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1 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S 2 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S 3 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu- ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S 6 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professoras: Sirlene Aparecida Sarvin Tsukamoto Emiliana Cristina Melo Maria José Quina Galdino 7 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S Esta unidade analisará os conceitos do trabalho e trabalha- dor, bem como as políticas de saúde do trabalhador. Tratou-se o tema partindo da história do trabalho no mundo até sua concepção no Bra- sil. Os eixos das conferências nacionais de saúde do trabalhador fo- ram esmiuçados a fim de se compreender a trajetória da saúde do trabalhador. Trata-se de um estudo realizado a partir da revisão siste- mática da literatura. Justifica-se este estudo devido à importância do conteúdo para o curso de pós-graduação em Saúde do Trabalhador direcionado às políticas públicas neste âmbito. Considera-se que o desenvolvimento das ações de saúde do trabalhador não representa algo novo, a ser anexado à agenda das equipes, mas busca incorpo- rar competências, conhecimentos, habilidades e atitudes relativas ao cuidado à saúde do trabalhador, nas práticas cotidianas. A Enferma- gem do Trabalho caracteriza-se por um conjunto de ações educativas, preventivas e assistenciais, que visam proporcionar mecanismos que interfiram direto ou indiretamente no processo de trabalho, saúde e ou adoecimento dos trabalhadores, no sentido de promover conheci- mentos para prevenir os adoecimentos, mantendo a prevenção para promover a saúde dos trabalhadores. Trabalho. Saúde do Trabalhador. Políticas de Saúde do Trabalhador. 9 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 HISTÓRIA DO TRABALHO Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 13 36 20 Conceitos de Trabalho e Trabalhador ___________________________ Saúde do Trabalhador – Conceitos, Objetivos e Finalidade _______ Consolidação das Leis do Trabalho _______________________________ CAPÍTULO 02 POLÍTICAS PÚBLICAS NO CAMPO DA SAÚDE Iniciativas Direcionadas à Saúde do Trabalhador ________________ 33 27Recapitulando ________________________________________________ 36Conferências Nacionais de Saúde do Trabalhador _______________ Recapitulando _________________________________________________ 60 CAPÍTULO 03 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E TRABALHA- DORA RENAST – Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Traba- lhador ________________________________________________________ 64 CEREST – Centro de Referência à Saúde do Trabalhador _________ 67 Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde __ 69 10 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S Recapitulando __________________________________________________ 78 Fechando a Unidade ____________________________________________ 82 Referências _____________________________________________________ 87 Enfermeiro do Trabalho _________________________________________ 75 11 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S A palavra Trabalho está relacionada com alguma atividade ou serviço desempenhado por um indivíduo que exige ou não esforço físico. É através do trabalho que o homem se relaciona com a na- tureza, com grupos sociais, com a família. O labor produz significado da existênciae do sentido de vida. Contudo, o trabalho na atualidade ocupa de tal forma um espaço no desejo do indivíduo, que os mesmos buscam somente neste papel o sentido de suas vidas, deixando muitas de lado sua saúde física e psíquica. Num primeiro momento deste estudo serão colocados os con- ceitos do trabalho, do trabalhador, bem como dados históricos a respei- to do tema. Entender a dinâmica do trabalho e suas consequências para vida do trabalhador faz com que se entenda o porquê da necessidade de políticas públicas neste sentido. A Organização Internacional do Trabalho sempre preocupada com a questão de proteção ao trabalhador permanece há quase um século, na defesa dos direitos dos trabalhadores, acreditando em um mundo mais jus- tiça e paz passa pela questão da proteção ao trabalho e aos trabalhadores, observados parâmetros mínimos internacionalmente estabelecidos. No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) apresen- ta-se com o objetivo principal de proteger o trabalhador, com base no princípio da proteção. Esse princípio serve para diminuir a relação de de- sigualdade de poder que existe entre o trabalhador e o seu empregador. A CLT é composta por oito capítulos que abrangem e especifi- cam direitos de grande parte dos grupos trabalhistas brasileiros. Em seus artigos fornece informações como: identificação profissional, jornada do trabalho, salário mínimo, férias anuais, segurança e medicina do trabalho, proteção ao trabalho da mulher e do menor, previdência social. Será abordada também a Reforma Trabalhista, que aprovada em 2017, traz as perspectivas de: terceirização do trabalho, jornada de 12 horas para qualquer categoria, teletrabalho, redução do horário de refeição para 30 minutos, grávida e lactante trabalhar em locais de insa- lubridade média ou reduzida. O relatório da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, já apontava que o trabalho em condições dignas, o conhecimento e o controle dos trabalhadores sobre processos e ambientes de trabalho é um pré-requisito central para o pleno exercício do acesso à saúde. A Saúde do Trabalhador passa a ser um direito constitucional e universal no art. 200 da Constituição Federal de 1988 coloca que ao SUS compete, dentre outras atribuições, nos termos da lei: Inciso II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; Inciso VIII – colaborar na proteção do meio 12 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S ambiente e nele compreendido o do trabalho. Considera-se a saúde do trabalhador complexa em nível de definição, pois engloba vários aspectos além da saúde propriamente dita como: emprego, assistência à saúde, lazer, informação, bem-estar psíquico, físico e social. O entendimento de que saúde dos trabalhadores extrapola os limites da saúde ocupacional possibilita conceituá-la como resultante de um conjunto de fatores de ordem política, social e econômica. Em resu- mo, saúde dos trabalhadores significa: condições dignas de vida; pleno emprego; trabalho estável e bem remunerado; oportunidade de lazer; organização livre, autônoma e representativa de classe e informação sobre todos os dados que digam respeito aos direitos. A Política Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador (PNSST) propôs: ampliação das ações de saúde e segurança do trabalha- dor, visando à inclusão de todos os trabalhadores brasileiros no sistema de promoção e proteção da saúde; harmonização das normas e articulação das ações de promoção, proteção e reparação da saúde do trabalhador; precedência das ações de prevenção sobre as de reparação; estruturação da rede integrada de informações em saúde do trabalhador; reestrutura- ção da formação em saúde do trabalhador e em segurança no trabalho e incentivo à capacitação e à educação continuada dos trabalhadores res- ponsáveis pela operacionalização da PNSST; e promoção de uma agenda integrada de estudos e pesquisas em segurança e saúde do trabalhador. Dada a relevância das políticas públicas direcionadas à saú- de do trabalhador, a enfermagem do trabalho ocupa papel fundamental nas ações educativas, preventivas e assistenciais, que visam propor- cionar mecanismos que interfiram direto ou indiretamente no processo de trabalho, saúde e ou adoecimento dos trabalhadores, no sentido de promover conhecimentos para prevenir os adoecimentos, mantendo a prevenção para promover a saúde dos trabalhadores. 