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Documento laudo perito criminal

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CHRISTUS 
 
CURSO DE ODONTOLOGIA 
 
CAMPUS BENFICA 
 
 
 
 
 
Laudo pericial Criminal 
 
 
 
 
 
 
Maria Eduarda Coutinho 
Paulo França 
Gabriel Cosme 
Kelly Vitória 
Gabriel Costa 
Karla Lima 
Monick Lara 
Rogger Cisne 
Ana Clara Rodrigues 
Maria Clara Macedo 
Júlia Bento 
Renan Lima Rezende 
Luiza Dayane 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fortaleza 
 
Junho/2023 
 
 
 
 
1. Laudo Pericial Criminal 
 
 
 
PREÂMBULO 
 
Adriana de Moraes Correira, brasileira, casada, professora universitária, titular 
de Odontologia Legal e Antropologia Forense da Perícia Forense do Estado do 
Ceará (PEFOCE), com sede na Avenida Presidente Castelo Branco, N° 
901, Fortaleza-CE, nomeada pela MM. Juíza de Direito da 5ª Vara Criminal 
Oficial de Justiça de Fortaleza-CE, recebeu a incumbência para realizar os 
exames periciais antropológicos de identificação humana na ossada encontrada 
no local requerido. Tendo aceite a incumbência, foi determinado o dia 25/05/23, 
às 15:30 na Perícia Forense Do Estado do Ceará(PEFOCE), para o início da 
perícia. 
 
Objetivo do exame 
Os exames periciais tem a finalidade de instruir os autos do processo nº 05/2023 
que tramita pela 5ª Vara Criminal de Justiça de Fortaleza-CE, tendo como 
requerente a delegada Patrícia Oliveira. 
 
QUESITOS 
1- A ossada é humana?; 
2- Qual o seu sexo!; 
3- Qual a sua idade?; 
4- Qual a sua estatura?; 
5- Qual a "causa mortis"? 
6- Qual a data aproximada em que ocorreu a morte?; 
7- Qual o instrumento ou meio que a produziu?; 
8- Foi produzido por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou 
outro meio insidioso ou cruel? 
 
HISTÓRICO 
 
No dia 01/04/2023, foi comunicado à autoridade policial competente a 
descoberta de uma ossadasemelhante ao esqueleto humano, localizada em um 
matagal nas dependências de uma propriedade privada na localidade de 
Feiticeiro, distrito de Jaguaribe no estado do Ceará. Segundo o relato do 
proprietário da terra, a ossada foi descoberta por seu animal de estimação 
(cachorro) que farejava a região e retornou com um osso longo e comprido, o 
que causou estranheza ao fazendeiro que logo foi verificar a região. Ao chegar 
no local havia um buraco feito pelo seu cachorro e com a ajuda de uma pá ele 
removeu o restante da terra e se deparou com alguns ossos, inclusive com um 
crânio. O fazendeiro logo entrou em contato com as autoridades policiais da 
região que foram até o localpara a constatação da ocorrência e acionaram a 
perícia forense do estado do Ceará para realizar a perícia no local e a retirada 
da ossada. Ao chegar no local o perito verificou que tratava-se de uma ossada 
incompleta, compatível com o esqueleto humano,apresentando sinais de 
intemperismo, sugerindo exposição prolongada ao meio ambiente, os 
fragmentos ósseos estavam parcialmente cobertos por terra em uma vala rasa. 
Foram realizados registros fotográficos da região e o material que consiste 
em um (1) crânio, uma (1) mandíbula, um (1) fêmur, uma (1) tíbia, um (1) úmero, 
uma (1) vértebra cervical, uma (1) vertebra lombar e uma (1) clavícula, foi 
posteriormente coletado. Esse material foi encaminhado para a sede 
da perícia forense do estado do Ceará localizada em Fortaleza-CE para ser 
realizada a uma análise antropológica para determinação de sexo, idade, 
etnia, estatura, identificação da vítima e avaliação da causa morte. 
 
