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Os recursos no processo de execução fiscal

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OS RECURSOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL * 
OCTÁVIO JOSÉ DE CASTRN CoRRU 
1. Histórico da legislação processual; 2. Hist6rico dos 
recursos; 3. Conceito; 4. Atos do juiz sujeitos a recurso; 
5. Reformatio in peius; 6. Princípio do duplo grau de 
jurisdição; 7. Efeitos do recurso; 8. Pressupostos do 
recurso; 9. Legitimação para recorrer; 10. Prazos dos 
recursos. 11. Agravo de instrumento; 12. Agravo retido; 
13. Apelação; 14. Embargos de declaração; 15. Recurso 
ex-officio; 16. Embargos infringentes em primeiro grau; 
17. Embargos infringentes em segundo grau; 18. Recurso 
extraordinário; 19. Agravo regimental; 20. Embargos de 
declaração no Supremo Tribunal Federal; 21. Embargos 
de divergência; 22. Embargos infringentes; 23. Parte final. 
1. Histórico da legislação processual 
O processo de execução fiscal passou por três fases importantes desde a dé­
cada de 30. A primeira foi através do Decreto-Iei n.O 960/38, que regulava, 
especificamente, a matéria da cobrança fiscal. A segunda, com o advento do 
novo Código de Processo Civil, em 1973, no qual o legislador pretendeu aglu­
tinar tudo o que se referia a processo, e seus diversos ritos, em um só texto, 
abarcando, assim, também, o processo de execução fiscal. E, finalmente, em 
22 de setembro de 1980, a terceira fase, com o surgimento da Lei n.O 6.830, 
que trata, especialmente, da cobrança de créditos fiscais. 
Em matéria recursal, tanto o Decreto-lei n.O 960 quanto a Lei n.O 6.830 nos 
remetem ao Código de Processo Civil (1939 e 1973), sendo que esta última 
especificou, no art. 34, quais os recursos cabíveis das sentenças de primeiro 
grau, nas causas de valores igualou inferiores a 50 Obrigações Reajustáveis 
do Tesouro Nacional, assunto esse que será tratado mais adiante. 
2. Histórico dos recursos 
Dada a irresignação natural do homem, pode-se afirmar que o recurso ou 
apelo tem seu nascimento juntamente com o próprio surgimento do direito. 
· ° presente trabalho, apresentado ao Curso de Direito Processual, promovido pelo Centro 
de Atividades Didáticas do INDIPO, mereceu nota máxima e está sendo publicado por 
decisão do Conselho Editorial da Revista de Ciência Política. 
•• Advogado. 
R. C. poI., Rio de Janeiro, 29(1):96-111, jan./mar. 1986 
Já desde os tempos primitivos, o homem não se conformava com um único 
julgamento, pois tentava sempre ver aquela decisão revista. 
Os egípcios, os hebreus, os gregos e os romanos já possuíam organismos 
próprios para a reapreciação dos julgamentos de tribunais inferiores. A partir 
da Idade Média, o surgimento do direito canônico foi marcante para o sistema 
recursal, eis que admitia recursos de certas decisões para o bispo de Roma. 
Daí o aparecimento do dito popular "vá reclamar ao bispo". Mas foi, efetiva­
mente, na Revolução Francesa, com a tripartição dos poderes no Estado - Exe­
cutivo, Legislativo e Judiciário - que o princípio do duplo grau de jurisdição 
se arraigou em definitivo no direito. Hoje, em nosso ordenamento jurídico, é 
princípio consagrado. 
3. Conceito 
Recurso é o instituto do direito que permite à parte que teve sua pretensão 
jurisdicional, no todo ou em parte, não acolhida pretender a reforma do 
decisum pelo mesmo órgão julgador ou por órgão superior. 
Moacir Amaral Santos assim conceitua: "recurso é o poder de provocar o 
reexame de uma decisão, pela mesma autoridade judiciária, ou por outra hie­
rarquicamente superior, visando a obter a sua reforma ou modificação." 
4. Atos do juiz sujeitos a recurso 
O art. 162 do Código de Processo Civil prescreve que os atos do juiz con­
sistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. Dos dois primeiros 
atos cabem recurso e do último a doutrina diverge, entendendo alguns que não 
cabe qualquer recurso e outros que cabe a reclamação (correição parcial) ou, 
ainda, o mandado de segurança nos casos em que esses despachos ferirem 
o direito líquido e certo da parte prejudicada. 
À execução fiscal podem ser interpostas as seguintes impugnações: 
a) primeiro grau: agravo de instrumento, agravo retido (reclamação), apelação, 
embargos de declaração e embargos infringentes (nas causas inferiores a 50 
ORTN); 
b) segundo grau: embargos infringentes e embargos de declaração; 
c) no âmbito federal: o recurso extraordinário e, ainda, os recursos, dentro do 
mesmo órgão judicante, como o agravo regimental, embargos de declaração regi­
mental, embargos infringentes regimentais e embargos de divergência. 
Sobre os atos do juiz podemos dizer que: 
1. Sentença é a resolução judicial que põe fim ao processo, julgando (sen­
tença definitiva) ou deixando de julgar o mérito da causa (sentença termina­
tiva). 
Os recursos 97 
2. Decisão é a resolução judicial que resolve questões incidentes, sem, con­
tudo, obstar o andamento do processo. 
3. Despacho é o ato judicial que apenas promove ou movimenta o processo, 
não causando gravame às partes. 
