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Dípteros minadores e seus parasitóides em plantas de crescimento

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Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 97(3):280-285, 30 de setembro de 2007
SANTOS et al.
Dípteros minadores e seus parasitóides em plantas de crescimento
espontâneo em pomar orgânico de citros em
Montenegro, RS, Brasil
Janaína Pereira dos Santos1, Luiza Rodrigues Redaelli2 & Fábio Kessler Dal Soglio2
1. Estação Experimental de Caçador, Laboratório de Entomologia, EPAGRI, Caixa Postal 591, 89500-000 Caçador, SC, Brasil.
(janapereira@epagri.rct-sc.br)
2. Departamento de Fitossanidade, UFRGS, Av. Bento Gonçalves, 7712, 91540-000 Porto Alegre, RS, Brasil. (luredael@ufrgs.br;
fabiods@ufrgs.br)
ABSTRACT. Diptera leafminers and their parasitoids in spontaneous vegetation in organic citrus orchard in Montenegro,
RS, Brazil. Leafminers and their parasitoids communities analysis is necessary to supply information about the biotic regulation and to
maintenance of the biodiversity in the agroecosystem. This study aimed to register Diptera leafminers and their parasitoids, present in
the vegetation spontaneously growing at the citrus orchard from May 2003 to May 2004. The work was conducted in Montenegro, RS,
in an organic orchard of the hybrid ‘Murcott’. Samplings were taken fortnightly, collecting in each occasion all the plants with mines
found in an area delimited by a 0.28 m2 
arc thrown in the lines and between lines of 30 randomly chosen trees. In the lab, the number of
larvae and pupae per leaf of Diptera leafminers were recorded. Throughout the study, it was found 15 species of Diptera leafminers, 15
species of leafminer host plants (distributed in six families) and 15 species of micro hymenopterans parasitoids (distributed in three
families). It was verified that the Diptera leafminers had presented great specificity to their host plants; therefore, the appropriate
management of the spontaneous vegetation of the orchards may favor the establishment and multiplication of natural enemies of these
leafminers insects.
KEYWORDS. Diptera, Agromyzidae, micro hymenopterans, host records.
RESUMO. A análise de comunidades minadores e seus parasitóides é importante para a compreensão da regulação biótica e para a
manutenção da biodiversidade em agroecossistemas. Este trabalho teve como objetivos registrar os dípteros minadores e seus parasitóides
na vegetação de crescimento espontâneo de um pomar orgânico de citros, de maio de 2003 a maio de 2004. O trabalho foi conduzido no
município de Montenegro, RS, em um pomar do híbrido tangor ‘Murcott’. Realizaram-se amostragens quinzenais, coletando-se em cada
ocasião todas as folhas contendo minas presentes na área delimitada por um aro de 0,28 m2, que era jogado nas linhas e nas entrelinhas
de 30 árvores sorteadas. No laboratório registrou-se o número de larvas e pupas de dípteros minadores por folha. Foram registradas 15
espécies de dípteros minadores, 15 espécies de plantas hospedeiras (distribuídas em seis famílias) e 15 espécies de microimenópteros
parasitóides (distribuídas em três famílias). Os dípteros minadores apresentaram grande especificidade às suas plantas hospedeiras.
Portanto, o manejo adequado desta vegetação pode favorecer o estabelecimento e a multiplicação de inimigos naturais destes insetos
minadores.
PALAVRAS-CHAVE. Diptera, Agromyzidae, microimenópteros, registro de hospedeiros.
Dentre os grupos que incluem insetos com hábito
minador, destaca-se Diptera. Nesta ordem, a principal
família com este hábito é Agromyzidae, com
representantes principalmente nos gêneros Liriomyza e
Agromyza (HESPENHEIDE, 1991; BYERS, 2002; CARLETTI,
2004). Segundo GALLO et al. (2002), várias espécies de
agromizídeos estão associadas a plantas cultivadas,
entretanto, BYERS (2002) relata que muitos podem ser
pragas secundárias em outras culturas e atacar plantas
espontâneas.
