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PRIMEIRA PARTE: ANALISE DOS QUESTIONARIOS SEÇÃO I: ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ANA LUCIA DE LYRA TAVARES CAPITULOS. I - Reforma Constitucional 11 - Princípios Fundamentais do Estado e do Governo 111 - Organização do Estado Federal IV - Estrutura e Articulação dos Poderes OBSERVAÇOES PRELIMINARES Nesta Seção I, serão analisadas informações relativas aos seguintes temas: reforma constitucional; princípios fundamentais do Estado e do Governo; or ganização do Estado federal; estrutura e articulação dos poderes. Tais informa ções, de regra suscitadas pelas questões pertinentes a cada um desses itens, não raras vezes foram complementadas por opiniõ.es vinculadas a tópicos da Seção II - Primeira Parte, da presente análise, intitulada Estado e Sociedade. Assim, em virtude dessa inter-relação temática, natural nas Constituições, não se poderá desco'nhecer, no exame dos assuntos acima indicados, elementos que, embora estejam formalmente associados àquela Seção, concorram para esclare cimento da Primeira. Observe-se, também, que para cada tema e subtema, convergem dados provindos dos dois tipos de questionários adotados nesta pesquisa: o n<? 1, menos técnico, destinado à maioria dos consultados, e o n.<? 2, mais especia lizado, encaminhado aos publicistas, políticos e politicólogos.1 Por outro lado, além dessa diversidade de conteúdo, segundo os destina tários, deve-se ter em mente a forma heterogenea das perguntas, uma vez que questões fechadas (em que se fornece a estrutura da resposta), mesclam-se a semi-abertas (com possibilidade de justificativa) e abertas (sem indicação de estrutura para a réplica). Infere-se, pois, que fundamentam o estudo de cada tópico, contribuições provocadas por estímulos de espécie múltipla. Sempre que cabível, nos desen- 1 Os questionários 1 e 2 estão reproduzidos no anexo V. 29 )0 volvimentos que se seguem, dar-se-á ênfase a este aspecto, importante para a compreensão do gênero de informe obtido. Em relação à ordem expositiva, fez-se anteceder o panorama dos posicio namentos sobre cada um dos temas já referidos, de uma avaliação das ten dimcias identificadas quanto ao~ respectivos subtemas. :\esta análise di ;cri minada, para facilitar-se a visualização das principais expectativas dos segmentos - global e isoladamente considerados - separou-se a abordagem de cunho qua'ntitativo, daquela de natureza qualitativa. Como é sabido, na primeira afe rem-se- as respostas em termos numéricos, estatísticos, registrando-se as fre qüências das manifestações, as opiniões majoritárias e minoritárias, enquanto, na segunda, são focalizados aspectos peculiares, curiosos da sondagem, indica ções singulares, revelações de interesse particular, etc. Diga-se, desde logo, que esta distinção dos ângulos quantitativo e qualita tivo é provisória no roteiro adotado, uma vez que eles voltam a fundir-se no comentário geral que sucede àquela anállse.2 Para conhecimento dos enunciados das questões que provocaram manifes tações sobre cada um dos subtemas, será necessário reportar-se aos modelos dos questionários 1 e 2, porquanto, no corpo do texto só se recorreu à sua reprodução integral nos casos em que se tenha observado uma influencia visí vel do modo pelo qual foi formulada a pergunta sobre os resultados obtidos. Cabe, ainda, sublinhar a preocupação de apurar, em toda a densidade do seu conteúdo, as respostas oferecidas aos questionários, em benefício do rendimento mais amplo da pesquisa nas condições de tempo e disponibilidade de recursos em que foi realizada. Procurou-se, por isso mesmo, realçar, não só as opmlOcs numericamente expressivas - objetivo principal do estudo - mas também contribuições mi noritárias, qualitativame:nte válidas, levantadas de forma exaustiva, conforme se verifica nos quadros do Anexo lI. Esta orientação de também levar em conta manifestações estatisticamente irrelevantes foi adotada pela expressão técnica de que se reveste o assunto, no caso em que uma sugestão isolada pode revelar-se mais eficaz do que uma proposta majoritária. Além disso, a própria natureza exploratória do trabalho desaconselhava a rejei,ção sumária de elementos que pudessem enriquecê-Io. 3 Foi essa, aliás, uma das diretrizes do grupo que elaborou o estudo suíço em que se inspirou a presente consulta. Nele foram divulgados além dos parece res predominantes, «as idéias construtivas de uma minoria"" presentes em toda a extensão daquele documento. 2 Lembram Williarn Goode e Paul Hatt que "a pesquisa moderna deve rejeitar como wna falsa dicotomia a separação entre estudos qualitatiVOS e quantitativos" (Métodos em pesquisa social, S. Paulo, Cia. Ed. Nacional, 1968, p. 398). 3 Grawitz, Madeleine. Méthoeles eles Sciences Sociales, DaIloz, 1976, pp. 586-587. 4 Groupe de travail pour la préparation d'une révision totale le la Constitution fédérale, Rapport Final, Vol. VI, Berne, 1973, p. 11. Com este intuito, na fase de codificação das respostas às questões aberta5 e das justificativas das semi-abertas, buscou-se verificar a freqüência de su gestões relativas a cada assunto, anotando-se referências a outros textos cons titucionais brasileiros e estrangeiros, citações ristóricas te doutrinárias, etc., além de assinalarem-se as reações dos informantes à própria formulação das perguntas. Desta forma, na leitura dos quadros anexos, em que figuram esses dados, é preciso não esquecer que os números relativos às indicações (termo ali em pregado) isto é, às opiniões e idéias sobre a matéria, traduzem a freqüência com que foram manifestadas, ocorrendo, muitas vezes, que inúmeras sugestões proviessem de um único informante. O mesmo não se dá, obviamente, com os das reações à pergunta, computadas em razão do número de respondentes. Restringindo-se as apreciações do presente texto aos pontos julgados de maior relevância, o conjunto das inúmeras propostas apresentadas somente po derá ser avaliado pelo exame dos referidos quadros, sobretudo daqueles r€sul tantes do agrupamento de opiniões não-dirigidas. I. REFORMA CONSTITUCIONAL Esta expressão relativa ao tema da pesquisa, aqui focalizado em seus aspec los mais específicos, deu margem a algumas ponderações por parte dos respon dentes, visando a esclarecer o sentido em que fora empregada: se numa acepção ampla, implicando ab-rogação da Lei Magna e confecção de um novo diploma constitucional, ou se num significado restrito, designando apenas a modificação de dispositivos da Constituição vigente. Os publicistas, em particular, precisa ram suas posições ante estes dois entendimentos. Embora a acepção ampla tivesse prevalecido quando da elaboração dos questionários, na verdade as dúvidas procediam, uma vez que a distinção dou trinária entre reforma e revisão - totais ou parciais - é nebulosa.5 De qualquer maneira, clarearam-se as preferências quando da análise das questões sobre os processos de reforma, pendendo a maioria para que ela fosse levada a efei' o por órgão com poderes constituintes (69,5% dos respondentes ao questionário 2 e 90,4% daqueles ao questionário 1) ", não sujeito, portanto, às limitações constitucionais em vigor, contrariamente ao que ocorreria com aquele dotado apenas de poder constituído, com âmbito limitado de ação. No que se refere aos dados em que se baseou o exame deste item, convém assinalar que foi conferida particular atenção às justificativas das questões semi- 1\ As dificuldades partem da própria tradução de termos do direito público alemão, como é o caso de Verfassungsanderung, empregado por JeIlinek, e que eminentes juristas hispânicos, como Carcía-Pelayo e Sanchez Agesta, traduziram por "reforma constitucional", distinta dos processos de "emenda constitucional". V. sobre o assunto, entre outros: Loewenstein, !Carl, Teoria de la Constitución, Editorial Ariel, Barcelona, 1979, p. 164; Bonavides, Paulo, Direito Constitucional, Forense, Rio, 1980, p. 169 e segs.; Melo Franco, Afonso Arinos, Direito Cons titucioooZ,Rio, Forense, 1981, p. 94 e segs. 6 Estes percentuais traduzem o somat6rio relativo às duas opções majOritárias, Ver anexo I e lI, respectivamente quadros 1. 3 e 1. 31 32 abertas, uma vez que sobre ele incide, apenas, uma pergunta totalmente aberta. Esta a razão de os quadros em que elas foram agrupadas figurarem em anexo7 . procedimento diverso do adotado nos demais tópicos. 1.1 ANÁLISE DISCRL\lINADA Balizam, as considerações que se seguem, os pontos que foram abordados nos dois tipos de questionários, vinculados, precipuamente, ao tema da reforma constitucional, em senfido estrito. Entretanto, dentro do objetivo de aproveitar ao máximo as contribuições apresentadas, mencionaram-se numa alínea final outros aspectos lembrados pelos respondentes, não só no decorrer de suas ex posições, como também em resposta à última pergunta de ambos os questioná rios, formulada com este intuito integrativo. 1. 1. 1 Interesse pela Reforma ConstitucionaIs a) Apreciação quantitativa i) geral Indagados quanto à sua atitude ante os debates sobre a matéria, 93,8% dos consultados revelaram o seu interesse, predominando entre as justificativas: o fato de serem cidadãos e a insatisfação com a atual Carta; em terceiro lugar, equiparando-se, são invocados os méritos desses debates para conhecimentC! das opções da maioria, bem como razões de cunho profissional. A pequena parcela que se confessa indiferente (4,8%) aponta, de forma dispersa, alguns motivos, sobressaindo, por pequena margem, aquele que diz respeito à natureza política de tais debates. Outros argumentos, de peso equi valente, são: a falta de objetividade das discussões; o exibicionismo da maioria dos debatedues; a descrença nas Constituições como instrumentos de refor mas básicas; a existência de problemas mais relevantes. Esta reação positiva maciça foi fundamentada por 91,4% dos respondentes, com índice mínimo de omissões. Desta forma, o quesito seguinte, sobre a in fluência da consulta do INDIPO no caso de uma atitude de desinteresse pelo assunto, ficou prejudicado para a sua grande maioria (83,4%), embora, curio samente, 13,8~ tenham a ela respondido, conquanto não se enquadrassem na hi pótese, já que não eram indiferentes às discussões sobre a matéria. Dentre as causas da influência da consulta, foram apontadas, por essa mi noria, em ordem decrescente: a sua natureza científica e a autoridade dos seus patrocinadores - indicação presente nos quatro segmentos consultados; a ne cessidade de aprofundar-se a reflexão sobre o tema e, por fim, o seu caráter mobilizador. Os poucos que a ela se mostraram imunes indicaram, de forma geral, que a pesquisa - igual a tantas outras - era fruto de bacharelismo, não influindo sobre opiniões já formadas. 