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Filosofando Introducao a Filosofia_Aranha_Martins

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A busca da verdade: 
Antiguidade e 
Idade Média
CAPÍTULO
9
Escola de Atenas (1506-1510), 
afresco de Rafael Sanzio.
Esse famoso afresco de Rafael Sanzio, que orna uma das paredes 
do Palácio Apostólico no Vaticano, representa o retorno à cultura 
greco-latina, incentivado no Renascimento. Vários filósofos e cientis-
tas de épocas diferentes estão reunidos na pintura, tendo ao centro 
Platão – que aponta para cima, como se indicasse o mundo das ideias, 
enquanto seu realista discípulo Aristóteles aponta para baixo. À es-
querda, de túnica bege, Sócrates dialoga com Alexandre, o Grande 
(de vestimenta militar), Ésquines e Xenofonte. Abaixo, estão a filósofa 
Hipátia de Alexandria e Parmênides de Eleia. Solitário, sentado ao pé 
da escada, Heráclito escreve. Na mesma direção, à direita, Euclides, 
rodeado por discípulos, demonstra um teorema, com um compasso. 
Ainda à direita, mais para cima, Ptolomeu, de costas, segura um globo 
terrestre. Inúmeros outros personagens estão representados, como 
Zenão de Eleia, Pitágoras, Epicuro e até o próprio Rafael.
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1 Teoria do conhecimento
A teoria do conhecimento é a disciplina filosófi-
ca que investiga as condições do saber verdadeiro. 
Neste capítulo, iniciaremos uma caminhada histórica 
para examinar como, ao longo do tempo, os filósofos 
conceberam o conceito de verdade. Os filósofos da 
Antiguidade e da Idade Média se interessaram por 
questões relativas ao conhecimento, embora ainda 
não se tratasse propriamente de uma teoria como 
disciplina autônoma. Isso se deve ao fato de que, com 
exceção dos céticos, aqueles filósofos não coloca-
vam em dúvida a capacidade humana de conhecer: 
eles explicavam como conhecemos.
A crítica da capacidade de conhecer foi iniciada 
no século XVII, tema de análise dos próximos capí-
tulos desta unidade. O que queremos deixar claro é 
que a filosofia reflete com base nos problemas do 
seu tempo, por isso mesmo as concepções sobre 
o conhecimento e a verdade mudam e se refinam.
Comecemos, pois, com as indagações sobre o
problema do conhecimento na Grécia antiga, desde 
os pré-socráticos a Platão e Aristóteles, cujas teorias 
influenciaram profundamente o pensamento medie-
val e ainda hoje ressoam em nossa maneira de pensar.
2 Filosofia pré-socrática
O período pré-socrático atravessou todo o sé-
culo VI a.C., quando filósofos oriundos das colônias 
gregas, como Jônia (atual Turquia) e Magna Grécia 
(sul da Itália e Sicília), iniciaram o processo de 
desligamento entre filosofia e pensamento mítico. 
No capítulo 2, “As origens da filosofia”, é explicado 
como se deu a passagem do mito para a filosofia e 
como pensaram vários filósofos pré-socráticos. Para 
eles, o princípio (a arkhé, em grego) não se encontra 
na ordem do tempo mítico, mas requer um princípio 
teórico, fundamento de todas as coisas.
A seguir, retomaremos as principais ideias de dois 
daqueles filósofos – Heráclito e Parmênides –, em 
razão da influência que exerceram sobre os filósofos 
da era clássica.
Heráclito e o devir
Vimos no capítulo 2 que Heráclito (c. 544-
-484 a.C.) nasceu em Éfeso, na Jônia, e, como seus
contemporâneos, procurou compreender a multi-
plicidade do real. Ao contrário deles, porém, não
rejeitou as contradições e quis apreender a realidade 
na sua mudança, no seu devir. Todas as coisas mudam 
sem cessar, e o que temos diante de nós em dado
momento é diferente do que foi há pouco e do 
que será depois: “Nunca nos banhamos duas vezes 
no mesmo rio”, pois na segunda vez não somos os 
mesmos, e também as águas correntes são outras.
Para Heráclito, o ser é o múltiplo, não apenas no 
sentido de que há uma multiplicidade de coisas, mas 
por estar constituído de oposições internas. O que 
mantém o fluxo do movimento não é o simples apa-
recer de novos seres, mas a luta dos contrários, pois 
“a guerra é pai de todos, rei de todos”. É da luta que 
nasce a harmonia, como síntese dos contrários. O 
dinamismo de todas as coisas pode ser representado 
pela metáfora do fogo, expressão visível da instabi-
lidade, símbolo da eterna agitação do devir: “o fogo 
eterno e vivo, que ora se acende e ora se apaga”.
Parmênides: o ser é imóvel
Parmênides (c. 544-450 a.C.) viveu em Eleia, 
cidade do sul da Magna Grécia. Sua teoria, também 
chamada eleática, influenciou de modo decisivo o 
pensamento ocidental. Criticou a filosofia heraclitia-
na ao contrapor a imobilidade do ser ao “tudo flui”, 
proposto por Heráclito. Para Parmênides, é absurdo 
e impensável afirmar que uma coisa pode ser e não 
ser ao mesmo tempo.
Com base no princípio estabelecido, Parmênides 
conclui que o ser é único, imutável, infinito e imóvel. 
Entretanto, porque não há como negar a existência 
do movimento no mundo – dado que as coisas nas-
cem e morrem, mudam de lugar e se expõem em 
infinita multiplicidade –, o filósofo explica que o mo-
vimento existe apenas no mundo sensível. Portanto, a 
percepção pelos sentidos é ilusória e fundamentada 
na opinião. Apenas o mundo inteligível é verdadeiro.
Uma das consequências da teoria de Parmênides 
é a identidade entre o ser e o pensar: ao pensarmos, 
pensamos algo que é, e não conseguimos pensar 
algo que não é.
Devir. Do latim devenire, “chegar”, “vir de”, “dirigir-
-se a”; signifi ca “vir a ser”, “tornar-se”.
Etimologia
No período clássico, os filósofos – sobretu-
do Aristóteles – se apropriaram das ideias de 
Parmênides para fundamentar a construção da 
metafísica e formular os princípios da lógica. Um 
deles é o princípio de identidade, em que “A = A”, 
ou seja, todo ser é igual a si mesmo, como trata 
o capítulo anterior.
Para saber mais
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3 Sofistas: a arte de 
argumentar
No período socrático ou clássico (séculos V e 
IV a.C.), o centro cultural deslocou-se das colônias gre-
gas para a cidade de Atenas. Desse período fazem par-
te Sócrates e seu discípulo Platão, que posteriormente 
foi mestre de Aristóteles. O século V a.C. é também 
conhecido como o século de Péricles, governante na 
época áurea da cultura grega, quando a democrática 
Atenas desenvolveu intensa vida política e artística. 
Embora ainda discutissem temas cosmológicos, es-
ses filósofos ampliaram os questionamentos para as 
áreas de antropologia, moral e política. A essa época 
também pertencem os sofistas, mestres da retórica.
Os sofistas vinham de todas as partes do mundo 
grego e ocupavam-se de um ensino itinerante, sem 
o compromisso de se fixar em um lugar específico.
