Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PESQUISA SOBRE AS ASPIRAÇÕES NACIONAIS COM VISTAS À REFORMA DA CONSTITUIÇÃO RELATÓRIO PRELIMINAR Introdução RELATORES: AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO ANA LUCIA DE LYRA TAVARES NEI ROBERTO DA SILVA OLIVEIRA Introdução; 1. Singularidades desta pesquisa; 2. Objetivos; 3. Desenvolvimento dos trabalhos; 4. Análise dos dados quantitativos; 5. Primeiras conclusões. ANA LUCIA DE LYRA TAVARES Desde abril de 1980, constitui uma das principais atividades do INDIPO a realização de uma ampla sondagem, de âmbito nacional, com o objetivo de identificar as aspirações mais profundas dos segmentos representativos da so ciedade brasileira, relativas a uma reestruturação constitucional. Desejoso de associar, de forma íntima e continuada, esses mesmos segmentos à sua iniciativa, através do acompanhamento das diferentes fases desse estudo, o Instituto programou o presente relatório preliminar para ser apresentado no final de 1982, conforme anunciara à Comissão de Constituição e Justiça do Se nado Federal o seu diretor, o Prof. Afonso Arinos de Melo Franco. l Visa-se, pois, com este documento - a partir da indicação das finalidades da pesquisa e de suas bases teórico-metodológicas - oferecer um primeiro re lato dos trabalhos até agora desenvolvidos, bem como uma análise inicial, de natureza quantitativa, fundada na codificação das respostas às indagações fe chadas dos questionários recebidos até agosto de 1982.2 Ressalte-se, por fim, a natureza provisória de certas observações para a formu lação das quais torna-se necessário o completo cotejo dos dados quantitativos e qualitativos fornecidos pela totalidade dos questionários, objeto do relatório final. 1. Singularidades desta pesquisa Sem desconhecer que é da conjugação do tema escolhido com o processo empregado para examiná-lo que decorrem, em toda a sua extensão, os traços 1 Cf. Melo Franco, Afonso Arinos de. Poderes constituintes do Congresso. Brasília, Senado Federal, 1981. p. 37. " Os quadros estatísticos compõem o Anexo deste relatório. R. Ci. pol.. Rio de Janeiro, 26(1):83-195, jan./abr. 1983 peculiares da pesquisa aqui focalizada, optou-se, porém, pela abordagem em separado desses dois elementos, pois ela, ao invés de impedir, enriquece aquela inter-relação. 1 . l. Quanto ao tema Os critérios que, no Brasil, têm presidido à seleção de temas de pesquisa na área jurídica, sobretudo em nível individual, decorrem geralmente de motivações pessoais, subjetivas. Nota-se, outrossim, uma tendência recente de privilegiar-se estudos de oportunidade e interesses evidentes, sobretudo quando desenvolvidos por instituições que, para eles, pleiteiam financiamento oficial.3 Antes, porém, que ficasse patente a intenção de favorecer-se certas linhas de pesquisa, era possível verificar, em alguns campos jurídicos, particularmente no penal, a predominância dos critérios de necessidade e utilidade imediatas e a adoção de métodos sócio-jurídicos que permitissem identificar as opiniões e ex pectativas sobre o assunto.4 Na área do direito constitucional, os inúmeros estudos atuais sobre a ne cessidade de uma reforma constitucional e de suas linhas-mestras,S bem como a confecção de anteprojetos de Lei Magna,6 decorrem, sem dúvida, do reconheci mento de seu interesse comum imediato e de sua oportunidade, obedecendo, em parte, à orientação referida. Dela se afastam, contudo, pelo seu desenvolvimento em bases apriorísticas e restritas. As sugestões neles apresentadas provêm, com efeito, de diagnósticos calcados em teses pessoais ou de grupos de especialistas. Sob este aspecto, deles se distingue, substancialmente, a presente pesquisa, cujo título indica que o objetivo principal é a identificação de aspirações, expec tativas, opiniões e atitudes sobre o assunto. Não se visa, pois, a formulação de propostas, resultantes de teses e observações pessoais da realidade nacional. O que aqui se pretende é apontar as principais tendências reveladas pelos dados que, sobre a matéria, forem colhidos na consulta às correntes representativas da sociedade brasileira. 3 Ver o trabalho, ainda em versão preliminar, do Prof. Joaquim de Arruda Falcão Neto - Avaliação e perspectivas 1982: pesquisa e pós-graduação em direito. Recife. Instituto Joa quim Nabuco, 1982 - no qual, após amplo levantamento de dados e opiniões, propõe o apoio oficial prioritário a "pesquisas jurídico-científicas, de cunho zetético de base ou apli cada, voltadas metodologicamente para a realidade social brasileira presente ( ... ) (p. 14). ~ Lembra Madeleine Grawitz, professora da Universidade de Paris, que "as pesquisas em ciências sociais visam detectar o que o homem pensa, sente, crê, teme, espera, aspira; como age e reage; suas opiniões, atitudes e motivações". (Ver Méthodes eles sciences sociales. Paris, DaIloz, 1976. p. 513). Com esta finalidade, na área jurídica, no Brasil, têm sido desenvolvidos estudos sobre delinqüência e criminologia. Ilustra este último tipo o em preendido pela Procuradoria Geral da Justiça de São Paulo sobre" A criminalidade violenta", através de indagações encaminhadas a 2.300 leitores, de seu órgão de divulgação, a revista Justitia, e cujos resultados figuram no v. 111, nl? 42, out.-dez. de 1980. Ver também as pesquisas sócio-jurídicas empíricas brasileiras relatadas na obra de Souto, Cláudio & Falcão, Joaquim. Sociologia e direito. São Paulo, Pioneira, 1980. p. 255-312. S Ver, por exemplo, as comunicações do Congresso de Direito Constitucional de Belo Ho rizonte, realizado em maio de 1982. 6 Como o anteprojeto da OAB, divulgado e debatido no Congresso Pontes de Miranda, em setembro de 1981, em Porto Alegre. 84 R.C.P. 1/83 Esta finalidade é, ao que se sabe, pioneira nos estudos de direito constitucional empreendidos no Brasil. Decorre ela de convicções de ordem vária, sendo a primeira delas a da necessidade de uma reedificação constitucional, uma vez que o atual texto, além de carecer de uma fundamentação filosófica para a ação reguladora e transformadora do Poder,1 parece não corresponder mais aos an seios da sociedade brasileira. Esta correspondência - e é a segunda premissa - é imprescindível para a durabilidade e eficácia da Lei Magna.8 Sem entrar-se em considerações sobre o problema da legitimidade que esta idéia envolve, uma, vez que o assunto foi objeto de indagação no questionário da pesquisa,9 serão evocadas apenas algumas observações de Burdeau a esse respeito. Lembra o eminente constitucionalista francês que o consentimento é o funda mento básico da legitimidade e da eficácia do Poder. Este consentimento de corre, contudo, da adequação do Poder à idéia de direito predominante no grupo social, o qual resulta, por sua vez, "da coesão das vontades dirigidas para uma organização social melhor".lO Assim, "a idéia de direito que se incorpora na instituição estatal é uma idéia de direito nacional. Todas as aspirações que vi mos se conjugarem para constituir o sentimento nacional encontram-se na origem da idéia do direito".u Definir, portanto, a Constituição, ainda nas palavras de Burdeau, não é "mon tar um mecanismo harmonioso, suscetível de satisfazer a inteligência especulati va; é admltir, em primeiro lugar, que a Constituição nunca deixou de ser, no decorrer dos séculos, o ponto de convergência de aspirações humanas; e pro curar, em seguida, aquelas aspirações a que a Constituição pode satisfazer, para finalmente propor a sua imagem definitiva, a fim de que os povos possam dela tirar proveito, sem se expor às decepções que lhes causaria a crença numa pa nacéia" (o grifo é nosso) .12 Para reforçar e enriquecer o pensamento do ilustre professor francês, vale serem transcritas algumas observações da socióloga Madeleine Grawitz, que se ajustam, de forma perfeita, à natureza e aos objetivos desta pesquisa. Assinala esta professora da Universidade de Paris I, no seu livro que obteve prêmio da Academia de Ciências Morais e Políticas da França: "As forças mais oumenos organizadas exprimem as idéias e as aspirações dos governados, isto é, o patri mônio intelectual ou espiritual, as tradições, as doutrinas e ideologias de uma época determinada. ( ... ) <tA noção de aspiração não se expressa, exaustiva mente, na representação política. Há algo de mais profundo e mais complexo vinculado à finalidade do poder e de sua legitimidade. O poder mais sólido é o que representa, verdadeiramente as aspirações da coletividade." (O grifo é nosso). E conclui: "Não se pode estudar, separadamente, os governantes e os gover nados, pois que há uma interação entre a forma pela qual o poder atua em re lação às necessidades dos governados e a reação dos mesmos."13 i Ver Melo Franco, Afonso Arinos de. op. cit. p. 8. 8 Ver Melo Franco, Afonso Arinos de. Relatório sobre reformas políticas. In: --o O Som do outro sino. Editora da Universidade de Brasília, 1978. p. 309. 9 Embora tenha sido ele examinado, nos seus estudos preparatórios, à luz, sobretudo, dos importantes trabalhos reunidos por Paul Bastid, em L'ldée de légitimité, e da obra de Elias Díaz, Legalidad y legitimidad en el socialismo-democrático. (Madrid, Civitas, 1978). 10 Burdeau, Georges. Traité de science politique. Paris, LGDJ, 1949. v. 2: L'Etat, p. 116. 11 Id. ibid. p. 108. 12 Id. ibid. p. 11. )j Grawitz, Madeleine. op. cito p. 272. Pesquisa 85 A terceira e última convicção que cabe, por ora, registrar, diz respeito ao re conhecimento de uma capacidade transformadora do texto constitucional. Ante os graves problemas sociais e econômicos com que se defronta o País, acredi ta-se que um texto constitucional, resultante de um processo que lhe assegure a adesão das forças sociais de sustentação, fornecerá as bases para a elaboração de um instrumental jurídico apropriado ao equacionamento daqueles proble mas. 14 A tese da função transformadora, exercida pela Constituição, não é, aqui, sustentada sem reservas. IS Na verdade, essa capacidade propulsora, não pode ser considerada como inerente ao texto constitucional. Ela tem suas raízes na própria realidade social, e é efetiva na medida em que este texto traduza, de forma adequada, os interesses político-jurídicos básicos das forças representa tivas da sociedade. 