7 Ver anexo lI, quadros 1.1 a 1.10. S Ver anexo I, quadro 1 e anexo lI, quadros 1.1 e 1. 2. ü) por segmento Destacaram-se os professores na manifestação de seu interesse pelo assunto (98$), embora por intervalo mínimo, pois que foram seguidos pelos prefeitos (96,6%) e personalidades (95,1%), apresentando uma ligeira diferença em re lação ao grupo dos dirigentes sindicais (813,9%). Neste último, todavia, foram encontradas as maiores freqüências e variedades de justificativas: cerca de ~ das manifestações, com 12 categorias de motivos. Como era de esperar-se, foi entre os mestres de Direito Público que razões de natureza profissional para justificar a curiosidade sobre a matéria tiveram índice mais elevado (24,1%), fundamentação que só foi retomada, bem mais discretamente (1.5,1%) pelo grupo das personalidades. Lembre-se, a propósito, que foram reunidos neste segmento, parlamentares - atuais e antigos - empresários, funcionários administrativos graduados, pro fessores de outras áreas, advogados militantes, engenheiros, militares, diploma tas, jornalistas. economistas, magistrados e representantes do clero. Nesta faixa dos interrogados, a necessidade de uma revislo tributária, inse rida entre as causas de interesse pelo tema, mereceu atenção especial (13,2% das justificativas). Os prefeitos, por sua vez, concentraram-se nas causas também predomi nantes nas demais camadas, embora conferindo maior peso ao descontenta mento com a atual Lei Magna. Já os dirigentes sindicais, diwrsamente do grupo acima, apresentaram grande variedade de motivos, concentrando-se, todavia, naquele relativo à con dição de cidadãos (39,4%). Entre os raros indiferentes a esses debates, apenas uma justificativa - a ineficácia das Constituições nas modificações estruturais - foi lembrada, mais de uma vez, por personalidades e dirigentes sindicais. As demais foram apon tadas de modo isolado. Coincidiram, também, os escassos desinteressados desses dois segmentos, no reconhecimento de algum efeito tramformador da presente sondagem em suas posturas de indiferença. b) Apreciação qualitativa O espírito de participação proclamado pelos informantes nessas manifesta ções iniciais foi, sem dúvida, comprovado pela atenção e minúcia com que res ponderam a cerca de 55 perguntas que lhes foram encaminhadas, muitas delas comportando desdobramentos. Algumas afirmações são incisivas e definitivas: "só um ser abúlico ficaria indiferente a matéria vital para a nacionalidade"; "em casos como este, a indife rença é forma de pedantismo". Ao invocarem motivos profissionais para seu interesse, alguns professores demonstraram seu entusiasmo, uma vez que a pesquisa ensejou "de forma prá tica o desenvolvimento de idéias expostas no curso regular". No caso das per sonalidades, no quadro desse mesmo tipo de justificativa, não raro foi o relato 33 34 de experiência, com indicação de tempo de magistério ou de militância política (já fui senador 15 anos) para atestar aquele ânimo participativo. Ao vincularem seu interesse à insatisfação com a atual Carta, qualificada, reiteradas vezes, de "colcha de retalhos" e, por um dirigente sindical de "far rapo legislativo", observaram os consultados, o distanciamento daquele diploma em relação às aspirações reais. Este imperativo de adequação da Lei Magna às exigências atuais, reccnhecido pelos diferentes grupos, foi, todavia, uma tô nica nos pronunciamentos dos prefeitos, ditados, certamente, pelos entraves legais às respectivas administrações. Alguns representantes sindicais, aprofundando esta reflexão, associaram o descumprimento do texto constitucional à sua não correspondência aos ideais predominantes. É interessante observar que partiu do mesmo segmento a única referência a um tradicional apego do brasileiro à Constituição, reportando-se o respon dente a uma carta de D. Pedro I a D. João VI. Neste grupo, de forma geral, observou-se a heterogeneidade no padrão das respostas, algumas denotando a formação jurídica do informante - podendo-se pensar, em certos casos, na participação dos advogados dos sindicatos em sua elaboração - outras, revelando, como é natural, escassos conhecimentos dos termos legais, sem prejuízo, porém, para a validade da proposta. Ilustra este comentário a seguinte sugestão: "Só por uma Carta legalmente outorgada pelo Legislativo é possível manter-se a justiça social". Ainda na mesma categoria, pôde-se notar que, tanto empresários como tra balhadores, ao lado das motivações preponderantes registradas, lembravam seus interesses específicos, os primeiros referindo-se à necessidade de "inserção da empresa na vida nacional" e os últimos ressaltando as reivindicações sindicais em nível constitucional. A pergunta sobre eventuais efeitos da presente sondagem, na inexpressiva faixa dos indiferentes às discussões sobre a matéria, suscitou algumas reações interessantes: um dos participantes classificou a pergunta de impertinente, por ser a segunda do questionário; outro, confinnando seu interesse, independente mente de qualquer pesquisa, sentenciou, em estilo poético: "Certas posições ( ... ) são perenes ( ... ) Os debates podem avivar as consciências, como os ventosavivam os braseiros ( ... ) mas não interferem nas convicções." Alguns, porém, mostraram-se sensíveis à influência da consulta: "a autori dade da FGV é um convite à meditação, a uma saída do limbo". Alguém evocou o exemplo de EI Salvador, "em que a guerrilha precedeu a Constituinte". Devemos impedir esta seqüência, concluiu. c ) Apreciação integrada Sem retomar as observações pertinentes às alíneas anteriores, cabem, aqui, breves comentários genéricos: i) patenteado o seu interesse, ~oncentraram-se os infonnantes em quatro tipos de iustificativas, dispersando-se em outras 12 categorias estatisticamente menos relevantes; ü) por serem perguntas introdutórias, verificou-se, desde logo, a preocupa ção dos respondentes de prestar informações que, naquela etapa preliminar, não haviam sido solicitadas. Anteciparam-se, assim, posicionamentos sobre os processos de reforma da Constituição, o prazo para sua efetivação, o conteúdo do texto, etc.; ili) mais do que uma reflexão sobre a influência da presente pesquisa nO espírito do consultado, a segunda questão provocou uma complementação dos motivos, de interesse ou desinteresse, tornando mais restrito, ainda, o círculo dos que, realmente, se enquadravam na indagação. 1.1.2 Necessidade de uma nova Constituição9 a) Apreciação quantitativa i) geral Tema subjacente a todas as perguntas de ambos os tipos de questionário, por força da própria finalidade da pesquisa, a questão da necessidade de uma nova Lei Magna só foi dirigida, de modo direto, aos destinatários do questio nário 1, isto é, aos prefeitos, dirigentes sindicais e parte das personalidades. Foi respondida, de forma afirmativa, por 78,9% dos informantes, com índice mais elevado no grupo dos sindicatos (84,'n). Dentre as razões alinhadas pelos que se manifestaram positivamente, pre ponderou a relativa ao desajustamento da Lei Maior vigente à realidade atual (24, 7% das indicações). Em segundo lugar foi invocada a mutilação da Cons tituição em vigor (11,8% das justificativas), sendo que os demais motivos foram lembrados de forma dispersa. A minoria que expressou parecer contrário (15,m) fundou-se, sobretudo no fato de o texto atual ser satisfatório (44,4% das justificativas), requerendo, apenas, algumas atualizações. Com visível diferença, houve menção, em seguida, à natureza acadêmica do problema, uma vez que não ocorrera ruptura da ordem jurídica (22,2$), notando-se, aqui, a distinção té<:nica entre as expressões "reforma constitucional" e "nova constituição", curiosamente também estabele cida pela faixa não especializada do universo da consulta. A mesma temática desta indagação semi-aberta foi retomada no final das duas espé<:ies de questionário, quando, em pergunta fechada, solicitava-se ao informante dispor, em ordem de prioridade, as questões que reclamam solução dos poderes constituídos, entre elas a da reforma constitucional. Esta figurou em 2Q lugar, juntamente com a da dívida externa (25,7%), precedidas, apenas, pela da inflação (36,1$), confirmando, portanto, a importância atribuída à reso lução dos problemas institucionais, colocados no mesmo plano daqueles mais graves de natureza econÔmica. Verificou-se, por outro lado, que o grau dessa importância elevou-se em relação àquele consignado no relatório preliminar desta pesquisalO, em que o tema da reforma constitucional cla·ssificava-se em 3Q lugar. Constatar, apenas, que, sem causa aparente, as respostas encaminhadas ao INDlPO após agosto 11 v. anexo I, quadro 1.7 e Anexo lI, quadro 1.4. 18 V. Revista de Ciência Política, vol. 26, abril, 1983, p. 105. 