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VIVIANE DE SOUSA PONTES OS EFEITOS DO GELO NO CONTROLE DA EVOLUÇÃO DA OSTEOARTRITE DE JOELHO Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Fisioterapia, da Universidade Católica de Brasília como pré requisito para obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia. Orientador: Prof. MSc. Rosângela Fonseca Araújo BRASÍLIA 2002 iii TERMO DE APROVAÇÃO VIVIANE DE SOUSA PONTES OS EFEITOS DO GELO NO CONTROLE DA EVOLUÇÃO DA OSTEOARTRITE DE JOELHO Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Fisioterapia no Curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília, pela seguinte banca examinadora. Orientador: Prof. FT. MSc. Rosângela Fonseca Araújo Departamento de Fisioterapia da UCB Prof. FT. MSc. Levy Aniceto Santana Departamento de Fisioterapia da UCB Prof. Drª Lucy Gomes Vianna Departamento de Fisioterapia da UCB Brasília, 19 de junho de 2002 iv AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus, por ter me dado forças para superar os meus limites e conseguir continuar fazendo a minha monografia num período difícil, em que minha saúde ficou um pouco debilitada. À Rosângela, que para mim é muito mais que minha orientadora, mas uma grande amiga, que tive o prazer de conhecer à algum tempo atrás. Uma pessoa que posso contar sempre, que me ajudou à crescer como pessoa e como profissional, que mesmo nos momentos em que eu percebia que estava cansada, nunca me negou ajuda, uma pessoa que realmente esteve sempre preocupada em ajudar-me à fazer uma boa monografia, enfim muito obrigada por tudo, e saiba que você sempre estará no meu coração. Aos meus pais, Agenor e Eva, que tanto amo, que me incentivaram na realização dessa difícil etapa. Aos meus irmãos, Cristiane e Fabiano, principalmente ao “Fábio”, que por telefone , com a maior paciência e boa vontade, inúmeras vezes me socorreu, quando eu em frente ao computador, não conseguia decifrar os seus enigmas. Adoro vocês! Ao meu grande amor, Wendel, que sempre teve paciência de ouvir os meus intermináveis comentários sobre a monografia, e por compreender os momentos em que estive ausente no nosso namoro. Te amo! À todas as outras pessoas que indiretamente me ajudaram na realização desse trabalho, muito obrigada! v Dedico esse trabalho aos meus pais, aos meus irmãos, ao meu querido Wendel, aos meus amigos e ao “Fofucho” que tanto me perturbou. vi O dia mais belo: HOJE A coisa mais fácil: EQUIVOCAR-SE O obstáculo maior: O MEDO O erro maior: ABANDONAR-SE A raiz de todos os males: O EGOÍSMO A distração mais bela: O TRABALHO A pior derrota: O DESALENTO Os melhores professores: AS CRIANÇAS A primeira necessidade: COMUNICAR-SE O que mais faz feliz: SER ÚTIL AOS DEMAIS O mistério maior: A MORTE O pior defeito: O MAU HUMOR A coisa mais perigosa: A MENTIRA O sentimento pior: O RANCOR O presente mais belo: O PERDÃO O mais imprescindível: O LAR A estrada mais rápida: O CAMINHO CORRETO A sensação mais grata: A PAZ INTERIOR O resguardo mais eficaz: O SORRISO O melhor remédio: O OTIMISMO A maior satisfação: O DEVER CUMPRIDO A força mais potente do mundo: A FÉ As pessoas mais necessárias: OS PAIS A coisa mais bela de todas: O AMOR Madre Teresa de Calcutá vii SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS............................................................... ix LISTA DE FIGURAS............................................................................................. x RESUMO .......................................................................................................... xi 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1 2. OBJETIVOS ..................................................................................................... 2 3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 3 4. OSTEOARTRITE ............................................................................................. 4 4.1 Nomenclatura ................................................................................................. 4 4.2 Definição ........................................................................................................ 4 4.3 Epidemiologia ................................................................................................. 5 4.4 Fisiopatologia da osteoartrite ......................................................................... 6 4.4.1 a idade ......................................................................................................... 6 4.4.2 o sexo .......................................................................................................... 7 4.4.3 os fatores genéticos .................................................................................... 7 4.4.4 os fatores metabólicos ................................................................................ 8 4.4.5 os fatores mecânicos................................................................................... 8 4.4.6 os mecanismos bioquímicos ....................................................................... 10 4.4.6.1 aspectos gerais da cartilagem articular .................................................... 10 4.4.6.2 hipóteses da origem da osteoartrite ......................................................... 12 4.4.6.3 as enzimas da cartilagem ......................................................................... 14 4.4.6.4 as citocinas ............................................................................................... 14 4.4.6.5 as prostaglandinas ................................................................................... 15 4.4.6.6 os radicais livres ....................................................................................... 15 4.4.6.7os fatores de crescimento ......................................................................... 15 4.5 Classificação etiológica da osteoartrite ......................................................... 16 4.6 Histopatologia ................................................................................................. 19 4.7 Manifestações clínicas ................................................................................... 21 5. ESTRUTURAS E BIOMECÂNICA DO JOELHO ............................................ 24 5.1 Acidentes anatômicos dos ossos que compõem a articulação do joelho .................................................................................................................... 24 5.1.1 fêmur ........................................................................................................... 24 5.1.2 patela........................................................................................................... 24 5.1.3 tíbia.............................................................................................................. 25 5.2 Estruturas intra e extra articulares .................................................................. 25 5.2.1 meniscos .................................................................................................... 25 5.2.2 ligamentos................................................................................................. 25 5.2.2.1 os ligamentos colaterais medial e lateral ................................................. 25 5.2.2.2 os ligamentos cruzados anterior e posterior ............................................ 26 5.2.3 cápsula articular .......................................................................................... 26 5.2.4 bolsas serosas do joelho ............................................................................. 26 5.2.5 membrana sinovial ...................................................................................... 26 5.2.6 músculos ..................................................................................................... 28 viii 5.2.6.1 os extensores do joelho ........................................................................... 28 5.2.6.2 os flexores do joelho................................................................................. 28 5.2.6.3 os rotadores do joelho .............................................................................. 28 5.3 Biomecânica ................................................................................................. 28 5.3.1 os movimentos das superfícies articulares do joelho .................................. 29 5.3.2 líquido sinovial ............................................................................................ 29 5.3.3 movimentos e desvios laterais do joelho ................................................... 29 6. O GELO NA OSTEOARTRITE DE JOELHO .................................................. 31 6.1 Aspectos gerais da terapia fria........................................................................32 6.2 Fatores de queda da temperatura local ......................................................... 32 6.3 Redução das temperaturas superficial e profunda durante o frio ................... 32 6.4 Recuperação das temperaturas superficial e profunda após o frio ................ 33 6.5 Considerações importantes da terapia fria ..................................................... 33 6.6 Duração da aplicação ..................................................................................... 34 6.7 Métodos de aplicação..................................................................................... 36 6.8 Efeitos do gelo na dor articular ....................................................................... 