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OS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL A VOZ DOS PROFESSORES

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LIMA, Sarah S. C.; SILVA, Luiza L. G. Os conteúdos da educação física no ensino fundamental: a voz dos professores. In: 
COLÓQUIO DE PESQUISA QUALITATIVA EM MOTRICIDADE HUMANA: ECOMOTRICIDADE E BEM VIVER / 
COLLOQUIUM ON QUALITATIVE RESEARCH IN HUMAN MOTRICITY: ECOMOTRICITY AND GOOD LIVING / 
COLOQUIO DE INVESTIGACIÓN CUALITATIVA EN MOTRICIDAD HUMANA: ECOMOTRICIDAD Y BUEN VIVIR, 7., 
2017, Aracaju; São Cristóvão. Anais... / Annals... / Anales... São Carlos: SPQMH, 2017. p. 376-386. 
 
OS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL: A 
VOZ DOS PROFESSORES 
 
Sarah da Silva Corrêa Lima (UFMS) 
lima.sarah92@hotmail.com 
Luiza Lana Gonçalves Silva (UFMS) 
luizalana@hotmail.com 
 
Eixo temático: Currículos e Formação Profissional em Motricidade Humana (ou afins) 
 
Resumo: Este estudo teve por intuito discorrer sobre a Educação Física e a ocorrência 
do ensino de seus conteúdos no ambiente escolar. Deste modo, deu-se a seguinte 
problemática: Quais os conteúdos da Educação Física que vem sendo desenvolvidos nas 
aulas de Educação Física das escolas municipais de Campo Grande - MS? Sendo assim, 
trazemos como objetivo: Constatar quais os conteúdos mais desenvolvidos nas aulas de 
Educação Física a partir do relato dos professores da rede municipal de ensino de 
Campo Grande – MS. Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa de cunho 
exploratório-descritivo. O público alvo corresponde a 24 professores de Educação 
Física da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande – MS. Como instrumento de 
pesquisa, optou-se pela entrevista semiestruturada e para a análise dos dados foi 
escolhida a técnica de análise de conteúdo. Constatou-se que os conteúdos da Educação 
Física mais desenvolvidos foram referente ao bloco de conteúdos de Esporte, Jogos, 
Lutas e Ginástica. Frente a isso, se faz necessário maior acompanhamento referente a 
formação continuada dos professores de Educação Física para que os demais conteúdos 
sejam desenvolvidos de maneira integral a todos os alunos em todos os anos de 
escolarização. 
 
Palavras-chave: Educação Física Escolar. Currículo. Conteúdos. 
 
INTRODUÇÃO 
A Educação Física é uma das disciplinas que compõe o currículo da Educação 
Básica obrigatória a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 
9394/96 (LDB) em seu § 3º reformulado pela Lei 10.793 (BRASIL, 2003). 
Em decorrência disso a mesma começa a ganhar força e respaldo legal dentro da 
escola devendo ser integrada ao projeto político pedagógico da instituição de ensino, 
deixando de ser apenas uma atividade física ou o ensino específico de uma simples 
prática corporal oferecida no horário extracurricular (BRASIL, 1996). 
377 
 
A partir das alterações da LDB, são publicados os Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN) que propõem conteúdos a serem ensinados aos alunos, sendo 
divididos em três blocos a saber: a) bloco Esportes, jogos, lutas e ginásticas; b) bloco de 
Atividades Rítmicas e Expressivas; c) Bloco de Conhecimentos sobre o corpo 
(BRASIL, 1997)
1
. 
No entanto, vê-se que muitas vezes os conteúdos desenvolvidos nas aulas de 
Educação Física restringem-se aos esportes coletivos mais conhecidos no Brasil, tais 
como: futsal, handebol, basquete e voleibol, além de jogos como a queimada (SILVA; 
SAMPAIO, 2012). 
Em pesquisa recente Silva e Gonçalves-Silva (2015) confirmaram tal questão 
quando perguntaram aos alunos da rede pública de Campo Grande – MS, quais eram os 
conteúdos vividos na escola. 
A partir disso, o que se indaga agora é quais os conteúdos desenvolvidos nas 
aulas de Educação Física das escolas municipais de Campo Grande – MS na percepção 
dos professores que ministram tal disciplina. Portanto, trazemos como objetivo: 
constatar quais os conteúdos mais desenvolvidos nas aulas de Educação Física a partir 
do relato dos professores da rede municipal de ensino de Campo Grande – MS. 
 
