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Aula 04 - Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República

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20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 1/93
Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
Prof. Daniel Pinha
Descrição O processo de implementação da República no Brasil, as mudanças e as permanências na
transição do regime monárquico para o republicano em termos de organização social.
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 2/93
Propósito Profissionais que lidem com a história social brasileira precisam conhecer a multiplicidade de
nossos espaços e caminhos para fundamentarem sua análise a respeito da vida individual e
coletiva no transcorrer do tempo.
Objetivos
Módulo 1
Projetos
republicanos e
experiência política
dos primeiros anos
da República
Descrever os projetos republicanos
nos primeiros anos da República.
Módulo 2
Campos Salles e a
consolidação da
República: a
política dos
governadores
Módulo 3
O Rio de Janeiro,
cidade capital: a
vitrine do progresso
republicano
Compreender o papel da cidade do Rio
de Janeiro no contexto de instauração
da ordem republicana.
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 3/93
Identificar os elementos fundamentais
da Primeira República a partir do
governo de Campos Salles.
Introdução
O Brasil é um país republicano recente. Desde 1889, passa por uma consolidação
política de equilíbrio de forças. Esse trajeto cria uma dinâmica complexa entre
campo e cidade, ou seja, entre os diversos espaços regionais. Ao longo deste
estudo, entenderemos mais sobre esse trajeto e sua execução no Brasil a partir
de exemplos e comparações.

20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 4/93
1 - Projetos republicanos e experiência política dos
primeiros anos da República
Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever os projetos republicanos nos primeiros
anos da República.
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 5/93
Brasil ou Brasis?
Vamos começar nosso estudo contextualizando o Brasil real, que “Brasis” diferentes
assistem a Constituição da República.
Um Brasil de muitos sertões
Neste vídeo, vamos analisar o processo republicano em Minas Gerais, Amazonas e
Santa Catarina em termos de visões sobre a República.

20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 6/93
Primeiros anos da República
No dia 15 de novembro de 1889, um acontecimento ocorrido nas ruas do Rio de
Janeiro mudou a vida política do país: um movimento militar derrubou a monarquia
brasileira e implantou a República. Quatro dias depois, escrevia o jornalista Aristides
Lobo:
Eu quisera dar a esta data a denominação seguinte: 15 de novembro do primeiro
ano da República; mas não posso, infelizmente, fazê-lo. O que se fez é um degrau,
talvez nem tanto, para o advento da grande era. Em todo o caso, o que está feito
pode ser muito, se os homens que vão tomar a responsabilidade do poder tiverem
juízo, patriotismo e sincero amor à Liberdade. Como trabalho de saneamento, a
obra é edificante. Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser
assim. O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do elemento civil foi quase
nula. O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que
significava. Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada.
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 7/93
(CARONE, 1972, p. 288)
Aristides Lobo considerava a proclamação da República um acontecimento puramente
militar, sem muita participação dos civis republicanos. Diferentemente do que
acontecera cem anos antes, na Revolução Francesa, o povo não era o protagonista
daqueles acontecimentos.
Proclamação da
República no Brasil
Revolução francesa
Para José Murilo de Carvalho (1987), o adjetivo bestializado indica o afastamento do
povo em relação à República, não apenas no 15 de novembro, mas ao longo de toda a
experiência republicana, uma espécie de pecado original do novo regime.

20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 8/93
No entender da historiadora Maria Teresa Chaves de Mello (2007), Aristides Lobo
expressou surpresa diante do modo pelo qual acontecimento do dia 15 de novembro
se desenvolveu. Entretanto, é necessário ressaltar o clima político republicano
instaurado nas décadas de 1870 e 1880, capaz de formar um consentimento em
relação à cultura política do novo regime.
A República abrigou o desejo de muitos descontentes com a monarquia e deu forma
política a sonhos e projetos republicanos muito diferentes entre si. Os republicanos
históricos projetavam um governo de corte liberal e de forma federalista, ou seja:
Passando de uma monarquia
unitarista, ou seja, centrada na
figura do imperador.
Para um regime
descentralizado, dando poder
às lideranças regionais
(presidentes de província,
atualmente são os
governadores de estado).
Também os positivistas reforçaram o movimento que implantou a República. Além
dos positivistas militares, como Benjamin Constant, que participaram ativamente da
revolta militar que derrubou a monarquia, positivistas civis viam na República a
possibilidade de levar adiante seu projeto político:

20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
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Uma ditadura republicana que garantisse um governo científico,
os direitos do proletariado e a eliminação dos privilégios, levando
em conta o princípio de que somente a ordem é capaz de garantir
o progresso - lema inscrito na bandeira nacional republicana.
Havia ainda os chamados republicanos revolucionários: inspirados no período
jacobino da Revolução Francesa, defendiam a participação direta e uma República que
garantisse o governo da coisa pública sem a mediação de representantes - nos termos
do historiador José Murilo de Carvalho, uma liberdade à moda antiga (CARVALHO,
1987).
Federalismo
Os interesses divergentes entre federalistas - defensores da autonomia regional - e
positivistas - que defendiam uma centralização em torno da figura do presidente da
República - caracterizaram não apenas o momento de proclamação, mas também
atravessaram o período de instauração da República no Brasil, chamado pelos
historiadores de Primeira República (1889-1930).
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 10/93
Gerador de tantas expectativas, o regime republicano foi capaz de causar também
frustrações. Ao final da sua vida, Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895), que
assinara, em 1870, o Manifesto Republicano, afirmou:
“Esta não é a república dos meus sonhos”.
Em Os Sertões, Euclides da Cunha (1866-1909) escreveu: “Vivendo quatrocentos anos
no litoral vastíssimo, em que palejam reflexos da vida civilizada, tivemos de improviso,
como herança inesperada, a República” (CUNHA, 1984, p.87). A frase vem em um
contexto no qual o autor procura sublinhar a diferença entre:
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O Brasil do litoral
Sempre pronto a deixar-se levar pelo
caudal dos ideais modernose a
copiar ideias e instituições de outras
nações.
O Brasil dos
sertões
Onde vivem os que ele chama de
nossos rudes patrícios.
No calor da hora, Aristides Lobo, em sua famosa carta à surpresa da Proclamação da
República, afirma que, no dia 15 de novembro de 1889, o novo regime não era senão
um esboço rude, incompleto. Queria com isso lembrar que o movimento militar que
implantou a República não era exatamente fruto da propaganda republicana e do
movimento liderado pelo Partido Republicano que ele próprio ajudara a criar ao
assinar o Manifesto de 1870.
Teria sido a República brasileira uma República de
improviso?
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 12/93
Cabem muitas respostas a essa pergunta, que nos ajuda a pensar as mudanças e as
permanências no cenário político brasileiro do final do século.
Um império em crise
O processo de abolição da escravidão reforçou, de distintas formas, o movimento
republicano. Muitos abolicionistas das cidades eram também republicanos. A maioria
dos fazendeiros do Oeste novo paulista defendia a República por julgar o império
retrógrado e escravista. Por razão oposta, boa parte dos fazendeiros escravistas da
região do Vale do Paraíba deixou de apoiar a monarquia por considerar que a abolição
prejudicava seus interesses.
Cabe ressaltar, nesse contexto, a importância da Guerra do Paraguai (1864-1870):
O papel decisivo de negros e mestiços
livres, bem como de libertos, na vitória
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 13/93
sobre o Paraguai, abriu uma frente de
disputa e negociação social entre os
setores populares da sociedade,
especialmente os escravos, por um lado,
e o Estado imperial e a classe senhorial
dominante, por outro.
(SALLES, 2003, p. 190)
A guerra do Paraguai, que terminou em 1870, mantinha em sua fileira soldados