37 6.9 Efeitos do gelo na circulação ......................................................................... 38 6.10 Efeitos do gelo no espasmo muscular .......................................................... 39 6.11 Efeitos do gelo no metabolismo ................................................................... 39 6.12 Efeitos diretos do gelo no processo inflamatório e indiretos na redução da atividade enzimática destrutiva da cartilagem .................................. 41 6.13 Contra-indicações e cuidados preventivos ................................................... 45 7. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 46 8. DISCUSSÃO .................................................................................................... 47 9. CONCLUSÃO .................................................................................................. 49 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 50 ix LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ADN: Ácido Desoxirribonucléico ARN: Ácido Ribonucléico CEFESPAR: Centro de Estudos em Fisioterapia Ademir Rodrigues cm: Centímetros COMUT: Comutação DIMEN: Intituto Rio Preto de Medicina Nuclear FCF: Fator de Crescimento dos Fibroblastos FCI-1: Fator de Crescimento Semelhante a Insulina 1 FCT-: Fator de Crescimento Transformador IAP-1: Inibidor do Ativador do Plasminogênio 1 IL-1: Interleucina 1 IL-6: Interleucina 6 ITMP: Inibidor Tecidual das Metaloproteases LCA: Ligamento Cruzado Anterior LCP: Ligamento Cruzado Posterior mm: Milímetros MPM: Metaloproteases NO: Óxido Nítrico OA: Osteoartrite OAF: Fator de Ativação Osteoclástica OMS: Organização Mundial de Saúde PG: Proteoglicanas PGE2: Prostaglandinas E 2 TNF: Fator de Necrose Tumoral VDR: Receptor de Vitamina D x LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: RAIO X DE JOELHOS OSTEOARTRÍTICOS....................................... 21 FIGURA 2: ESTRUTURAS DO JOELHO................................................................. 27 FIGURA 3: PACOTE DE GELO NO JOELHO.......................................................... 37 xi RESUMO Esse trabalho visa revisar a literatura sobre a osteoartrite e a crioterapia, que é um dos tratamentos propostos pela maioria dos autores para essa patologia. A osteoartrite é uma doença antiga, pois foi observada em numerosos esqueletos pré- histórico. É uma das doenças mais freqüentes da espécie humana. É um dos principais fatores de incapacidade física dos idosos. Constitui a forma mais comum de doença reumática e caracteriza-se principalmente pela perda da cartilagem articular. O trabalho relata os inúmeros termos usados para a sua designação e suas definições. Enfatiza-se também a epidemiologia, por ser uma patologia freqüente e incapacitante, que atinge a população de uma forma geral, com maior prevalência após os 60 anos de idade. Vários fatores de risco encontram-se relacionados a sua desconhecida etiologia, sendo a mesma classificada em primária e secundária. Muito se questiona onde realmente inicia-se o processo de degradação articular, pois histopatologicamente podemos observar alterações na integridade da cartilagem, remodelagem e eburneação óssea, podendo haver também, sinovite de grau variável nas fases mais evoluídas do processo. Sua manifestação clínica é referida por muitos portadores de osteoartrite por dor, limitação funcional e deformidades nos estágios mais avançados, o que propicia uma diminuição na qualidade de vida destes pacientes, interferindo até mesmo em suas atividades de vida diária. A osteoartrite de joelho é a localização periférica mais comum e suas características biomecânicas estão relacionadas à estabilidade do joelho durante o movimento, à lubrificação e à distribuição da carga ao longo da articulação. Pouco se conhece sobre os efeitos do frio e do calor na osteoartrite, mas alguns autores relatam que o aumento da temperatura intra-articular em articulações osteoartríticas causa malefícios. Os aspectos gerais da terapia fria, duração e métodos de aplicação são descritos. Descreve-se os efeitos do gelo na dor articular, na circulação, no espasmo muscular, no metabolismo, no processo inflamatório e indiretamente nas enzimas que degradam a cartilagem. Cita-se também algumas contra-indicações e alguns cuidados preventivos em certas condições. Na metodologia, realizou-se um levantamento bibliográfico junto ao Comut da biblioteca da Universidade Católica de Brasília. Além de cd room, as bases de dados on line, Bireme e Proquest foram utilizadas para a pesquisa. Dentro da bireme as bases de dados pesquisadas foram Medline e Lilacs. Foram selecionados e utilizados artigos em inglês e português, sendo que alguns foram excluídos por não estarem relacionados ao assunto. A literatura básica e o levantamento em meio eletrônico também foram consultados. Discutiu-se asvárias designações da patologia, o melhor método de aplicação, a eficácia do tratamento com gelo em joelhos de modelos experimentais em joelhos de humanos, e os efeitos benéficos do gelo e maléficos do calor no tratamento da osteoartrite de joelho. Conclui-se que realmente a terapia fria, de forma direta e indireta, pode controlar a evolução do processo osteoartrítico na articulação do joelho. 1 1. INTRODUÇÃO A observação da osteoartrite (OA) em numerosos esqueletos pré-históricos demonstra a sua antiguidade. Não se trata então de uma doença da civilização, embora as articulações afetadas sejam influenciadas pela adaptação da espécie à postura ereta e pela profissão. A osteoartrite constitui a forma mais comum de doença reumática, sendo na realidade, uma das doenças mais freqüentes na espécie humana e um dos principais fatores de incapacidade física dos idosos. Em graus variados, julga-se que afeta a maior parte da população depois dos 60 anos, embora em alguns casos atinja gravidade suficiente para determinar sintomas e conduzir ao diagnóstico definitivo (BASTOS, 2002). Caracteriza-se por dor e limitação funcional causada por uma perda progressiva da cartilagem articular. Apesar da etiologia do distúrbio ainda não ser totalmente esclarecida, acredita-se que fatores biomecânicos, assim como determinados fatores de risco provoquem um desequilíbrio das enzimas degradativas nas suas formas inativas e dos inibidores dessas enzimas contidas na cartilagem articular. Um dos tratamentos propostos pela maioria dos autores é o resfriamento articular. A terapia fria poderá estar trazendo benefícios no tratamento da sintomatologia da doença, e no controle da atividade enzimática destrutiva, reduzindo assim a evolução do processo na cartilagem articular. 2 2. OBJETIVO O trabalho visa revisar a literatura sobre a osteoartrite e a crioterapia, que é um dos tratamentos propostos pela maioria dos autores para essa patologia. 3 3. JUSTIFICATIVA Resolveu-se fazer esse trabalho pelo fato de a osteoartrite estar entre os problemas médicos mais freqüentes, por ser uma das principais causas de incapacidade física dos idosos, por ser uma das afecções mais comumente tratada pelos fisioterapeutas, por o joelho ser a articulação mais acometida por essa patologia e também pelos efeitos do gelo no tratamento da osteoartrite não estarem bem definidos. 4 4. OSTEOARTRITE 4.1) NOMENCLATURA A osteoartrite é conhecida sob inúmeras designações: artrose, osteoartrose, doença articular degenerativa, artrite hipertrófica, artrite senil, artrite deformante, reumatismo degenerativo, artrite degenerativa, reumatismo regressivo, condro- osteoartrite hipertrófica degenerativa, reumatismo crônico hipertrófico, condro- artrose, entre outras (BASTOS, 2002). Para Skare (1999) os nomes mais comumente empregados para designar essa doença são: osteoartrite, osteoartrose, doença articular degenerativa e artrite hipertrófica. Nenhuma dessas designações é completamente satisfatória. O termo osteoartrose significa, pelo sufixo “ose”, aumento, excesso de produção. Isso é pertinente, já que os elementos dentro e em volta da articulação encontram-se hipertrofiados. No entanto, significa também que a doença não é primariamente inflamatória, o que não está correto. Sabe-se que existe sempre, pelo menos um componente inflamatório. Doença articular degenerativa também não é um termo muito aceitável, uma vez que implica a descrição de um processo puramente catabólico, o que também não é verdade. Existem, em tal doença, processos de reparação bastante ativos (SKARE, 1999). A terminologia artrite hipertrófica caiu em desuso. Osteoartrite não é exatamente um bom termo, mas talvez seja o melhor deles, e por isso será aqui adotado (SKARE, 1999). 4.2) DEFINIÇÃO Atualmente, a OA é entendida como processo de intensa atividade metabólica das células da cartilagem articular, o qual induz ao aumento da produção de elementos estruturais destinados à regeneração dos tecidos degradados pela doença. Tal atividade, no entanto, quando é sobrepujada por uma degradação em ritmo acelerado, leva a um estado de insuficiência osteocartilaginosa (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). 5 Para Bastos (2002) a diferença básica entre osteoartrite e osteoartrose é que na osteoartrite existem sinais e sintomas de inflamação ligados a um problema articular, sem evidência radiológica, havendo evidência radiológica, estaremos nos referindo à osteoartrose. Porém, os dois termos significam artrose, que se caracteriza pelo desgaste da cartilagem articular e não apresenta um processo inflamatório evidente. A OA, ocorre nas articulações diartrodiais (articulações que apresentam líquido sinovial e permite movimentação) e é o tipo mais comum de doença articular (HARRISON e cols., 1998 e CECIL, 2001). Caracteriza-se pela erosão progressiva da cartilagem articular, considerada então uma doença da cartilagem, na qual alterações bioquímicas e metabólicas intrínsecas resultam em sua desintegração. O termo osteoartrite significa, pelo sufixo “ite”, inflamação em sua patogenia, entretanto, em geral as células inflamatórias não são proeminentes e constituem um fenômeno secundário (ROBBINS, 1996). 