Diversos parasitóides são associados às moscas
minadoras. No Brasil, PEREIRA et al. (2002) mencionam
Opius sp. (Hymenoptera: Braconidae) parasitando
Liriomyza huidobrensis (Blanchard, 1926). Na Argentina,
VALLADARES & SALVO (2001) registraram 29 espécies de
moscas minadoras pertencentes a Agromyzidae e 46
espécies de microimenópteros parasitóides associados.
Na Colômbia, CURE & CANTOR (2003) observaram o
braconídeo, Diglyphus begini (Ashmead, 1904)
associado à mosca minadora L. huidobrensis. Em Cuba,
LEÓN et al. (2000) registraram Diglyphus sp. sobre
Liriomyza sp. Nos Estados Unidos da América, SCHUSTER
et al. (1991) encontraram Opius dissitus Muesebeck, 1963;
O. bruneipes Gahan, 1913 e O. mandibulares Gahan, 1945
parasitando Liriomyza spp. e PATEL et al. (2003) relataram
D. intermedius (Girault, 1917) sobre L. trifolli (Burgess,
1880). No Canadá, VENETTE et al. (2003) relatam Diglyphus
spp. associado a várias espécies de Liriomyza.
Sabe-se que os organismos expostos a conjuntos
diversos de condições e recursos respondem de forma
diferente, evidenciando um tamanho populacional e uma
dinâmica variável, tornando-se, portanto, importante o
estudo destes, nos vários locais em que ocorrem. A
descrição da variação temporal da abundância é aspecto
importante para a identificação e o entendimento dos
fatores que influenciam a flutuação de uma população
(BEGON & MORTIMER, 1986). O conhecimento desses
processos permite a realização de previsões a respeito
das flutuações populacionais, o que pode ser utilizado
no manejo de populações, com o objetivo de conservação
ou para o controle de populações eruptivas (BEGON &
MORTIMER, 1986; BEGON et al., 1990). O presente trabalho
teve como objetivo registrar a distribuição dos dípteros
minadores e dos parasitóides associados à vegetação de
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Tabela I. Valores médios de temperatura mínima, máxima,
precipitação e umidade relativa do ar registrados nas estações do
ano de maio de 2003 a maio de 2004 em Taquari, RS.
Estação Temperatura Temperatura Precipitação Umidade
mínima máxima pluviométrica relativa
(oC) (oC) (mm/dia) do ar (%)
Outono (2003) 8,9 20,3 5,6 84,8
Inverno (2003) 8,8 20,5 2,7 71,0
Primavera (2003) 15,3 25,9 7,6 76,0
Verão (2003 para 2004) 18,2 29,0 0,8 79,3
Outono (2004) 15,5 26,9 3,0 81,5
crescimento espontâneo, em um pomar orgânico de citros,
contribuindo desta maneira, para a compreensão de
aspectos da regulação biótica e da manutenção da
biodiversidade em agroecossistemas.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no município de
Montenegro (29°68’S e 51°46’W), localizado no vale do
rio Caí, RS. A topografia da região é levemente ondulada,
com menos de 100 m de altitude, e pertence à região da
Depressão Central. Os solos são profundos e de textura
argilosa (Unidade Bom Retiro). A temperatura média anual
é de 19,4°C, apresentando chuvas abundantes (1.537 mm/
ano) e bem distribuídas (RODRIGUEZ et al., 1991).
Os registros diários dos dados meteorológicos
referentes à temperatura máxima, mínima e média,
precipitação e umidade relativa do ar foram fornecidos
pela Estação Experimental da FEPAGRO (Fundação
Estadual de Pesquisa Agropecuária), situada no
município de Taquari, RS (distante cerca de 30 km do
local de estudo). Com base nestes registros, calcularam
os valores médios mínimos e máximos destes fatores para
cada estação (Tab. I).
As coletas foram realizadas em pomar de tangoreiro
Murcott (Citrus sinensis x Citrus reticulata), enxertado
sobre Poncirus trifoliata, com área de 0,6 ha e cerca de
370 plantas com 12 anos de idade. O espaçamento entre
plantas é de 3,5 m e nas entrelinhas é de 5 m.
