Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL A MEDIAÇÃO DIGITAL NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS LARESSA CARVALHO MARTINS1 RESUMO O presente artigo aborda a mediação digital como uma das formas de solução de conflitos trazida pelo direito processual civil brasileiro diante dos avanços tecnológicos e sociais que alcançaram a sociedade brasileira nos últimos anos. Dessa forma, objetiva-se tratar da mediação digital esclarecendo seu conceito, a importância da sua aplicação, seus efeitos nos campos jurídico e social, bem como analisar os desafios que precisam ser superados para que a execução desse instituto seja eficiente e eficaz. Para tanto, a abordagem metodológica consiste no método dedutivo, por meio da análise de princípios, regras, legislações e doutrinas. O trabalho apresentado possibilitará a averiguação de que a mediação digital é um instrumento de grande relevância no sistema jurídico. A mediação, quando realizada por pessoa capacitada, se torna eficiente e eficaz, trazendo maior satisfação entre as partes e maior celeridade na solução dos conflitos. Ao trazer a tecnologia para a mediação, permitindo sua realização por vias digitais, contribui-se com a diminuição de casos judiciais que abarrotam os tribunais, bem como ocorre a colaboração para que as partes não tenham maiores custos e desgastes, resolvendo o conflito de forma prática. Palavras-chave: mediação; digital; instrumento; jurídico; relevância. 1Laressa Carvalho Martins – Pós – graduanda em Direito Processual Civil pela Faculdade Ipemig; Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Campus São Gabriel, e- mail: laressa.direito2013@gmail.com 2 1 INTRODUÇÃO A mediação é uma das formas de resolução de conflito estabelecidas pelo Código de Processo Civil brasileiro que determina que sua prática deve ser estimulada antes e no curso do processo judicial. A mediação consiste na atuação de um terceiro imparcial que direcionará as partes envolvidas a refletirem sobre as questões e interesses conflitantes, possibilitando que, por meio do fortalecimento da relação, as partes consigam construir soluções consensuais que gerem benefícios mútuos (Código de Processo Civil, 2015). O uso dos meios digitais para promover o uso do referido método de auto composição é crescente, uma vez que a conexão digital adquiriu um lugar de destaque em vista das facilidades que propiciou para maior interação social entre os indivíduos. O avanço tecnológico impulsionou a digitalização dos meios de comunicação possibilitando a resolução de demandas de forma ágil, prática e célere. Abordar a mediação digital na resolução de conflitos é essencial por se tratar de uma das principais formas de pacificação de problemas sociais, garantindo que as partes encontrem uma solução justa e se sintam satisfeitas com a conclusão da celeuma. Ao promover a mediação digital, busca-se a facilitação do acesso à justiça por meio da tecnologia, o que contribui para a diminuição de casos sujeitos a tutela jurisdicional, reduzindo a sobrecarga do judiciário com demandas que podem ser resolvidas entre as partes, por meio da auto composição. Para tanto, é necessário analisar cada caso concreto para verificar se as partes possuem condições de acessar os meios digitais utilizados como canal para a promoção da mediação. Dessa forma, objetiva-se demonstrar a importância da mediação digital como forma de resolução de conflitos. Para tanto, é imperioso abordar as causas que justificaram a criação e as que impulsionam o uso atual de tal instituto, além de explorar o que a legislação brasileira preceitua a respeito da temática, como também esclarecer sobre os efeitos da aplicação da mediação digital na sociedade e no campo jurídico. Portanto, o presente trabalho abordará sobre a mediação digital como mecanismo de pacificação social, sendo um importante método de resolução de conflitos. Com esse fim, tratar-se-á de maneira breve e concisa sobre os conflitos sociais e a tutela jurisdicional para em seguida explanar o tema proposto. 3 2 REFERENCIAL TEÓRICO A compreensão da importância da aplicação da mediação digital perpassa por tópicos que envolvem os conflitos sociais inerentes a vida em sociedade, bem como o papel exercido pelo estado para pacificar e dirimir as dissensões objetivando manter a paz social. 