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Cóclea ou caracol

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Cóclea ou caracol
Esta estrutura é altamente especializada como órgão receptor de sons e constitui o aparelho acústico.
A cóclea tem a forma de um canal de paredes ósseas enrolado em formato de caracol, com aproximadamente 35 mm de extensão. Dentro do canal ósseo, e ocupando apenas parte do espaço, localiza-se a porção membranosa, denominada canal coclear ou escala média. A cóclea enrola-se em torno de um eixo central de tecido ósseo esponjoso chamado de modíolo, o qual contém no seu interior um gânglio nervoso, o gânglio espiral (Figura 23.27). Do modíolo parte lateralmente uma saliência óssea em espiral, que lembra a rosca de um parafuso: a lâmina espiral óssea.
O estudo de uma secção transversal da cóclea mostra que a sua porção membranosa, denominada escala média ou canal coclear, tem a forma de um triângulo, com um dos lados apoiados sobre a lâmina espiral óssea e o vértice apontado para o modíolo A base desse triângulo é voltada para o osso da cóclea, adere a essa parede e forma uma região com células diferenciadas, chamadas de estria vascular. O lado superior do triângulo é formado pela membrana vestibular (ou membrana de Reissner), e o lado inferior, pela membrana basilar ou lâmina espiral membranosa (ver Figura 23.27). Sobre a membrana basilar há um complexo conjunto de células que compõe o órgão de Corti, onde se situam as células receptoras da audição.
FIGURA 23.27 Estrutura histológica da cóclea com seus túneis situados no interior do labirinto ósseo. Observe a região de células receptoras (células pilosas) e células de sustentação que constituem o órgão de Corti, apoiado sobre a membrana basilar. (Adaptada e reproduzida, com autorização, de Maximow et al., 1968.)
• Identifique e arraste para a figura os números correspondentes aos componentes do órgão apresentado
1 Estria vascular 2 Túnel de Corti 3 Células pilosas internas 4 Membrana vestibular 5 Gângilo espiral 6 Células pilosas externas 7 Lâmina espiral óssea 8 Membrana tectória 9 Limbo espiral 10 Células pilares 11 Membrana basilarx
O triângulo descrito divide o espaço ósseo da cóclea em três túneis, que se enrolam como uma espiral em torno do modíolo helicoidal:
■Um túnel superior chamado de escala vestibular
■Um túnel médio delimitado pela parede do labirinto membranoso, a escala média ou ducto coclear
■Um túnel inferior ou escala timpânica.
A razão desses nomes se deve ao fato de a escala vestibular se iniciar na janela oval do vestíbulo, sobre a qual se apoia a base do ossículo estribo. A escala timpânica, por sua vez, termina na janela redonda, obliterada por uma delicada membrana conhecida por membrana timpânica secundária, situada no limite entre o ouvido médio e o interno (ver Figura 23.20).
As escalas vestibular e timpânica pertencem ao labirinto ósseo e contêm perilinfa. Ambos os túneis se comunicam nas suas extremidades na ponta do caracol, por meio de um pequeno orifício, o helicotrema (ver Figura 23.20). A escala média, na sua porção inicial, comunica-se com o sáculo pelo ductus reuniens e termina em fundo cego na ponta do ápice do caracol.
Estrutura histológica da porção membranosa da cóclea
A membrana vestibular é formada por epitélio pavimentoso simples apoiado sobre delgada camada de tecido conjuntivo. A estria vascular é constituída por epitélio estratificado, formado por dois tipos principais de células. Um deles é constituído por células ricas em mitocôndrias, com a membrana da região basal muito pregueada, tendo, portanto, todas as características de uma célula que transporta água e íons. O epitélio da estria vascular é um dos poucos exemplos de epitélio que contém vasos sanguíneos entre as suas células. Tais características sugerem que nessa região ocorra a secreção da endolinfa. A endolinfa e a perilinfa têm composição iônica incomum, pois são ricas em potássio e pobres em sódio, característica do meio intracelular.
