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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS – EST DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO – STA CURSO DE GRAGUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO ISABELA DE SOUZA ALVARENGA IMPACTO DA DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA DAS ORGANIZAÇÕES NA SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR Orientadora: Prof.ª Ana Maria Lana Ramos NITERÓI 2022 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS – EST DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO - STA ISABELA DE SOUZA ALVARENGA IMPACTO DA DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA DAS ORGANIZAÇÕES NA SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR Monografia submetida ao corpo docente do Departamento de Administração da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Bacharel. Área de concentração: Administração. Orientadora: Prof.ª Ana Maria Lana Ramos NITERÓI, 2022 Ficha catalográfica automática - SDC/BAC Gerada com informações fornecidas pelo autor Bibliotecário responsável: Debora do Nascimento - CRB7/6368 A473i Alvarenga, Isabela de Souza Impacto da dominação psicológica das organizações na saúde mental do trabalhador / Isabela de Souza Alvarenga ; Ana Maria Lana Ramos, orientadora. Niterói, 2022. 75 f. : il. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Administração)-Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Niterói, 2022. 1. Dominação psicológica. 2. Psicodinâmica do trabalho. 3. Satisfação no trabalho. 4. Saúde mental. 5. Produção intelectual. I. Ramos, Ana Maria Lana, orientadora. II. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Administração e Ciências Contábeis. III. Título. CDD - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS – EST DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO - STA ISABELA DE SOUZA ALVARENGA IMPACTO DA DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA DAS ORGANIZAÇÕES NA SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR Monografia submetida ao corpo docente do Departamento de Administração da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Bacharel. Área de concentração: Administração. Examinada por: _______________________________________ Prof.ª: Ana Maria Lana Ramos Universidade Federal Fluminense _______________________________________ Prof.ª: Elza Marinho Lustosa da Costa Universidade Federal Fluminense _______________________________________ Prof.º: Fernando de Oliveira Vieira Universidade Federal Fluminense NITERÓI, 2021 AGRADECIMENTOS A Deus, em primeiro lugar, por ter me dado a força necessária para continuar e a oportunidade de recomeçar na Administração. Não entendo os seus planos, mas confio que são os melhores para a minha vida. Aos meus pais, Cláudia e Luiz Felipe, por sempre estarem ao meu lado e me incentivarem a estudar e não desistir dos meus sonhos. Tudo o que faço hoje é buscando poder retribuir no futuro todo amor e cuidado. Aos meus irmãos, Luiz Felipe e Raphaela, a minha avó Nair e minha tia Cátia, por terem me dado suporte e apoio nos momentos de dificuldade. E ao meu avô Severino, que infelizmente não está mais entre nós, porém, que tanto ensinou a todos da família e por quem, o amor ainda se mantém vivo em nossos corações. A minha querida professora e orientadora Ana Lana, por ter me inspirado ao apresentar o tema durante as suas aulas, de modo a me despertar um interesse em buscar estudar sobre o assunto e pelo apoio no desenvolvimento dessa monografia. Ao meu grande amigo Victor, por ter sido um grande parceiro nessa jornada, a quem tenho imensa gratidão. Não consigo imaginar como seria cursar a sem o seu companheirismo, amizade e senso de humor. Aos meus colegas de curso e demais professores, a qual compartilhei os últimos anos o desafio de cursar Administração na UFF. Por fim, gostaria de agradecer a todos os entrevistados pela confiança em aceitar o desafio de compartilhar as suas percepções e vivências, algumas até dolorosas, a fim de somente contribuir para a construção do conhecimento. Possuo imensa gratidão por terem agregado mais valor com os relatos que tornaram possível a validação do tema em campo. “They are playing a game. They are playing at not playing a game. If I show them I see they are. I shall break the rules and they will punish me. I must play their game, of not seeing I see the game”. “Eles jogam um jogo. Eles brincam de não jogar um jogo. Se eu lhes mostrar que vejo que estão jogando, vou transgredir a regra, e eles me punirão. Devo jogar o jogo de não ver que estou jogando o jogo.” Ronald D. Laing RESUMO Diante das perenes tentativas das Organizações de exercer controle sobre o empregado, tornou-se necessário discutir sobre as consequências dessas práticas que permeiam a psicodinâmica do trabalho. O estudo tem por objetivo explorar as formas de dominação psicológica promovidas pelas Organizações e identificar o seu impacto na satisfação e saúde mental do trabalhador. Realizou-se uma pesquisa de campo, qualitativa, com o intuito de confrontar o referencial teórico abordado na presente monografia com a perspectiva decorrente dos relatos das vivências dos entrevistados, de modo a vislumbrar se, de fato, a dominação psicológica por intermédio das Organizações impacta a percepção das experiências, sentidos e sentimentos do trabalhador, ocasionando prejuízo à sua satisfação e saúde mental. Identificou-se que, a dominação psicológica, ao apoiar-se na repressão inconsciente dos desejos, resulta em frustração e, a médio prazo, consegue impedir a satisfação no trabalho e afetar a saúde mental gerando o adoecimento. Logo, perpetua-se a postura ilesa da instituição, que se mantém não somente distante e indiferente ao adoecimento causado, mas também, impune frente ao dano perpetrado. Este trabalho pretende, enfim, despertar uma reflexão crítica acerca da dominação psicológica nas Organizações, que estimule ações coletivas voltadas ao enfrentamento do problema e valorização da satisfação e da saúde mental no trabalho. Palavras-chave: dominação psicológica; psicodinâmica do trabalho; satisfação; saúde mental no trabalho. ABSTRACT Considering the constant attempts to assert control over employees over the years, it has become compulsory to discuss about the consequences of these practices behind the psychodynamics of work. This study aims to explore various psychological domination tactics by Organization’s and correlate their impact on, worker satisfaction and mental health. A qualitative field research was conducted to confront the theory discussed in this thesis with the respondents' experiences revealed through their gathered reports, with the purpose of certifying if; psychological dominance through Organizations impacts the perception of worker's experiences, senses, and feelings, causing damage to their intrinsic satisfaction and mental health. It was identified that psychological dominance, based on the unconscious repression of desires, results in employee frustration and in the medium term, can deteriorate job satisfaction and affect mental health, in such extent as to generate illnesses. Therefore, the unimpaired posture of the institution is perpetuated, which remains not only distant and indifferent to the illnesses caused, but also, unpunished for the inflicted damages. As a result, this study intends to discuss through the critical reflection of psychological dominance in Organizations and to stimulate collective actions aimed at facing the problem firsthand and merit employees satisfaction and mental health at work Keywords: psychologicaldomination; psychodynamic of work; satisfaction; mental health at work LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Resumo da classificação da pesquisa de campo e justificativa do pesquisador quanto a escolha do método......................................................................................................43 Quadro 2 – Resumo da metodologia escolhida para pesquisa de campo e descrição quanto a sua aplicação.............................................................................................................................44 Quadro 3 – Perfil resumido dos Entrevistados..........................................................................46 Quadro 4 – Resumo da segmentação dos temas citados pelos entrevistados sobre a resposta do “pra que você trabalha?” e o sentido envolvido........................................................................55 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Vínculo empregatício atual de acordo com a experiência relatada durante pesquisa de campo...................................................................................................................................46 Gráfico 2 – Nº de perspectivas citadas para justificativa do sentido relacionado ao trabalho na Pergunta 3.................................................................................................................................55 Gráfico 3 – Frequência em que os temas foram citados nas respostas sobre o sentido de trabalho na Pergunta 3...............................................................................................................56 Gráfico 4 – Respostas colhidas sobre os métodos identificados de assimilação de culturas e valores por parte da Empresa....................................................................................................64 Gráfico 5 – Nº de sinais e sintomas compartilhados nos relatos ao longo das entrevistas, com exceção dos questionados na Pergunta 6..................................................................................69 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12 2 A DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA NAS ORGANIZAÇÕES ..................................... 