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MORFOFUNCIONAL UC VIII -SP1

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MORFOFUNCIONAL UC VIII – SP1 
 
Anatomia 
Os nervos cranianos são aqueles que fazem conexão com o encéfalo. Existem 12 pares desses nervos, cada 
um tem uma nomenclatura diferente e são numerados em algarismos romanos. Eles são: olfatório (I), óptico (II), 
oculomotor (III), troclear (IV), trigêmeo (V), abducente (VI), facial (VII), vestibular (VIII), glossofaríngeo (IX), vago (X) , 
acessório (XI) e hipoglosso (XII). 
Os pares cranianos fazem, de maneira geral, o suprimento sensitivo e motor da cabeça e do pescoço. Podem 
ser classificados em eferentes/motores, quando a informação sai do sistema nervoso central, aferentes/sensitivos, 
quando a informação entra no sistema nervoso central, ou mistos. 
Os nervos cranianos emergem de forames e fissuras cranianas, e são originados de núcleos no cérebro, 
conectados ao córtex cerebral pelas fibras corticonucleares. Esses núcleos estão situados em colunas verticais no 
tronco encefálico, correspondendo à substância cinzenta da medula espinhal. 
Classificação topográfica: cranianos e espinhais 
- Nervos cranianos: relacionam-se com o encéfalo 
- Origem real: local onde estão os corpos celulares dos neurônios 
- Origem aparente encefálica: primeiro local que o nervo aparece na superfície do encéfalo 
- Origem aparente craniana: primeiro local onde o nervo se exterioriza para fora do esqueleto cefálico 
 
 
Nervo olfatório (NC I) 
Função: Sensitivo especial (aferente visceral especial) para o sentido especial do olfato. “Olfato é a percepção 
de odores que resulta da detecção de substâncias odoríferas aerossolizadas no ambiente” (Simpson, 2013). 
 
Os corpos celulares dos neurônios receptores olfatórios estão localizados no órgão olfatório (a parte olfatória 
da túnica mucosa do nariz ou área olfatória), que está localizado no teto da cavidade nasal e ao longo do septo nasal e 
parede medial da concha nasal superior. Os neurônios receptores olfatórios são receptores e condutores. As faces 
apicais dos neurônios têm cílios olfatórios finos, banhados por uma película de muco aquoso secretado pelas glândulas 
olfatórias do epitélio. Os cílios olfatórios são estimulados por moléculas de um gás odorífero dissolvido no líquido. 
As faces basais dos neurônios receptores olfatórios bipolares da cavidade nasal de um lado dão origem a 
prolongamentos centrais reunidos em aproximadamente 20 filamentos do nervo olfatório, constituindo o nervo olfatório 
direito ou esquerdo (NC I). Eles atravessam diminutos forames na lâmina cribriforme do etmoide, circundados por 
bainhas de dura-máter e aracnoide-máter, e entram no bulbo olfatório na fossa anterior do crânio. O bulbo olfatório 
está em contato com a face inferior ou orbital do lobo frontal do hemisfério cerebral. As fibras do nervo olfatório fazem 
sinapse com células mitrais no bulbo olfatório. Os axônios desses neurônios secundários formam o trato olfatório. Os 
bulbos e tratos olfatórios são extensões anteriores do prosencéfalo. 
Cada trato olfatório divide-se em estrias olfatórias lateral e medial (faixas de fibras distintas). A estria olfatória 
lateral termina no córtex piriforme da parte anterior do lobo temporal e a estria olfatória medial projeta-se através da 
comissura anterior até as estruturas olfatórias contralaterais. Os nervos olfatórios são os únicos nervos cranianos que 
penetram diretamente no cérebro. 
 