2.1 CONFLITOS SOCIAIS Observando a história da humanidade nota-se que conflitos e dissenções sempre fizeram parte da vida social. Uma sociedade é composta de diversas pessoas, cada uma com sua história, com suas características e com seus interesses, sendo necessário estabelecer direitos e deveres para que as interações sociais ocorram respeitando condições mínimas de dignidade. Assim, quando há “descumprimento da lei, abuso, desrespeito a convenções e quebra de princípios” (Bacellar, 2012, p. 18) bem como, divergência de interesses qualificada por uma pretensão resistida, ocorre a existência de um conflito ou lide (Bacellar, 2012, p. 18). Desse modo, em determinados casos as pessoas não conseguem resolver suas desavenças voluntariamente, necessitando, muitas vezes, da tutela jurisdicional do Estado para dirimir a celeuma. O Estado atua como um terceiro imparcial a situação. O Juiz analisará cada caso concreto, considerando as provas apresentadas e produzidas, aplicando a legislação de forma mais objetiva, na busca de uma solução justa. Entretanto, a intervenção estatal não precisa ser a única forma de resolução de conflito entre as partes, sendo imprescindível a aplicação de outros métodos facilitadores que incentivarão as partes a construírem uma solução pacífica, o que contribuirá para a diminuição da sobrecarga do poder judiciário e maior satisfação social. Nesse sentido, Roberto Portugal Bacellar (2012) afirma que: Para que o sistema judiciário como um todo possa cumprir o seu papel com eficiência e em tempo razoável (nossa posição), deve ser reservado ao Poder Judiciário, fundamentalmente, causas mais significativas que exijam o controle da legalidade nos casos de lesão ou ameaça de lesão a direitos. Todas as demais questões relativas a divergências de interesses, ruídos de comunicação, relações convencionais conflituosas, dentre outras, podem encontrar melhor resolução por outros métodos que não aqueles 4 adversariais originados no modelo público tradicional desenvolvido perante o Poder Judiciário. Dessa forma, é imprescindível a aplicação de métodos que promovam a resolução de conflitos, nos quais as partes consigam construir uma solução, eliminando os ruídos de comunicação e considerando os interesses envolvidos. 2.2 TUTELA JURISDICIONAL Ao Estado pertencem os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, sendo estes classificados como uno, indivisíveis e indelegáveis, com funções típicas e atípicas. A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu art. 5º, inciso XXXV, que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Dessa forma, os conflitos sociais devem ser apresentados ao Poder Judiciário para que este exerça sua função de processar e julgar o caso, aplicando a lei, exercendo sua função jurisdicional. Quando surge uma controvérsia, as partes envolvidas submetem a demanda ao Poder Judiciário por meio da propositura de ação. Assim, os órgãos jurídicos competentes, de acordo com as matérias estabelecidas à apreciação, analisarão a situação, para conceder a tutela do direito pleiteado a quem de direito, conforme o julgamento a ser realizado. Nesse sentido, o Ministro Luiz Fux (2004) afirmou: O Estado, como garantidor da paz social, avocou para si a solução monopolizada dos conflitos intersubjetivos pela transgressão à ordem jurídica, limitando o âmbito da autotutela.Em consequência, dotou um de seus Poderes, o Judiciário, da atribuição de solucionar os referidos conflitos mediante a aplicação do direito objetivo, abstratamente concebido, ao caso concreto. A supremacia dessa solução revelou-se pelo fato incontestável de a mesma provir da autoridade estatal, cuja palavra, além de coativa, torna- se a última manifestação do Estado soberano acerca da contenda, de tal sorte que os jurisdicionados devem-na respeito absoluto, porque haurida de um trabalho de reconstituição dos antecedentes do litígio, com a participação dos interessados, cercados, isonomicamente, das mais comezinhas garantias. Essa função denomina-se jurisdicional e tem o caráter tutelar da ordem e da pessoa [...] O Juiz atua como representante do Estado, que aplicará a legislação respeitando os princípios constitucionais e processuais, a fim de