1 .2 Quanto ao método A natureza do tema selecionado condicionou os procedimentos adotados para o seu exame. Um estudo visando detectar expectativas em relação a normas constitucionais requeria um desenvolvimento dentro de uma perspectiva sócio jurídica, com a associação de técnicas próprias à sociologia (questionários e análise de conteúdo) àquelas peculiares ao direito (formulações teóricas, de correntes de um processo lógico-formal de raciocínio, aplicação de princípios hermenêuticos, etc.). Esse enquadramento, quase que automático, na área da sociologia jurídica, acentuou a singularidade da pesquisa, pois que o emprego das técnicas sociológicas aludidas era inédito em se tratando de estudos sobre reforma constitucional, tradicionalmente empreendidos, no Brasil, por grupos restritos de juristas, com recurso aos métodos jurídicos. Inspirou-se a presente pesquisa em iniciativa similar do governo suíço que, em 1967, constituiu um grupo de trabalho para, através do levantamento de opiniões dos cantões, universidades, partidos e outros meios idôneos e interessa dos, indicar os fundamentos e os elementos principais de uma futura Constituição federal. Atentou-se, especialmente, para as vantagens que uma consulta popular desse gênero traria ·para o fortalecimento dos vínculos entre o indivíduo e o Estado.16 Em condições materiais e humanas muito diversas das que caracterizaram o desenvolvimento do estudo suíço - patrocinado pelo próprio Governo - o INDIPO, ao ver frustradas suas tentativas de obtenção de apoio financeiro ex terno, foi compelido a reduzir as proporções de sua sondagem e a abrir mão de técnicas, como a de entrevistas locais, que a tornariam por demais onerosa. U Ver Melo Franco, Afonso Arinos de. Aula inaugural na Universidade Federal do Paraná. em 24.3.1980. In: Estudos Brasileiros, Curitiba, 8(13):104, 1982. IS Um de seus ilustres defensores, o ProL Garcia Cotarelo, assinala que ela se caracteriza por conceber a Constituição "como um instrumento dinâmico, quase como um mecanismo, um centro motor de um sistema que permite sua utilização com fins de transformação so cial e econômica". Apud Contreras, Manuel. Sobre las transformaciones constitucionales. Revista de Estudios Políticos, Madrid, (16):170. jul./ago. 1980. 15 Ver Groupe de travail pour la préparation d'une révision totale de la Constitution fédé rale - Rapport final. Berne, Centrale Fédérale des Imprimés et du Matériel, 1973. v. 6. 86 R.C.P. 1/83 ---~----------------- Entretanto, como se tem verificado na fase inicial de avaliação, os imperativos dessa ordem não diminuíram o grau de receptividade do estudo, nem a quali dade das contribuições até agora recebidas. Sobre a oportunidade do tema, cabe, desde já, mencionar alguns dados signi ficativos: a) até agora, 94% dos respondentes manifestaram seu interesse sobre debates relativos à reforma constitucional.17 Nas razões alinhadas pelos professores de direito constitucional, ciência política e teoria do Estado - o único segmento por ora examinado, na parte aberta desta questão - preponderam referên cias às condições de cidadão e de professor das mencionadas disciplinas, moti vadoras de sua participação dos estudos visando a reconstrução política e jurídica do País.18 Os poucos que se confessam, normalmente, descrentes de tais debates revelam a possibilidade de uma mudança de atitude perante indagações isentas e construtivas, formuladas por uma instituição de reconhecida tradição no exame da matéria; b) a convicção de que uma reforma constitucional ensejará um aperfeiçoamento do regime democrático é partilhada por 82,8% dos interrogados, desde que - assinalam os professores - ela seja fruto de um amplo debate que permita maior participação popular c concorra para a supressão de certos dispositivos (tais como: eleição indireta, decurso de prazo, delegação legislativa, fidelidade partidária e estado de emergência) que entravam a prática daquele regime; c) no quadro de assuntos prioritários a requererem a atenção das autoridades figura, ao lado do desemprego e da inflação, o tema da reforma constitucional. 19 Ressalte-se que esta questão, como grande parte das demais, de cunho fechado, comporta\"a a indicação de outros assuntos nela não relacionados, o que toma estes índices mais relevantes. 2. Objetivos Traduz o título dessa pesquisa o seu objetivo primeiro, qual seja, o de iden tificar as aspirações de segmentos representativos da sociedade brasileira sobre a reforma constitucional. Detectadas as tendências principais relativas ao processo de reestruturação constitucional e a temas suscetíveis de serem objeto da Lei Magna, não se pre tende elaborar um anteprojeto de Constituição. Tenciona-se, sim, encaminhar as conclusões da consulta ao Poder Legislativo, a título de subsídio para a sua missão de reedificação constitucional.20 Associando esta finalidade de cunho uti litário àquelas meramente acadêmicas, acredita o Instituto estar imprimindo uma direção adequada a este seu esforço para o aperfeiçoamento da vida institucional brasileira. No desempenho de sua tarefa reconstitucionalizadora, o Poder Legis- li Ver Anexo 1, quadro 1. 18 O que não impede de assinalar que, até agora, o índice de participação desse segmento esteja bem aquém das expectativas. 19 Ver Anexo 1, quadros 7 a 7. 10. ~o Ver Melo Franco, Afonso Arinos de. Discurso de posse do diretor do INDIPO. Revista de Ciência Política, FGV, 23(2):5-6, maio/ago. 1980. fcsquisa 87 lativo, por certo, não poderá prescindir de diagnósticos21 como este que, sem qualquer conotação político-partidária, são suscetíveis de revelar as concepções jurídico-políticas predominantes no meio social. Além desses, fixaram-seos seguintes objetivos específicos - de natureza di versa, e por isso mesmo, não escalonáveis - à luz dos quais foram elaboradas as indagações: a) verificar a existência ou não de aspirações nacionais sobre a matéria e buscar as causas da ausência de opinião;22 b) identificar globalmente, e por segmentos, as tendências majoritárias em re lação ao assunto. Note-se que a análise por grupos sociais não contraria, mas aprofunda, a avaliação global das expectativas, meta prioritária do estudo;23 c) suscitar manifestações sobre questões básicas de um texto constitucional e sobre problemas notoriamente polêmicos, suscetíveis de serem focalizados na Lei Magna, o que explica a extensão dos questionários, os quais, sem serem de talhados, são bastante abrangentes. Uma orientação contrária, isto é, a formula ção de um número reduzido de perguntas, restringiria o campo da reflexão e prejudicaria o seu aprofundamento. É evidente que nem todos os interrogados teriam motivação, conhecimento e tempo para responder à totalidade das per guntas, razão pela qual foram alertados da conveniência de se limitarem àquelas que lhes despertassem maior interesse ou em relação às quais se considerassem mais familiarizados. No que se refere à abrangência dos questionários, obser va-se, até o momento, que ela tem se revelado satisfatória, uma vez que são poucos os respondentes que se valem da questão final para indicar temas ne les não focalizados; d) conferir um caráter educativo ao trabalho, acentuando-se a importância da participação individual e dos diversos grupos sociais no processo de constitucio nalização, além de levar os interrogandos à consulta da Constituição em vigor. Na verdade, um conhecimento maior de certos aspectos do texto vigente reve la-se útil, sobretudo para os leigos na matéria, para evidenciar "a desconexão maior ou menor entre os sistemas de valores reconhecidos socialmente e o sis tema de valores incorporados ao ordenamento jurídico positivo".24 21 A esse respeito, assim manifestou-se o ProL Miguel Reale, em entrevista ao Jornal do Brasil: "De que adiantaria reunir os deputados e senadores sem que tais matérias houvessem sido previamente amadurecidas, através de pesquisas, dados estatísticos e outros? Não creio que o Espírito Santo Cívico possa descer numa Assembléia, para iluminá-Ia no sentido de - por encanto ou improviso - torná-Ia apta a oferecer um estatuto capaz de ser o 'abre-te Sésamo' da felicidade nacional" (reproduzida com o título" A crise constitucional do Brasil". in: Digesto Econômico, n.O 283, ago. 1981. 22 Finalidade expressa, sobretudo, nas duas primeiras perguntas de ambos os questionários (Anexo 2). 23 São de Burdeau estas ponderações: "I! inútil penetrar nos meandros das psicologias individuais, pois, por melhor que conseguíssemos classificar os móveis de adesão, que o Poder encontra na consciência humana, teríamos apenas recolhido uma poeira de informações sobre a qual nada poderia ser edificado" (op. cit. v. 2, p. 115). No mesmo sentido. mani festa-se Madeleine Grawitz: "Por um jogo de interações complexas, o que cada um sente, teme, espera, resulta num total diferente, algo que não é a soma das vontades individuais" (op. cito p. 53). 24 Díaz, Elias. Sociologia y filosofia deI derecho. Madrid, Taurus Ediciones, 1976. p. 214. 88 R.C.P. 1/83 3. Desenvolvimento dos trabalhos 3.1 Etapas vencidas 3.1.1 Estudos preparatórios o termo estudos está, aqui, empregado num sentido amplo, para indicar não só documentos elaborados pela equipe da pesquisa visando a montagem do projeto, como também as reuniões de especialistas em que o assunto foi exami nado. 3. 