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Recuperação à vista para a América subdesenvolvida

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RECUPERAÇÃO À VISTA 
PARA A AMl!RICA SUBDESENVOLVIDA 
DIOOO DE FIGUEIREDO· 
1. Dívida externa; 2. Tendência de apoio da comuni­
dade financeira; 3. Tomada de consciência; 4. Programa 
de soluções; 5. Um alívio: a redução da taxa de juros; 
6. Queda dos preços do petróleo; 7. Recuperação da 
economia central; 8. Concertação e não confrontação; 
9. Preparando o hemisfério para as vacas gordas. 
Para alguns poderá parecer extemporâneo que se trate de recuperação jus­
tamente quando a crise que se abateu sobre a economia mundial chega agora 
à sua fase mais aguda. 
Contudo, não há mal que sempre dure, e no bojo da própria crise vêm as 
sementes da oportunidade. As lições já foram tiradas, alterações estão sendo 
feitas, resultados começam a brotar e há fortes indícios de que já se atingiu 
o fundo do poço. 
1. Dívida externa 
Paradoxalmente, o primeiro indício de recuperação surge com o mais dra­
mático dos recentes desdobramentos: a crise da dívida externa, ocorrida quase 
contemporaneamente nos maiores tomadores de recursos dentre os países em 
desenvolvimento. Impossibilitados, por motivos externos à sua vontade - como 
o são, entre outros, a retração do comércio internacional e o aviltamento dos 
preços de suas mercadorias - de prosseguir em seus próprios programas 
financeiros de administração da dívida contraída durante os anos recessivos, 
na forma como vinham operando, alguns países em desenvolvimento tiveram 
que recorrer ao Fundo Monetário Internacional e adotar medidas de austeri­
dade de grande custo social e político. 
As providências para atender às injunções financeiras internacionais puseram 
mais uma vez em evidência, e desta vez com grande eloqüência, essa realidade 
tão pouco tomada em conta pela comunidade dos países industrializados: que 
a crise econômica nos países em desenvolvimento não se circunscreve à eco­
nomia mas compromete-lhes imediatamente a própria tessitura social e política. 
Não há, como nos países desenvolvidos, margem de segurança capaz de absor­
ver, no próprio campo econômico, problemas como queda de produção, ocio­
sidade, desemprego etc. 
'" Secretário do Conselho lnteramericano Econômico e Social (ClES) da Organização dos 
Estados Americanos. 
R. C. pol., Rio de Janeiro, 26(3):46-52, set./dez. 1983 
Assim é que, ante o perigo de possíveis e catastróficas inadimplências suces­
sivas, muitos dos bancos privados que se tornaram na última década os grandes 
financiadores da estabilidade dos países em desenvolvimento foram os primeiros 
a tocar uma clarinada, a se preparar e a chamar a atenção para o risco que 
corre o sistema financeiro global, se persistir o quadro iníquo das relações 
econômicas internacionais vigentes. 
Em outras palavras: há poderosos bancos, agora, com consciência e nitidez 
de interesse em reverter o processo que lhes tornou "credores do mundo", até 
mesmo para assegurarem-se de que os tremendos lucros que lhes advieram da 
exploração das vacas magras possa vir a ser percebido. 
2. Tendência de apoio da comunidade financeira 
Os reflexos sócio-políticos da crise não só espantaram os banqueiros e fize­
ram-lhes ver a necessidade de apoiar ainda mais os devedores, como também 
a se alinhar na luta pela recuperação da economia mundial. Preocupa-lhes, 
sobretudo, os reflexos sócio-políticos que podem escapar ao controle das insti­
tuições estabelecidas e provocar uma débacle, um dominó de quebras, empre­
gando, por isto, seu peso e sua influência para apressar a recuperação. 
Resultantes sempre em ceder em favor dos países em desenvolvimento em 
nome de valores superiores, como os princípios de justiça e de eqüidade inter­
nacionais, os países industrializados, ainda que se impressionem com sintomas 
evidentes, como o são os distúrbios de rua e as violências populares na Amé­
rica Latina, passaram a ter agora em seu próprio meio bancário mais vozes 
a se somar às que insistem em propugnar medidas corretivas. 