16 3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E O TRABALHO.......................................... 24 4 SATISFAÇÃO E FELICIDADE NO TRABALHO: (IN)DEFINIÇÕES .................. 29 5 PRAZER E SOFRIMENTO NO TRABALHO............................................................ 32 6 PESQUISA DE CAMPO: PERCEPÇÃO DOS ENTREVISTADOS SOBRE A ORGANIZAÇÃO E O TRABALHO .................................................................................... 42 6.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 42 6.2 PERFIL DOS ENTREVISTADOS ............................................................................ 45 6.3 ANÁLISE DE RESULTADO .................................................................................... 47 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 72 APÊNDICE 1 – ROTEIRO DE ENTREVISTAS ................................................................ 75 12 1 INTRODUÇÃO A dominação psicológica pode ser conceituada como a manipulação do inconsciente através de ferramentas implícitas e que aplicadas no contexto das dinâmicas do trabalho promovem o controle da Organização sobre o trabalhador (AGUIAR, 2005; GAULEJAC, 2007; PIOLLI, 2011, PAGÈS, 1987). Tal situação torna-se possível em virtude da simbologia da atividade profissional como fator de identidade social do indivíduo, através das perspectivas, relações interpessoais, reconhecimento social e projeções futuras que se tornam vinculadas a esse cenário. Nesse sentido, as Organizações conseguem influenciar e tentam moldar as estruturas psicológicas do indivíduo, pois promovem uma alienação através do trabalho, com uso de ferramentas de motivação, punição, metas e recompensas. Isto é, a alienação explorada provoca a substituição da vontade própria e singular do sujeito pela da Instituição, com a perda velada do livre-arbítrio, portanto, a introjeção da ideologia organizacional (PIOLLI, 2011; GAULEJAC, 2007; PAGÈS, 1987). O homem como um ser social precisa do outro, através das relações interpessoais, para se reconhecer e validar na sociedade (MARX, 1988, apud DUARTE, 2018), nesse sentido, o trabalho na ótica de referencial também é discutido por Freud na construção e delimitação das instâncias psíquicas e na instauração do princípio da realidade (FREUD, 2011) com o desenvolvimento da consciência do sujeito. Tal aspecto aplicado no ambiente profissional demonstra como a dominação psicológica pode ser prejudicial para o indivíduo, visto que o trabalho adquire cada vez mais uma posição de centralização na vida da pessoa. Ou seja, “na sociedade capitalista atual, é muito comum, logo em seguida à indagação do nome, a importância que se dá à ocupação profissional para descrever a identidade de uma pessoa” (PERICO & JUSTO, 2011, p. 139.). Segundo Borsoi (2007, p. 106) “[...] quando o trabalho começa a fazer parte efetiva da vida das pessoas, ele se torna tão significativo (ou quase) quanto as relações amorosas que elas constroem e – a meu ver, não seria exagero dizer – tão necessário quanto o sono [...].” Dessa maneira, percebe-se a magnitude do papel do trabalho nas construções identitárias e da saúde mental do indivíduo que justifica o surgimento do sofrimento que pode levar ao adoecimento. Define-se “satisfação” como “Ação ou efeito de satisfazer” ou “Contentamento; prazer resultante da realização daquilo que se espera ou do que se deseja” (DICIO, 2020). Na literatura, tal conceito quando aplicado no ambiente de trabalho encontra diversas concepções, que geralmente englobam um entendimento comum. Locke (1960, apud MARQUEZE & MORENO, 2005, p. 70) “define a satisfação no trabalho como o resultado da avaliação que o 13 trabalhador tem sobre o seu trabalho ou a realização de seus valores por meio dessa atividade, sendo uma emoção positiva de bem-estar”. Isto é, a satisfação parte da percepção do trabalhador sobre a realidade observada do ambiente profissional a qual se insere. Dessa maneira, quando não ocorre a satisfação, o resultado é o sofrimento pelo não alcance da realização do que se esperava, resultando na insatisfação. Nesse sentido, a Psicologia e a Administração discursam sobre os fatores que determinam a satisfação no ambiente profissional e as empresas utilizam desses conceitos, de modo a oferecer subsídios que tornem viável a aquisição da satisfação, entendendo no sentido de uma realização das necessidades, a fim de exercer controle de maneira sutil sobre o indivíduo. Contudo, quando tal realização não é alcançada ou não se perpetua, instala-se a insatisfação (HELOANI & CAPITAO, 2003), que pode evoluir para um prejuízo à saúde mental, portanto, um adoecimento do trabalhador, visto que, para Freud, o resultado do “sofrimento suportado em silêncio como ‘adoecimento’” (FREUD, 2014, p. 60). Percebe-se, portanto, que o trabalho pode ser tanto fonte de prazer quanto de desprazer (AGUIAR, 2005). Será fonte de prazer quando as pulsões internas de cada sujeito serem satisfeitas, por meio do trabalho, caso contrário, no cenário em que a atividade laboral torna-se fonte do desprazer, o indivíduo assume algumas estratégias comportamentais e subjetivas para tentar de alguma maneira preservar a saúde mental e/ou aliviar o sofrimento (AGUIAR, 2005; GAULEJAC, 2007, FERREIRA, 2009; PAGÈS, 1987). Ademais, com a dominação psicológica há uma constante tentativa de modificar as estruturas mentaisdos trabalhadores para os objetivos sociais (HELOANI, 2003), em decorrência da introjeção do agente de coação no próprio indivíduo, e com isso, o trabalhador assume uma posição de auto explorador em uma Sociedade do Cansaço, logo, “o sujeito de desempenho encontra-se em guerra consigo mesmo” (HAN, 2017a, p. 29). Sendo assim, nota-se a posição crucial a qual a atividade profissional exerce no processo de saúde-adoecimento (FERREIRA, 2009). Nesse sentido, o presente estudo buscou responder à seguinte questão: Como a dominação psicológica das Organizações influencia a satisfação e saúde mental do trabalhador? Partiu-se da hipótese de que a dominação psicológica consegue moldar a satisfação e afetar a saúde mental gerando o adoecimento. Assim, o objetivo geral deste estudo foi explorar as formas de dominação psicológica promovidas pelas Organizações e identificar o seu impacto na satisfação e na saúde mental do trabalhador. Para alcançar tal objetivo, a pesquisa procurou: a) Refletir sobre a influência do trabalho na saúde mental e as relações de adoecimento; b) Contextualizar o cenário de 14 dominação organizacional de modo a identificar como se dão as formas de dominação psicológica do trabalhador; c) Levantar, por meio da pesquisa de campo, as técnicas aplicadas pelas organizações para realizar a dominação e as percepções sobre o processo e suas consequências em diferentes grupos de hierarquia organizacional; e d) Exemplificar as principais práticas utilizadas de manipulação psicológica e seus impactos na satisfação e na saúde mental do trabalhador. O tema discutido por esse trabalho mostra-se necessário para evidenciar as práticas de dominação organizacional que permeiam a narrativa profissional dos indivíduos, de modo a destacar a importância do trabalho como fator essencial de identidade, reconhecimento e contribuição social dentro da sociedade. Nesse aspecto, entende-se que é essencial que o indivíduo tenha conhecimento para saber identificar situações de vigência de tal prática, de modo a tentar resguardar a sua saúde mental e evitar o seu adoecimento. Ao analisar os fatores da vida social que impactam a vida psíquica do indivíduo e geram o adoecimento, o aspecto profissional normalmente tende a ser desconsiderado pelo senso comum, de maneira negligente. O presente estudo tem por intuito promover conhecimento e debater sobre essas questões que permeiam a vida das pessoas desde o surgimento do capitalismo, visto que independentemente da época e mesmo com a evolução dos modelos de produção, técnicas de gestão e prática de negócios, as relações entre homem e trabalho devem ser objeto de discussão e análise contínuas. Percebe-se que, por um lado, o “explorador” objetiva potencializar o seu controle e dominação sobre o processo produtivo, de modo a reduzir o homem a mão de obra necessária; por outro lado, observa-se a ótica do ser vivo que é reduzido a “recurso” e que sofre as interferências em virtude da tentativa de modelar as suas necessidades e objetivos. Sendo assim, a discussão buscou entender quais as consequências da dominação psicológica para o trabalhador, como tal prática pode promover a satisfação ou insatisfação com o trabalho, de que maneira essa ação pode prejudicar a saúde mental, entender como e explorar quais as principais manifestações de adoecimento. Em concordância com o referencial teórico explorado e desenvolvido ao longo da monografia nota-se a necessidade de complementar o estudo com uma pesquisa de campo, a fim de não somente contextualizar o leitor, mas também de apresentar o impacto real de tal prática na satisfação e saúde mental do trabalhador para comprovar, portanto, a hipótese desenvolvida. Para isso, partiu-se da abordagem qualitativa através de entrevistas com roteiro semiestruturados a fim de explorar os relatos de experiências compartilhados da amostra 15 selecionada de 8 sujeitos, que vivenciaram no ambiente corporativo o cenário de dominação psicológica. Por último, destaca-se a relevância do estudo apresentado que tem por intuito não somente explorar as formas de dominação psicológica promovidas pelas Organizações, mas também debater e promover reflexões acerca da psicodinâmica do trabalho. Tal fato é imprescindível, visto que tal prática, por ser velada, mantém-se no “desconhecido” para a população em geral, e essa ausência de percepção e conhecimento, somente facilita a aplicação de métodos que visam exercer o controle e dominação sobre o empregado. Sendo assim, a presente monografia não se limitou a somente analisar a bibliografia conceituada sobre tal tema e o cenário que permeia, mas foi além, em buscar comprovação científica factível com a realidade atual através da pesquisa de campo. 