1.1.1 Doutrinários A natureza essencialmente interdisciplinar do tema levou a que se fizesse confluir para o seu exame elementos teóricos básicos, provenientes, sobretudo, do direito constitucional, da sociologia jurídica, da ciência política e da socio logia política, embora alguns autores não façam distinção entre essas duas úl timas áreas do conhecimento.25 Serviram de fonte de consulta trabalhos clássicos e recentes, nacionais e estrangeiros, desses campos do saber.26 Constituiu, porém, o ponto de partida, a análise de conteúdo de uma obra nacional básica e atual de direito constitucional,27 que permitiu a seleção de conceitos-chave e orientou a delimitação dos campos de indagação. À indicação completa de elementos clássicos e modernos que concorrem para o arcabouço conceitual desta pesquisa, preferiu-se destacar os seguintes pessu postos teóricos que podem ser inferidos do seu próprio título, assim como do enunciado de certas questões: a) a concepção de Constituição como o elemento condicionante de todo o ins trumental jurídico,28 integrante de uma estrutura mais ampla e, por isso mesmo, só tendo sentido quando articulada com os componentes sociais, ideológicos, culturais, econômicos e políticos dessa estrutura;29 b) o reconhecimento de que um texto constitucional não desempenha apenas um papel de tradutor dos valores normativos predominantes, mas também o de propulsor de transformações sociais;30 25 Entre eles, Roger-Gérard Schwartzenberg. professor da cadeira na Universidade de Paris. que considera as duas expressões "quase sinônimas". (Ver Sociologie po/itique. Paris. Montchrestien, 1977. p. v.) 26 Os principais trabalhos consultados deverão ser listados no relatório final. 27 Melo Franco, Afonso Arinos de. Direito constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro, Forense. 1981. Esta análise baseou-se no trabalho do Prof. Maurice Duverger - Ciência política: teoria e método. Rio de Janeiro, Zahar, 1962 - e figura no documento em que foi apre sentado o Projeto da pesquisa. 28 Ver Melo Franco, Afonso Arinos de. Aula inauguraL .. op. cit. p. 104; e Tamayo y Salmorán, Ricardo. Cambios constitucionales. p. 161. 29 García-Pelayo, Manuel. Organizaciones de interesses y teoria constitucional. In: Cons tItllción y grupos de presión en América Latina. México, UNAM, 1977. p. 29-30. 30 Ver a coletânea de trabalhos de Resta, Eligio, org. Diritto e transformazione sociale. Roma, Laterza, 1978. Pesquisa 89 c) a associação dos atributos de eficácia e estabilidade da Lei Magna ao de senvolvimento de um processo constituinte em que o recurso aos mecanismos de debate31 permita levar em conta os anseios dos "atores político-constitucionais";32 d) a verificação da necessidade de o ordenamento jurídico fundamental obter o apoio das forças políticas, sociais, econômicas e culturais que atuam sobre a \'ida institucional para superar-se a tradicional defasagem entre o formal e o real;33 e) o juízo de que o desenvolvimento de um processo de reconstitucionalização em bases nacionais não é incompatível com o recurso à experiência constitucional estrangeira contemporânea. Com efeito, nela podem ser colhidos subsídios válidos para o aperfeiçoamento do texto fundamental, à luz dos conhecimentos forne cidos pelos estudiosos de transplantes jurídicos, evitando-se, assim, os riscos de uma recepção inadequada ou conduzida. como nos textos anteriores, de forma irrealista ;34 Dentro dessa orientação, foram analisados pronunciamentos recentes de par lamentares e juristas sobre a matéria, assim como os processos suíço, espanhol e português de reforma constitucionaJ.35 Em relação ao modus faciendi da reforma, procurou-se aprofundar o exame de atos legislativos suscetíveis de viabilizar a outorga de poderes constituintes a um novo Congresso. Foram, então, elaboradas notas sobre as resoluções legis lativas - nelas incluída a resolução concorrente do sistema norte-americano - e os decretos legislativos. A esse respeito, vale mencionar que até o momento o número de entrevista dos que preferiram tal alternativa equivale ao dos defensores de uma Assembléia Constituinte,36 segunda opção proposta. Entre os méritos apontados pelos que indicaram a primeira fórmula estão a rapidez, a tranqüilidade e a autenticidade de um processo conduzido pelos legítimos representantes da vontade popular. Um dos entrevistados evocou o pre cedente da lei de 12 de outubro de 1832, do período em que Francisco de Lima e Silva era Secretário dos Negócios do Império. O parágrafo inicial do seu ar tigo único dispunha: "Os eleitores dos deputados para a seguinte legislatura lhes conferirão nas procurações especial faculdade para reformarem os artigos da Constituição ... " Os que apóiam a segunda fórmula, embora reconheçam 'I Sobre a importância de multiplicação desses mecanismos, ver, entre outros, Lafer, Celso. O Sistema político brasileiro, São Paulo, Perspectiva, 1978. p. 122. 32 Denominação dada por García-Pelayo às entidades extraconstitucionais (elites políticas. partidos, grupos de pressão e de interesse) "através das quais se atualiza a Constituição e que representam a mediação entre o sistema constitucional como mera ordem normativa e o sistema constitucional como ordem jurídico-política de um povo". García-Pelayo, M. op. cito p. 10. 33 Ver, por exemplo, as sugestões de José Guillermo Acuíia, para vencer-se este descom passo, entre elas a análise das causas que impedem a participação mais ampla dos diversos grupos nos benefícios sociais (Los Cambias constitucionales. México, UNAM, 1977. p. 6 e 10. Por outro lado, como lembra Afonso Arinos de Melo Franco, "quando os instrumen tos constitucionais coincidem com as conveniências históricas predominantes, eles são eficazes e duradouros" (Relatório sobre reformas. " op. cit. p. 309). 34 Ver as obras clássicas de direito constitucional comparado de García-Pelayo, Biscaretti di Ruffia, Luis Sanchez Agesta, além dos estudos recentes sobre importações jurídicas. desenvolvidos não só naquela área como também na da sociologia do direito. 35 Estes e os demais estudos preliminares deverão figurar, em anexo, no relatório final da pesquisa. 36 Ver Anexo 1, quadro 13. 90 R.C.P. 1/83 os riscos de tumultos e de abalos institucionais que ela envolve, consideram-na como o único meio realmente eficaz para tal fim, dada a especificidade do man dato conferido pelo povo aos integrantes de uma Assembléia Constituinte. Os defensores, numericamente inferiores, de uma terceira opção, ou seja, da revisão global da Constituição por meio de emendas, realçam a facilidade de sua concretização, a inexistência de perigo de traumatismos institucionais e sua eficácia na atualização dos dispositivos relativos à ordem econômico-social da Lei Magna, uma vez que as estruturas básicas tendem a subsistir. Além dos estudos desenvolvidos com base na análise de fontes documentais, registrem-se as contribuições de relevo fornecidas pelos participantes das mesas redondas organizadas tradicionalmente pelo INDIPO, e que, nessa fase prepa ratória da pesquisa, versaram não só sobre a reforma constitucionaP7 como tam bém sobre temas de interesse sócio-político imediato.38 3.1.1.2 Metodológicos A peculiaridade dos objetivos desta pesquisa e os limitados recursos para desenvolvê-la levaram a encará-la como um estudo exploratório, do qual re sultasse a indicação das principais expectativas em matéria de reforma consti tucionaJ.39 Assim, a exemplo do que costuma ocorrer em trabalhos dessa natureza,4O não houve o propósito de formular hipóteses a serem testadas, finalidade que pode ria, certamente, ser a de um estudo posterior, realizado a partir dos dados for necidos pela presente pesquisa.41 Acresce que tal propósito não se coadunaria com um dos fins da investigação - o oferecimento de subsídios ao Poder Legislativo - uma vez que os ele mentos informativos seriam coletados em função da confirmação ou da rejeição de certas hipóteses, tomando mais complexa a sua utilização em outro contexto. A delimitação do campo da pesquisa requereu, por sua vez, uma série de aná lises, não só quanto ao tema e ao universo a ser examinado, como também em relação ao instrumental disponível para sua realização. Examinaram-se, então, as exigências do processo de coleta de dados numa pesquisa sobre reforma constitucional relativas ao fundo, à forma e aos desti natários das indagações. Sem pretender-se reproduzir tais análises,42 convém re gistrar que foram consideradas, neste estudo prévio: a natureza das normas cons titucionais; o conteúdo mínimo de um texto básico; a diversidade de tipos de Constituição; as cautelas no emprego da terminologia jurídica numa investiga- 37 Ver Revista de Ciência Política, FGV, 24(3):94-117, set./dez. 1981. 38 Tais como: a criminalidade (RCP, 23(3):163-223, set. 1980), o relacionamento jurídico Estado-Igreja no Brasil contemporâneo (RCP, 24(1):128-69, abro 1981), a condição política e social da mulher (RCP, 25(1):77-106, abro 1982) e problemas da terra (RCP, 25(2):64-87. ago. 1982). 3', Ver Selltiz, JahoJa & Deutsch. Métodos de pesquisa das relações sociais. São Paulo. Herder, 1965. p. 62. 40 Ensina Madeleine Grawitz que "as pesquisas exploratórias ( ... ) não são suscitadas por uma hipótese precisa, sendo, sobretudo, descritivas" (op. cit. p. 840). 41 O exame prévio, exploratório, permite, muitas vezes, a formulação e o teste de hipóte ses em trabalhos subseqüentes. (Selltiz, Jahoda & Deutsch. op. cito p. 62). 