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18 0 DESAFIOS DE UMA PROPOSTA DE PSICOTERAPIA DE CURTA DURAÇÃO NA ABORDAGEM GESTÁLTICA_

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Revista da Abordagem Gestáltica:
Phenomenological Studies
ISSN: 1809-6867
revista@itgt.com.br
Instituto de Treinamento e Pesquisa em
Gestalt Terapia de Goiânia
Brasil
Queiroz de Brito (Lika Queiroz), Maria Alice
DESAFIOS DE UMA PROPOSTA DE PSICOTERAPIA DE CURTA DURAÇÃO NA ABORDAGEM
GESTÁLTICA
Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies, vol. XII, núm. 1, junio, 2006, pp. 159-
164
Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt Terapia de Goiânia
Goiânia, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=357735503016
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DESAFIOS DE UMA PROPOSTA DE PSICOTERAPIA DE 
CURTA DURAÇÃO NA ABORDAGEM GESTÁLTICA 1
Maria Alice Queiroz de Brito (Lika Queiroz) 2
Ah! O tempo sem tempo.
que não é o meu tempo...
O tempo do outro...
Passado e futuro
fundidos no presente
do encontro...
- Lika Queiroz -
Resumo: Este artigo reflete o resultado de meus questionamentos ao longo destes vinte anos 
de docência e supervisão de uma práxis clínica gestáltica no modelo de psicoterapia de curta 
duração. O desafio de manter uma atitude fenomenológica dentro de uma proposta que tem como 
características a diminuição da duração do tratamento e uma delimitação a priori deste tempo, 
a definição de um foco de trabalho, objetivos terapêuticos limitados, uma postura mais ativa e 
diretiva por parte do terapeuta e a necessidade de um planejamento terapêutico.
Palavras-chave: Gestalt-terapia, psicoterapia de curta duração, atitude fenomenológica, foco, 
planejamento terapêutico.
Abstract: This article brings about the results of my questionings through out twenty years 
of teaching and supervising short therm gestalt therapy. How I faced the challenge of a 
fenomenological attitude dealing with an approach which main characteristics are: diminishing the 
lenght of therapy, an a priori definition of the number or psychotherapy sessions, the delimitation 
of a therapy focus, therapeutic goals that are limited, a more directive and active atitude from 
the therapist and the demand of the therapeutic process planning.
Adoto o conceito de H. Garner que define a Psicoterapia Breve como: “um tra-
tamento no qual a extensão, a freqüência e a duração da entrevista são determinadas 
pelo mínimo necessário para se atingir a melhor condição possível para o paciente” 
(Small, 1971, p. 16).
1 Trabalho apresentado em maio de 2006, no XII Encontro Goiano da Abordagem Gestáltica e I Encon-
tro de Fenomenologia do Centro-Oeste.
2 Psicóloga. Especialista em Psicologia Clínica. Professora e supervisora de estágio do departamento de 
Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Professora de cursos de Pós Graduação em Gestalt-terapia. 
Fundadora e diretora do Instituto de Gestalt-terapia da Bahia. Introdutora da Gestalt-terapia na Bahia, 
Alagoas, Piauí, Rondônia, Sergipe. E-mail: likaq@terra.com.br
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BRITO, M. A. Q. v. XII: pp. 159-164, 2006
Este conceito nos remete a três aspectos básicos a serem considerados na cons-
trução de um modelo terapêutico de curta duração: o critério temporal, abreviando a 
duração não só do tratamento como da sessão em si, a necessidade da delimitação de 
um foco de trabalho em conseqüência do critério temporal, e a ênfase na condição do 
cliente para essa delimitação temporal.
Começa o desafio, como determinar esse mínimo necessário se o processo psi-
coterápico é construído a cada momento, fruto do encontro único entre cliente e tera-
peuta? Como posso prever a priori o tempo que o meu cliente necessitaria para fechar 
as suas gestalten inacabadas, lidar com seus conflitos existenciais? Quem delimitaria 
o foco de trabalho e como fazê-lo, se o que o cliente traz como demanda, a sua queixa, 
não necessariamente seria o núcleo em torno do qual giraria a terapia? Como trabalhar 
com um modelo que traz a exigência de um planejamento terapêutico como caracterís-
tica, quando as sessões psicoterápicas são frutos de uma dança onde o cliente escolhe, 
na hora, a música e o ritmo com o qual irá desvelando a sua existência?
Tendo como pano de fundo a angústia destes questionamentos, fui refletindo, 
observando a minha prática clínica e a de meus supervisandos, cuidadosamente ex-
perimentando, até chegar aos três modelos que trabalho com o enfoque de curta dura-
ção, que escolhi denominar utilizando a terminologia já utilizada neste enfoque: Focal, 
Breve e Ação terapêutica.