16 2 A DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA NAS ORGANIZAÇÕES A dominação psicológica pode ser conceituada como a manipulação do inconsciente através de ferramentas implícitas e que aplicadas no contexto das dinâmicas do trabalho promovem o controle da Organização sobre o trabalhador. Isto é, um sistema socio psíquico de dominação exercido pelas Empresas para promover a mobilização das energias psíquicas em um recurso explorado, por meio do trabalho (AGUIAR, 2005; GAULEJAC, 2007; PIOLLI, 2011, PAGÈS, 1987). Tal situação torna-se possível em virtude da simbologia da atividade profissional como fator de identidade social do indivíduo, através das perspectivas, relações interpessoais, reconhecimento social e projeções futuras que se tornam vinculadas a esse cenário. Nesse sentido, as Organizações conseguem influenciar e promover a manipulação do inconsciente já que “a dominação como meio de exercício do poder está mais baseada na introjeção dessas normas ou regras das organizações do que numa repressão mais explícita” (HELOANI, 2003, p. 102). Como resultado, a alienação explorada provoca a substituição da vontade própria e singular do sujeito pela da Instituição por meio da tentativa de submissão inconsciente, em que o desejo do indivíduo se rende à imposição mascarada da autoridade patronal (AGUIAR, 2005), com a perda velada do livre-arbítrio, portanto, a introjeção da ideologia organizacional. De modo sutil, percebe-se que as organizações se apresentam como “prisões psíquicas”, visto que as pessoas pertencentes são aprisionadas em modos de agir, formas de pensar e comportamentos semelhantes, por meio de percepções distorcidas que constroem uma falsa realidade aparente que é, a princípio, imperceptível para os indivíduos internos a esse cenário (MORGAN, 2002). Veja-se, por exemplo, o fenômeno da “identidade de empréstimo”, em que o indivíduo passar a introjetar as mesmas referências simbólicas pertencentes ao grupo organizacional como sua, de modo a legitimar o seu sentimento de pertencimento e vínculo à empresa (GAULEJAC, 2007). Dessa maneira, o trabalhador desenvolve a falsa consciência que ocorre em virtude da percepção equivocada das relações do sujeito com o meio exterior – a empresa (AGUIAR, 2005). Em primeira análise, pode-se perceber que a manipulação da subjetividade não é um fenômeno iniciado nos dias atuais, visto que tal prática foi, ao longo do tempo, refinada e potencializada, conforme os avanços dos modos de organização do trabalho. Veja-se, por exemplo, os princípios da Administração Científica defendidos pelo taylorismo, modo de organização mundialmente reconhecido, que discursa principalmente sobre a teoria da 17 racionalização do trabalho de modo a exercer um controle minucioso sobre toda a produção e que se estendia para uma tentativa de domínio sobre o trabalhador. Nesse sentido, “Taylor esboça um ensaio de ‘modelização do inconsciente’, ou seja, penetrar na esfera da subjetividade do trabalhador para reconstruir a sua percepção segundo os interesses do capital” (HELOANI, 1991, p.119).Dessa maneira, a empresa taylorista se concentra em docilizar os operários em corpos úteis e produtivos em prol do interesse do capital (GAULEJAC, 2007). Tal cenário pode ser exemplificado quando Taylor almeja ensinar o trabalhador a pensar de acordo com os interesses da corporação para buscar o melhor método de exercer determinada função – One best way – e com isso, potencializar o acúmulo de capital (HELOANI, 2003; PIOLLI, 2011). Com o surgimento do capitalismo e por conseguinte, do homo economicus, o trabalho perdeu, aos poucos, a sua característica ética e ideológica e foi substituído por um comportamento que incentiva o acúmulo de capital, portanto, o consumismo. “O trabalho, ao deixar de ser um fim em si mesmo, torna-se um meio para a aquisição de mercadorias. Trabalha-se para consumir, nem que seja a própria identidade” (GAULEJAC, 2007, p.16), sendo assim, nessa perspectiva a atividade laboral passa a ser vista como parte pertencente e natural das coisas e não como um produto do empenho ligado à ação humana (PIOLLI, 2011). Portanto, quando o trabalho deixa de ter um valor para servir somente como ferramenta de produção de valor, a simbolização que cria um sentido pessoal para o exercer profissional se perde, e o indivíduo tem uma descaracterização velada de sua identidade. Segundo Freud, em sua obra O mal-estar da civilização, de 1939, a instauração do princípio da realidade se dá quando é possível “distinguir entre o que é interior – pertencente ao Eu – e o que é exterior – oriundo de um mundo externo” (FREUD, 2011, p.11), contudo, quando perde-se a valoração pessoal dada ao trabalho por meio de uma sinergia com os interesses do capitalismo representados pela figura das Organizações, o princípio da realidade torna-se deturpado por um viés ideológico que foi assumido como verdadeiro. Isto é, os desejos do profissional tornam-se os mesmos desejos defendidos e estimulados pela companhia e tal fato só se torna possível visto que há um poder gerencialista que promove essa doutrinação e que tenta transformar a energia libidinal em força de trabalho (GAULEJAC, 2007). As Organizações, portanto, observadas pela ótica da metáfora das prisões psíquicas se contextualizam como essa tentativa de doutrinação do inconsciente e através do “reprocessamento da percepção do espaço produtivo” (HELOANI, 2003, p.13) determinam os modelos de comportamento replicados em um ambiente controlador, que tenta determinar modos e condutas comuns entre 18 os indivíduos para gerar benefícios à própria Organização (MORGAN, 2002). Para isso, “podemos exercer a liberdade de pensamento e de palavra, com a condição de que essa liberdade sirva para melhorar os desempenhos” (GAULEJAC, 2007, p. 78), logo, as capacidades e habilidades dos indivíduos são bem-vindas quando essas possam servir como recurso para gerar benefícios à Empresa, porém, nunca para criticar a estrutura, formas de domínio ou normas de condutas comuns, exercidos por um poder gerencialista. Em suma, contrariar premissas (sombras) defendidas como verdades absolutas não é um comportamento utilitário para as Organizações (MORGAN, 2002) visto que “tudo aquilo que não for útil é considerado como não tendo sentido” (GAULEJAC, 2007, p. 78), portanto, um funcionário que não se adequa no perfil desejado deverá ser descartado. Nas empresas pós-fordistas - capitalismo moderno - prevalece nas companhias a perspectiva de olhar para o funcionário como um possível agente de resolução das situações- problema, em que o funcionário é estimulado a ser proativo, dinâmico, ter pensamento analítico, ser inovador etc. Entretanto, para exercer essas capacidades o indivíduo precisa deter de certo nível de autonomia, ao mesmo tempo em que se mantém sob controle pela Organização. Nesse sentido, a estratégia adotada pela Empresa é fazer com que os funcionários absorvam a cultura organizacional, de modo a introjetar o “modo de pensar”, as regras e normas de conduta da corporação, ou seja, domesticar o seu objeto de controle, o “homem organizacional” (AGUIAR, 2005) e tal fato só se torna possível quando há um reordenamento subjetivo da mentalidade do trabalhador, pois “crendo que a subjetividade foi reconhecida ponham a serviço do capitalismo seu potencial físico, intelectual e afetivo” (HELOANI, 2003, p.106). Logo, as empresas modernas enxergam a psiquê como mais um recurso a ser explorado. Dessa maneira, pode-se perceber que, “o trabalho subordina-se ao capital em três dimensões: afetiva, subjetiva e psicológica” (HELOANI, 2003, p. 109), e para manter o controle da ordem capitalista que visa o acúmulo de capital pelas organizações é preciso legitimar essa forma de poder e, nos dias de hoje, isso ocorre através dos modelos de gestão em que “o poder gerencialista mobiliza a psique sobre os objetivos da produção” (GAULEJAC, 2007, p.41). Na organização hipermoderna há uma perda da figura representativa de dominação que se despersonaliza da figura tradicional do “chefe” para o controle exercido pela Instituição, que mantém com os funcionários formas de relações infantis de submissão-revolta do tipo maternal (PAGÈS, 1987). Logo, as práticas gerencialistas atuam de modo a manter o controle subjetivo dos subordinados em favor dos 19 interesses do capital personificados pela Empresa moderna, isto é, a empresa assume um papel ambíguo de controle e opressão de acordo com Heloani (2003), e faz isso através da oferta e retirada de amor, por meio de mecanismos de gestão da percepção do trabalhador e docilização da sua subjetividade. Tal aspecto é facilitado pela troca de um sistema inconsciente de submissão do tipo paternal, mais centralizado na figura representativa de um “chefe” controlador e rígido, para um sistema tipo maternal, de prazer e angústia, com o poder despersonificado e a dominação psíquica (AGUIAR, 2005; GAULEJAC, 2007; PIOLLI, 2011; PAGÈS, 1987; HELOANI, 2003). Entretanto, ainda que se almeje exercer tal controle e poder sobre o indivíduo, a dimensão do inconsciente humano não pode ser ignorada, muito menos dominada. “Os desejos individuais e indestrutíveis estão no nível do inconsciente. Tentar