Quinzenalmente, de maio de 2003 a maio de 2004,
foram realizadas amostragens na vegetação que cresce
espontaneamente entre as plantas de citros e nas
entrelinhas. Para o sorteio dos pontos, as plantas de citros
foram numeradas e, através do programa de números
aleatórios BioEstat
 
(AYRES et al., 2000), em cada ocasião
sortearam-se números que corresponderiam aos pontos
amostrais. Em cada ponto sorteado recolheu-se uma
unidade de amostra na linha e outra na entrelinha.Retirou-
se em cada ocasião 60 unidades de amostra, que
consistiram de todas as folhas com minas presentes num
círculo de 0,28 m2, delimitado por um aro de PVC com 60
cm de diâmetro, adaptação feita do método do quadrilátero
proposto por SOUTHWOOD (1978).
Para retirar a planta inteira utilizou-se uma pá de
jardineiro, e quando isto não era possível retiraram-se
apenas os ramos com o auxílio de uma tesoura de poda.
As plantas e/ou ramos recolhidos foram colocados,
individualmente, em sacos plásticos etiquetados, com
data de amostragem, número da planta de citros e
identificação da posição (entre plantas ou entrelinha).
Os sacos plásticos foram acondicionados em caixa de
isopor contendo termogel para o transporte até o
laboratório.
No laboratório, as folhas foram examinadas com o
auxílio de microscópio estereoscópio, registrando-se o
número de larvas e/ou pupas de dípteros minadores.
Posteriormente, as folhas de cada espécie vegetal foram
acondicionadas, individualmente, em placas de Petri de 9
cm de diâmetro e 1,5 cm de altura ou em caixas “gerbox”
de 11,2 cm de diâmetro e 3,4 cm de altura, as quais foram
mantidas em câmara climatizada (fotofase de 12 horas,
25°C ± 1°C) até a emergência dos adultos de minadores
e/ou de parasitóides. Para que as folhas permanecessem
túrgidas por um período maior, colocou-se no pecíolo
das mesmas, um chumaço de algodão umedecido,
molhado diariamente para favorecer o desenvolvimento
completo dos insetos. Com base nos adultos emergidos
foi possível associar as espécies com os imaturos
coletados.
Os parasitóides e os dípteros emergidos foram
conservados individualmente em recipientes tipo
“ependorff” contendo álcool 70%, e enviados a
especialistas para identificação.
A identificação em nível de família dos parasitóides
foi efetuada com o auxílio da chave dicotômica de GAULD
& HANSON (1995) e em nível genérico e/ou específico por
especialistas.
Fez-se uma coleção-referência dos insetos
coletados (dípteros minadores e seus parasitóides), a
qual se encontra no Departamento de Fitossanidade,
Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Os exemplares que foram
enviados para os especialistas encontram-se nas
coleções-referência dos mesmos.
Foram feitas exsicatas das plantas nas quais foram
encontrados os dípteros minadores, estas foram
identificadas com o auxílio da bibliografia (SMITH & DOWNS,
1972; CABRERA & KLEIN, 1989; KISSMANN & GROTH,
2000a,b,c; W3TROPICOS, 2004) e por comparação com o
acervo de plantas do herbário do Departamento de
Botânica da UFRGS. Essas exsicatas estão depositadas
no Departamento de Fitossanidade da UFRGS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante as 27 ocasiões de amostragem, coletaram-
se 521 larvas e 107 pupas de dípteros minadores e
registrou-se a emergência de 140 indivíduos, todos
pertencentes a Agromyzidae (incluídos em 15 espécies e
distribuídos nos gêneros Calycomyza, Liriomyza e
Agromyza). Foram obtidos 134 indivíduos parasitóides,
todos pertencentes a Hymenoptera, distribuídos em 15
espécies de três famílias: Eulophidae, Braconidae e
Figitidae (Tab. II).
No presente estudo verificou-se que a maioria das
espécies de minadores foi registrada em apenas uma
espécie de planta hospedeira sugerindo uma alta
especificidade minador/planta (Tab.II). Já em relação aos
parasitóides, não houve alta especificidade com o
hospedeiro (Tab. II).