 
 
 
 
DESCRIÇÃO DO EXAME (ANTROPOLÓGICO) 
 
Foi realizado um exame antropológico no dia 25.05.2023, na perícia forense de 
Fortaleza. Para tanto, o exame referido, foi iniciado com uma análise geral da 
ossada para identificar se a mesma estava completa ou incompleta e seria 
ossada humana ou animal. Através das características anatômicas da clavícula 
em formato de S, pode-se determinar que a ossada é humana. Com base no que 
foi visto, a ossada, composta por: 1 crânio, 1 fêmur, 1 tíbia, 1 úmero, 1 vértebra 
cervical, 1 vértebra lombar, 1 clavícula, 2 pélvis e 1 sacro, pode ser de um único 
indivíduo ou de 10, Visto que 10 ossos foram encontrados de forma separada. 
Supondo que os ossos sejam do mesmo indivíduo, acredita-se que seja do sexo 
masculino pelas características anatômicas apresentadas: Inserções 
musculares e arco supercíliado arredondado e premiênente, pelve com aspecto 
mais vertical e aberturas pélvicas menores, espinha isquiática mesializada e 
porção coxígea do sacro anteriorizado. Para a determinação da idade 
aproximada, foram analisados os dentes que apresentavam-se pouco utilizados, 
com nenhuma presença de lesões cariosas e restaurações, além disso, foi 
observado a presença de terceiros molares em posição vertical sem impactação 
mas não erupcionados, sutura temporoparietal com o fechamento incompleto, 
presença de epífise e diáfise de ossos longos separados, chegando a conclusão 
que o paciente teria aproximadamente 16 anos de idade. Por fim, não foram 
identificados nenhum evento sugestivo de causa de morte, a ossada analisada 
não apresentou nenhum sinal de tortura física. 
 
 
 
DISCUSSÃO 
 
A odontologia está muito além do consultório odontológico, está presente de 
diversas formas. Uma delas é na forma de perícia, onde objetiva trazer aos 
autos, provas materiais ou científicas que são obtidas por meio de procedimentos 
como: exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, mensuração, 
avaliação e certificação (ALMEIDA et al, 2019). 
No caso relacionado, a ossada mostrada foi identificada como humana, sendo 
sugestiva de um indivíduo do sexo masculino com uma idade média de 16 anos. 
Essa estimativa foi feita pela seguinte forma: análise dos dentes que estavam 
íntegros, presença e posição de terceiros molares (inclusos), aspecto da sutura 
escamosa (ainda não fusionada). Essa ossada se encontrava incompleta com 
apenas a presença dos seguintes ossos: 1 crânio, 1 fêmur, 1 tíbia, 1 úmero, 1 
vértebra cervical, 1 vértebra lombar, 1 clavícula (em forma de S), 2 pelves e 1 
Sacro. O destaque para a clavícula em formato de S, entrega uma das mais 
importantes informações no ambiente pericial, afinal, somente o ser humano tem 
essa característica. Ademais, não foi possível identificar nenhuma lesão de 
natureza punctória, incisa ou contusa (CAPP et al, 2017). 
O laudo pericial odontológico é uma ferramenta importante na investigação 
forense para determinar informações sobre uma pessoa a partir de seus restos 
mortais ou evidências dentárias. Ele pode fornecer estimativas de idade, altura, 
sexo, condição dental, causa da morte e outras características através de 
diversas técnicas e métodos (CAPP et lá.,2017). 
 
 
 
A idade estimada pode ser determinada por meio da análise do desenvolvimento 
dentário, erupção dentária, perda dentária e desgaste dental. Além disso, 
técnicas como análise de radiografias dentárias, tomografia computadorizada e 
exame microscópico do esmalte e dentina também podem ser utilizadas. Existem 
métodos específicos, como o método de Demirjian, que utiliza o 
desenvolvimento dental para estimar a idade em crianças. O método de 
Gustafson é utilizado para estimar a idade em adultos. Essas técnicas são 
amplamente utilizadas na odontologia forense (ALVES et al., 2012). Pode ser 
estabelecida com base na forma, aspecto, dimensões e espessura dos ossos 
(tabelas crono-estaturo- ponderal); pelo encontro de algumas patologias ósseas 
próprias de determinadas idades (osteoporose, espondiloartrose); por análise 
das suturas cranianas; pelo índice carpal (obtido pela observação dos pontos 
epífises de ossificação dos ossos do punho); pelo estudo da cronologia da 
erupção e/ou desgaste dos dentes e ainda, por outras técnicas (Paulete Vanrell, 
2002). 
A estimativa de altura é realizada por meio da análise das medidas dentárias. 
Existem várias fórmulas e técnicas disponíveis para calcular a altura aproximada 
a partir de diferentes elementos dentários, como os comprimentos das raízes 
dos dentes ou a relação entre a mandíbula e a altura do corpo. No entanto, é 
importante 
 
