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Outubro 2023 DIREITO CONSTITUCIONAL Julgados em destaque 1 � É assegurado o pagamento de honorários sucumbenciais à Defensoria Pública, independentemente do ente público com que litiga O STF, por ocasião do julgamento do RE 1.140.005/RJ, ao considerar a autonomia administrativa, funcional e financeira atribuída à Defensoria Pública, concluiu pela ausência de vínculo de subordi- nação ao poder executivo, e consequente superação do argumento de confusão patrimonial, defi- nindo tese que assegura o pagamento de honorários sucumbenciais à instituição, independente- mente do ente público litigante, os quais devem ser destinados, exclusivamente, ao aparelhamento das Defensorias Públicas, sendo vedado o rateio dos valores entre os membros (Tema 1.002/STF). Cabível, portanto, a condenação do ente federado ao pagamento de verba sucumbencial à Defenso- ria Pública. STJ. 2ª Turma. REsp 2.089.489-GO, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 5/9/2023 (Info 786). JULGADOS EM DESTAQUE 2 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Regras para eleições indiretas em caso de dupla vacância por razões não eleitorais Os Estados possuem autonomia relativa na solução normativa do problema da dupla vacância da Chefia do Poder Executivo, não estando vinculados ao modelo e ao proce- dimento federal (art. 81, CF), mas tampouco pode desviar-se dos princípios constitucionais que norteiam a matéria, por força do art. 25 da Constituição Federal devendo observar: (i) a necessidade de registro e votação dos candidatos a Governador e Vice-Governador por meio de chapa única; (ii) a observância das condições constitu- cionais de elegibilidade e das hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14 da Consti- tuição Federal e na Lei Complementar a que se refere o § 9º do art. 14; (iii) que a filiação partidária não pressupõe a escolha em convenção partidária nem o regis- tro da candidatura pelo partido político; e (iv) a regra da maioria, enquanto critério de ave- riguação do candidato vencedor, não se mostra afetada a qualquer preceito constitucional que vincule os Estados e o Distrito Federal. STF. Plenário. ADPF 969/AL, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/8/2023 (Info 1104). � É constitucional o art. 11 da Resolução 125/2010 do CNJ, que prevê como facultativa a presença de advogados nos centros de conciliação É constitucional o art. 11 da Resolução nº 125/2010 do CNJ, que permite a atuação de membros do Ministério Público, defensores públicos, procuradores e advogados nos Centros Judiciários de Solução de Conflito e Cidadania. Assim, fica facultada a represen- tação por advogado ou defensor público, medida que se revela incentivadora para uma atuação mais eficiente e menos burocratizada do Poder Judiciário para assegurar direitos. Vale ressaltar que resolução do CNJ não afasta a necessidade da presença de advogados nos casos em que a lei processual assim exige. Seu alcance se restringe a direitos patrimoniais disponíveis e, mesmo nessas hipóteses, caso uma das partes venha com o advogado à me- diação, o procedimento será suspenso para que a outra parte também possa ser assistida. Tese fixada pelo STF: É constitucional a dis- posição do Conselho Nacional de Justiça que prevê a facultatividade de representação por advogado ou defensor público nos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidada- nia (CEJUSCs). STF. Plenário. ADI 6.324/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 22/8/2023 (Info 1104). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 3 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É possível que lei estadual preveja a designação de policiais militares da reserva remunerada para a rea- lização de tarefas por prazo certo na Administração Pública; isso não viola a proibição constitucional de acumular cargos, empregos ou fun- ções públicas É constitucional norma estadual que permite o aproveitamento transitório e por prazo cer- to de policiais militares da reserva remunera- da em tarefas relacionadas ao planejamento e assessoramento no âmbito da Polícia Militar ou para integrarem a segurança patrimonial em órgão da Administração Pública. Isso não caracteriza investidura em cargo público nem formação de novo vínculo jurídi- co concomitante com a inatividade (arts. 37, II, XVI e § 10; e 42, § 3º, CF/88). STF. Plenário. ADI 3.663/MA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/8/2023 (Info 1104). � Lei estadual pode instituir feriado comemorativo do Dia de São Jorge É constitucional lei do Estado do Rio de Janeiro que institui o feriado co- memorativo do “Dia de São Jorge”. Essa lei está inserida dentro da competência comum dos entes federados para proteger documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, monumentos, paisagens naturais notáveis e sítios arqueoló- gicos (art. 23, III, CF/88). Além disso, é compe- tência concorrente legislar sobre esses temas (art. 24, VII, CF/88). STF. Plenário. ADI 4.092/RJ, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28/8/2023 (Info 1105). � É inconstitucional — por violar a unicidade orgânica da advocacia pública estadual — a criação, por lei estadual, de órgão jurídico paralelo à Procuradoria-Geral do Estado, com funções de representação judicial, consultoria e assessoramento jurídico de fundação pública estadual O art. 132 da Constituição Federal confere aos Procuradores dos Estados e do Distrito Fede- ral, organizados em carreira única, a atribui- ção exclusiva das funções de representação judicial, consultoria e assessoramento jurídico das unidades federativas. O modelo constitucional da atividade de repre- sentação judicial e consultoria jurídica dos Estados exige a unicidade orgânica da advoca- cia pública estadual, incompatível com a cria- ção de órgãos jurídicos paralelos para o de- sempenho das mesmas atribuições no âmbito da Administração Pública Direta ou Indireta. Desse modo, é inconstitucional, por violação do art. 132 da CF/88, a criação de órgão ou de cargos jurídicos fora da estrutura da Procura- doria do Estado, com funções de representação judicial, consultoria ou assessoramento jurídico de autarquias e fundações públicas estaduais. STF. Plenário. ADI 7.380/AM, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 22/8/2023 (Info 1104). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 4 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � STF determina que entes federados adotem providências para atendimento à população em situação de rua Estão presentes os pressupostos necessários para a concessão da medida cautelar (fumaça do bom direito e perigo da demora na efetiva- ção de uma decisão judicial), eis que: i) a discussão acerca das condições precárias de vida da população em situação de rua no Brasil demanda uma reestruturação institucional que decorre de um quadro grave e urgente de des- respeito a direitos humanos fundamentais; e ii) a violação maciça de direitos humanos — a indicar um potencial estado de coisas inconsti- tucional — impele o Poder Judiciário a intervir, mediar e promover esforços para estabelecer uma estrutura adequada de enfrentamento. Nesse contexto, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem, de modo imediato, observar, obrigatoriamente e independen- temente de adesão formal, as diretrizes contidas no Decreto federal 7.053/2009, que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua, em conjunto e nos mol- des das determinações estabelecidas na parte dispositiva da decisão desta Corte. STF. Plenário. ADPF 976 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/8/2023 (Info 1105). � É inconstitucional lei estadual que cria estágio supervisionado, educa- tivo e profissionalizante, mas que prevê que a relação jurídica se forma diretamente entre o adolescente e a empresa, sem participação de insti- tuição de ensinoÉ inconstitucional — por usurpar a compe- tência privativa da União para legislar sobre direito do trabalho (art. 22, I, CF/88) — lei esta- dual que, ao criar o “estágio supervisionado, educativo e profissionalizante” sob a forma de bolsa de iniciação ao trabalho ao menor que frequente o ensino regular ou supletivo, constitui relação jurídica que se aproxima do instituto do contrato de aprendizagem. STF. Plenário. ADI 3.093/RJ, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 28/8/2023 (Info 1105). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 5 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É inconstitucional lei estadual que proíbe a entrega, em caixas postais comunitá- rias, de cartas, cartões-postal e correspondências agrupadas; também é incons- titucional lei estadual que proíbe a postagem, em caixas postais comunitárias, de boletos de pagamento É inconstitucional lei estadual que proíbe a entrega, em caixas postais comunitárias, das correspon- dências que se enquadram como carta, cartão-postal e correspondência agrupada. Essa lei é incons- titucional porque invade a competência exclusiva da União para manter o serviço postal e a compe- tência privativa do ente central para legislar sobre a matéria (arts. 21, X; e 22, V, CF/88). É inconstitucional lei estadual que proíbe a postagem, em caixas postais comunitárias, de boletos de pagamento alusivos a serviços prestados por empresas públicas e privadas. Isso porque essa lei está em contrariedade ao que dispõe a legislação federal que trata da matéria, sem demonstrar interesse particular ou justificativa objetiva e precisa do respectivo ente federativo. STF. Plenário. ADI 3081/RJ, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 28/8/2023 (Info 1105). � É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que exija a atuação do Ministério Público nas operações policiais de cumprimento de medidas possessó- rias de caráter coletivo É inconstitucional — por usurpar a prerrogativa legislativa conferida ao Procurador-Geral de Justiça e ofender a autonomia e a independência do Ministério Público (arts. 127, § 2º; e 128, § 5º, CF/88) — norma estadual, de iniciativa parlamentar, que dispõe sobre a atuação do Ministério Público nas operações policiais de cumprimento de medidas possessórias de caráter coletivo. Lei estadual previu uma espécie de controle e fiscalização do Ministério Público sobre as operações policiais de cumprimento de medidas possessórias. Ao fazer isso, esse diploma inovou em relação ao rol constitucional de atribuições do órgão. Ainda que se conclua, à luz do art. 129, IX, da Constituição Federal, pela compatibilidade da referida atuação com os objetivos do Parquet, fica configurado o vício de iniciativa, considerando que a lei é fruto de proposição legislativa de origem parlamentar. STF. Plenário. ADI 3.238/PE, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 25/8/2023 (Info 1105). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 6 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �As guardas municipais são reconhecidamente órgãos de segurança pública e aquelas devidamente criadas e instituídas integram o Sistema Único de Segu- rança Pública (SUSP) É necessária a união de esforços para o combate à criminalidade organizada e violenta, não se jus- tificando, nos dias atuais da realidade brasileira, a atuação separada e estanque de cada uma das Polícias Federal, Civis e Militares e das Guardas Municipais. Isso porque todas fazem parte do Sistema Único de Segurança Pública. Essa nova perspectiva de atuação na área de segurança pública fez com que o STF, no julgamento do RE 846.854/SP, reconhecesse que as Guardas Municipais executam atividade de segurança pública (art. 144, § 8º, da CF/88), essencial ao atendimento de necessidades inadiáveis da comunidade (art. 9º, § 1º). O reconhecimento dessa posição institucional de órgão de segurança pública autorizou o Congresso Nacional a editar a Lei nº 13.675/2018, na qual as Guardas Municipais são inseridas como integrantes operacionais do Sistema Único de Segurança Pública (art. 9º, § 1º, VII). Desse modo, de acordo com a Constituição, a lei e a jurisprudência do STF, a Guarda Municipal é órgão de segurança pública, integrante do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). STF. Plenário. ADPF 995/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2023 (Info 1105). Após esse julgado o STJ decidiu que: O fato de as guardas municipais não haverem sido incluídas nos incisos do art. 144, caput, da CF não afasta a constatação de que elas exercem atividade de segurança pública e integram o Sistema Único de Segurança Pública. Isso, todavia, não significa que possam ter a mesma amplitude de atuação das polícias (STJ. 3ª Seção. HC 830.530-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/9/2023. Info 791). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 7 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Servidora que pede exoneração e, depois de 3 anos, ingressa com ação anulatória do ato, pode até ter direito à reintegração, mas não receberá os valores retroativos Caso concreto: a servidora pública, durante uma crise de síndrome do pânico, pediu exoneração do cargo. Três anos depois ajuizou ação na qual comprovou que, em razão de seu estado de saúde, a sua declaração de vontade estava viciada. A autora terá direito à reintegração, mas não receberá os valores atrasados. Servidora pública que pede exoneração e fica inerte por mais de 3 anos até ingressar com ação judicial requerendo declaração de nulidade do ato administrativo e a consequente reintegração ao cargo, não tem direito à indenização de valores retroativos à exoneração, por configurar enriqueci- mento sem causa. STJ. 1ª Turma. REsp 2.005.114-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/8/2023 (Info 784). �O registro do loteamento implica perda da posse e do domínio do espaço livre, com transferência irreversível para o Poder Público A melhor interpretação do art. 3º do Decreto-Lei nº 58/1937 e dos arts. 65, 66 e 69 do CC/1916 conduz ao entendimento de que o registro do loteamento implica perda da posse e do domínio do espaço livre, com transferência irreversível para o Poder Público. STJ. 1ª Turma. REsp 1.856.024-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 22/8/2023 (Info 784). �O servidor processado no PAD não precisa ser intimado após o relatório final feito pela comissão processante A falta de intimação do servidor público, após a apresentação do relatório final pela comissão pro- cessante, em processo administrativo disciplinar, não configura ofensa às garantias do contraditório e da ampla defesa, ante a ausência de previsão legal. Em processo administrativo disciplinar, apenas se declara a nulidade de um ato processual quando houver efetiva demonstração de prejuízo à defesa, por força da aplicação do princípio pas de nullité sans grief, não havendo efetiva comprovação, pelo Impetrante, de prejuízos por ele suportados. STJ. 1ª Seção. MS 22.750-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 9/8/2023 (Info 784). DIREITO ADMINISTRATIVO JULGADOS EM DESTAQUE 8 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A Administração Pública pode ins- crever em cadastros de restrição de crédito os seus inadimplentes, ainda que não haja inscrição prévia em dívida ativa A ANTT lavrou auto de infração contra uma empresa que praticou infração administrativa. Antes de inscrever a multa em dívida ativa, a ANTT inscreveu o nome da empresa no Serasa. Isso é permitido não havendo ofensa ao art. 46 da Lei nº 11.457/2008. O art. 46 da Lei nº 11.457/2008, que dispõe sobre a Administração Tributária Federal, é claro ao determinar que, para a divulgação de informações acerca de inscrição em dívida ati- va, necessário que a Fazenda Nacional celebre convênios com entidades públicas e privadas. O dispositivo, entretanto, não se aplica à presente hipóteseque se refere à possibilida- de de a Administração Pública inscrever em cadastros os seus inadimplentes, ainda que não haja inscrição prévia em dívida ativa. Ressalte-se, ainda, que a expedição de uma CDA para se autorizar a inscrição do devedor em cadastros de inadimplentes torna mais onerosa para a Administração a busca pelo pagamento de seus créditos, já que a nega- tivação do nome do devedor é uma medida menos gravosa quando comparada com a necessária inscrição de dívida ativa. Dessa forma, cabe ao credor interessado (no caso, a Administração Pública) comprovar a dí- vida com um documento idôneo que contenha os elementos necessários para se reconhecer o débito, não sendo, necessariamente, a CDA. STJ. 2ª Turma. AREsp 2.265.805-ES, Rel. Min. Fran- cisco Falcão, julgado em 22/8/2023 (Info 785). � Em regra, não cabe indenização em favor dos proprietários dos imóveis abrangidos por ato administrativo que institua limitação administrati- va, a não ser que comprovem efetivo prejuízo, ou limitação além das já existentes Caso hipotético: João recebeu como herança dezenas de lotes de terra. Ele começou a co- mercializar esses lotes. Ocorre que foi editado o plano diretor municipal que instituiu, na área onde se localizam os lotes, uma zona de proteção ambiental, o que restringiu o uso e a ocupação do solo. Foi realizada perícia que atestou que, em razão das limitações adminis- trativas, os lotes perderam substancialmente valor econômico. A indenização será devida. Isso porque as pro- vas dos autos, notadamente o laudo pericial, atestaram que houve efetivo prejuízo. STJ. 2ª Turma. AREsp 551.389-RN, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 5/8/2023 (Info 786). DIREITO ADMINISTRATIVO JULGADOS EM DESTAQUE 9 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Não ocorre renúncia tácita à prescrição, a ensejar o pagamento retroativo de parcelas anteriores à mudança de orientação jurídica, quando a Administração Pública reconhece administrativamente o direito pleiteado pelo interessado Não ocorre renúncia tácita à prescrição (art. 191 do Código Civil), a ensejar o pagamento retroativo de parcelas anteriores à mudança de orientação jurídica, quando a Administração Pública, inexis- tindo lei que, no caso concreto, autorize a mencionada retroação, reconhece administrativamente o direito pleiteado pelo interessado. STJ. 1ª Seção. REsps 1.925.192-RS, 1.925.193-RS e 1.928.910-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 13/9/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1109) (Info 787). �No período entre a Lei nº 11.481/2007 (publicada em 31/05/2007) e a decisão do STF na ADI 4264 (cuja ata de julgamento foi publicada em 28/3/2011), os chama- mentos feitos por edital devem ser considerados válidos Nos procedimentos de demarcação de terrenos de marinha, é válido o ato jurídico de chamamento de interessados certos ou incertos à participação colaborativa com a Administração formalizado exclusivamente por meio de edital, desde que o ato tenha sido praticado no período de 31/05/2007 até 28/03/2011, em que produziu efeitos jurídicos a alteração legislativa do art. 11 do Decreto-lei nº 9.760/46 promovida pelo art. 5º da Lei nº 11.481/2007. STJ. 1ª Seção. REsps 2.015.301-MA e 2.036.429-MA, Rel. Min. Paulo Sérgio Domingues, julgado em 13/9/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1199) (Info 787). �Demanda proposta contra o Banco do Brasil discutindo saques indevidos de PASEP I) O Banco do Brasil tem legitimidade passiva ad causam para figurar no polo passivo de demanda na qual se discute eventual falha na prestação do serviço quanto a conta vinculada ao PASEP, sa- ques indevidos e desfalques, além da ausência de aplicação dos rendimentos estabelecidas pelo Conselho Diretor do referido programa; II) A pretensão ao ressarcimento dos danos havidos em razão dos desfalques em conta individual vin- culada ao