos de Balanceamento que são aplicados neste tipo de reação: o método Redox e o método Íon-elétron. 2.2.1.1. Método Redox Busca obter os coeficientes estequiométricos em função dos números de oxidação dos elementos dos reagentes e produtos, de forma a garantir nas moléculas a mesma quantidade de elétrons cedidos e recebidos durante a reação. Por exemplo, n reação de oxirredução envolvida na corrosão de aços: Fe3C + O2 FeO + CO Verificamos que o número de oxidação do Ferro (Fe) varia de 8/3+ até 2+, que o número de oxidação do Carbono (C) varia de 2+ para 4+, e que o número de oxidação do Oxigênio (O) é 2-. Assim, teremos: Fe32/3+ C2+ + O22- 3 Fe2/3+O2- + C2+O2- Portanto, temos a mesma quantidade de elétrons cedidos e recebidos. 14 2.2.1.2. Método Íon-elétron Divide-se a reação de oxirredução em duas etapas: a de redução e a de oxidação. Na etapa da redução, os elétrons são acrescentados no lado dos reagentes e o elemento reduzido é colocado no lado dos produtos. Na etapa de oxidação, o cátion é colocado no lado dos reagentes e o elétron é adicionado ao elemento oxidado, no lado dos produtos. Somando as duas etapas, obtemos a reação balanceada. Por exemplo, temos uma reação de oxirredução envolvendo o sulfato de cobre e o zinco. CuSO4 + Zn ZnSO4 + Cu As etapas da reação de oxirredução ficam: Cu2+ + 2 e Cu0 SO42- SO42- Zn0 Zn2+ + 2e Somando as expressões, teremos: Cu2+SO42- + Zn0 Zn2+SO42- + Cu0 Observação: como o elétron está dos dois lados da equação, diminuímos da quantidade de elétrons nos reagentes a quantidade de elétrons dos produtos. Uma vez que as quantidades são iguais, elas vão se anular. A reação está equilibrada. 2.2.2. Métodos de Balanceamento de Aplicação Geral Há dois métodos de balanceamento de equações químicas que podem ser aplicados de forma geral. São eles: o Método Aritmético e o Método de Tentativa e Erro.2.2.2.1. Método Aritmético Neste método, transformamos os coeficientes estequiométricos em variáveis de uma equação algébrica cuja solução pode ser, em função do grau de variáveis, por substituição ou por resolução e matrizes, como escalonamento 15 e determinantes. Por exemplo, temos a reação de formação do amoníaco partindo da reação do nitrogênio com o hidrogênio. N2 + H2 NH3 Primeiro, colocamos variáveis algébricas no lugar dos coeficientes estequiométricos. a N2 + b H2 c NH3 Depois montamos as expressões algébricas: 2a = c (para o Nitrogênio) 2b = 3c (para o Hidrogênio) Depois, resolvemos as expressões algébricas arbitrando um valor para a – por exemplo, 1. Assim, para a=1 teremos: c=2 e b=3. Portanto, o balanceamento fica: N2 + 3 H2 2 NH3 2.2.2.2. Método da Tentativa e Erro Este é o método mais simples de balanceamento, sendo por isso o mais usado. Por este método, são obtidos coeficientes estequiométricos para elementos dos reagentes ou produtos, e depois buscamos os outros coeficientes para garantir a mesma quantidade de elementos nos reagentes e nos produtos. Como é o método mais aplicado, será também o mais usado por nós. Como já apontamos anteriormente, este método trata de encontrar, através de interações, coeficientes estequiométricos que façam com que haja a mesma quantidade de elementos nos reagentes e nos produtos. Embora seja a mais fácil, nem sempre é a opção menos trabalhosa. Podemos estabelecer uma metodologia para este método, a fim de reduzir o volume de trabalho. A metodologia é a seguinte: 1. Identificamos quanto de cada elemento temos nos reagentes e produtos. Se as quantidades forem iguais, a equação química já está balanceada. Se forem diferentes, teremos de fazer o balanceamento. 16 2. Começamos o balanceamento pelos cátions ou metais. Igualamos, em função dos coeficientes estequiométricos, as suas quantidades nos reagentes e produtos. 3. Passamos para os ânions ou não metais. Igualamos, em função dos coeficientes estequiométricos, as quantidades nos reagentes e produtos. 4. Passamos para o oxigênio. Igualamos, em função dos coeficientes estequiométricos, as suas quantidades nos reagentes e produtos. 