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Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental CEFALEIA NA INFÂNCIA 1. INTRODUÇÃO Sintoma de alta prevalência → 40 a 75%; aumento diretamente proporcional a idade; 7 a 10 anos predomina sexo masculino; 10 a 15 anos predomina sexo feminino; 14% cefaleia recorrente forte intensidade sendo muitas vezes incapacitantes, fazendo a criança perder aulas e atividades em geral; Enxaqueca prevalece entre 2 e 10%; OMS: entre as 20 condições mais debilitantes; 2. ESTRUTURAS CEFÁLICAS COM SENSIBILIDADE A DOR Pele do couro cabeludo e vasos sanguíneos; Músculos do couro cabeludo e pescoço; Mucosas seios face, dentes, periósteo; Artérias carótida externa e ramos; Seios venosos intracranianos e tributários; Parte da dura-máter da base do crânio; Artérias da dura-máter e meníngeas; Artérias da base do crânio (círculo Willis); V, VII, IX, X nervos cranianos; Nervos cervicais altos. 3. CLASSIFICAÇÕES CLASSIFICAÇÃO TEMPORAL Aguda emergente 1ª crise de enxaqueca, hemorragia intracraniana aguda, HAS, infecção sistêmica, sinusite, celulite, glaucoma agudo, neurite óptica, dissecção arterial aguda, intoxicações, processos alérgicos, hidrocefalia aguda, trauma craniano, meningite, encefalite, TVC, arterite. Aguda recorrente Enxaqueca, cefaleia em salvas, neuralgia trigeminal (pouco frequente em crianças), hemorragia subaracnóidea (MAV), febre, HAS, anóxia, anemia, altitude, esforço, pré e pós crises convulsivas, causas endócrinas, reação vasomotora nasal, alimentação, a frigore, hidrocefalia intermitente. Crônica progressiva Hematoma subdural, tumor, abscesso cerebral, doenças coluna cervical, doenças transição occipitocervical, sinusite, hipotensão liquórica, ATM, drogas, infecções SNC (geralmente em imunodeprimidos), anormalidades metabólicas. São processos expansivos que levam a hipertensão intracraniana. Crônica não progressiva Enxaquecas e cefaleias tensionais, estados psiquiátricos, uso abusivo analgésicos, pseudotumor cerebral (mimetiza uma HIC na ausência de um tumor) CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL ICHD-3 beta, Cephalalgia, vol 33 – 2013 → 14 capítulos: 4 p/ cefaleias primárias, 8 p/ secundárias, 2 p/ neuralgias cranianas, dor facial primária e central; 45 tipos e subtipos de cefaleias primárias e 120 secundárias, 29 causas de algias craniofaciais; Links: https://www.ichd-3.org/ | http://www.ihs-headache.org/binary_data/2086_ichd-3-beta-versao-ptportuguese.pdf Primária Enxaqueca / migrânea; com ou sem aura (visual, auditiva, etc) Cefaleia tensional; em salvas e trigêmino autonômicas; Outras cefaleias primárias; Secundária Trauma; infecções; uso de substâncias ou privação Perturbações: ● Vascular craniana ou cervical; ● Intracraniana não vascular; ● Da homeostase alterações hidroeletrolíticas; ● Do crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, dentes, boca, seios paranasais ou outras estruturas cranianas ou faciais; ● Psiquiátrica. 4. ABORDAGEM CLÍNICA Anamnese: ● Duração da cefaleia; ● Localização → hemicraniana, holocraniana, frontal ● Qualidade ou tipo da dor; ● Intensidade da dor → criança para de brincar? ● Fenômenos associados; ● Frequência e duração da dor ○ HIC: dor matinal + vômitos em jato ○ Enxaqueca e cefaléia tensional tendem a aparecer no fim do dia ● Horário preferencial e modo de início; ● Fatores precipitantes, de piora e de alívio; ● Uso medicamentos, tratamentos anteriores; ● Histórico escolar; ● Antecedentes pessoais e familiares → enxaqueca tem tendência genética https://www.ichd-3.org/ http://www.ihs-headache.org/binary_data/2086_ichd-3-beta-versao-ptportuguese.pdf Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental Exame físico: ● Crânio: perímetro cefálico, percussão seios face, ATM; ● Pescoço: sinais meníngeos, musculatura cervical (tigger points — “bolinhas”), pontos de gatilho; ● Coluna: deformidades como escoliose; ● Pele: neuroectodermoses ○ Neurofibromatose → > 6 manchas café com leite com > de 0,5mm, sardas axilares, presença de neurofibromas, condição autossômica dominante. ○ Esclerose tuberosa → manchas hipocromicas e adenomas sebáceos que podem cursar com tumores cerebrais ● Pressão arterial Exame neurológico: ● Sinais localizatórios → paresia, estrabismo, paralisia de par craniano, edema de papila ● Exame neuroftalmológico → coordenação, força, marcha, estado do nível de