35 36 de 82 - e, portanto, não computadas para fins daquele primeiro documento - são 'as responsáveis pela ascensão ao 29 lugar daquele tema, por certo, não basta. ];: perfeitamente razoável supor-se que, com o reconhecimento, fortalecido pelo passar do tempo, do malogro das medidas governamentais na resolução dos impasses sócio-econômicos, tenha-se robustecido a convicção da necessidade de uma reforma constitucional que traga em seu bojo a alteração das condições em que se desenvolve o processo decisório. ii) por segmento O percentual mais elevado com relação a este subitem, conforme já se antecipou, foi encontrado junto aos dirigentes sindicais (84%,7) que apresen taram, igualmente, o maior índice de justificativas (69,9%). Neste grupo, a causa majoritária para a elaboração de um novo texto constitucional é a inadequação do vigente ao Brasil de hoje (26,2% das opiniões). Esta tendencia de valorizar a realidade contemporânea é confirmada na segunda de suas fundamentações, relativa à necessidade de atualização periódica do texto, em condições democráticas (12,3%). Já os prefeitos, e tão-somente eles, elegem como motivo principal as deficiências do diploma em vigor, emendado, mutilado e casuístico (28,7%), o qual requer, pelo menos, consolidação e compatibilização (14,3%). Poucas foram as justificativas apresentadas, não s6 pelos prefeitos (15% do conjunto) como também pelas personalidades (15% do total). Para estas, dois tipos de motivos, de mesma relevância (28,7%) tornam ne cessária uma nova Constituição: o irrealismo da atual - comungando, neste ponto, das preocupações do grupo sindical - e o seu número elevado de emendas - aproximando-se, aqui, da tônica dos prefeitos. Neste segmento, foram registrados os maiores índices de respostas negativas (18,5%) e de absten ções (11,1%). Associando-se as duas espécies de reação ao fato de que, na fun damentação da idéia contrária a um novo texto constitucional, destaca-se a tese da suficiência de uma reforma constitucional, pode-se pensar que os que já se haviam pronunciado em favor desta última medida, consideraram-se incompati bilizados ante a indagação acerca de uma nova constituição. b) Apreciação qualitativa A grande maioria dos consultados, que declara considerar necessária uma nova Constituição qualifica, a todo momento, a Lei Magna em vigor de uma "colcha de retalhos", "mutilada", "desfigurada", enfim, "uma anomalia". Anteci pam-se, muitas vezes, sobre o conteúdo do futuro texto que deve ser "conciso, preciso, seco e objetivo". Observou-se que algumas justificativíls contrariavam a resposta principal. Desta forma, o respondente posicionava-se a favor de uma nova Constituição, assinalando o sim e em seguida, fundamentava: COA Constituição atual é muito boa, requerendo algumas modificações" ou: "há necessidade de uma reforma substancial, pelo menos". Se em outras questões a reação pôde ser explicada pela incompreensão do sentido da pergunta, no presente caso é, certamente, a expressão "nova Constituição", que ensejou o mal-entendido, confundindo os partidários de uma "reforma constitucional" em seu sentido estritamente técnico jurídico. Com índice irrelevante de não-pronunciamentos (l,~), os dirigentes sin dicais estenderam-se em suas variadas motivações. Foi de um deles que partiu a referência ao aproveitamento da experiência estrangeira - "acolhendo o que houver de melhor nas Constituições alienígenas" - mas com a ressalva da ne cessária "adequação à nossa formação". Outro, procurando empregar uma linguagem rebuscada, considerou neces smo "alijarem-se os despojos dessas diáteses excepcionais". Foi, também, neste segmento que se registrou uma crítica à formulação da pergunta que, no entender do informante, já representava uma afirmação, e arrematava: "Se há debate é porque é necessária". Um mesmo argumento foi empregado para defender as duas posições: a necessidade de atualização ante os novos anseios nacionais conduz, inexora velmente, a um novo texto, diziam uns; o atual diploma é satisfatória, notavam oútros, exigindo, apenas algumas atualizações. (o grifo é nosso) A associação entre a longevidade da Constituição e a reverência por ela despertada, foi estabelecida por um dos prefeitos: "Constituições de pouca du ração desmoralizam o respeito do povo a um texto básico". Invocou-se, também,para defender a manutenção da Carta atual o fato de que "o Brasil nunca foi governado por instituições, mas por homens", com menção expressa aos Ministros Roberto Campos e Delfim Netto. Em ambos os grupos de justificativas, foi ressaltada a importância da apli cação do texto, do seu cumprimento. c) Apreciação integrada O exame das informações proporcionadas pelos dois tipos de questões deste subitem não pode estar dissociado daquele dos tópicos iniciais, uma vez que, com pequenas variantes, as motivações se mantêm: traços que tornam a vigente Constituição insatisfatória, em forma e em fundo; a emergência de novas expec tativas (por sinal não especificadas nestas opiniões iniciais); as reivindicações de um processo democrático de elaboração, etc. Apresentam, porém, as respostas, tanto à questão semi-aberta, quanto à fechada, menor grau de concentração das tendências, se comparadas com as anteriores. O índice mais elevado da primeira já não atinge 90%, e suas justifi cativas mais constantes não alcançam 30%; na última, isto é, naquela em que se escalonam os assuntos mais urgentes, convergem 25,7% para a reforma consti tucional, ao mesmo tempo em que igual percentual é desviado para o problema da dívida externa. Se o índice maior de concentração nesta espécie de questão deve ser encarado, por um lado, como conseqüência natural da solicitação de posicionamento perante todos os magnos temas propostas, por outro, ele se reveste de maior significação ao indicar uma posição vantajosa da reforma constitucional n~ste cotejo de priOridades. 37 38 1.1.3 Processos para a Reforma C<lIlstitucional a) Apreciação quantitativall i) geral Este subtema foi objeto de duas questões, de natureza diversa. A primeira, inserida no questionário 2 - destinada, portanto, a professores de Direito Público e Ciência Política e personalidades com atuação nessas áreas - apresentava, em forma fechada, três opções quanto ao modm faciendi da reforma: a) outorga de poderes constituintes a um novo Congresso; b) eleição de uma Assembléia Constituinte; c) revisão global da Constituição, através de emendas constitucionais, pelo Congresso. Pronunciaram-se os respondentes no seguinte sentido: 35,~ pela opção a); 34,1~ assinalaram a letra b) e 24,~ assinalaram c). O restante situou-se entre a indicação de outras f6rmulas (4,9%) e o não-pronunciamento (l,~). Os totais alcançados, embora já figurem nos quadros anexos, foram repro duzidos, não s6 para fornecerem uma visão panorâmica das posições destes segmentos especializados, como também para facilitarem o cotejo com aqueles alcançados no segundo tipo de pergunta. (Gráfico 1.) 11 V. anexo I, quadro 1. 3 e anexo 11, quadros 1 e 1. 5. PROCESSOS DE REFORMA CONSTITUCIONAL (QUESTIONÁRIO 2) Gráfico 1: expectativas conjuntas de professores e personalidades Gráfico 1. I: expectativas dos professores 1. Outorga de poderes constituintes ao Congresso 2. Assembléia Constituinte 4.2% l. Assembléia Constituinte 2. Outorga de poderes consts. ao Congresso 3. Emendas 4. Outras alternativas I. 2 c;;- 4.9% Gráfico 1.2: expectativas das personalidades 3. Emendas 4. Outras alternativas 5. Sem informação 2.99c 5.9% 1. Emendas 2. Outorga 3. Assembléia Constituinte 4. Outras alternativas 5. Sem informação 39 40 ~ uma constatação, que automaticamente ensejam os dados acima, a prefe rência dos publicistas e politic610gos pelo processo de outorga de poderes cons tituintes ao Congresso (35,4%), embora pela diferença inexpressiva de (1,3%) em relação à alternativa da Assembléia Constituint{l. As duas opções, por sinal, che garam a equiparar-se na análise divulgada no relat6rio preliminar, registrando um percentual de (36,2%) .12 Distancia-se um pouco mais das duas primeiras, a alternativa de uma revisão global através de emendas, endossada, m~joritariamente pelas persona lidades (35,3% - Gráfico 1.2). Quanto aos índices mais elevados e ao teor das justificativas principais de cada opção, observou-se o seguinte quadro: a) entre os favoráveis à outorga de poderes constituintes ao Congresso, apenas 34,5% não fundamentaram suas posições. Os demais invocaram, de forma dispersa, 13 tipos de argumentos, com certa prevalência para os méritos de rapidez, de tranqüilidade e de economia desta fórmula (15,n) e o grau de cre dibilidade do Congresso (15,7%). Paralelamente a esta indicação de suas vantagens, foram encontradas razões da rejeição da idéia de uma Assembléia Constituinte: a sua inadequação ao momento político (10,5%) e a ruptura da ordem jurídica que ela pres suporia (10,5%); b) já entre os adeptos da proposta de uma Constituinte, o índice dos que não fundamentaram sua posição foi mais elevado (64,3%). Entre os seis motivos lembrados, o relativo à superioridade do grau de legitimidade jurídica e política de tal Assembléia foi mencionado com maior freqüência (30%). Seguiram-se os que destacaram o fato de sua incumbência ser específica (20%) e aqueles que lembraram a necessidade de ser revogada a legislação de tutela (20%), para que o processo tenha plena eficácia; c) os que preferem uma revisão global através de emendas dispersaram-se nas suas fundamentações, notando-se uma diferença mínima em favor das que ressaltam a facilidade de consecução desta idéia (16,8%) e as condições menos traumáticas em que pode ser implementada (16,8%). A segunda questão vinculada a este item foi apresentada no questionário 1, respondido, como se sabe, pelos segmentos não especializados em matéria cons titucional. De natureza aberta à primeira vista - uma vez que as estruturas das respostas não eram exaustivamente indicadas - a pergunta, cuja reprodução se impõe, na verdade poderia ser considerada como semi-aberta. Isto porque, apesar de não visar a uma afirmativa ou negativa motivadas, limitava o res pondente a duas opções apenas - fornecendo, portanto, um molde de resposta - com solicitação