PASEP se submete ao prazo prescricional decenal previsto pelo artigo 205 do Código Civil; e III) O termo inicial para a contagem do prazo prescricional é o dia em que o titular, comprovada- mente, toma ciência dos desfalques realizados na conta individual vinculada ao PASEP. STJ. 1ª Seção. REsps 1.895.936-TO, 1.895.941-TO e 1.951.931-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgados em 13/9/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1150) (Info 787). DIREITO ADMINISTRATIVO JULGADOS EM DESTAQUE 10 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Lei estadual não pode autorizar que ato infralegal transforme cargos em comissão em função de confiança ou funções de confiança em cargo em comissão É inconstitucional norma estadual que autoriza a transformação, mediante decreto ou outro ato normativo infralegal, de funções de confiança em cargos em comissão ou vice-versa. Essa norma ofende o princípio da reserva legal (art. 48, X, c/c o art. 61, § 1º, II, “a”, CF/88). Não se pode di- zer que se trate de mera regulamentação para reorganização administrativa (art. 84, VI, “a” e “b”, CF/88). STF. Plenário. ADI 6.180/SE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/8/2023 (Info 1104). � Sociedades de economia mista, como o Metrô-DF, desde que prestem serviço público essencial em regime de exclusividade (monopólio natural) e sem intuito lucrativo, submetem-se ao regime constitucional de precatórios para o adimple- mento de seus débitos O transporte público coletivo de passageiros sobre trilhos é um serviço público essencial que não concorre com os demais modais de transporte coletivo, ao contrário, atua de forma complementar, no contexto de uma política pública de mobilidade urbana. Não caracteriza o intuito lucrativo a mera menção, em plano de negócios editado por empresa esta- tal, da busca por um resultado operacional positivo. Afastado o intuito lucrativo, o Metrô-DF, que é sociedade de economia mista prestadora de serviço público essencial e desenvolve atividade em regime de exclusividade (não concorrencial), deve sub- meter-se ao regime de precatórios (art. 100 da CF) para o adimplemento de seus débitos. Decisões judiciais que determinam o bloqueio, penhora ou liberação de receitas públicas, sob a dis- ponibilidade financeira de entes da Administração Pública sujeitos ao regime de precatório violam a Constituição. STF. Plenário. ADPF 524/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/8/2023 (Info 1104). DIREITO ADMINISTRATIVO JULGADOS EM DESTAQUE 11 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � São constitucionais os decretos do Estado de São Paulo que renovaram a concessão do serviço de transporte coletivo entre a capital e cidades do ABC e exigiram contrapartidas para a prorrogação antecipada É constitucional a prorrogação antecipada do contrato de concessão do serviço de transporte cole- tivo do corredor metropolitano São Mateus/Jabaquara promovida pelos Decretos nº 65.574/2021 e nº 65.757/2021, ambos do Estado de São Paulo. Essa prorrogação antecipada ocorreu dentro dos limites explicitados pelo STF no julgamento da ADI 5.991/DF. STF. Plenário. ADI 7.048/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julga- do em 22/8/2023 (Info 1104). � São constitucionais as alterações promovidas pela Lei 13.954/2019 no Estatuto dos Militares É formalmente constitucional a Lei nº 13.954/2019, que alterou a Lei nº 6.880/80 (Estatuto dos Mili- tares). Norma que dispõe sobre a reforma de militares temporários não está sujeita à reserva de lei complementar. A interpretação conferida pelo STF para o art. 142, § 1º, da CF/88 é no sentido de que a exigência de lei complementar está diretamente relacionada ao órgão “Forças Armadas” e não a seus membros. A alínea “b” do inciso II-A do art. 106 e os §§ 1º, 2º e 3º do art. 109 do Estatuto dos Militares (ambos na redação dada pela Lei nº 13.954/2019) — que modificaram as regras atinentes ao direito de reforma de militares temporários por incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Arma- das — são materialmenteconstitucionais e não afrontam o direito à igualdade, a responsabilidade objetiva do Estado ou o princípio da proibição do retrocesso. As diferenças entre as carreiras de militares efetivos e temporários não autorizam que o Poder Judi- ciário estenda a uma os direitos assegurados pela outra. A indenização civil por acidente de trabalho não se confunde com o direito à reforma de militares: o temporário que não for capaz de desempenhar as funções militares, mas apenas as civis, não poderá ser indenizado por prazo superior ao da duração legal do contrato temporário. O princípio da proibição do retrocesso não abriga direito adquirido a regime jurídico de servidores públicos. STF. Plenário. ADI 7.092/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/8/2023 (Info 1104). DIREITO ADMINISTRATIVO JULGADOS EM DESTAQUE 12 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � São constitucionais os arts. 2º, 12, 13, 15 e 21, da Lei 8.429/92 São constitucionais os dispositivos da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92 - LIA) que ampliam o conceito de agente público, impõem obrigações no tocante às informações patrimoniais para posse e exercício do cargo, bem como preveem sanções — independentemente das esferas penais, civis e administrativas — e o acompanhamento dos respectivos procedimentos administrati- vos pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas. STF. Plenário. ADI 4.295/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julga- do em 22/8/2023 (Info 1105). � Empresas habilitadas mediante credenciamento podem realizar serviços de fa- bricação e de estampagem de placas de veículos É constitucional a prestação de serviços de fabricação e de estampagem de Placas de Identificação de Veículos do Brasil (PIV) por empresas habilitadas mediante credenciamento. Isso não viola: • a segurança viária (art. 144, § 10, I e II, CF/88); • a exigência de licitação para a prestação indireta de serviços públicos (art. 175); • o pacto federativo (art. 18); • nem a autonomia dos estados-membros (art. 25, “caput” e § 1º). STF. Plenário. ADI 6.313/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2023 (Info 1105). DIREITO AMBIENTAL DIREITO ADMINISTRATIVO � Para a aplicação válida de multa administrativa ambiental não se exige que o órgão ambiental tenha previamente aplicado a pena de advertência; é possível aplicar a multa como primeira sanção A validade das multas administrativas por infração ambiental, previstas na Lei nº 9.605/98, independe da prévia aplicação da penalidade de advertência. STJ. 1ª Seção. REsps 1.984.746-AL e 1.993.783-PA, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 13/9/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1159) (Info 787). JULGADOS EM DESTAQUE Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O anterior titular não estará obrigado a reparar dano ambiental superveniente à cessação de sua propriedade ou posse, exceto se tiver concorrido para sua causação As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo possível exigi-las, à escolha do cre- dor, do proprietário ou possuidor atual, de qualquer dos anteriores, ou de ambos, ficando isento de responsabilidade o alienante cujo direito real tenha cessado antes da causação do dano, desde que para ele não tenha concorrido, direta ou indiretamente. STJ. 1ª Seção. REsps 1.953.359-SP e 1.962.089-MS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgados em 13/9/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1204) (Info 787). Obs: essa tese acima fixada complementa a Súmula 623 do STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos ante- riores, à escolha do credor. � STF determinou a reativação do Fundo Amazônia O STF determinou à União que adote, no prazo de 60 dias, as providências administrativas necessá- rias para a reativação do Fundo Amazônia, sem novas paralisações. A Corte declarou a inconstitucionalidade do art. 12, II, do Decreto nº 10.144/2019 e do art. 1º do Decre- to nº 9.759/2019, que alteraram o formato do fundo e impediram o financiamento de novos projetos. Configura omissão normativa quanto às obrigações referentes à ativação do Fundo Amazônia, em patente inobservância ao art. 225, § 4º, da Constituição Federal, o inadimplemento dos deve- res constitucionais de tutela do meio ambiente pela União, materializado na ausência de políticas públicas adequadas para a proteção da Amazônia Legal e na desestruturação institucional daquelas formuladas em períodos antecedentes. STF. Plenário. ADO 59/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2022 (Info 1104). �A Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) é constitucional É formalmente constitucional — por não violar o sistema de repartição de competências — lei edita- da pela União para regulamentar dispositivos da Constituição que dispõem sobre o meio ambiente (art. 225, § 1º, II, IV e V, CF/88) e estabelecer normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados no Brasil. A vinculação do procedimento de licenciamento ambiental de OGM ao crivo técnico da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBIo) não desrespeita o sistema de proteção ambiental (art. 225, CF/88) nem implica redução do grau de tutela do meio ambiente. STF. Plenário. ADI 3.526/DF, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 22/8/2023 (Info 1105). DIREITO AMBIENTAL 13 JULGADOS EM DESTAQUE 14 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O serviço de clipping, consistente na elaboração e comercialização de matérias jor- nalísticas e colunas publicadas em jornais, sem autorização do titular do conteúdo editorial ou remuneração por seu uso, viola direitos autorais do titular da obra A produção e a comercialização de serviço de clipping de notícias integram atividade que não se enquadra