proferir uma 5 decisão justa para solucionar a causa apresentada, exercendo a função jurisdicional estatal. No entanto, apesar do Estado ter o monopólio da função jurisdicional devendo exercê-la em tempo razoável de duração processual, a forma tradicional de pacificar e resolver as demandas somente por meio da propositura de ação e decisão judicial, tornou-se insuficiente para dirimir todos os conflitos, em razão do aumento das dissensões entre os indivíduos, que em muitos casos também ficavam insatisfeitos com as soluções impostas, nos casos julgados. Tal fato, ocasionou a sobrecarga do Poder Judiciário, que precisou analisar e criar formas de resolução de conflitos alternativas, como as que serão tratadas abaixo. 2.3 MÉTODOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITO O Código de Processo Civil (2015) prevê que “o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos”. Dessa maneira, é possível realizar a arbitragem, considerando que a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados (2015, art. 3º). A arbitragem é regulamentada pela Lei 9.307/96 e aplica-se a causas que envolvem diretos patrimoniais disponíveis. Sua aplicação não pode ser compulsória, necessitando de instrumento assinado pelas partes. Esse método afasta o Poder Judiciário, uma vez que as partes escolhem pessoas de confiança para serem árbitros e julgarem o conflito. Assim, tem-se que a decisão exarada pelo árbitro possui a mesma eficácia que uma sentença, apenas se diferenciando pelo fato da impossibilidade recursal. Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (2021) entende que: A arbitragem depende de convenção das partes, em cláusula específica e expressa, para ser aplicada. Quando as partes optam pela arbitragem, elas afastam a via judicial e permitem que um ou mais terceiros, os árbitros, que geralmente detém vasto conhecimento da matéria em questão, decidam o conflito. Os árbitros atuam como juízes privados e suas decisões têm eficácia de sentença judicial e não pode ser objeto de recurso. Outro método bastante utilizado é a conciliação. Nela, uma terceira pessoa imparcial atua, preferencialmente, em casos em que não há relação anterior entre as partes, com o objetivo de auxiliá-las na construção de uma solução que contemple 6 os interesses de ambas (Código de Processo Civil, 2015). O conciliador deverá respeitar a vontade dos envolvidos, bem como os princípios estabelecidos em legislação, aplicando técnicas de negociação para ajudar as partes a alcançarem uma solução. A conciliação pode ocorrer tanto no âmbito extrajudicial, como judicial. Conforme descrito no Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal (2019): Associa-se ao conciliador uma postura mais propositiva direcionada para disputas de cunho objetivo em que não haja, preferencialmente, um vínculo anterior entre as partes. O foco do conciliador, portanto, é a resolução amigável dessa disputa, contemplando-se os interesses das partes e as possibilidades concretas de acordo. Há também o método da mediação regulado pela Lei 13.140/2015. Este instituto é semelhante à conciliação, diferenciando-se pelo fato de ser aplicado a casos em que há vínculo prévio entre as partes (Código de Processo Civil, 2015), o que, por vezes, traz maiores desafios para que seja realizado um acordo. Quando existe uma relação anteriormente estabelecida é provável que as partes, por seus próprios meios, tenham tentado solucionar o problema, sem contudo ter êxito. Desse modo, muitas vezes, os problemas que culminaram no conflito maior estão relacionados com ruídos de comunicação, com a dificuldade de expressar claramente os interesses reais, entre outras situações. Assim, o mediador precisa atuar com maior subjetividade, para que instrua os envolvidos na busca da melhora na comunicação, e consequentemente, na identificação dos sentimentos, necessidades e objetivos de cada parte dentro da demanda, facilitando a construção de soluções. 2.4 MEDIAÇÃO DIGITAL Conforme abordado anteriormente, a mediação é uma das formas de resolução de conflitos estabelecidas no direito brasileiro. A sua realização tem sido incentivada pelos operadores do direito, em meios extrajudiciais e judiciais. O artigo 46 da Lei 13.140/2015 prevê que “a mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de comunicação que permita a transação à distância, desde que as partes estejam de acordo”. 