implícita de fundamentação. Foi formulada nos seguintes termos: «1; essencial uma AssembléÚl Constituinte para a elaboração de uma 12 Cf. Revista de Ci~ncia Política, op. cit., p. 109. nova Constituição ou será melhor a concessão de poderes constituintes ao novo Congresso (1983-1987)? Diante desta indagação, 49,5% dos informantes penderam para a primeira alternahva e 40,9% para a segunda, registrando-se, também, propostas isoladas para revisão através de emendas (2$) e constituição de comissões diversas ad hoc (7,4%). (Gráfico 1.3) o índice de não pronunciamento, por motivos diversos que serão abaixo examinados, foi relativamente elevado (22,7%), consignando-se 8,6% de res postas em branco. ü) por segmento Solicitados a se manifestarem ante as opções da primeira questão, os professores expressaram sua preferência pela eleição de uma Assembléia Cons tituinte (41,6%), levando ao 2Q lugar o processo de elaboração constitucional pelo novo Congresso (37,5%), e ao 39, com intervalo maior, a fórmula das emendas (16,7%). Note-se que nenhum dos informantes deste segmento deixou de pronunciar-se sobre o assunto. (Gráfico 1.1) Para fundamentar a opção predominante, não foram muitos, porém os que se apresentaram (apenas 35% dos seus adeptos), nem primaram as justifica tivas por sua variedade. Uma ligeira vantag~m pôde ser reconhecida àquelas em que se acentuavam os méritos da legitimidade político-jurídica desse processo e a sua incompatibilidade com a legislação de tutela remanescente (28,6%). Os mestres favoráveis à solução da outorga - preconizada pelo idealizador e diretor da prese'nte pesquisa, Professor Afonso Arinos de Melo Franco - enunciaram motivos vários para a sua escolha, sobressaindo, com inexpressiva diferença, as referências à credibilidade do Congresso e à ruptura da ordem jurídica que uma Constituinte pressupõe (16,7%). À implementação de uma revisão constitucional através de emendas - proposta que obteve o menor número de aprovação desse segmento - atribuíram-se,de modo desconcen trado, maiores realismo e facilidade de consecução, bem como efeitos me'nos perturbadores. A ordem acima foi invertida no grupo das personalidades com VIvencia jurídico-política, pois que foi dada primazia ao método de revisão global da Constituição através de emendas (35,3%), seguindo-se o da outorga (32,4%) e em último, a via da Constituinte (23,5%). Como razões para a escolha n9 1, aludiu-se: ao poder de reforma de que já dispõe o Congresso; à vantagem da gradualidade do processo, dados os núcleos de resistência; ao fato de ser um meio menos demagógico, uma vez que a renovação não será real qualquer que seja o caminho adotado. Foram, surpreendentemente, escassas as fundamenta ções para esta opção prioritária. (Gráfico 1.2) Sob esse aspecto, pequena alteração pode ser observada em relação à idéia da outorga deft;ndida, sobretudo, por ser mais rápida, menOs onerosa e menos tumultuada (28,6%) e pela inoportunidade de uma Constituinte (28,5%) - uma vez que apenas 36,3% dos seus defensores não a justificaram. 41 PROCESSOS DE REFORMA CONSTITUCIONAL (QUESTIONÁRIO 1) Gráfico 1.3: expectativas de prefeitos, personalidades e dirs. sindicais t------"""'IIIp:::=~--_;__f, ,,, _-', ,_._ í 1. Assembléia Constituinte 2. Outorga de poderes constituintes ao Congresso 3. Emendas Constitucionais 4. Comissões Mistas Gráfico 1.4: prefeitos Gráfico 1.5: pers. Gráfico 1. 6: dirs. sindicais 1. Assembl. Constituinte 1. Assembl. Consto 1. Assembl. Constituinte 2. Outorga 2. Outorga 2. Outorga 3. Outros processos 3. Emendas 4. Outros processos 42 As poucas personalidades deste grupo favoráveis à COnstituinte limitaram-se a lembrar a especificidade de suas atribuições, o grau mais elevado de legi timidade de que ela dispõe e a tradição do direito público brasileiro. Em relação à segunda pergunta, inserida no questionário 1, o exame isolado dos segmentos não registrou diferença nas opções prioritárias, como na anterior, sobrepondo-se, em todos eles, a alternativa da Constituinte. Não é ocioso salientar-se que nesta questão de natureza híbrida, diversa mente das perguntas abertas em que a tabulação foi feita em função do número de indicações e não do de respondentes, o índice de posicionamentos quanto a um dos dois sistemas nela referidos corresponde ao dos informantes. Nas demais propostas emanadas dessa faixa não especializada, voltou-se ao critério próprio das perguntas abertas, não sendo incomum que um mesmo responde'nte indicasse mais de uma fórmula. Pode-se dizer, pois, que entre os prefeitos, 41% defenderam a Constituinte e 36,5% o processo de outorga, dispersando-se os demais entre outras sugestões. (Gráfico 1.4). Acrescente-se que a pergunta suscitou interesse generalizado (82,8%), com índice irrelevante de não-pronunciamentos por razões distintas. O intervalo entre a 1 ~ e 2~ opões foi maior entre as personalidades com atuação predominante em outras áreas que não as jurídicas ou política: 61,1% endossaram o processo da Constituinte e 38,9%, o da outorga, não se consignando nenhuma outra alternativa delas emanada. (Gráfico 1.5) Evitaram manifestar sua preferência 25,9% desta faixa das personalidades, nela se registrando o índice mais elevado de respostas em branco dos três segmentos-destinatários desta questão. A distância entre as duas propostas, junto aos dirige'ntes sindicais (5,6%), (Gráfico 1. 6) foi maior que a encontrada entre os prefeitos (4,5%) e acentua damente inferior se comparada com aquela estabelecida pelas personalidade .. (22,2%). Apresentaram esses dirigentes algumas outras opções (7,5%), embora 23,6% dos indagados não se tenham posicionado cIaramente.13 b) Apreciação qualitativa Este foi um dos subtemas em que a insuficiência de um diagnóstico de expectativas nacionais, calcado, exclusivamente, em elementos numéricos, mos trou-se mais visível. Uma das observações não-quantificáveis a se ter em mente na avaliação da preferência demonstrada por publicistas e politicólogos pelo processo da outorga é o fato de que, reiteradas vezes, comentavam: "o ideal seria a Cons- 13 Ver Anexo 11, quadro I. 43 44 tituinte, mas nas circunstâncias atuais ... " ou "Constituinte é o ideal quando houver clima". Tais ponderações não só evidenciam os termos relativos da escolha - pois que revelam o meio considerado ideal pelo respondente - como demonstram uma preocupação de adequar o objetivo geral da reforma às con dições reais de sua implementação. Considerações dessa ordem não são encontradas entre os adeptos da Co·ns tituinte, que dissociam a sua consecução de qualquer conjuntura. Esta desvin culação é, por sinal, encarada como um dos méritos da fórmula, já que: "a cOncessão ficaria subordinada ao poder" (dirigente sindical), "na prática [estará] a cargo do governo e de juristas" (publicista), ao passo que "a Assembléia Nacional Co'nstituinte não depende da vontade dos juristas" (professor). Um dos informantes propôs uma modificação no "método Afonso Arinos", substituindo-se a resolução legislativa, como instrumento da outorga, por uma disposição transitória, votada por 2/3, em que se determinasse a reforma da Constituição pelo Congresso. Outro elemento de peso a levar-se em consideração é o relativo ao des conhecimento dos traços diferenciais dos dois processos mais invocados para a reestruturação co'nstitucional, bastante comum junto aos segmentos leigos. Assim pronunciou-se um dos informantes: [dever-se-ia] "dar poderes aos futuros deputados e senadores para se reunirem em Assembléia Constituinte". Outro: "não vemos inconveniente em que o próximo Congresso atue como Assembléia Constituinte". Outro ainda: "Uma Assembléia Constituinte seria composta pelos atuais represe'ntantes já eleitos". Por outro lado, não raras vezes, optantes, tanto pela outorga, como pela Assembléia, manifestam sua descrença, observando que o processo é indiferente, porque o resultado será inútil. Numa perspectiva mais ampla de análise, cotejaram-se as inform.ações obtidas em função do tipo de pergunta. Verificou-se, então, que a pergunta do questionário 1, de natureza mista, como já se salientou, em que se apresentavam duas opções - estreitando-se, portanto, o campo de escolha ("uma alternativa rígida", no dizer de uma personalidade) - suscitou grande variedade de fórmu las.H Resultado inverso produziu a questão fechada de três opções, endereçada aos especialistas, aos quais não ocorreram, cOm raríssimas exceções, caminhos diferentes. Poder-se-ia pensar que a pergunta, aparentemente aberta, porém mais restritiva, tenha estimulado as reflexões criadoras, ao passo que a enume ração da indagação fechada não as tenha motivado, efeito, de resto, comum no método da múltipla escolha. No mesmo plano de análise, deve ser destacada a influência de certas palavras na obtenção de determinadas reações. Assim, é perfeitamente razoável supor-se que, para além de uma preferência espontânea, demonstrada pelo grupo não especializado em prol da Constituinte, a gradação das expressões 1-1 Cf. Anexo 11, quadro 1. "é essencial uma Assembléia Constituinte ( ... ) ou será melhor a concessão ... ", tenha atuado sobre os respondentes. Ainda nesta ótica de comparação das reações aos dois tipos de pergunta, observou-se que na questão fechada, o índice geral de não-pronunciamentos ( 1,2%) foi inferior ao daquela semi-aberta (8,6'%), mais acentuado junto aos dirigentes sindicais (8,3%). É provável que a diferença decorra, aqui, não do modo de formulação da pergunta, mas da natureza diversa dos segmentos, uma vez que para os 'não-especialistas, o processo da reforma teria uma importância menor. No rol de algumas curiosidades, pode-se inserir a afirmação de um pro fessor, favorável ao processo de revisão através de emendas, segundo o qual «a quase unanimidade do povo brasileiro deseja manter a Federação e a Repú blica", pressupondo intenso engajamento popular nesse sentido. Na