na moldura fática das normas dos incisos I, “a”, e VII do art. 46 da Lei nº 9.610/98. As limitações aos direitos patrimoniais dos titulares de direitos autorais devem passar pelo crivo do “Teste dos Três Passos” antes de sua aplicação a um caso concreto, em razão do compromisso assu- mido pelo Brasil na condição de signatário da Convenção de Berna e do Acordo TRIPS. Segundo o “Teste dos Três Passos”, a reprodução não autorizada de obras de terceiros somente é admitida quando preenchidos os seguintes requisitos cumulativos: i) em certos casos especiais; ii) que não conflitem com a exploração comercial normal da obra; e iii) que não prejudiquem injustificadamente os legítimos interesses do autor. A atividade de comercialização de clipping de notícias realizada pela recorrida conflita com a explo- ração comercial normal das obras do Jornal, prejudicando injustificadamente seus legítimos interes- ses econômicos. STJ. 3ª Turma. REsp 2.008.122-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/8/2023 (Info 785). �O comodatário tem a obrigação de pagar o IPTU do imóvel, salvo se houve com- binação expressa em sentido contrário (vale ressaltar que isso não impede o Município de cobrar do comodante e ele depois exigir do comodatário) Sendo o comodato espécie de contrato gratuito, o comodante não poderá ser onerado pelas despesas ordinárias da coisa (ex: IPTU), exceto em caso de consentimento expresso. É dever do comodatário arcar com as despesas decorrentes do uso e gozo da coisa emprestada, assim como conservar o bem como se seu fosse, não implicando a referida responsabilidade em enriquecimento ilícito do comodante. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.657.468-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 21/8/2023 (Info 785). DIREITO CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 15 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Se o contrato social não incluir o lucro futuro da sociedade na apuração dos ha- veres, o sócio retirante não terá direito Naapuração dos haveres, o critério a ser observado é aquele previsto no contrato social (art. 604, II e § 3º, do CPC). Se o contrato social for omisso, ou seja, se ele não previr um critério de apuração de haveres, deve- rá ser adotado o “balanço de determinação” (art. 606). Os lucros futuros não são incluídos na apuração dos haveres porque a base de cálculo deve ser o patrimônio da sociedade. Logo, os valores que ainda não integraram o patrimônio da sociedade não podem ser repartidos. Desse modo, omisso o contrato social relativamente à quantificação do reembolso (se abarca o lucro futuro da sociedade, ou não), observa-se a regra geral de apuração de haveres segundo a qual o sócio não pode, na dissolução parcial da sociedade, receber valor diverso (nem maior nem menor) do que receberia, como partilha, na dissolução total, verificada tão somente naquele momento. O “fluxo de caixa descontado”, método para avaliar a riqueza econômica de uma empresa dimensiona- da pelos lucros a serem agregados no futuro, não é adequado para o contexto da apuração de haveres. Em suma: na dissolução parcial da sociedade, omisso o contrato social quanto ao montante a ser reembolsado pela participação social e quanto à possibilidade de inclusão de lucro futuro, aplica-se a regra geral de apuração de haveres, em que o sócio não receberá valor diverso do que receberia, como partilha, na dissolução total. STJ. 4ª Turma. REsp 1.904.252-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 22/8/2023 (Info 785). DIREITO CIVIL DIREITO DO CONSUMIDOR � Plano de saúde deve custear congelamento de óvulo criopreservação para a pa- ciente em tratamento contra o câncer como medida preventiva à infertilidade A operadora de plano de saúde deve custear o procedimento de criopreservação de óvulos, como medida preventiva à infertilidade, enquanto possível efeito adverso do tratamento de quimioterapia prescrito para câncer de mama, até a alta da quimioterapia. STJ. 3ª Turma. REsp 1.815.796-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/05/2020 (Info 673). STJ. 3ª Turma. REsp 1.962.984-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2023 (Info 785). JULGADOS EM DESTAQUE 16 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O banco não é responsável em caso de transações realizadas com cartão físico com chip e a senha pessoal do correntista, sem indícios de fraude Não há como atribuir responsabilidade à instituição financeira em caso de transações realizadas com a apresentação do cartão físico com chip e a pessoal do correntista, sem indícios de fraude. O cartão magnético e a respectiva senha são de uso exclusivo do correntista, que deve tomar as devidas cautelas para impedir que terceiros tenham acesso a eles. Tendo a instituição financeira demonstrado, no caso, que as transações contestadas foram feitas com o cartão físico dotado de chip e o uso de senha pessoal do correntista, passa a ser dele o ônus de comprovar que a instituição financeira agiu com negligência, imprudência ou imperícia ao efeti- var a entrega do dinheiro. STJ. 4ª Turma. REsp 1.898.812-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 15/8/2023 (Info 784). � Com o ajuizamento, pelo consumidor, de ação perante o Poder Judiciário, presu- me-se a discordância dele em submeter-se ao juízo arbitral, sendo nula a cláusula de contrato de consumo que determina a utilização compulsória da arbitragem Com a promulgação da Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), passaram a conviver, em harmonia, três regramentos de diferentes graus de especificidade: 1) a regra geral, que obriga a observância da arbitragem quando pactuada pelas partes; 2) a regra específica, aplicável a contratos de adesão genéricos, que restringe a eficácia da cláusula compromissória; e 3) a regra ainda mais específica, incidente sobre contratos sujeitos ao Código de Defesa do Consu- midor, sejam eles de adesão ou não, impondo a nulidade de cláusula que determine a utilização compulsória da arbitragem. O ajuizamento, pelo consumidor, de ação perante o Poder Judiciário demonstra que esse consumi- dor não concorda em submeter-se ao juízo arbitral, não podendo prevalecer a cláusula que obriga a sua utilização. STJ. 2ª Seção. EREsp 1.636.889-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/8/2023 (Info 784). DIREITO DO CONSUMIDOR JULGADOS EM DESTAQUE 17 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O plano de saúde é obrigado a custear cirurgias plásticas em paciente pós-cirur- gia bariátrica? (I) É de cobertura obrigatória pelos planos de saúde a cirurgia plástica de caráter reparador ou fun- cional indicada pelo médico assistente, em paciente pós-cirurgia bariátrica, visto ser parte decorren- te do tratamento da obesidade mórbida; (II) Havendo dúvidas justificadas e razoáveis quanto ao caráter eminentemente estético da cirurgia plástica indicada ao paciente pós-cirurgia bariátrica, a operadora de plano de saúde pode se utilizar do procedimento da junta médica, formada para dirimir a divergência técnico-assistencial, desde que arque com os honorários dos respectivos profissionais e sem prejuízo do exercício do direito de ação pelo beneficiário, em caso de parecer desfavorável à indicação clínica do médico assistente, ao qual não se vincula o julgador. STJ. 2ª Seção. REsps 1.870.834-SP e 1.872.321-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/09/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1069) (Info 787). DIREITO DO CONSUMIDOR DIREITO EMPRESARIAL �Quando a contratação de links patrocinados pode caracterizar concorrência desleal? A contratação de links patrocinados, em regra, caracteriza concorrência desleal quando: (I) a ferramenta Google Ads é utilizada para a compra de palavra-chave correspondente à marca registrada ou a nome empresarial; (II) o titular da marca ou do nome e o adquirente da palavra-chave atuam no mesmo ramo de negó- cio (concorrentes), oferecendo serviços e produtos tidos por semelhantes; e (III) o uso da palavra-chave é suscetível de violar as funções identificadora e de investimento da mar- ca e do nome empresarial adquiridos como palavra-chave. STJ. 3ª Turma. REsp 2.032.932-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/8/2023 (Info 785). JULGADOS EM DESTAQUE 18 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Caso Vogue x Vogue Square Os nomes atribuídos aos edifícios e empreen- dimentos imobiliários não gozam de exclu- sividade, sendo comum receberem idêntica denominação. Estes nomes, portanto, não qualificam produtos ou serviços, apenas con- ferem uma denominação para o fim de indivi- dualizar o bem. Caso concreto: as titulares da marca VOGUE pretendiam impedir que um empreendimento imobiliário constituído por escritórios, lojas, hotel, academia e centro de convenções fosse denominado Vogue Square. O pedido não foi acolhido. Isso porque não se vislumbra a possibilidade de indução dos consumidores ao erro, da caracterização de concorrência parasitária ou do ofuscamento da marca da autora, especialmente porque os estabeleci- mentos ali situados conservam seus nomes originais, sem nenhuma vinculação de produ- tos ou serviços à marca Vogue. A proteção da marca, seja ela de alto renome ou não, busca evitar a confusão ou a associa- ção de uma marca registrada a uma outra, sendo imprescindível que, para que exista a violação ao direito marcário, haja confusão no público consumidor ou associação errônea em prejuízo do seu titular. A diluição da marca decorre do uso de sinal distintivo por terceiros fora do campo de es- pecialidade de determinadas marcas de gran- de relevância ou famosas (mas que não foram reconhecidas como de alto renome pelo INPI), de maneira que seu valor informacional deixa de ser suficientemente significativo, tornando o signo cada vez menos exclusivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.874.635-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 8/8/2023 (Info 784). �Na hipótesede não renovação de con- trato de concessão comercial de veí- culos, o prédio construído em terreno alheio, em razão da concessão, não se insere no conceito de “instalações”, a justificar o respectivo ressarcimento pela concedente à concessionária No Brasil, a distribuição de veículos automoto- res de via terrestre é efetivada, essencialmente, através do contrato de concessão comercial, firmado entre os produtores dos veículos (fabri- cantes ou concedentes) e os seus distribuidores (concessionárias ou dealers) e regulado pela Lei nº 6.729/79, conhecida como Lei Ferrari. O art. 23 da Lei nº 6.729/79, que define a inde- nização devida à concessionária na hipótese de não renovação do contrato, não pode ser interpretado de modo a transferir todo o risco empresarial para a empresa concedente. O empresário que escolhe adotar uma es- tratégia comercial arrojada deve suportar os riscos da sua decisão. Quando o inciso II do art. 23 exclui da inde- nização “os imóveis do concessionário”, não está se referindo apenas ao imóvel de pro- priedade do concessionário, mas àquele que serve a concessão: Art. 23. O concedente que não prorrogar o contrato (...) ficará obrigado perante o conces- sionário a: II - comprar-lhe os equipamentos, máquinas, ferramental e instalações à conces- são (...) excluídos desta obrigação os imóveis do concessionário. STJ. 3ª Turma. REsp 2.055.135-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 8/8/2023 (Info 784). DIREITO EMPRESARIAL JULGADOS EM DESTAQUE 19 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Não cabe condenação em danos morais coletivos em razão da exigência, pela instituição financeira, de tarifa bancária considerada indevida A exigência de uma tarifa bancária considerada indevida não agride, de modo totalmente injusto e intolerável, o ordenamento jurídico e os valores éticos fundamentais da sociedade em si conside- rada, tampouco provoca repulsa e indignação na consciência coletiva, não dando ensejo a danos morais coletivos. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1.754.555-RN, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/8/2023 (Info 786). �A concessão da segurança em relação à impetração do mandamus contra deci- são em procedimento de produção antecipada de provas requer a apreciação da eventual teratologia, da manifesta ilegalidade ou do abuso de poder no ato judi- cial atacado A ré requereu a intimação do perito para prestar esclarecimentos acerca de laudo pericial sem apre- sentar, neste mesmo pedido, os quesitos a serem respondidos. A parte final do art. 477, § 3º, do CPC exige que as perguntas já sejam apresentadas junto com o requerimento de audiência. O juiz, descumprindo o que determina esse dispositivo, concedeu prazo de até 10 dias antes da audiência para que as partes apresentassem quesitos. Foi uma mera liberalidade porque a lei não fala isso. Dentro desse prazo concedido pelo magistrado, a requerida apresentou 6 quesitos. Até aí, tudo bem, já que o juiz reabriu o prazo. Todavia, um dia antes da data designada para a nova audiência, a requerida apresentou 36 quesitos adicionais. O magistrado reputou tempestivos os primeiros 6 quesitos apresentados, mas rejeitou os demais. Houve redesignação da audiência. Por conta disso, a requerida pediu, novamente, a reabertura do prazo para apresentação de quesitos. Esse pedido foi rejeitado pelo juiz. A ré impetrou mandado de segurança contra a decisão. O mandado de segurança não deve ser concedido neste caso. Isso porque não há teratologia, mani- festa ilegalidade ou abuso de poder na decisão. O simples fato de o juiz ter determinado uma nova data para a realização da audiência não resulta na reabertura automática do prazo. Até porque esse prazo de 10 dias concedido pelo magistrado já foi dado sem respaldo legal e por liberalidade do magistrado, não constituindo, portanto, direito líquido e certo. STJ. 4ª Turma. AgInt no RMS 69.967-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/5/2023 (Info 784). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 20 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Cabe agravo de instrumento contra a decisão que acolhe os embargos à monitória para excluir um dos litisconsortes passivos É cabível agravo de instrumento contra a decisão que acolhe embargos à monitória para excluir a parte dos litisconsortes passivos, remanescendo o trâmite da ação monitória em face de outro réu. STJ. 4ª Turma. REsp 1.828.657-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 5/9/2023 (Info 787). �A substituição de carta de fiança bancária por seguro garantia em execução fis- cal não necessita de acréscimo de 30% sobre o valor do débito O art. 656, § 2º, do CPC/1973 (art. 848, parágrafo único, do CPC/2015) disciplina a questão relativa à necessidade de acréscimo financeiro (30%) ao valor do débito executado quando for requerida a substituição da penhora em dinheiro por carta de fiança ou seguro garantia judicial. A situação enfrentada pelo STJ foi diferente. A empresa executada não pediu a substituição da penhora por seguro garantia. Ela pediu a substi- tuição da fiança bancária por seguro garantia, questão jurídica diversa da que foi disciplinada no art. 656, § 2º, do CPC/1973 (art. 848, parágrafo único, do CPC/2015). Ademais, a própria Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80) em seu art. 9º, II, equiparou o ofereci- mento da fiança bancária à apresentação inicial de seguro garantia e, no § 3º do mesmo dispositivo, prescreveu que a garantia do feito executivo pode ser uniformemente alcançada por meio do depó- sito em dinheiro, da fiança bancária, do seguro garantia e da penhora. STJ. 2ª Turma. REsp 1.887.012-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 15/8/2023 (Info 784). � Banco ingressou com execução contra a empresa devedora e contra João (fiador); a esposa de João apresentou exceção de pré-executividade provando que a fian- ça não foi válida por falta de outorga uxória; os horários advocatícios serão fixados por equidade Quando a exceção de pré-executividade apresentada por terceiro em ação executiva for acolhida, levando à exclusão deste no polo passivo da execução, os honorários advocatícios devem ser fixa- dos por equidade, nos termos do art. 85, § 8º, do CPC/2015, uma vez que não se pode vincular a verba sucumbencial ao valor da causa dado na execução, sendo inestimável o proveito econômico por ela auferido. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.739.095-PE, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/8/2023 (Info 785). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 21 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Em exibição incidental de documen- tos, cabe a presunção relativa de veracidade dos fatos que a parte adversa pretendia comprovar com o documentos, sendo que as conse- quências dessa veracidade serão ainda avaliadas, em conjunto com as demais provas produzidas Caso hipotético: João celebrou contrato de mútuo com o banco. Depois de alguns meses, ele se tornou inadimplente. O banco propôs execução por título extrajudicial. O devedor apresentou embargos à execução alegando que houve cobranças indevidas nas parcelas em razão da cumulação de comissão de per- manência com outros encargos moratórios. O devedor requereu a intimação do banco para apresentar todos os extratos bancários comprovando os pagamentos com cumulação indevida. O banco não apresentou os extratos. Diante da presunção do art. 400, I, do CPC, po- de-se dizer que o juiz deverá, obrigatoriamen- te, decidir pela procedência do pedido com o reconhecimento da cumulação indevida? NÃO. Em exibição incidental de documentos, cabe a presunção relativa de veracidade dos fatos que a parte adversa pretendia comprovar com a juntada dos documentos solicitados, sendo que, no julgamento da lide, as conse- quências dessa veracidade serão avaliadas, em conjunto com as demais provas produzidas. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 2.102.423-PR, Rel. Min.Marco Buzzi, julgado em 21/8/2023 (Info 785). � Se o autor indica, na petição inicial, valor da causa incompatível com o proveito econômico pretendido, não pode, após a procedência, pedir a alteração da quantia por ele mesmo fixada, com o objetivo de aumentar os honorários de sucumbência Caso hipotético: na recuperação judicial, uma Cooperativa habilitou seu crédito dizendo que a empresa recuperanda estava lhe devendo R$ 39 milhões. A recuperanda apresentou ao juiz impugnação do crédito e atribuiu R$ 1 mil como sendo o valor da causa. O Tribunal de Justiça concordou com os argu- mentos da Usina e excluiu a Cooperativa do rol de credores da recuperação judicial. Como consequência, o TJ condenou a Cooperativa a pagar honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor da causa. A Usina opôs embargos de declaração pedin- do que o TJ alterasse o valor da causa indica- do na impugnação de crédito da recuperação judicial e assim majorasse a incidência dos honorários de sucumbência. O pedido não deve ser acolhido. Se a parte autora indica, na petição inicial, valor da causa incompatível com o proveito econômico pretendido, não pode, após o aco- lhimento do pedido em sentença, postular a alteração da quantia por ela mesmo alegada, com o fim de majorar a base de cálculos de honorários de sucumbência. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.901.349-GO, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 21/8/2023 (Info 785). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 22 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Requisitos para que o art. 1.025 do CPC/2015 seja aplicado Para a aplicação do art. 1.025 do CPC/2015 e para o conhecimento das alegações da parte em sede de recurso especial, é necessário: a) a oposição dos embargos de declaração na Corte de origem; b) a indicação de violação do art. 1.022 do CPC/2015 no recurso especial; e, c) a matéria deve ser: i) alegada nos embargos de declaração opostos; ii) devolvida a julgamento ao Tribunal a quo e; iii) relevante e pertinente com a matéria. A previsão do art. 1.025 do CPC/2015 não invalidou o enunciado 211 da Súmula do STJ (Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo). STJ. 2ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 2.222.062-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 21/8/2023 (Info 785). �Associação de servidores públicos federais ajuizou ação coletiva na JF de SP; o pedi- do foi julgado procedente e transitou em julgado no TRF3; somente são beneficiários dessa decisão os associados domiciliados na área de competência do TRF3 (SP e MS) A sentença proferida em ação coletiva somente surte efeito nos limites da competência territorial do órgão que a proferiu e exclusivamente em relação aos substituídos processuais que ali eram do- miciliados à época da propositura da demanda. Aplicação do disposto no art. 2º-A da Lei n. 9.494/97. A eficácia subjetiva da sentença coletiva pode abranger os substituídos domiciliados em todo o terri- tório nacional desde que: 1) proposta por entidade associativa de âmbito nacional; 2) contra a União; e 3) no Distrito Federal. Essa é a interpretação do art. 2º-A da Lei n. 9.494/97 à luz do disposto no § 2º do art. 109, § 1º do art. 18 e inciso XXI do art. 5º, todos da CF/88. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 2.122.178-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 21/8/2023 (Info 785). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 23 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É inconstitucional o inciso VIII do art. 144 do CPC O inciso VIII do art. 144 do CPC/2015 prevê o seguinte: Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; Essa previsão é inconstitucional por violar os princípios do juiz natural, da razoabilidade e da pro- porcionalidade. STF. Plenário. ADI 5.953/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 22/8/2023 (Info 1104). �Na impugnação parcial ao cumprimento de sentença, é direito da parte exequente prosseguir com os atos executórios sobre a parte incontroversa da dívida, inclu- sive com realização de penhora A impugnação ao cumprimento de sentença, em regra, não possui efeito suspensivo. Isso significa que, mesmo tendo sido apresentada impugnação, o magistrado pode determinar a prática de atos executivos no patrimônio do executado, inclusive os de expropriação. O juiz pode conceder efeito suspensivo, desde que preenchidos quatro requisitos: a) deve haver requerimento expresso do executado/impugnante; b) deve estar garantido o juízo, com penhora, caução ou depósito suficientes; c) os fundamentos da impugnação devem ser relevantes (fumus boni iuris); d) o executado/impugnante deverá demonstrar que o prosseguimento da execução poderá causar a si grave dano de difícil ou incerta reparação (periculum in mora). Imagine que a parte credora está cobrando R$ 500 mil. O devedor afirma que somente deve R$ 200 mil. Houve, portanto, impugnação parcial. Neste caso, é direito da parte exequente prosseguir com os atos executórios sobre a parte incontro- versa da dívida (R$ 200 mil), inclusive com realização de penhora, nos termos do que dispõe o art. 525, § 6º, do CPC/2015. Por se tratar de quantia incontroversa, não há razão para se postergar a execução imediata, pois, ainda que a impugnação seja acolhida, não haverá qualquer modificação em relação ao valor não impugnado pela parte devedora. STJ. 3ª Turma. REsp 2.077.121-GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 8/8/2023 (Info 785). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 24 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Para que o sindicato possa reter os honorários contratuais sobre o montante da condenação é necessária a autorização expressa dos filiados ou beneficiários a) antes da vigência do § 7º do art. 22 do Estatuto da OAB (5 de outubro de 2018), é necessária a apresentação dos contratos celebrados com cada um dos filiados ou beneficiários para que o sindi- cato possa reter os honorários contratuais sobre o montante da condenação; b) após a vigência do supracitado dispositivo, para que o sindicato possa reter os honorários con- tratuais sobre o montante da condenação, embora seja dispensada a formalidade de apresentação dos contratos individuais e específicos para cada substituído, mantém-se necessária a autorização expressa dos filiados ou beneficiários que optarem por aderir às obrigações do contrato originário. STJ. 1ª Seção. REsps 1.965.394-DF, 1.979.911-DF e 1.965.849-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 13/9/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1175) (Info 787). As execuções fiscais envolvendo a União, suas autarquias, fundações e empresas públicas ajuizadas na Justiça Estadual antes da Lei 13.043/2014 devem permanecer na Justiça Estadual mesmo após a EC 103/2019, que não revogou o art. 75 da Lei 13.043/2014 O art. 109, § 3º, da CF/88, com redação dada pela EC 103/2019, não promoveu a revogação (não re- cepção) da regra transitória prevista no art. 75 da Lei nº 13.043/2014, razão pela qual devem perma- necer na Justiça Estadual as execuções fiscais ajuizadas antes da vigência da lei referida. STJ. 1ª Seção. CCs 188.314-SC e 188.373-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/9/2023 (IAC 15) (Info 787). � Súmula 659 do STJ Súmula 659-STJ: A fração de aumento em razão da prática de crime continuado deve ser fixada de acordo com o número de delitos cometidos, aplicando-se 1/6 pela prática de duas infrações, 1/5 para três, 1/4 para quatro, 1/3 para cinco, 1/2 para seis e 2/3 para sete ou mais infrações. STJ. 3ª Seção.Aprovada em 13/9/2023. DIREITO PENAL DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 25 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês DIREITO PENAL �A aproximação do réu com o consen- timento da vítima torna atípica a conduta de descumprir medida pro- tetiva de urgência O consentimento da vítima, que aceita a aproximação do réu mesmo existindo medida protetiva de urgência, afasta eventual ameaça ou lesão ao bem jurídico tutelado pelo crime capitulado no art. 24-A da Lei nº 11.340/2006. Ainda que efetivamente tenha o acusado vio- lado a medida protetiva de não aproximação da vítima, isto se deu com a autorização dela, de modo que não se verifica efetiva lesão e falta inclusive o dolo de desobediência. Caso concreto: filho agrediu a mãe; como me- dida protetiva de urgência, o juízo determinou a proibição de que o agressor se aproximas- se da mãe a uma distância inferior a 500m; passado algum tempo, a própria vítima per- mitiu a aproximação do filho, autorizando-o a residir com ela no mesmo lote residencial, em casas distintas. Com isso, fica evidente a atipicidade da conduta. STJ. 6ª Turma. HC 521.622/SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 22/11/2019. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.330.912- DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 22/8/2023 (Info 785). � É idônea a mensuração da repercus- são internacional do delito na majo- ração da pena-base pelas consequên- cias do crime No caso concreto, policiais militares torturam e mataram um morador da favela para obter informações a respeito do armazenamento de armas e drogas. O episódio teve enorme repercussão na imprensa internacional. O STJ decidiu que, neste caso, seria possível que a pena-base fosse aumentada em virtu- de da grande repercussão internacional do delito. Essa grande repercussão é uma conse- quência do crime que desborda do tipo penal. Em outras palavras, não são todos os crimes que geram essa repercussão internacional. Na situação analisada, o crime gerou essa repercussão, razão pela qual pode sim ser en- quadrado como consequência negativa para fins de dosimetria da pena. STJ. 6ª Turma. REsp 2.082.894/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/8/2023 (Info 786). JULGADOS EM DESTAQUE 26 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A decisão que homologa o arquivamento do inquérito que apura violência domés- tica deve observar a devida diligência na investigação e o Protocolo para Julga- mento com Perspectiva de Gênero do CNJ Por ausência de previsão legal, a jurisprudência majoritária no STJ compreende que a decisão do Juiz singular que, a pedido do Ministério Público, determina o arquivamento de inquérito policial, é irrecorrível. Todavia, em hipóteses excepcionalíssimas, nas quais há flagrante violação a direito líquido e cer- to da vítima, o STJ tem admitido o manejo do mandado de segurança para impugnar a decisão de arquivamento. O exercício da ação penal em contextos de violência contra a mulher constitui verdadeiro instrumen- to para garantir a observância dos direitos humanos, devendo ser compreendido, à luz do Direito Internacional dos Direitos Humanos, como parte integrante da obrigação do Estado brasileiro de garantir o livre e pleno exercício destes direitos a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição e de assegurar a existência de mecanismos judiciais eficazes para proteção contra atos que os violem. No caso, a decisão que homologou o arquivamento do inquérito foi proferida sem que fosse em- pregada a devida diligência na investigação e com inobservância de aspectos básicos do Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero do Conselho Nacional de Justiça, em especial quanto à valoração da palavra da vítima, corroborada por outros indícios probatórios, que assume inquestio- nável importância quando se discute violência contra a mulher. O encerramento prematuro das investigações, aliada às manifestações processuais inconsistentes nas instâncias ordinárias, denotam que não houve a devida diligência na apuração de possíveis violações de direitos humanos praticadas contra a vítima, em ofensa ao seu direito líquido e certo à proteção judicial, o que lhe é assegurado pelo art. 1.