consciência Exames subsidiários: ● RX de crânio, seios da face e coluna ● LCR → quadros infecciosos (meningite, encefalite) ● EEG → dúvida de cefaleia pós-crítica, quadros convulsivos ou cefaleia primária; ● Exames hematológicos → hipoglicemia pode cursar com cefaleia ● TC e RNM de crânio ● Angiografia cerebral se já teve quadros de hemorragia; ● PET / SPECT 5. CRITÉRIOS DE INVESTIGAÇÃO ● História não sugestiva de cefaleia primária; ● Mudança de característica de cefaleia crônica; ● Sinais neurológicos anormais ● Sinais inespecíficos de instalação recente; ● Despertar noturno por cefaleia; ● Crises convulsivas, focais; ● Febre alta associada; ● Sintomas vasculares precedendo crises; ● Cefaleia em salvas ou crianças ≤ 5 anos; ● Sinais focais durante cefaleia que permanecem; ● Escurecimento visual no pico da cefaleia ● Estado enxaquecoso resistente à medicação, ● Cefaleia de esforço; ● Cefaleia associada à infecção pelo vírus HIV. 6. ENXAQUECA / MIGRÂNEA Reação neurovascular anormal que ocorre em organismo geneticamente vulnerável e se exterioriza, clinicamente, por episódios recorrentes de cefaleia e manifestações associadas que geralmente dependem de fatores desencadeantes. Episódio enxaquecoso: sintomas premonitórios → aura → fase álgica → resolução → quadro pós-crítico ou de recuperação. Status enxaquecoso: crise de enxaqueca que perdura > 24h Fatores predisponentes: ● Hereditariedade; ● Fatores psíquicos (ansiedade, trauma emocional, momento de estresse, depressão); ● Modificações ciclo sono-vigília; ● Alimentos → fritura, açúcar, molho de tomate, shoyu, chocolate; ● Jejum prolongado ● Uso de medicamentos; ● Modificações hormonais; ● Exposição a odores fortes, estímulos luminosos; ● Exercícios físicos intensos; ● Movimentos de aceleração da cabeça; ● Ingestão de bebidas alcoólicas. Classificação: ● G43.0 Sem aura ● G43.1 Com aura: ○ Típica com cefaleia enxaquecosa; ○ Típica com cefaleia não enxaquecosa; ○ Típica sem cefaleia; ○ Hemiplégica familiar; ○ Hemiplégica esporádica; ○ Tipo basilar ● G43.82 Síndromes periódicas da infância: ○ Vômitos cíclicos; ○ Enxaqueca abdominal; ○ Vertigem paroxística benigna da infância. ● G43.81 Enxaqueca retiniana. ● G43.3 Complicações da enxaqueca (status, infarto). ● G43.82 Enxaqueca provável. ○ Quando não se encaixa em nada. Enxaqueca sem aura Mais frequente tipo de enxaqueca; pelo menos cinco crises de cefaléia durante 1 a 72h, nos últimos 6 meses. Pelo menos duas das seguintes características: ● Localização unilateral (bilateral ou frontotemporal); ● Caráter pulsátil; ● Intensidade moderada a forte; ● Exacerbada ou levando o paciente a evitar atividade física Durante a cefaleia pelo menos um dos seguintes: náuseas e/ou vômitos; fotofobia e fonofobia. Não atribuída a outro transtorno Pelo menos 2 crises preenchendo os seguintes critérios: Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental Enxaqueca com aura -Aura com no mínimo uma das características: ● Sintomas visuais e sensitivos reversíveis; ● Disfasia totalmente reversível -Ao menos dois dos seguintes: ● Sintomas visuais homônimos e/ou sensitivos unilaterais; ● Ao menos um sintoma de aura que se desenvolve gradualmente entre 5-20 minutos e dura < 1h; ● Duração entre 5 e 20 minutos -Cefaleia com características de enxaqueca sem aura sucede os sintomas da aura centro de 60 minutos. -Não atribuída a outro transtorno. Enxaqueca basilar Migrânea com aura → duas crises preenchendo os seguintes critérios: -Aura constituída por 2 ou mais dos seguintes sintomas: ● Sintomas visuais homônimos; ● Disartria; ● Vertigem; ● Zumbido; ● Hipoacusia; ● Diplopia; ● Ataxia; ● Parestesias ou paresias bilaterais; ● Diminuição do nível de consciência. -Ao menos um dos seguintes:● Um sintoma de aura desenvolve-se dentro de ≥ 5 min e/ou sintomas de aura diferentes sucedem ≥ 5 min. ● Sintoma de aura dura ≥ 5 min e ≤ 60 min. 7. SÍNDROMES PERIÓDICAS DA INFÂNCIA Vertigem paroxística benigna Episódios esporádicos, breves e múltiplos de desequilíbrio, ansiedade e frequentemente nistagmo ou vômitos com exame neurológico e EEG normais. Geralmente em crianças pequenas, ficam se agarrando às pernas dos pais Normalmente a criança que tem vertigem paroxística evolui para uma enxaqueca Enxaqueca abdominal e vômitos cíclicos Cefaleia moderada ou ausente, dor abdominal alta, náusea, vômito, extremidades frias, calafrios, bradicardia e