Órgão de Corti
Apoiando-se sobre a lâmina espiral óssea e a membrana basilar encontra-se uma estrutura complexa, que responde às vibrações induzidas pelas ondas sonoras, o órgão de Corti apresentado na Figura 23.27 e em detalhe na Figura 23.28.
O órgão de Corti repousa sobre uma camada de material extracelular, a membrana basilar ou lâmina espiral membranosa, produzida pelas células do órgão de Corti e pelas células mesoteliais que revestem a escala timpânica. A membrana basilar se continua lateralmente com o tecido conjuntivo do periósteo que fica abaixo da estria vascular (ver Figura 23.27).
Analisando a Figura 23.27 da direita para a esquerda a partir do modíolo, nota-se primeiro uma formação conhecida como limbo espiral, constituído de tecido conjuntivo frouxo revestido por epitélio. O limbo projeta, em direção à periferia da cóclea, uma estrutura denominada membrana tectória, que é acelular e rica em glicoproteínas e assemelha-se às camadas gelatinosas que recobrem as máculas e as cristas, já estudadas. Está disposta sobre as células sensoriais do órgão de Corti e encosta nos estereocílios dessas células (ver Figura 23.28). Além disso, a membrana tectória forma o teto de um espaço denominado túnel espiral interno (ver Figura 23.27), em cuja parede lateral estão as células pilosas internas, que são células pilosas do tipo I (ver Figura 23.23). Após o túnel observa-se uma série de células de sustentação, formando as células pilares, e, finalmente, três fileiras de células pilosas externas, que são células pilosas do tipo II (ver Figura 23.23). As células sensoriais pilosas da cóclea, tanto de tipo I como de tipo II, são semelhantes às presentes nas máculas e cristas; porém, elas só apresentam estereocílios, pois perdem o seu cinetocílio após o nascimento.
FIGURA 23.28 Esquema simplificado de um órgão de Corti com alguns de seus principais componentes. A membrana tectória se apoia sobre as células receptoras (pilosas).
Função coclear
Na cóclea, os estímulos mecânicos (vibrações induzidas pelas ondas sonoras) sofrem transdução mecanoelétrica em potenciais de ação, que são levados ao sistema nervoso central via axônios dos nervos cocleares.
O som recebido pelo pavilhão da orelha resulta em vibrações da membrana timpânica. A vibração é transmitida no interior do ouvido médio através da cadeia de ossículos que funcionam como alavancas, ampliando a vibração. A vibração chega à base do estribo, que se encaixa na janela oval. Essa janela é o limite entre a cavidade timpânica do ouvido médio e a escala vestibular existente no interior da cóclea.
As vibrações dos ossículos do ouvido são transmitidas pela base do estribo para a perilinfa que preenche a escala vestibular (ver Figura 23.20). As ondas de pressão da perilinfa da escala vestibular transmitem-se à perilinfa da escala timpânica (pelo helicotrema) e chegam até o início da escala timpânica, que é obliterada por uma delicada membrana que veda a janela redonda (ver Figura 23.20). Nessa membrana as vibrações são transmitidas para o ar existente na cavidade timpânica presente no outro lado da membrana, onde se dissipam (ver Figura 23.20).
A membrana basilar, que serve de apoio para o órgão de Corti, também vibra quando há passagem de vibrações da escala vestibular para a escala timpânica, produzindo elevações e depressões nas células pilosas. Os estereocílios das células pilosas estão em contato com a membrana tectória e, devido ao movimento das células pilosas, a membrana produz torções nos estereocílios dessas células. Em um fenômeno semelhante ao descrito para as células pilosas do órgão vestibular, a torção dos estereocílios gera potenciais de ação que são transmitidos para o sistema nervoso central, onde são interpretados como sons.
A sensibilidade aos sons na cóclea varia de acordo com a região. Os sons agudos são captados principalmente na base da cóclea, enquanto os graves são captados principalmente pelo seu ápice. Esse fenômeno parece ocorrer em função das diferenças de elasticidade da membrana basilar em locais distintos do canal coclear.
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