4.3) EPIDEMIOLOGIA Para Marques & Kondo (1998), a OA é a doença mais comum nos ambulatórios médicos da especialidade, sendo responsável pela incapacidade laborativa de aproximadamente 15% da população adulta do mundo. No Brasil ocupa o 3º lugar na lista dos segurados da Previdência Social que recebem auxílio- doença, ou seja 65% das causas de incapacidade, sendo apenas superada pelas doenças mentais e cardiovasculares. Para Maldonado (1994), 60% das aposentadorias no Brasil são por OA, sendo a 3ª causa de aposentadoria antecipada. Ela é também a 5ª causa de licença excepcional e a freqüência dos pacientes ambulatoriais varia de 27 a 40%. A OA aparece em 35% dos joelhos de pessoas com 30 anos de idade ou mais e chega a afetar quase todos os indivíduos a partir dos 50 anos, embora nem todos os acometidos tenham sintomas desse envolvimento (SKARE, 1999). Cinqüenta e dois por cento da população adulta apresentam sinais radiográficos de OA de joelho e desses, 20% com quadro moderado ou severo (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). 6 A OA de joelho, também chamada de gonartrose, é a localização periférica mais comum, predominando entre os 51 e os 60 anos, preferindo o sexo feminino (MOREIRA & CARVALHO, 2001). De uma maneira geral, 60 a 90% das pessoas acima de 65 anos de idade têm comprovadamente OA, comparadas com menos de 5% das pessoas entre 15 e 44 anos e 25% a 30% entre as idades de 45 a 64 anos (COURA, 2002). Na faixa etária abaixo dos 55 anos, a distribuição articular da OA em homens e mulheres é similar. Em indivíduos mais idosos, a OA de quadril é mais comum e mais incapacitante em homens, enquanto a OA das articulações interfalangianas e da base do polegar é mais comum em mulheres. Analogamente, as evidências radiográficas de OA de joelho, sobretudo da OA de joelho sintomática, são mais comuns nas mulheres do que nos homens (HARRISON e cols., 1998). Homens e mulheres são afetados, mas o padrão de distribuição articular é diferente. Nos homens, a ordem das articulações afetadas é: quadril, joelho, coluna vertebral, tornozelo, ombro e dedos. Nas mulheres, a ordem é: joelho, dedos, coluna vertebral, quadril, tornozelo e ombros (THOMSON, 1994). O mesmo estudo realizado por Maldonado (1994), relata que em todos os países da América Latina, a OA é mais freqüente em mulheres do que em homens.No Brasil a articulação mais afetada pela OA é o joelho, devido ao excesso de peso das pessoas. 4.4) FISIOPATOLOGIA DA OSTEOARTRITE Ainda que a OA seja uma enfermidade freqüente e com diagnóstico radiológico fácil num estágio avançado, permanece ainda misteriosa no seu aspecto etiológico (OMS, 2001). Alguns fatores de risco que estão relacionados à etiologia da OA, são: 4.4.1) A idade: Durante muitos anos, a OA tem sido considerada como um processo ligado ao envelhecimento. Às vezes, isto não nos explica a fisiopatologia desta enfermidade. Além disso, a incidência da OA aumenta com a idade até um ponto 7 máximo que se situa ao redor dos 80 anos. A partir desta idade, a incidência da enfermidade estabiliza-se e até diminui (OMS, 2001). Os fatores relacionados com a idade ainda são obscuros. Perda de resistência mecânica e alguns defeitos nos componentes estabilizadores da matriz têm sido propostos (SKARE, 1999). A observação clínica mostra que um certo número de indivíduos não é afetado pela OA. Ao contrário, nos estudos em autópsia, excepcionalmente encontram-se joelhos sem lesões degenerativas da cartilagem em indivíduos com mais de 50 anos (SKARE, 1999). Tanto do ponto de vista histológico como bioquímico existem também grandes diferenças entre a cartilagem do idoso e a cartilagem osteoartrítica. A cartilagem nas pessoas de idade avançada conserva sua superfície regular, sendo mais pobre em água e células do que uma cartilagem normal. A cartilagem osteoartrítica, por sua vez, apresenta fissuras na sua parte superficial hiperhidratada e existe uma multiplicação de condrócitos na periferia ou borda do fenômeno patológico (OMS, 2001). 4.4.2) O sexo: As relações sexo-osteoartrite não estão claramente estabelecidas e são variáveis segundo o tipo de articulação. Ainda que homens e mulheres sejam igualmente afetados pela OA de quadril, existe um claro predomínio feminino na gonartrose e no acometimento interfalangiano distal e proximal. Globalmente, o índice por sexo é de 1,0 e varia ligeiramente a favor do sexo masculino antes dos 59 anos, invertendo-se depois. Isto sugere um eventual papel protetor dos estrógenos sobre a cartilagem (OMS, 2001). 4.4.3) Os fatores genéticos: A herança osteoartrítica é notada em uma forma particular de OA digital: os nódulos de Heberden. Certos estudos sugerem que uma expressão anormal de colágenos menores, às custas do colágeno tipo II, podem associar-se com algumas formas precoces de OA ou de condrodisplasias. Um polimorfismo do gene do 8 receptor de vitamina D (VDR) parece estar associado ao aumento de risco de OA de joelho (MOREIRA & CARVALHO, 2001). Por outro lado, afirma-se que existem, segundo as raças, algumas diferenças notáveis de aparecimento de coxartrose espontânea: esta é mais rara entre negros, norte-americanos e asiáticos do que entre brancos (OMS, 2001). Enquanto que os japoneses exibem maior incidência, aparentemente relacionada à ocorrência mais freqüente de displasia congênita do quadril. As afro-americanas exibem maior prevalência de OA de joelho do que as mulheres brancas, porém menor prevalência de acometimento das articulações interfalangianas distais da mão (nódulo de Heberden). Desconhecemos se essas diferenças são genéticas ou resultam de diferenças na utilização das articulações, relacionadas com o estilo de vida ou a profissão (HARRISON e cols., 1998). 4.4.4) Os fatores metabólicos: Certas patologias como a gota, a condrocalcinose, a hemocromatose e a ocronose, citando apenas as principais, podem fragilizar a cartilagem articular e iniciar a OA. A associação entre condrocalcinose articular e gonartrose é particularmente freqüente e a presença de cristais de pirofosfato de cálcio está amplamente correlacionada com a existência de uma OA pluricompartimental do joelho. É difícil saber se a presença de cristais no líquido sinovial de um joelho osteoartrítico é uma conseqüência de modificações intra-articulares relacionadas com a OA ou se é uma das causas essenciais da OA. Seja como for, o excesso agudo de microcristais e seu leque de fenômenos inflamatórios locais irão agravar e perenizar a enfermidade degenerativa (OMS, 2001). 4.4.5) Os fatores mecânicos: Para OMS (2001), o papel dos fatores mecânicos é claro e sem dúvida primordial. Está ademais demonstrado pela histologia: observa-se na OA, fraturas da rede colágena. Trata-se de fissuras que partem da superfície da cartilagem, estendem-se em profundidade e soltam fragmentos tissulares. 9 O papel dos fatores mecânicos é evidente em numerosas circunstâncias clínicas particulares: a) certos acidentes desportivos: traumatismos articulares com ou sem fratura, ruptura de ligamento e lesões de menisco provocam OA localizada. Estima-se que um traumatismo de menisco ou uma meniscectomia total ou parcial correlacionam- se com o desenvolvimento de gonartrose em 40 a 60% dos pacientes nos 15 anos seguintes ao traumatismo. b) quando a topografia da lesão articular é específica do esporte ou das atividades praticadas: Para Skare (1999), indivíduos cujas juntas estão sempre sendo submetidas a excesso e repetição de uso, como é o caso dos joelhos de jogadores de futebol. Segundo Kujala e cols., (1995), jogadores de futebol e levantadores de peso, apresentam um risco aumentado de desenvolver uma prematura OA de joelho. Examinando radiologicamente os joelhos dos atletas, constatou-se que os jogadores de futebol tinham uma grande prevalência de OA tibiofemoral (26%) e os levantadores de peso, uma grande prevalência de OA patelofemoral (28%). O risco aumentado é explicado em parte por injúrias no joelho em jogadores de futebol e grande massa corporal em levantadores de peso. Para a OMS (2001), as osteoartrites profissionais ou reincidentes ilustram também perfeitamente a relação entre sobreesforço articular e OA, como é o caso da OA de cotovelos e joelhos dos mineiros, OA de cotovelos dos que utilizam martelos pneumáticos, etc. c) o caso de hiper-relaxamento ou afrouxamento dos ligamentos, de displasia articular (o que origina uma incongruência e diminuição das superfícies de contato) e de anomalias dos ossos de um membro (OMS, 2001). d) na mesma linha de raciocínio, a obesidade pode favorecer o aparecimento da OA. O risco de desenvolver uma gonartrose multiplica-se por sete na mulher obesa em relação à uma mulher normal (OMS, 2001). A obesidade exibe, sem dúvida alguma, a associação mais forte com a OA de joelho. Segundo estudos, indivíduos na classificação mais elevada para o Índice de Massa Corporal durante o exame basal, o risco relativo de ocorrência de OA de joelho nos 36 anos seguintes foi de 1,5 para os homens e 2,1 para as mulheres. Para OA grave do joelho, o risco relativo subiu para 1,9 para os homens e 3,2 para as mulheres, sugerindo que a obesidade 10 desempenha um papel maior na etiologia dos casos mais graves de OA do joelho. Ademais, indivíduos obesos que não estejam ainda padecendo de OA podem reduzir seu risco: verificou-se que uma perda ponderal de apenas 5 kg estava associada a uma redução de 50% na probabilidade de ocorrência de OA sintomática de joelho (HARRISON e cols., 1998). Os fatores mecânicos são talvez os mais óbvios. Em caso de deformidades articulares, congênitas ou adquiridas, como o geno varo e valgo, existe geralmente uma diminuição da área de contato articular. Isso é causa de aumento de resistência mecânica por unidade de área da cartilagem (SKARE, 1999). Essas deformidades desencadeiam OA tíbiofemorais. O geno varo adquirido é o maior gerador de OA e geralmente é mal tolerado. As pessoas com deformidade em geno varo suportam a maior parte de seus esforços de sustentação de peso no compartimento medial e por isso são predispostas à OA na região medial, enquanto que na angulaçãoem valgo é a região lateral que fica predisposta à OA (KOTTKE & LEHMANN, 1994). Estudo de Maldonado (1994), relata que o fator de risco mais importante no Brasil é a obesidade, seguido pelos defeitos posturais. 