Trabalhamos com uma visão de tempo existencial e não cronológica, o tempo 
da experiência imediata vivida pelo cliente e seu psicoterapeuta, onde a awareness e 
o processo de mudança têm como pano de fundo o suporte interno desse cliente. Ri-
beiro (1999) afirma:
a essência da psicoterapia de curta duração, seja breve, de crise, de apoio, é 
que seu tempo é limitado ou delimitado pela vontade explícita da pessoa que 
deseja ser atendida em um breve espaço de tempo... É a relação entre vontade, 
necessidade, urgência do cliente e as possibilidades técnicas do psicoterapeuta 
que determinarão o tipo de intervenção. (p. 25)
A esses critérios levantados por Ribeiro (1999), acrescento as especificidades 
da realidade econômica, geográfica, cultural, e outros aspectos do contexto onde este 
cliente está inserido.
Uma psicoterapia de curta duração no modelo Focal, como o próprio nome de-
fine, tem como figura a delimitação de um foco de trabalho:
como efeitos terapêuticos são difíceis de serem previstos, provavelmente é me-
lhor formular a meta em termos de uma área particular que necessita ser traba-
lhada. Para isto é muito natural o uso metafórico do verbo ‘focalizar’; o terapeu-
ta ‘focaliza’ a atenção, e tenta fazer com que o paciente foque a sua atenção na 
área escolhida. Essa área assim fica conhecida pelo nome metafórico, o ‘foco’ 
da terapia. (Malan, 1976, p. 257)
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Esta delimitação do foco da terapia é realizado nos primeiros encontros com 
o cliente, onde o terapeuta, através de uma redução fenomenológica, vai entendendo, 
junto com o mesmo, o campo de forças, interagindo na relação de campo organismo-
-meio, ao longo da sua história de vida. Dentro de uma perspectiva fenomenológica de 
uma temporalidade em espiral, este presente contém o passado e futuro. 
“Essa experiência espiralada do tempo, enquanto uma sucessão de passados, 
presentes e futuros que se entrecruzam mutuamente está intimamente ligada à percep-
ção de relações de causalidade de comportamento” (Karwowski, 2005, p. 77).
Vai ficando claro para ambos qual é a necessidade, as situações inacabadas sub-
jacentes à queixa, conflitos e recursos. Neste modelo a duração da terapia não é defi-
nida a priori, surge como uma conseqüência natural do ritmo do cliente no lidar com 
o foco. Como diz Karwowski (2005):
O tempo da vivência humana é o tempo da relação. Diz respeito à duração es-
pecífica estabelecida entre um homem e o seu objeto. O tempo da relação não 
é meramente linear, mas concernente à vivência, a intensidade do envolvimen-
to dos seres humanos. (p. 76)
Ao circunscrever a atividade terapêutica a um aspecto da psicodinâmica do 
cliente, naturalmente à duração do tratamento será menor do que se estivéssemos nos 
propondo a trabalhar todo o seu campo psíquico.
O “termo Breve, que indica um fator específiconessa modalidade de psicote-
rapia, trata-se efetivamente da limitação do tempo de duração do tratamento determi-
nado desde o início do trabalho” (Ferreira, 1999, p. 36).
No modelo Breve, o tempo é figura, sendo trazido pelo cliente como parte de 
sua realidade existencial no momento, como uma gravidez, uma situação de viagem, 
período de internação, atendimento por convênios que têm um número delimitado 
de sessões ou tempo de tratamento; a delimitação temporal também não é determi-
nada pelo terapeuta. Esta circunstância temporal traz como conseqüência a neces-
sidade de um trabalho focalizado, para não se correr o risco de chegar ao término 
da terapia com mais gestalten abertas e com o objetivo não alcançado. O foco é de-
finido levando-se em consideração a queixa, a psicodinâmica subjacente à mesma 
e o tempo disponível para o processo psicoterápico. Desde o início da terapia este 
tempo fica como um fundo delimitando a figura que é o processo em si, a intenção 
a cada momento, tanto do terapeuta quanto do cliente; através da auto-regulação or-
ganísmica o cliente vai se organizando para fechar suas gestalten dentro do tempo 
previsto para o tratamento.
Inspirada no modelo desenvolvido inicialmente por R. L. Wolk, (apud Small, 
1971, p. 61), a Ação terapêutica é um modelo de atuação indicado para situações em 
que o terapeuta só irá ter poucos contatos com o cliente, quando o intervalo entre as 
sessões é mais longo, por exemplo, sessões mensais, trimestrais, e com grupos abertos 
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onde a flutuação da clientela traz a incerteza de quem irá estar no encontro seguinte. 
Neste modelo cada sessão é uma gestalt em si, onde o processo que for aberto deve 
ser fechado; o foco é a situação emergencial trazida pelo cliente, uma situação inaca-
bada que possa ser fechada na própria sessão, uma pequena fronteira de contato a ser 
ampliada ou delimitada, o dar-se conta de como se está funcionado na vida, a resigni-
ficação de algum conteúdo.
Todos os modelos apresentados mantêm a característica de um trabalho foca-
lizado; o próprio fato de se ter um foco em torno do qual se concentrarão as interven-
ções do terapeuta não funcionaria como um a priori, infringindo um dos princípios do 
método fenomenológico?