 
Língua 
A língua é um órgão muscular móvel recoberto por túnica mucosa. Pode assumir vários formatos e posições. 
Uma parte da língua está situada na cavidade oral e a outra na parte oral da faringe. As principais funções da língua 
são articulação (formar palavras durante a fala) e compressão do alimento para a parte oral da faringe como parte da 
deglutição. A língua também está associada à mastigação, ao paladar e à limpeza da boca. 
Partes e faces da língua 
A língua é dividida em raiz, corpo e ápice. A raiz da língua é a parte posterior fixa que se estende entre a 
mandíbula, o hioide e a face posterior, quase vertical, da língua. O corpo da língua corresponde aproximadamente aos 
dois terços anteriores, entre a raiz e o ápice. O ápice (ponta) da língua é a extremidade anterior do corpo. O corpo e 
o ápice da língua são muito móveis. 
A língua tem duas faces. A face mais extensa, superior e posterior, é o dorso da língua. A face inferior da 
língua geralmente descansa sobre o assoalho da boca. O dorso da língua é caracterizado por um sulco em forma de 
V, o sulco terminal da língua, cujo ângulo aponta posteriormente para o forame cego. O sulco terminal divide o dorso 
da língua transversalmente em uma parte pré-sulcal na cavidade própria da boca e uma parte pós-sulcal na parte oral 
da faringe. 
Um sulco mediano divide a parte anterior da língua em metades direita e esquerda. 
•Papilas circunvaladas: grandes e com topo plano, situam-se diretamente anteriores ao sulco terminal e estão 
dispostas em uma fileira em formato de V. São circundadas por depressões circulares profundas, cujas paredes estão 
repletas de calículos gustatórios. Os ductos das glândulas serosas da língua abrem-se nas depressões 
•Papilas folhadas: pequenas pregas laterais da túnica mucosa lingual. São pouco desenvolvidas nos seres 
humanos 
•Papilas filiformes: longas e numerosas, contêm terminações nervosas aferentes sensíveis ao toque. Essas 
projeções cônicas e descamativas são rosa-acinzentadas e estão organizadas em fileiras com formato de V, paralelas 
ao sulco terminal, exceto no ápice, onde tendem a se organizar transversalmente 
•Papilas fungiformes: pontos em formato de cogumelo, rosa ou vermelhos, dispersos entre as papilas filiformes, 
porém mais numerosos no ápice e nas margens da língua. 
As papilas circunvaladas, folhadas e a maioria das papilas fungiformes contêm receptores gustativos nos calículos 
gustatórios. 
Inervação 
Para sensibilidade geral (tato e temperatura), a túnica mucosa dos dois terços anteriores da língua é suprida 
pelo nervo lingual, um ramo do NC V. Para sensibilidade especial (paladar), essa parte da língua, com exceção das 
papilas circunvaladas, é suprida pelo corda do tímpano, um ramo do NC VII. O corda do tímpano une-se ao nervo lingual 
na fossa infratemporal e segue anteriormente em sua bainha. A túnica mucosa do terço posterior da língua e as papilas 
circunvaladas são supridas pelo ramo lingual do nervo glossofaríngeo (NC IX) para sensibilidade geral e especial. Brotos 
do nervo laríngeo interno, um ramo do nervo vago (NC X), são responsáveis sobretudo pela sensibilidade geral, mas 
também por parte da sensibilidade especial, de uma pequena área da língua imediatamente anterior à epiglote. Esses 
nervos basicamente sensitivos também conduzem fibras secretomotoras parassimpáticas para as glândulas serosas na 
língua. 
Região lateral inferior do córtex somatossensorial primário, compatível com a região de representação da 
língua. O córtex somatossensorial primário localiza-se no giro pós-central e está relacionado à sensibilidade geral de 
todo o corpo. Da mesma forma que no córtex motor primário, a extensão de representação depende do grau de 
refinamento da sensibilidade de uma determinada região. Sendo assim, a língua é uma das regiões com maior 
representação. 
 
 
 