Por deslumbrarem seus alunos com o brilhantismo de
sua retórica, foram duramente criticados por Sócra-
tes, Platão e Aristóteles, que os acusavam de não se
importar com a verdade, pois, afeitos que eram à arte
de persuadir, reduziam seus discursos a meras opiniões. 
Eram também acusados de “mercenários do saber” pelo 
costume de cobrar pelas aulas. No entanto, geralmente 
os sofistas pertenciam à classe média e, por não serem 
suficientemente ricos, não podiam se dar ao luxo do
“ócio digno”. Esse termo era utilizado na sociedade
grega para designar o tempo dedicado à atividade in-
telectual, costume da aristocracia liberada do trabalho 
de subsistência – ocupação destinada aos escravos.
A visão pejorativa dos sofistas perdurou por 
longo tempo, até que no século XIX uma nova his-
toriografia veio reabilitá-los, realçando suas princi-
pais contribuições.
Segundo Werner Jaeger, historiador da filosofia, 
os sofistas exerceram influência muito forte no 
seu tempo, vinculando-se à tradição educativa dos 
poetas Homero e Hesíodo. Sua contribuição para a 
sistematização do ensino foi notável pela elaboração 
de um currículo de estudos: gramática (da qual são 
os iniciadores), retórica e dialética; na tradição dos 
pitagóricos, desenvolveram a aritmética, a geome-
tria, a astronomia e a música.
Sofi sta. Do gregosophistés, “sábio”, ou melhor, 
“professor de sabedoria”. Posteriormente, o termo 
adquiriu sentido pejorativo para denominar aquele 
que emprega sofi smas, ou seja, alguém que usa de 
raciocínio capcioso, de má-fé, com intenção de 
enganar. Sóphisma signifi ca “sutileza de sofi sta”.
Etimologia
Além disso, os sofistas elaboraram o ideal teó-
rico da democracia, valorizado pelos comerciantes 
em ascensão, cujos interesses passaram a se con-
trapor aos da aristocracia rural. Nessas circuns-
tâncias, a exigência que os sofistas satisfazem na 
Grécia de seu tempo é de ordem essencialmente 
prática, voltada para a vida, pois iniciavam os 
jovens na arte da retórica, instrumento indis-
pensável para que os cidadãos participassem da 
assembleia democrática.
Se os sofistas foram acusados pelos seus detra-
tores de pronunciar discursos vazios, essa fama se 
deve ao fato de que alguns deles deram excessiva 
atenção ao aspecto formal da exposição e da defesa 
das ideias. E também porque em geral os sofistas 
estavam convencidos de que a persuasão é elemento 
essencial para o cidadão na cidade democrática. Os 
melhores deles, no entanto, buscavam aperfeiçoar os 
instrumentos da razão, ou seja, a coerência e o rigor 
da argumentação. Pode-se dizer que aí se encontrava 
o embrião da lógica, mais tarde desenvolvida por
Aristóteles.
Principais sofistas
Entre os sofistas mais famosos destacam-se Pro-
tágoras de Abdera, Górgias de Leontini, Hípias de 
Élida, Trasímaco, Pródico e Hipódamos, entre outros. 
Do mesmo modo que ocorreu com os pré-socráticos, 
dos sofistas só nos restam fragmentos de suas obras.
Examinemos dois dos mais importantes sofistas: 
Protágoras e Górgias.
Protágoras
Protágoras de Abdera (c. 485-411 a.C.) dizia 
que “O homem é a medida de todas as coisas”. 
Descontextualizado, esse fragmento torna-se um 
tanto obscuro. Pode ser entendido de várias ma-
neiras, mas frequentemente é interpretado como 
a exaltação da capacidade humana de construir a 
verdade. Assim, o logos não é divino, mas resulta 
do exercício técnico da razão humana, responsável 
por confrontar as diversas concepções possíveis da 
verdade. O que denota relativismo e subjetivismo, 
pois a verdade depende das circunstâncias e do lugar 
em que é discutida.
Retórica: arte da oratória; técnica de argumentar de 
maneira persuasiva.
Dialética: conceito com diversos significados. No contexto 
dos sofistas, habilidade para discutir e argumentar.
Relativismo: teoria segundo a qual não existem verdades 
absolutas, porque qualquer afirmação é sempre relativa à 
pessoa, ao grupo ou ao tempo a que pertence.
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A teoria de Protágoras foi herdeira da polêmica 
dos pré-socráticos entre aparência e realidade, 
opinião e verdade. Tendeu para os heraclitianos, 
que defendiam a mudança constante de todas as 
coisas, afastando-se das teorias eleáticas sobre a 
imobilidade do ser. Fazia sentido seu posicionamen-
to, por viver em uma época de confrontos políticos 
e da necessária participação do cidadão no debate 
sobre os destinos da cidade. Em outras palavras, 
Protágoras defende que ninguém detém a verdade 
ou, pelo menos, que ela resulta da discussão entre 
iguais, como revela sua célebre frase.
Protágoras escreveu uma obra chamada 
Antilogia – que significa contradição –, na qual 
ensina a defender posições opostas, usando ar-
gumentos para cada uma delas. Se por esse mo-
tivo alguns o acusaram de estimular a prática de 
sofismar, outros viam nele alguém que educava o 
cidadão para o debate público.
Górgias
Górgias de Leontini (século V a.C.), assim chama-
do por ter nascido nessa cidade da Sicília, foi um dos 
mais famosos oradores da Grécia. Percorreu diversas 
cidades, inclusive Atenas, e era muito procurado 
como mestre de retórica.
Do ponto de vista do conhecimento, Górgias era 
um cético. Criticou o debate dos pré-socráticos so-
bre verdade e opinião, admitindo que nada podemos 
conhecer. Desenvolveu três teses:
• o	ser	não	existe;
• se	 existisse	 alguma	 coisa,	 não	 poderíamos
conhecê-la;
• se	a	conhecêssemos,	não	poderíamos	comunicá-la
aos outros.
Essas teses expressam a separação entre o ser, o
pensar e o dizer, aspectos que os filósofos anteriores 
(e também muitos dos que vieram depois) costuma-
vam entrelaçar, ao identificar o pensamento acerca 
do real à realidade das coisas. Ao contrário, o dizer 
se faz pela palavra e ela é impotente para conhecer 
o real, servindo apenas para comunicar opiniões.
Górgias critica o conceito de verdade porque o ser
não se deixa desvelar pelo pensamento, restando-lhe 
o caminho pelo qual a razão busca iluminar os fatos,
sem chegar a uma conclusão definitiva.
Como então explicar sua defesa da retórica? 
Para Górgias, a retórica não leva à verdade, mas à 
persuasão. E esta se faz não pela razão, mas pela 
emoção. Por isso, ao contrário de Protágoras, que 
destacava o aspecto racional da persuasão, Górgias 
defende seu caráter emotivo.
A verdade, em grego, se diz alétheia, termo 
formado por a (prefi xo negativo) e léthe (esque-
cimento). Designa literalmente o não esquecido, o 
não oculto; portanto, verdade é o que se desvela, 
o que é visto, o que é evidente. Como se percebe,
não era essa a posição tomada pelo cético Górgias.