4Z Elas deverão figurar no relatório final. Pesquisa 9\ ção jurissociológica; os imperativos da formulação das questões, tendo-se em vista a população consultada e o objetivo de obter-se uma contribuição válida para o assunto. Ao demarcar-se o universo da consulta, com o emprego da técnica de amos· tragem aleatória simples, teve-se em mente, sobretudo, a expressão nacional dos segmentos, o grau de representatividade dos interesses de várias ordens e a sua diversidade. A opção recaiu, então, sobre os seguintes grupos: prefeitos (I), professores (II), dirigentes sindicais (IH) e personalidades (IV). A escolha do Grupo I (prefeitos) decorreu do reconhecimento da importância de identificarem-se as expectativas daqueles que atuam no nível fundamental - e tradicionalmente relegado - da organização administrativa do País. Além do mais, a proximidade de sua ação para a comunidade e os múltiplos aspectos que ela recobre, tornava-os particularmente habilitados para a con secução dos objetivos deste estudo. Dentro do grupo, selecionaram-se os prefeitos que representassem centros regionais e sub-regionais de população superior a 50 mil habitantes, totalizando 404 municípios.43 Excluíram-se, deste segmento, as capitais dos estados pela sua condição de centros metropolitanos, representa dos, largamente, em outros grupos da pesquisa. Como integrantes do Grupo H (professores) foram selecionados docentes de direito constitucional, de teoria do Estado e de ciência política das 17 principais instituições universitárias, privadas e públicas do País. A inclusão deste grupo fala por si, mas não é ocioso assinalar o entusiasmo de alguns mestres por esta oportunidade de transmitirem, com uma intenção prática precípua, o fruto de seus estudos e de sua experiência sobre o assunto. A consulta ao Grupo IH (dirigentes sindicais) é um dos traços que distin guem esta sondagem do estudo suíço já referido, e no qual foram entrevistados representantes de 25 cantões, 9 partidos e 9 universidades.44 O concurso de re presentantes das classes profissionais foi solicitado tendo-se em vista a riqueza de sua vivência dos problemas sociais e a importância de sua atuação junto à comunidade e às instituições. Foram interrogados 831 sindicatos de projeção regional, sediados em locais de maior densidade demográfica. A constituição de um Grupo IV (personalidades) resultou do objetivo de identificar os anseios e propostas daqueles que têm desempenhado funções re levantes nos quadros políticos, jurídicos, culturais e empresariais. Considerou-se que seria imprescindível a consulta aos que, por sua atuação, no presente e no passado, têm uma visão definida de inúmeros problemas institucionais. Foram incluídos, nesta categoria, políticos, profissionais liberais de renome(sobretudo advogados), magistrados, empresários e presidentes de entidades culturais e so ciais de expressão nacional. Convém realçar que, se, por um lado, os resultados negativos na busca de financiamento externo não afetaram as dimensões desse universo da consulta:5 por outro, eles restringiram o campo de escolha das técnicas desta pesquisa. 43 Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 1981. 44 Ver nota de rodapé 16. 45 Uma vez que foi mantido o objetivo de realização de cerca de 2 mil entrevistas, indi cado no projeto da pesquisa. Saliente-se que não se teve em vista a realização de um número excessivamente elevado de consultas, dando-se prioridade ao exame do grau de representatividade e de credenciamento intelectual e profissional dos informantes para o trato de questões constitucionais gerais e especializadas. 92 R.C.P. 1/83 Com efeito, previra-se, inicialmente, o emprego de três instrumentos princi pais: as entrevistas, os questionários e a análise de fontes documentais (artigos de periódicos jurídicos, entrevistas e estudos divulgados por órgãos representa tivos da imprensa escrita). Entretanto, ante os limitados recursos financeiros disponíveis e as tentativas infrutíferas de ampliá-los por via de auxílio externo, viu-se a direção do projeto obrigado a abrir mão da técnica de entrevistas, mais dispendiosa que as demais. Ela implicaria deslocamentos pelo País de um número elevado de pesquisadores e a conseqüente realização de despesas que estariam além das possibilidades do Instituto. Passou-se, pois, por força dessas circunstâncias, a privilegiar a técnica de questionários, apesar de suas conhecidas deficiências quantitativas - com índi ces de respostas não superiores a 30% - e qualitativas, dadas as possibilidades de imprecisões decorrentes de uma compreensão errônea das questões formu ladas. 3.1.2. Montagem e apresentação do projeto Definidos o referencial teórico e os instrumentos da pesquisa, passou-se para a fase de praxe de montagem do projeto. No documento que o formalizou fo ram expostos seus objetivos, suas técnicas de coleta e de tratamento de dados, os critérios que nortearam a seleção dos segmentos, a análise de conteúdo já mencionada, o roteiro inicial das entrevistas, o cronograma de trabalho e a re lação das fontes a serem consultadas. 3.1.3 Elaboração e primeira remessa dos questionários Os aspectos técnicos do tema e a diversidade de formação intelectual dos in terrogados tornaram aconselhável a elaboração de dois tipos de questionário: o nÇl 1, destinado à maioria dos consultados, vazado em linguagem comum e não comportando questões de técnica constitucional; o nÇl 2, de cunho mais jurídico, encaminhado ao segmento dos professores e às personalidades dos círculos do direito e da política.46 Em ambos os tipos, foram incluídas perguntas abertas (comportando respostas indeterminadas) e fechadas (com alternativas fixas). À luz das premissas teóricas e dos objetivos específicos da sondagem, após algumas indagações gerais sobre a conveniência de uma reforma constitucional e os meios de promovê-la, centraram-se as perguntas em torno de temas tradi cionalmente focalizados na Lei Magna47 e de problemas notórios da vida insti tucional brasileira (inflação, desemprego, terra, controle de estatais, etc.). Inse riram-se, também, perguntas sobre questões geradoras de crises institucionais (prerrogativas parlamentares, vice-presidência, etc.), visando-se a colher mani festações sobre normas constitucionais suscetíveis de preveni-las. Dado o caráter mais técnico do questionário 2, nele foram solicitadas opi niões sobre a viabilidade de certos transplantes jurídicos (como um Tribunal 46 Os questionários 1 e 2 estão reproduzidos no Anexo 2. 47 Ver o item 4 (Análise dos dados quantitativos), em que se reproduz a ordenação da queles temas. Pesquisa 93 Constitucional, juizados distritais, o ombudsman escandinavo). Por outro lado, no quadro das finalidades educativas já aludidas, foram freqüentes as referências ao texto vigente. A partir de dezembro de 1981, iniciou-se a primeira remessa dos questioná rios, que foram anexados a uma carta, na qual se indicavam os objetivos do estudo, seu ineditismo, bem como as razões da importância da contribuição do destinatário. Com base nos 151 questionários recebidos até agosto de 1982, empreendeu-se uma avaliação quantitativa inicial das questões fechadas, objeto do item 4 deste relatório. 3.2 Etapas a vencer 3.2.1 Segunda remessa dos questionários A segunda remessa, em curso, dos dois tipos de questionários - anexados à carta na qual se reitera a importância da participação do informante numa con sulta dessa natureza - deverá estar concluída até dezembro de 1982. 3.2.2 Análises quantitativa e qualitativa A avaliação preliminar que se segue baseou-se, conforme foi salientado, nos dados extraídos da codificação das perguntas fechadas dos questionários rece bidos até agosto de 1982. Nela serão injetadas outras informações coligidas, nào só através das questões de mesma espécie dos questionários recebidos pos teriormente, como também por meio da análise das perguntas abertas de todos os questionários. Se se tiver em conta, além disso, a necessidade de integração desses dados com aqueles provenientes das análises documentais, não será difícil perceber a natureza provisória de certas observações do presente relatório, so bretudo aquelas de cunho justificativo. 3.2.3 Relatório final Esse documento constará, sobretudo, do exame conjugado das informações obtidas através das análises qualitativa e quantitativa dos questionários, com aquelas provenientes dos estudos documentais, chegando-se, então, à indicação das conclusões gerais da pesquisa. 4. A nálise dos dados quantitativos NEI ROBERTO DA SILVA OLIVEIRA Cabe aqui lembrar que nossa análise restringe-se aos questionários recebidos pejo Instituto do Direito Público e Ciência Política (JNDIPO) da Fundação Getulio Vargas no período de janeiro a agosto de 1982, abrangendo o exame 94 R.C.P. 1/83 de 151 questionários, provenientes dos questionários I e 11,48 e, neste relatório preliminar, especificamente das perguntas fechadas. Acredita-se que os resul tados a serem apresentados são expressivos e já delineiam as expectativas ime diatas dos segmentos consultados. 4.1 Reforma constitucional o conjunto de perguntas sobre reforma constitucional49 re\ela que os debates sobre o tema em questão suscitam interesse; que uma reforma constitucional permitirá o aperfeiçoamento democrático; excetuando-se os dirigentes sindicais, há uma concordância com que um regime constitucional estável depende de fatores estranhos ao texto da Constituição. Consultando-se os especialistas sobre os processos propostos para a reforma do atual texto constitucional, sobressai o interesse tanto para a outorga de plr 'deres constituintes a um novo Congresso quanto pela eleição de uma Assem bléia Constituinte. No que se refere ao acompanhamento da dinâmica das relações sociais, veri ficou-se que o texto constitucional deve limitar-se a um conteúdo mínimo, ex presso por normas sintéticas, básicas e abrangentes, deixando-se à legislação ordinária a sua atualização. De uma forma genérica, quando se questionou acerca da necessidade de uma nova Constituição para o Brasil, obteve-se um resultado bastante significativo, uma vez que 79,8% das respostas foram positivas. 4.2 Princípios fundamentais do Estado e do Governoso Entre os princípios e objetivos básicos que deveriam figurar no texto cons titucional destacam-se, em ordem de preferência: % 1. Promoção do bem social 89,4 2. Proteção dos direitos humanos 88,7 3. Liberdade e justiça 86,8 Igualdade perante a lei 86,8 4. Regime representativo 80,8 5. Supremacia da lei 80,1 6. Pluralismo político expresso pelos partidos políticos 78,1 7. Forma federativa de Estado 77,5 Por outro lado, a opção pela 'ação política dos sindicatos'obteve o percen tual médio de 42,4%, embora 62,3% dos dirigentes sindicais a tenham assina lado. Por último, indicado apenas por 33,1 % dos consultados, está a questão do relacionamento Estado-Igreja. 