escravizados negros, trazendo o seguinte dilema ao Estado:
Como reescravizar heróis de guerra?
Por outro lado, como perder o apoio da classe senhorial, base
política da monarquia, não devolvendo aos donos de escravizados
a sua “propriedade” cedida à guerra?
Ainda que de modo lento, a escravidão começava a perder sua legitimidade,
transformando-se em uma “questão”.
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O gabinete conservador do visconde do Rio Branco propôs e realizou um conjunto de
reformas, das quais a mais importante foi a Lei nº 2.040 de 28 de setembro de 1871,
que declarou: “de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a
data desta lei, libertos os escravos da nação e outros, e providencia sobre o
tratamento e criação daqueles filhos menores e sobre a libertação anual de escravos”.
A Lei do Ventre Livre, de 1871, aprovada
quando a princesa Isabel exercia a
regência do império, estabelecia a
condição de livre (“ingênuo”) para os
filhos da mulher escravizada e optava
pela emancipação gradual e com
indenização ao estabelecer um fundo de
emancipação e a matrícula obrigatória de
todos os escravizados.
Todavia, ao aprofundar a intervenção do
governo do Estado nas relações entre
senhores e escravizados, a lei
desagradou as forças mais
conservadoras, como inúmeros
fazendeiros, além de setores comerciais
e financeiros a eles vinculados.
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 15/93
O movimento abolicionista, no
parlamento, em clubes e associações e
nos jornais, estava dissociando a opinião
pública do sistema escravista. A
resistência da população negra,
escravizada ou não, propiciava o
abandono das fazendas pelos cativos,
bem como protegia negros fugidos e
aquilombados. Assinada pela princesa
Isabel, a Lei Áurea declarava “extinta a
escravidão no país” em 13 de maio de
1888.
A Pátria repele os escravocratas (Revista Ilustrada, c.
1880-1888).
A distribuição extremamente irregular da população pelo território era fator
constitutivo das diferenças entre as províncias e regiões do império: a região de
colonização estrangeira no extremo Sul diferia da região do vale amazônico, onde
crescia a atividade extrativa da borracha (látex), e do Sul da província da Bahia,
exportadora de cacau e tabaco. O grau de integração nas linhas do comércio
internacional contribuía, em larga escala, para o aprofundamento das desigualdades
regionais, dando destaque à região do café - motor da economia brasileira desde a
década de 1830 até um século depois.
As terras roxas do Oeste paulista eram o cenário principal da mais importante
mudança ocorrida na sociedade. A substituição das relações de trabalho escravistas
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https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 16/93
pelo trabalho livre, sob a forma do colonato, era acompanhada pela substituição do
próprio trabalhador, do negro pelo imigrante de origem europeia.
Comentário
Cabe ressaltar nesse contexto de crise do império a força dos princípios cientificistas. As ferrovias e o
telégrafo materializavam o progresso, representando a expressão do poder da técnica e da ciência na
efetivação da ocupação do interior.
O sergipano Silvio Romero (1851-1914), considerado um dos principais intérpretes do
Brasil, no final do século XIX, usou o termo bando de ideias novas para capturar o
espírito de mudança.
O decênio que vai de 1868 a 1878 é o mais notável de quantos no século XIX
constituíram a nossa vida espiritual. Quem não viveu nesse tempo não conhece
por ter sentido diretamente em si as mais fundas comoções da alma nacional. [...]