Apesar da aparente simplicidade, na prática não é fácil a distinção e a iden­
tificação desses atos judiciais - situação essa que cria vários problemas, tendo 
em vista que o nosso sistema processual aboliu, salvo doutos entendimentos, 
com o advento do atual Código de Processo, a fungibilidade recursal, não 
admitindo a interposição de um recurso por outro. 
Assim, necessário se toma que analisemos cada uma dessas resoluções, com 
o máximo cuidado, em seu conteúdo subjetivo, para que se estabeleça que ato 
realmente foi prolatado e, conseqüentemente, o recurso cabível. Isso porque 
um dos pressupostos de admissibilidade recursal é a adequação. 
5 . Reformatio in peius 
E instituto jurídico de natureza proibitiva, uma vez que não permite um 
pronunciamento de tribunal de segundo grau de jurisdição que venha a ser 
desfavorável à parte sucumbente. 
Esse princípio, em matéria penal ou processual penal, tem caráter absoluto, 
o mesmo não ocorrendo no nosso direito processual civil, pois se o recorrente 
não especificar no apelo qual a parte da sentença da qual está recorrendo, 
toda a matéria impugnada será provavelmente conhecida pelo juízo ad quem. 
6. Princípio do duplo grau de jurisdição 
Outro aspecto a ser considerado, antes que se discorra sobre cada um dos 
recursos, especificamente, é a questão do princípio do duplo grau de jurisdição. 
Conforme já foi dito, o duplo grau remonta às épocas primitivas, passando 
pela Antigüidade, se firmando no direito canônico, Idade Contemporânea, onde 
se consagrou, em decorrência da Revolução Francesa, com a tripartição dos 
poderes do Estado, em Executivo, Legislativo e Judiciário. O único período 
obscuro, desse princípio, foi na Idade Média, onde os senhores feudais não 
admitiam o desrespeito às suas decisões e muito menos que as mesmas fossem 
apreciadas ou revistas por qualquer outra pessoa. 
Mas na Idade Moderna esse princípio se firmou definitivamente. 
No dizer de Eduardo Couture, só com a divisão dos poderes e aparecimento 
dos juízos teve início a prática dos recursos, tal como hoje os conhecemos. 
No direito processual brasileiro alguns não acatam a duplicidade, entendendo 
que esse fato desacredita o poder judiciário, eis que toda decisão é passível de 
ser reformada, o que retarda, em muito, a boa aplicação da justiça. Outros, 
favoráveis, entendem que ela é essencial ao sistema jurídico, pois, dada a insa­
tisfação natural do homem com uma decisão que lhe é desfavorável, quer ele 
reformá-la em seu favor. Entendem que o juiz não é infaüvel. Ele, como qual-
98 R.C.P. 1/85 
quer outro ser humano, está sujeito a erro ou hesitação. Nada mais justo, por­
tanto, a existência da possibilidade da revisão desse julgado. 
Humberto Theodoro Júnior nos esclarece que o "recurso visa a evitar ou di­
minuir o risco de injustiça do julgamento único". 
Entendem, ainda, que, sendo os juízos de segundo grau compostos por vários 
juízes, a possibilidade de erro é mínima, pois várias cabeças pensam melhor 
que uma só. 
O renomado processualista Pontes de Miranda assim se posiciona sobre o 
assunto: 
"~ mais provável,entre as pessoas do mesmo nível de cultura e dos mesmos 
requisitos de moralidade pública, o erro de um do que o erro de todos. Máxi­
me se esses juízes ocupam degrau superior da ordem judiciária, com todas as 
presunções de maior experiência e as vantagens da discussão entre si." 
Moacyr Amaral Santos, justificando a necessidade do duplo grau de )uns­
dição, escreve: "Em primeiro lugar satisfaz a uma exigência humana. Ninguém 
se conforma com uma única decisão, que lhe seja desfavorável. Em segundo 
lugar, não se pode olvidar a possibilidade de sentenças injustas ou ilegais, e até 
mesmo proferidas por juízes movidos pelo temor (coação) ou sentimentos menos 
dignos (peita). Daí a segurança da justiça aconselhar o reexame das causas 
por meio de recursos." 1 
Ex positis, podemos afirmar que no atual ordenamento jurídico, principal­
mente no sistema processual pátrio, é imprescindível que se conserve intacto 
esse princípio de duplicidade recursal, pois só assim poderemos pugnar par~ 
a boa aplicação da justiça, evitando-se, em conseqüência, que a verdade pro­
cessual seja distorcida, a ponto de se consagrar uma injustiça, sem que se 
tenha qualquer possibilidade de repará-la. 
7. Efeitos do recurso 
São dois os efeitos do recurso: devolutivo e suspensivo. No primeiro, toda 
a matéria discutida no juízo a quo é devolvida para nova apreciação no juízo 
ad quem. No segundo, paralisa-se o processo principal, no momento da inter­
posição do recurso, até que o juízo ad quem cumpra, efetivamente, a presta­
ção jurisdicional, a que foi provocado, com a coisa julgada. Nem todos os 
recursos têm esse efeito. 