UM POUCO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL 
Em sua trajetória a Educação Física instaurada no Brasil teve influência das 
áreas médica e militar, as quais “marcaram historicamente, a evolução da Educação 
Física brasileira” (MARINHO, 2011, p. 61). 
No que diz respeito a área médica pode-se destacar que a Educação Física teve 
cunho higienista dado os conhecimentos da área biomédica, advindos dos biólogos e 
fisiologistas. Por sua vez, à área militar perpassou por inúmeros momentos na história 
da Educação Física no Brasil, pois em 1810 fora criada a Escola Militar na qual a 
ginástica alemã estava inserida como atividade física obrigatória. Em 1837 foi instituído 
o Ginásio Nacional, correspondente ao Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, o qual tinha 
como prática obrigatória a ginástica como uma das suas disciplinas curriculares 
(AZEVEDO, 1999; MARINHO, 2011). 
 
1 Hoje, com a recente aprovação da Base Nacional Comum Curricular tem-se outro arranjo curricular para 
a disciplina. No entanto, como este documento ainda não chegou às escolas, optamos por fazer esta 
análise a partir dos PCN. 
 
378 
 
Na época de 1851 deu-se abertura ao processo de legalização da disciplina 
enquanto atividade obrigatória a todas as escolas primárias do Rio de Janeiro. Tal 
ocorrência deve-se ao fato das ginásticas estarem interligadas a prática da preparação 
física dos homens para a guerra, no qual diferentes país organizaram metodologias do 
seu ensino de acordo com o que julgavam necessário para a formação desse homem 
enquanto combatente (CASTELLANI FILHO, 2010; MARINHO, 2011). 
Para os autores é devido a isso que as instituições escolares sofreram influências 
das tendências ginásticas de cunho militarista, além de serem associadas a prática de 
exercício físico que é necessária ao homem para uma formação dita integral. 
Em 1939, através do decreto lei 1.212 de 17 de abril é criado o primeiro curso 
civil de docentes em Educação Física – Escola Nacional de Educação Física e 
Desportos (ENEFD) – na Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de 
Janeiro. Seu primeiro corpo docente foram médicos e professores egressos do curso de 
Emergência da Escola de Educação Física do Exército (AZEVEDO, 1999; 
CASTELLANI FILHO, 2010; MARINHO, 2011; SOARES et al., 2012). 
Deste modo salientamos que: 
 
A Educação Física/Esporte Escolar caracteriza-se ao longo de sua história, 
por dedicar-se à prática corporal, prática essa repetitiva, com movimentos 
mecânicos, os quais deveriam ser executados pelos alunos sem a necessidade 
de explicações causais. [...] Mais recentemente, com a abrangência adquirida 
pelo fenômeno esportivo, vemos o professor de Educação Física na escola 
utilizar esse conhecimento em favor dos mais aptos (...) o direito da prática 
esportiva é negado à maioria, em nome da execução perfeita dos movimentos 
baseados na ideia de um corpo perfeito e não de um corpo possível 
(MOREIRA, 2012, p. 128-129). 
 
Entre 1970 e 1980, vários movimentos na educação brasileira sofreram 
mudanças de cunho epistemológico e com uma visão de formação do sujeito mais 
integral. No que diz respeito à Educação Física foram criadas várias abordagens 
metodológicas de ensino da Educação Física escolar (SOARES et al. 2012). 
Mesmo com tais contribuições para que houvessem avanços teóricos, Moreira 
(2012, p.130) esclarece que esses movimentos “Não resultaram em novas propostas de 
operacionalizar a disciplina no interior da escola. [...] a Educação Física/Esporte na 
escola transformou-se em momentos de recreação [...]”. Ou seja, as mudanças no 
âmbito escolar não têm sido significativas no que diz respeito a prática pedagógica do 
professor frente aos conhecimentos científicos adquiridos em seu processo degraduação, evidenciando a ausência de correlação entre a teoria-prática-teoria de 
379 
 