Um bando de ideias novas esvoaçou sobre nós de todos os pontos do horizonte
[...] Positivismo, evolucionismo, darwinismo, crítica religiosa, naturalismo,
cientificismo na poesia e no romance, folclore, novos processos de crítica e de
história literária, transformação da intuição do direito e da política, tudo então se
agitou e o brado de alarma partiu da escola do Recife
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 17/93
(SCHWARCZ, 1993, p. 185)
Desde os anos 1860, a questão do federalismo era, por muitos, considerada um dos
principais problemas do país ao colocar em xeque a organização político-
administrativa centralizada que fundava a ordem imperial. Para Tavares Bastos (1839-
1875), um dos principais defensores do regime federalista, a descentralização não
resolveria, meramente, uma questão administrativa, mas a possibilidade de construir
uma base sólida de instituições democráticas.
A desconfiança a respeito de um terceiro reinado ampliava-se à medida que os
dirigentes imperiais revelavam dificuldades para prosseguir ou promover as reformas,
sendo elas:
 A ampliação dos direitos civis e políticos.
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
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 O federalismo.
 A separação entre a Igreja e o Estado.
 A incorporação dos militares do Exército.
 A reforma educacional.
 A expansão da infraestrutura.
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 19/93
O novo regime era resultado do papel desempenhado pelo movimento republicano
desde 1870 através da imprensa e da ação dos propagandistas.
A República da espada: a ordem é
condição para o progresso
Havia diferenças significativas entre os três militares que compunham o governo
provisório: Deodoro da Fonseca, BenjaminConstant e Eduardo Wandenkolk. Vamos
ver quais são essas diferenças?
Deodoro da Fonseca 
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 20/93
Era um militar de velha cepa, herói da guerra do Paraguai cujas convicções
republicanas datavam do dia da proclamação. Para Deodoro, governar era uma
questão de autoridade e dirigiu o país como aprendeu a administrar os
quartéis.
Benjamin Constant 
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 21/93
Representava uma nova geração militar. Positivista convicto, desejava um
governo forte, pois entendia que a arte de governar era uma ciência.
Eduardo Wandenkolk 
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
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Pertencia à Marinha, uma força militar elitista que não admitia negros em sua
oficialidade e nem sempre concordava com o protagonismo político do
Exército.
Também entre os ministros civis e os militares, as diferenças eram significativas.
Era diverso o projeto de República de liberais como Rui Barbosa ou Aristides Lobo, que
defendiam uma república presidencialista, e a separação dos três poderes segundo o
modelo norte-americano. Os positivistas, como Demétrio Ribeiro e Benjamin Constant,
aspiravam a uma ditadura ilustrada, tal como proposta pelo intelectual francês
positivista Auguste Comte. Também eram diferentes os interesses defendidos por
representantes dos cafeicultores paulistas, como Campos Salles, centrados no
federalismo como modelo capaz de garantir a autonomia regional para a produção de
café.
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 23/93
No dia 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira Constituição Republicana
do Brasil, uma vitória para os federalistas. Calcada sobre o modelo norte-americano,
instaurava o presidencialismo, o federalismo e três poderes que deveriam ser
independentes entre si e complementares:

Executivo

Legislativo

Judiciário
A Constituição estabelecia também a separação entre a Igreja e o Estado, bem como
o voto direto, ainda que apenas para homens alfabetizados e maiores de 21 anos. A
aprovação da Constituição, no entanto, não apaziguou as dificuldades do governo
provisório militar em construir uma estabilidade política capaz de compatibilizar
interesses regionais e central.
A chamada República da Espada (1889-1894) foi incapaz de promover uma
distribuição de poder entre as elites econômicas que efetivamente construíram o
regime republicano, utilizando o expediente da violência para garantir autoridade. Mais
afeito à rígida disciplina das casernas do que à política, o governo de Deodoro foi
marcado por medidas que revelavam essa inabilidade política, tais como:
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 24/93
Uma revolta foi capitaneada pela Marinha em protesto pelo fechamento do
Congresso. Chefiada pelo Almirante Custódio de Mello, a revolta chegou a ameaçar
bombardear a cidade do Rio de Janeiro. Havia também uma greve de ferroviários.
Deodoro não resistiu às pressões de militares e civis e renunciou à presidência em
novembro de 1891 (NEVES, 2003a).
 Decretar a dissolução do Congresso.
 Entrar em choque com oligarquias gaúchas após depor Júlio de Castilhos, que havia
sido eleito para governar o Rio Grande do Sul.
 Enfrentar as manifestações de militares descontentes no Rio de Janeiro.
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 25/93
Floriano Peixoto governou o Brasil com pulso forte entre 23 de novembro de 1891
e 15 de novembro de 1894. Um de seus primeiros atos foi a derrubada dos
governadores de estados nomeados por Deodoro e sua substituição por outros,
que não se opusessem a seu governo. Mais hábil politicamente que seu
antecessor, soube buscar o apoio da oligarquia paulista, a mais poderosa do país,
ao favorecer a consolidação no plano nacional do Partido Republicano Paulista
(PRP). O poderoso partido fundado em 1873 abrigava os cafeicultores paulistas.
Floriano fez do paulista Rodrigues Alves seu ministro da Fazenda e favoreceu a
indicação de Bernardino de Campos para a presidência da Câmara dos Deputados e
de Prudente de Morais para a presidência do Senado. Solidamente instalados no
Poder Executivo e no Poder Legislativo, os paulistas passaram a apoiar Floriano, que,
por sua vez, também soube buscar apoio de outras oligarquias estaduais, da jovem
oficialidade militar e de setores populares do Rio de Janeiro, ao tomar medidas que
impediram o aumento incontrolável dos aluguéis de moradias e do preço de
alimentos.
Floriano passou a ser conhecido como o marechal de ferro após ter enfrentado com
sucesso fortes pressões políticas e dois movimentos revoltosos de grande porte: a
Revolta da Armada e a Revolução Federalista.
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Tropas do Exército na zona portuaria do Rio na Revolta
da Armada.
A Revolta da Armada foi um movimento
revolucionário promovido por unidades
da Marinha e liderado pelos almirantes
Wandenkolk, Custódio de Mello e
Saldanha da Gama, que não reconheciam
a legitimidade do governo Floriano
Peixoto e não se conformavam com a
desproporção entre o poder do Exército e
o pouco reconhecimento político da
Marinha.
A revolta teve início em setembro de 1893 nas águas da Baía de Guanabara e seus
chefes deslocaram a armada revoltada para o Sul do país, onde tentaram unir forças
com os revoltosos que participavam da Revolução Federalista. O governo de Floriano
venceu a Revolta da Armada em março de 1894.
A Revolução Federalista agitou o Rio Grande do Sul entre 1893 e 1895 e resultou no
enfrentamento entre:
Revolta da Armada
A Revolta da Armada foi um movimento revolucionário promovido por unidades da Marinha e liderado pelos
almirantes Wandenkolk, Custódio de Mello e Saldanha da Gama. Os três militares não reconheciam a
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
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legitimidade do governo Floriano Peixoto e não se conformavam com a desproporção entre o poder do Exército
e o pouco reconhecimento político da Marinha.
Os pica-paus
Partidários de Júlio de
Castilhos reunidos no Partido
Republicano Rio Grandense.
Os maragatos
Partido federalista liderado por
Gaspar Silveira Martins, Joca
Tavares e Gumercindo Saraiva.
Com o apoio de Floriano Peixoto, Júlio de Castilhos, de tendências centralistas,
assumiu o governo gaúcho em 1893. Os federalistas, porém, tentaram impedir sua
posse, dando início a uma sangrenta guerra civil no Sul do Brasil entre os dois grupos.
No dia 15 de novembro de 1894, tomou posse o primeiro presidente civil da República
brasileira, Prudente de Morais. Com ele, a hegemonia da oligarquia cafeeira paulista, já
evidente no Poder Legislativo, chegou ao Poder Executivo. Durante esse governo, a
República brasileira ainda enfrentou terrenos movediços tanto no cenário internacional
quanto na política interna.
No comércio exterior, a desvalorização do café, produto que
ocupava mais de 60% da pauta de exportação brasileira, equivalia