Prescreve o art. 520, do Código de Processo Civil, que serão apenas rece­
bidas no efeito devolutivo: a) sentença que homologa a demarcação ou divisão; 
b) sentença que condena a prestação alimentícia; c) sentença que julga a 
liquidação da sentença; d) sentença que julga o processo cautelar; e) sentença 
que julga improcedentes os embargos do executado, e nas causas em que a 
União, entidades autárquicas ou empresas públicas federais forem interessadas 
na condição de autores, réus, assistentes ou opoentes. 
t Santos. Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. Saraiva, 1979. v. 3 .. 
p. 77. 
Os recursos 99 
A apelação, com efeito apenas devolutivo, permite à parte vencedora, que­
rendo, iniciar a execução provisória da sentença. 
Podemos afirmar que é essência de todo recurso o efeito devolutivo. 
Das cinco medidas recursais previstas no Código de Processo Civil, duas, 
por prescrição legal, têm efeito apenas devolutivo. Trata-se do agravo de ins­
trumento e do recurso extraordinário. O primeiro não obsta a continuação do 
processo, o segundo faculta o início da execução provisória, não a execução 
definitiva, como queriam alguns autores. 
As outras três medidas recursais admitem o duplo efeito, ou seja, a apela­
ção, o embargo de declaração e os embargos infringentes. 
A novidade trazida pela Lei de Execuções Fiscais em seu art. 34, revivendo 
preceito do Código de Processo Civil de 1939, admitindo embargos infrin­
gentes em primeiro grau, bem como os embargos de declaração, contraria o 
que afirmamos, que todo recurso tem efeito devolutivo, pois temos, tão-somen­
te, o efeito suspensivo, eis que ambos, sendo revistos pelo juízo a quo, ou seja, 
pelo mesmo juiz que prolatou a sentença, guardam muito mais natureza de 
retratação do que devolução. 
8. Pressupostos do recurso 
Para que se interponha qualquer recurso, necessanos se tornam a verificação 
e o atendimento de pressupostos básicos inerentes à sua admissibilidade. 
A doutrina dominante entende que só serão admitidos os recursos se houver 
sucumbência ou gravame, adequação, tempestividade e o pagamento do pre­
paro. 
Só pode pleitear as prerrogativas do reexame a parte que foi prejudicada 
pela sentença ou decisão, ou melhor, cuja prestação jurisdicional não lhe foi 
favorável. B o gravame sofrido ou a sucumbência. 
B princípio básico do direito que só quem sofreu gravame ou sucumbência 
é que pode recorrer. Há necessidade da existência do interesse jurídico. 
A adequação é outro fator importante, tendo em vista que o código proces­
sual vigente não permite a fungibilidade recursal. Não se admite um recurso 
pelo outro. Portanto, deve-se atender às diretrizes fixadas no Título X, do mes­
mo diploma legal, em seus arts. 496 e segs. 
Com relação aos prazos para a impugnação, estabelecidos no art. 508 do 
Código de Processo Civil, ocasionam eles a tempestividade ou não na medida 
recursal, sob pena de, se descumpridos, levar à deserção. 
E, por fim, a efetivação do depósito das despesas do preparo, que consiste 
em custas a serem pagas em primeira ou segunda instância, concomitantemente, 
com a interposição do recurso. A falta do depósito do preparo também acarreta 
a pena de deserção. 
9. Legitimação para recorrer 
o art. 499 do Código de Processo Civil estabelece: "O recurso pode ser 
interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério PÚ­
blico." 
100 R.C.P. 1/86 
Com referência ao ministério público, pode ele recorrer na qualidade de parte 
no processo, ou exercendo a função de custus legis. 
Quanto ao conceito de parte vencida, é muito mais extensivo do que a prin­
cípio parece. Parte vencida deve ser compreendida como autor, o réu, o litis­
consorte, o assistente, o opoente, o nomeado à autoria, o denunciado à lide, 
e o chamado ao processo. 
Ao terceiro prejudicado, o § 1.0 do art. 499, exige a demonstração da exis­
tência de um nexo causal entre os efeitos da sentença e o detrimento do seu 
patrimônio. 
10. Prazos dos recursos 
"<ii Os prazos recursais para a Fazenda pública são sempre contados em dobro, 
conforme dispõe o art. 188 do Código de Processo Civil. Porém a Lei n.O 
6.830/80 alterou essa regra ao fixar em 30 dias o prazo para apresentação 
dos embargos infringentes, ali previstos, tanto para a Fazenda como para a 
parte contrária. 
Quanto ao pólo passivo na execução fiscal, os prazos são os previstos no 
Código de Processo Civil, estipulados para cada tipo recursal. 
Após esses breves comentários sobre o histórico da legislação processual 
fiscal, histórico dos recursos, conceito, atos do juiz sujeitos a recurso, prin­
cípio do duplo grau de jurisdição, efeitos do recurso, pressupostos do recurso, 
legitimação para recorrer e prazo dos recursos, passaremos a tratar de cada 
um deles isoladamente. 
11. Agravo de instrumento 
No Código revogado de 1939, a própria lei especificava os poucos casos em 
que se admitia esse recurso. Tínhamos, então, o agravo de petição, no auto 
do processo, e o de instrumento. 
Com a edição do Código de 1973, alterando-se a sistemática anterior, esse 
recurso passou a ser mais abrangente, alcançando todas as decisões interlocutó­
rias proferidas no curso do processo. 
Conforme conceituação expressa no art. 162, § 2.°, decisão é o ato pelo 
qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente. 