13 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S CONCEITOS DE TRABALHO E TRABALHADOR “Todo trabalho supõe tendência para um fim e esforço” (ALBORNOZ, 1994) A palavra Trabalho deriva do latim tripalium ou tripalus, uma ferramenta de três pernas que imobilizava cavalos e bois para serem ferrados. A propósito era também o nome de um instrumento de tortura usado contra escravos e presos, que originou o verbo tripaliare cujo HISTÓRIA DO TRBALHO P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S 13 14 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S primeiro significado era "torturar". (CELIS, 2003) Considerado uma atividade humana, individual ou coletiva, de caráter social, dinâmica, oscilante, o trabalho, que se distingue de qualquer outro tipo de prática animal por sua natureza desatenta, cons- ciente, moral e estratégica, é considerado complexo e exige diferentes olhares para sua compreensão. (COUTINHO, 2009; NEVES et al, 2018) Através do trabalho, o homem se relaciona com a natureza, constrói sua realidade, inclui-se em grupos sociais, atua em papéis e finalmente promove a perpetuação de sua existência. Por viabilizar a relação dos indivíduos com o meio, em um dado contexto, o trabalho expressa-se como incessante fonte de construção de subjetividade, produzindo significado da existência e do sentido de vida. Contudo, o trabalho na pós-modernidade ocupa de tal forma um espaço no desejo do indivíduo, que as pessoas buscam somente neste papel o sentido de suas vidas, inviabilizando a autorrealização plena do ser humano. O trabalho é visto pelas pessoas de acordo com a interação existente entre eles e a interpretação decorrente das mudanças ao lon- go dos anos no mundo do mesmo. Tais mudanças definem novas prá- ticas de produção, bem como podem gerar a precarização do trabalho, desvalorização de suas relações e o avanço do desemprego. (PEREI- RA; MUNIZ; BRITO, 2009) Filme sobre o assunto: Ladri di Biciclette – Vittorio de Sic- ca – 1948 Metropolis – Fritz Lang – 1927 O Capital – Costa Gravas - 2012 A busca de uma vida dotada de sentido a partir do trabalho per- mite explorar as conexões decisivas existentes entre trabalho e liberdade. Uma vida desprovida de sentido no trabalho é incompatível com uma vida cheia de sentido fora do trabalho. Dessa forma, para que haja uma vida do- tada de sentido é necessário que o indivíduo encontre realização no labor. O trabalho se for autônomo, também será provido de sentido ao possibilitar o uso independente do tempo livre que o ser social necessita para se hu- manizar e se emancipar em seu sentido mais profundo. (ANTUNES, 2000) O trabalho é um fator determinante para a saúde da população, bem como as condições de alimentação, habitação, educação e renda, e como consequência disso passou a ser determinado que o Estado fi- 15 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S casse responsável pela a execução das ações de saúde do trabalhador. (BRASIL, 1988) Posicionadoem lugar essencial na vida, o labor, torna-se eixo entre investimentos e apreensão individual e coletiva, proporciona ren- da, inclusão social. Também exerce um papel de grande importância na autorrealização do ser humano, assim como contribui para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, proporcionando atingir metas e objetivos. (MONTEIRO, 2014; NEVES et al, 2018) Segundo o Ministério da Saúde, o trabalho ocupa papel orga- nizador na vida das pessoas. Possibilita ao indivíduo a possibilidade de obter formação técnica, política, cultural, estética e artística, além de constituir possível fonte de realização, de desenvolvimento de habilida- des, de crescimento e satisfação. (BRASIL, 2010) Descrito como característica humana, o trabalho é estrutura- do na forma de processo: primeiro é idealizado pelo homem, onde o mesmo emprega suas forças, apropria-se dos recursos da natureza e, então, transforma a realidade. (MARX, 2009) O labor é capaz de ser considerado um dos valores fundamen- tais do ser humano e ainda exerce um papel importante na constituição da sua autorrealização, de suas subjetividades e de sua sociabilidade, bem como contribui para o desenvolvimento de sua identidade, pro- porciona renda e sustento, possibilita atingir metas e objetivos de vida, possibilita demonstrar suas ações, iniciativas e habilidades, podendo, dessa forma, ser considerada uma categoria fundante do ser humano, à medida que este só pode existir trabalhando. (NEVES et al, 2018) Assim como proporciona prazer e realização, o trabalho pode representar castigo, estigma, coerção, esforço e penalidade e como mera função instrumental a serviço da sobrevivência material, a qual cabe dedicar toda e só a atenção necessária para o alcance desse ob- jetivo. (BLANCH, 2003) O trabalho pode ter um efeito protetor, ser promotor de saúde, mas também pode causar mal-estar, sofrimento, adoecimento e morte dos trabalhadores, aprofundar desigualdades e a fragilidades das pes- soas e das comunidades e produzir a desgaste do ambiente. Esta visão do trabalho enquanto determinante social de saúde e doença orienta este capítulo que apresenta elementos para reconhecer e lidar com os agravos relacionados ao trabalho. (BRASIL, 2018) As situações que geram sofrimento são normalmente, as que exigem aumento do ritmo de trabalho, pressão, constrangimentos (entre chefe e trabalhador) das mais diversas formas que são suportadas e toleradas pelos trabalhadores. (CHAGAS; REIS, 2014) As condições de trabalho que predispõem as cargas laborais 16 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S evidenciam as consequências na saúde da equipe de enfermagem por meio dos adoecimentos, que se manifestam através de afastamento, desgastes físicos e emocionais e estresse. A relação entre o trabalho desenvolvido e o processo saúde- -doença necessita de um olhar mais aprofundado, pois os efeitos nega- tivos na saúde consequentes do trabalho são geralmente evidenciados nos acidentes e doenças relacionadas ao labor. (BRASIL, 2018) A nocividade do trabalho pode estar relacionada a insumos e matérias-primas, objetos, máquinas e ferramentas utilizados, que po- dem produzir lesões e situações de risco à saúde, como: a presença de poeiras, substâncias químicas e agentes físicos perigosos ou nocivos; a organização do trabalho, expressa na duração, intensidade, exigências de produtividade, jornada de trabalho em turnos e noturno, relações conflituosas com a chefia e os colegas, que podem causar sofrimento e adoecimento. Além disso, a nocividade pode se estender para além do trabalho, afetando o ambiente domiciliar, os familiares, a vizinhança e o ambiente geral. (BRASIL, 2018) Desde a época das sociedades grega e romana é que o mundo do trabalho toma formas novas e mais claras nas relações de produção e nas relações do homem para o homem. Formas claras, pois se define a quem caberia o trabalho e a produção, a obtenção de mão-de-obra, as justificativas da divisão do trabalho e da sociedade e das desigualdades humanas como elemento que, também, regia a produção de riqueza; e novas por ser a escravidão um elemento diferente do que ocorria nas comunidades aldeãs e superiores sendo à base de tudo, enquanto no modo de produção asiático seu uso foi esporádico e aleatório, e por classificar as relações na espécie humana em hierarquias do trabalho. A organização do trabalho pode ser entendida como um pro- cesso que envolva atividades dos trabalhadores e as relações de tra- balho com a hierarquia e que ocorre numa determinada estrutura insti- tucional. Compreende a divisão do trabalho, o sistema hierárquico e as relações do poder, significando que ao dividir o trabalho se impõe uma divisão entre os homens. Assim, busca alcançar a coordenação de es- forços através da concepção de uma estrutura de relacionamentos de tarefas e autoridades, e seus dois conceitos básicos são concessão e estrutura. A concessão implica que os gestores façam um esforço cons- ciente para determinar a forma como os seus trabalhadores realizarão suas tarefas e a estrutura refere-se ao relacionamento e aspetos da organização. (DEJOURS, et al, 1993) Além disso, a organização do trabalho pode ser definida como um conjunto de regras e normas que determinam a maneira de realizar a produção na empresa. Essas regras e normas associam-se 17 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S ao local de trabalho, sendo este um conjunto de condições que ser- vem para realizar um produto. É o sistema homem-máquina em ação que se relaciona entre si, com as condições gerais do ambiente de tra- balho e o método de organização adotado. (GOMES; MÁSCULO, 2011) Constatam-se três áreas muito particulares da organização do trabalho: a organização material (incluem-se os elementos básicos referentes à forma como o trabalho se organiza, tarefas, postos e fun- ções), a organização temporal (destacam o tempo biológico, o tempo psicológico e o tempo social, bem como os horários de trabalho) e a organização social (o papel que o trabalhador adquire no desempenho de um determinado trabalho). (HERA et al, 2004) A organização do trabalho desencadeia na ocorrência dos afastamentos, por meio de atestados, desses trabalhadores, sendo um dos motivos as faltas ao trabalho como forma de protesto ou sentimento de desvalorização e o outro motivo realmente estaria associado a mo- tivos de saúde onde é necessário se afastar para tratamento médico. Outros autores também consideram a atual organização do trabalho como sinônimo da deterioração das condições de labor, con- siderando-se questões como: aumento da violência doméstica devido ao cansaço, irritação, medo e ansiedade, aumento da dependência quí- mica e do alcoolismo, assim como do Burnout e do suicídio. (SELLG- MANN, 2011; ASKENAZY, 2005) A proporção da proteção ao trabalho como direito humano pri- mordial evidencia-se com a instituição da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a partir de 1919, entidade que sobreviveu ao fim da Liga das Nações e se mantém, há quase um século, na defesa dos direitos dos trabalhadores, acreditando que um mundo de mais justiça e paz passa pela questão da proteção ao trabalho e aos trabalhadores, observados parâme- tros mínimos internacionalmente estabelecidos. (SALADINI, 2018) A Convenção nº 155, da Organização Internacional do Traba- lho, sobre Segurança e Saúde dos Trabalhadores e o Meio Ambiente de Trabalho, em 1981 determina que deva ser exigida dos empregadores, na medida em que for razoável e possível, garantia de que determina- dos aspectos do trabalho que estejam sob seu controle sejam seguros, e não envolvam risco algum para a segurança e a saúde dos traba- lhadores. Na medida emque for razoável e possível, garantam que os locais de trabalho, o maquinário, os equipamentos e as operações e processos que estiverem sob seu controle são seguros e não envolvem risco algum para a segurança e a saúde dos trabalhadores. Assim como garantam que os agentes e as substâncias químicas, físicas e biológi- cas que estiverem sob seu controle não envolvem riscos para a saúde quando são tomadas medidas de proteção adequadas. 