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Pensão conceito de dependência econômica para a Previdência Social

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PENSÃO: CONCEITO DE DEPENDENCIA ECONOMICA 
PARA A PREVIDENCIA SOCIAL* 
1. Introdução 
VALMAR GAMA DE AMORIM** 
1. Introdução; 2. Pensão; 3. A dependência econômica 
na legislação previdenciária; 4. Conclusão. 
Existe, no âmbito previdenciário, um elenco de encargos que o INPS tem 
em relação aos seus segurados, que são as prestações, subdivididas em bene­
fícios e serviços. 
• Benefício é a prestação pecuniária. 
• Serviço é a prestação assistencial. 
O presente trabalho abordará os principais aspectos do benefício denomi­
nado pensão, e dará maior enfoque a um dos requisitos para a sua obtenção, 
que é a dependência econômica em relação ao segurado falecido, principalmente 
nos casos em que a lei exige a sua devida comprovação. 
2. Pensão 
2.1 Conceito 
E o benefício pàgo, mensalmente, pelo INPS, aos dependentes do segurado 
que, aposentado ou não, veio a falecer após ter feito 12 contribuições men­
sais para a Previdência Social. Mas se o óbito resultou de tuberculose ativa, 
lepra, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e 
incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anqui­
losante, nefropatia grave ou estado avançado de Paget (osteíte deformante), 
então esse período de carência é dispensado. 
2.2 Quem tem direito a receber 
Podem receber a pensão todos os dependentes do segurado falecido, estando 
os mesmos devidamente enumerados no art. 12, do Decreto nQ 83.080, de 24 de 
* O presente trabalho, apresentado ao Curso de Direito do Trabalho, Processo Trabalhista 
e Previdência Social, em 1983, obteve a nota máxima e é publicado por decisão do Con­
selho Editorial da Revista de Ciência Política. 
** Advogado. 
R. C. pol., Rio de Janeiro. 26(3):82-88, set.! dez. 1983 
janeiro de 1979. Contudo, em certos casos, pode o INPS eXigIr que o reque­
rente comprove a sua dependência econômica através de um procedimento de­
nominado justificação administrativa. 
2.3 Duração 
Normalmente a pensão é vitalícia, ou seja, somente se extingue com a morte 
do pensionista. Contudo, existem certos fatos que fazem cessar o direito à 
percepção da mesma, a saber: 
1. Pelo casamento (pensionista do sexo feminino). 
2. Ao atingir 18 anos (pensionista filho ou irmão, não inválido ou dependente 
designado do sexo masculino). . 
3. Ao atingir 21 anos (filha ou irmã, não inválida). 
4. Pela cessação da invalidez (se o pensionista era inválido). 
2.4 Momento em que é devida 
Regra geral, é paga a contar da morte do segurado. Mas os dependentes 
podem obter uma pensão provis6ria nos seguintes casos de morte presumida: 
1. Por ausência do segurado: somente depois de decorridos seis meses de au-
5ência e esta for devidamente declarada judicialmente, podem os dependentes 
pleitear a referida pensão. 
2. Pelo desaparecimento do segurado: deve ser comprovado o acidente ou 
catástrofe que originou o desaparecimento. A comprovação deve ser feita pe­
rante o INPS - independe de declaração judicial. 
2.5 Pensão especial 
Tem direito à mesma o dependente do servidor público civil da Adminis­
tração direta ou indireta, segurado do INPS, que gozava de estabilidade, e o 
dependente de empregado estável de sociedade de economia mista, demitido 
em conseqüência de Ato Institucional. 
3. A dependência econômica na legislação previdenciária 
o conceito de dependência econômica tem sido um dos assuntos mais dinâ­
micos e controvertidos no direito previdenciário brasileiro, na doutrina e na 
jurisprudência pertinentes. 
Para se ter uma visão . ampla desse assunto é preciso estabelecer um para­
lelo entre a Lei Civil e a Lei Previdenciária. 
Ocorrendo a morte de uma pessoa, nos termos da Lei Civil, aos seus her­
deiros transmitem-se os seus bens, obedecendo às preferências estabelecidas 
pelo art. 1.603, do Código Civil, in verbis: 
Pensão 83 
Art. 1.603. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I - Aos descendentes; 
H - Aos ascendentes; 
IH - Ao cônjuge sobrevivente; 
IV - Aos colaterais; e 
V - Aos estados, ao Distrito Federal ou à União. 