Esse dispositivo legal, combinado com o art. 522 do mesmo Código, supri­
miu a grande quantidade de mandados de segurança e reclamações que era 
impetrada em decorrência desses atos judiciais, supressão essa que veio em 
benefício da celeridade e economia processual. 
Agravo de instrumento, porque ele não sobe ao juízo ad quem nos próprios 
autos, mas sim em documento, ou instrumento, em separado. 
O princípio da retratabilidade decorre desse instituto, eis que, apesar de 
o recurso ser interposto para o órgão ad quem, pode o juízo a quo retratar-se 
em sua decisão, reformando-a, evitando-se assim, seu exame pela instância 
superior. 
Os recursos 101 
Reformada a decisão e não se conformando o agravado, transforma-se ipso 
jacto em agravante e, usando do mesmo instrumento, fá-lo subir à segunda 
instância. 
Frederico Marques, não conceituando, mas sim caracterizando, nos informa: 
a) é o recurso contra decisões interlocutórias, isto é, contra "ato pelo qual o 
juiz, no curso do processo, resolve questão incidente" (arts.522 e 162, § 2.0
); 
b) não obsta o andamento do processo, nem interfere na eficácia da decisão 
gravada, ressalvado o disposto no art. 558 (art. 497); c) deve sempre subir ao 
juízo ad quem, ainda mesmo que inadmissível o recurso, por intempestivo 
(art. 528), ou por qualquer outra razão, salvo quando deserto; d) não esgota 
o ofício do juiz quanto à decisão agravada, uma vez que lhe será dado proferir 
novo ato decisório, para manter ou reformar a interlocutória que provocou 
o recurso (art. 527, §§ 4.° e 5.°).2 
De regra, o agravo só tem efeito devolutivo, não suspendendo, portanto, 
o curso do processo principal. Admite, no entanto, algumas exceções, confor­
me se vê do art. 558. 
Quanto ao procedimento, o recurso de agravo deve ser interposto por peti­
ção escrita, no prazo de cinco dias, contados a partir do proferimento da 
decisão, com o pagamento do preparo devido, sob pena de ser julgado deserto. 
Vale ressaltar que a intempestividade não impede a subida do recurso a instân­
cia superior. No que se refere ao preparo, ele é o comum a todos os recursos, 
ou seja, de 10 dias, a partir da intimação da conta. 
Além da exposição do fato e do direito e das razões, o agravante deverá 
indicar, na petição, quais as peças a serem trasladadas, sendo que três são 
essenciais: cópia da decisão a ser agravada, certidão da respectiva intimação 
e a procuração. 
Após o exame de admissibilidade, será ele remetido ao segundo grau no 
prazo de 10 dias. 
12. Agravo retido 
Esse recurso tem as mesmas características do anteriormente comentado. 
Difere no que tange ao pagamento do preparo, que não tem, fica retido nos 
autos e, quando interposta apelação da sentença proferida nos autos, deverá 
ele ser alegado como preliminar, sob pena de não ser apreciado na segunda 
instância. 
13 . Apelação 
Apelação é o recurso cabível contra a sentença (art. 513 do Código de Pro­
cesso Civil). ~ o recurso que permite o reexame da sentença proferida no 
juízo a quo pelo juízo ad quem. 
2 Marques, José Frederico. Manual de direito processual civil. 7. ed. Saraiva, 1985. v. 3. 
p. 148. 
102 R.C.P. 1/86 
Para Frederico Marques: "A apelação é o recurso por excelência, uma vez 
que, através dela, os órgãos judiciários de segundo grau exercem, com pleni­
tude, a função de julgar, revendo as sentenças de primeiro grau, com base 
tão-só na sucumbência, para reexame parcial ou completo da prestação jurisdi­
cional inclusive quanto à sua admissibilidade."3 
Esse recurso pode ser total ou parcial. A nossa lei processual civil faculta 
ao sucumbente a opção de apelar no todo ou em parte da sentença, conforme 
podemos verificar do art. 505 do Código de Processo Civil. 
Seu efeito é, por excelência, devolutivo e suspensivo. 
Devolutivo porque remete ao segundo grau a apreciação de toda a matéria 
discutida em primeiro grau, decorrendo daí sua manutenção ou reforma, que 
pode ser total ou parcial, conforme vimos. 
Suspensivo, eis que, impetrado esse recurso, segue ele, juntamente com os 
autos principais, para a segunda instância, paralisando-se o processo até a 
final prestação jurisdicional. 
Esse efeito sofre as restrições impostas pelo art. 520 do Código de Pro­
cesso Civil, que estabelece cinco casos de apelação que não suspendem a eficá­
cia da sentença e possibilitam a execução provisória. 
O recurso de apelação deverá ser interposto por petição escrita (art. 514), 
no prazo de 15 dias, a contar da publicação da sentença. Esse prazo é peremp­
tório - pena de deserção - e preclusivo. 
~ indispensável que conste do recurso o pedido do decisum, requisito con­
tido no art. 514, 11 e 111, do Código de Processo Civil. 
Quanto ao preparo, deverá ele ser efetuado no prazo de 10 dias, contados 
da intimação da conta pelo contador, sob pena de deserção. 
Cumpridas essas formalidades, será remetido à segunda instância para apre­
ciação. 
Esclarecemos, ainda, que contra a decisão que decreta a deserção cabe 
o recurso de agravo de instrumento. 
14. Embargos de declaração 
Esse recurso, contido no art. 535 e segs. do Código de Processo Civil, obje­
tiva aclarar ou emendar a sentença ou acórdão, em que haja dúvida, contra­
dição, omissão ou obscuridade. 