4.4.6) Os mecanismos bioquímicos: 4.4.6.1) Aspectos gerais da cartilagem articular: Antes de falarmos sobre os mecanismos bioquímicos que ocorrem na cartilagem articular é importante que conheçamos um pouco mais sobre ela, sua composição e importância na articulação do joelho. O sistema articular desenvolve-se do mesoderma (MOORE, 1990). O denso agrupamento de células mesenquimais é a primeira manifestação de formação de uma cartilagem (GARCIA, 1991). Nas articulações sinoviais, a cartilagem articular ou hialina recobre as extremidades dos ossos articulares. A superfície externa consiste em fibras de colágeno dispostas de forma paralela à superfície e assemelha-se à uma pérola polida e úmida. Essa superfície lisa minimiza a resistência ao deslizamento. A superfície externa está fixada à uma camada de transição de fibras de colágeno e, por fim ao osso, por cartilagem calcificada. A camada média é relativamente espessa e absorve choques. A cartilagem em si não tem inervação, 11 nem irrigação sangüínea (KAUFFMAN, 2001). Nutre-se por difusão lenta através da sinóvia e capilares do osso subjacente (GARDNER & OSBURN, 1980). Receptores de dor e posição (proprioceptores) estão localizados na cápsula e nos ligamentos da articulação. Quando a cartilagem articular é comprimida, ela exsuda líquido através de poros existentes na camada externa, e quando a compressão cessa, o líquido sinovial retorna para a cartilagem. Essa compressão intermitente é essencial à nutrição da cartilagem articular. Períodos prolongados de compressão ou falta de compressão provocam deterioração da cartilagem articular. A cartilagem articular tem uma capacidade limitada de auto-regeneração, e esta capacidade é ainda mais reduzida no idoso. O envelhecimento normal também provoca uma redução do volume e da qualidade do líquido sinovial, contribuindo para a deterioração da cartilagem articular (KAUFFMAN, 2001). A cartilagem articular adulta varia em espessura de 2 a 4 mm, sendo mais espessa tanto na periferia das superfícies côncavas quanto nas porções centrais das superfícies convexas (ROBBINS, 1996). A cartilagem articular humana é formada por células: os condrócitos (5% da massa tissular) e por uma matriz extracelular constituída por 66 a 80% de água, e os restantes 20 a 34% de tecido sólido. O tecido sólido é constituído por proteoglicanas (PG) e por colágeno do tipo II que corresponde à 95% do tecido (OMS, 2001). Cada uma dessas células desempenham funções específicas. As fibras colágenas são organizadas em arcos e, nas proximidades da superfície, possuem uma orientação horizontal. Isso faz com que a cartilagem possa resistir aos estresses tensionais e transmitir as cargas verticais. A água e as proteoglicanas conferem à cartilagem hialina seu turgor e sua elasticidade e desempenham um papel importante no sentido de limitar o atrito (ROBBINS, 1996). O condrócito é totalmente responsável pela integridade do tecido, já que possui a capacidade de sintetizar os componentes da matriz e as enzimas que os degradam (OMS, 2001). Normalmente, esses processos estão em equilíbrio. A meia-vida dos diferentes componentes varia de semanas como as proteoglicanas, à anos como o colágeno tipo II (ROBBINS, 1996). 12 4.4.6.2) Hipóteses da origem da osteoartrite: Clínica e experimentalmente tem sido demonstrado que as osteoartrites não resultam de causa única, mas de um conjunto de causas, configurando verdadeira constelação etiológica (MOREIRA & CARVALHO, 2001). Para Bastos (2002), uma das hipóteses para explicar a origem da OA idiopática é a teoria de Johnson e Radin que diz: que por razões traumáticas e mecânicas no osso subcondral, ocorrem micro fraturas subcondrais que fazem com que o osso perca a sua complacência, provocando endurecimento do osso, desgaste da cartilagem e conseqüentemente OA. Skare (1999), relata que alguns autores concordam que o evento primário está no osso subcondral. Exercícios repetitivos, praticados em excesso, levariam à sobrecarga do osso subcondral, o que permitiria a ocorrência de microfraturas. Essas microfraturas são curadas com a formação de calo ósseo, o qual, por sua vez, torna o osso mais inelástico e esclerótico. Esse osso não absorve bem os impactos e a sua transmissão leva à um aumento da pressão venosa intra-óssea, que é um dos elementos responsáveis pela dor na OA. A lesão da cartilagem articular seria secundária a essa perda da capacidade de absorção de choques pelo osso subcondral. Para Bastos (2002), existem outras duas hipóteses que tentam explicar a origem da OA idiopática: Teoria de Collins: a hipótese sinovial, diz que o processo de inflamação da membrana sinovial transmite-se para a cartilagem e depois para o osso; Teoria de Ballet: diz que o estresse físico local pode romper os lisossomos cartilaginosos e com isso liberar as enzimas proteolíticas. Já a maioria dos pesquisadores acredita que as alterações primárias na OA começam na cartilagem. Os dados bioquímicos são compatíveis com a presença de um defeito na rede de colágeno da cartilagem, talvez em decorrência da desagregação da “cola” que une as fibras adjacentes na matriz. Essa é uma das primeiras alterações observadas na matriz, sendo aparentemente irreversível (HARRISON e cols., 1998). Como os condrócitos são uns dos componentes da cartilagem articular, estes serão melhor descritos posteriormente. 13 As alterações na matriz da cartilagem citadas acima, iniciariam o processo por desencadear uma mudança no microambiente do condrócito. A perda de proteoglicanos e o aumento do teor de água levariam à perda de elasticidade, com maior rigidez do tecido, aumentando a sua susceptibilidade à estresse mecânico. Seguem-se sofrimento do condrócito e alterações de permeabilidade de cartilagem, prejuízo de sua nutrição e lubrificação, desenvolvimento de fibrilas e fissuras (SKARE, 1999). Os condrócitos desempenham um papel primário nesse processo e constituem a base celular da OA (ROBBINS, 1996). Os fatores responsáveis pela sua ativação para degradar a matriz da cartilagem, permanecem desconhecidos (CECIL, 2001). Na fase inicial da OA, os condrócitos reagem aumentando a produção de matriz, aumentando a síntese de PG. Entretanto, em geral, a resposta por razões desconhecidas é inadequada. Mas, pode-se relacionar à incapacidade de reconstruir a estrutura tridimensional da cartilagem nos indivíduos maduros (CECIL, 2001). Os condrócitos presentes na cartilagem osteoartrítica sofrem divisão celular ativa e são muito ativos em termos metabólicos, produzindo grandes quantidades de ADN, ARN, colágeno, PG e proteínas não-colagenosas. (Por essa razão, é uma imprecisão considerar a OA como uma doença articular “degenerativa”). Antes da destruição da cartilagem e da depleção das PG, essa notável atividade de biossíntese pode levar a um aumento na concentração de PG, o que pode estar associado ao espessamento da cartilagem e ao estágio de homeostase conhecido como OA “compensada”. Esses mecanismos podem manter a articulação num estado razoavelmente funcional durante anos. Contudo, com freqüência o tecido de reparo não se comporta tão bem sob tensões mecânicas em comparação com a cartilagem hialina normal e, finalmente, pelo menos em alguns casos, a taxa de síntese do PG cai e ocorre a OA “terminal”, em que há perda de toda a espessura da cartilagem (HARRISON e cols., 1998). A homeostase da cartilagem se estabelece através do equilíbrio entre agentes que atuam no seu anabolismo e catabolismo. Um desequilíbrio entre eles, com predominância dos agentes catabólicos, precipita a degeneração cartilaginosa,levando à OA (MOREIRA & CARVALHO, 2001). A seguir, serão descritos os agentes implicados na homeostase da cartilagem osteoartrítica. 