7 Dessa forma, há a integração da tecnologia para ampliar o alcance e facilitar o acesso da população a esse meio de resolução de conflitos o que configura a utilização de ODR´s “online dispute resolution”, que “consistem na utilização da tecnologia no processo de solução de conflitos, seja na totalidade do procedimento ou somente em parte deste” (Lima, 2016, p. 67). O uso dos meios digitais e tecnológicos ganharam muito espaço na sociedade atual. As redes sociais e alguns aplicativos possibilitaram a conexão de pessoas distantes, por meio de chamadas de vídeo, salas de reuniões online, que possibilitam o agrupamento de inúmeras pessoas no mesmo ambiente virtual, sendo possível o acesso pelo celular, notebook, computador, entre outros, possibilitando que a pessoa acesse de qualquer lugar, desde que possua internet. As inovações tecnológicas passaram a ser mais acessadas durante a pandemia da Covid 19 que trouxe inúmeros desafios sociais. Em tempos de isolamento devido ao crescimento dos índices de contaminação, a sociedade de um modo geral precisou encontrar meios para continuar a exercer suas atividades, o que inclui o setor judiciário e extrajudiciário que atuam na resolução de conflitos. Os atos, após curto período de suspensão, voltaram a ser praticados. Segundo Albuquerque e Ribas (2022, p. 312-313) “as sessões de mediação e conciliação foram realizadas no ambiente virtual por meio de plataformas digitais adotadas pelas Instituições Judiciárias”. O uso de plataformas online tornou-se mais frequente. Contudo, foi necessária uma ampla mobilização e capacitação dos profissionais envolvidos para que as sessões de mediação acontecessem em observância à legislação, sem que violasse os direitos dos envolvidos em aspectos como privacidade, confidencialidade, direito ao acesso e igualdade de condições. Inicialmente, parte da população teve dificuldade de se adaptar a digitalização. Muitas pessoas, mesmo possuindo acesso à internet, tiveram dificuldades para entender a dinâmica de funcionamento dos aplicativos. Outros, sequer tinham acesso à tecnologia, por residirem em local de difícil acesso tecnológico ou ainda, em função da falta de conhecimento sobre meios digitais. Dessa forma, em que pese a mediação digital ter trazido inúmeros benefícios como a celeridade na resolução de conflitos, diminuição de custos com deslocamentos, maior flexibilidade, ampliação e facilitação de acesso, é 8 imprescindível reconhecer os desafios que a digitalizaçãodos métodos de resolução de conflitos também precisam enfrentar. Como já citado anteriormente, um dos principais desafios consiste em possibilitar que todos tenham igualdade no acesso das plataformas. É essencial verificar se todos os envolvidos possuem as condições básicas para conseguir acessar o meio digital utilizado, como aparelho tecnológico, internet e entendimento sobre os passos que precisam seguir para conseguir ingressar na reunião. Os profissionais envolvidos precisam de capacitação para adequar a legislação ao ambiente virtual, bem como para lhe dar com incidentes tecnológicos. Nesse entendimento, verifica-se que: A utilização da mediação on-line e o acesso à justiça virtual são meios pertinentes de tornar mais célere, encurtar distâncias e diminuir os custos do tratamento dos conflitos. No entanto, o acesso aos equipamentos eletrônicos (i.e., computador e celular) e o acesso à internet ainda não são uma realidade de grande parcela da população brasileira, bem como, a população enfrenta dificuldades técnicas ao acessar os sistemas, o que acaba agravando a exclusão digital (SPENGLER; SPENGLER NETO, 2021). (Schwantes; Spengler, 2023) Desse modo, é notável que a mediação na forma digital é de suma importância na resolução de conflitos, diante do cenário tecnológico que atinge a sociedade atual. Os benefícios são grandes, tanto na esfera extrajudicial como nos casos judicializados, promovendo a solução em tempo hábil, com celeridade e satisfação das partes envolvidas, pois construíram em conjunto o acordo sem qualquer imposição. Entretanto, alguns cuidados devem ser tomados para garantir que o direito de todos os envolvidos sejam respeitados, principalmente em relação ao direito de acesso e igualdade de condições para que as partes resolvam seu conflito. 