º e 25 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, c.c. o art. 7.º, alínea b, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Diante do exposto, o STJ cassou a decisão que homologou o arquivamento do inquérito e determi- nou a remessa dos autos ao PGJ, nos termos do art. 28, caput, do CPP. STJ. 6ª Turma. RMS 70.338-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 22/8/2023 (Info 785). DIREITO PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 27 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A alteração promovida pela Lei 14.550/2023 não provocou qualquer modificação quanto à natureza cau- telar penal das medidas protetivas previstas no art. 22, incisos I, II e III, da Lei 11.340/2006, apenas previu uma fase pré-cautelar O STJ decidiu que as medidas protetivas de ur- gência previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria da Penha têm natureza de cau- telares penais, devendo ser regidas pelo CPP (REsp 2.009.402-GO, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 08/11/2022. Info 756). Esse entendimento não mudou com a Lei nº 14.550/2023. A alteração legislativa veio a reforçar que a concessão da medida protetiva, ou seja, o ato inicial, urgente e imediato de se deferir a medida para tutelar a vida e a integridade física e psíquica da vítima, prescinde de qual- quer formalidade e repele qualquer obstáculo que possa causar morosidade ou embaraço à efetividade da proteção pretendida. As medidas protetivas deferidas nos termos do § 5º do art. 19 da Lei nº 11.340/2006 de- vem ser consideradas como pré-cautelares, pois precedem a uma cautelar propriamente dita, e tem como objetivo a paralisação ime- diata do ato lesivo praticado ou em vias de ser praticado pelo agressor. Enquanto pré- -cautelares, as medidas protetivas podem ser concedidas em caráter de urgência, de forma autônoma e independente de qualquer pro- cedimento, podendo até mesmo ser deferidas pelo próprio delegado ou pelo policial, na hipótese do art. 12-C da Lei nº 11.340/2006. STJ. 5ª Turma. AgRg em REsp 2.056.542/ MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 5/9/2023 (Info 786). �Não incide a regra a continuidade de- litiva específica nos crimes de estupro praticados com violência presumida De acordo com o parágrafo único do art. 71 do CP: Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, con- siderando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, au- mentar a pena de um só dos crimes, se idên- ticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. A violência de que trata a continuidade deliti- va especial (art. 71, parágrafo único, do CP) é a violência real. Assim, não é possível aplicar a continuidade delitiva específica para o es- tupro de vulnerável (art. 217-A do CP) porque neste crime há uma ficção jurídica de violên- cia, não sendo caso de violência real. Desse modo, se forem praticados diversos crimes de estupro de vulnerável, será pos- sível aplicar a continuidade delitiva simples (comum), do caput do art. 71 do CP. Não será possível aplicar a continuidade delitiva especí- fica, trazida pelo parágrafo único do art. 71. STJ. 5ª Turma. AgRg em ARESP 2.165.385/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 5/9/2023 (Info 786). DIREITO PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 28 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Para a configuração do crime de redu- ção a condição análoga à de escravo (art. 149 do CP), não é indispensável a restriçãoda liberdade das vítimas O crime de redução a condição análoga à de escravo pode ocorrer independentemente da restrição à liberdade de locomoção do traba- lhador, uma vez que esta é apenas uma das formas de cometimento do delito, mas não é a única. O art. 149 do CP prevê outras condutas que podem ofender o bem juridicamente tutelado, isto é, a liberdade de o indivíduo ir, vir e se au- todeterminar, dentre elas submeter o sujeito passivo do delito a condições degradantes de trabalho. Assim, a efetiva restrição de liberdade das vítimas é prescindível para a configuração do crime de redução a condição análoga à de escravo. STJ. 5ª Turma. REsp 1.969.868-MT, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 12/9/2023 (Info 787). � Súmula 658 do STJ Súmula 658-STJ: O crime de apropriação indé- bita tributária pode ocorrer tanto em opera- ções próprias, como em razão de substituição tributária. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/9/2023. �No REsp 1.977.165/MS, o STJ relativi- zou o entendimento do Tema 918 e da Súmula 593; neste caso, o STJ afirmou que a situação era diferente e decidiu que houve crime Não cabe a distinção realizada no julgamen- to do REsp 1.977.165/MS - caso de dois jo- vens namorados, cujo relacionamento tinha aquiescência dos genitores da vítima, sobre- vindo um filho - na hipótese em que não há consentimento da responsável legal - o que impossibilita qualquer relativização da pre- sunção de vulnerabilidade de menor de 14 anos no crime de estupro de vulnerável. O fato de a vítima ter passado a viver em união estável com o réu tão somente reforça o contexto de sexualização precoce no qual se encontra inserida, sendo o seu consentimen- to infantil incapaz de afastar a tipicidade da conduta, consoante expressamente dispõe o art. 217-A, §5º, do Código Penal. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.979.739/MT, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/8/2023 (Info 787). DIREITO PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 29 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O princípio da insignificância pode ser aplicado para o contrabando de até mil maços de cigarro, salvo se houver reiteração O princípio da insignificância é aplicável ao crime de contrabando de cigarros quando a quantidade apreendida não ultrapassar 1.000 (mil) maços, seja pela diminuta reprovabilida- de da conduta, seja pela necessidade de se dar efetividade à repressão a o contrabando de vulto, excetuada a hipótese de reiteração da conduta, circunstância apta a indicar maior re- provabilidade e periculosidade social da ação. STJ. 3ª Seção. REsps 1.971.993-SP e 1.977.652- SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. para acór- dão Min. Sebastião Reis Junior, julgado em 13/9/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1143) (Info 787). �Apenas a vítima pode requerer a designação da audiência prevista no art. 16 da LMP para a renúncia à representação; é vedado ao Poder Judiciário designá-la de ofício ou a requerimento de outra parte A Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) admite a renúncia à representação, desde que oferecida antes do recebimento da denúncia: Art. 16. Nas ações penais públicas condicio- nadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. A interpretação no sentido da obrigatoriedade da audiência prevista no art. 16, sem que haja pedido de sua realização pela ofendida, viola o texto constitucional e as disposições inter- nacionais que o Brasil se obrigou a cumprir, na medida em que discrimina injustamente a própria vítima de violência. Desse modo, deve ser dada interpretação conforme a Constituição ao art. 16, no sentido de reconhecer a inconstitucionalidade: i) da designação, de ofício, da audiência nele prevista; e ii) do reconhecimento de que eventual não comparecimento da vítima de violência do- méstica implique “retratação tácita” ou “re- núncia tácita ao direito de representação”. STF. Plenário. ADI 7.267/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/8/2023 (Info 1104). DIREITO PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 30 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Laudo pericial produzido pela polícia e o MP, sem observar as formalidades legais, foi juntado aos autos depois da pronúncia; esse laudo é prova ilícita e deve ser de- sentranhado, mas a decisão de pronúncia é válida porque não se baseou nele Ainda que os elementos de prova produzidos unilateralmente pelo Ministério Público e pela autori- dade policial, juntados após a sentença de pronúncia, sejam nulos, não existe nulidade a ser reco- nhecida na pronúncia quando sua fundamentação não utilizou essas provas. STJ. 6ª Turma. REsp 2.004.051-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/8/2023 (Info 784). � Sem autorização judicial, é ilícita a solicitação de relatórios de inteligência fi- nanceira feita pela autoridade policial ao COAF (atual UIF) O STF, ao julgar o RE 1.055.941/SP (Tema 990) fixou a tese no sentido de que é válido o compartilha- mento dos RIFs (relatórios de inteligência financeira) com a Polícia e o MP para fins criminais sem prévia autorização judicial. Assim, constatada pela UIF alguma possível ilegalidade, ela pode (e deve) compartilhar o RIF com os órgãos de persecução penal, sem necessidade de prévia autorização judicial. Por outro lado, a decisão do STF no Tema 990 não autoriza que a autoridade policial ou o MP pos- sam requisitar diretamente ao COAF/UIF o envio dos relatórios de inteligência financeira sem autori- zação judicial. Essa situação é diversa da que foi decidida pelo STF. Deixando mais claro: • o STF, no Tema 990, decidiu que a UIF pode compartilhar os RIFs com os órgãos de persecução penal mesmo sem autorização judicial; • o STF, no Tema 990, não decidiu que os órgãos de persecução penal podem requisitar diretamen- te os RIFs da UIF sem autorização judicial. STJ. 6ª Turma. RHC 147.707-PA, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 15/8/2023 (Info 784). � Súmula 660 do STJ Súmula 660-STJ: A posse, pelo apenado, de aparelho celular ou de seus componentes essenciais constitui falta grave. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/9/2023. DIREITO PROCESSUAL PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 31 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A fixação de valor mínimo (art. 387, IV, do CPP) para reparação dos danos morais causados pela infração exige apenas pedido expresso na inicial, sen- do desnecessárias a indicação de valor e a instrução probatória específica Para fixação de indenização mínima por danos morais, nos termos do art. 387, IV, do CPP, não se exige instrução probatória acerca do dano psíquico, do grau de sofrimento da vítima, bastando que conste pedido expresso na inicial acusatória, garantia suficiente ao exercício do contraditório e da ampla defesa. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.984.337/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 6/3/2023. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.029.732-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 22/8/2023 (Info 784). � Súmula 661 do STJ Súmula 661-STJ: A falta grave prescinde da perícia do celular apreendido ou de seus com- ponentes essenciais. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/9/2023. � Súmula 662 do STJ Súmula 662-STJ: Para a prorrogação do pra- zo de permanência no sistema penitenciário federal, é prescindível a ocorrência de fato novo; basta constar, em decisão fundamenta- da, a persistência dos motivos que ensejaram a transferência inicial do preso. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/9/2023. �A proibição de consumo de álcool imposta como condição especial ao apenado somente é válida se for fundamentada em circunstâncias específicas do crime pelo qual o con- denado foi sentenciado Os arts. 115 e 116 da Lei de Execuções Penais autorizam o Juízo das exe- cuções a estabelecer condições es- peciais de cumprimentode pena em regime aberto. Vale ressaltar, contudo, que a criação de regra que destoe das condições gerais e obrigató- rias previstas nos incisos do art. 115 da LEP pressupõe, necessariamente, que a imposição seja acompanhada de fundamentação que justifique adequadamente, com base no caso concreto, a restrição imposta ao executado. A proibição genérica de consumo de álcool imposta como condição especial ao apenado, com o argumento geral de preservar a saúde mental do condenado ou prevenir futuros cri- mes, deve vincular a necessidade da regra às circunstâncias específicas do crime pelo qual o condenado foi sentenciado. STJ. 3ª Seção. Rcl 45.054-MG, Rel. Min. Reynal- do Soares da Fonseca, julgado em 9/8/2023 (Info 784). DIREITO PROCESSUAL PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 32 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Havendo solução de continuidade entre os mandatos, não exercidos de maneira ininterrupta, cessa o foro por prerrogativa de função referente a atos praticados durante o primeiro mandato Exemplo adaptado: João, Deputado Federal, respondia inquérito no STF em razão da suposta prática de crime cometido no exercício do mandato e relacio- nado com as suas funções. Ele renunciou ao mandato de parlamentar federal para assumir o cargo de Vice-Go- vernador, razão pela qual o STF declinou da sua competência para o juízo de 1ª instância considerando que não havia mais o foro por prerrogativa de função perante o Supremo. Antes que a ação penal fosse julgada em 1ª instância, o acusado foi diplomado Senador da República. João continuará sendo julgado em 1ª instân- cia porque houve a quebra da necessária e indispensável continuidade do exercício do mandato de parlamentar federal para fins de prorrogação da competência, conforme é exigido pelo STF em situações como essa. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 182.049-DF, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 8/8/2023 (Info 785). � É nula a decisão que apenas realiza remissão aos fundamentos de tercei- ros, desprovida de acréscimo pessoal que indique o exame do pleito pelo julgador e clarifique suas razões de convencimento Sob pena de nulidade, a utilização da funda- mentação per relationem demanda, ainda que concisamente, acréscimos de fundamen- tação pelo magistrado ou exposição das pre- missas fáticas que formaram sua convicção. No caso concreto, o Ministério Público solici- tou a quebra de sigilo bancário do suspeito. O magistrado deferiu o pedido em decisão manuscrita que dizia apenas o seguinte: “Defi- ro integralmente os pedidos formulados pelo Ministério Público, às fls. 640/658, nos termos da fundamentação apresentada.” O STJ considero que essa decisão foi nula por ausência de fundamentação. Não havendo nenhum acréscimo de funda- mentação ou mesmo exposição das premis- sas fáticas que motivaram o convencimento do magistrado, deve-se anular a autorização de quebra de sigilo bancário e de todas as provas daí decorrentes, excetuadas as provas independentes e não contaminadas. STJ. 6ª Turma. REsp 2.072.790/DF, Rel. Min. An- tonio Saldanha Palheiro, julgado em 8/8/2023 (Info 785). DIREITO PROCESSUAL PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 33 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A plenitude de defesa exercida no Tribunal do Júri não impede que o magistrado avalie a pertinência da produção da prova A Constituição prescreve a plenitude de defe- sa como postulado fundamental do Tribunal do Júri, nos termos de seu art. 5º, inciso XXX- VIII, alínea “a”. O direito à prova é instrumento para o exer- cício adequado da plenitude de defesa. To- davia, o direito à produção de provas não é absoluto. Ao magistrado é conferida discricio- nariedade para indeferir, em decisão funda- mentada, as provas que reputar protelatórias, irrelevantes ou impertinentes. A discricionariedade judicial é balizada pela avaliação dos critérios da objetividade e da pertinência da prova. Caso concreto: o juiz indeferiu a prova pericial no celular da vítima de homicídio para atestar conversa dela com o réu. O indeferimento foi motivado no fato de que já havia sido feita perícia no celular do acusado, tendo sido comprovada a veracidade da conversa. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 676120/MA, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 5/9/2023 (Info 786). �A má formulação de quesito, com im- putações não admitidas na pronún- cia, causa nulidade absoluta e justi- fica exceção à regra da impugnação imediata, afastando-se a preclusão No que tange à disciplina das nulidades ati- nentes à quesitação ofertada aos jurados, as eventuais irregularidades, que caracterizam nulidade relativa, ensejam a sua imediata con- testação e a prova do prejuízo para a parte a quem aproveita a nulidade. Nesse contexto, segundo a dicção do art. 484 do CPP, após formular os quesitos o juiz-pre- sidente os lerá, indagando às partes se têm qualquer objeção a fazer, o que deverá cons- tar obrigatoriamente em ata. E, nos termos do art. 571, VIII, do diploma mencionado, as nulidades deverão ser arguidas, no caso de julgamento em Plenário, tão logo ocorram. Entretanto, essa não é a hipótese. Isso por- que, nas particularidades do caso concreto, a má formulação do quesito de n. 2 deve ser considerada como causa de nulidade absoluta e sua elevada gravidade justifica excepcionar a regra da impugnação imediata, afastando-se a hipótese de preclusão. O Tribunal de Justiça, no julgamento do recur- so em sentido estrito, para a delimitação da imputação da decisão de pronúncia, determi- nou a exclusão de parte das condutas atribuí- das aos réus. STJ. 6ª Turma. REsp 2.062.459-RS, Rel. Min. Ro- gerio Schietti Cruz, Rel. para acórdão Min. An- tonio Saldanha Palheiro, julgado em 5/9/2023 (Info 786). DIREITO PROCESSUAL PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 34 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Mesmo com a expedição de carta pre- catória, que não suspende a instrução criminal, o interrogatório deve ser o último ato, não podendo ser realizado antes da oitiva das testemunhas O interrogatório do réu é o último ato da ins- trução criminal. A inversão da ordem prevista no art. 400 do CPP tangencia somente à oitiva das testemu- nhas e não ao interrogatório. O eventual reconhecimento da nulidade se sujeita: • à preclusão, na forma do art. 571, I e II, do CPP, e • à demonstração do prejuízo para o réu. STJ. 3ª Seção. REsps 1.933.759-PR e 1.946.472- PR, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 13/9/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1114) (Info 787). � É inconstitucional o uso da tese da legítima defesa da honra em crimes de feminicídio ou de agressão contra mulheres É inconstitucional o uso da tese da “legítima defesa da honra” em crimes de feminicídio ou de agressão contra mulheres, seja no curso do processo penal (fase pré-processual ou processual), seja no âmbito de julgamento no Tribunal do Júri. Essa tese é inconstitucional por contrariar os princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF/88), da proteção à vida (art. 5º, “caput”, CF/88) e da igualdade de gênero (art. 5º, I, CF/88). STF. Plenário ADPF 779/DF, Rel. Min. Dias Tof- foli, julgado em 1º/8/2023 (Info 1105). � É constitucional a Resolução do CNJ que determinou a tramitação da exe- cução penal em todo país por meio do Sistema Eletrônico de Execução Unifi- cado (SEEU) É constitucional a Resolução CNJ 280/2019 (com a redação dada pela Resolução CNJ 304/2019), que estabelece diretrizes e parâ- metros para o processamento da execução penal nos tribunais brasileiros e determina, entre outras providências, que todos os pro- cessos nessa fase processual tramitem pelo Sistema Eletrônico de Execução Unificado (SEEU). O Sistema Eletrônico de Execução Unificado (SEEU), enquanto sistema unificado de trami- tação eletrônica dos processos de execução penal, representa sensível incremento na eficiência de gestão do
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