Para saber mais
4 Método socrático
Sócrates (c. 470-399 a.C.) nada deixou escrito. Suas 
ideias foram divulgadas por Xenofonte e Platão, dois de 
seus discípulos. Nos diálogos de Platão, Sócrates sempre 
figura como o principal interlocutor. Já o comediógrafo 
Aristófanes o ridiculariza ao incluí-lo entre os sofistas.
Com base no pressuposto “Só sei que nada sei”, 
que consiste justamente na sabedoria de reconhecer 
a própria ignorância, Sócrates inicia a busca pelo sa-
ber. Ele costumava conversar com todos, fossem ve-
lhos ou moços, nobres ou escravos, mas os métodos 
de indagação de Sócrates provocavam os poderosos 
do seu tempo, ao se verem contestados por aquele 
hábil indagador. Desse modo, criou inimigos que o 
levaram ao tribunal sob a acusação de não crer nos 
deuses da cidade e de corromper a mocidade. Por 
essa razão, foi condenado à morte.
Na verdade, Sócrates estava introduzindo uma no-
vidade na discussão filosófica por meio de seu método, 
constituído de duas etapas, a ironia e a maiêutica.
• A	ironia, termo que em grego significa “perguntar, 
fingindo ignorar”, é a fase “destrutiva”. Diante do
oponente, que se diz conhecedor de determinado 
assunto, Sócrates afirma inicialmente nada saber. 
Com hábeis perguntas, desmonta as certezas até
que o outro reconheça a própria ignorância ou
desista da discussão.
• A	maiêutica (do grego, “parto”) foi assim denomi-
nada em homenagem à sua mãe, que era parteira: 
enquanto ela auxiliava no parto de crianças, Só-
crates “dava à luz” novas ideias. Em diálogo com
seu interlocutor, após destruir o saber meramente 
opinativo (a doxa), dava início à procura da defi-
nição do conceito, de modo que o conhecimento
saísse “de dentro” de cada um. Esse processo está 
bem ilustrado nos diálogos de Platão, e é bom
lembrar que, no final, nem sempre se chegava a
uma conclusão definitiva: nesses casos, trata-se
dos chamados diálogos aporéticos.
Aporético: que diz respeito à aporia (do grego póros, “passagem”, 
+ o prefixo a, que indica “negação”; portanto, “impasse”,
“incerteza”). Os diálogos aporéticos não têm continuidade porque 
o oponente se retira ou não avança a discussão até solucioná-la, 
sobretudo se o interlocutor se esquiva do debate.
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A busca do conceito
Nas conversas, Sócrates privilegia as questões 
morais, por isso em muitos diálogos pergunta o que 
são a coragem, a covardia, a piedade, a amizade e 
assim por diante. Tomemos o exemplo da justiça: 
após enumerar diversas expressões de justiça,o filó-
sofo quer saber o que é a “justiça em si”, o universal 
que a representa.
Para isso, a filosofia nascente precisa inventar 
palavras novas ou usar as do cotidiano, atribuindo-
-lhes sentido diferente. Sócrates utiliza o termo
logos (na linguagem comum, “palavra”, “conversa”), 
que passa a significar a razão de algo, ou seja, aquilo 
que faz com que a justiça seja justiça.
No diálogo Laques (ou Do valor), os generais 
Laques e Nícias são convidados a discorrer sobre a 
importância do ensino de esgrima na formação dos 
jovens. Sócrates reorienta o debate ao indagar a 
respeito de conceitos que antecedem essa discus-
são, ou seja, o que se entende por educação e por 
virtude. Dentre as virtudes, Sócrates escolhe uma 
delas e indaga: “O que é a coragem?”. Laques acha 
fácil responder: “Aquele que enfrenta o inimigo e 
não foge no campo de batalha é o homem corajo-
so”. Sócrates dá exemplos de guerreiros cuja tática 
consiste em recuar e forçar o inimigo a uma posição 
desvantajosa, mas nem por isso deixam de ser cora-
josos. Cita outros tipos de coragem que ultrapassam 
os atos de guerra, como a coragem dos marinheiros, 
dos que enfrentam a doença ou os perigos da política 
e dos que resistem aos impulsos das paixões. Enfim, 
o que Sócrates procura não são exemplos de casos
corajosos, mas o conceito de coragem.
A arte da esgrima, um dos jogos que os gregos 
antigos aprendiam nos ginásios, é o assunto inicial do 
diálogo Laques, de Platão. Sabemos que na esgrima 
os opositores se confrontam a fi m de ver quem é 
mais hábil para vencer a luta. Releia o item 3 sobre 
os sofi stas e responda às questões a seguir.
a) Em que sentido a metáfora de “esgrimir com pala-
vras” é indicativa das críticas feitas por Sócrates e 
Platão aos sofi stas?
b) Refl ita e posicione-se a respeito: esse é um pro-
cedimento adequado para a discussão fi losófi ca?
Para refletir
5 Platão: o mundo das ideias
A importância de Platão deriva, sobretudo, da 
teoria do conhecimento, que serve de base para a 
construção do seu sistema filosófico. Costumava 
citar mitos e alegorias, no intuito de tornar mais 
concreta a exposição e preparar o terreno para a 
exposição abstrata de suas ideias.
Comecemos pela alegoria da caverna, que consta 
do livro VII de A República.
Quem é?
Platão (c. 428-347 a.C.) era 
na verdade o apelido de Arís-
tocles de Atenas (o apelido 
“Platão” talvez se devesse 
aos seus ombros largos ou 
ao corpo meio quadrado). 
Nascido de família aristocrá-
tica, após a condenação de 
seu mestre Sócrates, viajou 
por vários lugares, tentou 
em vão interferir no governo 
de Siracusa (cidade na Sicília) e por fi m retornou a 
Atenas, onde fundou a escola denominada Academia. 
Seus diálogos – que, em sua maior parte, trazem 
Sócrates como interlocutor principal – abrangem 
as várias áreas da fi losofi a nascente, e por isso ele 
é o primeiro fi lósofo sistemático do pensamento 
ocidental. Sua infl uência foi sentida no helenismo 
(neoplatonismo) e adaptada à doutrina cristã, ini-
cialmente por Agostinho de Hipona (354-430). Até 
hoje vigoram muitas de suas ideias sobre a relação 
corpo-alma, a política aristocrática e a crença na su-
perioridade do espírito em detrimento dos sentidos.
Busto romano do 
filósofo Platão 
(século I d.C.). Autoria 
desconhecida.
Alegoria da caverna
Conforme a descrição de Platão, pessoas estão 
acorrentadas desde a infância em uma caverna, de 
modo a enxergar apenas a parede ao fundo, na qual 
são projetadas sombras, que elas pensam ser a reali-
dade. Trata-se, entretanto, da sombra de marionetes, 
empunhadas por pessoas atrás de um muro, que 
também esconde uma fogueira. Se um dos indivíduos 
conseguisse se soltar das correntes para contemplar 
à luz do dia os verdadeiros objetos, ao regressar à 
caverna seus antigos companheiros o tomariam por 
louco e não acreditariam em suas palavras.
Esgrimir: praticar a arte da esgrima; significa também 
discutir, debater. O mesmo ocorre com a palavra “florear”, 
que significa “usar arma branca com destreza” ou “embelezar 
um texto”.