ressaltar que essas estimativas são aproximadase podem ter uma margem de 
erro significativa (ALVES et al.,2012). 
Este grande osso da porção superior do membro inferior (fêmur) não acompanha 
em uma linha vertical o eixo do corpo quando ereto. Contrariamente, posiciona-
se em um ângulo inclinado para baixo e para dentro. Sob tal ponto de vista, os 
dois fêmures configuram, aproximadamente, um "V". Devido maior largura da 
pelve, o ângulo de inclinação dos fêmures, e é maior no sexo feminino do que 
no masculino (AZEVEDO et al.,2008). 
A extremidade (epífise) superior do fêmur forma uma cabeça arredondada, que 
se projeta medialmente e para cima, articulando-se na cavidade cotilédones do 
osso ilíaco, formando a articulação coxofemoral. Esta cabeça continua-se com 
um colo, em cujo fim exibe os trocânteres maior e menor. Na face posterior do 
longo eixo da diáfise, localiza-se uma crista chamada linha pectínea, que é a 
área de inserção para diversos músculos do quadril (AZEVEDO et al.,2008). A 
extremidade inferior do fémur é alargada no côndilo lateral e mais ainda no 
côndilo medial, separados pela fossa intercondilar. O fêmur articula-se 
distalmente com a tíbia. A articulação do joelho assim formada aproxima-se da 
linha de gravidade do corpo (DARUGE et al.,2017). 
A análise da estatura por meio do fêmur pode ser realizada através de métodos, 
tais como: 
1. Método de Pearson: 
O método de Pearson é baseado na medição do comprimento do fêmur e na 
aplicação de uma fórmula estatística para estimar a altura. A fórmula geralmente 
usada é: Altura estimada (em centímetros) = comprimento do fêmur (em 
centímetros) x constante + valor adicional. A constante e o valor adicional podem 
variar dependendo da população ou do sexo do indivíduo. Esses valores são 
determinados por meio de estudos antropológicos em amostras de populações 
específicas (DARUGE et al.,2017). 
2. Método de Trotter e Gleser: 
O método de Trotter e Gleser é um método mais preciso e baseado em uma 
análise estatística de medidas do fêmur. Ele envolve a medição de várias 
características do osso, como o comprimento do fêmur, o diâmetro da cabeça do 
fêmur e o diâmetro do colo do fêmur. Essas medidas são inseridas em fórmulas 
estatísticas específicas para calcular a altura estimada (DARUGE et al.,2017). 
A determinação do sexo pode ser realizada por meio da análise de 
características sexuais presentes nos restos dentários, como a morfologia da 
mandíbula, características do osso do mento (queixo), rugosidades palatinas e 
 
dimensões dentárias. No entanto, a determinação do sexo baseada apenas em 
características dentárias pode ter uma precisão limitada, sendo mais eficaz 
quando combinada com outras técnicas de análise de restos mortais (AZEVEDO 
et al.,2008). A análise da condição dental pode fornecer informações valiosas 
sobre os hábitos de higiene bucal, dieta, cuidados médicos e características 
socioeconômicas da pessoa. Além disso, a presença de restaurações dentárias, 
tratamentos endodônticos, cáries, doença periodontal e desgaste dental pode 
ajudar a determinar a idade aproximada da pessoa e fornecer evidências sobre 
sua saúde bucal ao longo da vida (CUNHA et al.,2019). Já a análise dos restos 
dentários pode fornecer informações sobre a causa da morte em certos casos, 
como traumas ou patologias dentárias. Marcas de fraturas, abscessos, doenças 
periodonto (CUNHA et al.,2019). 
 
