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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Metrologia Aula 6 Prof. Roberto Candido Pansonato CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Olá, seja bem-vindo! Você está na sexta e última aula da disciplina de Metrologia. Nas aulas anteriores, vimos o conceito e o histórico da metrologia, bem como as suas principais áreas de atuação. Conhecemos o que é grau de conformidade e desvio padrão. Percorremos entre os vários termos da metrologia, tais como grandeza, mensurando, medição, incerteza de medição e mais alguns outros. Aprendemos que, aqui no Brasil, utilizamos o sistema métrico decimal, que fundamenta o Sistema Internacional de Unidades (SI), sem esquecer, é claro, da importância do sistema inglês e sua influência na metrologia técnica e no cotidiano. Conhecemos, na aula 5, o que é medição por atributo e por variável e os principais instrumentos de medição para a grandeza comprimento (calibradores, paquímetros, micrômetros, relógios comparadores, entre outros). Exercitamos brevemente como se efetuar uma medição através de um paquímetro e, por fim, como se processa a calibração dos instrumentos de medição e dos padrões. Hoje vamos conhecer um pouco sobre as propriedades estatísticas dos sistemas de medição. Mas qual seria a relação da estatística com a metrologia? Aprendemos nas aulas anteriores sobre desvio padrão, que é a medida mais comum da dispersão estatística, porém, isoladamente, ainda não é suficiente para garantir a confiabilidade dos sistemas de medição. Para obter essa confiabilidade no sistema de medição, no qual pode estar inserido as variáveis operador, equipamento e peça, precisamos saber se o sistema possui repetitividade e reprodutibilidade (R&R). E para saber se o sistema é confiável, é necessário o conhecimento de técnicas para análise do sistema de medição (MSA). Mas onde que entra esse tal de R&R? CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Na problematização a seguir, veremos qual é a importância e o impacto do R&R na performance dos equipamentos de medição dentro das empresas. Contextualizando Problematização Jairo, formado em engenharia de produção e funcionário de uma empresa metalúrgica de porte médio, decidiu ter sua própria empresa. Após cinco anos trabalhando nos setores de engenharia de processo, produção e engenharia da qualidade, ele estava confiante de que sua formação acadêmica mais a experiência acumulada nesses cinco anos seriam mais do que suficiente para gerir sua própria empresa. Também fez um curso de curta duração para gestão de empresas, elaborou seu plano de negócio e num curto espaço de tempo sua empresa já estava funcionando. O negócio da empresa do Jairo era fornecer para sistemistas automotivos (empresas que entregam conjuntos pré-montados para as grandes montadoras de automóveis) peças técnicas com alto volume. Para se produzir essas peças, eram necessários os processos de estamparia (metais), usinagem de aço e alumínio e montagem. O fato de se ter o processo de montagem “dentro de casa” era uma vantagem competitiva para o Jairo, pois, se houvesse algum problema nas peças estampadas ou usinadas, a montagem funcionaria como um filtro. Contudo, esse filtro estava ficando saturado, ou seja, muitas peças provenientes principalmente do processo de usinagem eram descartadas no momento da montagem, aumentando consideravelmente a quantidade de refugos e, consequentemente, comprometendo os resultados da empresa. A partir de dados coletados pela engenharia nos três turnos, foi possível verificar que a montagem apresentava problemas basicamente com peças oriundas do turno “C”. A peça em questão era um tanto complexa e, para seu controle, era necessário um dispositivo especial, pois a empresa do Jairo não possuía um equipamento 3D (tridimensional). Verificando-se os registros do turno em questão, não CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 se encontrou nenhuma anormalidade. A partir de aí, a desconfiança passou a recair sobre o instrumento de medição, foi sugerido, então, efetuar testes com o dispositivo de inspeção especial. Mas que tipo de teste poderia ser feito? É neste momento que entram as técnicas estatísticas da metrologia. Lembra-se das variáveis que podem afetar a performance de um sistema de