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O que aprendemos com Sócrates? Que o conhe-
cimento resulta de uma busca contínua, enriquecida 
pelo diálogo. Desse modo, ele parte de exemplos e 
casos particulares até chegar ao universal, ao con-
ceito. Isso é filosofar. 
A alegoria da caverna representa as etapas da 
educação de um filósofo ao sair do mundo das 
sombras (das aparências) para alcançar o conheci-
mento verdadeiro. Após essa experiência, ele deve 
voltar à caverna para orientar os demais e assumir 
o governo da cidade. Por isso, a análise da alegoria
pode ser feita sob dois pontos de vista:
• o	político: com o retorno do filósofo-político que
conhece a arte de governar;
• o	epistemológico: quando o filósofo volta para
despertar nos outros o conhecimento verdadeiro.
Platão distingue dois tipos de conhecimento: o sen-
sível e o inteligível, que se subdividem em outros graus.
Observando a ilustração da caverna, identifica-
mos quatro formas da realidade:
• as	sombras:	a	aparência	sensível	das	coisas;
• as	marionetes:	a	representação	de	animais,	plan-
tas etc., ou seja, das próprias coisas sensíveis;
• o	exterior	da	caverna:	a	realidade	das	ideias;
• o	Sol:	a	suprema	ideia	do	bem.
O muro representa a separação de dois tipos
de conhecimento: o sensível (que corresponde às 
duas primeiras formas de realidade) e o inteligível 
(correspondente às duas últimas).
A valorização da fi losofi a como conhecimento su-
perior leva Platão à idealização do rei-fi lósofo. Para o 
Estado ser bem governado, é preciso que “os fi lósofos 
se tornem reis, ou que os reis se tornem fi lósofos”.1
Para saber mais
Dialética platônica
A alegoria da caverna é a metáfora que serve 
de base para Platão expor a dialética dos graus do 
conhecimento. Sair das sombras para a visão do 
Sol representa a passagem dos graus inferiores do 
conhecimento aos superiores: na teoria das ideias, 
Platão distingue o mundo sensível, o dos fenômenos, 
do mundo inteligível, o das ideias.
O mundo sensível, percebido pelos sentidos, é 
o local da multiplicidade, do movimento; é ilusório,
pura sombra do verdadeiro mundo. Por exemplo,
mesmo que existam inúmeras abelhas dos mais va-
riados tipos, a ideia de abelha deve ser una, imutável, 
a verdadeira realidade.
O mundo inteligível é alcançado pela dialética 
ascendente, que fará a alma elevar-se das coisas 
múltiplas e mutáveis às ideias unas e imutáveis. As 
ideias gerais são hierarquizadas, e no topo delas 
está a ideia do bem, a mais elevada em perfeição e 
a mais geral de todas – na alegoria, corresponde à 
metáfora do Sol. Os seres em geral não existem senão 
enquanto participam do bem. E o bem supremo é 
também a suprema beleza: o Deus de Platão.
Como as ideias são a única verdade, o mundo dos 
fenômenos só existe na medida em que participa 
do mundo das ideias, do qual é apenas sombra ou 
cópia. Trata-se da teoria da participação, mais tarde 
severamente criticada por Aristóteles.
A ascensão dialética
Opinião (doxa)
Imagens do sensível.
Realidades sensíveis, crença.
Conhecimento matemático, 
raciocínio hipotético.
Ciência (episteme)
Conhecimento filosófico, 
intuição intelectiva.
Ilustração 
representando 
a alegoria da 
caverna de Platão. 
1 Para mais informações sobre o conceito de rei-filósofo, 
consulte o capítulo 19, “Política antiga e medieval”.
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Teoria da reminiscência
Como é possível ultrapassar o mundo das apa-
rências ilusórias? Platão supõe que o puro espírito 
já teria contemplado o mundo dasideias, mas tudo 
esquece quando se degrada ao se tornar prisionei-
ro do corpo, considerado o “túmulo da alma”. Pela 
teoria da reminiscência, Platão explica como os sen-
tidos despertam na alma as lembranças adormecidas. 
Em outras palavras, conhecer é lembrar.
Esse assunto é abordado na obra Mênon. Nesse 
diálogo, para ilustrar a teoria da reminiscência, o 
personagem Sócrates chama um escravo e lhe pede 
que examine algumas figuras sensíveis e, por meio 
de perguntas, o estimula a “lembrar-se” das ideias 
e a descobrir uma verdade geométrica.
Se retomarmos o que foi comentado a respeito 
dos pré-socráticos, podemos constatar que Platão 
procura superar a oposição entre o pensamento de 
Heráclito, que afirma a mutabilidade essencial do ser, 
e o de Parmênides, para quem o ser é imóvel. Platão 
resolve o problema com a teoria do mundo das ideias 
– que se refere ao ser parmenídeo – e do mundo dos
fenômenos, referente ao devir heraclitiano. A filosofia 
platônica também foi estimulada pelos sofistas. No
esforço de se contrapor criticamente a eles, Platão
elaborou uma dialética que conduz à verdade.
6 Filosofia de Aristóteles
No século IV a.C., a reflexão filosófica já se encon-
trava amadurecida e sistematizada nas suas diversas 
áreas com Aristóteles. Mais ainda, foi ele que estabele-
ceu as linhas mestras da lógica, o principal instrumen-
to do filosofar. Discutiu sobre os primeiros princípios, 
sobre as proposições e argumentos (indução, dedução 
e analogia). Por meio das regras do silogismo, indicou 
maneiras de evitar falácias e argumentos não válidos.2
Metafísica
Entre as diversas contribuições de Aristóteles, 
destacam-se os conceitos que explicam o “ser em 
geral”, área da filosofia que hoje chamamos de 
metafísica, embora ele próprio usasse a denomina-
ção filosofia primeira.
O termo “metafísica” surgiu no século I a.C., 
quando Andrônico de Rodes, ao classificar as obras 
de Aristóteles, dispôs a obra de filosofia primei-
ra após as obras de física: metà physis, ou seja, 
“depois da física”. Posteriormente, esse “depois”, 
puramente espacial, foi entendido como “além”, 
por tratar de temas que transcendem a física, que 
estão além das questões relativas ao conhecimento 
do mundo sensível.
Para saber mais
Nas obras Metafísica e Sobre a alma, Aristóteles 
desenvolve sua teoria do conhecimento. O conhe-
cimento sensível e o conhecimento racional são 
distintos, mas ambos dependem um do outro. Para 
Aristóteles, a origem das ideias é explicada pela 
abstração, por meio da qual o intelecto, partindo 
das imagens sensíveis das coisas particulares (co-
nhecimento sensível), elabora os conceitos univer-
sais (conhecimento racional). Fica clara, portanto, 
a oposição à teoria das ideias de Platão, pois, para 
Aristóteles, nada há no intelecto que não tenha 
passado primeiro pelos sentidos. 