 
CONCLUSÃO 
 
Diante do supracitado, estão os peritos criminais,signatários do presente 
documento, de acordo ao afirmar que a ossada examinada é de um ser humano, 
do sexo masculino, com idade e estatura aproximadas de 16 anos e 1,7 metros, 
respectivamente. Não foi encontrado nenhum evento sugestivo de morte nos 
ossos examinados, não sendo possível estabelecer a “causa mortis”, tornando-
a indetermina ou suspeita. 
 
 
 
 
 
RESPOSTAS AOS QUESITOS 
 
1. A ossada é humana? 
 
A ossada é humana, pois a clavícula em formato de S, somente o corpo 
humano possui. A ossada está incompleta, composta por 1 crânio, 1 
fêmur, 1 tíbia, 1 úmero, vértebra cervical, vértebra lombar, clavícula, 2 
pelves e 1 Sacro. 
 
2. Qual o seu sexo? 
Sugestiva para o sexo masculino. No homem a pelve é mais estreita e o 
forame triangular é profundo. Além das inserções musculares e arco 
superciliado proeminentes. 
 
3. Qual sua idade? 
 
Pelos dentes que estavam integros, terceiros molares inclusos, a sutura 
escamosa ainda não tinha fechado, sugestivo para aproximadamente 16 
anos. 
 
4. Qual a sua estatura? 
 
O fêmur presente na ossada encontrada possuía 45,2 cm, portanto, a 
estatura do corpo é de aproximadamente 1,70m. 
 
5. Qual a “causa mortis”? 
 
 Não há lesões na ossada, desta forma não há como identificar a “causa 
mortis”. 
6. Qual a data aproximada em que ocorreu a morte? 
 
Indeterminada, não há elementos necessários para realizar essa 
aproximação. 
 
7. Qual instrumento ou meio que a produziu? 
 
 Não tinha nenhum indicativo de instrumento ou meio que produziu. 
 
8. Foi produzido por meio de veneno, fogo, explosivos, asfixia, tortura 
ou outro meio insidioso ou crual? 
 
Não há indicação de crueldade na ossada, não sendo possível 
estabelecer a “causa mortis”. 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS: 
1. ALMEIDA JÚNIOR, E. A. et al. Investigação do sexo e idade por meio de 
mensurações no palato duro e base de crânios secos de adultos. Rev. Ciênc. 
Méd. Biol., Salvador, v. 15, n. 2, p. 172-177, 2016. DOI: 
http://dx.doi.org/10.9771/cmbio.v15i2.14380. Disponível em: 
<https://portalseer.ufba.br/index.php/cmbio/article/view/14380>. Acesso em: 05 
jan. 2019. 
2. ALVES, C. F. P. Estimativa do sexo através de características métricas da 
mandíbula. 2012. 62 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Legal e Ciências 
Forenses) - Faculdade de Medicina – Universidade de Coimbra, Coimbra, 2012. 
3. AZEVEDO, J. M. C. A. A eficácia dos métodos de diagnose sexual em 
antropologia forense.2008. 122 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Legal 
4.CAPP, T. T. L. Análise da variabilidade métrica dos parâmetros de antropologia 
forense para estimativa do sexo de duas populações: escocesa e brasileira. 
2017. 192f. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Odontologia – 
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. 
5.CUNHA, E. Considerações sobre a antropologia forense na atualidade. Rev. 
Bras. Odontol. Legal, v. 4, n. 2, p. 110-117, 2017.DOI: 
http://dx.doi.org/10.21117/rbol.v4i2.133. Disponível em: 
<https://portalabol.com.br/rbol/index.php/RBOL/article/view/133>. Acesso em: 
15 jan. 2019. 
6. Daruge E, Daruge Júnior E, Francesquini Júnior L. Tratado de odontologia 
legal e deontologia. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017. 
 
7. Paulete Vanrell J. Odontologia legal e antropologia forense. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 2002.

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