48 Ver modelo dos questionários - Anexo 2. 4~ Ver, em anexo, quadros 1 a 1.7. 50 Ver, em anexo, quadros 2, 2.1 e 2.2. Pesquisa 95 Quanto ao sistema democrático de governo, observou-se o fato de que 68,2 % dos interrogados assinalaram o presidencialismo, e somente 18,6% o parlamen tarismo. Vale notar que 13,2% não responderam à questão. Não menos signi ficativos são os dados específicos relativos aos professores, quando, então, esta divergência de opiniões decresce: presidencialismo, 48,5 %; e parlamentaris mo, 36,4%. Sabe-se que, geralmente, os textos constitucionais brasileiros se iniciam com dispositivos sobre a organização do Estado, sucedidos por normas relativas aos direitos e garantias individuais, para se encerrarem com a enumeração dos prin cípios atinentes à ordem econômica e social. No que se refere a esse aspecto, o mais imediato a destacar ·é que 68,1% dos professores e personalidades afirma ram que a disposição usual deveria ser mantida, pois uma alteração na ordem de apresentação dos assuntos não traria maior repercussão na aplicabilidade do texto. Divergiram desta opinião 25,5 % dos respondentes que acreditam dever esta ordem ser invertida para que sejam ressaltados novos anseios sociais e po líticos. Alguns destes consideraram também que, além de uma inversão, outras modificações na disposição das matérias deveriam ser previstas. Observe-se, ain da, que 6,4% dos entrevistados apontaram uma alternativa diversa das apre sentadas. 4.3 Organização do Estado FederaISl No que concerne à possível existência de partidos políticos estaduais, pre \alece a idéia de que eles não devem existir, desde os 80% dos prefeitos con trários a tal medida, até os 66,6% dos professores. É oportuno mencionar que 74,9 % dos respondentes consideraram a partici pação no processo político dos partidos atuais como não-eficaz. Às respostas sobre os meios de fortalecimento da organização municipal indi cam que 72,2 % dos entrevistados pleiteiam o aumento e a especificação de suas fontes de receita, assim como a ampliação de sua jurisdição administrativa e política. Além disso, verifica-se que 73,5% dos respondentes pensam que as leis de organização municipal devem atender às peculiaridades regionais e locais. Isto se aplica, sobretudo na percepção dos professores (84,9 % ) e dos prefeitos (80 % ) . Em relação a indagação - exclusiva aos peritos - sobre a conveniência ou não da elevação dos organismos regionais e das regiões metropolitanas à condi ção de unidades federadas, não houve consenso, com 46,8 % de respostas nega· tivas e 42,5 % de positivas. Por outro lado, para 61,7 % dos informantes, a criação de novos estados, o desmembramento ou a fusão de alguns deles deve ser matéria de referendo po pular; para 21,3 %, objeto de lei complementar (como prescreve o texto atual) e, para apenas 10,6%, o assunto é da alçada das Assembléias estaduais. Os 6,4% restantes deram uma outra informação. Diante da questão "Como compatibilizar o planejamento federal, método in dispensável de governo, com o federalismo?", a maioria optou pelo "estabele cimento da participação dos Estados no planejamento" (78,7%), sendo que 51 Ver, em anexo, quadros 3 a 3.9. 96 R.C.P. 1/83 - ---------------------- apenas 8,5 % consideram necessária a eliminação do caráter político do planeja mento; além disso, 12,8% apresentaram outras sugestões. Não há uma concordância na questão, formulada apenas aos peritos, em re lação à intervenção federal nos Estados: para 46,8% dos interrogados o instituto deve ser mantido na forma atual; 36,2% afirmam que novos elementos devem ser incluídos na sua regulamentação constitucional; 10,6% preferiram não opinar sobre o assunto e ainda 6,4% apresentaram outras sugestões. No que se refere à criação de senados estaduais, questão formulada, apenas no questionário 2, 89,4% manifestaram-se negativamente. De forma geral, os especialistas consultados consideram que o aperfeiçoamento do sistema federal exigiria: a criação de novos estados por divisão territorial dos existentes (34,1 % ) ; - a transformação do maior número de territórios em estados (14,9 % ) ; - a facilitação do estabelecimento de municípios (10,6%). Outras alterna- tivas foram indicadas por 29,8%, sendo que 10,6% não opinaram. 4.4 Estrutura e articulação dos poderes 4.4.1 Legislativ052 Duas opções mereceram a preferência dos interrogados no que diz respeito à composição da Câmara dos Deputados: o aumento do número de representantes, proporcionalmente à população, sem fixação de limites (34,4%) e a manutenção do número atual de cadeiras (31,8%). Quanto à composição do Senado Federal, a maioria pensa que deve ser man tido o limite de 35 anos, enquanto apenas 13,9% acreditam que o limite deve ser o mesmo fixado para a Câmara dos Deputados. Sobre a questão relativa à manutenção ou não da enumeração das matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 44 do texto vigente) divi diram-se as opiniões entre as alternativas "não deve sofrer alteração' e "deve ser alterada para a inclusão de outras matérias" (36,2 % cada). Sobre o sistema eleitoral, tem-se como fator determinante para o aperfeiçoa mento do regime democrático a eleição direta em todos os níveis (67,5 % ). Tal expectativa eleva-se para 83,6% entre os dirigentes sindicais. No que se refere à introdução do voto do analfabeto, aproximadamente um em cada dois dos respondentes aceitam esta inovação. Por outro lado, o voto majo ritário distrital é aceito por 27,8% dos respondentes, sendo que este percentual atinge 39,4% dos professores. Em seguida, examinando-se as opções sobre o tema das prerrogativas parla mentares, a visão dos respondentes,53 em ordem de prioridades, é a seguinte: - as imunidades não excluiriam ação do Ministério Público aos crimes co muns, ação esta sustável pelo Congresso, se provada sua conotação política (65,6% ); - a imunidade durante o estado de sítio somente poderia ser suspensa com a aprovação de 2/3 dos votos da Casa à qual pertencesse o parlamentar (33,8%); 52 Ver, em anexo, quadros 4 a 4.9. 53 Respostas múltiplas, conseqüentemente n diferente de 100%. Pesquisa 97 dever-se-ia restabelecer integralmente a imunidade parlamentar (25 .2l7c ) ; outras opções (12,6%). A controvérsia acerca da aprovação de projetos do Executivo por decurso de prazo se manifesta nos resultados obtidos. Segundo as personalidades entre vistadas, ela deve ser mantida (57,1 %); por outro lado, os professores (a maio ria de direito constitucional) a rejeitam (60,6%). Em relação aos atos enumerados no texto atual como compreendidos no pro cesso legislativo - emendas constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, decretos-leis, decretos legislativos, resoluções - de acordo com 38,3% dos especialistas, deveriam ser todos mantidos; para 44.7%, alguns de veriam ser eliminados. Ressalte-se a concordância, entre os professores entrevistados, de que deveriam constar do texto constitucional formas de consulta por referendo ou plebiscito (84,9%), atitude não partilhada pelas personalidades (35,7%). A pesquisa revelou ainda que é aceitável o controle do povo em relação aos seus representantes, no desempenho de seus respectivos mandatos (70,20(): tal índice eleva-se para 85,7% entre as personalidades ouvidas. 4.4.2 ExecutivoS<! o primeiro fato a ser levado em consideração diz respeito ao sistema de go verno: 41 % consideram que deve ser mantido o sistema presidencial, rea1izando se as eleições por via direta, para um mandato de quatro anos; para 14,6% deve ser introduzida a forma parlamentar, com eleição direta para presidente da República. Verifica-se, pois, que, explicitamente, 55,6% de todos os segmentos consultadosoptam por eleições diretas para a escolha do presidente da Repú blica. Porém, 17,9% discordam desta opinião, afirmando que deve ser mantido o sistema presidencial, com eleição indireta, de seis em seis anos, para a presi dência da República, e 24,5 % apresentaram outras alternativas. Somente 2 % não se manifestaram sobre o assunto. O segundo fato a ser destacado é a opção da maioria dos peritos de que o texto constitucional reúna, num só capítulo, normas gerais sobre a Administração direta e indireta, remetendo-se para a legislação ordinária dispositivos mais espe cíficos sobre as Forças Armadas, os funcionários públicos e o Ministério PÚ blico (55,3%). Outros dados revelam que o texto constitucional deveria fixar certos princípios visando limitar a ação e controlar os órgãos da Administração indireta (empresas públicas, autarquias, sociedades de economia mista) e as fundações instituídas pelo poder público (70,2 % ). Diante da questão "Nas modernas democracias aumentaram muito as atribui ções do Poder Executivo (Governo) quanto à iniciativa e à feitura das leis. O Poder Legislativo (Congresso) passou a exercer predominantemente funções de fiscalização administrativa e orientação política. É aceitável essa mudança?, cabe assinalar o posicionamento favorável dos prefeitos entrevistados (72 % ), contra- õ-I Ver. em anexo, quadros 4.10 a 4.18. 