Pode ser interposto tanto em primeiro grau como em segundo grau nas 
48 horas ou cinco dias, respectivamente, após a publicação do decisório, atra­
vés de petição escrita e fundamentada. 
A doutrina, sobre o tema, diverge. Uns entendendo que é apenas um meio 
recurso, como é o caso de Marcos Afonso Borges, e outros, como José Frede­
rico Marques e Pontes de Miranda, admitem-no como recurso. 
A nosso ver, tendo o legislador incluído os embargos de declaração, no 
Título X, de nossa lei adjetiva civil, que trata dos recursos, se não o era, 
passou a ser. Até porque o art. 538 preceitua: "Os embargos de declaração 
3 Marques, José Frederico. op. cito v. 3. capo XXII. p. 135. 
Os recursos 103 
suspendem o prazo para interposição de outros recursos." Deduzindo-se daí que 
ele também é recurso. 
A Lei n.O 830/80 (Lei de Execuções Fiscais), ao tratar, em seu art. 34, 
dos recursos cabíveis contra as sentenças proferidas nas causas de valor igual 
ou infeior a 50 ORTN, o admite como tal. 
15. Recurso ex-offieio 
Com a edição de nossa legislação processual civil, ficou estabelecida a obri­
gatoriedade do duplo grau de jurisdição, conforme nos demonstra o art. 475, 
inciso 111, nas causas em que forem julgadas improcedentes as execuções de 
dívida ativa da Fazenda pública. 
Essa regra foi alterada com o advento da Lei n.O 6.830/80, que, em seu 
art. 34, suprime a duplicidade de grau para as causas de valor igualou infe­
rior a 50 ORTN, cujos critérios de aferição constam do § 1.0 do mesmo pre­
ceito. 
Porém nas causas de alçada com valor superior às 50 ORTN, previstas 
na lei mencionada, permanece a obrigatoriedade do recurso necessário, sob 
pena de ser avocado pelo presidente do tribunal, caso o juiz de primeiro grau 
não atenda o preceituado no caput do art. 475 do Código de Processo Civil. 
16. Embargos infringentes em primeiro grau 
Além dos recursos previstos na lei processual civil, a Lei n.O 6.830/80 criou 
essa figura dos embargos infringentes em primeiro grau. Diz o art. 34 desse 
mesmo diploma legal: 
"Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual 
ou inferior a 50 (cinqüenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional -
ORTN, só se admitirão embargos infringentes e de declaração." 
Nesse dispositivo, o legislador reviveu os embargos do C6digo de Processo 
Civil de 1939, em que se tinha esse único recurso para o reexame da sentença 
de alçada. 
Tal recurso, que representa sensível modificação na sistemática processual, 
conquanto contenha a mesma terminologia adotada pelo C6digo do Processo 
Civil, difere fundamentalmente dos embargos infringentes catalogados no art. 
530 e seguintes desse estatuto. Enquanto esse tem por fundamento o voto 
divergente de julgado não-unânime do juízo de segundo grau, aquele tem cabi­
mento das sentenças prolatadas pelo juízo de primeiro grau. 
O mesmo juízo que julgou o litígio decidirá o recurso impetrado, retiran­
do-se, por conseguinte, da parte sucumbente o direito, já consagrado por 
nossa lei adjetiva, ao princípio do duplo grau de jurisdição. 
Em nome da pretensa celeridade processual, no oferecimento de uma pres­
ção jurisdicional, o legislador abalou, ainda, o sentido de simplificação e uni­
ficação recursal buscado pelo C6digo de Processo Civil e Lei n.O 6.014/73, 
que adaptou àquele estatuto a legislação extravagante, que igualmente se 
104 R.C.P. 1/86 
ocupava da matéria, bem como o disposto no artigo 475, inciso IH (recurso 
ex-olficio) do Código de Processo Civil. 
A inovação contida na Lei n.O 6.830/80 levou nossos doutrinadores, como 
José Frederico Marques, Humberto Theodoro Júnior, José Álvaro Pacheco, An­
tônio Carlos Costa e Silva, Marcos Afonso Borges e outros, a grandes discussões 
práticas sobre o tema. 
Questões como a extinção do duplo grau, retratabilidadeou não, do cabi­
mento de agravo de instrumento etc., trataremos na parte conclusiva deste 
trabalho. 
Entendemos que, com a criação desse meio recursal, mesmo, talvez, sem o 
desejar, o legislador trouxe mais um privilégio, dentre os muitos já existentes, 
para o Estado na cobrança de sua dívida ativa. 
O prazo para sua interposição é de 10 dias, contados da intimação da sen­
tença. Igual prazo é dado para a parte embargada. 
Acolhido o recurso, o juiz terá o prazo de 20 dias para efetivar a prestação 
jurisdicional, rejeitando ou reformando a sentença. 
Assim, apesar de o processo de execução fiscal comportar, em tese, todos os 
recursos previstos no Código de Processo Civil, a verdade é que a possibilidade 
recursal ficará adstrita aos embargos infringentes, sempre que se tratar de sen­
tença de primeira instância proferida em execução de valor igualou inferior 
a 50 ORTN. Configurada essa hipótese, não se haverá que falar, sequer, na 
possibilidade do recurso ex-olficio previsto no art. 745, inciso IH, do Código 
de Processo Civil. 