14 4.4.6.3) As enzimas da cartilagem: O principal sistema de degradação da cartilagem articular inclui 3 enzimas existentes no condrócito e na sinóvia, denominadas metaloproteases (MPM): colagenase, gelatinase e estromelisina, todas com atividade colagenolítica e, as duas últimas, também com ação proteoglicanolítica (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). As metaloproteases são secretadas pelos condrócitos na forma inativa (OMS, 2001). E transformam-se, na matriz cartilaginosa, em enzimas ativas, através da plasmina proveniente da ativação do plasminogênio. O equilíbrio do sistema baseia-se em pelo menos dois inibidores, o inibidor tecidual das metaloproteases (ITMP) e o inibidor do ativador do plasminogênio 1 (IAP-1), que são sintetizados pelos condrócitos e limitam a atividade degradante das MPM e do ativador do plasminogênio, respectivamente (HARRISON e cols. 1998). No processo osteoartrítico, a síntese ITMP não se eleva na proporção do aumento de atividade das metaloproteases, gerando um estado de desequilíbrio pró-degradação para os constituintes da matriz extracelular (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). 4.4.6.4) As citocinas: Possuem um papel de grande importância nas relações intercelulares, e seus receptores são tanto as células do endotélio vascular como os condrócitos, os sinoviócitos e os fibroblastos. Estas glicoproteínas são secretadas em particular pelos condrócitos e sinoviócitos. As principais são a interleucina-1 (IL-1), fator de necrose tumoral (TNF-) e interleucina-6 (IL-6) (OMS, 2001). A IL-1 e TNF- têm duplo papel sobre os elementos da matriz: diminuem sua síntese e incrementam sua degradação. Diminuem a capacidade de síntese do colágeno tipo II e das proteoglicanas, estimulando por outro lado a síntese de colágenos menores dos tipos I e III, de pior qualidade mecânica. Paralelamente, incrementam a síntese das metaloproteases pelos condrócitos (OMS, 2001). Por outro lado, a IL-1 e TNF- vão ser desfavoráveis para a cartilagem ao participar de mecanismos pró-inflamatórios e sua amplificação: aumento do quimiotactismo celular, ativação de radicais livres e ativação da fosfolipase A2, 15 promovendo um aumento de prostaglandinas. O papel da IL-6 ainda não está bem definido na OA (OMS, 2001). Os eventos biológicos precisos que resultam na secreção de citocinas, porém, não foram definidos claramente (ROBBINS, 1996). 4.4.6.5) As prostaglandinas: As prostaglandinas, principalmente a PGE2, modulam as respostas imune e inflamatória, têm grande influência na reabsorção óssea, são produzidas pelas células sinoviais, da cartilagem e dos ossos , e sua concentração é elevada nos exsudatos inflamatórios (RODRIGUES, 1995). Suas relações com as interleucinas são estreitas, pois uma vez que são afetadas por estas, há estimulação de sua síntese. Certamente, o papel das PGE2, não é o único, já que estas aumentam a síntese dos fatores de crescimento (OMS, 2001). Alguns mediadores secundários entram em ação, tais como os derivados das prostaglandinas, TNE- e TGF-, que induzem a liberação de enzimas líticas pelos condrócitos ao mesmo tempo em que inibem a síntese da matriz (ROBBINS, 1996). 4.4.6.6) Os radicais livres: Os radicais livres, e em particular o óxido nítrico (NO), são produzidos pelos condrócitos da camada superficial da cartilagem. Existe uma escassa produção fisiológica sob a ação da NO sintetase constitutiva (OMS, 2001). No curso das reações inflamatórias, a produção aumenta sob a influência de uma NO sintetase induzida. O NO exerce efeitos deletérios sobre a cartilagem, visto que degrada as proteoglicanas, colágeno e ácido hialurônico (OMS, 2001). 4.4.6.7) Os fatores de crescimento: Os mediadores polipeptídicos, fator de crescimento semelhante à insulina 1 (FCI-1) e o fator do crescimento transformador (FCT-), estimulam a biossíntese dos proteoglicanos. Esses mediadores e o fator básico de crescimento dos fibroblastos (FCF) regulam o metabolismo da matriz na cartilagem normal e podem 16 desempenhar um papel no reparo da matriz na OA, que podem curar a lesão ou, pelo menos, estabilizar o processo. Esses fatores de crescimento vão originar os osteófitos articulares, sinal principal para o diagnóstico de OA (OMS, 2001). É digno de nota que esses fatores de crescimento modelam as vias catabólicas e também anabólicas do metabolismo dos condrócitos através da sub-regulação dos receptores dos condrócitos para IL-1. Tais fatores podem diminuir a degradação das proteoglicanas (HARRISON e cols., 1998). Além de todos esses agentes, alguns mediadores implicados na destruição dos tecidos-alvo, estimulam a reabsorção óssea pelos osteoclastos, como o fator de ativação osteoclástica (OAF). Este fator linfocitário aumenta a superfície de contato entre os osteoclastos e o osso, ao nível da borda estriada e estimula a liberação de cálcio. O OAF é secretado pelos linfócitos “T” ativados, na presença de macrófagos (RODRIGUES, 1995). 4.5) CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DA OSTEOARTRITE Para Yoshinari & Bonfá (2000), a OA é definida como idiopática (ou primária), quando não existem fatores predisponentes identificáveis, e secundária, quando é claramente decorrente de agentes locais ou sistêmicos que, agindo na articulação, modificam suas características, fundamentalmente aquelas necessárias para um desempenho funcional ideal. Para Harrison e cols. (1998), a OA classifica-se como: I) Idiopática A. OA localizada 1. Mãos: nodos de Heberden e Bouchard (nodal), artrite interfalângica erosiva (não-nodal), cárpica, metacárpica I. 2. Pés: hálux valgo, hálux rígido, dedos contraídos (dedos em martelo, dedos arrebitados), talonavicular. 3. Joelho: a) Compartimento medial; b) Compartimento lateral; c) Compartimento patelofemoral. 17 4. Quadril: a) Excêntrica; b) Concêntrica (axial, medial); c) Difusa (coxa senil). 5. Coluna vertebral: a) Articulações apofisárias; b) Articulações intervertebrais (discos); c) Espondilose (osteófitos); d) Ligamentar (hiperostose, doença de Forestier, hiperostose esquelética idiopática difusa). 6. Outros locais isolado, por exemplo glenoumeral, acromioclavicular, tibiotalar, sacroilíaca, temporomandibular. B. OA generalizada: consiste em 3 ou mais das áreas listadas acima. De acordo com Yoshinari (2000), a OA generalizada apresenta subgrupos especiais: OA nodal generalizada; OA nodal erosiva; Hiperostose esquelética difusa idiopática; Condromalácia de patela. Na OA secundária, o dano articular atinge, via de regra, poucas articulações, com freqüência àquelas que suportam carga, como joelho, coxofemorais e coluna vertebral (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). A seguir será descrita a classificação da OA secundária de acordo com Harrison e cols. (1998). II) Secundária A. Traumatismos 1. Agudos; 2. Crônicos ( ocupacional, esportes); B. Congênitas ou relacionadas com o desenvolvimento 1. Doenças localizadas: Legg-Calvé-Perthes, luxação congênita do quadril, deslizamento da epífise; 2. Fatores mecânicos: comprimento desigual dos membros 18 inferiores, deformidade vara/valga, síndrome de hipermobilidade, obesidade, escoliose, meniscectomia, etc. 3. Displasias Ósseas: displasia epifisária, displasia espondiloapofisária, osteonicodistrofia, condrodisplasia. C. Metabólicas 1. Ocronose (alcaptonúria); 2. Hemocromatose; 3. Doença de Wilson; 4. Doença de Gaucher D. Endócrinas 1. Acromegalia; 2. Hiperparatireoidismo; 3. Diabetes melito; 4. Obesidade; 5. Hipotireoidismo. E. Doenças por depósito de cálcio 1. Depósito de pirofosfato de cálcio diidratado; 2. Artropatia por apatita. F. Outras doenças ósseas e articulares 1. Localizadas:fratura, necrose avascular, infecção, gota; 2. Difusas: artrite reumatóide (inflamatória), doença de Paget, osteopetrose, osteocondrite. G. Neuropáticas: articulação de Charcot, infiltração intra-articular com corticosteróides. H. Endêmicas 1. Kashin-Beck; 2. Mseleni. I. Outras 1. Geladura; 2. Doença do caixão; 3. Hemoglobinopatias 19 Yoshinari & Bonfá (2000), classifica as alterações dos números 1 e 2 do grupo “B”, acima descrito, em localizadas, e as alterações do número 3 do grupo “B” em generalizadas 4.6) HISTOPATOLOGIA As alterações mais notáveis nos casos de OA são habitualmente observadas em áreas de sustentação de carga da cartilagem articular. Essas alterações além de serem macroscopicamente vistas ao Raios X, são também microscopicamente vistas ao exame histopatológico. Nos estágios iniciais, manifesta-se como amolecimento da superfície da cartilagem, que progride para a fibrilação das camadas superficiais, perda de espessura da cartilagem, desenvolvimento de fendas (erosões) na profundidade da cartilagem e, por fim, perda da sua integridade (CECIL, 2001). O osso subcondral passa a receber maior impacto mecânico, devido à redução do amortecimento da cartilagem, e reage com intensa remodelagem (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). À medida que ocorre perda da cartilagem articular, desencadeia-se um aumento significativo na atividade dos osteoblastos do osso subjacente, endurecendo-o (torna-se esclerótico). Essa remodelação na extremidade óssea, aumenta a capacidade de resistência à carga na superfície da articulação e ajuda a compensar o maior esforço biomecânico decorrente das anomalias das faces articulares alteradas (DAVID & LLOYD, 2001). As pequenas fraturas através do osso articulado são comuns, e os pedaços deslocados de cartilagem e de osso subcondral caem na articulação formando corpos livres. Desenvolvem-se também cistos ósseos subcondrais que nada mais são, do que líquido sinovial, revestido por paredes fibrosas, que se acumula dentro das regiões subcondrais, através das fendas das fraturas (ROBBINS, 1996). Estes cistos desenvolvidos podem comunicar-se com o espaço articular e expandir-se em geodos, bem como osteófitos marginais (crescimento de nova cartilagem e osso) em áreas que não sustentam peso (CECIL, 2001). Esses osteófitos também conhecidos por esporões alteram o contorno da articulação e podem restringir os movimentos (HARRISON e cols., 1998). No estágio final da doença, o osso articular