maneira indissociável (GALVÃO, 2002; BETTI, 2005; COSTA; NASCIMENTO, 
2006; MOREIRA, 2012). 
Para tanto, o professor deve ampliar o que diz respeito ao seu fazer pedagógico a 
fim de correlacionar a produção de conhecimento científico com o processo de 
mediação deste de forma integral, ultrapassando o limite da transmissão de 
conhecimentos (COSTA; NASCIMENTO, 2006). 
Destaca-se que a apropriação do conhecimento se concretiza por meio da relação 
do corpo com o ambiente ao qual o permeia. São incorporadas todas as ações que dizem 
respeito a fala, movimentos, modo de vida, diversos tipos de linguagens e tudo que 
tenha correlação com o corpo, pois a ele é atribuída uma comunicação definida 
culturalmente pelos sujeitos que ali se fazem em sociedade (BETTI et al., 2007; 
BRASILEIRO; MARCASSA, 2008). 
Na atualidade o ensino da Educação Física é obrigatório e está contemplado na 
Base Comum Curricular (BRASIL, 2017), mas à época que esta pesquisa foi realizada 
os documentos norteadores para o ensino da Educação Física eram os Parâmetros 
Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental - iniciais e finais e Ensino 
Médio (BRASIL, 1997; 1998; 2000). Portanto optou-se por dar continuidade neste 
estudo embado nos PCN’s. Esse estudo se ateu a desdobrar os conteúdos da Educação 
Física no Ensino Fundamental – Anos iniciais, bem como nos anos finais. 
 
Quadro 1 – Blocos de conteúdos de Educação Física 
 
Esporte, jogos, lutas e ginástica Atividades Rítmicas e Expressivas 
Conhecimentos sobre o corpo 
 
Fonte: Parâmetro Curriculares Nacionais: Educação Física, 1ª a 4ª série e 5 ª a 8 ª série, p. 35. 
 
O bloco de conhecimentos sobre o corpo está interligado ao desenvolvimento 
dos outros dois blocos de conteúdos apresentados, mas este, em específico, deve 
proporcionar ao aluno vivências práticas que possibilitem sua autonomia sobre o corpo, 
sem que haja o ensinamento segmentado de corpo, mas sim como uma unidade 
(BRASIL, 1997). 
No bloco de Esportes, jogos, lutas e ginásticas é possível notar a junção de 
quatro práticas distintas que têm o trato e o ensinamento diferenciados em cada uma 
delas. Os esportes, são definidos como o conjunto de práticas que são regidos por regras 
oficiais de federações regionais e nacionais de caráter competitivo, devendo, no âmbito 
380 
 
escolar, serem proporcionados aos alunos de forma mais flexível, sem tanto rigor no seu 
ensino e performance (BRASIL, 1997). 
Os jogos, no entanto, tem regulamentação mas apresentam-se mais flexíveis 
quanto a estas devido o número de participantes, local e espaço, regionalidade e 
materiais disponíveis, consistentes em cada jogo, podendo ter cunho festivo, 
comemorativa, competitivo, dependendo da localidade e dos participantes. 
No que se configuram as lutas nos PCN, estas se mostram com cunho de disputa 
entre dois oponentes que terão um julgamento segundo suas modalidades, técnicas, 
entre outros critérios específicos. 
As ginástica são o conjunto de técnica que visam o desenvolvimento corporal e 
têm as mais variadas finalidades, como: preparação física, manutenção e recuperação 
físicas, prática competitiva ou até recreativa. Ela deve ser desenvolvida pelo professor 
com o intuito de proporcionar aos alunos o conhecimento sobre o próprio corpo, além 
dos demais caráteres assumidos, acima já citados. 
O terceiro bloco é o de Atividades Rítmicas e Expressivas. Nele estão inclusos 
manifestações culturais que pretendam a comunicação e expressão por meio de gestos e 
movimentos diante a estímulos sonoros externos (BRASIL, 1997). 
 
ASPECTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 
Este estudo constitui-se como uma pesquisa qualitativa, exploratório-descritiva, 
por ter o intuito de imersão a uma realidade particular, “buscando antecedentes, maior 
conhecimento”, para posteriormente fazer a descrição da realidade que se encontrou 
(TRIVIÑOS, 1987, p. 109). 
A realização da pesquisa deu-se no município de Campo Grande - Mato Grosso 
do Sul, envolvendo as escolas da rede pública municipal (REME), que contém em suas 
instituições os anos iniciais e anos finais do Ensino Fundamental. Foram selecionadas 
ao todo 14 escolas que continham o maior número de alunos e, consequentemente, o 
maior número de docentes. 
Os sujeitos envolvidos nesse estudo foram professores de Educação Física do 5º 
e/ou 9º
 
ano do Ensino Fundamental da REME de Campo Grande – MS que aceitaram 
participar do estudo, totalizando o número de 24 voluntários. 
A técnica de pesquisa utilizada neste estudo foi a entrevista semiestruturada, por 
permitir ao pesquisador a elaboração de outras perguntas, que não a pergunta 
norteadora, para que se aproxime ao máximo da resposta do problema, sendo “[...] um 
381 
 
dos principais meios que tem o investigador para realizar a Coleta de Dados” (CRUZ 
NETO, 1994, p. 146). 
A questão geradora empregada para a obtenção das informações por meio de 
relato dos professores foi a seguinte: “Quais os conteúdos foram desenvolvidos em suas 
aulas de Educação Física?”. A partir da mesma a entrevista transcorreu. Utilizou-se 
como técnica de análise das informações a análise de conteúdo, por ser uma ferramenta 
que permite ao pesquisador investigar a fundo a problemática proposta, utilizando de 
registros documentais para tanto, permitindo ao pesquisador voltar a eles sempre que 
necessário (TRIVIÑOS, 1987). 
As etapas que configuram o método são a: pré-análise – na qual foram feitas 
buscas em periódicos e bancos de dados como uni-termos Educação Física Escolar; 
Conteúdos da Educação Física, a fim de organizar e estruturar acerca de estudos com o 
mesmo caráter –, a descrição analítica – na qual realizou-se a análise dos dados e 
selecionando as categorias encontradas segundo o relato dos professores – e 
interpretação referencial, na qual foi contraposto os dados obtidos com o referencial 
teórico, para uma melhor análise reflexiva. 
 
RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS 
Antes de dar início a apresentação dos dados demonstramos a porcentagem de 
professores participantes da pesquisa (Tabela 1) bem como a respectiva turma pela qual 
era responsável. 
 
Tabela 1 – Porcentagem de atuação nas turmas 
 
Professores responsáveis por 
turmas 
5º ano 9º ano 5º e 9º ano 
Total 10 10 4 
 
A partir da entrevista, analisamos pelas falas dos professores quais são os 
conteúdos mais desenvolvidos nas aulas de Educação Física (Tabela 2) e a partir disso 
criamos as categorias de análise deste estudo pautadas nos blocos de conteúdos dos 
PCN, entendo que estes correspondem a forma íntegra dos resultados obtidos. 
 
Tabela 2 - Desenvolvimento dos conteúdos do 5º e 9º ano de acordo com os blocos dos PCN 
 
Categorias de análise Nº de Entrevistados 5º Nº de Entrevistados TOTAL 
382 
 
ano 9º ano 
Esportes 7 10 17 
Jogos 6 4 10 
Ginástica 1 3 1 
Dança 1 4 5 
Atividades Rítmicas 3 - 3 
Brincadeiras 5 1 6 
Conhecimento Sobre o Corpo 1 2 3 
Habilidades e Capacidades 
Físicas Físicas 
4 - 4 
 
É possível notar pelos resultados da tabela acima que as categorias de análise de 
Esportes e jogos foram as mais desenvolvidas pelos professores de 5º e 9º ano do 
Ensino Fundamental, sendo quase unanime o seu desenvolvimento pelo grupo de 
entrevistados, sobretudo no que diz respeito ao conteúdo dos Esportes, como pode ser 
evidenciado nas transcrições abaixo: 
 
P2: “É... vôlei, basquete, Handebol e atletismo.” 
P5: “[...]os esportes, voleibol, handebol...[...]” 
P21: “[...]mas o enfoque é mais esporte, handebol, futsal, atletismo, xadrez, vôlei, basquetebol.”P13: “[...]vôlei, futsal, handebol, atletismo, basquete, jogos de raciocínio, eram os básicos que 
vinham das diretrizes né?[...]” 
 