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Tabela II. Dípteros minadores e seus respectivos parasitóides presentes em plantas de crescimento espontâneo em um pomar de
‘Murcott’, Montenegro, RS entre maio de 2003 e maio de 2004. ♦♦♦♦♦Não emergiram adultos; *Provavelmente trata-se de Liriomyza
baccharidis Spencer, 1963; **Provavelmente trata-se de Calycomyza eupatorivora Spencer, 1963; ***Provavelmente trata-se de
Calycomyza hyptidis Spencer, 1963.
Dípteros minadores Parasitóides Plantas hospedeiras
Família/Espécie Família/Espécie/Número de emergidos Família/Espécie/Nome comum
AGROMYZIDAE
¨
EULOPHIDAE POACEAE
Agromyza sp.♦♦♦♦♦ Chrysocharis sp. 1 (2) Brachiaria decumbens (capim braquiária)
Calycomyza sp. 1 BRACONIDAE- Centistidea sp. 1 (2); Opius ASTERACEAE
sp. 1 (2); Opius sp. 2 (6); Opius sp. 4 (1) Baccharis anomala (cambará-de-cipó)
EULOPHIDAE- Chrysocharis sp. 1 (4); Baccharis anomala
Chrysocharis sp. 2 (1); Chrysocharis tristis
Hansson, 1987 (1); Chrysocharis vonones
Walker, 1839 (1); Closterocerus coffeellae
Lhering, 1914 (4)
FIGITIDAE- Agrostocynips clavatus Diaz, Baccharis anomala
1976 (3)
Calycomyza sp. 2♦♦♦♦♦ Sem registro de parasitóides Bidens pilosa (picão-preto, picão-campo)
Calycomyza sp. 3♦♦♦♦♦ BRACONIDAE- Opius sp. 1 (4) Erechtites valerianifolia (capiçoba)
Calycomyza sp. 4** Sem registro de parasitóides Eupatorium inulifolium (eupatório, cambará)
Calycomyza sp. 5*** EULOPHIDAE- Chrysocharis sp. 1 (1); LAMIACEAE
Chrysocharis sp. 2 (1) Hyptis mutabilis (sambacaitá, bamburral)
BRACONIDAE CONVOLVULACEAE
Calycomyza ipomoea Opius sp. 2 (6); Opius sp. 1 (1) Ipomoea cairica
(Frost, 1931) EULOPHIDAE- C. vonones (3); C. coffeellae (2); Ipomoea cairica (corriola, corda-de-viola)
Closterocerus sp.(2); Chrysocharis sp. 1 (2);
Neochrysocharis sp. (1)
FIGITIDAE- A. clavatus (13) Ipomoea cairica
Calycomyza ipomoea Sem registro de parasitóides Ipomoea purpurea (campainha, jetirana)
MALVACEAE
Calycomyza malvae BRACONIDAE- Opius sp. 2 (1) Sida urens (guanxuma, vassourinha)
(Burgess, 1880) EULOPHIDAE- Chrysocharis sp. 2 (5); Sida urens
Chrysocharis sp. 1 (4); C. tristis (1)
FIGITIDAE- A. clavatus (14) Sida urens
Calycomyza mikaniae FIGITIDAE- A. clavatus (2) ASTERACEAE
Spencer, 1973 Mikania micrantha
Calycomyza sidae Sem registro de parasitóides MALVACEAE
Spencer, 1973 Sida rhombifolia (guanxuma, guanxuma-preta)
ASTERACEAE
Liriomyza sp. 1* BRACONIDAE- Centistidea sp. 2 (1) Baccharis anomala
EULOPHIDAE- C. coffeellae (3) Baccharis punctulata (cambará-cheiroso)
Liriomyza sp. 2 BRACONIDAE- Opius sp. 3 (1) Conyza bonariensis (buva)
EULOPHIDAE- C. coffeellae (2) Conyza bonariensis
Liriomyza sp. 3 Sem registro de parasitóides AMARANTHACEAE
Iresine diffusa (neve-da-montanha, paina)
Liriomyza commelinae BRACONIDAE- Opius sp. 1 (16); Centistidea COMMELINACEAE
Frost, 1931 sp. 1 (2); Opius sp. 5 (1) Commelina diffusa (trapoeraba, andaca)
EULOPHIDAE- C. vonones (3); Chrysocharis Commelina diffusa
sp. 2 (2); C. tristis (1)
FIGITIDAE- A. clavatus (6) Commelina diffusa
ASTERACEAE
Liriomyza mikaniae BRACONIDAE- Opius sp. 2 (4) Mikania micrantha (guaco, micania)
Spencer, 1977 FIGITIDAE- A. clavatus (2) Mikania micrantha
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Fig. 1. Número de larvas + pupas de Calycomyza sp. 1 amostradas
em plantas de crescimento espontâneo, em pomar de tangor
‘Murcott’ e número de adultos de Calycomyza sp. 1 e de parasitóides
emergidos em laboratório, por ocasião de amostragem de maio de
2003 a maio de 2004, Montenegro, RS.