mesmarelação, pode ser incluída a referência a Montesquieu para a defesa da opção da Constituinte ("é importante regular como, por quem e sobre o que os sufrágios devem ser atribuídos") - único fundamento doutri nário registrado neste subtema, encontrado, não entre os publicistas, mas no grupo não-especializado. c) Apreciação integrada A identificação das expectativas majoritárias quanto aos processos para a reforma da Constituição, com base nos resultados obtidos, requer, pelo que acima foi assi'nalado, uma série de cautelas. Se, por um lado, pode-se reconhecer que os segmentos, em seu conjunto, inclinam-se, sobretudo, por duas das fórmulas lembradas nos questionários - a Assembléia Constituinte e a concessão de poderes constituintes ao Congresso - por outro, constata-se a dificuldade de concluir pela preferência de uma ou outra dessas opções majoritáriru.. N a verdade, infere-se, pelos elementos acima indicados, que de questões heterogêneas, submetidas a grupos diversos, é impossível extraírem-se tendên cias inequívocas. Além do mais, levando-se em conta que um número elevado de optantes do grupo não-especializado desconhecia as características diferenciais daqueles dois processos, tendo, mesmo assim, assinalado a sua escolha, é visível o sentido relativo dos respectivos percentuais. Outro aspecto que deve ser considerado nesta avaliação geral, é a dife re'nça de grau da importância atribuída ao assunto pelos informantes dos dois questicnários. Se entre os especialistas, apenas 1,2% não se manifestou sobre a matéria, o índice de indefinições junto aos segmentos não-especializados foi bem mais elevado: 22,7%. Considerando-se que, junto aos mesmos segmentos, na questão sobre a necessidade de uma nova Constituição, fora registrado um percentual irrelevante de abstenções (3,9%), a reflexão sobre o grau inferior de importância atribuído, por esta faixa, a esse processo, não é improcedente. 45 46 1.1.4. Conteúdo de uma Constituição1;, a) Apreciação quantitativa i) geral Duas questões semi-abertas sobre esta matéria foram dirigidas como era natural, apenas aos publicista~ e politic6logos, uma logo no início do questio nário, e outra, no final. Na primeira, indagava-se se o texto constitucional deveria limitar-se a um conteúdo mínimo, com normas sintéticas e abrangentes, deixando-se à legis lação ordinária o acompanhamento da dinâmica social. A reação global foi favorável (75,3%). Em apoio a essa posição, invocou-se, mais freqüentemente, a própria natureza do texto constitucional que requer o sintetismo (I7,2$; das justificativas); o efeito de estabilidade gerado por diplomas com essa caracte rística (17,7%); além da existência de outros instrumentos para atualização do texto, como a lei ordinária e a jurisprudência (15,7%). Outras razões apdntadas com menor insistência diziam respeito às desvantagens de Constituições deta lhadas que requerem revisões constantes (8,5%); à facilidade de adaptação do texto conciso às transformações sociais (7,1%); à associação da forma rígida de Constituição a este conteúdo mínimo (5,7%), e muitas mais, totalizando 17 tipos de justificativas. Os 20,9% que emitiram opinião cdntrária, mostraram-se receosos de con ferir grandes espaços à lei ordinária pelas deficiências do Congresso (15%), além de qualificarem o te},:to mínimo dE: ideo16gico-liberal, próprio de urna época em que o Estado não interferia no plano econômico (15%). Apenas 3,8% dos especialistas não se pronunciaram sobre o assunto, per centual quase coincidente com o relativo a "outras indicações" (3,7%) da segunda questão, que versava o mesmo tema. Nesta, solicitava-se aos mestres e políticos, que se posicionassem ante três tipos de Constituição: a) aquela que se limita a regular os mecanismos de governo, sem foca lizar temas de natureza conjuntural a exigir sua permanente atualização (deno minada por algun~ publicistas de Constituição orgânico-'normativa); b) a que se concentra nas diretrizes para o eguacionamento de problemas sociais, políticos e culturais, representando verdadeiro programa de governo (Constituição programática); c) e, finalmente o tipo eclético, combinando normas de caráter orgânico com disposições programáticas (cdnstituição orgânico-programática). As respostas foram dadas de forma náo excludente, manifestando-se os informantes em relação a cada uma daquelas modalidades, na ordem de sua preferência. Situou-se na opção a) o percentual mais elevado (70,7%), seguindo-se o tipo b) de Constituição (54,9%) e o c), com 47,6%. Conforme já se salientou, 15 V. Anexo I, quadros 1.5 e 7.12, e Anexo 11, quadros 1.7B e 1.10. 3,7% - concentrados no segmento dos professores - inclinaram-se por outras alternativas_ Sabendo-se que, de regra, as Constituições orgânico-normativas são bem menos extensas do que as programáticas, confirmaram-se, com a segunda per gunta, as tendencias manifestadas na primeira. Reiteraram-se, também, algumas espécies de justificativas, fornecidas para a questão anterior. Argumentos básicos dos defensores de um texto orgânico normativo foram os seus atributos de estabilidade e prestígio (45,2% dos moti vos) bem como a afirmação da ineficiencia dos dispositivos programáticos que, além de tudo, inflam a Lei Básica (25,8%). Note-se que, em percentual apre ciável (16,2%), os respondentes limitavam-se a reproduzir, com outras palavras, o enunciado da opção que, segundo eles, já comportava uma justificativa ao aludir à exigencia de permanente atualização da temática conjuntural. Para os que apoiaram a proposta b, um diploma essencialmente progmá tico é condizente com a melhor técnica constitucional de limitação do poder e de tratamento dos problemas magnos do país (36%) e corresponde à neces sidade de a Ccnstituição fornecer o maior número possível de diretrizes para a elaboração das leis ordinárias (28%). Os que se opuserem a es~a solução - optan tes, portanto, das alíneas a e c - lembraram que os problemas magnos não são os conjunturais (35,n) e que Constituição não é programa de governo (21,4%). À solução de um texto misto, conciliando disposições normativas e progra máticas, seguiu-se a ressalva de que estas últimas deveriam ser genéricas (25%), além da assertiva de que tal tipo de texto concilia os interesses da sociedade com os objetivos do Estado (16,n). ii) Por segmento Quanto à pergunta inicial, mostraram-se 70,8% dos mestres de Direito Público e Ciencia Política a favor de um diploma conciso. Ponderaram, sobretudo, que a Constituição, por sua natureza, não comporta detalhes (21,7%) e que um texto sintético tem maiores condições de durabilidade (13,5%). Junto às personalidades, o percentual das respostas positivas foi mais ele vado (82,4%), senào que a fundamentação preponderante (18,2%) coincidiu com a segunda mais invocada pelos professores, já antes referida. Comparando-se os motivos arrolados pelos dois segmentos, percebe-se que, em sua maioria são coincidentes. Da mesma forma, na questão final em que se apresentaram as tres alterna tivas quanto ao conteúdo de um diploma constitucional, convergiram os dois segmentos, embora com pequenas diferenças. Para 58,3% dos professores, deve se preferir um texto orgânico-normativo, o qual recebeu das personalidades um respaldo mais sólido: 88,2%. Ambos os segmentos não se distinguem nas razões básicas apresentadas, já indicadas nO item anterior. Um diploma programático é visto com bons olhos por 1,8% das personali dades. Já aqui, embora os motivos principais sejam os mesmos, .vê-se uma pe quena alteração em seu escalonamento. Para os mestres, em primeiro lugar, 48 situam-se injunções da técnica constitucional de hoje; em segundo, a presença indispensável de diretrizes para as leis ordinárias e, em terceiro, a sua adequa ção a uma nova sociedade. Para as personalidades, a segunda daquelas razões - diretrizes para as leis ordinárias - encabeça a lista, cujo segundo lugar é ocupado pelasduas outras justificativas. . Em relação ao texto misto (orgânico-programático), os índices de apro vação quase que se equiparam - 47,9% dos professores e 47,1% das personali dades - notando-se um percentual m1is elevado de ausência de justificativas (41% do conjunto dos dois segmentos) e a coincidência freqüente das raras argumentações. b) Apreciação qualitativa Ao aplaudir a idéia de normas sintéticas e abrangentes, três professores lembraram o longevo modelo norte-americano, salientando, ao mesmo tempo, o papel atualizador da jurisprudência naquele sistema jurídico. A inserção, no texto brasileiro vigente, de normas sobre o divórcio e dis positivos tributários detalhados é malvista por alguns docentes. A síntese, se gundo um deles, previne contra "equívocos no reconhecimento de mutações ainda não cristalizadas, em detrimento do interesse público". Curioso é o diagnóstico oposto de dois professores, um salientando a ten dência moderna de Constituições mais extensas (".como decorrência, talvez, de desconfiança no legislador ordinário ou, até mesmo, nos órgãos judicantes") e outro enfatizando que o sintetismo é o ideal das Constituições contemporâneas. A lembrança da estrutura federal brasileira, com suas diversidades regio nais, ocorreu a um informante como fator impeditivo para a· adoção de um texto conciso. Alguém considerou o problema em termos de facilidade de elaboração do texto, concluindo pela rejeição do modelo sintético, mais difícil de ser redigido. N a questão tripartite, em que a matéria se revelava de modo mais amplo - comportando considerações não só quanto à extensão do diploma, mas sobre tudo solicitando posições relativas ao teor das normas constitucionais - pôde-se perceber grande variedade de justificativas, apresentadas, porém, de modo di fuso. Reação comum nas três opções foi o índice mais elevado de não-fundamen tações no segmento das personalidades, conseqüência natural de seu conheci mento menOs aprofundado de tema tão