Para a Lei Previdenciária as pessoas gue são consideradas dependentes do 
segurado são as seguintes, de acordo côm o art. 12, do Decreto n9 83.080, 
de 24 de janeiro de 1979, in verbis: 
Art. 12. São dependentes do segurado: 
I - A esposa, o marido inválido, a companheira mantida há mais de cinco 
anos, os filhos de qualquer condição menores de 18 anos ou inválidos e- as 
filhas solteiras de qualquer condição menores de 21 anos ou inválidas; -
II - A pessoa designada que, se do sexo masculino, só pode ser menor 
de 18 anos ou maior de 60 anos ou inválida; 
IH - O pai inválido e a mãe; 
IV - Os irmãos de qualquer condição menores de 18 anos ou inválidos 
e as irmã~ solteiras de qualquer condição menores de 21 anos ou inválidas. 
Parágrafo único. Equiparam-se aos filhos, nas condições do item I, me­
diante declaração escrita do segurado: 
a) o enteado; 
b) o menor que, por determinação judicial, se acha sob a guarda do segurado; 
c) o menor que se acha sob a tutela do segurado e não possui bens suficientes 
para o próprio sustento e educação. 
Assim, do ponto de vista previdenciário, dependente é a pessoa que está 
ligada ao segurado por uma sujeição econômica, vínculo mais abrangente que 
aquele resultante dos laços de família civil, critério esse adotado em razão 
das finalidades da proteção social. 
Muitas vezes as relações decorrentes do direito civil são insuficientes para 
explicar todas as situações de dependência que a vida pode apresentar, surgindo, 
assim, muitas vezes, pessoas não ligadas ao segurado por relações civis de 
parentesco. mas titulares de todos os direitos decorrentes da dependência 
econômica. 
Algumas vezes os dependentes mencionados na Lei Previdenciária coincidem 
com aqueles que a Lei Civil reconhece credores de alimentos a serem preso 
tados pelo segurado, critério esse muito lógico, uma vez que a prestação pre­
videnciária é, acima de tudo, uma reposição de renda perdida - aquela que 
o segurado proporcionaria se estivesse vivo. 
Dependência econômica, para a Lei Previdenciária, é a situação em que 
certa pessoa vive, relativamente a um segurado, por ele sendo, no todo ou 
em parte, efetiva ou presumidamente, mantida ou sustentada. 
Pode uma pessoa estar ligada ao segurado por um dos seguintes tipos_ de 
dependência: 
84 
Jus sa!1guinis - os filhos menores de 18 anos ou inválidos. 
Jus contratualis - a mulher e o marido inválido. 
Jus economicus - a companheira mantida há mais de cinco anos. 
R.C.P. 3/83 
É mais um estado de fato do que uma decorrência jurídica das relações 
entre parentes, já que muitas vezes essas relações estão fora da realidade social. 
Para que surja o direito dos dependentes, é necessário que ocorram duas 
~ituações que devem coexistir: a existência de relação jurídica de vinculação 
entre o segurado e a instituição previdenciária e a de dependência econô­
mica entre o segurado e o pretendente da prestação. 
Vários critérios são usados, pela Previdência Social, para avaliar a depen­
âencia econômica entre o segurado e o pretendente à prestação, que são: 
a) aquele que funda a dependência em relação de família, admitindo um 
direito subjacente a alimentos; 
b) aquele que, além dos vínculos de família, exige a demonstração de um 
requisito de idade ou de incapacidade para o trabalho; 
c) o que fundamenta a dependência na demonstração de coabitação ou de 
vida em comum que a denuncie efetivamente; 
d) a evidência de uma situação de dependência total ou parcial, em relação 
ao segurado; 
e) indicação, pelo segurado, de dependente. 
3.1 A companheira 
Outro aspecto da mais alta importância, no que tange ao requisito da de­
pendência econômica, é o reconhecimento do direito da companheira de. re­
ceber prestações previdenciárias decorrentes de sua união marital com o segurado. 
Historicamente, foi em Paris que pela primeira vez se reconheceu os di­
reitos da companheira, sob o fundamento de que entre um homem e uma 
mulher não existiaapenas uma "vida de casal" mas sim uma sociedade de 
ganhos, onde a contribuição da mulher teve grande realce. 