substituir os desejos dos indivíduos e satisfazê-los de acordo com as necessidades das organizações são uma tentativa impraticável” (AGUIAR, 2005, p.163). Diante disso, quando ocorre uma tentativa de reduzir o indivíduo a mero recurso financeiro, de modo a racionalizar as suas habilidades, técnicas e condutas e ao mesmo tempo, reprimir os aspectos irracionais da sua natureza, o resultado, portanto, será um desequilíbrio, visto que “racionalidade e irracionalidade são lados de uma mesma moeda e, quando um é muito enfatizado, invariavelmente ocorrem distorções e disfunções” (MORGAN, 2002, p. 246), por conseguinte que irá se caracterizar pelo surgimento de doenças e distúrbios psicológicos, já que a todo momento a empresa gerencialista preocupa-se em “transformar a energia libidinal em força de trabalho” (GAULEJAC, 2007, p.42). Entretanto, o fato é que jamais será possível efetuar com sucesso a tentativa de padronizar os desejos visto que esses pertencem as instâncias individuais e inconscientes (AGUIAR, 2005). É importante ressaltar que esse controle exercido pela dominação psíquica é extremamente sutil, de modo que se torna difícil a identificação por parte de quem pertence a esse contexto e mais facilmente observado pela ótica do indivíduo alheio ou externo a esse cenário. Por essa razão, a Caverna de Platão utilizada como metáfora desse universo das Organizações como prisões psíquicas, conforme abordado por Morgan (2002) em sua obra Imagens da Organização, corrobora para facilitar o entendimento desse cenário complexo. E tal prática é favorecida em virtude do sentimento de instabilidade e insegurança gerado no trabalhador, na tentativa de substituir o seu sistema de valores pelo introjetadoda Instituição (PIOLLI, 2011). Nesse sentido, a Organização como uma estrutura de interação comunicativa que propaga o seu discurso com base em uma razão instrumental, que é distorcida, atua de maneira tênue para moldar a vida de seus empregados a fim de uniformizá-los a partir da 20 exploração das suas angústias reprimidas, desejos não realizados, sonhos, aspirações, frustações, etc. (FREDDO, 1994). Ou seja, das vulnerabilidades do sujeito. Ademais, “Marshall McLuhan salientou que a última coisa que um peixe provavelmente nota é a água na qual ele nada” (MORGAN, 2002, p 218) e “que vive a alienação e não se dá conta dela, porque não examina a relação entre ele mesmo, seu trabalho e seus atos, nem percebe a distância que separa seu próprio ser de seu que fazer” (FREDDO,1994, p. 33). Dessa maneira, percebe-se que, dificilmente o profissional que vive diariamente essa doutrinação subjetiva irá, sem estímulo externo, questionar a forma que a companhia utiliza para exercer controle e dominação sobre seus subordinados, visto que as sombras dessa caverna constituem as suas percepções de “realidade”. Assim, tal cenário poderia caracterizar o delírio de massa, segundo pensamento de Freud (2011), para conceituar o ato delirante de um grupo coletivo em modificar a percepção da realidade como mecanismo de proteção ao sofrimento. Para Freud (2011) nas teorias das instâncias psíquicas, a consciência faz parte de uma das funções do “Super-eu” com ação de censurar, vigiar e julgar os atos e intenções do “Eu” e ao exercer essa ação coercitiva surge o sentimento de culpa que garante a doutrinação, seja por um comportamento que segue de acordo com as normas ou por um sentimento de castigo e punição na ocorrência das transgressões. Sendo assim, a cultura e/ou a sociedade exercem poder por meio do “Super-eu da cultura”. Essa analogia pode se estender para o ambiente corporativo em que as lideranças gerencialistas se disfarçam como forma de consciência coletiva que exerce coerção sobre os funcionários através do controle psíquico, em que “o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo corpo produtivo e corpo submisso” (FOUCAULT, 1987). Essa consciência coletiva, que prega um discurso orientado para a execução de seus objetivos voltada para a dominação psíquica, atua por meio de repressão através de uma lógica da racionalidade (FREDDO, 1994), isto é, ocorre uma substituição de um sistema paternal de ordens pela dominação psicológica exercida por um sistema psíquico de controle das estruturas mentais do empregado, que se torna eficiente por ser interiorizado (PIOLLI, 2011). Em contrapartida, essa tentativa excessiva de controle que tenta a todo momento usurpar as energias libidinais do indivíduo irá gerar profundas consequências, visto que “exigindo mais, produzimos no indivíduo rebelião ou neurose, ou o tornamos infelizes” (FREUD, 2011, p. 91) e “o homem se torna neurótico porque não pode suportar a medida de privação que a sociedade lhe impõe” (FREUD, 2011, p. 32). Nota-se que, o poder gerencialista não funciona somente como um modelo de dominação, mas também como uma tentativa constante de docilizar a subjetividade dos 21 funcionários já que “o objetivo do controle tende a se deslocar da atividade física para a atividade mental” (GAULEJAC, 2007, p.117), de modo a perpetuar uma modelação de comportamento a partir de uma introjeção de valores que estão de acordo com os ideais corporativos. E que se torna mais eficiente quando há na Empresa um programa bem direcionado da área de Recrutamento, Seleção e Treinamento, já que “as práticas de seleção e treinamento reafirmam explicitamente esse espaço pedagógico de adestramento dos corpos no interior da empresa” (HELOANI, 2003, p.37). Dessa maneira, esses agentes atuam para identificar, por exemplo, possíveis candidatos que apresentem um perfil com ambições e ideais, para propor, portanto, a esse indivíduo, satisfazer as suas necessidades e metas, como também, de estimular o desenvolvimento das ambições pessoais – desde que – alinhadas com os objetivos que agreguem valor para a empresa. Segundo Gaulejac: [...] a empresa oferece uma imagem de expansão e de poder ilimitado, na qual o indivíduo projeta seu próprio narcisismo. Tomado pela ilusão do próprio desejo, ele é animado pelo medo de fracassar, de perder o amor do objeto amado (aqui, a organização), o temor de não estar à altura, a humilhação de não ser reconhecido como um bom elemento (GAULEJAC, 2007, p.124). Quando a empresa consegue enlaçar o funcionário nesse cenário persuasivo ocorre o processo transferencial (HELOANI, 2003) em que toda a lógica individual é substituída por uma mesma ótica coletiva em comum, de maneira sutil e quase imperceptível. Nesse cenário observa-se o determinismo sociológico em que os indivíduos se submetem aos interesses da organização, que são movidos pelo interesse do capital e são condicionados através da perspectiva de “vestir a camisa da companhia” (AGUIAR, 2005). Tal aspecto deve-se ao processo de mediação, em que a Organização consegue atuar como um agente mediador entre as vantagens que oferece ao profissional e as restrições a qual o mesmo deve se submeter, de modo a conseguir encantar o sujeito com possíveis benefícios ao mesmo tempo que impede a consciência e percepção coletiva, a fim de integrar e manter o indivíduo vinculado à corporação (PAGÈS, 1987). Isto é, com a mediação a corporação consegue potencializar a dependência psíquica dos trabalhadores. Sendo assim, para persuadir o funcionário são ofertados promoções, benefícios, políticas de remuneração, bônus, elevação salarial, plano de carreira, incentivos emocionais, ou seja, o termo mediador – as vantagens que atraem os profissionais para uma maior adesão e inserção naquele ambiente, em contrapartida, para as desvantagens são adotadas estratégias não tão explícitas, como constante disponibilidade, subordinação e dependência psíquica. Desse modo, os trabalhadores perdem a sua identidade para se moldar à organização, e são, portanto, massificados (AGUIAR, 2005). 22 A “Organização-droga” é amada e odiada ao mesmo tempo, e essa ambiguidade ocorre visto que trata-se a Empresa tanto como objeto de identificação – amor, quanto como fonte de angústia, pelo medo constante da perda. Portanto, a empresa retoma o sentimento de dependência presente na relação entre a criança e os pais (PAGÈS, 1987), o que torna esses indivíduos emocionalmente infantis (CROCHIK, 2007). Nessas organizações a empresa se coloca como “protetora”, essencial por garantir a vida dos indivíduos e indispensável para a sua existência, e tal prática é efetivada por meio da internalização dos valores, manipulação de angústias reprimidas, exploração das carências emocionais, padronização dos sentimentos, desejos e condutas (AGUIAR, 2005). Ou seja, o funcionário se desindividualiza para se tornar parte pertencente do grupo coletivo. Logo, “o indivíduo tende a depender cada vez mais da organização, num processo de fusão afetiva, que passa a reproduzir o paradigma maternal: como ‘protetora’, a empresa deve receber ‘fidelidade e competência’ do trabalhador” (HELOANI, 2003, p. 108). Ademais, a administração participativa é outra estratégia mascarada adotada pelas empresas modernas de exercer esse controle, que ocorre através de grupos coletivos, Círculos de Controle de Qualidade (CCQ), etc. (AGUIAR, 2005). Assim, as estratégias utilizadas para dominação subjetiva do homem organizacional apresentam severas consequências, a saber, padronização dos valores com perda de individualidade, limitação da capacidade criativa, inovadora e crítica do sujeito, e principalmente, insatisfação e frustação. Nesse momento se instaura o perigo, já que muitas vezes sem perceber, o indivíduo entra em uma espiral da qual não consegue mais de desconectar,de controle, submissão e dependência (GAULEJAC, 2007). Tal aspecto deve-se ao fato de que para não entrar em um conflito interno em que os seus desejos e metas pessoais se confrontem