A filosofia primeira não é primeira na ordem do 
conhecer, já que partimos do conhecimento sensí-
vel. Cabe a ela buscar as causas mais universais e, 
portanto, as mais distantes dos sentidos. Trata-se 
da parte nuclear da filosofia, na qual se estuda “o 
ser enquanto ser”, isto é, o ser independentemente 
de suas determinações particulares. É a metafísica 
que fornece a todas as outras ciências o fundamento 
comum, o objeto que elas investigam e os princípios 
dos quais dependem.
2 Mais referências à lógica no capítulo 8, “Lógica: 
aristotélica e simbólica”.
Quem é?
Aristóteles (c. 384-322 a.C.) nasceu em Estagira, na Macedônia – por isso, às vezes, recebe 
a designação de estagirita. Com 17 anos foi para Atenas estudar na Academia de Platão. A 
fidelidade ao mestre foi entremeada por críticas. Após a morte de Platão, em 347 a.C., viajou 
por diversos lugares e foi preceptor do jovem de 13 anos que se tornaria Alexandre, o Grande, 
da Macedônia. De volta a Atenas, fundou o Liceu, em 335 a.C., assim chamado por ser vizinho 
do templo de Apolo Lício. Segundo alguns, Aristóteles e os discípulos caminhavam pelo jardim 
do Liceu, por isso a filosofia aristotélica às vezes é designada peripatética (do grego peri, “à 
volta de”, e patéo, “caminhar”). Em meados da Idade Média, seu pensamento ressurgiu com 
vigor, adaptado às teses religiosas. Apesar das críticas sofridas a partir da Idade Moderna, per-
manece até hoje como referência, sobretudo nas áreas de lógica, metafísica, política e ética.
Busto romano do 
filósofo Aristóteles 
(século I d.C.). 
Autoria 
desconhecida.
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Por exemplo, podemos dizer de uma coisa que ela 
é diferente de todas as outras; ou semelhante a algu-
mas; ou que pertence a determinado gênero ou espé-
cie; que é uma totalidade ou apenas uma parte; que é 
perfeita ou imperfeita; e assim por diante. Esses são 
conceitos ligados ao ser, e cabe à metafísica examiná-
-los, ou seja, refletir sobre o ser e suas propriedades.
O conhecimento pelas causas
Aristóteles define a ciência como conhecimento 
verdadeiro, conhecimento pelas causas, por meio 
do qual é possível superar os enganos da opinião e 
compreender a natureza da mudança, do movimento. 
Desse modo, recusa a teoria das ideias de Platão e 
sua interpretação radical sobre a oposição entre 
mundo sensível e mundo inteligível.
Para entender a teoria aristotélica, vamos des-
crever três distinções fundamentais realizadas pelo 
filósofo: substância-essência-acidente; matéria-
-forma; potência-ato. Esses conceitos, por sua vez,
servem para compreender a teoria das quatro causas.
Substância: essência e acidente
Costuma-se dizer que Aristóteles “traz as ideias 
do céu à terra” porque, para rejeitar a teoria das 
ideias de Platão, reuniu o mundo sensível e o inteli-
gível no conceito de substância: cada ser que existe 
é uma substância. A substância é “aquilo que é em 
si mesmo”, o suporte dos atributos. Esses atributos 
podem ser essenciais ou acidentais:
• a	essência é o atributo que convém à substância
de tal modo que, se lhe faltasse, a substância não
seria o que é;
• o	acidente é o atributo que a substância pode ter
ou não, sem deixar de ser o que é.
Por exemplo: a substância individual “esta pes-
soa” tem como características essenciais os atributos 
da humanidade (Aristóteles diria que a racionalidade 
é a essência do ser humano). Os acidentais são, entre 
outros, ser gordo, velho ou belo, atributos que não 
mudam o ser humano na sua essência.
Matéria e forma
Além dos conceitos de essência e acidente, 
Aristóteles recorre às noções de matéria e forma. 
Todo ser é constituído de matéria e forma, princí-
pios indissociáveis.
• A	matéria é o princípio indeterminado de que o
mundo físico é composto, é “aquilo de que é feito 
algo”. Trata-se da matéria indeterminada. Quando 
nos referimos à matéria concreta, trata-se de
matéria segunda.
• A	forma é “aquilo que faz que uma coisa seja o
que é”. Nesse sentido, a forma é geral (o que faz
com que todo animal ou vegetal sejam o que são).
A forma é o princípio inteligível, a essência co-
mum aos indivíduos da mesma espécie pela qual 
todos são o que são, enquanto a matéria é pura 
passividade e contém a forma em potência.
O movimento (devir) é explicado por meio das 
noções de substância e acidente, de matéria e for-
ma. Para Aristóteles, todo ser tende a tornar atual a 
forma que tem em si como potência. Por exemplo, a 
semente, quando enterrada, tende a se desenvolver 
e a se transformar no carvalho que é em potência.
Potência e ato
Ao explicitar os conceitos de matéria e forma, 
é necessário recorrer aos de potência e ato, que 
explicam como dois seres diferentes podem entrar 
em relação, atuando um sobre o outro.
• A	potência é a capacidade de tornar-se alguma
coisa, é aquilo que uma coisa poderá vir a ser.
Para se atualizar, todo ser precisa sofrer a ação
de outro já em ato. O conceito aristotélicode
potência não se confunde com força: trata-se de
uma potencialidade, a ausência de perfeição em
um ser que pode vir a possuir essa perfeição.
• O	ato é a essência (a forma) da coisa como é aqui
e agora.
Não se trata de uma atualização de uma vez por
todas, porque cada ser continua em movimento, 
recebendo novas formas: os seres vivos nascem e 
morrem, o feto se transforma em recém-nascido, 
depois em criança e, na sequência, em adolescente, 
jovem, idoso.
Recapitulando os conceitos aristotélicos: todo ser é 
uma substância constituída de matéria e forma; a ma-
téria é potência, o que tende a ser; a forma é o ato. O 
movimento é, portanto, a forma atualizando a matéria; 
é a passagem da potência ao ato, do possível ao real.
Até hoje costumamos nos referir às potencialida-
des de cada um de nós. Seguindo o critério aristotéli-
co, reflita: quais são suas potencialidades essenciais? 
E as acidentais?
Para refletir
Teoria das quatro causas
As considerações anteriores tornam mais claro o 
princípio de causalidade, de acordo com Aristóteles: 
“Tudo o que se move é necessariamente movido por 
outro”. O devir consiste na tendência que todo ser 
tem de realizar a forma que lhe é própria.
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Há quatro sentidos para causa: material, eficiente, 
formal e final.
Por exemplo, numa estátua:
• a	causa	material é aquilo de que a coisa é feita (o
mármore);
• a	 causa	eficiente é aquela que dá impulso ao
movimento (o escultor que a modela);
• a	causa	formal é aquilo que a coisa tende a ser (a
forma que a estátua adquire);
• a	causa	final é aquilo para o qual a coisa é feita
(a finalidade de fazer a estátua: beleza, glória,
devoção religiosa etc.).
Essas são as causas que explicam o movimento,
que para Aristóteles é eterno.
Vale lembrar que, para os gregos antigos, a 
matéria é eterna, portanto Deus não é criador. 
Segundo Aristóteles, Deus não conhece nem ama 
os seres individualmente. Ele é puro pensamento, 
que pensa a si mesmo, é “pensamento de pensa-
mento”. Por isso a teologia aristotélica é filosófica, 
não religiosa.