17. Embargos infringentes em segundo grau 
Esse instituto, capitulado no art. 530 e segs. do Código de Processo Civil, 
visa o reexame de acórdão não-unânime proferido em ação rescisória ou 
apelação. 
Frederico Marques assim conceitua: "são o recurso contra julgamento 
que não seja unânime, proferido em grau de apelação ou ação rescisória."4 
A divergência apura-se na conclusão de cada voto e não quanto aos funda­
mentos. E, se parcial o desacordo, os embargos cingir-se-ão à matéria objeto 
da divergência. 
Assim, se há mais de uma causa de pedir, a divergência poderá verificar-se 
em relação a todas, a algumas ou a uma apenas. Em qualquer das hipóteses 
cabível será o recurso. 
Tem legitimação recursal ativa não só o litigante que apelou, mas o revel, 
o terceiro prejudicado, desde que demonstre interesse em embargar. 
O prazo para a interposição desse recurso é de 15 dias, bem como para a 
resposta (art. 508). Deve ser por petição escrita e fundamentada. 
Interpostos simultaneamente com o recurso extraordinário, na hip6tese do 
art. 496, os embargos serão julgados em primeiro lugar, ficando sobrestado o 
recurso extraordinário. ~ o único caso, na nossa lei processual, em que há 
a quebra do princípio da unirrecorribilidade. 
4 Marques, José Frederico. op. cito V. 3. p. 156. 
Os recursos 105 
18. Recurso extraordinário 
Esse recurso constitucional está capitulado no art. 541, do Código de Pro­
cesso Civil. 
Os pressupostos de sua admissibilidade estão previstos na Constituição, em 
seu art. 119, inciso 111, com os 6bices prescritos no art. 325, IH a VIII, do 
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. 
J! o meio recursal interposto perante o Supremo Tribunal, objetivando a 
reforma de decisões que violem a lei federal ou a pr6pria Constituição, profe­
ridas em última instância pelos tribunais estaduais. 
Nossa Carta Magna assim dispõe: 
"Julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou 
última instância por outros tribunais. quando a decisão recorrida: 
a) contrariar dispositivos desta Constituição ou negar vigência de tratado ou 
lei federal; 
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; 
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Consti­
tuição ou de lei federal; ou 
d) dar à lei federal interpretação divergente da que lhe tenha dado outro 
Tribunal ou o pr6prio Supremo Tribunal Federal." 
Essas as causas sujeitas ao recurso extraordinário. respeitando-se, no entan­
to, os 6bices regimentais. 
Vê-se, pela redação desses itens do dispositivo constitucional, que esse meio 
recursal s6 será admitido nas causas decididas em única ou última instância 
por outros tribunais; logo, não se admitirá o recurso extraordinário quando a 
sentença recorrida não for julgada por tribunais. 
Assim, como a Lei n.O 6.830/80, em seu art. 34, diz que nas causas de valor 
igualou inferior a 50 ORTN, não haverá julgamento por tribunal, mas pelo 
pr6prio magistrado, nessa hip6tese, esse recurso não seria interponível ao Su­
premo Tribunal Federal. 
Caberia, nesses casos, a ação rescis6ria e, assim, o julgamento dessa ação seria 
apreciado pelo Supremo Tribunal Federal, independentemente do valor da 
causa. 
Deve ser interposto perante o presidente do Tribunal de Justiça, mediante 
petição, nos moldes do art. 542 do C6digo de Processo Civil e no prazo de 
15 dias da publicação do ac6rdão no 6rgão oficial, bem como dependerá do 
pagamento de preparo, ap6s a elaboração da conta pelo contador, no prazo 
de 10 dias, sob pena de deserção. 
Interponíveis no Supremo Tribunal Federal, temos, ainda, os recursos regi­
mentais, a saber: 
106 R.C.P. 1/86 
19. Agravo regimental 
Caberá agravo regimental, no prazo de cinco dias, da decisão do presidente 
do tribunal, de presidente de turma ou do relator, que causar prejuízo ao 
direito da parte recorrente. 
A petição conterá, sob pena de rejeição liminar, as razões do pedido de 
reforma da decisão agravada. 
Esse recurso não tem efeito suspensivo e, se acolhido, o plenário ou a turma 
determinará o que for de direito. 
20. Embargos de declaração no Supremo Tribunal Federal 
Têm cabimento quando houver no acórdão obscuridade, dúvida, contradição 
ou omissão que devam ser sanadas. 
Seu prazo é de cinco dias e independe de distribuição ou preparo. 
Será dirigido ao relator do acórdão que, sem qualquer formalidade, o subme­
terá a julgamento na primeira sessão da turma ou do plenário, conforme o caso. 
Os embargos de declaração suspendem o prazo para a interposição de outro 
recurso, conforme está previsto no art. 339 do Regimento Interno do Supremo 
Tribunal Federal, salvo na hipótese do § 2.0 desse mesmo preceito. 
21. Embargos de divergência 
Cabem embargos de divergência à decisão de turma que, em recurso extraor­
dinário, divergir do julgado de outra turma ou do plenário, na interpretação 
do direito federal. ! o que está contido no art. 330 e segs. do Regimento 
Interno do Supremo Tribunal Federal. 
A divergência será demonstrada através de certidão ou cópia autenticada 
do órgão ou mediante citação de repositório de jurisprudência, oficial ou auto­
rizado, com a transcrição dos trechos que configurem o dissídio, mencionadas 
as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados. 