pode ficar completamente desnudado, e sua 20 superfície torna-se lisa e brilhante, processo denominado eburneação óssea (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). À medida que aumenta a degradação da cartilagem, as fissuras multiplicam- se e os fragmentos de proteoglicanas caem na cavidade, sendo fagocitados pelos sinoviócitos (células da membrana sinovial). Estes últimos reagem produzindo citocinas (interleucinas) e mediadores inflamatórios como as prostaglandinas (OMS, 2001). A membrana sinovial inflamada, por sua vez, acelera a degradação cartilaginosa, via liberação de enzimas proteolíticas (colagenase e estromelisina) no líquido sinovial (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). Cria-se um verdadeiro círculo vicioso que se auto-mantém entre a sinóvia e a cartilagem. É por isso que a sinóvia osteoartrítica é histologicamente hipertrofiada e com freqüência congesta. Na OA avançada, pode-se inclusive falar de uma sinóvia “detrítica” em que existe uma intensa reação macrofágica na periferia dos resíduos de cartilagem (OMS, 2001). Os condrócitos tornam-se metabolicamente mais ativos, com núcleos hipertróficos e multiplicação celular, principalmente junto as fibrilações, formando clones de duas ou mais células, na tentativa aparente de reparo (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). Pode ocorrer em alguns casos, desenvolvimento de fibrocartilagem em lugar da cartilagem hialina perdida, mas a fibrocartilagem não é tão resistente quanto à cartilagem hialina (CECIL, 2001). Com a evolução do processo, sobrevém falência dos mecanismos de regeneração e morte dos condrócitos, acarretando extensas regiões acelulares na cartilagem e paralelamente, ocorre morte de condrócitos (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). 21 RAIO X DE JOELHOS OSTEOARTRÍTICOS FONTE: YOSHINARI & BONFÁ (2000) 4.7) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A OA ainda não apresenta cura, porém o diagnóstico precoce e o tratamento podem minimizar os sintomas e ajudar os pacientes a terem uma vida mais ativa. No entanto, a não realização de um tratamento para controle, faz com que a doença evolua e deixe os pacientes até incapazes de deambular independentemente. Dentre as manifestações clínicas, a dor, é o sintoma predominante que leva ao diagnóstico de OA, afeta freqüentemente apenas uma articulação, enquanto que as outras só tornam-se dolorosas subseqüentemente (CECIL, 2001). Em algumas pessoas, a doença pode evoluir sem apresentar sintomas. Muitas articulações com evidência radiográfica de OA podem permanecer sem sintomatologia por longos períodos. O aparecimento de sintomas é usualmente lento. A dor articular da OA é freqüentemente descrita como uma sensação de “dolorido profundo”, com localização na articulação acometida. Tipicamente, é agravada pelo uso da articulação e aliviada pelo repouso, mas à medida que a doença progride, pode tornar-se persistente. Pode irradiar-se para estruturas circundantes ou ser referida a essas estruturas. Na OA avançada a dor noturna que prejudica o sono pode ser observada e essa pode ser irritante. A rigidez da articulação acometida ao levantar da cama pela manhã ou após um período de 22 inatividade pode ser significativa, mas em geral dura menos de 20 minutos (HARRISON e cols., 1998). Essa rigidez pode ser devido à perda da lubrificação articular ou edema crônico nas estruturas periarticulares (THOMSON, 1994). As osteoartrites, como regra, não apresentam manifestações sistêmicas, nem mesmo quando os quadros são poliarticulares (MOREIRA & CARVALHO, 2001). A origem da dor na OA é multifatorial. Quando presente, indica normalmente uma doença em fase não inicial, ou seja, ela já teria tido um longo curso subclínico. Por esse motivo a dor articular na OA pode decorrer de alguns fatores descritos a seguir (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). Algumas estruturas podem sofrer estiramento pelos osteófitos, como acontece na cápsula articular, no periósteo e em ligamentos. A hipertrofia óssea pode originar estiramento de nervos, como o verificado no crescimento dos osteófitos. O osso subcondral pode sofrer microfraturas por sobrecarga mecânica acarretada pela perda da cartilagem. A hipertrofia das trabéculas, que se dá na remodelação óssea do processo osteoartrítico, provoca hipertensão medular, causa significativa de dor em alguns casos. Os músculos podem hipotrofiar-se pelo desuso e tornar-se espásticos e doloridos. O processo inflamatório da OA, por via de regra, acomete sinóvia, bolsas, ligamentos e tendões justa-articulares, causando dor e enrijecimento (YOSHINARI & BONFÁ, 2000). Na OA avançada, as evidências histológicas de inflamação sinovial podem ser tão significativas quanto na sinóvia de um paciente com artrite reumatóide. A sinovite nos casos de OA pode ser decorrente da fagocitose de fragmentos de cartilagem e osso oriundos da face articular atacada pela abrasão (partículas de desgaste). As macromoléculas liberadas da matriz cartilaginosa podem ser seqüestradas no tecido colagenoso da articulação, o que provoca uma sinovite crônica leve. Em contrapartida, nos primeiros estágios da OA, mesmo no paciente com dores articulares crônicas, a inflamação sinovial pode estar ausente, sugerindo que a dor articular deve-se à um dos outros fatores já mencionados (HARRISON e cols., 1998). O exame físico da articulação osteoartrítica pode revelar hipersensibilidade localizadaà palpação e mobilização, tumefação óssea ou dos tecidos moles. A crepitação óssea é típica, e consiste na sensação de osso friccionando contra osso e é provocada pelo movimento articular. Em geral os derrames sinoviais, quando 23 presentes, não são muito volumosos. Estes comumente estão relacionados ao trauma ou uso excessivo da articulação. À palpação, a articulação pode revelar algum calor e discreto edema, que são sinais inflamatórios que raramente estão acentuados. A hipotrofia da musculatura periarticular pode ser decorrente do desuso ou da inibição reflexa da contração muscular (espasmo muscular). Nos estágios avançados de OA, podem ocorrer deformidades visíveis, hipertrofia óssea (resultado da remodelagem), subluxação (conseqüência do desalinhamento articular), e perda significativa dos movimentos articulares, sem anquilose como regra. Contudo, é incorreta a noção de que a OA é inexoravelmente progressiva. Em muitos pacientes, a doença estabiliza-se, ocorrendo regressão da dor articular e até mesmo das alterações radiográficas (HARRISON e cols., 1998). 24 5. ESTRUTURAS E BIOMECÂNICA DO JOELHO Como o joelho é a articulação mais comprometida pela OA, é importante que se detalhe sobre as suas estruturas e sua biomecânica. A articulação do joelho é classificada como articulação sinovial (ou diartrose), do tipo gínglimo ou dobradiça. Essa articulação estabelece união, mas permite franca mobilidade, graças à: cavidade articular, cápsula envolvente, líquido lubrificante no interior e cobertura cartilagínea das superfícies articulares dos ossos (GARDNER & OSBURN, 1980). É formada por 3 ossos (fêmur, tíbia e patela) e 3 superfícies que se articulam: as articulações tibiofemoral medial, tibiofemoral lateral e patelofemoral, as quais estão encerradas dentro de uma cápsula articular comum (SMITH, 1997). A literatura diverge quanto à mobilidade do joelho. Para Smith (1997), a articulação do joelho possui 2 graus de liberdade de movimentação: flexão-extensão e rotação axial. Já para Kapandji (2000), o joelho é uma articulação de um grau de liberdade, a flexão-extensão, que permite aproximar ou afastar mais ou menos a extremidade do membro de sua raiz. Acessoriamente, a articulação do joelho comporta um segundo grau de liberdade: a rotação sobre o eixo longitudinal da perna, que só aparece quando o joelho está fletido. 5.1) Acidentes anatômicos dos ossos que compõem a articulação do joelho: 5.1.1) Fêmur: inferiormente, o corpo do fêmur expande-se em duas formações curvas e lisas, que são os côndilos medial e lateral que se articulam com a tíbia. Além dos côndilos, a região inferior do fêmur apresenta também a superfície patelar. Esta é deprimida para receber a patela (GARDNER & OSBURN, 1980). 5.1.2) Patela: de projeção triangular a patela é um osso sesamóide que se articula com as superfícies anterior e distal dos côndilos femorais (superfícies trocleares). A face posterior da patela é incrustada de uma cartilagem muito espessa (4 a 5 mm), sobretudo ao nível da crista mediana (SMITH, 1997). Segundo Kapandji (2000), é a maior espessura de cartilagem de todo o organismo. Distalmente, a patela está ancorada na tuberosidade da tíbia pelo forte tendão patelar (SMITH, 1997). 25 5.1.3) Tíbia: a parte alta da tíbia expande-se superiormente, para formar a larga e grossa meseta da articulação com os grandes côndilos do fêmur. A superfície articular superior é dividida em côndilo medial, oval e alongado e côndilo lateral, mais curto e mais circular. Estas duas faces articulares são separadas pela eminência intercondilar (GARDNER & OSBURN, 1980). 5.2) Estruturas intra e extra-articulares: 5.2.1) Meniscos: os meniscos medial e lateral são estruturas intra capsulares, fibrocartilaginosas que servem para aumentar a congruência das articulações tibiofemorais e para distribuir a pressão. A remoção cirúrgica dos meniscos diminui a área de superfície e causa aumento de pressão sobre os côndilos femurais e tibiais, o que pode levar mais tarde à OA (SMITH, 1997). Estes anéis são interrompidos ao nível das espinhas tibiais, de maneira que eles têm a forma de uma meia-lua, com um corno anterior e um corno posterior. O menisco lateral forma um anel quase completo, tem a forma de um “O”, enquanto que o medial é uma meia-lua e tem a forma de um “C”. O menisco lateral deforma-se e desloca-se mais que o medial porque as inserções de seus cornos estão mais próximas (KAPANDJI, 2000). 