O Primeiro Motor Imóvel – por não ser movido 
por nenhum outro – é também um puro ato (sem 
nenhuma potência). Segundo Aristóteles, Deus é 
Ato Puro, Ser Necessário, Causa Primeira de tudo 
o que existe. No entanto, se Aristóteles considera
Deus o Primeiro Motor Imóvel, como poderia mover 
algo? Porque Deus não é o Primeiro Motor como
causa eficiente, mas como causa final: Deus move
por atração, ele tudo atrai, como “perfeição” que é.
Crítica de Aristóteles aos antecessores
Além da metafísica, Aristóteles estabeleceu os 
princípios da lógica formal. Com esses princípios 
lógicos e os conceitos metafísicos, criticou os fi-
lósofos que o antecederam, sobretudo Heráclito, 
Parmênides e Platão.
Contra Heráclito, segundo o qual tudo está em 
constante movimento, Aristóteles demonstra que 
em toda transformação há algo que muda e algo 
que permanece; e, pelo princípio de contradição, 
que um ser não pode ser e não ser ao mesmo tempo. 
Do mesmo modo critica Parmênides, por ter afirma-
do que o ser é imóvel, reduzindo o movimento ao 
mundo sensível. Igualmente, rejeitou a teoria das 
ideias de Platão.
Para Aristóteles, se o conhecimento se faz com 
conceitos universais, esses mesmos conceitos são 
aplicados a cada coisa individualmente. Com isso, 
não é preciso justificar a imobilidade do ser (como 
Parmênides) nem criar o mundo das essências imu-
táveis, como pretendeu Platão.
7 Europa cristianizada: 
fé e razão
No período posterior à filosofia clássica, teve 
início o helenismo, que se caracterizou pela fusão 
das culturas grega e oriental. Estendeu-se desde o 
século III a.C. até o século III d.C. As principais ex-
pressões filosóficas foram o estoicismo, o epicurismo 
e o ceticismo.3
Filosofia (1508), detalhe de afresco de Rafael Sanzio. Ao lado 
da Filosofia, anjos carregam tabuletas que lembram a base 
da ciência aristotélica: causarum cognitio (conhecimento 
pelas causas). A tradução para o latim e os anjos indicam 
a releitura de Aristóteles levada a efeito pelos filósofos 
cristãos da Idade Média.
3 Mais referências sobre estoicismo, epicurismo e ceticismo 
no capítulo 16, “Teorias éticas: abordagem cronológica”.
Deus: Primeiro Motor Imóvel
A descrição das relações entre as coisas leva ao 
reconhecimento da existência de um ser superior 
e necessário, ou seja, Deus. Porque, se as coisas 
são contingentes – pois não têm em si mesmas 
a razão de sua existência –, é preciso concluir 
que são produzidas por causas exteriores a elas. 
Ou seja, todo ser contingente foi produzido por 
outro ser, que também é contingente, e assim 
por diante. Para não ir ao infinito na sequência 
de causas, é preciso admitir uma primeira causa, 
por sua vez não causada, um ser necessário (e 
não contingente).
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Por volta do século II d.C., o cristianismo começou 
a se expressar em contraposição à cultura greco-
-romana então vigente. Diante das diferenças entre
o politeísmo greco-romano e o monoteísmo cristão, 
é possível entender por que o cristianismo, de início
perseguido, ao começar a ser aceito e expandido,
se contrapôs às concepções tradicionais a fim de
conseguir adeptos para sua fé.
A principal das fontes utilizadas pelo cristianis-
mo era a revelação divina: chama-se revelação a 
manifestação de Deus ao homem por meio de uma 
série de verdades ou mandamentos, seja pela pala-
vra, seja nos outros signos, geralmente recolhidos 
nas obras sagradas, como a Bíblia, composta pelo 
Velho Testamento – herdado dos judeus – e o Novo 
Testamento – escrito pelos apóstolos após a morte 
de Jesus.
Patrística
Além da Bíblia, os teólogos resolveram usar os 
textos dos filósofos pagãos, adaptando-os à nova fé. 
Essas fontes eram bastante variáveis, dependendo 
do que havia disponível, como Cícero, pensador 
do helenismo romano, e Plotino (c. 204-270), um 
neoplatônico. Também as teorias estoicas foram 
bem-aceitas ainda na época do Império Romano e 
fecundaram as ideias ascéticas do período medieval: 
o controle das paixões tinha em vista a vida futura,
quando, de acordo com os teólogos, realmente os
seres humanos poderiam ser felizes.
Os religiosos que elaboraram a doutrina cristã 
foram chamados Padres da Igreja, daí derivando a 
denominação de Patrística. A Patrística estendeu-se 
ainda na Antiguidade do século II ao V, portanto, no 
período de decadência do Império Romano. Distin-
guimos na Patrística dois momentos importantes:
• do século II ao IV, com os primeiros Padres da
Igreja;
• nos séculos IV e V, o auge da Patrística, com Agos-
tinho de Hipona.
No esforço de converter os pagãos e combater as 
heresias, os primeiros Padres da Igreja escreveram 
obras de apologética. Os mais antigos são os apo-
logistas gregos, entre os quais se destacou Justino 
(século II).
Agostinho, bispo de Hipona
O principal nome da Patrística foi Agostinho de 
Tagaste – também conhecido como Santo Agosti-
nho, bispo de Hipona (África). É significativo o fato 
de ter vivido no findar do mundo antigo, quando 
os bárbaros avançavam sobre o Império Romano. 
Portanto, Agostinho encontra-se no eclipsar de um 
mundo que se extinguia e no limiar de outro que ele 
efetivamente ajudou a delinear.
Teoria da iluminação
Agostinho retomou a filosofia de Platão por 
meio de seus comentadores, sobretudo Plotino, 
e adaptou-a ao cristianismo. Aceitou a dicotomia 
platônica entre “mundo sensível e mundo das ideias”, 
mas substituiu este último pelas ideias divinas. Do 
mesmo modo, adaptou ao cristianismo a teoria da re-
miniscência, que em Platão significava a contempla-
çãodas essências no mundo das ideias antes da 
vida presente. Em contraposição, Agostinho desen-
volveu a teoria da iluminação, pela qual possuímos 
as verdades eternas porque as recebemos de Deus: 
como o Sol, Deus ilumina a razão e torna possível o 
pensar correto.
Os monges copistas 
cumpriram uma função 
importante na Idade Mé-
dia ao reproduzir ou tra-
duzir obras clássicas. Os 
manuscritos, em letra 
gótica, eram ornados com 
iluminuras – ilustrações 
com fi guras e arabescos. 
Cada capítulo geralmen-
te começava com uma 
capitular – a primeira le-
tra – em tamanho maior 
e ricamente trabalhada. 
Tratava-se de uma arte e, 
como tal, exigia habilida-
de e talento. Refl ita sobre 
as diferenças ocorridas 
nesses três momentos:
a) Nas bibliotecas medievais, situadas em abadias
e conventos, quem decidia o que deveria ser
copiado? Quem tinha acesso aos manuscritos?
b) O que signifi cou, no século XVI, a invenção da
prensa de tipos móveis por Gutenberg, permi-
tindo a divulgação mais rápida de livros pela
imprensa?
c) O que mudou nos tempos atuais, com a infor-
mação circulando pelas infovias da internet?