com os objetivos da organização, o indivíduo cria mecanismos de defesa que o levam a uma fuga psíquica, portanto, uma falsificação da consciência (AGUIAR, 2005). Tal aspecto deve-se ao aniquilamento psíquico, em que o Eu torna-se totalmente suprimido e dominado pelo trabalho (FREDDO, 1994). Assim, negando as suas necessidades e pulsões internas o sujeito adota e “permite” - entende-se como tornar-se passivo - a introjeção da ideologia organizacional como meio de autoproteção psíquica. Com isso, o Ego deixa de exercer o papel de instância psíquica reguladora de integração entre o Superego e o ID para exercer um papel autoritário e rígido sob o próprio sujeito, de modo a alinhar a sua autoridade em prol dos objetivos, crenças e ética organizacional (AGUIAR, 2005). Desse modo, o medo de perder o objeto amado provoca o sofrimento, visto que a Instituição representava o meio pelo qual suas necessidades de realização narcisistas iriam ser supridas. Logo, “do mesmo modo que a satisfação de 23 instintos é felicidade, torna-se causa de muito sofrer se o mundo exterior [leia-se Organização] nos deixa à míngua, recusando-se a nos saciar as carências” (FREUD, 2011, p. 22). Nesse sentido, esse ego deformado impede a autorrealização do sujeito, o desenvolvimento da consciência crítica e autonomia para impor que se reproduza o comportamento e normas de conduta seguidos pela Empresa, portanto, o trabalhador não alcança a maturidade psicológica e se mantém no infantilismo psíquico (AGUIAR, 2005). Como também, “ocorre a morte de si mesmo, do sujeito, em nome de uma obediência sem limites” (FERREIRA, 2009, p.13) e tal aspecto, no médio-longo prazo trará severas consequências. O domínio ideológico da Organização é abordado por Pagès (1987) para explicar essa preponderância de poder na perspectiva da empresa vista como uma espécie de Instituição religiosa, a igreja. Define-se ideologia como “um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem e como devem pensar, valorizar, sentir” (CHAUÍ, 1984, apud AGUIAR, 2005, p.120). Diante disso, percebe-se que as empresas conseguem criar um sistema de representação por meio de forças abstratas que exercem coerção e admiração, ao mesmo tempo que promove a adesão as suas práticas e a projeção do narcisismo de cada funcionário por promover um sistema de crença e identificação. Por essa razão, a consciência de culpa é tão eficiente e a sua dominação não é reconhecida pelos integrantes, de modo a se manter no inconsciente ou como forma de “mal-estar” reconhecida nesse cenário como expressão de “pecado” frente a uma transgressão ou medo de punição do Super-eu (produzido pela consciência coletiva – Instituição) e a necessidade do amor proveniente dela (FREUD, 2011). A abstração é o resultado da introjeção dos valores e desejos organizacionais de modo a distanciar a perspectiva do homem frente à realidade concreta e vivida através de representações falsas ou deturpadas da realidade (PAGÉS, 1987). E essa abstração somente torna-se possível em virtude do processo de mediação e falsificação do inconsciente, logo “o compromisso do assalariado é sem fim, a partir do momento em que ele projeta seu próprio ideal sobre a empresa” (GAULEJAC, 2007, p.122). Percebe-se que, dessa maneira, a fuga da realidade em prol de uma percepção distorcida gera a cegueira psíquica (AGUIAR, 2005) com a finalidade de manter o indivíduo protegido frente a introjeção da rigidez do Ego e do Super-Ego formado à imagem da Organização, portanto, o sujeito torna-se passivo a dominação psíquica visto que para se resguardar, o inconsciente buscará fugir do desprazer. 24 3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E O TRABALHO “É o que experimentamos como eu diante da pergunta quem é você?” (FERREIRA, 2009, p.48). Em tal aspecto, nota-se que a identidade se apresenta como um conceito polissêmico com difícil definição, por se tratar de um processo interno de construção, a partir da influência externa do meio à qual se pertence, com o desenvolvimento do indivíduo como sujeito em que ocorre a caracterização como ser singular. Logo, a identidade está sempre relacionada com o conceito de alteridade, pois necessita de um outro referencial para a partir de uma comparação estabelecer as semelhanças e divergências, de modo a caracterizar o que identifica um indivíduo (MACEDO & HELOANI, 2013). Nesse sentido, a identidade se constrói no meio social por meio das relações interpessoais e influências simbólicas (PIOLLI, 2011). Isto é, parte de um movimento que necessita do coletivo para que a partir dos produtos das inter-relações do meio, o indivíduo em formação receba essas influências, e determine a partir de um processo introspectivo inconsciente, como irá valorar a sua significação e quais símbolos serão agregados na sua formação como sujeito. Logo, a identidade pessoal e a identidade social (papel do indivíduo no meio) são conceitos que se fundem na prática e que não é possível descrever de maneira isolada, já que trata-se de uma definição que se constrói a partir de socialização e aprendizado (MACEDO & HELOANI, 2013), como “o trabalho inclui e exclui o sujeito das suas possibilidades de ser” (FERREIRA, 2009, p. 12). Por essa razão, entende-se a importância de refletir sobre a psicodinâmica do ambiente profissional na construção da identidade do sujeito. Freud, na tentativa de discursar sobre os conceitos do “Eu”, diz que “Normalmente nada nos é mais seguro do que o sentimento de nós mesmos, de nosso Eu. Este Eu nos aparece como autônomo, unitário, bem demarcado de tudo” (FREUD, 2011, p. 9). Isto é, o autor tenta, ao explicar as instâncias psíquicas que formam o “Eu”, conceituar o que mais tarde entendemos como parte de nossa identidade, visto que ao continuar a sua teoria, Freud relata que esse “Eu” se prolonga para dentro de maneira inconsciente e movido pelo princípio do prazer, instância denominada ID. Contudo, em geral, o “Eu” que se projeta para fora, possui limites mais definidos, exceto nos casos de enamoramento (relações amorosas). Nesse cenário, os limites que se projetam para fora tornam-se difusos ou conturbados, portanto, o “Eu” e o “Tu” tornam-se únicos, logo compartilham das percepções, anseios, desejos etc. E o problema reside no momento que se perde esse limite com o externo, não somente por distorcer o princípio da realidade que envolve o desenvolvimento da consciência, mas 25 também por desfigurar a constituição de sua identidade. Ademais, “na medida em que o indivíduo é convidado a tomar o lugar daquele que avalia, ele é estimulado a se identificar com a organização, interiorizando suas restrições e projetando nela a angústia ligada ao medo do fracasso” (PAGÈS, 1987, p. 105). Para Gaulejac (2007), portanto, nesse cenário há uma dupla perda para o trabalhador, visto que quanto maior a identificação com a empresa maior é a perda de autonomia e maior é a tendência psíquica que resultará em uma dependência permanente e perda do seu verdadeiro “Eu”. Tal fato deve-se à importância que o trabalho exerce na construção da perspectiva individual sobre a própria imagem de si e na identificação e validação pelo olhar do outro (PIOLLI, 2011), portanto, um significado simbólico de autorrealização da imagem projetada do Eu que necessita ser legitimado e reconhecido no ambiente Organizacional. Por mais que a atividade profissional se apresente com fins de geração e acúmulo de capital, a mesma, ainda está atrelada a um valor simbólico que pode ser representado como expectativas e projeção da identidade (PIOLLI,2011). Tal aspecto deve-se ao fato de que, o trabalho exerce posição central nos processos de identificação do sujeito e na formação de sua personalidade, em virtude da simbologia empregada na prática, que é moldada pela ótica subjetiva de desejos inconscientes e forças psíquicas. Ademais, o homem como um ser social precisa do outro, através das relações interpessoais, para se reconhecer e validar na sociedade (MARX, 1988, apud DUARTE, 2018), ou seja, parte da identidade do sujeito é moldada pelo olhar do outro, portanto, tal fato deve-se a necessidade intrínseca do homem de buscar o reconhecimento e validação de si, nos processos interativos. A identidade é um processo que está em constante construção e modificação, que nunca está completo e sempre é inacabado, permissivo a novos aprendizados. A construção da identidade está sujeita, portanto, à dinâmica das relações entre sublimação e reconhecimento. Entende-se que a sublimação corresponde ao “desvio de energia sexual (libido) de seu objetivo sexual para objetivos culturais” (AGUIAR, 2005, p. 182) e “ao investimento afetivo em objetos socialmente valorizados” (FERREIRA, 2009, p. 48). Logo, a sublimação, nesse aspecto, atua por meio da descarga pulsional como possível fonte de prazer. Ademais, todas as experiências passadas permanecem de alguma maneira preservadas nas instâncias psíquicas que estão em um processo contínuo de construção, portanto, o que se formou no âmbito psicológico pode retornar à luz da consciência em determinadas circunstâncias (FREUD, 2011), na medida em que ocorre interações sociais. Nesse sentido, a percepção do indivíduo é formada por processos transacionais entre o sujeito que percebe e o objeto que é percebido, 26 ou seja, uma dinâmica contínua de influências mútuas, em que ao conhecer o outro a pessoa está, ao mesmo tempo, conhecendo a si mesma (AGUIAR, 2005), logo o “eu é composto por inúmeras identificações que ocorrem ao longo da vida” (CROCHIK, 2007, p. 184). Vale destacar que esse “outro” pode ser um objeto de desejo, como por exemplo, o da criança que deseja o peito materno ou a proteção paterna. Ou também, como ao longo do desenvolvimento e