 
Histologia 
Língua 
A língua é um órgão muscular que se projeta para dentro da cavidade oral a partir de sua superfície inferior. Os 
músculos da língua são tanto extrínsecos (com inserção fora da língua) quanto intrínsecos (confinados inteiramente à 
língua, sem inserção externa). O músculo estriado da língua está disposto em feixes, que geralmente seguem o seu 
percurso em três planos, cada um deles disposto em ângulos retos aos outros dois. Esse arranjo das fibras musculares 
possibilita enorme flexibilidade e precisão para os movimentos da língua, que são essenciais para a fala humana, bem 
como para o seu papel na digestão e na deglutição. Essa forma de organização muscular é encontrada somentena 
língua, o que possibilita uma fácil identificação desse tecido como músculo da língua. Há quantidades variáveis de tecido 
adiposo entre os grupos de fibras musculares. 
Macroscopicamente, a superfície dorsal da língua é dividida em dois terços anteriores e em um terço posterior 
por uma depressão em formato de V, denominada sulco terminal da língua. O ápice do V aponta para a região posterior 
e constitui a localização do forame cego, o remanescente do ponto a partir do qual ocorreu uma evaginação do assoalho 
da faringe embrionária para formar a glândula tireoide. 
Em geral, o epitélio da mucosa de revestimento na região ventral da língua é do tipo pavimentoso estratificado 
não queratinizado., apoiado em lâmina própria conjuntiva rica em vasos sanguíneos mais calibrosos . Já a porção dorsal 
possui epitélio pavimentoso estratificado queratinizado, apoiado sobre uma lâmina própria bastante vascularizada, 
constituída de tecido conjuntivo denso. Logo abaixo da lâmina própria se observa feixes musculares estriados 
esqueléticos seccionados em todas as direções, entremeados com quantidade variável de tecido adiposo e tecido 
conjuntivo onde se observam grandes quantidades de mastócitos, que são células globosas, com o citoplasma repleto 
de grânulos e com núcleo esférico central. 
A mucosa especializada está associada à sensação do paladar e limita-se à superfície dorsal da língua. Contém 
papilas e botões gustativos, que são responsáveis pela produção da sensação química do paladar. 
•As papilas filiformes são as menores e as mais numerosas nos seres humanos. São projeções cônicas e alongadas 
de tecido conjuntivo, que são recobertas por epitélio estratificado pavimentoso altamente queratinizado. Esse epitélio é 
desprovido de botões gustativos. As papilas desempenham apenas um papel mecânico. As papilas filiformes estão 
distribuídas por toda a superfície dorsal anterior da língua, com suas extremidades apontando para trás. Formam fileiras 
que divergem para a esquerda e para a direita a partir da linha média e que seguem um curso paralelo aos braços do 
sulco terminal da língua 
•As papilas fungiformes, como o próprio nome indica, são projeções em formato de cogumelo, localizadas na 
superfície dorsal da língua. Projetam-se acima das papilas filiformes, entre as quais estão dispersas, e são visíveis a olho nu 
apenas como pequenos pontos. As papilas fungiformes tendem a ser mais numerosas nas proximidades da ponta da 
língua. Os botões gustativos são encontrados no epitélio estratificado pavimentoso da superfície dorsal dessas papilas. 
•As papilas circunvaladas são estruturas grandes em formato de cúpula que são encontradas na mucosa, 
imediatamente anterior ao sulco terminal da língua. A língua humana contém 8 a 12 dessas papilas. Cada papila é circundada 
por uma invaginação semelhante a uma vala revestida por epitélio estratificado pavimentoso, que contém numerosos 
botões gustativos. Os ductos das glândulas salivares linguais (de von Ebner) liberam suas secreções serosas na base das 
valas. Essa secreção presumivelmente elimina o material da vala para possibilitar que os botões gustativos respondam 
rapidamente a mudanças de estímulos 
•As papilas folhadas consistem em cristas baixas paralelas, intercaladas por fendas mucosas profundas, que estão 
alinhadas em ângulos retos ao eixo longo da língua. Ocorrem na margem lateral da língua. 
 