No Bra~i1, as tentativas de uma regularização da situação da companheira 
encontraram diversos obstáculos, pois havia muita prevenção contra a união 
do homem com a mulher fora do casamento. Entretanto, aos poucos e a 
muito custo a realidade do meio social veio mostrar ao legislador a necessidade 
de ajustar a lei aos fatos da vida e, graças à Lei nQ 5.890, de 8 de junho de 
1973, a mulher que era chamada por termos tais como "amásia", "amante", 
"concubina" e outros, veio ganhar a merecida dignidade. 
Em todo o mundo, apenas o direito previdenciário brasileiro deu represen­
tação social à mulher que vive com um homem como se casada fosse. 
Para a pessoa ser considerada companheira, tem que ter mais de cinco 
anos de vida em comum com o segurado. Neste caso, a lei presume a exis­
tência da dependência econômica. Entretanto, se a dependência econômica 
for apenas parcial, e não exclusiva, tem que haver uma designação da mu­
lher, por parte do segurado, para que a mesma possa vir a fazer jus aos bene­
fícios previdenciários. 
Isto gerou muitos problemas para a companheira após a morte do segu­
rado. pois subordinava-se o direito dela a um dever cumprido ou não pelo 
homem. Hoje, mesmo havendo uma omissão por parte do segurado com re-
PenSão 85 
loção à inscrição da companheira no INPS, pode a mesma suprir a designação 
se forem apresentadas pelo menos três das provas de vida em comum, a saber: 
a) mesmo domicílio; 
b) conta bancária conjunta; 
c) procuração ou fiança reciprocamente outorgada; 
d) encargos domésticos evidentes; 
e) regist;o de associação de qualquer natureza em que a companheira fique 
como dependente, ou outra prova que possa constituir elemento de convicção. 
Contudo, havendo filho em comum, as condições de designação e de prazo 
C;cam supridas. 
A mulher, mesmo inscrita pelo segurado, antes de cinco anos de vida em 
comum, é considerada apenas pessoa designada. Ela é uma titular dos bene· 
f;cios, apenas em potencial. Após os cinco anos, ela passa a ser considerad;; 
companheira, para todos os fins de direito. 
"Não existindo esposa, marido inválido ou companheira com direito às pres­
tações, a pessoa designada pode, mediante declaração escrita do segurado, 
concorrer com os filhos dele" (art. 16, § 1Q, do Decreto nQ 83.080, de 24 
de janeiro de 1979). 
O pai inválido e a mãe também podem concorrer com a esposa, a com­
panheira, o marido inválido ou a pessoa designada, caso haja declaração es­
l:rita do segurado nesse sentido. Todavia, se existir filhos com direito às pres­
tações, cabe àqueles dependentes apenas assistência médica, isto se também 
não forem filiados a outro regime previdenciário. 
O elo de dependência econômica tem tanta relevância para a concessão 
de um benefício previdenciário que se nota uma grande elasticidade nos pre­
ceitos contidos no art. 17, do Decreto nQ 83.080, de 24 de janeiro de 1979, 
transcrito a seguir: 
Art. 17. A companheira concorre: 
I - com o filho menor ou inválido do segurado, havido em comum ou 
não, salvo se o segurado tiver deixado manifestação expressa em contrário; 
11 - com o filho e a esposa do segurado, se esta estava separada dele e 
recebendo pensão alimentícia, com ou sem desquite ou separação judicial; 
111 - com o filho e a ex-esposa do segurado, se esta estava divorciada 
dele e recebendo pensão alimentícia. 