9 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para abordar o tema proposto utilizou-se o método dedutivo. A partir da análise de princípios, da legislação e teorias tornou-se possível tratar da mediação digital como forma de resolução de conflitos, à qual deve-se atribuir grande importância em razão de seus efeitos e da modernização social. A pesquisa foi realizada com o intuito de aprofundar os conhecimentos sobre o tema de modo a identificar os fatores relevantes, bem como explicitar os motivos da aplicação da mediação digital. Para tanto, consultou-se livros, artigos científicos e manuais que já trataram do tema, possibilitando maior análise e reflexão para a coleta das informações necessárias. Desse modo, o presente trabalho é qualitativo, explicativo e bibliográfico. As obras consultadas contribuíram com a elaboração do presente trabalho por abordarem tópicos importantes para a compreensão do tema. Rodrigo Portugal Bacellar (2012, p. 46) aborda com clareza e precisão sobre a mediação e arbitragem esclarecendo sobre o acesso a apropriada solução de conflito sendo a mediação uma delas. O Ministro Luís Fux (2004, p 41) abordou com maestria o tema da tutela jurisdicional do estado no seu curso de direito processual civil. Esta é de grande relevância para o entendimento da importância da aplicação da mediação digital, como meio de exercício da função jurisdicional e como meio alternativo a métodos tradicionais anteriormente estabelecidos. O Tribunal Federal do Distrito Federal (2021), assim como o manual de mediação e conciliação da justiça federal (2019) trouxe conceitos dos métodos de resolução de conflitos já adotados, tratando da “conciliação e mediação como movimento da pacificação social por caminhos alternativos, sendo um trabalho mais preventivo do que curativo” (2019, p. 9) Por fim, para tratar sobre a mediação digital realizou-se a revisão bibliográfica de artigos científicos que exararam a respeito das soluções de conflitos adequadas, realizadas de modo online, levantando os motivos que trouxeram a integração da tecnologia bem como os efeitos e desafios ocasionados. 10 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Ao analisar o presente trabalho verifica-se que mediação digital é de suma importância para a promoção da pacificação de conflitos. O uso de formas alternativas de solução de conflitos tornou-se imprescindível para incentivar as partes envolvidas a construírem soluções adequadas e satisfatórias, com maior autonomia, resolvendo a situação com maior celeridade e agilidade, o que diminui a sobrecarga do Poder Judiciário. Desse modo, é essencial que o terceiro imparcial que atuará no caso conduza as reuniões de maneira a trazer melhoria no relacionamento e comunicação dos envolvidos, possibilitando que estes identifiquem as reais necessidades e interesses, para a partir disso buscarem as soluções adequadas à situação apresentada. Outrossim, a integração da tecnologia, possibilitando o uso de plataformas e meios digitais facilitou e ampliou o acesso da população à justiça e aos núcleos que realizam os métodos alternativos. Além disso, trouxe maior flexibilidade e economia. Contudo, faz-se necessário superar os desafios apresentados, por meio da análise de cada caso apresentado, a fim de averiguar a viabilidade da mediação online, o que envolve a verificação das condições que os participantes terão para adentrar nas plataformas. Desse modo, os profissionais envolvidos devem participar de capacitações que adequem a modalidade online da mediação aos preceitos estabelecidos na legislação. Devem ainda, orientar as partes para que consigam acessar e utilizar com maior facilidade os meios e plataformas disponíveis. Assim, o direito de acesso deverá ser em igualdade de condições aos envolvidos de modo, que ninguém tenha seus direitos violados, mas sim, a contribuição dos meios digitais para resolução pacífica do conflito. 