medição? As causas de erro de medição podem ser provenientes do equipamento de medição, do operador, da peça a medir ou do ambiente. Para esclarecer o problema, deveria ser realizado um estudo de R&R. No entanto, o que vem a ser R&R? Trata-se de um método para estimar a variabilidade associada ao sistema de medição com base em dois termos: a repetitividade e a reprodutibilidade. Por meio desse método estatístico, é possível analisar se o equipamento de medição está dentro dos critérios de aceitação e de onde provém os possíveis erros. Com a ajuda da engenharia, foram selecionadas dez peças e três operadores para os procedimentos específicos. Os dados foram inseridos nas planilhas de cálculo e o resultado acusou que havia uma dispersão nas medições apresentadas pelo operador “C”, conforme o gráfico a seguir: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Além do auxílio gráfico, também os critérios de aceitação do R&R estavam fora do especificado (bem acima dos 30%, que é uma aceitação condicional). A partir desses dados, foram tomadas algumas ações, principalmente quanto aos operadores. Foram criados procedimentos de inspeção para o dispositivo em questão, ajustados alguns sensores e realizados novos testes, desta vez atingindo o objetivo, ou seja, um índice de repetitividade e reprodutibilidade dentro das especificações. Medir é algo relativamente fácil, porém cometer erros de medição é algo mais fácil ainda. Com a ajuda de técnicas estatísticas, é possível conhecer melhor as variáveis do processo de medição e tomar as decisões para se reduzir as variações do sistema. É sobre essas técnicas estatísticas que resolveram o problema da empresa do Jairo, um dos tópicos que vamos tratar nesta aula. Pesquise Tema 1: Análise dos Sistemas de Medição A verificação dos instrumentos de medição é algo imprescindível. Conforme VIM (2012), é o processo que fornece a evidência objetiva de que um dado item satisfaz os requisitos especificados. A avaliação do desempenho e da capacidade de um sistema de medição envolve a análise da capacidade desse sistema para diferentes tipos de características de qualidade, o que significa uma unidade de qualidade de um produto que influencia na adequação do uso deste. Vale ressaltar que a verificação não deve ser confundida com o processo de calibração. Segundo o Inmetro (portaria 163, Brasil, 2005), a verificação de um instrumento de medição é “o procedimento que compreende o exame, a marcação e/ou a emissão de um certificado de verificação que constata e confirma que o sistema de medição satisfaz às exigências regulamentares”. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Para a análise do sistema de medição, são utilizadas importantes ferramentas estatísticas que permitem a avaliação do grau de confiabilidade dos dados gerados pelos sistemas de medição utilizados por uma empresa. Como no gerenciamento de processos, os dados representam a base para a tomada de decisões, é necessário determinar, antes de qualquer análise, se os sistemas de medição fornecem resultados aceitáveis. Portanto, a avaliação estatística da qualidade dasmedidas é um importante estudo que deve ser parte integrante do gerenciamento de processos. Nesse sentido, o estudo de repetitividade e reprodutibilidade (R&R) é uma ferramenta usada na análise dos sistemas de medição. Para essa análise, o instrumento de medição é utilizado para medir repetidas vezes as amostras de um produto. Posteriormente, veremos com mais detalhes. Na sequência, veja o resumo da definição de cada termo do R&R. A repetitividade mede a variabilidade inerente ao instrumento de medição e indica a capacidade de fornecer resultados idênticos em medições repetidas e sob as mesmas condições. A reprodutibilidade quantifica a capacidade de apresentar os mesmos resultados quando ocorrem mudanças nas condições de medição (avaliadores, inspetores, condições ambientais da medição, de procedimentos, de turno de trabalho etc.). No entanto, devido à dificuldade de controlar as variáveis tais como “condições ambientais de medição”, para efeito de estudo estatístico, é utilizado apenas a variável avaliador (operador), pois é mais fácil e viável fazer comparações de resultados obtidos, levando-se em conta que nas empresas normalmente há vários avaliadores que executam medições. O objetivo de um estudo de R&R é determinar se a variabilidade proveniente de um sistema de medição pode ser considerada suficientemente menor que a variabilidade do processo ou do produto que está sendo controlado. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Considera-se que o erro aleatório é dado pelas repetições em mesmas condições (replicações) de um mesmo tipo de medição. Já o erro de medição é mais abrangente, sendo composto pela dispersão do instrumento, pelo efeito do avaliador e pelo erro aleatório devido às replicações. Tema 2: Propriedades Estatísticas dos Instrumentos de Medição Um sistema ideal de medição seria aquele que produziria somente medidas “corretas” todas as vezes que fosse utilizado. Toda medida deveria sempre coincidir com um padrão mestre. Um sistema de medição desse tipo possuiria propriedades estatísticas de variância zero, tendência zero e probabilidade zero de classificação errônea de qualquer produto que ele medisse. Infelizmente, com as características estatísticas desejáveis, esse sistema não existe. Para todos os efeitos, um sistema de medição é aquele que tem aderência aos padrões de referência adotados para o produto ou processo, reduzindo a probabilidade de se tomar decisões erradas sobre a conformidade deste em relação a esses padrões. A qualidade de um sistema de medição é geralmente determinada unicamente pelas propriedades estatísticas dos dados que ele produz. Outras propriedades como custo, facilidade de uso etc. são também importantes por contribuírem para a conveniência geral de um sistema de medição, no entanto, a qualidade de um sistema é determinada pelas propriedades estatísticas dos dados produzidos. Com relação aos dados produzidos, três parâmetros estatísticos importantes devem ser evidenciados: média, desvio-padrão e amplitude. A seguir, temos as fórmulas matemáticas para os cálculos desses três parâmetros: Fonte: Toledo, 2014, p.105 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 As propriedades estatísticas são definidas como critérios para análise e seleção de um sistema de medição. Apesar de poder ser exigido que cada sistema de medição tenha diferentes propriedades estatísticas, existem certas propriedades estatísticas que todos os sistemas de medição devem ter, conforme abaixo: O sistema de medição deve estar sob controle estatístico, o que significa que a variação no sistema de medição é devida somente às causas comuns e não às causas especiais. A variabilidade do sistema de medição deve ser pequena em comparação com a variabilidade do processo de manufatura. A variabilidade do sistema de medição deve ser pequena em comparação com os limites de especificação. Os incrementos de medida devem ser pequenos em relação ao que for menor, entre a variabilidade do processo ou os limites de especificação. Uma regra prática comumente usada é que os incrementos não devem ser maiores que um décimo do menor valor entre a variabilidade do processo ou os limites de especificação. As propriedades estatísticas do sistema de medição podem mudar à medida que variem os itens que estão sendo medidos. Se isso ocorrer, a maior (pior) variação do sistema de medição deve ser pequena em relação ao menor valor entre a variabilidade do processo ou os limites de especificação. Como em qualquer processo de manufatura (fabricação, montagem etc.), os sistemas de medição são afetados por causas aleatórias, também chamadas de causas comuns, que são inerentes ao processo de medição, e por causas identificáveis ou especiais, que surgem e atuam esporadicamente no sistema de medição. As causas comuns referem-se às muitas fontes de variação dentro de um processo que tem uma distribuição estável e repetitiva ao longo do tempo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Isso é chamado de "sob controle estatístico". Se somente causas comuns de variação estão presentes e não mudam, a produção de um processo é previsível. Em geral, essas causas comuns (aleatórias) individualmente podem ter pouco significado na variabilidade do processo, no entanto, em conjunto, têm efeito significativo. Como exemplo: pequenas variações na fonte de energia elétrica que podem causar microalterações em um sensor eletrônico de um sistema de medição. As causas identificáveis ou especiais se referem às causas que surgem