Mas não serve para comprovar divergências, acórdão já invocado para de­
monstrá-la, e repelida como não-dissidente no julgamento do recurso extraor­
dinário. 
Porém não serão interponíveis se a jurisprudência do plenário ou de ambas 
as turmas estiver firmada no sentido da decisão embargada. 
22. Embargos infringentes 
Cabem embargos infringentes à decisão não-unânime do plenário ou da tur­
ma, que julgar a ação rescisória ou a representação de inconstitucionalidade. 
Esse preceito está contido no art. 333 e segs. do Regimento Interno do Supremo 
Tribunal Federal. 
Seu cabimento depende da existência de, no mínimo, três votos divergentes 
na decisão do plenário. 
Os recursos 107 
Sua interposição será no prazo de 15 dias, perante a secretaria e junto aos 
autos, independente de preparo. 
Feita a distribuição, serão conclusos autos ao relator, para serem ou não 
admitidos. Em caso afirmativo, não poderá o relator reformar seu despacho 
para inadmiti-Ios. 
Admitido e pago o preparo, a secretaria abrirá vista ao embargo por 10 dias, 
para impugnação. 
23. Parte final 
Após os breves comentários, emitidos anteriormente sobre recursos, verifi­
ca-se que, em tese, todas as impugnações, previstas por nossa lei processual 
civil, têm cabimento no processo de execução fiscal. 
Em tese, porque, a essa regra, encontramos a exceção prevista no art. 34 
da Lei n.O 6.830, que retira, nas causas de valor inferior a 50 Obrigações Rea­
justáveis do Tesouro Nacional, a possibilidade de interposição de qualquer 
outro recurso que não seja o de embargos infringentes e o de embargos de 
declaração. 
Assim, o agravo de instrumento, a apelação,os embargos de declaração, em­
bargos infringentes do art. 530 do Código de Processo Civil, recurso extraor­
dinário, e os recursos do Supremo Tribunal Federal, e outros, informam a Lei 
n.C 6.830/80, somente nas causas que tenham valor acima de 50 ORTN. 
Sobre tais recursos, já sedimentados na nossa legislação em farta doutrina 
e jurisprudência, seriam despiciendas quaisquer considerações, por isso que to­
mamos como tema alguns aspectos dos embargos infringentes em primeiro grau, 
recém-criado pela Lei das Execuções Fiscais. 
A nossa lei processual civil sofreu, desde sua edição, pouquíssimas altera­
ções. Uma, modificando a redação de um artigo no próprio corpo do Código 
e, outra, de forma indireta, sem ferir o texto original, mas, apenas, dando nova 
feição aos recursos existentes. 
A primeira alteração foi feita através da Lei n.O 6.314/75, que modificou 
o art. 508, unificando o prazo recursal, qualquer que seja o seu rito. 
A outra alteração foi reflexo das Leis n.OS 6.825/80 e 6.830/80, que trou­
xeram em seu bojo um novo meio recursal, ou seja, os embargos infringentes, 
interponíveis em juízo de primeiro grau, nas causas de valor igualou inferior 
a 50 ORTN. 
O legislador reviveu, como dissemos anteriormente, o que já existia no 
art. 839, do Código de Processo Civil de 1939. Dispensando, porém, como já 
ocorre nas ações de rito sumaríssimo, a participação do revisor, no julgamento, 
pelos tribunais, das apelações. 
A Lei n.O 6.830/80 trouxe algumas alterações a importantes artigos refe­
rentes aos recursos, especificamente, nos arts. 475, inciso IH, e 520, do Código 
de Processo Civil, ou seja, no que concerne ao recurso ex-olficio e a admissão 
do recurso somente sem efeito suspensivo da eficácia da sentença. 
Vale ressaltar que essas modificações não alteram a estrutura do instituto 
do recurso, estabelecida por nossa legislação processual civil, pois restringem-se 
elas, apenas e tão-somente. ao âmbito e teor de seu procedimento específico. 
108 R.C.P. 1/86 
Porém os reflexos jurídicos decorrentes dessa nova lei atingem diretamente 
o duplo grau de jurisdição, eis que com a criação do recurso de embargos in­
fringentes, que é julgado pelo próprio juiz de primeiro grau, veda que a ins­
tância superior reexamine o julgado. Situação essa que nos leva a diversas 
indagações. 
Não contraria o art. 471 e incisos, do Código de Processo Civil, que veda 
ao juiz decidir a mesma causa duas vezes? 
Não seria injusta a supressão do princípio, já consagrado, do duplo grau de 
jurisdição? 
Não sendo admitida a apelação, caberia das decisões interlocutórias o recur­
so de agravo de instrumento ou retido? 
E o recurso ex-officio? 
Seriam os embargos infringentes previstos na Lei n.O 6.830/80, em seu art. 
34, um recurso de mera retratação? 
E a designação escolhida pelo legislador para esse meio recursal? 
Os doutrinadores pátrios que se dedicam a essa área do direito muito têm 
discutido sobre as questões propostas, eis que ferem princípios que já estavam 
definidos no nosso sistema processual civil. 
Sobre essas indagações, tentaremos nos situar. 
Quanto à primeira, o art. 471 e incisos, do Código de Processo Civil, esta­
belece quais os casos em que o juiz poderá decidir novamente sobre a mesma 
questão. Em seu inciso 11, diz: "nos demais casos prescritos em lei." 