18 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S E ainda quando for necessário, os empregadores deverão for- necer roupas e equipamentos de proteção adequados a fim de prevenir, na medida em que for razoável e possível, os riscos de acidentes ou de efeitos prejudiciais para a saúde. (OIT, 1981) A partir da década de 1990, com a internacionalização de mer- cados, o aumento da competitividade e o avanço tecnológico, tem-se verificado novos desenhos organizacionais, flexibilização e mudanças nas relações de trabalho instituídas dentro das novas práticas de ges- tão. Essas mudanças tiveram início no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970 com a crise do sistema taylorista-fordista, sendo necessária uma transição para um novo formato de acumulação, que ficou conheci- do como flexível, e que acarretou mudanças nos processos de trabalho e no contexto organizacional. (MANDARINI; MARTINS; STICCA, 2016) A velocidade das transformações socioeconômicas verificadas nas últimas quatro décadas tem provocado impacto grande no trabalho. Dentre elas estão aquelas que são mais visíveis para a sociedade e aparecem na pauta política, como o desemprego, a flexibilização do tra- balho e a desregulamentação dos direitos trabalhistas. Contudo, outras ficam fora do foco de discussão por serem menos evidentes. Como por exemplo, o constante aumento da pressão, a implantação da gestão "pelo estresse", a intensidade do trabalho, o aumento da pressão, do controle, e da sobrecarga mental e emocional. (CARDOSO, 2013) Hoje a realidade do mundo do trabalho é a intensificação da exploração do trabalhador, desemprego, precarização das relações de trabalho, flexibilização das relações de trabalho, desregulamentação dos direitos trabalhistas, entre outros aspectos nefastos dessa dura re- alidade que assola a classe operária e que acaba por provocar a exclu- são social de uma crescente massa de trabalhadores. A informalidade é histórica do mercado de trabalho brasileiro, sendo, portanto, um importante indicador de desigualdades. Traz um elevado número de trabalhadores sem acesso aos direitos de proteção social resultantes da formalização e limita o acesso a direitos básicos como a remuneração pelo salário mínimo e aposentadoria. 19 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S Figura 1 Participação relativa das categorias do trabalho informal - Brasil – 2017 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017 Ainda segundo dados do IBGE (2018), o cenário atual do setor produtivo brasileiro evidencia uma concentração no setor de serviços, se- guido pela indústria, revelando assim o perfil desenvolvido do País, princi- palmente quando comparado com outros países da América Latina. Esta diferenciação passa a acontecer na década de 1930 e aprofundou-se nos últimos 50 anos, quando o País sofreu um forte processo de urbanização e industrialização, ocorrendo à evasão da população rural para as cidades e metrópoles que se formaram. O setor da construção civil com número ex- pressivo de trabalhadores também é indicador desta dinâmica progressiva. O desemprego estrutural, oriundo do contexto socioeconômico e político, aumenta a inserção informal no mercado de trabalho, repre- sentando a substituição da estabilidade e dos direitos trabalhistas para iniciar no ramo do empreendedorismo, da autonomia profissional. Evidencia-se que a organização do trabalho impacta na ocorrên- cia dos afastamentos, por meio de atestados, desses trabalhadores por dois motivos distintos: o primeiro deles diz respeito à faltas ao trabalho como forma de protestar algum descontentamento ou sentimento de des- valorização; e o outro motivo estaria associado a motivos de saúde física onde esses trabalhadores se afastam para realizarem tratamento médico. No Brasil atual, conforme o IBGE, a taxa de desemprego está em 12, 6%. Isso significa que o número de desempregados vem subin- do. Ao mesmo tempo, a chamada Reforma Trabalhista, implementada pelo atual Governo abriu todas as portas e janelas para a terceirização de todas as atividades empresariais e a precarização do trabalho. O objetivo da reforma foi desmontar os direitos trabalhistas e diminuir as garantias que os trabalhadores tinham na lei. 20 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S A finalidade disso é a redução de preços de produção e assim aumentar o lucro das empresas. Para esse fim, a automação do traba- lho faz com que, dentro de cinco anos, desaparecerão do mundo quin- ze milhões de empregos. Trabalhos que até agora são realizados por trabalhadores serão totalmente cumpridos por robôs ou mesmo nem existirem. Em todas as categorias de produção, isso gera desemprego em massa. Antigamente, o trabalhador que perdia, hoje, o seu emprego, tinha esperança de, em breve tempo, conseguir outro trabalho. Atual- mente, a perda do emprego tem um caráter trágico porque é o próprio trabalho que, ao ser automatizado pode desaparecer. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de- monstram que a taxa de desocupação vem aumentando nos últimos anos: Figura 2 – Taxa de desocupação. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2018 Trabalhadores são considerados pessoas inseridas no mer- cado de trabalho, formal ou informal, na área urbana ou rural, inde- pendente do vínculo empregatício, seja público ou privado, autônomo, temporário, cooperativados, estagiário, doméstico, aposentado ou de- sempregado. (BRASIL, 2012) CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é composta por oito capítulos que abrangem e especificam direitos de grande parte dos grupos trabalhistas brasileiros. Em seus artigos fornece informações 21 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S como: identificação profissional, jornada do trabalho, salário mínimo, fé- rias anuais, segurança e medicina do trabalho, proteção ao trabalho da mulher e do menor, previdência social. Devido a uma necessidade constitucional após a criação da Justi- ça do Trabalho em 1939, a CLT foi criada. O país passava por um momento de desenvolvimento, mudando a economia de agrária para industrial. Em janeiro de 1942 o então presidente Getúlio Vargas e o Ministro do Trabalho e Emprego Alexandre Marcondes Filho trocaram as primeiras ideias sobre a necessidade de fazer uma Consolidação das Leis do Trabalho. A ideia primária foi de criar a "Consolidação das Leis do Trabalho e da Previdência Social". Seu objetivo principal é a regulamentação das relações individuais e coletivas do trabalho, nela previstas. (CAMPANA, 2008) A Consolidação das Leis do Trabalho foi editada em 1943, sob a vigência da Constituição Federal de 1937. Ela tratava, em matéria tra- balhista, em seu art. 137, de salário mínimo, jornada de trabalho, férias, estabilidade, seguro e assistência médica, mas, por outro lado, criava uma estrutura sindical atrelada ao Estado. (VILLA, 2011) Através do Decreto-lei no 5.452/1943, fica aprovada a Consoli- dação das Leis do Trabalho, que é a Lei Trabalhista do Brasil. Nela estão incluídasas normas que regulam as relações de trabalho entre o emprega- dor e os empregados. Na CLT estão definidos os direitos e deveres, tanto do empregador quanto do empregado. As normas se referem às relações de trabalho e também às regras dos processos trabalhistas na Justiça. Um dos objetivos da CLT é proteger o trabalhador, com base no princípio da proteção. Esse princípio serve para diminuir a relação de desigualdade de poder que existe entre o trabalhador e o seu empregador. No decorrer dos anos houve muitas propostas de promover reformas da CLT, os artigos nela constantes já sofreram 497 modifica- ções desde 1943. A Reforma Trabalhista no Brasil mais recente ocorreu em 2017, onde houve uma mudança significativa