Recentemente, o presidente do Banco Mundial, perante um auditório da 
Comunidade Européia, advertia de que a própria recuperação dos países desen­
volvidos estará frustrada se se agravar a recessão no Terceiro Mundo. Um 
efetivo apoio, segundo Clausen, se basearia em dois pontos fundamentais: luta 
contra o protecionismo e manutenção e aumento do fluxo de capital interna­
cional aos países em desenvolvimento. 
É de se esperar que a política econômica dos países desenvolvidos tenha, 
de aqui por diante, cada vez mais em conta estes alertas, não só pela autori­
dade e responsabilidade de quem os emite, como pela natural preocupação de 
que destas demonstrações de instabilidade social, ainda que incipientes, medrem 
radicalismos e violências insopitáveis que, pelo efeito-demonstração e pelo l!ledo, 
acabem por incendiar toda a região. Entre outros motivos, porque já há geral 
convencimento de que para o terror e para a insegurança psicológica não há 
fronteiras políticas. 
3. Tomada de consciência 
Outro elemento importante a levar-se em conta, ao examinar-se os indícios 
de recuperação, é a tomada de consciência. O processo tem aflorado com insis­
tência aos debates internacionais e às agendas políticas das nações industriali­
zadas. Os radicalismos, de esquerda e de direita, que são os únicos beneficia­
dos com a exploração da crise, não escondem suas estratégias em curso em 
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vanas reglOes subdesenvolvidas e, mais particularmente, para nós deste hemis­
fério, na América Central. 
De modo especial, no país líder da região, o Governo dos EUA, afastando-se 
da conduta introvertida e até insensível, mantida nos últimos anos, tem de­
monstrado crescente grau de consciência do problema e esboçado gestos de 
compreensão e de interesse. Falta-lhes, é verdade, toda uma política, forte e 
definida, para liderar o processo de recuperação regional, mas seguramente já 
ultrapassaram o requisito inicial para vir a desenvolvê-la, que é a consciência 
do significado político da crise na América Central e no Caribe, avançando, 
neste ponto, mais que todos os governos anteriores desde Kennedy. 
Para não deixar de citar um exemplo, o Governo Reagan, aprendendo muito 
em dois anos de curul, tem procurado inteirar-se da realidade circunjacente e, 
bem ou mal interpretada, é inegável a validade de seus esforços. 
4. Programa de soluções 
o adensamento da consciência da crise, de suas dimensões e desdobramentos, 
não se circunscreve aos bancos credores, nem ao Fundo Monetário e nem ao 
Governo dos EUA. Já é um processo global que está em curso em todos os 
foros mundiais, onde pronunciamentos claros e diretos, como o do Presidente 
João Figueiredo na abertura da Assembléia-Geral da ONU, em novembro de 
1982, já não são marcos isolados. 
A mesma tônica, em uníssono, está presente nessas reuniões e nesses pro­
nunciamentos de chefes de Estado e altos representantes: é imperativo uma 
mobilização das nações para superar a crise e reencontrar o caminho do de­
senvolvimento pela concertação e pelo compromisso. 
Em qualquer nível, em qualquer escala, não é demais repisar-se esta reali­
dade. E não se diga que afirmações deste jaez se perdem no vazio e na retó­
rica porque é ressabido que as decisões, tão esperadas e tão necessárias, não 
surgem na arena internacional senão como resultado de um paciente processo 
de sedimentação que nasce, precisamente, do conhecimento das ca1,lsas e da 
concertação das respostas coletivas. 
5. Um alívio: a redução da taxa de juros 
Não cabe aqui nos ocuparmos dos motivos que determinaram a reversão da 
política monetária norte-americana com relação às taxas de juros. O certo é 
que enough is enough, e o mecanismo de atração do dólar acabou por com­
prometer muito mais que beneficiar a economia. Sob a orquestração do Federal 
Reserve Bank, os prime rates desceram paulatinamente até os limites atuais, 
quase aceitáveis, bem mais propícios ao reaquecimento econômico dos EUA 
(conforme ficou demonstrado) e à retomada do progresso pelos países _ em vias 
de desenvolvimento,aliviados em seus serviços da dívida externa. Todos ga­
nharam: é um exemplo fértil para fundar uma justificação e uma estratégia de 
recuperação global que pode surgir da concertação internacional. 