Botões Gustativos 
Os botões gustativos são encontrados nas papilas fungiformes, folhadas e circunvaladas. 
Em cortes histológicos, os botões gustativos são vistos como corpúsculos ovais de coloração pálida, que se 
estendem pela espessura do epitélio. Uma pequena abertura na superfície epitelial no ápice do botão gustativo é 
denominada poro gustativo. 
São encontrados três tipos principais de células nos botões gustativos: 
•As células neuroepiteliais (sensitivas) são as células mais numerosas no botão gustativo. Essas células alongadas 
estendem-se a partir da lâmina basal do epitélio até o poro gustativo, através do qual a superfície apical afunilada de cada 
célula emite microvilosidades. Próximo de sua superfície apical, essas células estão conectadas com células neuroepiteliais 
ou células de sustentação unidas por zônulas de oclusão. Em sua base, formam uma sinapse com os prolongamentos de 
neurônios sensitivos aferentes dos nervos facial (nervo craniano VII), glossofaríngeo (nervo craniano IX) ou vago (nervo 
craniano X). O tempo de renovação das células neuroepiteliais é de cerca de 10 dias 
•As células de sustentação são menos numerosas. São também células alongadas que se estendem a partir da 
lâmina basal até o poro gustativo. Assim como as células neuroepiteliais, as células de sustentação apresentam 
microvilosidades em sua superfície apical e zônulas de oclusão, mas não fazem sinapse com outras células nervosas. O 
tempo de renovação das células de sustentação também é de aproximadamente 10 dias 
•As células basais são pequenas células localizadas na porção basal do botão gustativo, próximo da lâmina basal. 
São as células-tronco para os outros dois tipos de células. 
Além daqueles associados às papilas, os botões gustativos também são encontrados no arco palatoglosso, no 
palato mole, na superfície posterior da epiglote e na parede posterior da faringe até o nível da cartilagem cricóidea. 
Uma submucosa distinta é encontrada subjacente à mucosa de revestimento, exceto na superfície inferior da 
língua. Essa camada contém grandes faixas de fibras colágenas e elásticas, que ligam a mucosa ao músculo subjacente; 
além disso, contém numerosas glândulas salivares menores dos lábios, da língua e das bochechas. Em certas ocasiões, 
glândulas sebáceas não associadas a um folículo piloso são encontradas na submucosa, nas porções laterais ao canto da 
boca e nas bochechas em oposição aos dentes molares. Essas glândulas são visíveis a olho nu e são denominadas 
manchas de Fordyce. A submucosa contém grandes vasos sanguíneos, nervos e vasos linfáticos que suprem as redes 
neurovasculares subepiteliais na lâmina própria em toda a cavidade oral. 
 
 
 
 
 
 
EP: Epitélio; ME: Feixes de músculo estriado; N: Nervos; P Fil: Papilas filiformes; TC: Tecido conjuntivo; Ponta de 
seta (detalhe); Papila de tecido conjuntivo secundário. 
 
 
. 
CB: Células basais; CS: Células de sustentação; CSN: Células sensoriais neuroepiteliais; DC: Ductos; EE: Epitélio 
estratificado não queratinizado; EP: Epitélio de revestimento das fendas; F: Fenda; FN: Fibras nervosas; GSL: Glândulas 
serosas linguais; PG: Poro gustativo; PTC: Papilas de tecido conjuntivo; TCF: Tecido conjuntivo frouxo 
 
Patologia 
Queimaduras 
A classificação das queimaduras leva em consideração a profundidade da lesão tecidual. É importante essa 
determinação já que a profundidade da queimadura vai indicar, em grande parte, o potencial de cicatrização e a 
necessidade de intervenção cirúrgica. O sistema de classificação tradicional utilizava a nomenclatura primeiro, segundo, 
terceiro e quarto graus. As designações atuais refletem a necessidade de intervenção cirúrgica ou não, sendo 
classificadas em superficiais (1º grau), espessuras parciais superficial e profunda (2º grau) e espessura total (3º grau). O 
termo quarto grau ainda é muito utilizado para descrever queimaduras mais graves, que se estendem até o tecido 
subcutâneo, envolvendo vasos, nervos, músculos, ossos e/ou articulações subjacentes. A determinação da classificação 
de acordo com a profundida está ilustrado abaixo: 
 
Uma coisa que devemos sempre ter em mente é que as feridas, geralmente, não são uniformes em 
profundidade, apresentando uma mistura de componentes profundos e superficiais. Existem regiões com uma pele 
mais fina, como as superfícies volares dos antebraços, parte medial da coxa, períneo e orelhas. Tais superfícies 
sustentam lesões de queimaduras mais profundas do que as sugeridas pela aparência inicial, não se devendoassumir 
queimaduras superficiais nessas áreas. Além disso, pelo mesmo motivo, não se deve assumir queimaduras superficiais 
em crianças menores de 5 anos e adultos maiores de 55 anos. Assim, as classificações de lesão por profundidade são: 
• Superficial: Também chamadas de epidérmicas, uma vez que envolvem apenas essa camada da pele. Não 
causam flictenas, mas são dolorosas, secas, avermelhadas e empalidecem sob pressão. A recuperação é rápida, em 
cerca de 2 a 3 dias a dor e o eritema reduzem e no 4º dia a epiderme cicatriza se separando do epitélio lesionado. 
Todo o processo de cicatrização leva cerca de 6 dias. É comumente visto em queimaduras solares. 
 