na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) operacionalizada pela Lei nº 13.467 de 2017. Segundo o governo, o objetivo da reforma foi combater o desemprego e a crise econômica no país. O projeto de lei foi proposto pelo Presidente da República Mi- 22 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S chel Temer e começou a tramitar na Câmara dos Deputados em 23 de dezembro de 2016. Desde então, em sua tramitação, o projeto vinha passando por sucessivas discussões e também aglutinando emendas, como por exemplo, a proposta do fim da obrigatoriedade da contribui- ção sindical (COSTA et al, 2018). O projeto foi aprovado na Câmara dos deputados em 26 de abril de 2017 por 296 votos favoráveis e 177 votos contrários. No Senado Fe- deral, foi aprovado em 11 de julho por 50 a 26 votos. Foi sancionado pelo Presidente da República no dia 13 de julho sem vetos. A Lei passou a va- ler no país a partir de 11 de novembro do mesmo ano. (BRASÍLIA, 2017) A reforma foi criticada pela Central Única dos Trabalhadores e outros Sindicatos, pelo Ministério Público do Trabalho, pela Organiza- ção Internacional do Trabalho, entre outros. Foi defendida por econo- mistas e empresários, bem como pelo presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Martins Filho. Em síntese a Reforma Trabalhista, aprovada em 2017, traz as possibilidades de: terceirização do trabalho; jornada de 12 horas para qualquer categoria; tele trabalho; redução do horário de refeição para 30 minutos; grávidas e lactantes trabalharem em locais de insalubridade média ou reduzida. As modificações que a reforma trouxe, não alteram a Política Nacional de Saúde do trabalhador, que protege os trabalhado- res independentes de serem terceirizados ou não. (COSTA et al, 2018) De acordo com a Coordenadoria de Estatística do Tribunal Su- perior Trabalho, entre janeiro e setembro de 2017, as Varas do Trabalho receberam 2.013.241 reclamações trabalhistas. No mesmo período de 2018, o número caiu para 1.287.208 reclamações trabalhistas. Estudo realizado em 2018 revela que o cenário da reforma trabalhista evidencia que, com essa lei, poderia ocorrer um aumento significativo dos acidentes de trabalho, tendo inclusive dificuldades de conseguir as garantias da Previdência Social. Empresas terceirizadas, geralmente pequenas empresas, investem menos em segurança, ex- pondo os trabalhadores a riscos de acidentes. O aumento da jornada de trabalho e a diminuição do horário de refeição e descanso geram estresse ocupacional, isto reflete na qualidade de vida do trabalhador e de seus familiares. Contudo, a Reforma Trabalhista aumenta a pos- sibilidade de maior número de trabalhadores contratados, diminuindo o impacto social da mão de obra desempregada. (COSTA et al., 2018) 23 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S Figura 3 – Reclamações Trabalhistas. TST, Brasil, 2018 Fonte: Coordenadoria de Estatística do TST, 2018 O trabalho exerce um efeito protetor sobre a saúde, tanto a mental quanto a física e a psíquica. O risco de depressão é muito maior em pessoas inativas e as taxas de suicídio aumentam nos períodos de crise econômica. O desemprego se torna prejudicial à saúde porque gera um es- tado de estresse, sensação de insegurança, desamparo e incompetên- cia. A ameaça à integridade financeira e o sentimento de incapacidade leva o indivíduo à tristeza, que em efeito dominó pode se agravar e se transformar em uma depressão. A insônia é um reflexo da ansiedade e pode potencializar o surgimento de várias doenças. A partir da década de oitenta, as mudanças no mercado de trabalho têm alterado, de forma significativa, os pensamentos dos tra- balhadores em relação ao trabalho e do emprego. A perda do emprego tem se mostrado mais presente nas duas últimas décadas, dadas às políticas públicas que restringem a geração de emprego, causando es- tresse na população ativamente produtiva. O trabalhador desempregado perde o poder de decisão sobre a condução das próprias vidas, visto que se tornam dependentes de outras pessoas, que são os provedores de suas necessidades básicas. De maneira geral, essa situação de dependência causa uma impressão de submissão, já que os dependem de outros para seu sustento. 24 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S REFORMA TRABALHISTA 2017 CARVALHO, S.S. Uma visão geral sobre a reforma traba- lhista. Política em foco, v. 63, p. 83-94, out. 2017. KREIN, J. D. O desmonte dos direitos, as novas configura- ções do trabalho e o esvaziamento da ação coletiva: consequências da reforma trabalhista. Tempo soc., São Paulo, v. 30, n. 1, p. 77-104, Apr. 2018. Available from http://www.scielo.br/scielo.php?scrip- t=sci_arttext&pid=S010320702018000100077&lng=en&nrm=iso Nas circunstâncias das mudanças políticas e sociais ocorridas nas décadas de 1980 e 1990 e no cenário da reforma sanitária, o campo do trabalho e da atenção à saúde dos trabalhadores passou por significa- tivas reformulações. Dentre essas, destaca-se a superação do protótipo da medicina do trabalho e a definição da área da saúde do trabalhador no campo da abrangência da saúde pública. Até então, a saúde no Brasil ou era um benefício previdenciário restrito aos contribuintes ou um bem de serviço pago na forma de assistência médica, ou ainda uma ação bene- volente oferecida aos que não tinham acesso à previdência, nem fundos para pagar a assistência privada, prestada por hospitais filantrópicos. Não raramente, o local de trabalho apresenta riscos que afe- tam a saúde do trabalhador. Eles podem vir sob forma de ruídos, calor, poeiras, bactérias, produtos químicos e muitas outras fontes. Existem também riscos oriundos da organização do trabalho, que podem causar doenças osteomusculares e transtornos mentais. O estresse, o ritmo intenso de trabalho, longas jornadas, con- tribuem para a fragilidade da saúde, concomitante a isto a falta de reco- nhecimento e baixa remuneração, culminam em se acumular atividades profissionais, o que restringe o tempo para as demais áreas da vida, como família, lazer, entre outros. Assim sendo, evidencia-se que o trabalho está intrinsicamente relacionado às demais dimensões da vida, influenciando no processo saúde-doença dos trabalhadores. No âmbito da saúde o trabalho se diz contraditório, pois ao passo que os trabalhadores participam da produção de saúde dos indi- víduos e da coletividade, seu labor pode ocasionar efeitos negativos na sua própria saúde, cujos impactos se mostram na baixa qualidade da assistência prestada à população, também podem interferir na qualida- de de vida dos seus familiares. (ROSADO; RUSSO; MAIA, 2015) 25 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S Os agravos aos trabalhadores da Enfermagem costumam ser frequentes podendo causardanos a sua própria saúde. Cargas horárias excessivas destinadas às atividades laborais pode ser um grande pro- blema a ser enfrentado. A jornada de trabalho pode se tornar elemento que propicia desgaste e sofrimento ao trabalhador, quando o contexto organizacional desencadeia sofrimento, o indivíduo busca desenvolver mecanismos de defesa para tentar diminuí-lo. (ALVIM, 2017) Conhecer a Cultura Organizacional de uma empresa é muito importante visto que dependendo da cultura e a falta de conhecimento do trabalhador em relação a ela pode ocasionar doenças ocupacionais, causando sérios impactos na qualidade de vida do trabalhador. Seu en- tendimento é crucial para a eficiência de políticas a serem implementa- das para a saúde do trabalhador. A Saúde do Trabalhador é o campo da Saúde Pública que tem como objetivo as relações de trabalho e o processo saúde-doença dos trabalhadores. Assim sendo, o trabalho pode ser considerado como ali- cerce organizador da vida social, e determinante das condições de vida e saúde das pessoas. Fundamentado neste princípio, as intervenções devem buscar a transformação dos processos produtivos, no sentido de torná-los promotores de saúde, e não de adoecimento e morte, além de garantir a atenção integral à saúde dos trabalhadores. (BRASIL, 2018) Portanto tem por objetivos a promoção e a proteção da saúde dos trabalhadores, independentemente de seu vínculo empregatício, ou mesmo se desempregado, compreendendo procedimentos de diagnós- tico, tratamento e reabilitação de forma integrada. Também descrita como campo de práticas e conhecimentos que buscam conhecer e intervir nas relações de trabalho e saúde-doen- ça. Pode ainda ser entendida enquanto prática teórica interdisciplinar e prática político-ideológica, desenvolvidas por diversos atores situados em lugares sociais distintos e informados por uma perspectiva comum. (SOUZA; VIRGENS, 2013) A Saúde do Trabalhador tem como referência Saúde Ocupacio- nal, a Medicina do Trabalho e a Engenharia de Segurança, constituindo um campo de saber próprio da saúde coletiva. Ela se estrutura a partir do tripé epidemiologia, administração e planejamento em