técnico. Por outro lado, algumas associações foram notadas, como: a do conteúdo sintético com a forma rígida de Constituição (ou seja, aquela que requer pro cessos especiais para a sua alteração16 ; a programaticidade com a idéia de uma IH Cabem aqui, os ensinamentos de Afonso Arinos de Melo Franco, segundo os quais, é de natureza meramente didática a distinção das constituições em rígidas e flexíveis, não resis tindo a um teste no vasto campo das experiências constitucionais. (V. Direito Constitucional, Forense, Rio, 1981, pp. 92-94). Constituição instrumental, renovadora das estruturas sociais; o ecletismo com o grau de realismo da Lei Magna, etc. Um professor, ao fundamentar sua preferência pelo conteúdo normativo, assim se expressou: "o que é conjuntural?" ( ... ). [A Constituição] "deve ser sintética no sentido de que não deve conter nada além do que, em dado mo mento histórico, se revele como princípios orientadores de cada sociedade". Uma personalidade fixou em 50 o número ideal de dispositivos, sugerindo: "gostaria que fosse tentado esse exercício". Quanto à compreensão da pergunta, verificou-se, entre as personalidades, não raros mal-entendidos sobre as diversas opções, com arrazoados que contra riavam o teor da proposta assinalada, o que, obviamente, conduz a uma relei tura dos percentuais finais. c) Apreciação integrada A tendência majoritária favorável não só a um texto conciso - "enxuto", no ~izer de alguns - como também a um conteúdo orgânico - normativo, susci ta reflexões sobre as causas que levaram os especialiStas a rejeitar os modelos programáticos, ou, pelo menos, ecléticos, tão em voga nos dias de hoje. Poder-se-ia considerá-la como uma reação dos constitucionalistas aos casuís mos imperantes, ou, ainda, uma opção exclusivamente teórica, isto porque tal resultado contraria os aplausos que se têm dirigido às Constituições portuguesa de 76 e espanhola de 78, as quais não se enquadram no padrão vitorioso nesta consulta. :r;; bem verdade que tal vitória deveu-se, em grande parte, ao segmento das personalidades, pois que no dos professores a preferência foi registrada por pequena margem. 1.1.5 Disposiçã~ da: Matéria17 a) Análise quantitativa i) Geral Quatro perguntas do questionário encaminhado aos especialistas focali zaram o assunto, abordado em função de diferentes matérias constitucionais: 1) indagou-se, inicialmente, de forma ampla, sobre a conveniência de ser alterada a seguinte ordem, tradicional nos textos brasileiros: organização do Estado; direitos e garantias: princípios da ordem econômica e social. Uma even tual modificação - mencionava a pergunta - teria como finalidade ressaltar novos anseios sociais e políticos. Esta idéia foi rejeitada por 70,7$ dos publicistas e politicólogos, ao se pro nunciarem pela manutenção da disposição tradicional. 17 V. Anexo I, quadros: 2.2; 7.11, 4.11 e Anexo 11, quadro 1.9. 49 50 Apesar de 75,9% dos respondentes não terem fundamentado sua escolha, houve uma variedade razoável nas justificativas e nas propostas alternativas. Os argumentos que predominaram na defesa da ordem atual não se pren diam a seus méritos, mas à importància secundária deste aspecto formal da questão (19%), que não influi no grau de aplicabilidade do texto (14,2%); 2) especificamente, quanto aos Títulos relativos à Ordem Econômica e Social, bem como à Família, Educação e Cultura, interrogou-se sobre a conve niência de agrupar os princípios diretores dessas matérias em capítulo à parte. A reaç:LO majoritária (40,2%) foi no sentido de manter-se a orientação em vigor, com a indicação daqueles princípios nos Títulos atuais. Todavia, não apenas a pequena diferença em relação àqueles receptivos à modificação propos ta (36,6%), como o considerável índice de in definições e de outras sugestões (23,~), demonstram a fragilidade da tendência dominante; 3) questão de mesmo tipo focalizou a possibilidade de reunir-se, num só capítulo, normas gerais sobre a administração direta e indireta, com remissão às leis ordinárias para tratamento mais aprofundado sobre as Forças Armadas, os Funcionários Públicos e o Ministério Público. Com relação a este assunto, preponderou a corrente inovadora (57,3%), favorável ao agrupamento proposto, com distância regular dos conservadores (28,1%), embora não fosse desprezível o índice dos que se omitiram (14,6%).18 Influiu, sobretudo, na escolha da maioria, o fato de a nova ordenação con correr para tornar o texto mais sucinto, dele afastando matérias que, por sua natureza, requerem constantes atualizações, exeqüíveis por via de lei ordinária; 4) na mesma linha de consulta, perguntou-se aos mestres e personalidades se as normas sobre partidos políticos deveriam constituir Título à parte reunindo, também, disposições relativas a sindicatos e associações em geral - ou permanecer no Título da Declaração de Direitos. As reações predominantes foram as dos defensores da ordem adotada na texto vigente (41,5%), afastados, por margem não muito larga, dos que aderi ram à inovação (32,7%), registrando-se, ainda, um percentual relativamente ele vado de omissões (15,8%), e algumas indicações de outra natureza (9,8%). ii) por segmento 1) Os mestres favoráveis, em percentual inferior ao das personalidades (68,7%), à subsistência do statu quo da ordem constitucional, cingiram-se à indi cação de sua opção, sem acrescentarem qualquer justificativa, o que, aliás, não fora expressamente solicitado na pergunta. Já os menos numerosos (18,8%), que apresentaram uma série de propostas relevantes, porém dispersas, visando a inserções de matérias (como, por exem plo, a relativa às regiões metropolitanas) ou a modificações em nível de capí tulos e seções, fundamentaram suas sugestões. 18 V. Anexo I, quadro 4.11. A última alternativa escolhida pelos professores (13,5~) foi a primeira for mulada no questionário, isto é, aquela em que se considerava a possibilidade de inverter-sea disposição atual, iniciando-se o texto constitucional pelos princí pios atinentes à ordem econômica e social. Em seu apoio, foi lembrado o Anteprojeto de Constituição elaborado pela OAB, Seção do Rio Grande do Sul, no qual foi adotada a seguinte seqüência de assuntos: povo, território e poder. 10 Registre-se que nenhum dos integrantes desse segmento deixou de assina lar a sua escolha, diversamente do grupo das personalidades, com 8,8% de não pronunciamentos. Para estas, preponderou, também, a proposta de respeito à disposição tra dicional, com índices mais elevado (73,5%) do que aquele encontrado junto aos docentes. As demais opções não detiveram a atenção dos componentes desta flÚXa. 2) examinando-se, em separado, a reação dos professores à idéia de os prin cípios sobre a Ordem Econômica e Social, Família, Educação e Cultura serem reunidos em capítulos independentes, nota-se que a rejeição da proposta partiu de maioria pouco expressiva; 45,8%, contra 43,8%. Se se tiver em conta os 6,2% que apresentaram uma terceira alternativa e os 4,2% que não se manifestaram, seria mais realista identificar uma opinião dividida quanto ao assunto. Não muito diversa poderia ser a conclusão fornecida pela análise do seg mento das personalidades, uma vez que, em contraposição a uma frágil opinião majoritária, defensora do statu quo (32,3%), encontram-se 26,5~ a ela contrários, 14,7~ que lembram outras soluções e 26,5% omissos; 3) no caso, porém, do agrupamento de normas sobre a Administração Direta e Indireta, as posições intra segmentos são mais nítidas e tranqüilas. Assim, para 56,~ dos professores, a inovação é aceitável, pois que, para muitos deles, matérias como Forças Armadas, Funcionários Públicos e Ministério Pú blico não comportam redações gerais, às vezes ambíguas, sendo mais apropria das à lei ordinária. No mesmo sentido inequívoco expressam-se 58,8% das personalidades que consideram prolixo o texto vigente. 4) relativamente à localização, no texto constitucional, das normas par tidárias, questão, aqui, tratada de modo perfunctório, por ter sido objeto de exame na Seção II desta Primeira Parte, não destoaram os dois segmentos con sultados em suas manifestações predominantemente conservadoras. b) Apreciação qualitativa Uma presença constante nas correntes que se opuseram a quaisquer mo dificações na ordem em que, atualmente se apresentam as diversas matérias, lO As linhas mestras do Anteprojeto foram apontadas na Seção 11 da Segunda Parte deste relatório, correspondente à pesquisa documental em textos especializados. 51 52 objeto das quatro indagações, foi a referente à tradição. Afinnou uma personali dade: "inovações são perturbadoras para estado de travessia; mudanças bruscas trazem inconvenientes imprevistos". Motivos menos genéricos são invocados pelos que não aceitam a exclusão das normas específicas sobre Forças Annadas, Funcionários Públicos e Minis tério Público, da Constituição. Alguns temem que tais assuntos, regulados por lei ordinária, fiquem ao sabor de maiorias flutuantes e oportunistas. Uma personali dade, defensora de um texto conciso e abrangente, considerou, porém, que o quesito "induzia" a uma generalidade ainda maior, o que não aprovava, por considerar necessária uma garantia mínima dos princípios sobre aquelas matérias. Não raros foram os que se fixaram em parte da questão, fundamentando a necessidade de controle da Administração Indireta: "Sofremos hoje a praga das empresas estatais. Umas inúteis; outras ineficientes; outras desastrosas. ( ... ) Não pode o governo ficar livre, criando outros entes, sem obedecer a um sistema e sem um controle sobre sua necessidade e oportunidade". As propostas que acarretassem uma diminuição do texto constitucional, como no caso acima, mereceram apoio enfático; "Constituição não é regulamen to"; "[evita] congestionamento constitucional"; "[é útil] para não tornar-se uma Bíblia pesada", etc. Certos infonnantes, ao aprovarem a mudança, ressalvaram o caso das Forças Armadas, que deveriam ter o seu papel bem definido na Lei Magna. Alguém lembrou, quanto aos funcionári9s públicos, que as garantias cons titucionais dos servidores estatutários eram inexpressivas quando confrontadas com as daqueles sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho. c) Apreciação integrada Equipararam-se os dois segmentos interrogados nas suas reações às quatro indagações, não se distinguindo, igualmente, no teor de suas justifica tivas. Retornaram algumas opiniões, já externa das quando da questão sobre o conteúdo da Constituição, constituindo-se as perguntas referidas numa oportu nidade para ilustrar pontos de vista. 