Quais as consequências da exclusão digital num 
mundo em que a informação está cada vez mais 
digitalizada?
Para refletir
Página de um manuscrito 
medieval com iluminura, 
1300-1310.
Pagão: aquele que não foi batizado ou aquilo que advém de 
uma cultura que não adota o sacramento do batismo. Assim 
eram chamados os não cristãos.
Ascético: relativo ao ascetismo, doutrina moral que preconiza 
privações e mortificações para alcançar o domínio de si.
Heresia: doutrina que se opõe aos dogmas da Igreja.
Apologética: defesa da fé por meio de argumentos racionais. 
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De fato, ainda que imperfeito e inquieto, o ser hu-
mano é capaz de intuir verdades imutáveis e absolu-
tas, superiores à sua capacidade porque elas derivam 
de Deus, que é a Verdade Absoluta. Ao mesmo tempo, 
concluiu que reside aí a prova da existência de Deus, 
pois se a mente, que é imperfeita, intui verdades imu-
táveis é porque existe a Verdade Imutável, que é Deus.
Para o teólogo e filósofo Agostinho, a aliança entre 
fé e razão significava reconhecer a razão como au-
xiliar da fé e, portanto, a ela subordinada. Agostinho 
sintetiza essa tendência com a expressão latina “Credo 
ut intelligam” (“Creio para que possa entender”).
Escolástica
Após a queda do Império Romano, formaram-se 
novos reinos bárbaros. Lentamente nascia a ordem 
feudal, em cujo topo da pirâmide se encontravam os 
nobres e o clero. Nesse contexto, a Igreja Católica 
consolidou-se como força espiritual e política.
A Igreja representava então um elemento 
agregador em diversos setores. Atuou de maneira 
decisiva do ponto de vista cultural, pois a he-
rança greco-latina foi preservada nos mosteiros. 
Os monges eram os únicos letrados, o que explica 
a impregnação religiosa nos princípios morais, po-
líticos e jurídicos da sociedade medieval.
No segundo período medieval, conhecido como 
Baixa Idade Média, notavam-se mudanças funda-
mentais no campo da cultura já a partir do século 
XI, sobretudo em razão do renascimento urbano. 
Ameaças de ruptura da unidade da Igreja e heresias 
anunciavam o novo tempo de contestação e debates 
em que a razão buscava sua autonomia. Fundamental 
nesse processo foi a criação por toda a Europa de 
inúmeras universidades, que se tornaram focos por 
excelência de fermentação intelectual.
Com essas mudanças, a Escolástica, que teve em 
Tomás de Aquino seu principal representante, surgiu 
como nova expressão da filosofia cristã. Persistia 
ainda a aliança entre razão e fé, em que a filosofia 
continuava como “serva da teologia”. 
Com o aumento das heresias, a partir do século XII 
os tribunais da Inquisição ou Santo Ofício se espalha-
ram pela Europa para apurar os “desvios da fé”. Ordens 
religiosas, sobretudo a dos dominicanos, assumiram o 
controle, aplicando a censura a livros e determinando 
a punição dos dissidentes, até mesmo com a morte.
Do século X ao XIV foram fundadas 
mais de 80 universidades na Europa, 
nas quais eram estudados teologia, 
fi losofi a, medicina, direito, física, as-
tronomia e matemática. Muitas cons-
truções daquela época existem até 
hoje, como o prédio da Universidade 
de Oxford, na Inglaterra, que data do 
século XII.
Na América, devido ao longo pe-
ríodo de colonização, foram fundadas 
apenas duas universidades no século 
XVI, uma no México e outra no Peru. As 
outras surgiram apenas no século XIX: 
a primeira, em 1819, nos Estados Uni-
dos. No Brasil, cursos superiores foram 
implantados no século XIX (médico-ci-
rúrgicos, em 1808; jurídicos, em 1827; 
engenharia civil, em 1874), mas as pri-
meiras universidades surgiram apenas 
no século XX, com a Escola Universitária 
Livre de Manaus (de duração efêmera), 
a Universidade do Paraná e a Universi-
dade de São Paulo. Ainda assim, todas 
essas e as que se seguiram atendiam a 
um número restrito de alunos, até sua 
expansão, apenas na década de 1970.
MAR
DO
NORTE
MAR MEDITERRÂNEO
OCEANO
ATLÂNTICO
ÁFRICAÁFRICAÁFRICAUniversidades criadas antes de 1270
Universidades criadas entre 1270 e 1350
0º
50º N
EUROPA
Cambridge
OrléansAngers
Toulouse
Coimbra Palência
Valladolid
Salamanca Lérida
Perpignan
Avignon
Pisa Florença
Montpellier
LISBOA
Cahors
Grenoble
Vicenza
Treviso
Pádua
Bolonha
Arezzo
Perúsia
ROMA
Salerno
Nápoles
Vercelli
Reggio
Oxford
PRAGAPARIS
UNIVERSIDADES EUROPEIAS (DO SÉCULO XIII AO XIV)
Fonte: Atlas historique: de l’apparition 
de l’homme sur la Terre à l’ère 
atomique. Paris: Perrin, 1987. p. 176.
280 km
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A questão dos universais
Desde o século XI até o XIV, uma polêmica marcou 
as discussões sobre a questão dos universais. O que são 
universais? O universal é o conceito, a ideia, a essência 
comum a todas as coisas. Por exemplo, o conceito de 
ser humano, animal, casa, bola, cadeira, círculo.
Em outras palavras, as perguntas eram as seguin-
tes: gêneros e espécies existem separadamente dos 
objetos percebidos pelos sentidos? Ou seja: este cão 
existe, mas a espécie “canina” e o gênero “animal” 
teriam existência real? Seriam realidades, ideias ou 
apenas palavras?
As principais soluções apresentadas foram: realismo, 
realismo moderado, nominalismo e conceptualismo.
• Para	 os	 realistas, como Anselmo (século XI) e
Guilherme de Champeaux (século XII), o universal 
tem realidade objetiva (são res, ou seja, “coisa”
em latim). Essa posição é claramente influenciada 
pela teoria das ideias de Platão.
• O	realismo moderado é representado no século
XIII por Tomás de Aquino. Como aristotélico, afir-
ma que os universais só existem formalmente no
espírito, embora tenham fundamento nas coisas.
• Para	os	nominalistas, como Roscelino (século XI), o
universal é apenas o que é expresso em um nome. 
Ou seja, os universais são palavras, sem nenhuma 
realidade específica correspondente. A tendência 
nominalista reapareceu com algumas nuanças
diferentes no século XIV, com o inglês Guilherme 
de Ockham, franciscano que representa a reação 
à filosofia aristotélico-tomista.
• A	 posição	 do	 conceptualismo é intermediária
entre o realismo e o nominalismo e teve como
principal defensor Pedro Abelardo (século XII).
Para ele, os universais são conceitos, entidades
mentais que existem somente no espírito.
As divergências sobre os universais podem ser
analisadas valendo-se das contradições e fissuras 
que se instalaram na compreensão mística do mundo 
medieval. Nesse aspecto, os realistas são os partidá-
rios da tradição e por isso valorizavam o universal,a 
autoridade, a verdade eterna representada pela fé. 