20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 28/93
a um forte abalo nos alicerces econômicos e políticosda
República.
Na política interna, a queda dos preços internacionais do café tornava ainda mais
complexas as negociações entre as oligarquias regionais, que além de resistirem ao
protagonismo da oligarquia paulista, mostravam desconforto com as medidas
protecionistas tomadas pelo Executivo em relação aos cafeicultores.
Além disso, Prudente de Morais foi
obrigado a enfrentar uma guerra civil cujo
desenrolar surpreendeu a todos. Para
destruir a aldeia de Canudos, onde
Antônio Conselheiro convocava milhares
de sertanejos pobres para o que Euclides
da Cunha disse ser uma Tróia de taipa,
foram necessárias nada menos que
quatro expedições militares.
Sertanejos de Canudos rendidos pela cavalaria do
Exército durante a última expedição ao arraial, em
outubro de 1897.
O governo de Prudente de Morais anunciou novos tempos republicanos, mas a
consolidação da lógica própria da república oligárquica brasileira coube a outro
paulista: Campos Salles.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O termo Primeira República foi cunhado por historiadores para identificar o período
que vai de 1889 a 1930 e que marca a consolidação da ordem republicana no Brasil.
Sobre as características desse período, assinale V (verdadeiro) para as proposições
verdadeiras e F (falso) para as falsas, antes de marcar a opção correta.
( ) Os dois primeiros governos da recém-inaugurada República brasileira eram
militares.
( ) Com o novo regime, surgiram divergências tanto no meio militar quanto no civil.
No meio civil, as disputas ocorriam, sobretudo, no campo ideológico entre três
correntes: liberalismo, jacobinismo e positivismo.
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( ) Pode-se afirmar que os governos do período conhecido como Primeira República
implementaram medidas sociais de grande alcance, beneficiando a sociedade
brasileira como um todo e visando acabar com as desigualdades sociais do país.
( ) O Brasil da chamada Primeira República era um país, sobretudo, rural; a
agricultura permanecia como principal atividade econômica.
Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo.
A F - V - V - F
B V - V - F - V
C V - F - F - V
D V - V - F - V
E
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Parabéns! A alternativa B está correta.
A Primeira República teve militares como primeiros governantes e foi caracterizada
por divergências tanto no meio militar quanto no civil, sendo um período marcado
por conflitos visando manter a ordem e autoridade. Logo, é falsa a afirmação sobre a
implementação de medidas sociais buscando acabar com as desigualdades sociais
do país.
Questão 2
A Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, levou à formação de um
governo provisório, que lançou as bases para uma nova Constituinte e uma nova
Constituição. A nova Constituição brasileira foi promulgada em 1891 e implantou
grandes mudanças no Brasil. A respeito dessa Constituição, analise as afirmações:
I. Implantou o federalismo no Brasil, um sistema político que concedia certo grau de
autonomia para os estados em relação à União.
II. Implantou o sufrágio universal masculino para todos os homens maiores de 21
anos, alfabetizados e que não fossem mendigos ou soldados rasos.
V - V - V - V
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III. O presidente foi determinado como o chefe do Executivo, e a escolha do
presidente ocorreria a partir de eleições diretas para um mandato de quatro anos.
IV. Consolidou a vitória dos valores positivistas encarnados na figura dos
presidentes militares, que compunham a chamada República da Espada.
Está correto o que se afirma em:
A Apenas I, III e IV
B Apenas II, III e IV
C Apemas I, II e III
D Apenas I e IV
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Parabéns! A alternativa C está correta.
A afirmação IV está incorreta porque a Constituição, promulgada em 24 de fevereiro
de 1891, pode ser considerada uma vitória para os federalistas. Calcada sobre o
modelo norte-americano, instaurava o presidencialismo, o federalismo, o
estabelecimento de três poderes independentes entre si e complementares –
Executivo, Legislativo e Judiciário. Estabelecia ainda a separação entre a Igreja e o
Estado, bem como o voto direto ainda que apenas para homens alfabetizados e
maiores de 21 anos.
E Apemas II e IV
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2 - Campos Salles e a consolidação da República: a
política dos governadores
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os elementos fundamentais da
Primeira República a partir do governo de Campos Salles.
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República do Café com Leite e
República Velha
Vamos nos aprofundar no debate historiográfico do período por meio dos conceitos
de República do Café com Leite e República Velha.
E quem manda no Brasil?
Neste vídeo, vamos discutir velhos conceitos da historiografia como Café com Leite,
República Velha, mostrando o que eles ouviram na escola e como a História foi
revendo as ideias e conceitos.