1.1.6 Modos de Atualização do Texto Constitucional20 Uma vez elaborado, o texto constitucional, como é sabido, pode sofrer mo dificações introduzidas por vias formais, isto é, previstas para tal fim, ou por meios infonnais, com outras destinações originárias. Entre estes últimos, incluem os tratadistas a jurisprudência - e ilustração clássica é encontrada na ação transfonnadora, em nível constitucional, da Suprema Corte americana - as leis ordinárias, os atos nonnativos do Executivo, os costumes, as praxes político constitucionais, etc.21 20Yer Anexo I, quadros 1.4, 1.5 e 1.6, e Anexo 11, quadro l.7. 21 V. Bisoaretti di Ruffia, Paolo. Introduzione ai Viritto CostituzionaJe Comparato, Milano, Giuffre Editore, 1974, p. 530. Ocorre, muitas vezes, que as transformações introduzidas por esses instru mentos não-formais são de tal porte que a realidade constitucional passa a não corresponder ao Texto Magno vigente, como se verifica, atualmente, no Brasil.22 Dando-se ênfase à dinâmica social, como uma das causas principais de alte ração do texto básico, foram submetidos aos destinatários do questionário 2, mais técnico, três caminhos para o acompanhamento daquela dinâmica: 1) a rejeição de processos rígidos de revisão; 2) a confecção de um diploma sintéti co, deixando à lei ordinária aquele acompanhamento; 3) a adoção de critérios variáveis, facilitando-se a revisão dos artigos dispondo sobre temas conjunturais. a) Apreciação quantitativa Quanto à opção nÇl 1, a reação majoritária (45,1~) foi no sentido de serem evitados processos rígidos, especiais para modificações da Constituição, apresen tando, porém, pequena diferença para os que se opuseram a esta alterna tiva (40,3%), cOm um índice de 8,5~ de abstenções e 6;1~ de outras indicações. A justificativa mais lembrada pelos adversários dos processos rígidos de revisão foi a sua incompatibilidade com a dinâmica social (45,5~). Outros res pondentes consideraram que esta fórmula impediria os debates sobre questões essenciais de caráter nacional (13,m;). Para os que aprovam a adoção de requisitos que dificultem as alterações constitucionais, argumentos preponderantes são a necessidade de a Constitui ção ser um documento supremo, solene e prestigiado (27,~) e de subtrair-se à ação de maiorias eleitoreiras, oportunistas (1l,1~), associando a dificuldade da revisão à estabilidade da Lei Magna (ll,U). Na proposta nÇl 2, examinada no item anterior em âmbito mais vasto, o texto constitucional mínimo, composto de normas sintéticas, básicas e abrangen tes, era lembrado como outra solução para o acompanhamento da dinâmi ca social. Como foi visto acima, 75,3~ dos respondentes a consideram válida, atn buindo-lhe efeitos de longevidade da Constituição (15,7~), a qual, por natu reza, não deve ser detalhada (17,~). A opção nÇl 3, inspirada, entre outros, na vigente Constituição indiana e na Constituição brasileira de 1824, em que se aventava a possibilidade da adoção de critérios rígidos ou flexíveis, segundo a natureza da matéria tratada, recebeu 48% de adesões, contra 36,m; de negativas, consignando-se, ainda, 12,2% de não pronunciamentos e 2,4% de respostas diversas. Para grande parte dos. que a aceitaram (23,1%), ela seria mais apropriada a um país jovem que requer in clusãode temas conjunturais na Lei Magna. Muitos dos que lhe foram contrários ponderaram que a uniformidade de critérios confere maior harmonia ao texto (15,4%), no qual não devem ser in seridos temas conjunturais. Na sua maioria, os que assinalaram não, achavam-se, na realidade impedidos de opinar sobre esta alternativa, uma vez que já 22 V. Ferraz, Anna Candida da Cunha, Processos Informais de Mudança da Constituição, Faculdade de Direito da USP, São Paulo, 1982 (Tese de Doutorado). 53 54 haviald manifestado sua aprovação aos processos rígidos de revisão, matéria da opção nQ 1. H) por segmento A primeira hipótese, relativa à rejeição dos processos rígidos, não foi aceita por 52,1% dos mestres, pois que, para eles, tais processos conferem solenidade e prestígio à Constituição (28$). Vários outros motivos foram enumerados, mas de forma dispersa. Esta posição favorável à rigidez constitucional foi diametralmente oposta à das personaildades que, em índice bastante elevado (61,8%), revelaram-se contrárias à adoção de processos especiais, incompatíveis com a dinâmica social (46,1$). Discordantes na primeira opção, os dois segmentos convergiram nas outras escolhas. Assim, a segunda hipótese, relativa a um conteúdo mínimo do texto para facilitar a sua adaptação às novas realidades sociais, recebeu a adesão de 70,8% dos professores e 82,4% das personalidades, com base em razões já examinadas no item 1.5. Em percentual ligeiramente mais alto (50%), os professores aceitaram a fórmula da diversidade de critérios de revisão segundo a natureza do disposi tivo, no ca.ro de serem incluídos temas conjunturais (18,5%),' resposta coerente com a tendência majoritária do grupo em prol de um texto orgânico-normativo, indicada anteriormente. Em tese a consideraram como solução adequada para um país jovem, no que foram seguidos pelas personalidades. Entre esta,s, 47,1% mostraram-se receptivas à proposta, apresentando, de forma dispers·a, raras argumentações. b) Apreciação qualitativa Impõem-se, de início, duas considerações sobre o entendimento da questão: i) incidindo, em suas três alternativas, sobre os processos de atualização de um texto constitucional, a pergunta, para muitos informantes, correlacio nava-se com os processos de elaboração de uma nova Constituição, chegando um deles a indagar: "A Assembléia Constituinte é rígidar fi) a não correspondência entre a resposta principal e sua justificativa foi comum na primeira alternativa. Assinalava-se sim e justificava-se não, pro vavelmente como resultado de uma leitura supedicial de seu enunciado: -deoe-se evitar a adoção de processos rígidos ( ... )". Curiosamente, a situação inversa não se deu, isto é, os que marcaram niW foram coerentes em suas fundamentações. Concentrados em duas ordens de justificativas, tanto os defensores, como os opositores dos processos rígidos de revisão, primaram por manifestar-se de modo isolado. Para os primeiros, a "rigidez da Constituição é uma garantia contra a pre potência do poder", pedeitamente conciliável com a dinâmica social "pois as mutações dos hábitos e costumes necessitam de maturação para se cristalizarem, sem açodamentos perturbadores", Um dos mestres lembrou que a assessoria de órgãos técnicos, como o INDIPO, facilita o acompanhamento da dinâmica social no quadro de um tipo rígido de Constituição. Foram evocados, como exemplos bem-sucedidos de diplomas rígidos, OI de 1891, 1934 e 1946, e, ainda, como modelo de síntese, a Constituição do Im ~o. Mencionou-se, também, a "malsinada Emenda nQ 9/77" para ilustrar os efeitos desastrosos dos processos flexíveis de revisão. A 3' alternativa despertou uma gama variada de reações, desde o aplauso incondicional ("creio que seria uma boa prática"), passando pelo descoDheci mento da fórmula ("não ( ... ) compreendo bem o sentido da pergunta e suponho que se inspire em elementos desconhecidos para mim"), até chegar à sua rejeição sumária ("não é tradição nossa"). A título de complementação, vale reproduzir o art. 178 da Constituição de 1824, diploma várias vezes citado pelos respondentes: "Art. 178. );; só constitu cional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos poderes polí ticos, e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos: tudo o que não é cons titucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas, pelas legislaturll$ ordinárias" (grifos nossos). A Constituição de 1934, por seu turno, previa procesos diferentes para a emenda e revisão, segunda a matéria (Art. 178), como foi igualmente referido por um professor. c) Apreciação integrada Guardadas as ressalvas quanto aos desvios na compreensão do que fora solicitado, notou-se, entre os professores, o reconhecimento da eficiência do bi· nômio conteúdo sintético-processo rígido, na adequação do texto constitucional às mutações sociais. As outras alternativas apresentadas foram, todavia, atenta mente examinadas pelos respondentes, até mesmo quando a posição inicial de clarada mostrava-se, em relação a elas, incompatível. 1.1.7 Fatores de Estabilidade ConstitucionaJ23 Com o objetivo de verificar-se o grau de influência que, segundo os con sultados, um texto constitucional pode exercer sobre a estabilidade de um re gime, formulou-se indagação geral - abrangendo os 4 segmentos selecionados - nos seguintes termos: "um regime constitucional estável depende de fatores estranhos ao texto da Constituição?" Solicitava-se, ainda, que o informante, em caso de resposta afirmativa, especificasse os fatores, e no de uma negativa, apre sentasse suas razões. a) Apreciação quantitativa i) geral O somatório das respostas revelou que para 62,4% dos respondentes outros elementos que não o texto constitucional concorrem para a estabilidade do 23 V. Anexo 1, quadro 1.2, e Anexo lI, quadro 1.8. 