98 R.C.P. 1/83 riam ente aos 50% das personalidades e 49,2 % dos dirigentes sindicais que não a aceitam. Não se pode deixar de encarar como significativa a visão dos prefeitos e dos dirigentes sindicais, em relação à questão - bastante objetiva - sobre qual seria a melhor forma de voto para presidente da República: Segmentos consultados Prefeitos Dirigentes sindicais Eleição direta 64,0% 85,2% Eleição indireta 32,0% 11,5% S/I 4,0% 3,3% Em relação à questão da legalidade e da legitimidade dos Poderes Executivo e Legislativo, assim manifestaram-se os respondentes: No Brasil, o Poder Executivo tem legalidade (Sim = 77,9%); No Brasil, o Poder Legislativo tem legalidade (Sim = 79,8%); No Brasil, o Poder Executivo tem legitimidade (Sim = 33,6%); No Brasil, o Poder Legislativo tem legitimidade (Sim = 56,7%); No Brasil, o Poder Executivo tem legalidade (Não = 9,6%; s/i = 12,5%); No Brasil, o Poder Legislativo tem legalidade (Não = 2,9 %; s/i = 17,3 % ) ; No Brasil, o Poder Executivo tem legitimidade (Não = 51 %; s/i = 15,4%); No Brasil, o Poder Legislativo tem legitimidade (Não = 26,9%; s/i = 16.4%). Consolida-se a impressão, a partir desses segmentos consultados, que há uma expectativa de que se amplie o grau de legitimidade do Poder Executivo. Quanto 8.0 Legislativo, a confiança na legitimidade é majoritária. 4.4.3 Judiciári055 Com referência às alternativas propostas para o aperfeiçoamento da estrutura e do funcionamento do Poder Judiciário, da seguinte forma posicionaram-se os especialistas: 56 - criação de juizados nos bairros, para julgamento de pequenas causas (68,1 % ) ; criação de uma jurisdição agrária (44,7 % ) ; criação de juizados de instrução (42,6%); predominância do procedimento oral, sobretudo em matéria criminal (42,6%); criação de um contencioso administrativo (36,2%); criação de Supremos Tribunais estaduais (6,4 % ). A notar que outras su gestões foram oferecidas por 55,3% e que apenas 2,1 % não responderam à pergunta. 55 Ver, em anexo, quadro 4.19. 5& Respostas múltiplas, conseqüentemente n diferente de 100%. Pesquisa 99 4.4.4 Equilíbrio dos poderes57 Sobre a necessidade de um Tribunal Constitucional, não só para o controle da constitucionalidade das leis (atualmente a cargo do Supremo Tribunal Federal), mas também para dirimir conflitos entre as unidades da federação e entre os poderes, similar aos que existem na República da Alemanha e na Áustria, os especialistas não chegaram a um consenso, pois, enquanto a maioria dos profes sores é favorável à sua criação (51,5 % ), somente 28,6 % das personalidades têm esta opinião. 4.5 Direitos e garantias individuais58 Sobre a inclusão de outros direitos individuais, além dos proclamados no texto vigente (art. 153) e os relativos ao trabalhador (art. 165), foram os seguintes, por ordem de prioridade, os direitos indicados: à saúde (72,8%); ao amparo à velhice (68,9%); à defesa dos consumidores (65,6%); ao seguro-desemprego (64,9%); à informação (61,6%); à privacidade, isto é, à reserva da intimidade da vida privada e familiar (61,6%); ao lazer (57,6%); - à segurança ambiental e ecológica (55,6%); - à própria imagem, isto é, à interdição de fotos lesivas à reputação ou daquelas tiradas à revelia (50,3 % ) ; - outros (29,1 %). Destaque-se, ainda, as duas primeiras opções de cada um dos segmentos con sultados: Prefeitos - primeiro, à saúde (84%); segundo, ao amparo à velhice (80%); Personalidades - primeiro, à saúde (62,5 % ); segundo, à informação (46,9%), ao amparo à velhice (46,9%); Professores - primeiro, à segurança ambiental e ecológica (72,7%); segundo, à defesa dos consumidores (60,6 % ), à privacidade (60,6 % ) ; Dirigentes sindicais - primeiro, à saúde (81,9 %), ao amparo à velhice (81,9 % ); segundo, à defesa dos consumidores (80,3 % ). Dentro do mesmo item, formulou-se a indagação da conveniência de o texto constitucional limitar-se aos direitos essenciais, fazendo remissão expressa aos tratados e declarações internacionais subscritos pelo Brasil na matéria. Nenhuma 57 Ver. em anexo. quadro 4.20. 58 Ver. em anexo. quadros 5 a 5.5. 100 BIBLIOTECA fVND::';;AO GETULIO VAR5~ .. R.C.P. 1/83 tendência majoritária pôde ser apontada, pois que 39,1 % dos respondentes dis seram "sim"; 33,1 %, "não"; 24,5 %, preferiram não se manifestar e, ainda, 3,3% apresentaram outras opiniões. Em seguida, perguntou-se aos peritos: "Seria aconselhável a distinção, exis tente em outras Constituições, de direitos reivindicáveis perante os tribunais (di reito à vida, à honra, à liberdade, etc.) e de direitos não reivindicáveis judicial mente, apresentados mais como princípios diretores da política legislativa e da administração (direito à saúde, ao pleno emprego, à habitação, à cultura, etc.)?" Constatou-se que a grande maioria não concordou com a distinção proposta (65,9%) e pouco mais de 25% reconheceram-na viável. Outro indicador, particularmente sugestivo, refere-se à questão da criação de órgão equivalente ao ombusdman escandinavo ou ao "defensor do povo" da Constituição espanhola de 1978, para defender os direitos e liberdades funda mentais, com poderes de supervisionar as atividades da Administração e de pres tar contas perante o Congresso Nacional, na qual predomina a recusa, por parte dos especialistas, de considerá-la exeqüível (51,1 %). Além disso, 19,1 % desses peritos indicaram outras alternativas; 2,1 % não se manifestaram, e 27,7%, ape nas, admitiram aceitar a criação do referido órgão. Sabendo-se que, além da sua importância intrínseca, os meios de comunicação servem para construir uma consciência coletiva, a problemática da censura não poderia deixar de ser investigada. Além do mais, é do conhecimento público que entidades representativas da comunicação têm clamado a sua inconformidade no que se refere à aplicação da Lei de Segurança Nacional, principalmente contra jornalistas. Por conseguinte, acreditando-se que o questionamento da censura traria alguns subsídios à reflexão, formulou-se a seguinte indagação no questio nário 2: "A censura aos meios de comunicação, à propaganda política e aos costumes deve ser: abolida?; limitada?" Constatou-se que tanto os professores quanto as personalidades afirmaram que ela deve ser limitada (70,2%); por outro lado, 19,2% indicaram que ela deve ser abolida; 8,5% apresentaram outra resposta e somente 2,1 % não se manifestaram. Na questão seguinte, tentou-se dimensionar a aceitabilidade ou não da censura, em relação a determinados meios de comunicação, por parte dos segmentos con sultados.Verificou-se, então: a) segundo os prefeitos: primeiro, são admissíveis tipos de censura no rádio, na televisão (80%); segundo, na imprensa (76%); terceiro, nos cinemas e teatros (60%); quarto, na propaganda política (56%); b) segundo os dirigentes sindicais: são admissíveis tipos de censura no rádio, na televisão (60,7); primeiro, não são admissíveis tipos de censura nos cinemas e teatros (60,7 % ); segundo, não são admissíveis tipos de censura na propaganda política (54,1 % ); terceiro, não são admissíveis tipos de censura na imprensa (52,5% ); c) segundo as personalidades: não são admissíveis tipos de censura na propa ganda política (55,6%); nos cinemas e teatros (55,6%); na imprensa (sim - 50%, não = 50%); no rádio, na televisão (sim = 50%, não = 50%). Pesquisa 101 slçao, 31,9 % revelaram que eles devem constar de capítulo à parte, englobando os princípios diretores da política social, econômica e cultural do Estado, e so mente 4,2 % deixaram de responder à questão. No que se refere à matéria a ser objeto de um texto constitucional, apresenta ram-se três alternativas, a seguir indicadas, com os respectivos resultados, por ordem de prioridade: 61 1. Um texto constitucional deve limitar-se a regular os mecanismos de governo, sem focalizar temas de natureza conjuntural que exigiriam a sua permanente atua lização: 70,2 %. 2. Um texto constitucional deve concentrar-se nos problemas magnos do país, de natureza social, política, econômica e cultural, fornecendo diretrizes para o seu equacionamento: 55,3%. 3. Um texto constitucional deve conciliar a regulamentação de certos mecanismos básicos de governo com o estabelecimento de princípios diretores, de natureza política, nas diversas áreas da ação governamental: 55,3 %. Sublinhe-se a tendência majoritária para a confecção de um texto orgânico, sintético, sem preocupações programáticas. Visando-se conhecer a reação dos entrevistados sobre certas questões de inte resse político-social mais geral, apresentaram-se as seguintes afirmativas que são aqui reproduzidas, com a indicação dos respectivos índices de concordância e de discordância: Afirmativas = % de concordância I. O Brasil é uma sociedade racialmente tolerante: 76,9%. 2. Afirma-se que a maior potencialidade do Brasil é o seu espaço territorial. No entanto, ele não tem sido utilizado como fator de bem-estar da população: 71,2 % . 3. Todos os partidos legalmente existentes podem governar: 69,2%. 4. A política econômica posta em prática nos últimos anos acentuou as históricas desigualdades regionais, setoriais e de classe: 68,3 % . Afirmativas = % de discordância 1. O Brasil é uma sociedade socialmente justa: 78,9 %. 2. O regime parlamentarista daria maior estabilidade às instituições políticas: 73,1%. 3. O Brasil é uma sociedade politicamente aberta: 58,7%. Vale notar que na afirmativa: "O Brasil é uma sociedade economicamente pluralista" houve um equilíbrio entre o grau de concordância (40,4%) e o de discordância (41,3%), sendo que 18,3% deixaram de opinar. Conhecendo-se o papel de relevo, tradicionalmente, desempenhado pelas elites brasileiras na evolução institucional do país, desejou-se verificar as opiniões dos fi Respostas múltiplas. conseqüentemente 11 diferente de 100%. JO~ R.C.P. 1/83 interrogados sobre a subsistência dessa tradição nos dias atuais. Formulou-se, assim, uma questão sobre o grau de responsabilidade dessas elites, obtendo-se, por ora, os seguintes resultados: 1. As elites políticas brasileiras têm um reduzido senso de responsabilidade: 42,3%. 2. As elites políticas brasileiras têm um médio senso de responsabilidade: 41,4%. 3. As elites políticas brasileiras têm um alto senso de responsabilidade: 6,7%. 4. Não emitiram opinião: 9,6%. Parece não haver dúvidas, entre os segmentos consultados, quanto às questões que devem ser resolvidas, prioritariamente, pelos poderes constituídos, de acordo com as reações ao conjunto de oito problemas concretos que lhes foi proposto. Citam-se assim, primeiramente, os resultados gerais - somatório da 1l!