saúde e ciências sociais em saúde, ao que se somam disciplinas auxiliares. Busca a compreensão dos vários níveis de complexidade entre o trabalho e a saúde e, tendo como conceito central, o processo de trabalho. Originado na economia política, o processo de trabalho é entendido como o cenário primário da organização dos processos produtivos, situando-se, portanto, na origem dos agravos à saúde em coletivos diferenciados de trabalhadores. (MINAYO, 2011) Foi no final dos anos 70 que o movimento de saúde do trabalha- 26 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S dor se moldou no Brasil, partindo dos princípios que envolviam a partici- pação dos trabalhadores na tomada de decisões sobre a gestão e orga- nização dos seus processos produtivos, bem como a busca pela atenção integral à saúde do trabalhador. Após as duas grandes guerras, ocorreu uma evolução no modo de pensar, onde se vislumbrou mais a promoção e prevenção da saúde do trabalhador, com isso foram surgindo novas áreas de trabalhos voltadas para a saúde dos trabalhadores, tais como: Enge- nheiro de Segurança do Trabalho e Médico do Trabalho; mudando assim o formato da saúde ocupacional. Mesmo com uma visão multidisciplinar as ações de saúde continuavam voltadas para o ambiente de trabalho, porém passaram a buscar sempre limites ou parâmetros de tolerância que eram baseados em pesquisas cientificas. (RIBEIRO; SOUZA, 2014) O intercâmbio entre sindicatos brasileiros e alguns participan- tes da Reforma Sanitária Italiana, que resultou na vinda do próprio Gio- vanni Berlinguer ao Brasil, foi um incentivo para a realização das sema- nas de saúde do trabalhador, ocorridas em São Paulo, e para a criação do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (DIESAT), que cumpriu importante papel no pro- cesso de luta dos trabalhadores pela saúde no Brasil. (GOMEZ; VAS- CONCELLOS; MACHADO, 2018) O DIESAT (Departamento Intersindical de Estudos e Pes- quisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho) foi criado, em 1979, por um conjunto de Sindicatos de diferentes categorias profissio- nais. Seu principal objetivo consiste em pesquisar, estudar, siste- matizar e divulgar as correlações entre saúde/doença e trabalho, desde o ponto de vista dos trabalhadores, em suas reivindicações, em conjunto com os Sindicatos. 27 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSO QUESTÃO 1 Ano: 2017 Banca: AOCP Órgão: Prova: Técnico de Enfermagem Nível: Médio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a política de tra- balho apropriada deve ter uma base em princípios éticos. Assinale a alternativa que NÃO condiz com esses princípios: a) A saúde física, segurança e bem-estar serem trabalhadas de forma amostral. b) Cobrir todas as exposições perigosas dentro do ambiente de trabalho. c) Aplicar normas de bom comportamento, atenção e responsabilidade. d) Abordagens que impeçam comportamentos antiéticos. e) Promover a responsabilidade de prestação de contas de todos no local de trabalho. QUESTÃO 2 Ano: 2017 Banca: IADES Órgão: ECT Prova: Enfermeiro do Traba- lho Nível: Médio. A respeito das doenças profissionais e doenças relacionadas ao trabalho, é correto afirmar que: a) A redução da carga emocional associada à crescente responsabilização e às mudanças constantes no trabalho causa danos aos trabalhadores. b) Receber uma carga de trabalho nova e maior é uma vitória pessoal, sobretudo, porque, muitas vezes, é acompanhada de uma bonificação financeira. Tal evento não é considerado um agente estressor. c) Se as fontes de estresse da pessoa forem relacionadas ao ambiente ocupacional, pode-se cogitar o desenvolvimento da Síndrome de Bur- nout, que é caracterizada por três fatores principais: exaustão emocio- nal, despersonalização e redução da realização pessoal. d) Nem todos os trabalhadores reagem da mesma maneira ou são afe- tados da mesma forma pelo estresse; por isso, é possível individualizar o processo de adoecimento, que, na maior parte das vezes, é respon- sabilidade das pessoas. 28 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S e) O estresse é revelador da fragilidade dos indivíduos, e não uma ma- nifestação do mau funcionamento e da desorganização das empresas. QUESTÃO 3 Ano: 2017 Banca: IADES Órgão: ECT Prova: Enfermeiro do Traba- lho Nível: Médio. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 317 milhões de pessoas são vítimas de acidentes de trabalho em todo o mundo e 2,34 milhões de pessoas morrem em razão de acidentes ou doenças ocupacionais. O Brasil subscreve várias convenções da OIT, como a nº 155, que trata da Segurança e da Saúde dos Trabalhadores. A respeito do referido assunto, assinale a alternativa correta. a) A expressão “local de trabalho” abrange todos os lugares, com exce- ção aos insalubres, onde os trabalhadores devem permanecer ou aos quais têm que comparecer, de modo que estejam sob o controle direto do empregador. b) Outros dispositivos da citada convenção facultam a adoção de uma po- lítica nacional em matéria de segurança e saúde dos trabalhadores e do meio ambiente de trabalho, com o objetivo de prevenir os acidentes e os danos à saúde decorrente do exercício do trabalho, reduzindo ao mínimo possível às causas dos riscos inerentes ao meio ambiente de trabalho. c) A Convenção nº 155 se aplica a todas as áreas da atividade econômica, facultando ao Estado-membro, após consulta prévia às organizações sin- dicaisde empregadores e trabalhadores interessadas, excluir total ou par- cialmente da sua aplicação determinadas áreas da atividade econômica. d) De acordo com a OIT, o termo “saúde”, com relação ao trabalho, abrange a ausência de afecções ou de doenças. e) A mencionada convenção estabelece que as ações devam ser em- preendidas em âmbito nacional, com a inclusão das questões de segu- rança, higiene e meio ambiente de trabalho em níveis que serão deter- minados por legislação específica. QUESTÃO 4 Ano: 2017 Banca: IADES Órgão: ECT Prova: Enfermeiro do Traba- lho Nível: Médio. Com relação às ações de Saúde do Trabalhador a serem imple- mentadas pelo enfermeiro do trabalho, assinale a alternativa que apresenta uma situação vinculada à área de Vigilância em Saúde. a) Investigar o local de trabalho para verificação de relação entre as situações de risco existentes e o agravo identificado. b) Cadastrar as atividades produtivas existentes na área, bem como os perigos e os riscos potenciais para a saúde dos trabalhadores, da popu- 29 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S lação e do meio ambiente. c) Promover orientações trabalhistas e previdenciárias pertinentes a cada situação. d) Emitir a Comunicação de Acidentes do Trabalho (CAT), quando se tra- tar de trabalhador com carteira assinada, cabendo ao médico-assistente o preenchimento do campo 2 da CAT (diagnóstico, laudo e atendimento). e) Informar ao trabalhador as causas de seu adoecimento. QUESTÃO 5 Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: TRT Prova: Técnico Judiciário Ní- vel: Médio. De acordo com o Instituto Nacional de Seguro Social, o nexo es- tabelecido entre o trabalho e o agravo denominado “Nexo Técnico Profissional” é: a) Quando o acontecimento súbito ou a contingência imprevista causou dano à saúde do trabalhador e ocorreu durante o desempenho da ativi- dade profissional ou por circunstâncias a ela ligadas. b) Aquele decorrente da constatação de uma doença do trabalho, isto é, aquela adquirida em função das condições especiais em que o trabalho é realizado. c) Aquele decorrente da constatação de uma doença profissional, isto é, aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho pecu- liar a determinada atividade cujos trabalhadores tenham sido expostos, ainda que parcial ou indiretamente. d) O acidente que ocorre no percurso do segurado de sua residência para o trabalho ou vice-versa ou de um local de trabalho para outro da mesma empresa, bem como o deslocamento do local de refeição para o trabalho ou deste para aquele, independentemente do meio de loco- moção, sem alteração ou interrupção do percurso por motivo pessoal. e) A doença degenerativa endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, sem exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. QUESTÃO 6 Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: Polícia Militar – SP Prova: Téc- nico Oficial Nível: Médio. Quais são as consequências sociais das transformações no mun- do do trabalho nas últimas décadas, marcadas pela intensa racio- nalização, a introdução de novas tecnologias e flexibilização das relações de trabalho? a) Aumento do poder sindical e redução do desemprego. b) Erradicação do trabalho degradante e aumento da participação dos 30 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S trabalhadores nos lucros das empresas. c) Aumento do desemprego e precarização das condições de trabalho. d) Ampliação da gestão participativa e redução dos salários. e) Redução do desemprego e redução dos salários. QUESTÃO 7 Ano: 2013 Banca: CESP Órgão: TRT Prova: Analista Judiciário Nível: Médio. Em relação ao Contrato de Trabalho e ao Contrato de Emprego, assinale a opção correta. a) Nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho, inclui-se no con- ceito de empregado a empresa individual que presta serviço o empre- gador mediante salário. b) As expressões relação de trabalho e relação de emprego referem-se à mesma situação fático-jurídica, visto que, em ambas, é caracterizada uma prestação de serviços com pagamento em contraprestação pelos serviços prestados, razão pela qual deve haver o mesmo tratamento jurídico no que se refere ao direito das partes envolvidas. c) Considera-se relação de trabalho a prestação de serviço autônomo. d) Para a caracterização de contrato de emprego, é imprescindível a existência concomitante dos seguintes requisitos: onerosidade, pessoa- lidade, subordinação jurídica, não eventualidade e exclusividade. e) Considera-se empregador a empresa individual ou coletiva que assu- mir os riscos da atividade econômica, pagar salário e dirigir a prestação pessoal do serviço, não se admitindo, conforme a lei, a equiparação da figura do empregador para efeito de relação de emprego. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Nas circunstâncias das mudanças políticas e sociais ocorridas nas dé- cadas de 1980 e 1990 e no cenário da Reforma Sanitária, o campo do trabalho e da atenção à saúde dos trabalhadores passou por significati- vas reformulações. Dentre essas, destaca-se a superação do protótipo da medicina do trabalho e a definição da área da saúde do trabalhador no campo da abrangência da saúde pública. Discorra sobre os objetivos da Vigilância em Saúde do Trabalhador TREINO INÉDITO Da execução de ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador que estão incluídas no campo de atuação do Sistema Único de Saúde, assinale a alternativa que não está nas ações: a) Vigilância na educação em saúde. b) Vigilância sanitária. 31 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S c) Vigilância epidemiológica. d) Vigilância epidemiológica e sanitária. e) Saúde do trabalhador. NA MÍDIA ADVOGADO EXPLICA A PRINCIPAL POLÊMICA GERADA PELA REFORMA TRABALHISTA. Advogado Marcelo Mascaro Nascimento explica como ficaram as re- gras sobre a contribuição sindical. Por Marcelo Mascaro Nascimento, sócio do escritório Mascaro Nasci- mento Advocacia Trabalhista e diretor do Núcleo Mascaro. Uma das principais polêmicas geradas pela Reforma Trabalhista foi o fim da contribuição sindical obrigatória, também conhecida como impos- to sindical. Até então, todo trabalhador, fosse filiado ou não ao sindicato de sua categoria profissional, tinha um dia de salário, ao ano, desconta- do em sua folha de pagamento, em benefício da entidade sindical. Com a reforma, o desconto passou a ser devido apenas àqueles que previamente o autorizarem. Ocorre que parte dos sindicatos passou a entender que essa autorização prévia não necessitaria ser concedida por cada trabalhador individualmente, podendo ser concedida mediante aprovação em assembleia realizada no sindicato e com efeitos para todos os trabalhadores da categoria, filiados e não filiados. Em razão disso, foi editada a recente Medida Provisória nº 873, que introduz duas importantes mudanças em relação à contribuição sindical. A primeira é que a lei passa a determinar, expressamente, que as con- tribuições devidas ao sindicato, inclusive a contribuição sindical, só po- dem ser cobradas se houver autorização prévia, voluntária e individual do trabalhador. Desta forma, fica proibida a autorização por Assembleia. A outra mudança, de grande impacto, diz respeito à forma de pagamento da contribuição sindical. Era previsto na CLT que o desconto seria realiza- do pelo empregador, diretamente, na folha de pagamento do empregado. Agora, o desconto em folha está proibido e o pagamento deve, obrigato- riamente, ser feito por boleto bancário ou equivalente eletrônico. Fonte: Revista Exame Data: 21 mar. 2019. Leia a notícia na íntegra: https://exame.abril.com.br/carreira/advogado-explica-a-principal-pole- mica-gerada-pela-reforma-trabalhista/NA PRÁTICA Na Reforma Trabalhista, o ponto que mais chama a atenção foi a queda brusca de reclamações trabalhistas ajuizadas a partir do fim 2017. As 32 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S alterações nas regras processuais tiveram um claro e imediato impacto na quantidade de novos processos. As mudanças incorporadas à CLT - principalmente o risco de o autor ter que realizar um efetivo desembolso com o ajuizamento de uma reclamação trabalhista -, também causaram uma diminuição significativa dos pedidos de indenizações, incluindo aquelas relativas a dano moral. Ou seja, além de haver uma redução no número de ações ajuizadas, a Reforma também causou um impacto no objeto dos novos casos, que passaram a conter pedidos mais cuidado- sos e parcimoniosos. Outra consequência bastante relevante da Reforma Trabalhista foi a di- minuição na arrecadação sindical. Considerando os valores recolhidos em março de 2017 e as contribuições repassadas em março deste ano, é possível notar uma redução vertiginosa, de aproximadamente 80%. Numa tentativa de tentar manter sua principal fonte de financiamento, os sindicatos profissionais passaram a realizar Assembleias buscando suprir a necessidade de aprovação individual para desconto da contri- buição sindical. Da mesma forma, tem crescido o número de ações judi- ciais propostas por sindicatos, pleiteando que os empregadores sejam obrigados a fazer o desconto da contribuição sindical no salário de seus empregados. Se, por um lado, a Reforma Sindical deveria ter previs- to formas alternativas de financiamento para os sindicatos, não parece razoável, porém, que os sindicatos simplesmente ignorem as opções feitas pelos próprios empregados que representam. Apesar da atual sensação generalizada de incerteza nas relações de trabalho, inclusive em razão da incipiente jurisprudência a respeito das novas regras, algumas alterações trazidas pela Reforma Trabalhista fo- ram recepcionadas com bastante tranquilidade e já vêm sendo aplica- das na prática, sem maior relutância. O fracionamento de férias em três períodos, os acordos mútuos de rescisão e o processo de jurisdição voluntária para homologação de acordos já são uma realidade. PARA SABER MAIS Filme sobre relações no trabalho Terra Fria (EUA, 2005) 12 anos de escravidão (Canadá, 2013) 33 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S INICIATIVAS DIRECIONADAS À SAÚDE DO TRABALHADOR A partir dos anos 1980 surgiram diversas outras iniciativas em direção à Saúde do Trabalhador, pois setores do movimento sindical (como metalúrgicos e petroquímicos) começaram a exigir dos serviços de saúde pública maior envolvimento com questões de saúde relaciona- das ao trabalho. (LEÃO, CASTRO, 2013) Ainda na década de 80 a Saúde do Trabalhador passou a ser agente de preocupação mundial, onde a Organização Mundial de Saú- de (OMS), juntamente com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) propuseram políticas públicas de saúde para beneficiar a clas- se trabalhadora. Com essas novas políticas públicas iniciou-se o Pro- grama de Saúde do Trabalhador (PST). O PST tinha como missão ser POLÍTICAS PÚBLICAS NO CAMPO DA SAÚDE P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S 33 34 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S um serviço de promoção à saúde dos trabalhadores, tinha como objeti- vo prevenir doenças e acidentes decorrentes do trabalho, bem como to- mar medidas que controlassem os riscos existentes. (LEÃO; CASTRO, 2011; RIBEIRO; CASTRO, 2014) No início dos anos 1990, novos Programas de Saúde do Tra- balhador emergiam em todo o país, porém nem todos se estabeleciam. Os avanços para a consolidação da saúde do trabalhador dependiam da superação de vários desafios. Eram muitos os fatores combinados, a serem vencidos. (GOMEZ; VASCONCELLOS; MACHADO, 2018) Durante o movimento da Reforma Sanitária Brasileira a saúde do trabalhador obteve destaque. O relatório da VIII Conferência Nacio- nal de Saúde, em 1986, já apontava que o trabalho em condições dig- nas, o conhecimento e o controle dos trabalhadores sobre processos e ambientes de trabalho é um pré-requisito central para o pleno exercício do acesso à saúde. (BRASIL, 1986) Assista o vídeo sobre a VIII Conferência Nacional de Saúde https://www.youtube.com/watch?v=zZAHdF0fNps Figura 4 - Linha do tempo das Conferências Nacionais de Saúde. 