11 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Observando a história da humanidade nota-se que conflitos e dissenções sempre fizeram parte da vida social. Entretanto, quando as partes envolvidas não conseguem resolver seus conflitos em razão de um pretensão resistida, faz-se necessária a atuação estatal por meio do exercício da sua função jurisdicional. Todavia, nota-se que a forma tradicional de pacificação de conflitos tornou-se insuficiente para alcançar todas as demandas apresentadas, trazendo morosidade, bem como insatisfação a aplicação de sentenças e soluções consideradas inadequadas. Assim, têm-se os métodos de soluções de conflitos alternativos como forma de auxiliar a população e o Poder Judiciário na resolução mais rápida dos conflitos existentes. A arbitragem, a conciliação e a mediação são formas estabelecidas pela legislação. As duas últimas podem ocorrer tanto no âmbito judicial como extrajudicial. A mediação é aplicada em casos nos quais há relação prévia entre as partes, visando, inicialmente, a melhoria na comunicação dos envolvidos e em decorrência, possibilitar a construção de uma solução adequada e satisfatória. A mediação digital tornou-se possível em razão dos avanços tecnológicos. O uso de plataformas e aplicativos possibilitam a resolução de conflitos de modo mais célere, flexível e econômico, o que teve maior amplitude com a ocorrência da pandemia da COVID 19. Entretanto, apesar do inúmeros benefícios da integração tecnológica à mediação, deve-se atentar aos desafios trazidos para que o direito de todos sejam respeitados. Desse modo, cada caso deve ser analisado considerando as condições das partes para participar da modalidade online da mediação, para que assim, os profissionais possam atuar possibilitando a igualdade de acesso a todos. 12 REFERÊNCIAS Bacellar, Roberto Portugal. Mediação e arbitragem. São Paulo: Saraiva, 2012. - (Coleção saberes do direito; 53). BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>Acesso em: 10 de abr. de 2024. BRASIL. Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 23 set. 1996. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm Acesso em: 11 de abr. 2024. BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 16 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015 - 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 10 de abr. 2024. BRASIL. Lei n. 13.140, de 26 de junho de 2015. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 26 jun. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13140.htm?origin=instituicao. Acesso em: 11 de abr. 2024. DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça. Mediação X Conciliação X Arbitragem. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e- produtos/direito-facil/edicao-semanal/mediacao-x-conciliacao-x-arbitragem. Acesso em: 14 de abr. 2024. DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça. Exercício do Direito. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/informacoes/perguntas-mais-frequentes/exercicio-do-direito. Acesso em: 15 de abr. 2024. FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004. LIMA, Gabriela Vasconcelos. Adoção de soluções em online dispute Resolution como política pública para o poder judiciário: um panorama da situação brasileira. 2016. 128 f. Direito Constitucional - Fundação Edson Queiroz, Universidade de Fortaleza, Fortaleza, 2016. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp- content/uploads/2018/09/51093418491a3346d0d2af189b1e841d.pdf. Acesso em: 12 de abr. 2024. Schwantes, Helena; Spengler, Fabiana Marion. Perspectivas e desafios da mediação on-line enquanto política pública de acesso à justiça após o período pandêmico no Brasil. VirtuaJus, Belo Horizonte, v. 8, n. 14, p. 189 - 202, 1º sem. 2023 – ISSN1678-3425. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/index.php/virtuajus/article/view/30437/20803. Acesso em: 12 de abr. 2024. Spengler, Fabiana Marion; Pinho, Humberto Dalla Bernardina De. A mediação digital de conflitos como política judiciária de acesso à justiça no Brasil. Rev. Fac. Direito 13 UFMG, Belo Horizonte, n. 72, pp. 219-257, jan./jun. 2018. Disponível em: https://web.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article/download/1923/1817 Acesso em: 15 de abr. 2024. Takahashi, Bruno. Almeida, Daldice Maria Santana de. Gabbay, Daniela Monteiro. Asperti, Maria Cecília de. Manual de conciliação e mediação na Justiça Federal. Brasília: Conselho da Justiça Federal. 2019. 179 p.
Compartilhar