Vemos que os dados apresentados por Silva e Gonçalves-Silva (2015) em seu 
estudo sobre os conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Física na cidade de 
Campo Grande – Mato Grosso do Sul, a partir da fala dos alunos de 6º e 7º do Ensino 
Fundamental – anos finais, foi confirmada também na fala dos professores de 5º a 9º 
ano. 
Betti (1999) afirma que os conteúdos esportivos são os mais desenvolvidos nas 
aulas de Educação Física, principalmente o que chamamos de quarteto fantástico, que é 
a junção de quatro modalidades esportivas – Voleibol, Futebol, Basquetebol e Handebol 
– que são desenvolvidas em todos os anos e com todas as turmas que participam das 
aulas de Educação Física. 
O estudo do autor tem quase duas décadas e vemos que o cenário atual continua 
partilhando dos mesmos problemas e dificuldades de tal época. Sua presença tão 
evidente nas aulas de Educação Física é atribuída aos acontecimentos históricos da 
utilização do esporte como prática de exercício físico para a educação do corpo, o qual 
383 
 
ficou marcado como símbolo de saúde. Resquícios da era higienista do século XIX no 
Brasil (BETTI, 1999). 
Silva e Sampaio (2012) apontam em seu estudo a predominância do conteúdo 
esportivo por parte dos professores de Educação Física e que a restrição da vivência em 
um único conteúdo é prejudicial para a formação dos alunos. Esta configuração pode ser 
melhor compreendida se correlacionarmos as influências midiáticas e culturais sofridas 
pelos professores em seu processo formativo enquanto sujeito. Estas condições 
cooperam para que o ensino de tais modalidades seja preferencial pelos professores 
(PEREIRA; HUNGER, 2009). 
Silva e Gonçalves-Silva (2015) ainda salientam que mesmo que o bloco de 
conteúdos Esporte, jogos, lutas e ginásticas dos PCNs seja o mais desenvolto, o ensino 
das lutas e das ginásticas não é abrangido com veemência, não oportunizando aos 
alunos a apropriação de tais conhecimentos, como pode-se verificar nos dados deste 
estudo. 
No que diz respeito as demais categorias Atividades Rítmicas, Dança, Ginástica, 
Conhecimento sobre o Corpo, Brincadeiras e Habilidades e Capacidades Físicas, 
observa-se que em sua maioria foram pouco desenvolvidas pelos docentes investigados, 
corroborando para os dados encontrados por Silva e Gonçalves-Silva (2015). 
Podemos analisar pela fala abaixo um dos motivos pelos quais o 
desenvolvimento de ambas as categorias não se deram de maneira mais predominante, 
comparada com a anterior: 
 
P 10: Quando começou o ano houve a divisão [...] Educação Física um seria o conhecimento do 
corpo e as modalidades e a dois atividades rítmicas e expressivas. Quando iniciou-se o ano era tudo 
novo. Então até no primeiro contato eu tive que explicar [...] Pra eles poderem entender que nunca na 
minha aula ia ter o futebol. Tá, tivemos esse primeiro contato, o não querer participar é mais dos 
meninos, essa recusa maior deles, por vergonha, por as vezes não ter uma desenvoltura, coisa que não 
foi trabalhada durante todos os anos [...]. 
 
Pereira e Hunger (2011) investigaram os professores de Educação Física não se 
sentem aptos a ministrar tais conteúdos, devido a formação que tiveram na graduação. 
Justificam que a abordagem acerca desses ensinamentos não é tão extensa e 
aprofundada quanto as que dizem respeito as práticas esportivas. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
384 
 
Deste modo apontamos alguns dados acerca do desdobramento do currículo 
obrigatório da Educação Física no município de Campo Grande – MS. 
 As categorias de análise Esportes e jogos, têm tido sua desenvoltura de maneira 
quase que predominante no processo de ensino-aprendizagem por parte dos professores, 
concordando com muitos estudos (BETTI, 1999; PEREIRA; HUNGER, 2009; SILVA; 
SAMPAIO, 2012; SILVA; GONÇALVES-SILVA 2015) 
 Constatou-se também que as categorias de análise Atividades Rítmicas, Dança, 
Ginástica, Conhecimento sobre o Corpo, Brincadeiras e Habilidades e Capacidades 
Físicas estão sendo pouco desenvolvidas durante a disciplina, reforçando o que os 
estudos ao longo desses anos vêm mostrando sobre o despreparo do professor de 
Educação Física para o desdobramento do ensino de todos os conteúdos, de maneira 
irrestrita, que correspondem ao currículo obrigatório (BETTI, 1999; PEREIRA; 
HUNGER, 2011). 
 
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