2012 Fonte: Fio Cruz: Fundação Oswaldo Cruz, 2012 A partir das relações estabelecidas pelo processo de saúde do- ença resultante das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores a saúde do trabalhador passa a ser entendida. A saúde e o trabalho vêm so- frendo transformações que recaem sobre a saúde do trabalhador e estão relacionadas às novas modalidades de trabalho, as inovações tecnológicas e maneiras de organização do trabalho. (MENDES; WUNSCH, 2011) As políticas públicas no campo da saúde e segurança no traba- lho constituem ações implementadas pelo Estado visando garantir que o trabalho, base da organização social e direito humano fundamental, 35 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S seja realizado em condições que contribuam para a melhoria da qua- lidade de vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores, sem prejuízo para sua saúde, integridade física e mental. (BRASIL, 2004) Estas ações podem ser organizadas em três eixos: de pro- moção à saúde; de assistência à saúde e de vigilância em saúde. A Promoção à Saúde compreende o fortalecimento da autonomia dos trabalhadores na luta por condições favoráveis de trabalho, bem como a articulação de políticas e práticas intersetoriais deve ser estimulada, especialmente aquelas com potencial para promover o controle e a in- tervenção sobre os determinantes de saúde. A Assistência à Saúde inicia-se pela identificação do usuário en- quanto trabalhador, considerando sua inserção no trabalho atual e pre- gressa, para que se estabeleça a relação entre o trabalho e o processo saúde-doença, com diagnóstico correto e o plano terapêutico adequado, incluindo a reabilitação física e psicossocial. Inclui-se também a orienta- ção do trabalhador sobre as medidas de prevenção e direitos trabalhistas e previdenciários, a notificação dos agravos relacionados ao trabalho e, se necessário, o acionamento dos setores da vigilância em saúde. As ações de Vigilância em Saúde abrangem a Vigilância Epi- demiológica dos agravos e doenças relacionados ao trabalho e a Vigi- lância dos Ambientes e processos de trabalho, em locais e serviços do setor público e privado, urbanos e rurais. Inclui a elaboração, a divulga- ção e a propagação de informações em saúde, e ações de educação em saúde. (BRASIL, 2018) No Brasil, a saúde do trabalhador é resultante de conhecimen- tos acumulados no âmbito da Saúde Coletiva, com início no movimento da Medicina Social Latino-americana e motivado pela experiência ope- rária italiana. (GOMEZ; VASCONCELLOS; MACHADO, 2018) A Saúde do Trabalhador passa a ser um direito constitucional e universal no art. 200 da Constituição Federal de 1988 coloca que ao SUS compete, dentre outras atribuições, nos termos da lei: Inciso II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; Inciso VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Historicamente o processo de desenvolvimento do capi- talismo no Brasil, vislumbra o trabalhador comosimples peça de reposição, causando o descaso para com a sua saúde. Isto torna o 36 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S trabalho um fator de risco por que a preocupação do capital é com o lucro e não com indivíduo. SAÚDE DO TRABALHADOR – CONCEITOS, OBJETIVOS E FINALI- DADE Entende-se por Saúde do Trabalhador um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho. (BRASIL, 1990) O conceito de Saúde do Trabalhador não pode ser limitado apenas ao âmbito da fábrica, nem tão pouco à sua concepção pura- mente biológica. É necessário que entenda a saúde como determina- da pelos processos sociais mais abrangentes, assim sendo, como um conceito integral de dinâmico, levando- se em conta que a saúde é de- terminada simultaneamente pelas condições de vida e pelas condições de trabalho. Portanto, a situação da saúde do trabalhador é resultado de um longo processo histórico, desde os tempos da colonização, pro- cesso esse que se caracterizou pela constante exploração do trabalho, mais acentuada ainda em relação ao trabalhador rural. (BRASIL, 1989) CONFERÊNCIAS NACIONAIS DE SAÚDE DO TRABALHADOR A Política de Saúde do Trabalhador no Brasil, enquanto Política Pública começa a ser debatida a partir da 1ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador (CNST), realizada em 1986, poucos meses de- pois da 8ª Conferência Nacional de Saúde, que gerou as articulações para a concepção de saúde na nova Constituição. O debate sobre uma política nacional de saúde do trabalhador emerge, portanto, desde o momento de maior fortalecimento da Refor- ma Sanitária no Brasil e está muito associado ao processo social em que se inseriu. A primeira CNST trouxe três temas, sendo o terceiro deles a criação da Política Nacional de Saúde dos Trabalhadores. O interes- sante é que, nesse primeiro momento da construção da Política, visu- alizava-se um discurso pautado no polo trabalho-subjetividade. O que pode demonstrar que a articulação de saberes e poderes estavam mais voltados à abertura da circulação da palavra e escuta aos trabalhado- res, compreendendo os aspectos sociais e históricos da saúde e do 37 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S trabalho. (Ministério da Saúde, 1986) Neste mesmo período da história favoreciam-se as ações curati- vas em prejuízo da promoção da saúde através de medidas preventivas, quando implementadas, estão voltadas para o indivíduo. (BRASIL, 1989) Na 1ª CNST em 1989 diante de um acidente de trabalho considerava-se quase sempre o trabalhador como culpado pela ocorrência dos mesmos. As práticas de julgamento e perícia, bem como as ações prevenção, são voltadas para o indivíduo, descon- siderando as condições de trabalho. No ano de 1994 se deu a 2ª Conferência Nacional da Saúde do Trabalhador onde o tema principal foi “Construindo uma Política de Saúde do Trabalhador”. Dentre as propostas aprovadas no plenário, destaca-se, pela sua peculiaridade ampla e pela relevância do impacto que causará na reestruturação dos setores saúde, trabalho e previdência, e na definição da Política Nacional de Saúde dos Trabalhadores, a proposta de unificação de todas as ações de saúde do trabalhador no Sistema Único de Saúde. Diferentemente da primeira conferência, que foi voltada ao tra- balho-subjetividade e saúde-integralidade, a segunda conferência vislum- brou trabalho-risco e saúde-controle. A reinserção da Saúde Ocupacional retorna explícita enquanto atenção à saúde dos trabalhadores, no con- junto de análise das relações de poder que se articulam nesse evento, uma vez que a abertura fica centrada no discurso da Vigilância Sanitária, campo que se tornará cada vez mais participativo nas ações de saúde na área do trabalho ao longo dos anos seguintes. (BRASIL, 2005) O conteúdo da 2ª CNST tem como fator dominante a diversida- de na composição da força de trabalho. Os paradigmas baseados funda- mentalmente no operariado industrial e nos modelos Tayloristas-fordis- tas se tornaram insuficientes para responder e contemplar as mudanças no âmbito das relações de trabalho, nos mais diferentes setores, que acompanham o movimento mundial de reestruturação produtiva, sem com isso eliminar formas arcaicas de produção. Tais mudanças têm em comum a ênfase na globalização dos mercados, na privatização dos serviços públicos, na rápida incorporação tecnológica para a produção de bens e serviços, na dinâmica do emprego, no aumento do desempre- go e do trabalho informal e na exclusão social. (BRASIL, 1994) Compuseram das discussões desta conferência três eixos te- 38 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S máticos: como garantir a integralidade e a transversalidade da ação do Estado em saúde dos(as) trabalhadores(as)? Como incorporar a saúde dos(as) trabalhadores(as) nas políticas de desenvolvimento sustentável no País? Como efetivar e ampliar o controle social em saúde dos(as) trabalhadores(as)? No primeiro eixo temático propôs-se revisão imediata da legis- lação vigente, com ampla participação dos trabalhadores, onde seja as- segurada a sua participação na formulação da Política Nacional de Se- gurança e Saúde do Trabalhador. Modificar a notificação dos acidentes e doenças do trabalho para garantir estatísticas mais fidedignas. Incluir nos atestados de óbito a atividade principal que o trabalhador exerça. As ações fiscalizadoras devem ser da responsabilidade dos órgãos pú- blicos em nível federal, estadual e municipal, exercidas pelo Sistema Único de Saúde, de forma descentralizada e integrada. Responsabilizar os órgãos rodoviários federais, estaduais e municipais para fiscalização do transporte do trabalhador rural. (BRASIL, 1994) A Fundacentro Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segu- rança e Medicina do Trabalho é uma instituição criada em 1966 voltada para o estudo e pesquisa das condições dos ambientes de trabalho. FUNDACENTRO: http://dados.gov.br/organization/about/ fundacao-jorge-duprat-figueiredo-de-seguranca-e-medicina-do- -trabalho-fundacentro Com vistas a garantir a integralidade e a transversalidade das ações estatais na saúde dos trabalhadores, a CNST deliberou (BRASIL, 2011, p. 17): “Priorizar recursos financeiros no orçamento estatal que sejam carreados para a formação técnica e para