amadurecimento, o objeto torna-se o amor proveniente da Organização, e as suas experiências passadas como resíduos mnemônicos podem influenciar a dinâmica da busca pelo prazer, através do reconhecimento de si na Instituição. Contudo, se esse objeto amado recusa ou impossibilita o alcance do Princípio do Prazer, o indivíduo, para evitar o sofrimento, nega a sua consciência e torna-se alienado, “com ajuda do ‘afasia-tristeza’ podemos nos subtrair à pressão da realidade a qualquer momento e encontrar refúgio num mundo próprio que tenha melhores condições de sensibilidade” (FREUD, 2011, p.22). Sendo assim, “se o ego enfraquece, a consciência também, e torna-se presa fácil da ideologia carente de racionalidade” (CROCHIK, 2007, p. 190), introjeta-se, portanto, uma ideologia por meio da falsa consciência como tentativa de evitar o sofrimento. Percebe-se, assim, que o trabalho consiste em um elemento-chave não somente na formação, como também nas transformações identitárias do sujeito. Tal aspecto nota-se principalmente no momento da escolha e formação profissional, em que a atividade laboral intervém e influencia nas dinâmicas das relações e nos processos de socialização secundária (PIOLLI, 2011). Como também, segundo Perico & Justo (2011, p.139), “na sociedade capitalista atual, é muito comum, logo em seguida à indagação do nome, a importância que se dá à ocupação profissional para descrever a identidade de uma pessoa”. Tal aspecto demonstra, portanto, a proporção da centralidade que a profissão tem na vida das pessoas como sendo parte inerente e indissociável do homem, visto que o “o trabalho é fator de confirmação da identidade individual e coletiva, indispensável ao sentido que a vida adquire em sociedade” (FERREIRA, 2009, p. 37). Nesse sentido, a carreira adquire posição central na vida do homem pois torna-se a sua principal forma de significação de sua existência, como se o seu valor pessoal estivesse reduzido e centralizado à sua atividade profissional (PAGÈS, 1987). Diante disso, o sujeito ressignifica todos os desejos e valores subjetivos alinhados com o sucesso profissional, como se esse fosse a única forma de definir o sujeito como ser dentro da sociedade e de classificá-lo, portanto, a uma dualidade cruel de sucesso e fracasso, que é baseada na sua atividade dentro de um cenário dominado pelo acúmulo de capital, status e poder. 27 De acordo com Piolli (2011, p. 179) “o indivíduo, na condição de trabalhador, constrói a imagem de si e sua identidade de forma mediada pela organização do trabalho”. Isto é, o trabalho traduz, principalmente, um sentido de essencialidade, de sentido e pertencimento na sociedade (PERICO & JUSTO, 2011) e “nenhuma outra técnica para a condução de vida prende a pessoa tão firmemente à realidade como a ênfase no trabalho, que no mínimo a insere de modo seguro numa porção de realidade” (FREUD, 2011, p.24). Logo, a atividade profissional, ao longo dos anos, se tornou não somente substrato para canalização das energias psíquicas, desejos inconscientes e autorrealização do Ego, mas também como forma de estimar o seu valor em um meio competitivo e de sinalizar a sua inserção no meio. Quando o indivíduo consegue se reconhecer no trabalho que executa, ou seja, sentir, pensar e principalmente, estimar valor, entende-se a atividade como “trabalho com valor” e nesse cenário o profissional imprime a sua marca pessoal na sua função e tal aspecto denota uma expressão individual chamada de “escrita da subjetividade” (FERREIRA, 2009). Contudo, quando o trabalho deixa de representar essa valoração ou torna-se controlado por um excesso de racionalismo imposto por meio de normas, regras de conduta e políticas de desempenho, o resultado é a diminuição e até a ausência da expressão da escrita da subjetividade. À medida em que o indivíduo deixa de identificar o valor atribuído ao trabalho, que não está mais relacionado com os aspectos inerentes da contribuição individual de cada um, como por exemplo, de um artesão que produz a sua obra e identifica a finalidade e o propósito da mesma, ocorre o fenômeno de perda simbólica em que coloca-se o sentido do trabalho “em suspenso” (GAULEJAC, 2007) e com isso, perde-se o elo de conexão com a função do sujeito e atividade-fim, visto que a lógica do capitalismo substitui o sentido concreto e reconhecido do trabalho por um valor abstrato. Nesse sentido, quando as projeções narcísicas são canalizadas para o trabalho, o indivíduo cria no objeto amado as expectativas de reconhecimento e proteção, de modo a fantasiar por meio de uma falsa percepção um sentido para o trabalho, que é, portanto, um sentido alienado da vida (PIOLLI, 2011). Como também, “pela alienação que o trabalho traz implícita, o trabalhador por trabalhar não se pensa e não se trabalha; em consequência, se elimina a si mesmo, até desaparecer como protagonista de sua própria existência” (FREDDO,1994, p.27), ou seja, por ter sido direcionado por um discurso manipulado que objetiva exercer controle e dominação das suas capacidades psíquicas ocorre, aos poucos, o distanciamento com a simbologia do papel profissional, que é determinado pela conexão exercida na atividade laboral e o resultado, de modo a ceder o lugar de valor para indicadores de performance e resultado. Dessa maneira, “o homem é despersonalizado. A 28 medida de suas aptidões e seu potencial ‘em si’, sua capacidade em se adaptar às normas, planos, quotas, objetivos fixados, tomam para ele o lugar da identidade” (PAGÈS, 1987, p. 118). Como consequência, “a identidade se esfacela quando o corpo social que a envolve torna-se ele próprio incoerente, quando os laços seu diluem e quando osacontecimentos perdem seu sentido e não querem dizer mais nada” (CYRULNIK, apud GAULEJAC, 2007, p. 151). Sendo assim, pode-se perceber que há um dano na identidade que foi construída a partir das interações desse meio. A identidade de uma criança se forma por influência dos desejos dos pais, de modo que o amor dos pais para com os filhos gere no menor um sentimento duplo de medo de perda e anseio (PAGÈS, 1987). Isto é, a criança deseja se comportar bem para conquistar e garantir o recebimento do amor de seus pais ao mesmo tempo em que tem uma dependência e medo constante de perder o seu objeto amado. A identidade será formada por um processo de “corte e recorte” em que o sujeito reconhece e identifica o que o atrai e descarta o que não interessa, portanto, um processo de construção e interação constante com o objeto, que está sempre sujeito a modificações. Segundo Pagès (1987), a identidade se constrói por um processo de assimilação, em que o sujeito toma e/ou rejeita uma parte do outro para si, por meio de projeções e introjeções que ocorrem na troca com os demais, entretanto, com a dominação psicológica há um enfraquecimento do Ego que resulta no empobrecimento da identidade. A narrativa da carreira inicia-se desde o período escolar com a escolha vocacional, e em um cenário de incertezas e imaturidade, o aluno começa a desenvolver a sua expectativa de autorrealização, projeção e metas para o futuro (PIOLLI, 2011). Nesse sentido, o jovem que inicia sua trajetória profissional, em geral, não tem “bagagem” nem maturidade psíquica para se proteger e tentar blindar tal dominação psicológica (BORSOI, 2007). 29 4 SATISFAÇÃO E FELICIDADE NO TRABALHO: (IN)DEFINIÇÕES A princípio, convém considerar para a presente análise o conceito dicionarizado do termo “satisfação” definido como “Ação ou efeito de satisfazer” ou “Contentamento; prazer resultante da realização daquilo que se espera ou do que se deseja” (DICIO, 2020). Ademais, quando esse conceito é aplicado na atividade laboral, pode-se notar diversas concepções, que, em geral, alcançam o mesmo entendimento comum. Veja-se, por exemplo, que Locke (1960, apud MARQUEZE & MORENO, 2005, p.70) define a satisfação no trabalho “como o resultado da avaliação que o trabalhador tem sobre o seu trabalho ou a realização de seus valores por meio dessa atividade, sendo uma emoção positiva de bem-estar”. Tal aspecto deve-se ao fato de que, a satisfação parte da percepção do trabalhador sobre a realidade observada do ambiente profissional no qual está inserido. Diante disso, quando não há a percepção do sentimento de satisfação inerente a cada indivíduo, o resultado gerado está no âmbito do sofrimento por não alcançar a realização de um objetivo, meta ou expectativa, da qual esperava, e tal fato resulta na insatisfação. Isto é, a satisfação e a insatisfação representam um estado emocional e subjetivo do indivíduo, de duas maneiras opostas de manifestação do mesmo fenômeno (MARTINEZ & PARAGUAY, 2004). Nesse sentido, se desenvolveu o debate sobre os fatores que determinam ou influenciam a satisfação no ambiente profissional. As empresas buscam deter o conhecimento de tais fatores, por meio de ferramentas, como por exemplo a Pesquisa de Clima Organizacional, para tentar de alguma maneira oferecer subsídios que tornem viável a aquisição da satisfação, entendida no sentido de uma realização das necessidades, a fim de exercer controle de maneira sutil sobre o indivíduo. Contudo, se tal objetivo não é alcançado, por diversas causas a serem discutidas, o profissional tende a se sentir insatisfeito. E o grande dano ao trabalhador, portanto, reside no fato de a insatisfação promover um prejuízo à saúde mental. Ao mesmo tempo, a insatisfação no trabalho compromete o alcance dos objetivos organizacionais. Em segunda análise, vale destacar o conceito de felicidade, que, segundo o dicionário Michaelis on-line (2021, não paginado), pode ser definida como “1 Estado de espírito de quem se encontra alegre ou satisfeito; alegria, contentamento, fortúnio, júbilo”. Contudo, ao