Para os nominalistas, o individual é mais real, o que 
indica o deslocamento do critério de verdade da fé e 
da autoridade para a razão humana. Naquele momen-
to histórico do final da Idade Média, o nominalismo 
representou o racionalismo burguês em oposição às 
forças feudais que desejava superar.
A questão dos universais não é um problema res-
trito à Idade Média. Os filósofos empiristas (Hobbes, 
Hume e Condillac) são nominalistas ao concluírem que 
as ideias não existem em si, pois só é possível conhecer 
algo pela experiência. Nas atuais filosofias contempo-
râneas, como na filosofia da linguagem, o que é posto 
em discussão é a relação entre linguagem e realidade.
Para saber mais
O nome da rosa, romance de Umberto Eco, conta 
a história de um franciscano inglês, Guilherme de 
Baskerville, e seu discípulo, o noviço Adso de Melk, 
que chegam a um mosteiro dominicano na Itália em 
1327. Guilherme conversa com o noviço a respeito de 
um tema que podemos relacionar com a questão dos 
universais. Ele diz que, ao observarmos algo a distância, 
não sabemos dizer o que é: parece um corpo, mas quan-
do nos aproximamos vemos um animal. E completa: 
E somente quando estiveres à distância 
apropriada verás que é Brunello (ou esse cavalo 
e não outro, qualquer que seja o modo como 
decidas chamá-lo). E esse será o conhecimento 
pleno, a intuição do singular. [...] De modo que 
as ideias, que eu usava antes para figurar-me um 
cavalo que ainda não vira, eram puros signos, 
como eram signos da ideia de cavalo as pegadas 
sobre a neve: e usam-se signos e signos de signos 
apenas quando nos fazem falta as coisas. 
ECO, Umberto. O nome da rosa. Rio de Janeiro: 
Nova Fronteira, 1983. p. 43.
Identifique a tendência na qual poderíamos incluir 
frei Guilherme a propósito da questão dos universais.
Para refletir
Sean Connery (Guilherme de Baskerville) e Christian 
Slater (o noviço Adso de Melk) na adaptação para o 
cinema de O nome da rosa, 1986.
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Tomás de Aquino: apogeu da Escolástica
Vimos que desde o início do pensamento cristão 
os teólogos sofreram influência do neoplatonismo, 
porque poucas obras de Aristóteles eram conheci-
das. As primeiras traduções, feitas por árabes, foram 
rejeitadas por conter interpretações consideradas 
perigosas para a fé cristã.
No século XIII, o monge dominicano Tomás de 
Aquino (1225-1274) teve contato com o pensa-
mento de Aristóteles por meio do árabe Averróis, a 
quem ele chamava de “O comentador”. Seu interesse 
o aproximou de recentes traduções feitas direta-
mente do grego e desse modo pôde investigar mais 
profundamente o aristotelismo, adequando-o à fé 
cristã. Sua obra principal, a Suma teológica, consti-
tui a mais fecunda síntese da Escolástica e por isso 
mesmo se tornou a expressão da chamada filosofia 
aristotélico-tomista.
Embora continuasse a valorizar a fé como ins-
trumento de conhecimento, Tomás de Aquino não 
desconsiderou a importância do “conhecimento 
natural”. De maneira semelhante a Aristóteles, 
Aquino reconheceu a participação dos sentidos e do 
intelecto: o conhecimento começa pelo contato com 
as coisas concretas, passa pelos sentidos internos da 
fantasia ou imaginação até a apreensão de formas 
abstratas. Desse modo, o conhecimento processa um 
salto qualitativo desde a apreensão da imagem, que 
é concreta e particular, até a elaboração da ideia, 
abstrata e universal.
Por exemplo, se a razão não pode conhecer a 
essência de Deus, pode, no entanto, demonstrar sua 
existência ou a criação divina do mundo. Vejamos 
como se desenvolve a argumentação de Aquino.
Provas da existência de Deus
As chamadas “cinco vias” da prova da existência 
de Deus estão baseadas na Metafísica, de Aristóte-
les, na qual ele explica o movimento do mundo pela 
existência necessária de uma causa primeira, que é 
o Primeiro Motor Imóvel.
Tomás de Aquino retoma esse tema na Suma 
teológica. Vejamos quais são os argumentos racio-
nais que fundamentam um dado que, para o filósofo, 
advém da fé.
•	 O	movimento: conforme a teoria do ato e po-
tência, só algo em ato pode mover o que existe 
em potência; portanto, tudo que se move deve 
ser movido por outro, pois nada se move por si 
mesmo. A fim de evitar uma regressão ao infinito, 
o que seria absurdo, é necessário concluir que 
existe um motor que move todas as coisas e não 
é movido, ou seja, Deus.
•	 A causa eficiente: nada pode ser causa de si 
mesmo, senão seria anterior a si mesmo; por 
não poder seguir um processo infinito, é preciso 
admitir uma causa primeira que não é causada 
– Deus.
•	 Contingência e necessidade: um ser contingente 
é aquele cuja existência depende de outro; mas, 
se todos fossem contingentes, nada existiria; 
portanto, deve haver um ser necessário, que 
é Deus.
•	 Os	graus de perfeição: todos os seres têm graus 
diferentes de perfeição, qualidades que podem 
ser comparadas, mas só um ser teria o máximo 
de perfeição, ou seja, o máximo de realização de 
atributos e qualidades.
•	 A	causa final (ou argumento teleológico): toda a 
natureza tem uma finalidade, um propósito, caso 
contrário não haveria ordem; deve haver uma 
inteligência ordenadora, que é Deus.
As cinco vias denotam o esforço de Tomás de 
Aquino para desenvolver uma “teologia natural”, que 
mais tarde Leibniz chamará de teodiceia, ou seja, o 
conhecimento racional de Deus.
Crise da Escolástica
É certo que a recuperação do aristotelismo se 
revelou recurso importante no tempo de Tomás 
de Aquino. No final da Idade Média, porém, a 
Escolástica padecia com o autoritarismo de seus 
seguidores, o que provocou consequências nocivas 
para o pensamento filosófico e científico. Posturas 
dogmáticas, contrárias à reflexão, obstruíam as 
pesquisas e a livre investigação. O princípio da 
autoridade, ou seja, a aceitação cega das afir-
mações contidas nos textos bíblicos e nos livros 
dos grandes pensadores, sobretudo Aristóteles, 
impedia qualquer inovação.
Paralelamente às elaborações teóricas que jus-
tificavam o poder religioso sobre o poder secular, 
a sociedade medieval transformava-se, gerando 
anseios de laicização, isto é, de assumir uma orien-
tação não religiosa.
O pensamento de Tomás de Aquino ressurgiu no 
século XIX por obra do papa Leão XIII. O neotomismo 
representa o esforço de restauração da “fi losofi a 
cristã”. No Brasil, durante o período colonial, os je-
suítas ensinavam o tomismo e, em 1908, foi fundada 
no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, a Faculdade 
Livre de Filosofi a e Letras, na qual ministraram aulas 
fi lósofos belgas seguidores dessa tendência.
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