a pesquisa na área da saúde, que contemplem efe- tivamente as reais necessidades da população brasileira. Garantir que no ensi- no, desde o ensino fundamental, sejam desenvolvidas matérias sobre higiene, 39 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S segurança no trabalho e controle ecológico do meio ambiente, esclarecendo e denunciando os riscos que se estabelecem nas relações de produção. Trata- mento equânime, sem qualquer discriminação, a todos os trabalhadores, seja do setor econômico primário, secundário ou terciário, na redefinição da Política de Saúde e Segurança do Trabalhador. Responsabilização civil e criminal do empregador por condições insalubres e periculosas de trabalho. Inclusão no Sistema Único de Saúde de programas específicos de atendimento ao tra- balhador, realizados pela rede pública, com condições de pleno acesso aos diversos níveis de atendimento à saúde. A Empresa deverá ser fiscalizada pela autoridade sanitária local definida pelo Sistema Único de Saúde. A avaliação dos ambientes detrabalho deverá ser feita pelo órgão sanitário local do Siste- ma Único de Saúde, com participação dos sindicatos. Que se integre na rede pública (com as necessárias ampliações e melhor qualificação) o tratamento acidentário, com a criação de serviços especializados no diagnóstico de do- enças profissionais e na avaliação de incapacidade, com dotação dos neces- sários recursos para habilitação profissional e recolocação do acidentado no mercado de trabalho. Ampliar o horário de atendimento dos serviços de saúde ao trabalhador, sem prejuízo de garantir-lhe a justificativa de ausência durante seu horário de trabalho, para que seja atendido nesses serviços.” Em relação à incorporação da saúde dos trabalhadores nas políticas nacionais de desenvolvimento sustentável, a CNST indicou (BRASIL, 2011, p. 21-22): Obrigar as multinacionais a obedecerem, no mínimo, o mesmo padrão de pro- teção ao trabalhador e ao meio ambiente que é dado no país de origem. Abolir as horas extras e reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem que isso implique perdas salariais. Extinguir o contrato temporário. Obrigar as empresas a fornecerem a relação das substâncias por ela utilizadas e seus ris- cos. Elaboração de uma política governamental, assegurando que os avanços tecnológicos levem em conta a necessidade de preservação da saúde. Elabo- ração de uma política governamental de geração de novos empregos, orien- tada para a garantia de condições de trabalho não prejudiciais ao trabalhador. Privilegiar na produção agrícola o controle biológico de pragas, a policultura e a adubação orgânica. Essa política deverá ser implementada por órgãos e progra- mas específicos, financiados pelo Estado. Deve ser garantida a participação das entidades representativas do trabalhador rural. Obrigatoriedade de informação, pelo empregador, ao trabalhador, seus familiares e comunidade a respeito dos riscos a que estão sujeitos em virtude de contaminação indireta e ambiental de- correntes da atividade da empresa. Elaboração de uma política governamental de geração de novos empregos, orientada para a garantia de condições de tra- balho não prejudiciais ao trabalhador. Privilegiar na produção agrícola o controle biológico de pragas, a policultura e a adubação orgânica. Essa política deverá ser implementada por órgãos e programas específicos, financiados pelo Estado. Deve ser garantida a participação das entidades representativas do trabalhador rural. Obrigatoriedade de informação, pelo empregador, ao trabalhador, seus fa- miliares e comunidade a respeito dos riscos a que estão sujeitos em virtude de 40 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S contaminação indireta e ambiental decorrentes da atividade da empresa. Direito de acesso aos serviços de saneamento básico como tratamento de água, rede de esgoto, além de eletrificação, incluindo, neste caso um programa específico para o trabalhador rural. Currículo mínimo com participação e gestão comunitá- ria visando a mudança das relações de produção e privilegiando o conhecimento popular e o conhecimento de tecnologia local para a resolução dos problemas brasileiros, respeitando as características regionais e o calendário agrícola. Que o desmatamento, instalação de barragens e agroindústrias seja controlados e referendados pela comunidade e entidades locais. Articulação com uma política de importação de tecnologia que assegure a adoção obrigatória dos critérios de segurança segundo princípios mais rigorosos e eficientes, reconhecidos pela comunidade internacional. Garantia de que todos os contratos de obras públicas incluam nas suas cláusulas a obrigatoriedade das empresas em manter a segu- rança dos ambientes de trabalho. Que as horas extras sejam contabilizadas para o cálculo de tempo de aposentadoria. Sobre a efetivação e ampliação do controle social na saúde dos trabalhadores, a CNST deliberou (BRASIL, 2011, p. 22-26): O Estado deve realizar mapeamento de áreas de risco com acompanhamento dos sindicatos. Garantir estabilidade de emprego a todos os trabalhadores e uma legislação única, que assegure os mesmos direitos e benefícios a todos, independentemente de trabalharem na área urbana ou rural, no setor público ou no privado. Garantir a participação do trabalhador urbano e rural na fiscali- zação. Proibir que os profissionais que atuam na fiscalização tenham vínculos com a empresa fiscalizada, seja ela de caráter público ou privado. É direito de cada trabalhador receber cópia dos resultados dos exames de saúde a que forem submetidos. Que seja assegurado às comissões de saúde competentes receberem estudos sobre o conjunto desses exames bem como das condições ambientais de trabalho. Garantir ao trabalhador o direito de recusar trabalhos que o exponham a riscos. Transformação das Cipas em Comissões de Saú- de, regulamentadas por lei e constituídas exclusivamente por trabalhadores eleitos diretamente por seus pares, com mandato de três anos e com direito à reeleição. A esses trabalhadores serão garantidos os mesmos direitos dos diri- gentes sindicais. Será competência de a Comissão impedir o trabalho quando houver risco iminente à saúde do trabalhador, tendo os seus membros direito a tempo livre para atuação e realização de reuniões com os trabalhadores no interior da empresa. Garantir a participação dos trabalhadores na administra- ção da Previdência. Garantir que os SESMTs sejam fiscalizados pelo sindicato da categoria e integrados ao Sistema Único de Saúde. Acordo coletivo com cláusulas específicas em saúde e trabalho. Apresentação, aos trabalhadores, do resultado do levantamento sobre as condições de saúde dos trabalhadores em cada empresa. Garantia da participação dos trabalhadores e sindicalistas em eventos que permitam a sua formação técnica. Direito à participação dos trabalhadores nas decisões referentes à sua saúde, dentro e fora da empre- sa. Os sindicatos devem evitar, sempre que possível a tarefa assistencialista que os descaracteriza e dificulta sua ação política. Por um Sistema Único de 41 P O LÍ TI C A S D E S A Ú D E P Ú B LI C A C O M Ê N FA SE N A S A Ú D E D O T R A B A LH A D O R - G R U P O P R O M IN A S Saúde estatal, descentralizado, regionalizado, igualitário, de boa qualidade, que garanta atendimento integral a toda a população, assegurando-se aos tra- balhadores a participação na formulação da política, administração e gestão do sistema de saúde, em todos os seus níveis. Que os órgãos ou serviços responsáveis pela atenção à saúde do trabalhador sejam obrigados a fornecer informações aos representantes dos trabalhadores sobre: ambiente e riscos do trabalho, doenças e acidentes, prontuários médicos, orçamentos, dados estatísticos. Os profissionais de segurança e medicina do trabalho remune- rado pelas empresas deverão ter sua ação controlada pelo Estado, dentro de programas específicos formulados conjuntamente pelo estado e Comissão de Saúde e aprovado pelos sindicatos da categoria. Garantia aos dirigentes sindi- cais e representantes dos trabalhadores de acesso aos locais de trabalho. Os SESMTs devem estar sob o controle dos sindicatos ou Associações de Classe quando os primeiros não existirem, e sob a vigilância da autoridade sanitária local dentro do Sistema Único de Saúde. Deverão ser custeados diretamente pela empresa e ter um programa de atuação definido pelo órgão sanitário local, com a participação das Comissões de Saúde e do sindicato e/ou associação da categoria correspondente. Garantia da existência do delegado sindical e conselhos de fábrica livres, eleitos pelos trabalhadores de sua fábrica, com estabilidade igual à do dirigente sindical, com mandato de dois anos e esta- bilidade igual após o término do mesmo garantido a reeleição. [...] Direito ao trabalho com controle dos trabalhadores sobre o processo
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