Fig. 2. Número de larvas + pupas de Calycomyza ipomoea amostradas
em plantas de crescimento espontâneo, em pomar de tangor
‘Murcott’ e número de adultos de Calycomyza ipomoea e de
parasitóides emergidos em laboratório, por ocasião de amostragem
de maio de 2003 a maio de 2004, Montenegro, RS.
Verificou-se que Calycomyza sp. 1 ocorreu o ano
todo (Fig. 1) entretanto, o maior número de larvas e pupas
foi observado no inverno e na primavera (períodos em
que também foram registrados parasitóides emergidos
deste minador). No verão e no outono poucas larvas e
pupas deste minador foram amostradas e tampouco se
verificou a emergência de parasitóides. Dez diferentes
espécies de parasitóides emergiram de larvas e/ou pupas
de Calycomyza sp. 1, sendo a maioria eulofídeos (Tab.
II). Calycomyza sp. 1 foi encontrada apenas na asterácea
Baccharis anomala que ocorre no sul do Brasil (BARROSO
& BUENO, 2002) durante o ano todo (o que explica, em
parte, a coleta de larvas e pupas deste minadorem todas
as estações).
Calycomyza ipomoea (Frost, 1931) foi amostrada
em praticamente todo o período, com exceção do inverno
e início da primavera (Fig. 2). O mesmo foi observado em
relação aos parasitóides associados com esta espécie.
Oito espécies de parasitóides foram registradas
associadas com este minador, a maioria delas de
Eulophidae (Tab. II). Este minador esteve associado
somente com as convolvuláceas Ipomoea cairica e I.
purpurea, as quais ocorrem o ano inteiro (KISSMANN &
GROTH, 2000a). Portanto, o fato de não terem sido
coletados indivíduos no inverno pode estar relacionado
à prevalência de condições climáticas não favoráveis para
os indivíduos desta espécie neste período.
Calycomyza malvae (Burgess, 1880) ocorreu
praticamente durante o ano todo, exceto em boa parte do
inverno, bem como os seus parasitóides. No período em
que o maior número de larvas e pupas do minador foi
coletado (Fig. 3), obteve-se também o maior número de
parasitóides, sendo estes distribuídos em cinco espécies
(Tab. II). Este minador foi encontrado na malvácea Sida
urens, espécie que ocorre o ano inteiro (KISSMANN &
GROTH, 2000b), o que explica a ocorrência de larvas e
pupas em praticamente todo o período de estudo.
Verificou-se que Liriomyza commelinae Frost, 1931
foi encontrada em todas as estações, porém o número de
indivíduos foi bastante variável entre as ocasiões (menor
no inverno e no início do verão) (Fig. 4). As sete espécies
de parasitóides associadas a esta última foram registradas
nestas mesmas ocasiões (Fig. 4). A planta hospedeira
deste minador foi uma comelinácea, Commelina diffusa,
que ocorre o ano inteiro. Por conseguinte, a baixa
freqüência deste minador em determinadas ocasiões pode
estar relacionada com as condições climáticas. Esta
espécie de mosca minadora foi citada por CHÁVEZ (2003)
atacando as comelináceas C. diffusa, Commelina erecta
e Commelina sp. na Guatemala.