- e da 2l! elassificação em cada problema concreto - e, em seguida, os resultados reagru pados em torno dos segmentos desta pesquisa (as três principais opções) :62 Questões 1l!- elas. (%) 1. Inflação 15,2 2. Desemprego 15,2 3. Reforma constitucional 20,5 4. Dívida externa 10,6 5. Reforma agrária 9,9 6. Problema habitacional 2,0 7. Sistema eleitoral 3,3 8. Controle das multinacionais 1,3 1. Para os prefeitos: Questões 1. Inflação 2. Reforma agrária 3. Desemprego 4. Reforma constitucional 1l!- elas. (%) 8,0 20,0 8,0 8,0 2. Na visão das personalidades: Questões 1. Inflação 2. Reforma constitucional 3. Desemprego 1l!- elas. (%) 15,6 34,3 15,6 2l!- elas. (%) 17,2 15,2 6,0 9,9 7,3 8,6 4,6 6,0 2l!- elas. (%) 20,0 4,0 16,0 8,0 2l!- elas. (%) 25,0 3,2 9,3 62 Respostas múltiplas, conseqüentemente n diferente de 100%. Pesquisa Somatório (% ) 32,4 30,4 26,5 20,5 17,2 10,6 7,9 7,3 Somatório (%) 28,0 24,0 24,0 16,0 Somatório (%) 40,6 37,5 24,9 105 3. No entender dos professores: Questões 1'.1 elas. (o/c ) 2'.1 elas. (Cié) Somatório (% ) I. Inflação 36,4 9,1 45,5 2. Desemprego 18,2 21,2 39,4 3. Reforma constitucional 27,3 27,3 4. 1'a opinião dos dirigentes sindicais: Questões H clas. (%) 2,.1 clas. (CC) Somatório (% ) 1. Desemprego 16,4 14,8 31,2 2. Reforma constitucional 14,8 9,8 24,6 3. Inflação 6,6 16,4 23,0 Verifica-se que estas questões assinaladas como prioritárias inflação, de- semprego e reforma constitucional - são temas presentes na consciência na cional, exigindo um exame, em profundidade, por parte das autoridades brasileiras. 8. Síntese Alguns dados sobre os processos propostos para a reforma do atual texto cons titucional devem ter suas informações complementadas não só para efeito de elucidar idéias, mas sobretudo para efeito do futuro próximo. Por conseguinte, cabe registrar também, que, aproximadamente, sete em cada 10 especialistas consultados optaram pela outorga de poderes constituintes a um novo Congresso e/ou pela eleição de uma Assembléia Constituinte. Isto, em nosso entender, re flete, de fato, uma expectativa de reformas mais substanciais do regime. Não há dúvida acerca de que uma reforma constitucional permitirá o aperfei çoamento do regime democrático. Isto foi explicitado por, aproximadamente, oito em cada 10 de todos os entrevistados. Outra observação que pode ser feita sobre este aspecto refere-se ao fato de 87,8% dos professores (predominantemente de direito constitucional) e 83,6% dos dirigentes sindicais das principais capitais do país terem afirmado, como foi dito, que uma reforma constitucional permitirá o aperfeiçoamento democrático. Pelo exposto, torna-se evidente que, mesmo entre segmentos distintos da população, suas aspirações sobre certas questões nacionais são semelhantes. Reafirma-se também que, segundo os entrevistados, há necessidade de uma nOva Constituição para o Brasil. No que se refere aos princípios fundamentais do Estado e do Governo, cabe registrar, além do que já foi mencionado, a principal indicação de cada um dos segmentos da população que compõe o universo desta pesquisa: 1. Prefeitos - liberdade e justiça (96 % ); proteção dos direitos humanos (96% ). 2. Personalidades - igualdade perante a lei (90,6%); promoção do bem social (90,6% ). 106 R.C.P. 1/83 3. Professores - regime representativo (90,9%); proteção dos direitos humanos (90,9%). 4. Presidentes de sindicatos - promoção do bem social (90,2 % ); igualdade perante a lei (90,2 % ). Basicamente, no que se refere à organização do Estado Federal, cabe assinalar (apenas os aspectos com um consenso superior a 50 % ) : a) não devem existir partidos políticos estaduais (71,5%); b) considera-se a participação dos partidos atuais no processo político como não eficaz (74,9%); c) a criação de novosestados, o desmembramento ou a fusão de alguns deles devem ser matérias, predominantemente, de referendo popular (61,7 % ) ; d) a compatibilidade do planejamento federal (método indispensável de governo) com o federalismo deve ser feita estabelecendo-se a participação dos Estados no planejamento (78,7%); e) o fortalecimento da organização municipal requer o aumento e a especificação de suas fontes de receita, assim como de sua jurisdição administrativa e política (72,2% ); f) leis de organização municipal devem atender às peculiaridades regionais e locais (73,5%); g) não será conveniente a introdução de senados estaduais (89,4%). Quanto à estrutura e articulação dos Poderes, determinados aspectos devem ser ressaltados: a) entre as opções suscetíveis de aperfeiçoar o regime democrático, relativas ao sistema eleitoral, destaca-se a expectativa de que haja eleição direta em todos os níveis (67,5%); b) deveriam constar no texto constitucional formas de consulta por referendo ou plebiscito (70,2%); c) é aceitável o controle do povo em relação aos seus representantes, no desem penho de seus respectivos mandatos (70,2%); d) o texto constitucional deveria reunir, num só capítulo, normas gerais sobre a Administração direta e indireta, remetendo-se para a legislação ordinária dispo sitivos mais específicos sobre as Forças Armadas, os funcionários públicos e o Ministério Público (55,3%); e) o texto constitucional deveria fixar certos princípios visando limitar a ação e controlar os órgãos da Administração indireta (empresas públicas, autarquias, sociedades de economia mista) e as fundações instituídas pelo poder público (70,2% ). Como foi dito anteriormente sobre os direitos e as garantias individuais, entre as nove alternativas apresentadas, as cinco primeiras consideradas como priori tárias foram: direito à saúde (72,8%), ao amparo à velhice (68,9%), à defesa dos consumidores (65,6%), ao seguro-desemprego (64,9%) e à informação (61,6% ). Pesquisa 107 A destacar-se, aqui, os principais objetivos, entre as 20 opções sugeridas, que deveriam regular a política do Estado: preservação do meio ambiente (86,1 %); proteção dos menores carentes (86,1%); amparo à velhice (83,4%); controle de exploração dos recursos naturais (82,8 % ); política de fixação do homem no campo (82,1 %); assistência aos deficientes físicos e psíquicos (78,8%); controle dos investimentos estrangeiros (78,1 %) e controle da exploração da Região Amazônica (76,2%). Como se sabe, estas opções indicam que, aproximada mente, oito em cada 10 entrevistados - entre prefeitos, personalidades, profes sores e dirigentes sindicais - estão de acordo com tais objetivos. Ressalte-se, mais uma vez, que na percepção dos peritos, um texto constitu cional deve limitar-se a regular os mecanismos de governo, sem focalizar temas de natureza conjuntural que exigiriam a sua permanente atualização (70,2 % ). Cabe registrar, no que se refere a determinados dados de identificação dos respondentes, algumas informações sugestivas. Verificou-se que, correlacionando se os segmentos consultados da população e a sua faixa etária, 15,2% de todos os entrevistados têm, no máximo, 40 anos, 60,3% estão incluídos na faixa de idade de 41 a 60 anos, 17,2 % têm mais de 60 anos e 7,3 não forneceram a idade. Com referência à escolaridade, como já estava previsto, em função do objeto de análise desta pesquisa, há entre os informantes um predomínio de pessoas com nível universitário. Aproximadamente, seis em cada 10 desses respondentes. 5. Primeiras conclusões AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO Ao assumir, em abril de 1980, o Instituto de Direito Público e Ciência Política da Fundação Getulio Vargas, proferimos discurso do qual consta o seguinte trecho: "Embora sem o propósito de apresentar planos, permito-me, no entanto, dar notícia de duas intenções que alimento como tarefas possíveis do Instituto ... (Quanto à primeira): Trata-se de proceder a uma pesquisa, abrangente e sinté tica, segundo os melhores métodos a nós acessíveis do direito constitucional e ciência política, sobre as correntes mais significativas e influentes do pensamento e das aspirações nacionais, com referência ao inevitável preparo de uma nova Constituição para o Brasil."63 A intenção manifestada obteve, desde logo, apoio sem restrições do Presidente da Fundação, Df. Luiz Simões Lopes, que fez colocar à disposição do trabalho os pesquisadores e funcionários administrativos, bem como o material necessário. O plano inicial teve de ser acomodado às restrições financeiras que o país atra vessa desde 1980, atingindo todas as suas instituições privadas e públicas, nota damente àquelas de fim não lucrativo e prestação de serviços, como a Fundação Getulio Vargas. Graças, porém, à competência e à aplicação da equipe partici pante, começa-se a atingir resultados capazes de contribuir para uma visão - ainda provisória e sujeita a retificações - do problema institucional do Estado brasileiro. A exposição conclusiva dos resultados finais será apresentada, em ~3 Melo Franco, Afonso Arinos de. Política e direito. Brasília. Ed. Universidade de Bra· sília, 1981. 