5.2.2) Ligamentos: são espessamentos fibrosos da cápsula, flexíveis, mas que limitam o movimento da articulação ao evitarem a separação excessiva dos ossos envolvidos (KAUFFMAN, 2001). 5.2.2.1) Os ligamentos colaterais mediais e laterais: são estruturas intra capsulares que reforçam a cápsula articular do lado interno e externo e também asseguram a estabilidade lateral do joelho em extensão. O ligamento colateral medial (tibial), estende-se do fêmur até a tíbia internamente e evita a abdução da tíbia sobre o fêmur, conhecido como geno varo (KAPANDJI, 2000). Os ligamentos ficam retesados quando o joelho move-se para extensão e tornam-se folgados quando o joelho flexiona (SMITH, 1997). O ligamento colateral lateral (fibular) estende-se do fêmur até a fíbula externamente e evita a adução da tíbia sobre o fêmur, conhecido como geno valgo (KAPANDJI, 2000). 26 5.2.2.2) Os ligamentos cruzados anterior e posterior: confere controle e estabilidade ao joelho durante os movimentos inteiros de flexão e de extensão. Estes ligamentos ficam no centro da articulação dentro da fossa intercondiliana femoral. Embora intimamente relacionados com a cápsula articular, eles não estão dentro da cápsula e são estruturas extracapsulares. O ligamento cruzado anterior (LCA) estende-se anteriormente da tíbia até o côndilo lateral do fêmur. Este ligamento impede a luxação anterior da tíbia sobre o fêmur (sinal de gaveta anterior). O ligamento cruzado posterior (LCP) estende-se posteriormente da tíbia até o côndilo medial do fêmur. Este ligamento limita o desvio posterior da tíbia sobre o fêmur, que é o sinal de gaveta posterior (SMITH, 1997). 5.2.3) Cápsula articular: consiste em um curto manguito de tecido conjuntivo fibroso, a cápsula fibrosa, que se estende bem abaixo da cartilagem articular (BASMAJIAN, 1993). Essa membrana fibrosa envolve a articulação e está fixada nos ossos que se articulam, limitando a separação destes (KAUFFMAN, 2001). 5.2.4) Bolsas serosas do joelho: uma bolsa é um saco membranoso revestido por células endoteliais. Ela pode ou não se comunicar com as membranas sinoviais das articulações. A função de uma bolsa é evitar o atrito entre duas estruturas (por exemplo, tendão e osso ou tendão e músculo) ou proteger as proeminências ósseas. A inflamação de uma bolsa sinovial, é chamada de bursite (THOMSON, 1994). Existem onze bolsas ou mais, próximas ao joelho (BASMAJIAN, 1993). 5.2.5) Membrana sinovial: é uma camada de tecido conjuntivo, caracterizada pela sua riqueza em vasos sanguíneos e linfáticos. Produz a sinóvia em quantidades suficientes para manter as superfícies articulares lubrificadas e saudáveis. Quando irritada, verte excesso do fluido na cavidade articular, chamado de hidrartrose ou vulgarmente “água no joelho” (BASMAJIAN, 1993). A área não-articular recebe revestimento sinovial, assim como a cápsula fibrosa e os ligamentos colaterais. Já as cartilagens articulares e os meniscos não são revestidos pela membrana sinovial. As terminações nervosas da membrana sinovial e de seus prolongamentos são provavelmente receptores da dor e acompanham vasos sanguíneos, suprindo-os (GARDNER & OSBURN, 1980). 27 ESTRUTURAS DO JOELHO FONTE: PINHEIRO (2002) 28 5.2.6) Músculos: os grupos muscularesdo joelho são: 5.2.6.1) os extensores do joelho (quadríceps da coxa) consistem em quatro músculos: reto femoral, vasto lateral, vasto medial (alguns autores consideram como subdivisão desse músculo, o vasto medial oblíquo) e vasto intermédio (SMITH, 1997); 5.2.6.2) os flexores do joelho (posteriores da coxa ou isquiotibiais) que são: bíceps femoral, semitendinoso e semimembranoso. Porém alguns outros músculos contribuem secundariamente para a flexão do joelho, são eles: gastrocnêmio, plantar, poplíteo, grácil e sartório (SMITH, 1997); 5.2.6.3) os rotadores do joelho. Os músculos que atuam na rotação medial da tíbia em relação ao fêmur são: semitendinoso, semimembranoso, poplíteo, grácil e sartório. A rotação lateral da tíbia em relação ao fêmur é realizada pelo bíceps femoral, possivelmente auxiliado pelo tensor da fáscia lata (SMITH, 1997). Dentre os grupos musculares do joelho, o grupo que mais sofre hipotrofia muscular na OA, são os extensores do joelho. Além dos extensores, outros grupos musculares precisam ser fortalecidos nessa condição, são eles: abdutores e extensores de quadril (THOMSON, 1994). Nesses indivíduos, o fortalecimento dos músculos periarticulares pode resultar em diminuição da dor articular em grau tão significativo quanto o que se observa com o uso de antiinflamatórios não hormonais (HARRISON e cols., 1998). 5.3) BIOMECÂNICA As características biomecânicas da articulação do joelho incluem a estabilidade durante o movimento, a lubrificação da articulação, que permite o deslizamento com baixa fricção e a distribuição da carga ao longo da articulação (COURA, 2002). 29 5.3.1) Os movimentos das superfícies articulares do joelho: Os movimentos das superfícies articulares do joelho são uma combinação de deslizamento da meseta tibial em torno dos côndilos femorais, e um movimento de roda com mistura de deslizamento dos côndilos femorais sobre a tíbia. Sem carga de peso, o movimento tibial é mais pronunciado. Com cargas, como na marcha, a tíbia fixa-se e o movimento dos côndilos predomina. O comprimento total do côndilo femoral excede o do côndilo tibial sobre o qual se move. Ademais, o côndilo femoral medial é mais longo do que o lateral, portanto, não há suficiente superfície tibial para rolamento do côndilo femoral medial. Por esse motivo, os côndilos do fêmur têm que rolar e deslizar simultaneamente sobre a tíbia. No momento em que o côndilo femoral lateral, mais curto, já cumpriu seu movimento, o medial ainda tem parte do circuito à percorrer de 1 cm. Este se completa por uma rotação lateral da tíbia, que roda o côndilo tibial medial, oval, para apresentar um eixo mais longo ao fim do movimento (GARDNER & OSBURN, 1980 ). O rolamento é predominante ao início da flexão, e o deslizamento ocorre mais ao término da flexão. Para o côndilo medial, esse rolamento somente aparece durante os primeiros 10 a 15° de flexão, enquanto que para o côndilo lateral, esse rolamento persiste até os 20° de flexão (KAPANDJI, 2000). A flexão, a extensão e a rotação axial (medial e lateral) são movimentos normais do joelho. Já a hiperextensão que é um movimento além da posição zero de extensão, é um movimento anormal ou desnatural do joelho (SMITH, 1997). 5.3.2) Líquido sinovial ou sinóvia: é um líquido viscoso como a clara de ovo e um dialisado de plasma sanguíneo acrescido de mucina, chamado de ácido hialurônico (BASMAJIAN, 1993). É mais apropriado para estar entre as superfícies de carga do que um líquido mais aquoso. Produzido pela membrana sinovial, o líquido sinovial, tem como função a lubrificação das superfícies articulares, para reduzir o atrito e permitir o movimento suave e a nutrição da cartilagem (GARDNER, 1980). 5.3.3) Movimentos e desvios laterais do joelho: além das variações fisiológicas segundo o sexo, o ângulo de valgismo sofre variações patológicas conforme os indivíduos (KAPANDJI, 2000). 30 Quando o ângulo de valgismo inverte-se, aparece um geno varo. Nesse caso, o centro do joelho, materializado pela chanfradura inter-espinhosa na tíbia e pela chanfradura inter-condiliana no fêmur, é deslocado para fora. Uma das maneiras de se avaliar o geno varo é pela medida do ângulo entre o eixo diafisário do fêmur e o da tíbia: ele é maior que seu valor fisiológico de 170°, o que representa uma inversão do ângulo obtuso. Inversamente, quando o ângulo de valgismo “fecha-se”, isto corresponde ao geno valgo em que o sujeito possui as pernas “em X”. Uma das maneiras de se avaliar o geno valgo é pela medida do ângulo dos eixos diafisários, cujo valor situa-se, então, abaixo do ângulo fisiológico de 170°. Os desvios laterais dos joelhos não são insignificantes pois, com o tempo, são causadores de OA. As cargas não são de fato, mais igualmente repartidas entre o compartimento externo e o compartimento interno do joelho. Segue-se um desgaste prematuro do compartimento medial, OA femurotibial medial, no geno varo, ou, pelo mesmo mecanismo, uma OA femurotibial lateral no geno valgo (KAPANDJI, 2000). Na articulação do joelho, as forças geradas pelas contrações musculares são importantes no entendimento do desgaste articular. O comportamento elástico da cartilagem, dos meniscos e do osso subcondral, ajuda a distribuir as cargas compressivas, mas este mecanismo pode rapidamente vir a falhar se os músculos não absorverem a maioria das pressões compressivas aplicadas à articulação, contribuindo para a degeneração articular (COURA, 2002). 