55 56 regime. As negativas partiram de 26,'71 dos indagados, registrando-se, ainda, 8,1~ de omissões e 2,8~ de outras respostas. Entre os majoritários, nada menos de 37 tipos de fatores foram considerad~ como suscetíveis de atuar sobre o regime constitucional. mencionados quase sempre, de modo disperso. Notou-se, apenas, uma certa concentração em tomo dos seguintes elementos: homogeneidade do desenvolvimento econômico (12,~); observância do texto constitucional (lO,!N); justiça social (9,1~). Vieram, a se guir, agentes que reuniram, em média, 4,5~ dos pronunciamentos, entre os quais: o grau de sedimentação cultural; a consciência democrática contrária a radica lizações; a manutenção das Forças Armadas no seu papel constitucional; a pre !lervação da ordem pública; o exercício equilibrado do poder, etc. ESTABILIDADE OONSTI111CIONAL Gráfico 2: Influência de fatores estranhos ao texto constitucional sobre sua estabilidade lOOJ 38.91 V7Â H' infIu6ncla Nio há influência; outras resposros; sem informação. Poucas foram as justificativas dos que atribufram exclusivamente ao testo constitucional a solidez do regime. Na que mais se repetiu (~ das mani festações), destacava-se a eficácia de uma Constituição com efetiva correspon dência ao pacto social. Os demais pronunciamentos não continham, a bem dizer, justificativas, mas profissões de fé nos poderes d~ Lei Magna, em termos como: "um texto bom leva à estabilidade" (28,6'1), ou: "o texto prevê e evita a ação de fatores emaconstitucionais". ü) por segmento Consideraram que a estabilidade do regime depende de fatores estranhos ao texto da Constituição: 87,m dos professores, 72,11 das personalidades, 58,6$ dos prefeitos e 38,9'1 dos dirigentes sindicais. (Gráfico 2) Antes de uma abordagem vertical, merece ênfase a seguinte constatação singular a que leva uma .leitura desses percentuais: os segmentos mais espe cializados em matéria constitucional (professores e personalidades) atribuem menor importância à Constituição, como fator de consolidação do regime, do que os grupos menos afeitos àquele campo (prefeitos e dirigentes sindicais).2 para estes últimos, sobretudo, que o texto constitucional tem maior peso, com 431 de respostas negativas. Conclui-se, então, que, contrariamente ao esperado, o conhecimento mais aprofundado, não s6 do texto constitucional, como também das condições de sua aplicação, ao invés de aglutinar os espe cialistas na proclamação de suas virtudes estabilizadoras, provoca efeito con trário. Isto porque o conhecimento da realidade constitucional deixa pouco espaço a ilusões quanto ao poder isolado de um texto escrito, por mais elevado e perfeito que seja. Esmeraram-se os mestres na enumeração, de modo esparso, de fatores extraconstitucionais, convergindo, apenas, nos de natureza econÔmica (17,7J) e social (12,6'I). Foi neste grupo, como era natural, que se deu maior relevo à influência do nível de adiantamento cultural. Além das causas comuns, já referidas, ressaltaram as personalidades moti vos de ordem internacional (7,11) e o grau de educação cívica e política (B,OS), Dio recebendo os demais um número expressivo de adesões. Entre os prefeitos, poucos foram os fatores lembrados, não diferindo a localização dos seus índices mais elevados de convergência relativamente aos segmentos anteriores. No grupo sindical, a posição inverteu-se, passando a predominar a valo rização do texto constitucional, considerado elemento essencial para a estabili dade do regime (43S), contra 38,9'1, com 13,9'1 de omissões e 4,21 de outras respostas, seguindo-se as profissões de fé aludidas. Apesar de minoritários no grupo, os partidários dos fatores extraconstitucionais fundamentaram suas posições de forma variada e desconcentrada, sobressaindo, discretamente, a influência da aprovação popular sobre a estabilidade do regime. b) Apreciação qualitativa Depreende-se, da leitura das justificativas dos mestres, que a presença dos fatores emaconstitucionais adquire particular importância nos países em desenvolvimento. Comparações entre América Latina e EUA foram fre qüentes, havendo comentários como estes: "a hist6ria ensina que há -pessoas 57 58 mais magnas do que a Carta". O elemento ético não foi esquecido: -um povo que se corrompe moralmente não evolui politicamente", sentenciou um pro fessor. Algumas personalidades desvincularam o grau de estabilidade do de senvolvimento econÔmico: "um regime constitucional estável não depende da economia". Outros, ao contrário, viram um encadeamento entre o estágio ec0- nÔmico, o desenvolvimento sócio-cultural e o nível de conscientização política. O entendimento da questão nem sempre foi tranqüilo: para determinados prefeitos indagava-se que fatores a Constituição deveria levar em conta e dois mestres consideraram o quesito como relativo à vulnerabilidade do texto constitucional àquelas forças, concluindo, um deles, que "a Assembléia Cons tituinte neutralizará a ação de tais fatores". Do grupo dos dirigentes sindicais que, em minoria, atribuíram maior peso aos agentes extraconstitucionais, partiu este desabafo: "quem pode amar abstrações, quando o estÔmago protesta?" Entretanto, foi neste mesmo grupo, na sua facção majoritária, que se encontrou a única menção à "importância do sentimento constitucional". A se guinte afirmação, de um de seus integrantes, resume a concepção predomi nante: "o regime é fruto da Constituição". A Lei Maior apresenta-se, portanto, para grande parte deste segmento, como uma esperança, como um elemento corretor das distorções sócio-econÔ micas, acima do jogo das diferentes forças. Esta posição, aliás, coincide com a receptividade demonstrada pelos dirigentes sindicais à consulta do INDlPO. c) Apreciação integrada A leitura atenta dos inúmeros fatores que - segundo a malOna dos res pondentes - influem na estabilidade do regime demonstra o interesse com que foi examinada a questão, incidente, para muitos, no problema central do constitucionalismo latino-americano. Não foram poucos os que expressamente condicionaram a subsistência do regime constitucional à sua adequação à von tade nacional preponderante. 1.1.8 Efeitos da Reformá Constituciooa124 Foi perguntado aos quatro segmentos selecionados se a refonna constitu cional influiria, ou não, sobre o apedeiçoamento do regime democrático, ao mesmo tempo em que se solicitava a apresentação de justificativas. Com esta questão, correlacionada com as perguntas sobre o interesse e a necessidade de uma refonna constitucional, oferecia-se oportunidade para um aprofunda mento das reflexões iniciais, não deixando, por outro lado, de consistir numa verificação da coerência das respectivas posições. a) Apreciação quantitativa i) geral A confrontação das respostas sobre estas indagações de sentido equivalente não trouxe surpresas. Assim, para 82,9% dos infonnantes, uma refonnulação 24 V. Anexo I, quadro 1.1, e Anexo lI, quadro 1.3. oonstituclonal concorrerá. para o aperfeiçoamento do regime demOClitico. tor nando sem significação as manifestações de 9S de descrentes, distribuindo-se os demais entre os não-pronunciamentos (2,41) e as respostas não previstas (5,1S). & justificativas predOminantes retomaram. por sinal, a temática da adapta ção da Constituição à realidade s6cio-política (21,91) e da sua correspondência aos anseios populares (29,~), ambas condições fundamentais para a legitimi dade e representatividade do texto (20,2S) que. assim, aperfeiçoará o regime democrático. A minoria indiferente, que não vê relação de causa e efeito, retoma às argumentações de que a democracia depende mais do governante (36,41) e do grau de educação do povo (22,71). ü) por segmento Não discrepam os quatro segmentos nas posições majoritárias de aplauso à reforma, encontrando-se o percentual mais baixo entre os prefeitos (79,31) e o mais elevado entre os professores (82,91). Além das razões comuns aos quatro segmentos, notou-se que: no grupo dos professores, como era de se esperar. foi lembrada a condição da Constituição como pré-requisito do regime democrático; entre as personalidades avultaram criticas ao texto atual, condi cionando-se os efeitos democráticos ao expurgo dos dispositivos autoritários; os prefeitos externaram suas expectativas favoráveis à introdução de institutos da democracia semidireta (referendo, plebiscito, veto popular, revogação de mandato eletivo etc.); os dirigentes sindicais, por seu turno, alinharam uma séne de condicionantes, entre as quais a da efetiva aplicação do novo texto. b) Apreciação qualitativa A questão propiciou a antecipação de uma série de sugestões para supres são de dispositivos considerados antidemocráticos, relativos a: eleição indireta, decurso de prazo, fidelidade partidária, estado de emergência, prerrogativas parlamentares etc. Verificou-se, por igual, uma ampla escala de reações, desde a convicção absoluta quanto aos efeitos benéficos da reforma - com a ressalva de uma personalidade de que não se tratava de aperfeiçoamento do regime democrá tico, mas, sim, de implantação deste re$,ime -, passando por atitudes cautelosas ("desde que se faça com moderação) e conrucionantes ("contanto que não seja sob pressão da mentalidade militar ( ... ) que poderá cristalizar, com aparência de legitimidade, preceitos antidemocráticos"), até chegar a posturas francamente céticas. Alguém, dentre estes últimos, evocou o comportamento totalitário de Getúlio Vargas, com três Constituições, e o de Dutra, sempre consultando o "livrinho", para concluir que o regime depende, prioritariamente. dos governantes. c) Apreciação integrada A riqueza de informações e os extensos desenvolvimentos caracterizaram as respostas correspondentes a este item. Coerentes em sua receptividade à idéia da reforma constitucional, os representantes dos quatro segmentos não hesitaram em reiterar e aprofundar suas reflexões. A título de curiosidade. 59 60 diga-se que foram levantados cerca de 38 tipos de indicações, muitos dos quais jA haviam sido consignados anteriormente, demonstrando a ênfase
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