Certamente, foi embasado neste preceito que o legislador burlou o princípio 
adotado no caput desse artigo, que veda ao juiz decidir a mesma questão duas 
vezes, ao dar, expressamente, através do art. 34, da Lei n.O 6.830/80, ao juiz 
de primeiro grau, o poder de julgar a mesma causa novamente. 
Quanto ao segundo item, entendemos que a justiça não deve ser medida 
através de valores prefixados pelo Estado. O acesso à boa aplicação da jus­
tiça não deve ser limitado, pois isso desmorona a estrutura jurídica, baseada 
na igualdade, conquistada através dos tempos. 
Parece-nos que, se o legislador restringisse a aplicabilidade do art. 34, da 
citada lei, às questões de fato, poderíamos, até, compreender o seu objetivo. 
Pois quanto aos fatos é questão de prova. Provados, não há mais o que se 
discutir. Mas, nas questões que versassem sobre direito, dever-se-ia permitir 
que o juízo de segundo grau as apreciasse, eis que essa questão poderia ser 
entendida por um juízo colegiado de maneira diversa da entendida por um juízo 
singular. Diversas cabeças pensam melhor que uma. 
A supressão da dupHcidade de grau, nos casos específicos do art. 34, abalou 
profundamente o princípio da isonomia, vez que retira do menos favorecido -
aquele que tem menor poder aquisitivo - e sobre o qual é maior a incidência 
de execuções fiscais o direito de ter sua pretensão jurídica, que foi negada 
pelo juízo de primeiro grau, revista por instância superior. 
Quanto ao agravo de instrumento, a doutrina tem entendido que, se não 
cabe o recurso maior, que é a apelação, não caberia, também, o recurso contra 
as decisões interlocutórias. 
Humberto Theodoro Júnior pugna por seu não-cabimento. Mas admite, con­
tra as decisões ilegais ou que causarem tumulto processual, o mandado de 
segurança. 
Os recursos 109 
Se uma das razões da inclusão do instituto do agravo de instrumento, na atual 
sistemática processual, foi, justamente, para desimpedir os tribunais da grande 
massa de mandados de segurança que eram impetrados, por que não se ad­
mitir esse recurso de agravo ao invés dessa medida constitucional? 
O agravo não tem efeito suspensivo e, portanto, não altera a celeridade pro­
cessual querida pelo legislador e, ainda, admite a retratação. Situação con­
trária é a do mandado de segurança, que, se deferida a liminar, suspende de 
imediato o ato judicial e, ainda, obrigatoriamente, terá que ser proposto na 
instância superior. 
Assim, se o objetivo do legislador era a celeridade processual e o desimpedi­
mento dos tribunais, dever-se-ia admitir o agravo para se evitar a medida pre­
vista na Constituição. 
No que se refere ao recurso ex-oflicio, sobre ele já nos reportamos. Mas 
vale lembrar que nas causas de alçada com valor até 50 ORTN, especifica­
mente no processo de execução fiscal, ele está abolido. 
Sua obrigatoriedade, todavia, permanece para os casos não abrangidos pelo 
art. 34, da Lei n.O 6.830/80. 
Quanto à retratabilidade do recurso de embargos infringentes, defendida por 
alguns doutrinadores, a ela temos que nos submeter, eis que a lei não nos deixa 
outra alternativa, ao determinar que ao próprio juiz prolator da sentença cabe 
o julgamento dos embargos infringentes. Coadunando-se, assim, com o prin­
cípio, já mencionado, que tem por fim, exatamente, fazer com que o julgador 
que proferiu o decisum, através de reexame e outro entendimento sobre as 
questões de fato e de direito apresentadas, se retrate proferindo outra sentença. 
No que diz respeito à designação dada a esse recurso - embargos infrin­
gentes - pelo legislador, ela não foi técnica. 
A Lei n.O 6.825 fala em embargos infringentes do julgado, ao passo que a 
Lei n.O 6.830, em embargos infringentes. No Código de 1939 o recurso era de 
nulidade ou infringentes do julgado. Portanto, ao reviver esse recurso na 
sistemática recursal, certamente, esqueceu-se da palavra nulidade. 
Além do mais, se já existe esse recurso, próprio da segunda instância, pre­
visto no art. 530 do Código de Processo Civil e que tem por fundamento a 
divergência de votos, e que pressupõe juízo colegiado, conforme a própria lei 
e os doutrinadores nos mostram, por que a mesma denominação para esse re­
curso que tem por fim a retratabilidade de um julgado pelo próprio juízo de 
primeiro grau? 
Poder-se-ia dizer que o legislador, ao elaborar a lei, não estava preocupado 
com a tecnicidade jurídica, mas sim objetivava, tão-somente, a celeridade pro­
cessual e o desimpedimento dos tribunais, o que não se admite no sistema 
jurídico. 
Finalmente, temos a dizer que, apesar da supressão da duplicidade de grau, 
disposta no art. 34, dessa nova lei fiscal, a legislação processual civil nosreserva o remédio da ação rescisória. 
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A nova Lei de Execuções Fiscais. Universitária de Direito, 1982. 
Processo de conhecimento. 3. ed. Forense, 1984. 
Os Porquês 
nas Relações Sociais 
Os recursos 
Com esta obro. o Prof. Dela Coleta. Doutor em Psicologia e 
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