5. Por fim, passamos para o hidrogênio. Igualamos, em função dos coeficientes estequiométricos, as suas quantidades nos reagentes e produtos. Observe que, se durante a análise qualquer um deles já estiver nas mesmas quantidades, não haverá necessidade de balancear. A melhor forma de visualizar esta técnica é através de um exemplo. O exemplo que faremos é a reação de neutralização do ácido clorídrico com o hidróxido de cálcio, gerando o cloreto de cálcio e a água. HCl + Ca(OH)2 CaCl2 + H2O Seguindo essa metodologia, primeiro vamos contar as quantidades de elementos nos reagentes e produtos, para verificarmos se há necessidade de balanceamento. Já podemos ver de cara que há três hidrogênios nos reagentes (1 no ácido e 2 na base) e dois hidrogênios nos produtos, que se encontram na água. Isso já indica a necessidade de balanceamento, pois as quantidades são diferentes. Passamos então para o cátion ou metal, que no caso é o Cálcio (Ca). Temos 1 Cálcio tanto nos reagentes quanto nos produtos. Assim: HCl + 1 Ca(OH)2 1 Ca Cl2 + H2O Seguimos para os ânions ou não metais, que no caso seria o Cloro (Cl). Temos 1 Cloro nos reagentes e 2 nos produtos. Assim, teremos que ter duas moléculas de HCl nos reagentes: 2HCl + 1 Ca(OH)2 1 Ca Cl2 + H2O Na sequência, analisamos o oxigênio (O). Vemos que há 2 Oxigênios nos reagentes e 1 nos produtos. Assim: 2HCl + 1 Ca(OH)2 1 Ca Cl2 + 2 H2O 17 Por último verificamos o Hidrogênio (H). Vemos que há 4 Hidrogênios nos reagentes e 4 nos produtos, dispensando o balanceamento. Confirmamos agora, verificando as quantidades de todos os elementos, e verificamos que estão na mesma quantidade nos reagentes e nos produtos. Portanto, o balanceamento fica: 2HCl + 1 Ca(OH)2 1 Ca Cl2 + 2 H2O Podemos também inverter a ordem das análises do Oxigênio e do Hidrogênio, analisando primeiro o Hidrogênio e por último o Oxigênio, o que, principalmente nas reações de combustão, pode ser bastante útil. Por exemplo, na reação da combustão do metano, temos: CH4 + O2 CO2 + H2O Primeiro vemos que temos a mesma quantidade de Carbono nos reagentes e nos produtos, de onde: 1 CH4 + O2 1CO2 + H2O Depois analisamos o Hidrogênio e vemos que há 4 Hidrogênios nos reagentes e 2 Hidrogênios nos produtos. Assim: 1 CH4 + O2 1CO2 + 2 H2O Por último, verificamos que temos 2 Oxigênios nos reagentes e 4 nos produtos. Assim: 1 CH4 + 2O2 1CO2 +2 H2O Eis a equação de combustão balanceada. TEMA 3 – APLICAÇÕES DA ESTEQUIOMETRIA Vimos até o momento como fazer o balanceamento de uma equação química para obter coeficientes estequiométricos. Mas quais informações podemos extrair do balanceamento e como usá-las? Primeiro, devemos estabelecer relações entre mol e outras medidas de controle, o que é chamado de relações estequiométricas. Depois, aplicaremos as relações em problemas de estequiometria. 18 3.1. Relações Estequiométricas Através das Leis Fundamentais e da Lei Volumétrica de Gay-Lussac, podemos estabelecer as relações de proporcionalidade entre o mol e grandezas como volume, massa e até a quantidade de átomos ou moléculas. A Lei Volumétrica de Gay-Lussac estabelece que, se a pressão e a temperatura não mudarem, os volumes dos gases participantes de uma reação terão entre si uma relação de números inteiros e pequenos. Dessas Leis, foram estabelecidas, para as CNTP (Condições Normais de Temperatura e Pressão, ou seja, 273K e 1 atm), as seguintes relações estequiométricas: 1 mol ≡ 6,02 . 1023 átomos ou 6,02 . 1023 moléculas ≡ 22,4 L ≡ 1 M Por exemplo, 1 mol de água (H2O) terá 6,02 . 1023 moléculas de água. Ocupará um volume de 22.4L e terá M = 18g/mol. Também podemos afirmar, em função da definição de M, que 1 mol de água tem a massa de 18g. Assim, 2 mol de H2O terão 12,04 . 1023 moléculas ocuparão 44,8L e terão 2M, correspondendo a uma massa de 36g. 3.2. Problemas de Estequiometria Qual a principal função da estequiometria? É ser aplicada para a determinação de quantidades de reagentes e de produtos para uma determinada reação química. Usando o balanceamento da equação química e as relações estequiométricas, podermos analisar quaisquer reações, determinando quantidades de reagentes e de produtos. Assim, os problemas de estequiometria podem aplicar este conceito. 