de maneira esporádica e que individualmente têm um efeito considerável na variabilidade. Por ocorrerem esporadicamente, elas são mais perceptíveis e, de certo modo, facilita a tomada de ações. Como exemplo: mudança repentina de um inspetor de um sistema de medição. Fica evidente, então, que o estado de controle ideal de um processo (de medição, por exemplo) é aquele em que as causas especiais estão sob controle, atuando no processo somente as causas aleatórias, as quais, dada uma determinada situação, não são possíveis de controlar. Tema 3: Termos da Análise do Sistema de Medição Veja os principais termos e conceitos utilizados na análise de um sistema de medição. Estabilidade: é a variação das medições obtidas com um dispositivo de medição medindo a mesma característica de uma mesma peça ou padrão ao longo do tempo. Uma menor variação entre as medições significa maior estabilidade do dispositivo de medição. Tendência (ou erro sistemático): é a diferença entre o valor verdadeiro (valor de referência) e a média das medições observada para uma característica, medições estas feitas sob uma mesma peça. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 A tendência é definida como a diferença entre a média observada e o valor de referência. A média observada é a média de um conjunto de leituras (por exemplo, 10 observações) feitas pelo conjunto dispositivo/operador que queremos avaliar e o valor de referência é o valor “supostamente” correto, obtido em um laboratório de metrologia. No exemplo acima, o valor de referência é 19,0 e a média das medições realizadas é 20,5. Portanto, a tendência é de 1,5 unidades. A tendência pode ser expressa em termos percentuais, onde a base de comparação é a variação total do processo. Em geral, usa-se 6 sigmas ou a tolerância (amplitude do intervalo de especificação) para definir a base de comparação: a) Tendência % = 100 x Tendência / (6 sigmas) b)Tendência % = 100 x Tendência / Tolerância Linearidade: diferença da tendência ao longo do intervalo de operação esperado (medição) no equipamento. A linearidade pode ser imaginada como a variação da tendência com respeito ao tamanho (medido). Muitas vezes o dispositivo é usado em uma faixa ampla, no entanto, o fato dele estar calibrado e funcionando adequadamente em um extremo da faixa, Fonte: O autor baseado em AIAG, 2008 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 não assegura seu funcionamento adequado no centro ou no outro extremo da faixa. Vamos ilustrar esse conceito com um exemplo: considere um paquímetro com faixa de medição de 150mm. Se essa faixa de medição for dividida em 10 partes, cada parte teria um tamanho de 15mm. Imagine que foi realizado um teste de tendência com esse instrumento para medir um comprimento de 30 mm e encontrou-se um determinado valor. O ideal é que o paquímetro apresente a mesma tendência ao longo de toda faixa de medição (de 15 a 30 mm, de 30 a 45 mm, de 45 a 60 mm sucessivamente até 150 mm). Se o equipamento apresentar a mesma tendência nos intervalos citados, demonstra que ele tem uma ótima linearidade. Observe: Relacionando a figura acima com o exemplo do paquímetro, seria como a tendência (ou erro sistemático) na medição de um comprimento de 15 mm (tamanho 1) tivesse um determinado valor e essa tendência se alteraria quando, com o mesmo instrumento, se medisse um comprimento de 150 mm (tamanho N). Repetitividade: é a variação das medições realizadas por um mesmo operador, utilizando o mesmo dispositivo de medição e medindo a mesma característica da qualidade de uma mesma peça. Como exemplo: um inspetor realiza 10 medições de uma mesma característica de uma peça. A amplitude (diferença entre o maior e o menor valor medido) e o desvio- CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 padrão desses 10 valores seriam indicadores de repetitividade. Via de regra, quanto menor o valor da amplitude e do desvio-padrão dessas 10 medições, menor é a repetitividade do sistema de medição. Reprodutibilidade: representa a diferença entre a média das medições realizadas por diferentes operadores (avaliadores), utilizando o mesmo dispositivo de medição para medir a mesma característica de qualidade conforme procedimentos que veremos adiante. Portanto, a reprodutibilidade representa a diferença entre as médias dos operadores (em torno de 2 a 3 operadores). Quanto menor for a diferença entre as médias das medidas coletadas pelos operadores, significa que o sistema de medição utilizado é capaz de reproduzir os mesmos valores quando utilizado por diferentes pessoas que possuam nível de qualificação equivalente. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Tema 4: Procedimentos de Elaboração e Análise de R&R O estudo de R&R é um método para estimar a variabilidade associada a um sistema de medição. Esse tipo de estudo é muito utilizado pelos departamentos de engenharia da qualidade e engenharia de processos para validação de sistemas de medição. Normalmente, são utilizadas planilhas eletrônicas (excel, por exemplo) ou softwares específicos para estatística aplicada à qualidade, o que significa que raramente se executa estudos desse tipo por meio de cálculos manuais, no entanto, o entendimento pleno dessa técnica é obtido a partir de exercícios manuais. O que se propõe em seguida é a compreensão dos conceitos básicos da metodologia para futura aplicação na área profissional. Três métodos de análise de medição podem ser aplicados no estudo de R&R: 1. Método numérico: fundamentado na média e na amplitude/ desvio- padrão do conjunto de valores medidos. 2. Método de análise gráfica: realizado após a coleta dos resultados. 3. Método da análise da variância (Anova)1. Para a realização de um estudo de R&R, deve-se seguir alguns procedimentos básicos conforme veremos adiante. O rigor em seguir o procedimento adequado, bem como a autenticidade dos dados, é primordial para se ter confiança nos resultados. Nesse momento, a ética dos profissionais é essencial, pois sistemas de medição que possam eventualmente não detectar produtos não conformes podem acarretar sérios problemas ao consumidor, 1 Utilizaremos em nossos estudos o método numérico (o mais usual e que considera a média e a amplitude) e o método gráfico. O método Anova requer aplicação de conceitos e técnicas estatísticas mais complexas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 principalmente quando se trata de um produto que envolva a segurança do usuário. Segue um resumo das atividades e cuidados a serem realizadas para um estudo de R&R: Selecionar aleatoriamente operadores que utilizam e conhecem bem o sistema de medição a ser estudado. Em geral, recomenda-se três operadores. Se isso não for viável, utilizar pelo menos dois operadores. Caso o operador não influencie na medição, não avalie a reprodutibilidade. Utilizar equipamentos de medição devidamente calibrados. Selecionar de 5 a 15 peças da produção cujas dimensões varram o campo de variação do processo. Se o sistema de medição for utilizado para processos com campos de variação muito distintos, recomenda-se realizar estudos de R&R distintos. Sempre que possível, procure obter g = (número de peças) X (número de operadores) maior que 15. Se isso não for possível, aumente o número de leituras por peças. Escolher o método de conduzir e analisar o estudo. Identificar cada operador (avaliador) que será avaliado no sistema de medição através de uma letra (operador A, B e C). Identificar as peças com números sem que os mesmos sejam do conhecimento dos avaliadores. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Obter do avaliador “A” as medidas das “n” peças, de modo aleatório, seguindo um procedimento de medição e efetuar os devidos registros. Repetir o procedimento com os avaliadores “B” e “C”. Esse ciclo deve ser repetido pelo menos três vezes com os operadores A, B e C. Com os dados coletados, iniciar os cálculos da folha de dados para estudo de R&R: Calcular as médias das medidas obtidas por cada operador. Calcular a média das médias das medidas obtidas por cada operador. Calcular as amplitudes das medidas obtidas por cada operador. Calcular a média das amplitudes das medidas obtidas pelos operadores. Calcular o diferencial entre as médias dos avaliadores. Calcular a amplitude das médias das peças (Rp). Calcular os limites de controle superior e inferior das amplitudes (LSC𝑅 e LIC𝑅) com auxílio da tabela a seguir. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Tabela 1: Constantes dos Gráficos de Controle Estatístico. Com a médias e amplitudes calculadas, iniciar os cálculos referentes à análise do sistema de medição. Calcular a repetitividade (VE = variação do equipamento), levando-se em consideração K1: Calcular a reprodutibilidade (VA = variação entre avaliadores), levando-se em consideração K2: Nº de Leituras K1 02 4,56 03 3,05 Fonte: Toledo, 2014, p.117. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Calcular a repetitividade e a reprodutibilidade (R&R). Calcular variação das peças (PV) levando-se em consideração K3: Nº de Peças 2 34 5 6 7 8 9 10 K3 3,65 2,70 2,30 2,08 1,93 1,82 1,74 1,67 1,62 Calcular a variação total (VT). Calcular a porcentagem do equipamento (% VE) sobre a variação total (VT). Calcular a porcentagem do avaliador (% VA) sobre a variação total (VT). Calcular a porcentagem da repetitividade e da reprodutibilidade (% R&R) sobre a variação total (VT). Calcular a porcentagem da variação da peça (% VP) sobre a variação total (VT) Calcular ndc (número de classes ou número de categorias distintas)2. 2 Outra estatística que avalia a variabilidade de um sistema de medição é número de categorias distintas (NDC). Essa estatística indica o número de categoria dentro do qual as medições do processo podem ser divididas. O NDC deve ser maior ou igual a 5 e é aplicado somente para sistema de medição cujo o propósito é analisar um processo. Nº de Operadores K2 02 3,65 03 2,70 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 Observe, a seguir, um exemplo onde foram selecionadas aleatoriamente 10 peças de um total de 14 (peças número 2, 3 5, 7, 8, 10, 11, 12, 13 e 14). Tabela 2 O LSC𝑅 representa o limite de controle para as amplitudes (R) consideradas individualmente. Valores acima do limite devem ser avaliados quanto à causa e corrigidos, e o operador responsável deve refazer as medições. Fonte: Toledo, 2014, p.126. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 No gráfico a seguir, referente aos dados para R&R, apenas 02 medições das 30 possíveis ficaram acima do limite de controle (0,13674), no entanto, esses dois valores têm pouco efeito, considerando o conjunto total de dados do gráfico. O gráfico, demonstrado abaixo, permite deduzir que o avaliador “C” tem um erro de repetitividade maior que os outros dois. Observação: Para definição dos limites de amplitude (LSC𝑅) / (LIC𝑅), deve-se multiplicar a média da amplitude pelo valor da amostra (n), que, nesse caso, é 3 pelas constantes D3 (LIC𝑅) e D4 (LSC𝑅) da tabela1. Como “n” para D3 é igual a zero, o LIC𝑅 será zero. LSC𝑅 = 0,053 x 2,575 = 0,136475. Com relação à reprodutibilidade, nota-se que houve poucos erros, visto que as médias dos três valores estão muito próximas. Fonte: Toledo, 2014, p.127. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 A breve verificação realizada nos gráficos anteriores faz parte da análise gráfica, porém, também é necessário efetuar a análise numérica, conforme padrão de formatação sugerido pelo Manual de MSA da Aiag (2008) apresentado na tabela disponível no botão a seguir. Antes, para melhor entendimento, veja a legenda: • VE: Variação do Equipamento • VA: Variação do Avaliador • VP: Variação da Peça • VT: Variação Total • Ndc: Número de Classes (ou número de categorias distintas) • K1 = 5,15/d2 obtido na Tabela 3 para g >15 e m = número de repetições. Nesse caso, foram 3 repetições, portanto, o valor de d2 é 1,69. Assim, K1 = 5,15/1,69 = 3,05. • K2 = 5,15/d2, sendo d2 obtido na tabela 3 para g = 1 e m = 3 avaliadores. Portanto, o valor de d2 é 1,91. Assim, K2 = 5,15 / 191 = 2,70. • K3 = 5,15/d2 obtido na tabela 3 para g = 1 e m = 10 peças. Portanto, o valor de d2 é 3,18. Assim, K3 = 5,15 / 3,18 = 1,62. Fonte: Toledo, 2014, p.128. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Relatório3: Fonte: Toledo, 2014, p.129 (adaptado de Aiag, 2008). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 Tabela 3: Constante d2 para estimativa de desvio-padrão. Vale ressaltar que, conforme Duncan (1974) e Aiag (2008), a coluna (m) da tabela 3 pode ter diferentes interpretações em função dos cálculos a serem realizados. Para repetitividade, tem o sentido do número de repetições; para reprodutibilidade, tem o sentido do número de avaliadores; e para o cálculo de variação das peças, tem o sentido do número de peças diferentes que foram medidas. 3 Todos os cálculos são baseados previamente sobre 5,15 σ (99% da área dentro de uma curva normal). Fonte: Toledo, 2014, p.129 (adaptado de Duncan, 1974, p.950). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Outro ponto a ser reforçado é que a soma do VA + VE + R&R + VP não será igual a 100%. Isso ocorre, pois, VE e VA estão contabilizados duas vezes: individualmente e no cálculo de R&R. Com relação à análise numérica, o valor do R&R calculado foi de 17,9%, o que, conforme alguns manuais de MSA, é considerado aprovado (limite 20%). No entanto, para aplicações no setor automobilístico, o manual de MSA da Aiag (2008) tem sugerido valores mais criteriosos, conforme tabela a seguir. Outro item importante na análise numérica de um sistema de medição é o ndc. No cálculo realizado, o ndc resultou em 7,75 (8 classes). A apresentação dessas classes pode ser observada no histograma a seguir, que representa a distribuição de frequência dos 90 dados coletados (10 peças medidas 3 vezes cada uma por 3 avaliadores). O ndc = 8 demonstra que o sistema de medição é capaz de distinguir, no total das peças medidas, 8 categorias de peças com dimensões diferentes. Fonte: Toledo, 2014, p.129 (adaptado de Aiag, 2008). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 Finalizando, o estudo realizado indicou um R&R de 17,9% (está entre 10% e 20%) e um índice de ndc de 8 (maior que 5). Portanto, o sistema de medição pode ser considerado aceitável e pronto para utilização em um ambiente industrial. Vale ressaltar que para esse cálculo, foi utilizado a variação total (VT), sendo também possível utilizar o campo de tolerância (IT) da peça medida. Tema 5: Certificação e Acreditação As exigências do consumidor quanto a ter produtos com alta qualidade e com alto valor agregado de tecnologia, faz com que esses produtos tenham um grau de exatidão cada vez mais apertado. Além de se ter um sistema de medição confiável, que atenda a todos os requisitos metrológicos estudados nesta disciplina, é necessário também que os laboratórios de metrologia também sejam confiáveis e, para isso acontecer, é imprescindível que os mesmos possuam uma certificação dos sistemas da qualidade. Se a empresa que busca essa certificação possuir um laboratório cujas atividades influenciam na qualidade dos produtos ou serviços finais, significa que as práticas desse laboratório devem estar inseridas no sistema da qualidade, conforme requerido na norma ISO 9001. Fonte: Toledo, 2014, p.131. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 No que diz respeito a laboratórios metrológicos, existe a norma específica: A NBR ISO/IEC 17025 (ABNT 2005). Traçando um paralelo com os sistemas de gestão da qualidade (ISO 9001, por exemplo), a diferença ocorre na terminologia. O que se denomina certificação na ISO 9001, passa a ser acreditação quando se utiliza a NBR ISO/IEC 17025. O mesmo ocorre com o termo auditoria na ISO 9001, que com relação a NBR ISO/IEC 17025 passa a ser avaliação da conformidade do laboratório com a norma. Mesmo que uma empresa possua a certificação da ISO 9001, ela pode ter a acreditação da NBR ISO/IEC 17025, que tem a especificidade na gestão de laboratórios metrológicos (mesmo sendo um laboratório interno). O órgão responsável por essa acreditação no Brasil é o Inmetro. Sendo um laboratório acreditado pelo Inmetro, pela norma NBR ISO/IEC 17025, estará apto às práticas de comércio internacional,que exige que os serviços laboratoriais evidenciem aos seus clientes que os certificados de calibração e os relatórios de ensaios emitidos pelo laboratório sejam metrologicamente confiáveis, sendo possível “acreditar” neles, pois: Os procedimentos e equipamentos utilizados pelo laboratório são rastreados a padrões do Sistema Internacional de Unidades (SI); São adequados a métodos e práticas reconhecidas internacionalmente; Usam adequadamente seus equipamentos; Possuem instalações e profissionais adequados. Com relação à documentação exigida, a NBR ISO/IEC 17025 requer os mesmos documentos das normas da série ISO 9000, porém com um sistema de gestão da qualidade que abranja além de aspectos de gestão os de competência técnica do laboratório para realizar ensaios, inspeções e calibrações. O quadro a seguir demonstra quais são os documentos em relação aos níveis hierárquicos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 De modo geral, a documentação do sistema de qualidade de um laboratório metrológico envolve: o manual da qualidade; o manual dos procedimentos de operações técnicas, gerenciais e de controle de qualidade; as instruções de trabalhos operacionais e da qualidade (que são detalhamentos dos procedimentos); os registros; a documentação técnica e de suporte, como normas internacionais para ensaios e calibração, manuais dos fabricantes dos instrumentos e equipamentos etc. Fonte: Toledo, 2014, p.145. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 27 Para informações detalhadas a respeito dos requisitos de implantação de um sistema de qualidade em um laboratório metrológico, leia o livro “Sistemas de Medição e Metrologia”, de José Carlos de Toledo, disponível na Biblioteca Virtual (acessar material on-line). Na Prática Conforme visto no estudo de R&R, os sistemas de medição estão submetidos às variações dos equipamentos, avaliadores e peças. Algumas fontes de erros, que não se enquadram ao instrumento e aos avaliadores podem afetar o resultado de um sistema de medição. Com relação à variável avaliador, por mais que se tenham processos de medições automatizados, sempre haverá alguma participação humana. Os erros que não se enquadram nos instrumentos, bem como algumas fontes de erros humanos e suas possíveis soluções estão disponíveis no livro “Sistemas de Medição e Metrologia” de José Carlos de Toledo, disponível na biblioteca virtual do sistema ÚNICO. Faça a leitura e reflita a respeito. Síntese Vimos a importância da análise dos sistemas de medição para a confiabilidade nos produtos e serviços ofertados aos clientes. No exemplo da problematização, o conhecimento em técnicas estatísticas para análise do sistema de medição poderia ter evitado um grande problema. Entendemos que o objetivo de um estudo de R&R é determinar se a variabilidade proveniente de um sistema de medição pode ser considerada suficientemente menor que a variabilidade do processo ou do produto que está sendo controlado (se for maior a confiabilidade estará comprometida). Conhecemos o que são causas aleatórias e causas especiais e aprendemos os principais termos e conceitos utilizados na análise de um sistema CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 28 de medição: estabilidade, tendência, linearidade, repetitividade e reprodutibilidade. Foram apresentados os procedimentos de elaboração e análise de estudo estatístico de repetitividade e reprodutibilidade (R&R) com seus respectivos detalhes. Por meio de um exemplo prático, foi possível entender como se obtém os resultados para avaliação da variabilidade (variações do equipamento, do avaliador e das peças) de um sistema de medição. Vimos também um outro item importante na análise numérica de um sistema de medição, que é o ndc (número de classes ou número de categorias distintas). Finalmente, estudamos alguns tópicos referentes à acreditação e certificação de laboratórios de metrologia. Encerramos nossos estudos referentes à disciplina de Metrologia. O objetivo principal foi o de transmitir a metrologia de uma forma mais prática, mostrando como ela se apresenta no cotidiano das pessoas comuns e no cotidiano das empresas. Referências AIAG – Automotive Industry Action Group. Análise dos Sistemas de Medição. 3 ed. Southfield: IQA, 2008. ALBERTAZZI, A.; SOUZA, A. R. Fundamentos de Metrologia Científica e Industrial. Barueri, SP: Editora Manole, 2008. INMETRO. Vocabulário Internacional de Metrologia: Conceitos fundamentais e gerais e termos associados (VIM 2012). Duque de Caxias, RJ: INMETRO, 2012. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/inovacao/publicacoes/vim_2012.pdf>. Acesso em: 13 set. 2016. JURAN, J. M.; GRYNA, F. M. Controle de Qualidade Hanbook. São Paulo: Makron Books, 1992. V.4. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 29 MENEZES, F. M. MSA – Análise dos Sistemas de Medição; (ABDI, Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial). Porto Alegre, Produttare, 2013. SANTOS, J. O. Metrologia e Normalização. São Paulo, SP: Pearson, 2015. SOUSA, A. R.; NEVES, B. M. Apostila de Metrologia I. Instituto Federal de Santa Catarina. SENAI. Telecurso Profissionalizante de Mecânica. Fundação Roberto Marinho, 1998. TOLEDO, J. C. Sistemas de Medição e de Metrologia. Curitiba, PR: Editora Intersaberes, 2014.
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