Além de representar um alívio sobre os exigidos balanços de pagamento dos 
países em desenvolvimento, a redução das taxas de juros traz consigo um ele­
mento psicológico insubstituível no processo de recuperação: o alento a novas 
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inversões, quase paralisadas pelo alto custo do capital. Do ponto de vista 
social, a taxa de juros toma possível a sobrevivência, o crescimento e a re­
produção das pequenas e médias empresas, cruciais, pelos empregos que geram, 
tanto nas nações desenvolvidas como naquelas em desenvolvimento. 
6. Queda dos preços do petróleo 
Concorrendo, afortunadamente, para o quadro da recuperação, produziu-se 
recentemente a inversão da tendência altista nos preços do petróleo. Dez anos 
de intensa prospecção e descobertas de novas jazidas, de políticas de poupança 
de combustíveis e de desenvolvimento de fontes alternativas começam a ma­
nifestar resultados, devolvendo a prevalência da economia de mercado sobre 
o domínio do cartel. A providencial queda dos preços dos hidrocarbonetos 
líquidos acelera o processo de recuperação nos países desenvolvidos, alivia o 
balanço de pagamento dos países em desenvolvimento das contas desestabili­
zadas pelo petróleo importado e, mesmo nos países exportadores de petróleo, 
corrigir-lhes-á, a médio prazo, as tremendas distorções que a riqueza subitânea 
e pouco exigente de mão-de-obra lhes trouxe às respectivas economias. 
Em última análise, todos serão beneficiados pelo regresso à sadia política do 
livre comércio, pois a História não registra vida longa para monopólios, cartéis 
e quaisquer outras formas de domínio de mercados. 
Uma projeção de redução de três ou quatro dólares por barril não seria des­
cabida e reverteria ainda mais aceleradamente as tendências observadas du­
rante os 10 anos de hegemonia do cartel da OPEP. Os preços do petróleo jamais 
retomarão aos níveis diminutos que, afinal, foram a razão de ser da constitui­
ção do cartel, mas os países exportadores de petróleo aprenderam que não 
podem repousar suas economias num único produto e que, acima de todas as 
riquezas, estão, nesta ordem: o homem, seu trabalho e a produção dos alimentos 
indispensáveis à sua sobrevivência. 
7. Recuperação da economia central 
Outro e forte indicador da recuperação se origina nos EUA. Com suas cifras 
astronômicas, este país continua a desempenhar um papel central na economia 
mundial. Mesmo depois de reduzida a imensa assimetria existente ao término 
da 11 Guerra Mundial, os EUA ainda apresentam tamanha margem de lide­
rança que somente a URSS, o Japão e a Comunidade Européia podem ostentar 
massas econômicas de magnitude longemente comparáveis. 
Se considerarmos, por outro lado, as economias dos países em desenvolvi­
mento, a assimetria é ainda mais gritante e, por si só, põe em relevo a grande 
sensibilidade de seus mercados à evolução da economia norte-americana e às 
decisões político-econômicas que tomem os EUA. 
Ora, a recuperação da economia americana já está estabilizada, em pleno 
curso, apresentando resultados ainda mais espetaculares que seus próprios ar­
quitetos esperavam. O desempenho, no primeiro quadrimestre de 1983, faz 
prever um aumento do produto nacional bruto de, pelo menos, 4% para este 
ano. Não é descabido prever que esta vigorosa recuperação demandará bens 
e serviços de toda ordem, gerando uma cadeia de negócios e de oportunidades, 
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que, cedo ou tarde, repercutirão sobre as economias periféricas que são as 
que podem oferecer produtos básicos, matérias-primas e certos serviços em 
condições vantajosas, barateando os produtos finais para o consumidor norte­
americano e aumentando os lucros empresariais para novos investimentos. 
Esta previsão tem sua razão de ser na admissão, que se pode licitamente 
fazer, de que o empresariado norte-americano reencontrou-se, durante a crise, 
com o esquecido conceito de produtividade, enquanto seu mercado se inundava 
de produtos de melhor qualidade e menor preço relativo provenientes do 
Japão, da Europa e dos NICs. 
Com o fim da recessão, não é de se esperar que a importância da produti­
vidade, a duras penas reconhecida durante a crise, valendo a lição milhões 
de empregos, seja esquecida. J! de se esperar que as empresas continuem a 
utilizar sabiamente seus recursos, buscando meios mais baratos de produzir 
bens e serviços finais, recorrendo aos mercados mais vantajosos para os insu­
mos, em vez de perseverarem nas práticas que, como ficou demonstrado, causa 
tanto ou mais mal ao país industrializado que a seus mercados discriminados. 