3.2 Perda da condição de dependente 
Pode uma pessoa perder a sua condição de dependente, ou seja, deixar de 
ser titular de direitos previdenciários, caso ocorra uma das seguintes hipó­
teses previstas no art. 18, do Decreto nQ 83.080, de 24 de janeiro de 1979, 
transcrito a seguir: 
Art. 18. A perda da qualidade de dependente ocorre: 
I - para o cônjuge, pelo desquite, separação judicial ou divórcio, sem que 
lhe tenha sido assegurada a prestação de alimentos, ou pela anulação do 
casamento: 
11 - para a esposa que voluntariamente tiver abandonado o lar por mais 
de cinco anos ou que, mesmo por tempo inferior, o tiver abandonado sem 
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justo motivo e a ele se tiver recusado a voltar (art. 234 do Código Civil), 
desde que reconhecida uma dessas situações por sentença judicial transitada 
em julgado; 
111 - para a companheira, mediante solicitação do segurado, com prova 
de cessação da qualidade de dependente, ou se desaparecerem as condições 
inerentes a essa qualidade; 
IV - para a pessoa designada, se cancelada a designação pelo segurado, 
ou se desaparecerem as condições inerentes à qualidade de dependente; 
V - para o filho do sexo masculino, a pessoa a ele equiparada nos termos 
do parágrafo único do art. 12, o irmão e o dependente menor designado do 
sexo masculino, ao completarem 18 anos de idade, salvo se inválidos; 
VI - para a filha, a pessoa a ela equiparada nos termos do parágrafo único 
do art. 12, a irmã e a dependente menor designada, solteiras, ao completarem 
21 anos de idade, salvo se inválidas; 
VII - para o dependente inválido, em geral, pela cessação da invalidez; 
VIII - para o dependente, em geral: 
a) pelo matrimônio; 
b) pelo falecimento; 
c) pela perda da qualidade de segurado por aquele de quem ele depende, 
ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 272. 
Vimos, assim, que o artigo referido disciplinou de forma clara a perda da 
condição de dependente. 
4. Conclusão 
o direito previdenciário brasileiro, embora ainda com muito pouco tempo 
de existência, já se projeta como um dos mais avançados do mundo, princi­
palmente no que se refere ao conceito de dependentes. 
As situações sociais das pessoas que vivam sob a dependência econômica 
do segurado são as mais diversas, e daí a razão por que a Previdência Social 
procura ampará-los, sem exceção, desde que exista, efetivamente, entre as 
mesmas e o segurado, uma vinculação de cunho econômico. 
Houve grande evolução no conceito de dependência econômica, e hoje já 
não se exige mais que ela seja exclusiva. Pode ser relativa. 
É um critério muito lógico e justo, sob o ponto de vista social, sobretudo 
porque vivemos num sistema de renda familiar, principalmente nas famílias 
das classes baixa e média, onde é usual que vários de seus membros contri­
buam para o sustento comum. Por isso, ocorrendo a morte do segurado, a 
Previdência Social, cumprindo sua finalidade, deverá suprir a parcela finan­
ceira que passa a faltar, para evitar o desequilíbrio do grupo familiar, daí 
porque o fundamento da pensão é econômico. 
Não obstante o direito previdenciário brasileiro tenha atingido um grau 
considerável de evolução, ainda existem aspectos altamente negativos, a saber: 
A) A forma tecnicista das leis previdenciárias 
A maior parte da população brasileira, a quem essas leis se dirigem, é 
composta de pessoas carentes e analfabetas, portanto sem condições intelectuais 
Pensã(l 87 
de entenderem o conteúdo dos textos legais. Em consequencia desse fato, 
muitas vezes elas deixam de pleitear os seus direitos junto à Previdência So­
daI. E não se nota, por parte do INPS, nenhum esforço no sentido de que 
cada cidadão brasileiro saiba quais são os seus direitos e como exercitá-los. 
B) O julgamento dos processos 
De nada adianta a evolução da legislação previdenciária, se muitas das pes­
~oas que ocupam o cargo de julgadores, dentro dos órgãos de controle juris­
dicional do INPS, não se dão ao trabalho (em alguns casos) de aplicar a lei 
ao caso concreto. 
A lei é a vontade abstrata do Estado em face de um número indeterminado 
de situações jurídicas, portanto o julgador tem que conhecer esse princípio 
que norteia a correta aplicação da lei, o que, infelizmente, não se vê no 
conteúdo de muitas decisões proferidas pelo INPS. 
Muitas delas são completamente inócuas e sem nenhum amparo legal. Às 
vezes nos dão a impressão de que são "decisões em série", feitas por má­
quinas, e não por humanos. 
Em se tratando de legislação previdenciária, principalmente a interpretação 
dos textoslegais deveria atender aos fins sociais. Ao contrário, muitas vezes 
ú INPS quer demonstrar uma rigidez excessiva e acaba ferindo o interesse 
social e desvirtuando a finalidade-mestra da Previdência. 
A correta aplicação da lei não constitui doação e nem traduz liberalidade. 
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