analisar a definição de felicidade com ênfase, nesse momento, na relação com a satisfação, Bendassolli diz que: [...] como a felicidade é, por sua própria natureza, algo incerto e indefinido, ela não pode ser plenamente satisfeita. Há várias explicações para isso, mas todas 30 convergem no sentido de uma mesma conclusão: não sendo ou não podendo ser satisfeita, a busca pela felicidade moderna alimenta uma ânsia sem fim por objetos e sensações (BENDASSOLLI, 2007, p.59). Diante do exposto, ao entender que a felicidade é efêmera e que estabelece conexões com o sentimento de satisfação, e esse parte da perspectiva subjetiva de cada um, compreende-se que só é possível estabelecer um modelo para alcançar tal objetivo, a partir de uma tentativa de materializar e desindividualizar algo pertinente ao sujeito. Logo, não somente objetivar, mas também padronizar a ideia de felicidade geral, de modo a promover a introjeção de uma expectativa comum e com isso, uma dependência de ser ou exercer posse sobre algo, como por exemplo, prestígio, poder, bens etc. Segundo a obra “Se você é tão esperto, porque não é feliz”, Raghunathan discursa sobre o tema felicidade aplicado às práticas do cotidiano, como, por exemplo, a vivência do ambiente corporativo, e relata que, mesmo a felicidade sendo a principal meta de vida, percebe-se que, ainda assim, as pessoas tendem a desviar seu foco para outros objetivos menos importantes, teoria intitulada de “Paradoxo Fundamental da Felicidade” (RAGHUNATHAN, 2017). Dessa maneira, percebe-se que algumas das técnicas de dominação psicológica utilizam ou modelam esses “outros desejos” do indivíduo para atrair e exercer um controle sobre o trabalhador e, a partir disso promovem o que o autor Raghunathan conceitua como a “Maximização do meio”, que se refere à propensão que temos de esquecer o objetivo final que desejamos alcançar e perseguir o meio para esse objetivo, a saber, determinado salário, cargo, bonificações, status etc. Logo, nota-se que o paradoxo da felicidade se perpetua porque o indivíduo “se perde ou distrai” nas ferramentas de maximização dos meios. Isto é, de maneira implícita e, às vezes, imperceptível ao olhar desatento, o sujeito passa a substituir o seu entendimento sobre a felicidade pelo ideal comum disseminado daquele ambiente corporativo, através da ideia representativa do “ser ou ter” e tal aspecto ao longo do tempo pode vir a gerar um prejuízo à sua saúde mental, visto que ocorreu uma desapropriação da identidade pela cultura organizacional. Em concordância com o fato de não ser possível ocorrer esse tipo de generalização, Freud discursa em sua obra O Mal- estar na civilização sobre tal cenário: “não há uma regra infalível que se possa aplicar a todos” [para se alcançar a felicidade]. Cada homem deve encontrar por si mesmo de que modo específico pode ser salvo” (apud BENDASSOLLI, 2007, p.61). Desse modo, percebe- se como o trabalho influencia e contribui para a construção da identidade pessoal, visto que “No processo de desenvolvimento do indivíduo, conserva-se a principal meta do programa do princípio do prazer, achar a satisfação da felicidade” (FREUD, 2011, p.87). 31 Pagès (1987) discorre em sua obra O Poder das Organizações sobre o conceito de consolidação ideológica que julga ser essencial no processo de mediação como forma de gerar satisfação, a fim de atribuir uma lógica ou valor à experiência profissional, que ocorre por meio dos reforços e ideologias propagadas nas Instituições. Dessa maneira, a mediação através do processo de privilégio-coerção atua como o mecanismo ambíguo de prazer versus angústia. Tal fato é ainda potencializado quando os desejos subjetivos, divergentes à Instituição, e inerentes a cada indivíduo são recalcados porum processo de coerção em decorrência da sensação de peso e ameaça. Sendo assim, a “saída” para se livrar desse sentimento opressivo está na identificação com a Instituição protetora. Logo, a contradição psicológica está na mentalidade do sujeito que introjetou uma ideologia como forma de autoproteção e insegurança, portanto, vivencia sentimentos contraditórios acerca da Organização, a saber, prazer e angústia, felicidade e infelicidade, segurança e insegurança e por fim, proteção e ameaça. Ademais, vale destacar que “o recalcamento produz-se nos casos em que a satisfação de uma pulsão – suscetível de proporcionar a si mesmo satisfação – ameaçaria provocar desprazer relativamente a outras exigências” (AGUIAR, 2005, p. 160), como também o “o sofrimento suportado em silêncio como ‘adoecimento’” (FREUD, 2014, p. 60), logo, percebe-se que nos casos em que há uma reação que é reprimida, a sua lembrança permanece na subjetividade do sujeito e tal fato gera, portanto, sequelas psíquicas e corporais. 32 5 PRAZER E SOFRIMENTO NO TRABALHO O trabalho pode ser tanto fonte de prazer quanto de desprazer. Diante disso, vale destacar a priori, em que cenário a atividade profissional consegue se tornar um meio de promover prazer, em decorrência das pulsões internas de cada sujeito serem satisfeitas, por meio do trabalho. Nesse sentido, a ressonância simbólica conceitua-se por ser uma “condição de reconciliação entre o inconsciente e os objetos da produção” (AGUIAR, 2005), ou seja, o indivíduo encontra no trabalho uma forma de satisfazer as suas necessidades psíquicas. Logo, nesse caso, o trabalho configura-se como um local de sublimação por ser um canal de expressão dos desejos do sujeito (BORSOI, 2007). Veja-se, por exemplo, o caso da escolha de profissão, que está relacionada com aspectos e elementos subjetivos. Nesse cenário, em que a escolha individual está alinhada e se materializa na execução da atividade laboral, o indivíduo consegue, de modo inconsciente, mobilizar as forças pulsionais naquele objeto – leia-se a organização. Contudo, quando o alinhamento entre necessidades psíquicas e organizacionais não ocorre, a prática da Organização para tentar mover essas forças pulsionais em prol dos objetivos organizacionais é a dominação psicológica. Logo, a manipulação subjetiva é uma tentativa das empresas para moldar e promover uma falsa ressonância simbólica nos trabalhadores. Entretanto, é notável que tal estratégia tende ao fracasso, e o resultado em médio ou longo prazo é o sofrimento, visto que os desejos são parte do inconsciente e, portanto, são incontroláveis e indomináveis. Dessa maneira, a dissonância simbólica ocorre quando o sujeito não encontra no trabalho uma forma de mobilizar suas necessidades psíquicas (AGUIAR, 2005) e precisa, portanto, reprimir os seus desejos gerando mais sofrimento psíquico (BORSOI, 2007). Ademais, vale destacar que, nos casos de ocorrência de ressonância simbólica o trabalhador pode passar pelo sofrimento criativo (PERICO e JUSTO, 2011), que ocorre quando o sujeito consegue se defender de maneira criativa a carga psíquica do trabalho pois consegue se “enxergar” na atividade que exerce, portanto, mantém a sua integridade e saúde mental. A princípio, destaca-se que nesse cenário de dominação psicológica nas Organizações, o sujeito assume algumas estratégias comportamentais e subjetivas para tentar de alguma maneira preservar a saúde mental e/ou aliviar o sofrimento. Segundo Aguiar (2005), as defesas coletivas correspondem à adoção de comportamentos estereotipados ou alienados para tentar pertencer à cultura organizacional, e as defesas individuais, correspondem aos sintomas causados como consequência do adoecimento psíquico – as 33 doenças psicossomáticas. Mendes (2007) conceitua essas estratégias de mobilização coletiva como formas de personificar o conflito por meio de modos de agir em comum entre os trabalhadores, o que Han (2017b) irá discutir em sua obra Agonia do Eros, como o “inferno do igual” e que se contextualiza no ambiente corporativo para indicar a despersonificação da individualidade do trabalhador em um nivelamento por igual, através da introjeção dos desejos da Organização. Nesse sentido, a ausência de um ambiente em que coexistam perspectivas diferentes gera a ressignificação silenciosa, que corresponde ao fenômeno de passividade coletiva e a servidão consentida (FERREIRA, 2009). As estratégias defensivas, por sua vez, são descritas por Mendes (2007) como a naturalização desse cenário psicologicamente opressivo e principalmente, do sofrimento do ser humano em virtude do mecanismo de negação e racionalização da atividade, logo, com o desfecho de surgimento de condições patológicas. Gaulejac (2007) destaca os modos de defesa do funcionário frente a esse contexto, a permissividade, a instrumentalização e a resistência. Isto é, ao tolerar ser instrumentalizado, o sujeito ajusta o seu comportamento e tenta alinhar a sua conduta conforme a cultura organizacional, portanto, permite a tentativa de docilização da sua subjetividade, que corrobora com a ideia de defesa coletiva citada por Aguiar (2005) e Mendes (2007). Em contrapartida, a resistência consiste no ato de resistir a essa tentativa de indução comportamental e de introjeção de normas, valores e desejos padronizados. É um ato de proteção da individualidade, um meio de preservar as características da própria identidade e não permitir se tornar recurso a ser psicologicamente explorado e que em concordância com Gaulejac (2007), consiste em uma clivagem entre o “Eu organizacional” e o “Eu verdadeiro” a partir de um rompimento com essa tentativa de massificação. Contudo, vale destacar que, em geral, tais “posturas” não são praticadas de maneira isolada e excludente pelo indivíduo, ou seja, o sujeito combina essas diferentes atitudes no dia a dia profissional, de modo a tentar ao mesmo tempo se resguardar e pertencer àquele ambiente profissional como forma de se manter