Se, realmente, se reincorporou à mentalidade empresarial americana o s~mi­
olvidado conceito de produtividade, como lição de uma dura crise e penosa 
recessão, há, também aí, uma reversão de expectativas das mais fascinantes 
neste processo de recuperação que pode até produzir um boom comercial na 
segunda metade desta década de 80, uma vez que a ampliação das compras 
à América Latina tem automática resposta na maior aquisição de bens e ser­
viços pela América Latina no fabuloso mercado americano. 
Mas o processo tem duas mãos, como bem sublinhou o presidente do Banco 
Mundial: se é certo de que não há recuperação das economias periféricas sem 
recuperação da economia central, não há, por outro lado, durabilidade da 
recuperação da economia central sem desenvolvimento das economias perifé­
ricas. Não é só esta a realidade de um mundo interdependente como uma 
realidade desejável, pois nos faz compreender que a humanidade é uma só, e 
o progresso, um patrimônio comum. 
Só falta, em tudo isto, um processo disciplinador que reduza as dificuldades, 
estimule as soluções e abrevie o tempo de sofrimento que ainda nos resta 
antes de retomar o ritmo de desenvolvimento alcançado nos anos 50 e 60. 
8. Concertação e não confrontação 
É este o quadro. E se é este o quadro, analisemos as consequencias no 
campo das relações internacionais. A premissa básica, deixamo-Ia no último 
parágrafo do item anterior: faz falta um processo disciplinador. E ele só poderá 
advir de uma intensificação dos estudos, consultas e negociações de novos termos 
de comércio, novas estratégias de cooperação e novos rumos institucionais. A 
um novo desafio, de uma promissora terceira fase do pós-guerra, novas res­
postas poderão nascer com base firme, fundadas na experiência das duas etapas 
anteriores do pós-guerra: a primeira, de vacas gordas, até fins da década de 
60, e a segunda, de vacas magras, até meados da presente década. 
De qualquer forma, a negociação desempenhará um papel insubstituível, 
revalorizando, a esta altura, os tradicionais foros de concertação, relegados e 
quase esquecidos durante os anos difíceis. 
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t que, durante uma crise do porte da que passa a comunidade internacional, 
a sobrevivência fala mais alto que o desenvolvimento, e os foros de emulação 
e de confrontação, onde se verte o fel das vacas magras, assumem tremenda 
importância sazonal como tribunas reivindicatórias, tais como o SELA, o Grupo 
dos 77, a Conferência de Não-Alinhados e quejandas. 
A recuperação e, mais que isto, a simples perspectiva de recuperação, de­
manda também, neste particular, uma reversão de atitudes: é o momento de 
pensar-se na ativação dos foros menos ruidosos e estardalhaçantes, porém mais 
afeitos ao trabalho paciente de concentração de soluções para a cooPeI.i!.ção 
para o desenvolvimento: os foros tradicionais, que ficaram relegados na era 
do desespero. 
O diálogo Norte-Sul, seja global, seja a nível hemisférico, se torna muito 
difícil em tempos de vacas magras: ninguém gosta de repartir a escassez; mas 
se torna possível e desejado quando a fartura ou a iminência da recuperação 
recomenda ceder aqui para ganhar mais adiante, no processo cíclico de cres­
cimento característicodas épocas de vacas gordas. 
A concertação para o desenvolvimento necessita reassumir, então, prioridade, 
subindo às agendas dos organismos internacionais, não a nível meramente retó­
rico mas a nível prático, com a retomada de uma tônica perdida há mais de 
10 anos. 
9. Preparando o hemisfério para as vacas gordas 
Aqui tocamos em cheio a escala americana deste ensaio. Ainda que nos 
arrisquemos a pecar por excesso de otimismo, nada há a perder em injetar-se 
um pouco de sadio estímulo a uma comunidade hemisférica entorpecida e 
desanimada tanto pelos fatos quanto pelas lamentações, increpações e explo­
rações que deles deriva a retórica internacional. 