• Espessura parcial: Envolvem a epiderme e porções variadas da derme que, dependendo do nível, é classificada 
como superficial ou profunda. Na espessura parcial superficial, a queimadura atinge epiderme e derme papilar. Há 
formação de bolhas, com base rósea, dentre de 24h, entre a derme e epiderme, com aspecto úmido, chamada de 
aparência “lacrimejante”. Além disso, são extremamente dolorosas, inclusive às correntes de ar, avermelhadas e também 
empalidecem sob pressão. Algumas lesões que, inicialmente, parecem ser apenas epidérmicas, podem ser determinadas 
como espessura parcial superficial 12 a 24h depois. Essas queimaduras, geralmente, se resolvem em 7 a 21 dias, sendo 
as cicatrizes e comprometimento funcional incomuns, embora mais comumente ocorram alterações de pigmento. 
Devido a presença de detritos necróticos e exsudatos fibrinosos, deve-se atentar para à colonização bacteriana, 
podendo levar a uma cicatrização retardada, e a necessidade de antibioticoterapia. são dolorosas, secas, avermelhadas 
e empalidecem sob pressão. A recuperação é rápida, em cerca de 2 a 3 dias a dor e o eritema reduzem e no 4º dia 
a epiderme cicatriza se separando do epitélio lesionado. Todo o processo de cicatrização leva cerca de 6 dias. É 
comumente visto em queimaduras solares. 
 
Na espessura parcial profunda as queimaduras se estendem até a derme mais profunda e danificam os folículos 
capilares e tecido glandular. Possui coloração avermelhada-brilhante ou amarelo-esbranquiçada, não empalidece sob 
pressão, pode ser úmida, embora mais comumente seca, e possui aspecto ceroso. São dolorosas apenas sob pressão, 
quase sempre com flictenas (facilmente abertas) com base esbranquiçada. Não empalidecem com a pressão. Se a 
infecção for evitada, as feridas podem cicatrizar espontaneamente, sem enxertia, em cerca de 2 a 9 semanas. Esses 
tipos de queimaduras, invariavelmente, causam cicatrizes hipertróficas. Caso haja envolvimento articular, espera- -se 
uma disfunção da articulação, mesmo com fisioterapia agressiva. Queimaduras de espessura parcial que não cicatrizam 
em duas semanas são, funcional e cosmeticamente, equivalentes a queimaduras de espessura total. 
 
Espessura total: Esse tipo de queimadura se estende por toda a derme e, geralmente, danifica todo o tecido 
subcutâneo subjacente. Tem uma aparência mais escura, podendo variar de branco ceroso, acinzentado a preto, 
possuindo um aspecto de couro. Geralmente são anestésicas, devido a destruição da inervação local. A pele fica seca 
e inelástica, e não empalidece sob pressão. Vesículas e bolhas não se desenvolvem e os pelos podem ser facilmente 
retirados dos folículos capilares. A derme morta e desnaturada é designada como escara, sendo que essa se separa 
do tecido subjacente e revela um leito não curado de tecido de granulação. Sem cirurgia, essas feridas cicatrizam por 
contratura, com epitelização em torno das bordas das feridas. Como a contratura é grave, a cura espontânea não é 
possível, sendo necessária uma intervenção cirúrgica. Queimaduras claras em toda a espessura podem simular a pele 
normal, exceto que a pele não empalidece sob pressão. 
 
Extensão para tecidos profundos: Representa a queimadura de 4º grau. São lesões profundas e potencialmente 
fatais que se estendem através da pele até os tecidos moles subjacentes e podem envolver músculos e/ou ossos. 
Necessitam imediatamente de uma conduta intervencionista. 
 