108 R.C.P. 1/83 segundo relatório, às autoridades competentes do Executivo e do Legislativo, bem como a outros interessados, na época da instalação do futuro Congresso Nacional. A equipe principal da pesquisa foi composta pelos seguintes professores: Afon so Arinos de Melo Franco, catedrático das Universidades Federal e Estadual do Rio de Janeiro, ex-chanceler e ex-parlamentar; Nei Roberto da Silva Oliveira, bacharel em sociologia e ciência política, especialista em metodologia da pesquisa, pós-graduado pela Universidade Técnica de Lisboa, professor e pesquisador da FGV; Ana Lucia de Lyra Tavares, doutora em direito pela Universidade de Paris, professora da Universidade Católica do Rio de Janeiro e pesquisadora da FGV; Lídice Aparecida Pontes Maduro, bacharel em sociologia e ciência política, especialista em metodologia da pesquisa, professora do Estado e pesquisadora da FGV. .." O diretor do Instituto participou dos trabalhos em suas diferentes fases, além de coordená-los e orientá-los, inclusive na elaboração das três partes em que se divide o presente relatório. A primeira delas, "Introdução", é de autoria da ProP Ana Lucia; a segunda, "Análise quantitativa", foi feita pelo Prof. Nei Roberto, e a terceira, "Análise de conteúdo", foi preparada pela Prof~ Lídice Aparecida.64 O diretor da pesquisa considerou útil apresentar algumas reflexões aos dados contidos neste relatório preliminar. Elas são de sua responsabilidade e, portanto, não obedecem ao método científico adotado na pesquisa, ou seja, o factualismo imparcial. Um dos especialistas brasileiros em metodologia de pesquisa recomenda a técnica segundo a qual "o autor da conclusão deve distanciar-se do seu tra balho e fazer uma apreciação desprendida".6S Na verdade, a pesquisa feita pelo Instituto, é, na sua execução, factual e im parcial, seja na coleta de dados, seja na análise quantitativa deles. Mas a motiva ção da pesquisa decorreu de uma opção política, ou seja, a urgência de uma nova Constituição para o Brasil. Se a motivação é política, sua finalidade também o é, o que não implica em se supor qualquer parcialidade na sua execução e nos re sultados apresentados. Só assim se estará contribuindo para uma meditação - esta sim, desprevenida - dos meios decisórios do país sobre a ultimação da res tauração democrática. Convém acentuar que 79,8% das respostas às consultas reconhecem a neces sidade de uma nova Constituição para o Brasil. O processo para se chegar a ela recolheu 72,4% em favor de poderes constituintes (36,2% ao futuro Congresso, como vimos preconizando) e os mesmos 36,2 % a uma Assembléia especial. So mente 23,4% opinaram em favor do poder de emenda. Consigne-se que 68,2 % optaram pelo sistema presidencial, e somente 18,6% em favor do sistema parlamentar, 13,2% abstendo-sede responder. Em relação à segunda forma de governo, deve-se, porém, levar em conta as dificuldades para chegar-se a apreciações conclusivas, uma vez que, para avaliação das diversas modalidades sob as quais ela se apresenta (das quais é exemplo o sistema híbrido francês), são necessários conhecimentos especiais. 64 A "Análise de conteúdo", que contém o estudo de noticiário publicado na imprensa sobre o problema da Constituição, será incluída no relatório final. 65 Castro, Claudio de Moura. Estrutura e apresentação de publicações científicas. 1978. Pesquisa 109 Registrem-se, também, as reações pOSItIvas dos professores à introdução de novos órgãos (como o Tribunal Constitucional) e sistemas (como o voto majo ritário distrital) para cuja apreciação encontravam-se, particularmente, habilitados. Na questão da legitimidade e legalidade dos poderes, 79,8% dos respondentes opinaram pela legalidade do Legislativo, 77,9% pela legalidade do Executivo; 56,7% pela legitimidade do Legislativo e somente 33,6% pela legitimidade do Executivo. Outros pontos de relevo: 72,8% incluem, entre os direitos individuais, a pro teção à saúde; 68,9% o amparo à velhice; 65,6% a defesa do consumidor e 64,9% o seguro-desemprego. A ideologização política da questão racial é recusada: 76,9% dos consultados opinaram que o Brasil é uma sociedade racialmente tolerante. As elites políticas não são prestigiadas pelas opiniões expressas: só 6,7% en contram nelas alto senso de responsabilidade; 41,4% concedem-lhes um senso médio; e 42,3%, um senso reduzido. Quanto às questões nacionais prioritárias, a inflação vem em primeiro lugar, com 32,4%; o desemprego em segundo, com 30,4%; e a reforma constitucional em terceiro, com 26,5 %. Só em seguida entram a dívida externa, a reforma agrá ria e o problema habitacional. No que se refere à receptividade do questionário, podemos declará-la satisfa tória, considerando que, por medida de economia, o contacto entre pesquisadores e respondentes foi postal. A via postal diminui o número de respostas a níveis modestos, em todos os países. A média de respostas a inquéritos feitos por via postal é de 30%, no máximo, nos países desenvolvidos. Como já foi dito na introdução, a equipe de pesquisa do Instituto tomou por inspiração do seu trabalho (não propriamente por modelo) o estudo procedido na Suíça, publicado em seis volumes pela Imprensa Oficial daquele país, sob o título Révision totale de la Constitution Fédérale. A decisão do estudo da revisão total da velha e gloriosa Constituição suíça - que data de 1848, mas, depois da grande revisão de 1874, já foi emendada mais de 50 vezes - partiu do Senado da Confederação (Conselho dos Estados) em 1965, decisão apoiada pela Câmara dos Deputados (Assembléia Nacional), no mesmo ano, e, finalmente, pelo Conselho Federal (Poder Executivo Colegiado), em 1966. O propósito era, expressamente, "conhecer as condições nas quais uma revisão total da Constituição poderia ser empreendida, na opinião de um grupo de personalidades qualificadas". 66 O trabalho suíço, pela sua origem oficial, pelas condições da execução e pelos recursos e ambiente em que se desenvolveu, nunca poderia ser aproximado por outro, brasileiro, dadas as diversidades inseparáveis das nossas condições básicas. Na Suíça, a exigüidade territorial e populacional, o avançadíssimo índice educa tivo do povo, a estabilidade política excepcional, que resistiu, sem abalos, às duas maiores guerras mundiais que cercavam completamente a Confederação, permi tiram uma análise aprofundada e longa do problema. O âmbito da consulta suíça obedeceu às peculiaridades do país. Foram consultados, em primeiro plano, os 25 cantões que formam a Confederação. Em seguida, as seguintes Universidades foram ouvidas: Zurique, Berna, Friburgo, Basiléia, Sr.-Gall, Lausanne e Neuchâ- 66 Os trabalhos da pesquisa suíça foram publicados em seis volumes, entre 1969 e 1973, sendo quatro volumes de respostas, um de índices e um do Relatório Final. 110 R.C.P. 1/83 tel, portanto quatro de língua alemã, três de língua francesa e nenhuma do Tes sino, cantão italiano. Foram igualmente ouvidos todos os partidos políticos. A esses dois grupos foram ajuntadas outras entidades várias, como as Igrejas Pro testantes, Católica e Israelita, a União Comercial e Industrial, a Federação dos Sindicatos de Trabalhadores e dos Sindicatos Cristãos; a Aliança das Sociedades Femininas, além de poucas outras de menor relevo. Decidimos organizar a pesquisa brasileira obedecendo a outros critérios, mais condizentes com o conjunto de características especificamente nacionais, e com as possibilidades da Fundação Getulio Vargas. Considerando a importância do município na formação política do país e seu papel (erradamente diminuído hoje em dia) na estrutura federativa, formamos o primeiro grupo de respondentes com a seleção dos prefeitos das cidades de mais de 50 mil habitantes. O prefeito é a autoridade municipal mais informada da comunidade, tanto no terreno político, quanto no administrativo. Os que cons tam deste relatório preliminar foram os que responderam até fins de agosto. Em bora pouco numerosos, até agora, são extremamente representativos, pois se manifestam em nome de municípios da Amazônia, do Nordeste, do Centro-Sul, do Sudeste, do Extremo Sul e do Brasil Central. Ao lado dos prefeitos, é de pôr em relevo a colaboração dos sindicatos, das principais capitais brasileiras, especialmente os de trabalhadores. Deve-se decla rar. em louvor deles, que os sindicatos formam o grupo de entidades que em maior número acorreu ao nosso apelo. Além de representarem, territorialmente, todo o Brasil, das regiões costeiras às interioranas, falam em nome dos mais va riados gêneros de trabalho: rodoviários, portuários, comerciários, vendedores am bulantes, indústrias energéticas, viajantes comerciais, indústrias extrativas mine rais, jornalistas e jornaleiros, foguistas, enfermeiros, taifeiros e panificadores na vais, marceneiros, casas de diversões, indústrias rurais, cargas e descargas e outros. Foram ouvidos professores de direito constitucional, ciência política e teoria do Estado de numerosas universidades brasileiras, especialmente as federais e es taduais, desde o extremo Norte ao extremo Sul, bem como os de outros institutos de ensino. O elenco de respostas é extremamente valioso para as observações do leitor. Foram igualmente consultados, em âmbito nacional, empresários, individual mente, e empresas, como entidades. Nossa gama de opções parece, assim, mais larga que a do próprio inquérito suíço. que nos serviu de inspiração. O preenchimento dos questionários pelos respondentes foi, quase sempre, feito com cuidado, aplicação e responsabilidade, por todos os segmentos consultados. Como exemplo de questionário respondido em profundidade, a Revista de Ciência Política da Fundação Getulio Vargas, devidamente autorizada, publicou a res posta, enviada de São Paulo, pelo empresário Dr. Olavo Setubal.67 Outras res postas cuidadosamente redigidas existem. Somos os primeiros a reconhecer as insuficiências do nosso trabalho, sobretudo neste estágio, insuficiências que procuraremos sanar no relatório final. A omissão de alguns segmentos no conjunto das investigações procedidas não traduz desconhecimento da sua representatividade, mas necessidade de limitação 6 7 Revista de Ciência Política, 25:87·131, ago. 1982. Pesl.iuisa 111 do universo consultado aos elementos mais acessíveis e habilitados a responder. Seguimos, neste ponto, o exemplo suíço, que, com muito mais recursos e tempo, cingiu-se a um número equivalente de destinatários. Não nos escapa, por outro lado, que as posições apresentadas podem variar, do primeiro para o segundo relatório, sobretudo em relação à programática dos textos constitucionais. A caracterização da análise quantitativa não deixa de ser um processo também qualitativo, no sentido de que ela não apresenta
Compartilhar