outros distúrbios autonômicos. Pacientes que vêm de um gastro e já fez inúmeros tratamentos sem sucesso 8. CEFALEIA TENSIONAL Cefaleia tensional Mais frequente tipo de cefaleia; ● Episódica infrequente se < 1 / mês; ● Episódica frequente se 1 a 15 / mês; ● Crônica se > ou = 15 dias. Ao menos 10 episódios preenchendo critérios abaixo que ocorrem no mínimo nos últimos 3 meses. Duração de 30 minutos a 7 dias. ● Ao menos duas das seguintes características: ○ Caráter em aperto ou pressão; ○ Intensidade fraca ou moderada que limita, mas não impede atividades; ○ Localização bilateral; ○ Não agravada por atividades físicas de rotina. ● Ambos os itens a seguir: ○ Ausência de aura, náuseas ou vômitos; ○ Ocasionalmente foto ou fonofobia. ● Não atribuída a outro transtorno. 9. CEFALEIA PÓS-TRAUMÁTICA Para essa classificação, deve ser trauma com repercussão, em que a dor aparece nas próximas duas semanas; a dor é aguda se desaparece em 2 meses ou crônica se fica por mais de 2 meses; em geral se resolve em 6 meses. Aguda: ● Trauma craniano importante documentado por: ○ Perda da consciência ou ○ Amnésia pós-traumática > 10 minutos ou ○ Ao menos dois dos seguintes itens revelam anormalidades relevantes: exame clínico / neurológico, Rx crânio, neuroimagem, potenciais evocados, LCR, provas de função vestibular, testes neuropsicológicos. ● Cefaleia ocorre dentro do período de 14 dias após recuperação da consciência ou o trauma. ● Desaparece após oito a doze semanas. Crônica: ● Persiste por mais de oito semanas após a recuperação da consciência ou após trauma. ● Curso benigno e usualmente resolve em 6 meses Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental 10. RECOMENDAÇÕES TERAPÊUTICAS PARA CEFALEIAS PRIMÁRIAS Medidas gerais: evitar fatores desencadeantes; tratar doenças concomitantes; aconselhar atividade física moderada; regular padrão de sono; Abordagem compreensiva e individualizada; educação e orientação do paciente quanto a natureza do diagnóstico e automanejo da crise Utilização de diário para registro de crises → dia / mês; hora de início, duração, sintomas associados, fatores de piora e alívio. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Droga Dose Via Paracetamol 10 a 15mg/kg/dose 4/4h VO Dipirona 6 a 10mg/kg/dose 1 a 3g/dia VO, IM, EV, VR Ibuprofeno 10 a 20mg/kg/dose 6/6h VO Ácido acetilsalicílico 7 a 10mg/kg/dose 4/4h VO Metoclopramida 0,1 a 0,2mg/kg/dose 8/8h VO, IM, EV, VR Naproxeno 2,5 a 5mg/kg/dose 6/6h VO Isometepteno 1g/kg/dose VO Mesilato de dihidroergotamina 0,02 a 0,04mg/kg/dose 8/8h VO Tartarato de ergotamina 0,04 a 0,08mg/kg/dose 8/8h VO Diclofenaco sódico 0,3 a 1mg/kg/dose 8/8h VO, VR, IM Sumatriptano 10 a 20mg (adolescentes) 3 a 6mg/dose IN SC Zolmitriptano 2,5mg/dose (adolescentes) VO Dexametasona 0,25mg/kg/dose EV Clorpromazina 0,25mg/kg 6/6h VO, VR Diazepam 0,2-0,3mg/kg/dose EV 11. PROFILAXIA MIGRÂNEA A expressão clínica da doença modifica-se no mesmo doente nos vários momentos considerados. Objetivos: aliviar sofrimento, melhorar qualidade de vida, evitar incapacidade temporária e uso prolongado (e abusivo) de analgésicos (efeitos adversos x cefaleia crônica diária) Critérios: ● Frequência das crises: três ou mais quatro crises/mês; ● Grau de incapacidade importante; ● Falência da medicação abortiva; ● Subtipos especiais de enxaqueca – basilar, hemiplégica, com aura prolongada, com auras frequentes e atípicas (enxaquecas complicadas); ● Ineficácia da profilaxia não medicamentosa. Tempo de tratamento mínimo de seis meses. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO PROFILÁTICO Droga Eficácia Efeitos colaterais ou contraindicações Betabloqueadores propranolol 2-4 mg/kg/d ++++ Cansaço, extremidades frias depressão / asma, diabetes, alterações na condução nó AV NÃO USAR EM ASMÁTICOS Antagonistas cálcio flunarizina 10mg/d +++ Sedação, ganho de peso, depressão / transtornos depressivos, parkinson Inibidores serotonina ciproeptadina 2-8mg/kg/d ++ Ganho de peso, sedação / obesidade, glaucoma, hepatopatia Antidepressivos amitriptilina 0,25-1 mg/kg/d ++ Sedação, constipação, boca seca, ganho de peso / glaucoma, epilepsia, arritmia Antiepilépticos Valproato sódio 10-15 mg/kg/d; Topiramato 1-10 mg/kg/d +++ Valpro: ganho de peso, queda cabelo, hepatotoxicidade / hepatopatia Topi: nefrolitíase, glaucoma, perda de peso
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