31 6. O GELO NA OSTEOARTRITE DE JOELHO Pelo fato da osteoartrite causar manifestações clínicas importantes no joelho, decidiu-se realizar esse trabalho para tentar esclarecer os efeitos diretos e indiretos do tratamento com gelo nessa articulação. Tanto o calor quanto o frio são utilizados com efetividade variável para proporcionar alívio sintomático aos pacientes e como importantes adjuvantes da fisioterapia (CECIL, 2001). Para Marques & Kondo (1998), esses recursos são amplamente utilizados, mas existem poucos estudos à respeito de sua eficiência na OA. Esse mesmo estudo, relata que o calor exarceba a inflamação e a degradação do colágeno. É muito comum observarmos prescrição de calor profundo nas artropatias como medida terapêutica, muito embora, fisiologicamente, isto seja uma medida incorreta, pois pode promover danos na articulação (RODRIGUES, 1995). Hollander e cols. (1951), demonstraram que a articulação osteoartrítica apresenta uma temperatura entre 34ºC à 37,6ºC, ao contrário da articulação normal, que tem sua temperatura entre 30,5ºC e 33ºC. A aplicação de calor promove um aumento seletivo na temperatura intra-articular, elevando a velocidade de quebra do colágeno pela enzima colagenase, estimulando ainda mais o processo osteoartrítico (HARRIS & MCCKROSKERY, 1974). Harris & Mcckroskery (1974), relataram que as colagenases articulares, enzimas que podem degradar a cartilagem, são praticamente inativas à temperatura articular normal, mas tornam-se bem mais atuantes à medida que a temperatura local eleva-se, sendo 4 vezes mais ativas a 36ºC que à 33ºC, e 2,9 vezes mais ativas à 39ºC que à 37ºC. Por isto, a elevação da temperatura intra-articular deve ser evitada ou rigorosamente controlada. Sabe-se hoje que a atividade enzimática responsável pela degeneração cartilaginosa aumenta à medida que a temperatura eleva-se. Por isso, tratamentos que fazem subir a temperatura intra-articular, como diatermia de microondas e ondas curtas, calor superficial e ultra-som, são inadequados e até prejudiciais no tratamento de artrite ativa ou de sinovite secundária da OA, contra-indicando-se a prescrição indiscriminada de calor, por qualquer de suas fontes, quando houver componente inflamatório evidente (MOREIRA & CARVALHO, 2001). 32 6.1) Aspectos gerais da terapiafria Antes de falarmos sobre os efeitos do gelo na articulação, é importante que saibamos algumas de suas particularidades. O gelo é a transformação da água, do seu estado líquido para o estado sólido. Esta transformação faz com que ocorra uma agregação molecular, induzindo assim à uma maior expansão em seu tamanho. Esta expansão ocorre devido à formação hexagonal que o gelo apresenta (RODRIGUES, 1995). Qualquer uso de gelo ou aplicação de frio para fins terapêuticos é crioterapia. A crioterapia é a aplicação terapêutica de qualquer substância ao corpo que resulta em remoção do calor, reduzindo assim, a temperatura dos tecidos (KNIGHT, 2000). 6.2) Fatores da queda da temperatura local 1) Quanto maior for a diferença entre as temperaturas local e da modalidade fria (gradientetermal), mais rápida será a perda (transferência) de calor; 2) Quanto maior for a extensão da superfície do corpo exposto à técnica fria, maior será a perda (transferência) de calor; 3) Quanto maior for a duração da aplicação fria, maior será a quantidade de calor transferido do corpo por condução; 4) Outro fator de queda da temperatura local, é a quantidade de calor que a modalidade fria pode absorver sem aumentar a sua temperatura; 5) O poder de transferência e recuperação de calor do corpo e da modalidade fria alteram a temperatura diferencial entre ambas; 6) A individualidade biotipológica faz com que cada indivíduo tenha uma reação diferente do outro quando submetido à aplicação do frio (RODRIGUES, 1995). 6.3) Redução das temperaturas superficial e profunda durante o frio A temperatura superficial (pele e subcutâneo) cai imediatamente e de forma abrupta, quando o pacote frio é aplicado sobre os tecidos, e mantém uma diferença mais ou menos estável, de 8°C a 12°C da modalidade fria do pacote, durante a terapia. Após alguns minutos da colocação da terapia fria, a razão de resfriamento 33 começa a reduzir e a temperatura de superfície alcança um equilíbrio à poucos graus acima da temperatura da técnica fria. A temperatura profunda (intramuscular) cai de forma muito lenta e progressiva durante a aplicação do frio. Sendo que quanto mais profundo for o tecido, mais lenta é a queda da temperatura. A magnitude da temperatura em tecidos profundos é dependente da magnitude da aplicação do frio, ou seja, da quantidade de calor removido do corpo (RODRIGUES, 1995). Bocobo e cols. (1991), relatam que com 15 minutos de aplicação de compressa com gelo em joelhos de cães, ocorre um rápido e eficaz resfriamento dos tecidos superficiais, como pele e sinóvia, e uma redução gradual e modesta, no resfriamento dos tecidos profundos, como osso e fluido intra-articular. 6.4) Recuperação das temperaturas superficial e profunda após o frio A recuperação da temperatura superficial é feita também, de forma rápida, um pouco menor do que a velocidade do resfriamento, até um nível “ótimo” para que a pele recupere sua temperatura. A recuperação total da temperatura da pele dependendo do local do corpo pode levar de 1 a 2 horas, mas entre 20 a 30 minutos. A sua recuperação já permite uma nova aplicação do frio, sem que isso possa produzir danos estruturais. A recuperação da temperatura profunda não ocorre imediatamente após a retirada do frio. Pelo contrário, ela continua a cair, quase que na mesma proporção que apresentava durante o resfriamento (RODRIGUES, 1995). Segundo o estudo realizado por Bocobo e cols. (1991), o tempo médio necessário para a temperatura intra-articular de joelhos de cães, retornar ao normal varia de 22 a 60 minutos, dependendo do tipo e duração da crioterapia. 6.5) Considerações importantes sobre a terapia fria Após 20 a 30 minutos de resfriamento, a temperatura superficial recupera-se dentro de um padrão fisiológico que permite um novo resfriamento sem causar danos. Já a temperatura do tecido profundo, após este mesmo período de tempo, 34 ainda continua a cair. Podemos então concluir que para continuar a reduzir a temperatura profunda é necessário, após este período de tempo, reaplicar o frio. Para que aconteça o resfriamento do tecido superficial (pele e subcutâneo) podemos utilizar somente uma aplicação de frio, e para resfriar o tecido profundo (intramuscular) devemos utilizar o frio de forma intermitente (RODRIGUES, 1995). Fisiologicamente devemos entender que o intervalo entre uma reaplicação e outra do frio, tem por objetivo recuperar a temperatura da pele, para que ela não sofra danos (queimaduras ou ulceração), enquanto continuamos com a queda da temperatura profunda. É importante que o local seja mantido em repouso para não alterar o metabolismo (RODRIGUES, 1995). O número de reaplicações do frio está diretamente relacionado com o nível de profundidade do tecido que desejamos resfriar (RODRIGUES, 1995). 6.6) Duração da aplicação A literatura mostra diversas formas de duração da aplicação do frio, uma de forma contínua e outra de forma intermitente, mas sem dar definições sobre razões do tempo de duração dessas aplicações (RODRIGUES, 1995). Aqueles que utilizavam as aplicações intermitentes, faziam-nas por acreditarem que após 10 ou 15 minutos ocorreria a vasodilatação reflexa (desmentida pela revisão da literatura), ou por temerem as ulcerações (RODRIGUES, 1995). Nos estudos de Knight (1995), sobre redução e recuperação da temperatura, vamos encontrar o seguinte raciocínio: a redução do metabolismo ocorre pela redução da temperatura do tecido, sendo assim, após a aplicação do frio a temperatura do tecido muscular ainda continuará fria. Diversas partes do corpo apresentam recuperação da temperatura de formas diferentes, como coxa, tornozelo e perna, que levam duas horas, aproximadamente, para retornarem ao normal, enquanto que face, orelha e nariz, recuperam-se muito mais rapidamente. Os estudos mostram que 30 minutos é o tempo fisiológico “ótimo”, para a duração da aplicação de um pacote frio. Esta condição é seguida pelos estudiosos do Centro de Estudos em Fisioterapia Esportiva Ademir Rodrigues (CEFESPAR), que variam apenas em condições especiais de tratamento (RODRIGUES, 1995). 35 Para Bocobo e cols. (1991), o resfriamento máximo das articulações é uma prática clínica comum. Poucos estudos têm examinado os efeitos do resfriamento máximo da temperatura intra-articular, especialmente o método e duração da crioterapia. Nesse estudo o autor examina os efeitos do resfriamento na temperatura intra-articular de joelhos de cães. Quatro protocolos de tratamento foram examinados: compressa de gelo aplicada por 5, 15 e 30 minutos e banho de imersão no gelo por 15 minutos. Temperaturas intra-articulares foram continuamente registradas, introduzindo uma agulha no joelho. O registro da temperatura foi feito antes, durante e depois do tratamento. Temperaturas iniciais foram também simultaneamente registradas. Com 5 minutos de aplicação de compressa de gelo, reduziu a temperatura intra-articular em 2.2 1.2ºC, mas não mudou a temperatura inicial. Depois de 15 minutos de aplicação de compressa de gelo, a temperatura articular caiu 4.1 1.3ºC, mas também não mudou a temperatura inicial. Com 30 minutos de aplicação de compressa de gelo, reduziu a temperatura do joelho para 6.5 4.0ºC, com uma insignificante redução da temperatura inicial de 0.5 0.3ºC. Enquanto 15 minutos de imersão no gelo, causou uma importante redução na temperatura intra-articular de 20.2 8.4ºC, e as temperaturas iniciais foram também ligeiramente reduzidas durante a imersão (1.6 0.3ºC). Estas temperaturas articulares continuam a cair por vários minutos após a retirada da técnica fria. Nesse estudo, uma de suas conclusões, é que o banho de imersão no gelo, do joelho, é mais eficaz do que a compressa de gelo na redução das temperaturas intra- articulares. Para Knight
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