“Suspender os a priori significa colocar entre parênteses todos os entendimen-
tos e explicações anteriores que se possa ter acerca do fenômeno em questão, renun-
ciando a qualquer forma prévia explicativa, por mais privilegiada que possa parecer” 
(Karwowski, 2005, p. 83).
Esta é uma questão delicada, pois não se pode eliminar o foco em uma propos-
ta de curta duração. 
Como o foco foi delimitado junto com o cliente, estando claro para o mesmo a 
necessidade deste ser trabalhado, fica como um campo delimitado ao fundo, de onde as 
figuras vão emergindo no processo terapêutico; através da auto-regulação organísmica 
esta necessidade, que foi hierarquizada, tenderá a buscar a sua completude, emergin-
do implícita ou explicitamente no discurso do cliente, este discurso não tem que ficar 
circunscrito ao foco, isto sendo explicitado quando o foco é delimitado e enfatizado 
no fechamento do contrato terapêutico. O terapeuta, mesmo utilizando a equalização 
na sua escuta, também tem como fundo este foco, que apenas irá nortear os conteúdos 
a serem aprofundados. 
Para a Gestalt-terapia, o sintoma é um ajustamento criativo, a melhor resposta 
que o cliente pôde manifestar no seu momento existencial. Como parte da to-
talidade do ser o contém; portanto, é uma linguagem a ser compreendida, para 
que se torne fenomenologicamente visível e intencionalizada. Nessa perspec-
tiva o terapeuta busca facilitar que o cliente tome consciência da construção 
desse sintoma, da escolha dessa linguagem, para que possa transformá-la atra-
vés do experimentar outros comportamentos que venham a satisfazer à neces-
sidade expressa pelo mesmo, fechando a gestalt que foi escolhida como foco. 
(Brito, 2003, p. 119)
Para mim esta é uma questão que demanda uma discussão mais profunda.
A maioria dos autores concorda na adoção de objetivos limitados, já que é 
uma proposta psicoterápica de curta duração. Concordando com Wolberg (apud 
Small, 1971, p. 17), Lester (apud Small, 1971, p. 11) e Jacobson (apud Small, 1971, 
p. 19), considero como metas específicas deste modelo de terapia a diminuição ou 
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resolução do sintoma e a restauração do equilíbrio apresentado pelo cliente antes do 
eclodir da crise. 
O terapeuta precisa estar sempre consciente da especificidade do objetivo es-
colhido; ele será um dos pontos norteadores da sua intervenção, o ‘para que’ 
que revelará, a cada momento, a intencionalidade na relação. Como uma dança 
entre figura e fundo, onde cada um revela a existência do outro, o foco revela 
o objetivo e o objetivo revela o foco. (Brito, 2003, p. 119)
Outro aspecto aparentemente paradoxal a uma atitude fenomenológica é a exi-
gência de um planejamento terapêutico. Fenomenologicamente só se pode pensar em 
um planejamento terapêutico em termos de uma hipótese processual que vai sendo 
construída e revista ao longo de todo o processo; não uma formulação a priori a ser 
seguida pelo terapeuta e sim uma compreensão a posteriori, do que vai sendo vivido, 
a cada sessão, como este fio que vai sendo tecido, vai compondo o design da trama; 
isto ajuda o terapeuta a não extrapolar o objetivo delimitado junto com o cliente, a não 
ceder à tentação de trabalhar toda a dinâmica psíquica do mesmo.
Segundo Latner (1974), a meta da terapia é “recuperar o processo gestáltico e 
nos tornar capazes de um livre funcionar” (p. 151). Não estamos nos propondo a fechar 
todas as gestalten existenciais do cliente, nem em um processo de psicoterapia longo 
isto seria possível. Desejamos que ele alcance um nível de integração que lhe permita 
levar adiante seu próprio desenvolvimento.
Um cronópio pequenininho procurava a chave da porta da rua na mesa de ca-
beceira, a mesa de cabeceira no quarto de dormir, o quarto de dormir na casa, a casa 
na rua. Por aqui parava o cronópio, pois para sair à rua precisava da chave da porta 
(Cortázar, 1977, p. 132).
Referências bibliográficas
Brito, M. A. Q. (2003). Psicoterapia de curta duração sob o enfoque da Gestalt-terapia. 
Coletânea do Serviço de Psicologia Professor João Ignácio de Mendonça – UFBA. 
Salvador: EDUFBA.
Cortázar, J. (1977). Histórias de Cronópios e de Famas. Rio de Janeiro: Civilização 
brasileira.
Ferreira, S. E. (1977). Psicoterapia breve: abordagem sistematizada de situação de 
crise. São Paulo: Agora.
Karwowski, S. (2005). Gestalt-terapia e fenomenologia. Campinas: Livro Pleno.
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BRITO, M. A. Q. v. XII: pp. 159-164, 2006
Latner, J. (1974). The Gestalt-therapy book. New York: Bantam Books.
Malan, D. H. (1976). The frontier of brief psychotherapy. Naw York: Plenum Press.
Ribeiro, J. P. (1999). Gestalt-terapia de curta duração. São Paulo: Summus.
Small, L. (1971). As psicoterapias breves. Rio de Janeiro: Imago.

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