Em relação a outras espécies de Liriomyza,
verificou-se que Liriomyza sp. 1 foi amostrada em duas
ocasiões no inverno (duas larvas), e em apenas uma
ocasião na primavera (duas larvas), obtendo-se delas
somente duas espécies de parasitóides (Tab. II). As
plantas hospedeiras destes minadores foram as
asteráceas B. anomala e B. punctulata, que podem ocorrer
o ano inteiro, segundo BARROSO & BUENO (2002). Desta
maneira, acredita-se que as condições climáticas afetaram
mais a ocorrência deste minador, do que a planta
hospedeira.
Liriomyza sp. 2 foi encontrada sobre a asterácea
Conyza bonariensis em apenas uma ocasião no inverno
(18 larvas), duas na primavera (nove larvas) e uma no
verão (duas larvas e uma pupa). Em Liriomyza sp. 2
também foram observadas apenas duas espécies de
parasitóides (Tab. II). As coletas deste minador
coincidiram com o período de ocorrência da planta, que
germina com maior intensidade no final do outono e no
inverno, terminando o ciclo na primavera ou no verão.
Liriomyza sp. 3, que se encontrava sobre Iresine diffusa
(Amaranthaceae) foi obtida em todas as estações (cinco
larvas e duas pupas), porém, com baixa freqüência, apesar
da planta hospedeira ocorrer o ano todo, de acordo com
SMITH & DOWNS (1972). Não foram registrados
parasitóides nesse díptero.
Ao longo do período de estudo, adultos e larvas
de Liriomyza mikaniae Spencer, 1977 foram registrados
em apenas sete ocasiões e em pequena abundância,
comparado às demais espécies de minadores. Em quatro
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destas ocasiões constatou-se também a presença de
parasitóides (Fig. 5) de duas espécies (Tab. II). Observou-
se que a planta hospedeira deste minador, a asterácea
Mikania micrantha foi pouco abundante no inverno e
no outono, o que se deve à sua floração e frutificação
esporádica durante o ano (CABRERA & KLEIN, 1989). Assim,
explica-se em parte o baixo número de indivíduos de L.
mikaniae coletados nestas estações.
Em relação às demais espécies de Calycomyza,
amostraram-se, no verão duas larvas de Calycomyza sp.
2 em Bidens pilosa (Asteraceae) (Tab. II), sendo que esta
espécie vegetal ocorre durante todo o ano, porém, com
maior intensidade no verão (KISSMANN & GROTH, 2000a).
Encontraram-se nove larvas de Calycomyza sp. 3 em
Erechtites valerianifolia (Asteraceae) em apenas uma
ocasião de amostragem (primavera) e apenas uma espécie
de parasitóide associada (Tab. II). A baixa freqüência deste
minador pode ser explicada pelo fato de que E.
valerianifolia apresenta um período curto de
florescimento (aproximadamente 100 a 120 dias) (KISSMANN
& GROTH, 2000a).
Calycomyza sp. 4 foi encontrada em Eupatorium
inulifolium (Asteraceae) esporadicamente em duas
coletas no verão (sete larvas) e uma no outono (uma
larva); ambos períodos coincidem com a ocorrência da
planta hospedeira na região do estudo. Em Calycomyza
sp. 4 não foram encontrados parasitóides. Já Calycomyza
sp. 5 associada a Hyptis mutabilis (Lamiaceae) foi
observada no verão (oito larvas e três pupas) e no outono
(três larvas), das quais se obteve duas espécies de
parasitóides.
Calycomyza mikaniae Spencer, 1973 ocorreu
esporadicamente (um registro no final do outono, um no
final do inverno e dois na primavera) e, da mesma maneira
que para L. mikaniae, a planta hospedeira deste minador
foi M. micrantha. Associado a C. mikaniae registrou-se
uma espécie de parasitóide (Tab. II).