Que há a perder em preparar-se, o hemisfério, para o tempo e a linguagem 
da cooperação, na expectativa de uma recuperação que, mais cedo ou mais 
tarde, afinal, há de vir? 
Ao contrário, haverá muito a perder se os países não se prepararem e, de 
braços cruzados, esperarem pelo final da crise. Terão perdido a oportunidade 
de administrar a mudança, de impor-lhe um rumo mais racional, de corrigir­
lhe as distorções desde o início e de acelerar-lhe o advento, reduzindo-Ihe o 
período de transição. 
Se, de um lado, nada há a perder em preparar-se o processo da próxima 
recuperação, há muito de positivo em assumir uma atitude construtiva, quanto 
mais não seja pelo importante efeito psicológico de tal atitude para produzir-se 
a reversão de expectativas, fenômeno cultural que subjaz e guia o econômico. 
As organizações têm um papel essencial a desempenhar neste particular: 
podem aquecer um diálogo tíbio e aligeirar um processo moroso através de 
agendas bem organizadas e de reuniões objetivas de preparação da mudança, 
dando-Ihes, através do diálogo, o necessário respaldo instrumental. 
A OEA, que não se deixou dobrar pelas dificuldades acumuladas em 10 
anos de crise, tão duramente sentidas na própria tessitura da Organização como 
repercussão direta das dificuldades dos países-membros, superou as crises, 
fechou as cicatrizes e pode orgulhar-se de ter mantido intacta a chama que a 
criou e o legado precioso que recebeu: está preparada para continuar a ser o 
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grande foco e foro da concertação hemisférica integral que tanto serviu no 
passado e ainda o é, por ser insubstituível, quer pelas agências especializadas, 
quer pelos foros de confrontação que proliferaram nas duas últimas décadas. 
É com esta folha de serviços que ela se pode apresentar como um instru­
mento válido para o esforço de acelerar, conduzir e monitorar a recuperação. 
A oportunidade aí está, propiciada pela tão sonhada Assembléia-Geral Extraor­
dinária de Cooperação para o Desenvolvimento. Talvez tivesse sido bom, afinal, 
que se houvesse postergado durante seis anos sua realização, pois, agora, as 
novas circunstâncias a tomam extremamente mais oportuna e interessante. 
Essa Assembléia-Geral Extraordinária poderá vir a ser, se bem preparada, 
a reunião que balizará o início da recuperação e o marco da transição do 11 
Pós-Guerra, de recessão, para o 111 PÓs-Guerra, de retomada do desenvol­
vimento. 
Sua preparação exigirá o que de melhor possam dar os países-membros. a 
própria OEA e as demais agências que atuam no hemisfério, e muito de suas 
responsabilidades técnicas recairão sobre a área econômica e social. Nela, será 
importante o papel do Conselho Interamericano Econômico e Social para que, 
reativado, reencontre sua verdadeira identidade, sacudindo a inércia de 10 
anos, e assuma o papel que lhe compete, tal como já o fez no passado, como 
órgão central das decisões coletivas continentais em matéria econômica e social. 
As coincidências parecem favorecer este prognóstico. De um lado, a incomum 
importância da agenda da reunião do Conselho Interamericano Econômico e 
Social (CIES) para 1983; de outro, os indícios de recuperaçãó-examinados e, 
como coroamento, o oferecimento de sede em Assunção, Paraguai, para sua 
reunião anual de setembro. 
Temas, como o Sistema Generalizado de Preferências dos EUA, a política 
continental de telecomunicações, os entraves ao comércio internacional, o papel 
da empresa privada na cooperação para o desenvolvimento e, entre outras, em 
destaque, a preparação da referida Assembléia-Geral Extraordinária, serão por 
si sós suficientemente atrativos e demandantes para que justifiquem a mais 
importante reunião em mais de uma década. O CIES de setembro pode marcar 
uma nova etapa da concertação continental, a reconvocação dos EUA à mesa 
de negociação hemisférica ao nível ministerial previsto na Carta da Organiza­
ção e a afirmação do momento da reversão das expectativas e da retomada do 
desenvolvimento. 
Paraguai - um país que trabalhou duro e não deixou de crescer durante a 
crise - propiciou sua capital, durante o suave outono subtropical, para que, 
sob a inspiração do gigantesco esforço que representou Itaipu, se possa lograr 
este desiderato. 
52 R CP. 3/83

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