3.2.1. Problemas de Estequiometria em Reações de Neutralização A reação de neutralização é caracterizada por determinar a quantidade de uma base necessária para neutralizar um ácido. Pode ser expressa em volume ou massa, sempre em função da quantidade de matéria expressa em mol. Por exemplo, vamos analisar a reação de neutralização do ácido sulfúrico com o hidróxido de sódio: H2SO4 + NaOH Na2SO4 + H2O 19 Pelo método da tentativa e erro, o balanceamento resultará em: H2SO4 + 2 NaOH Na2SO4 + 2 H2O Em função disso, temos uma proporção molar igual a: 1:2;1;2. Assim, qual o volume de NaOH necessário para neutralizar 2 mol de H2SO4? Veja, que para 1 mol de ácido, são usados 2 mol da base. Assim, serão usados 4 mol de NaOH para a neutralização de 2 mol do ácido. Pela relação estequiométrica, como 1mol ≡ 22,4L, 4 mol levará a um volume quatro vezes maior, ou seja, de 89,6L. Qual a massa de sal formada? Primeiro, devemos estabelecer M para, em função dele, obter a massa. Observamos que 1 mol de ácido gera 1 mol de sal. Portanto, para 2 mol de ácido, serão gerados 2 mol de sal, ou seja, serão gerados 2M de sal. Usando a Tabela Periódicapara obter as massas atômicas dos elementos e, em função delas, obter M do sal, teremos MNa2SO4 = (2x23 + 1x32 +4x16) = 142 g/mol. 2 mol de ácido gerarão 2 M do sal, ou seja, 284 g/mol, resultando em uma massa de 284g. 3.2.2. Problemas de Estequiometria em Reações de Combustão A reação de combustão acontece quando um combustível reage com um comburente, formando gás e água. Normalmente, a estequiometria é usada para obter a quantidade de ar que deve ser insuflada para que a reação seja completa. Por exemplo, vamos analisar a reação de combustão do metano, já vista. Eis o resultado do balanceamento: 1 CH4 + 2O2 1CO2 +2 H2O Vemos aqui que a relação é : 1:2:1:2. Qual o volume de gás carbônico gerado para cada mol de metano? Como a relação é 1mol de metano, gerando um mol de gás carbônico, teremos um volume de 22,4L de gás carbônico gerado para cada mol de metano que entrar em combustão. Qual o volume de ar que será usado? Primeiramente, determinamos o volume de oxigênio. Como a relação é 1:2, serão necessários 44,8L de oxigênio para cada mol de metano. 20 Como o oxigênio corresponde a 21% do ar estequiométrico, para obter o volume de ar devemos dividir o resultado do oxigênio por 0,21. Assim, teremos um volume de ar igual a 213,33 L. Ar em excesso. Para reações de combustão, sempre são determinadas quantidades de ar acima do estritamente necessário para a combustão, as quais são chamadas de excesso de ar, seja para diluir a quantidade de gás formado, e que irá para o ambiente, seja para deslocar a reação no sentido da combustão. Podemos adotar um fator de 20% de excesso para as reações de combustão. Assim, o volume de ar para a combustão do metano seria 213,33/20%, ou seja, 213,33/0,2, o que resulta em um volume com excesso de ar igual a 1066,65 L para esta reação. 3.2.3. Problemas de Estequiometria em Reações de Oxirredução As reações de oxirredução já foram descritas anteriormente. Assim, trata- se de terminar qual a quantidade de cátion será usada para deslocar o ânion na reação. Vamos analisar a reação de oxirredução já trabalhada: CuSO4 + Zn ZnSO4 + Cu A relação é 1:1:1:1. Assim, qual a massa de Zn necessária para a reação de oxirredução com 2 mol de CuSO4? Como a relação é 1:1, necessitaremos de 1M de Zn; a massa será de 65,4g. 3.2.4 Observações importantes Os problemas de estequiometria não partem necessariamente de quantidade de matéria. Podem partir de volumes e de massas de determinado reagente, solicitando volume ou massa do outro reagente ou volume ou massa de um produto. Por exemplo, retomando a reação de oxirredução acima, poderíamos querer saber quanto de Zn é necessário para 3190 g de CuSO4. Primeiramente, devemos estabelecer a quantidade de matéria presente em 3190g do sulfato de cobre. Com uso da Tabela periódica, temos que 1 mol de CuSO4 tem M igual a (63,5 + 32 + 4x16) = 159,5g/mol, e terá uma massa de 159,5g. Uma massa de 3190g corresponde a 20 vezes a massa de 1 mol, ou seja, corresponderá a 20 mol de CuSO4. Como a relação é de 1:1, será necessário a massa de 20mol de Zn, ou seja, uma massa de 20x 65,4 = 1308g. 21 FINALIZANDO Com os conhecimentos adquiridos nesta aula, você agora entende a estequiometria e o modo como usar esta ferramenta para obter parâmetros de controle de reações. Este conhecimento é de grande utilidade e será usado adiante nas disciplinas dos Cursos de Engenharia e na vida profissional. 22 REFERÊNCIAS THEODORE l. B.; LEMAY, E. H.; BURSTEN, E. B. Química, a Ciência Central. 9. ed. São Paulo: Pearson, 2005. RUSSEL, J. B. ; Química Geral. 2. Ed. McGraw-Hill do Brasil, 1994. MAHAN, H.; BRUCE M.; MYERS, R.J. Química: Um Curso Universitário. 4. ed. Editora Edegard Blücher Ltda, 1995. ARAGÃO, M. J.; História da Química. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2008.
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