Foram obtidas apenas duas larvas de Calycomyza
sidae Spencer, 1973 (uma no outono e outra no verão) e
nenhum parasitóide foi registrado (Tab. II). A planta
hospedeira deste minador foi a malvácea Sida
rhombifolia, que tem ocorrência anual (KISSMANN &
GROTH, 2000b).
Agromyza sp. ocorreu em apenas duas ocasiões,
uma no outono (duas larvas) e a outra no verão (uma
larva) das quais foram obtidas duas espécies de
parasitóides. Este minador foi coletado em Brachiaria
decumbens (Poaceae), que segundo KISSMANN & GROTH
(2000c) é uma espécie perene.
Os resultados obtidos salientam a grande
especificidade dos dípteros minadores com suas plantas
hospedeiras corroborando o observado por SPENCER
(1996) de que este grupo é, provavelmente, mais
dependente da presença das plantas do que de condições
climáticas.
Os dados aqui obtidos evidenciam a grande
diversidade de espécies, tanto de dípteros minadores
como de himenópteros parasitóides, muitas das quais se
tratando, provavelmente, de novos registros e/ou de
Fig. 5. Número de larvas + pupas de Liriomyza mikaniae amostradas
em plantas de crescimento espontâneo, em pomar de tangor
‘Murcott’ e número de adultos de Liriomyza mikaniae e de
parasitóides emergidos em laboratório, por ocasião de amostragem
de maio de 2003 a maio de 2004, Montenegro, RS.
Fig. 3. Número de larvas + pupas de Calycomyza malvae amostradas
em plantas de crescimento espontâneo, em pomar de tangor
‘Murcott’ e número de adultos de Calycomyza malvae e de
parasitóides emergidos em laboratório, por ocasião de amostragem
de maio de 2003 a maio de 2004, Montenegro, RS.
Fig. 4. Número de larvas + pupas de Liriomyza commelinae
amostradas em plantas de crescimento espontâneo, em pomar de
tangor ‘Murcott’ e número de adultos de Liriomyza commelinae e
de parasitóides emergidos em laboratório, por ocasião de
amostragem de maio de 2003 a maio de 2004, Montenegro, RS.
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Dípteros minadores e seus parasitóides em plantas de crescimento...
Recebido em dezembro de 2005. Aceito em janeiro de 2007. ISSN 0073-4721
Artigo disponível em: www.scielo.br/isz
espécies ainda não descritas. Os resultados também
destacam o papel que as plantas de crescimento
espontâneo podem ter como refúgio e/ou hábitat para
seus inimigos naturais ou para hospedeiros destes. O
manejo adequado da vegetação espontânea em pomares
pode trazer como benefício a conservação de espécies
benéficas, que poderão agir como agentes de controle
natural daquelas consideradas pragas e auxiliar na
preservação de uma maior biodiversidade em
agroecossistemas.
Agradecimentos. Ao CNPq, pelas bolsas concedidaspara
o primeiro e segundo autores; ao Biólogo Luís Laux, por ter
cedido o pomar para realização do estudo; ao Dr. Thomas Michael
Lewinsohn (UNICAMP), pelo encaminhamento dos dípteros para
identificação; a Dr
a
. Graciela Valladares (Centro de Investigaciónes
Entomológicas de Córdoba, Argentina), pela identificação dos
dípteros minadores; ao Dr. Valmir Antônio Costa (Instituto
Biológico de Campinas), pela confirmação das identificações de
parasitóides; ao Dr. Christer Hansson (Department of Zoology,
University of Lund, Suécia), pela identificação dos parasitóides
de Chrysocharis, Neochrysocharis e Closterocerus; a Dra. Angélica
Maria Penteado-Dias (UFSCar), pela identificação dos parasitóides
de Opius; a Dra. Tânia Maria Guerra (UFSC), pela identificação
dos parasitóides de Centistidea; ao Dr. Jorge Anderson Guimarães
(EMBRAPA-CNPAT), pela identificação do parasitóide
Agrostocynips clavatus; às bolsistas de Iniciação Científica
(UFRGS), Rita de Cássia Antochevis e Ester Foelkel pela constante
ajuda na realização dos trabalhos de campo e de laboratório.
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