empregado. Logo: é preciso igualmente que ele preserve a autoestima, resista à alienação não se deixe submeter totalmente. A parte do Eu que resiste à instrumentalização permite ao indivíduo salvaguardar sua integridade, proteger suas capacidades reflexivas, principalmente em relação ao sentido a dar a suas ações (GAULEJAC, 2007, p 109). Quando (e se) o indivíduo adquire consciência da psicodinâmica do ambiente no qual está inserido torna-se um ser inteligente e livre (AGUIAR, 2005) visto que percebe que está 34 submetido a um jogo de submissão e liberdade. A alternativa encontrada para de alguma maneira se blindar frente a esse cenário é a postura cínica frente às práticas inerentes ao contexto das Instituições, “Em uma sociedade capitalista é preciso ser capitalista” (PAGÈS, 1987, p. 59). Todavia, tal percepção gera um sentimento de medo pelo reconhecimento de vulnerabilidade e possibilidade de se perder. É importante ressaltar que o adoecimento e o mal-estar não se limitam somente a vida profissional, mas também se prolongam para a vida pessoal do sujeito, logo, “o sofrimento no trabalho não se restringe ao interior da fábrica, ele atravessa as paredes e acompanha o homem, interferindo e influenciando a vida doméstica e social” (AGUIAR, 2005, p.167). Isto é, esse empregado ao retornar para o seu lar permanece com a sua consciência direcionada para o trabalho, como se mesmo presente em ambiente físico estivesse parcialmente ou totalmente ausente com pensamentos que retomem a temática da Empresa, como se não fosse possível “se desligar”. Sendo assim, percebe-se o tamanho da dimensão do alcance do aniquilamento psíquico na vida do trabalhador (FREDDO, 1994). Ademais, esse esforço de adaptação constante e de tentativa de suprir expectativas externas gera o sofrimento do trabalhador e como consequência afeta todasas demais dimensões da vida do indivíduo (PIOLLI, 2011). Tal aspecto nota-se na dimensão das consequências que o adoecimento causado pelo trabalho pode ocasionar na vida do indivíduo e que deve, portanto, ser combatido. Ademais, “a alienação é a habitação do corpo do outro” (AGUIAR, 2005, p.171), entendido como figura representativa da organização, em que o trabalhador por meio de um mecanismo de proteção permite ter a sua natureza de liberdade suprimida pela ideologia organizacional; contudo isso é um processo maçante, que gera fadiga, exaustão e esgotamento. Desse modo, em decorrência da alienação, o trabalhador não reconhece mais a si próprio em seu ambiente profissional (HAN, 2017a) e o resultado poderá ser um sentimento de vazio. Tal aspecto deve-se ao fato de que esse empregado vivencia um ambiente em que há o predomínio da razão instrumental (FREDDO, 1994), que nessa lógica é apropriada para potencializar a dominação por meio de normas e regras, a fim de manter implícito o controle exercício, que tenta submeter o ritmo da produção do trabalho-vivo (homem) pelo trabalho- morto (máquina-tecnologia) segundo Heloani (2003), logo, o sujeito é reduzido e nivelado como recurso a ser explorado. A consequência da projeção do narcisismo do indivíduo nas possibilidades de crescimento e ascensão sem limites que a empresa propõe está no âmbito da sua fragilidade psíquica (GAULEJAC, 2007) que foi amparada em um falso suporte. Esse indivíduo desloca 35 todo a sua energia para satisfazer os ideais do objeto amado – a organização – e tal feito jamais poderá ser alcançado em plenitude, visto que são conjecturas, portanto, são ideias efêmeras e voláteis. Tal prática resulta, portanto, no sentimento de mal-estar por parte do funcionário, ou seja, além da exploração psicológica a vítima ainda é culpabilizada, como se essa fosse a própria responsável por não alcançar os padrões ou não se adequar ao modelo solicitado das Instituições (PERICO & JUSTO, 2011). Para exemplificar esse cenário, o trabalhador nunca estará totalmente à altura dos desempenhos esperados por se tratar de um referencial que é um limiar inalcançado, contudo, ao invés de visualizar com clareza essa incerteza proposital, o indivíduo sente-se insuficiente, incapaz, incompetente, e desloca para si o problema sistêmico do modelo da organização (GAULEJAC, 2007). E assim, “a consciência da culpa produzida pela cultura [a Organização], não seja reconhecida como tal, permaneça inconsciente ou venha à luz como um mal-estar, uma insatisfação para a qual se busca outras motivações” (FREUD, 2011). Segundo Gaulejac (2007), a mobilização psíquica ocorre através de dois principais processos, a identificação por introjeção da organização como figura de excelência e competência, portanto, deslocando essas características que admira para seu próprio Ego. E a idealização, por interiorização, desse ideal de perfeição, plenitude da organização e expansão, que pode ser um meio para o seu crescimento conjunto. Isso significa que o indivíduo busca na organização um meio para suprir todos os seus ideais e anseios narcisistas, entretanto a um alto preço de dependência psíquica ao objeto amado – leia-se, a empresa. Isto é, “elas [as instituições] modelam a fundo as estruturas de personalidade, pois se tornam máquinas de prazer e de angústias, oferta e retirada de amor” (PIOLLI, 2011, p.174). Outro aspecto inerente à psicodinâmica do trabalho é o conflito, que segundo a abordagem da psicanálise conceitua-se “quando, no indivíduo, se opõem exigências internas contrárias” (AGUIAR, 2005, p. 161), ou seja, quando há forças contraditórias que geram uma perturbação ou externalização dessa dualidade existente que faz parte do sujeito. Desse modo, a causa desse conflito está no contexto das empresas, no cenário de desempenho e performance projetada para o indivíduo versus os anseios narcisistas do sujeito, que podem porventura, não estarem alinhados com a estratégia corporativa. Para Mendes (2007), o conflito pode ser construtivo quando esse “choque” de perspectivas ainda permite uma margem de autonomia e escolha por parte do trabalhador, contudo, quando esse conflito gera sofrimento torna-se destrutivo, não somente para o indivíduo, mas também para a própria Organização. Logo, faz-se necessário ressaltar também as consequências para as Empresas, 36 visto que quando tal aspecto de prejuízo se limita somente ao âmbito do ser humano, a discussão torna-se desvalorizada na ótica capitalista. Assim, enfatizar que tal prática trará malefícios e também impactará o poder do capital demonstra como a tática de manipulação psicológica pode se tornar o próprio “calcanhar de Aquiles” das Organizações Hipermodernas. Segundo Jung os impulsos ou as vontades indesejáveis, as qualidades irracionais, constituem as “sombras” dos indivíduos e que normalmente são reprimidas pelas Organizações na tentativa de racionalizar as atividades. Contudo, essa “sombra” não se permite ser reprimida pelas Organizações e age de modo a externalizar a sua força, “isto pode ser observado em grande parte das políticas que moldam a vida organizacional e também no stress, na mentira, fraudes, na depressão e nos atos de sabotagem” (MORGAN, 2002, p.241). Han (2017a) descreve, em sua obra Sociedade do Cansaço, como no século XXI a sociedade do desempenho adoece por um excesso de positividade ao indicar que a fonte de patologia atual é neuronal, observada pelo excesso de doenças neurológicas, como depressão, transtornos, ansiedade, estresse etc.; e que a violência implícita é representada pela superprodução, superdesempenho e supercomunicação. Tal aspecto deve-se à manipulação da subjetividade por meio do discurso “do poder”, no sentido de o indivíduo estar apto a conquistar o que almeja. Ferreira (2009) conceitua um cenário similar como “o admirável mundo novo do trabalho” para exemplificar essa ideologia organizacional que modela a subjetividade do trabalhador, e que atua por meio dos conceitos de racionalização instrumental e negação, para tentar indicar justificativas que amenizem o sofrimento a fim de alterar a dinâmica psíquica e transmutar o sentimento de peso – leia-se sofrimento - em leveza – leia-se satisfação. Percebe-se, portanto, que “a sociedade do desempenho, ao contrário, produz depressivos e fracassados” (HAN, 2017a, p. 25). Dessa maneira, conclui-se que tal prática é insustentável e resulta no surgimento de patologias sociais, a saber, violência, sobrecarga e servidão voluntária. Nota-se que, a sociedade pós-moderna, por meio da ideologia gerencialista reduz o indivíduo a mero instrumento a ser utilizado e explorado pela empresa (GAULEJAC, 2007), sendo assim, o profissional perde a sua noção do que é, antes de mais nada, “ser sujeito”, que consiste na consciência de si próprio e do meio ao qual pertence, além da capacidade crítica e reflexiva (AGUIAR, 2005). Logo, o indivíduo fica à mercê da Organização que permeia o seu entorno e se apresenta como a principal estrutura estável, forte e que acima de tudo, é o seu objeto amado. Nesse sentido, “o sujeito de desempenho encontra-se em guerra consigo 37 mesmo” (HAN, 2017a, p. 29), visto que há uma distorção comunicacional, segundo FERREIRA (2009), que é caracterizada quando o indivíduo não atribui a causa dos problemas às políticas opressivas e manipuladoras da organização, ao contrário, supervaloriza as práticas gerencialistas, e atribui as falhas e fracasso, somente, à sua performance pessoal como forma de incapacidade, falta de habilidade, comprometimento ou disposição. Isso remete à cultura da ansiedade discursada por Gaulejac (2007) como a tendência do medo de nunca ser suficiente, de não estar à altura da Organização, de não ser bom, de não alcançar as metas ou pior, de perder o seu emprego e ser descartado. Portanto, o resultado
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