 
 
 
Aspectos Microscópicos 
Segundo Sheridan (2003), as queimaduras comprometem a integridade funcional da pele, quebrando a 
homeostase hidroeletrolítica e alterando o controle da temperatura interna, flexibilidade e lubrificação da superfície 
corporal. O comprometimento da pele ocorre em virtude da extensão e profundidade das lesões. 
Mélega (2002), relata a participação de dois eventos fisiopatológicos nas queimaduras: o aumento da 
permeabilidade e, consequentemente, o edema. Com o trauma térmico, há exposição do colágeno e consequente 
ativação e liberação de histamina pelos mastócitos. A histamina leva ao aumento da permeabilidade capilar que, por sua 
vez, permite a passagem do infiltrado plasmático para o interstício dos tecidos afetados, provocando edema tecidual e 
hipovolêmia. A ativação do sistema calicreina produz cininas que colaboram, ainda mais, para o aumento da 
permeabilidade capilar, agravando o edema e a hipovolemia. As cininas e a exposição do colágeno ativam o sistema 
fosfolipase acido araquidônico, originando prostaglandinas, mais especificamente a prostaglandina E2 (PGE2), 
potencializando a vasodilatação e causando dor. Outra via ativada é a via tromboxane (TXA), que junto com a plasmina 
e trombina circulantes, provoca tampão nas paredes capilares, ocasionando um aumento na pressão hidrostática de 
ate 250%, contribuindo para o edema tecidual. (MÉLEGA, 2002). 
Hettiaratchy et al. (2004) e Sheridan (2003), comentam que nas queimaduras superiores a 40% da superfície 
corporal, consideradas extensas, ocorre, além dos sinais cardeais inflamatórios locais, uma resposta sistêmica com 
presença de febre, circulação sanguínea hiperdinâmica e ritmo metabólico acelerado, além de aumento do catabolismo 
muscular, decorrente da alteração hipotalâmica (aumento da secreção de glucagon, cortisol e catecolameinas), da 
deficiência da barreira gastrointestinal com passagem de bactérias e toxinas bacterianas para a corrente sanguínea. 
Ainda, a perda de calor e de fluidos por evaporação através da ferida são eventos que levam à hipotermia e desequilíbrio 
hidroeletrolítico. (HETTIARATCHY, et al., 2004; SHERIDAN, et al., 2003). 
 
Queimaduras Mucosas (Orais) 
A forma mais comum de queimadura superficial da mucosa oral está associada à aplicação tópica de agentes 
químicos, como a aspirina ou soluções cáusticas. O uso abusivo de medicamentos em forma tópica, a aplicação acidental 
de soluções ou gel de ácido fosfórico por um dentista ou o uso excessivo de enxaguatórios bucais contendo álcool 
podem produzir efeitos similares. 
Nos casos de exposições por um curto período de tempo aos agentes capazes de induzir necrose tecidual, 
pode se desenvolver um eritema localizado e discreto. Conforme a concentração da substância e o tempo de contato 
aumentam, há maior probabilidade de ocorrer necrose de coagulação superficial, que resultará na formação de uma 
lesão ou membrana branca. Ao tracionar gentilmente o local, a parte superficial da lesão se desprende, deixando tecido 
conjuntivo exposto e produzindo dor. As queimaduras térmicas são comumente observadas na mucosa do palato duro 
e, geralmente, estão associadas à ingestão de alimentos quentes e apimentados. Os líquidos quentes tendem a produzir 
queimadura na língua ou no palato mole. Na maioria das vezes, estas lesões exibem um aspecto eritematoso em vez 
de aspecto branco (necrose), como observado nas queimaduras químicas. 
Outra forma de queimadura que é potencialmente grave é a elétrica. Este tipo de queimadura é visto com 
mais frequência em crianças que mordem fios elétricos e que sofrem uma queimadura inicial característica, que 
geralmente exibe um padrão simétrico. O resultado desses acidentes é o desenvolvimento de dano tecidual significativo, 
que costuma ser seguido pela formação de uma cicatriz. A superfíciedestas lesões tende a se caracterizar pela 
formação de uma ferida espessa que se estende profundamente até o tecido conjuntivo. 
Nos casos de queimaduras químicas e térmicas nas quais uma lesão clinicamente evidente se desenvolveu, o 
componente epitelial exibe necrose de coagulação por toda a sua espessura. Um exsudato fibrinoso também é evidente. 
O tecido conjuntivo subjacente fica intensamente inflamado. As queimaduras elétricas são mais destrutivas e exibem 
uma extensão profunda de necrose, comumente envolvendo a camada muscular.

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