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Política dos estados
Vamos abordar, neste módulo, os elementos fundamentais que conformam o modelo
político característico da Primeira República brasileira a partir do governo de Campos
Salles. Esses elementos deram forma ao que o então presidente denominou de
Política dos estados e os historiadores chamaram de República Oligárquica.
Outros deram à minha política a
denominação de ‘Política dos
Governadores’. Teriam acertado se
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dissessem ‘Política dos Estados’. Esta
denominação exprimiria melhor o meu
pensamento!
(CAMPOS SALLES, 1983, p. 236)
Depois dos conturbados períodos entre os governos militares e de Prudente de
Morais, é no mandato de Manuel Ferraz de Campos Salles (15 de novembro de 1898 a
15 de novembro de 1902) que a Primeira República brasileira encontra um modelo de
funcionamento que permitiu sua relativa estabilidade até o final da década de 1920.
O modelo de funcionamento republicano implementado por Campos Salles propiciou
a “rotinização do regime” (LESSA, 2001, p. 44) e baseava-se em um acordo tácito a fim
de evitar que as disputas oligárquicas nos estados ou a agitação das ruas da capital
federal impedissem a estabilidade republicana.
Comentário
A palavra de origem grega oligarquia significa governo de poucos. No Brasil da Primeira República, esse
termo significou, sobretudo, o poder em benefício próprio, exercido pelos grandes proprietários locais,
conhecidos como coronéis; pelo arranjo entre esses poderosos locais expresso no governo dos estados da
federação; e pela equação de forças das oligarquias estaduais na definição do podernacional. Havia o
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predomínio de duas oligarquias em todo o país: a paulista, cuja base era a riqueza econômica, e a mineira,
cuja força residia em ter o maior eleitorado do país.
Campos Salles decidiu fortalecer seu governo com uma ação decidida que tinha em
vista três objetivos:

Negociar a dívida externa
brasileira de modo a aliviar o
governo da pressão dos credores
externos.

Sanear a economia interna
ameaçada pela inflação.

Construir um pacto político com
as oligarquias estaduais que
fortalecesse o Poder Executivo.
Para realizar a negociação da dívida externa, Campos Salles foi à Europa antes
mesmo de sua posse para negociar com os banqueiros ingleses, principais credores
do governo brasileiro. O acordo conhecido como funding loan se traduziu pela
obtenção de um novo e vultuoso empréstimo financeiro, pela suspensão por três anos
do pagamento dos juros dessa dívida e pelo adiamento do pagamento desse novo
empréstimo por um prazo de treze anos.
A folga financeira trazida pelo funding loan permitiu que o ministro da Fazenda,
Joaquim Murtinho, tomasse medidas para sanear as finanças internas sem aumentar
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os impostos cobrados aos governos dos estados, o que começava a pavimentar o
caminho para o pacto oligárquico. Para combater a inflação, o governo:
 Proibiu a emissão de moeda, para combater a inflação.
 Cortou o orçamento e aumentou os impostos cobrados diretamente à população, para
aumentar a receita.
 Criou novos impostos, como a Lei do Selo, que supunha o pagamento dos carimbos
oficiais para a circulação de mercadorias e valeu ao presidente o apelido de Campos
Selos.
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Foram, no entanto, as medidas tomadas para alcançar seu objetivo político de
construir um pacto não escrito, mas muito eficiente para garantir os acordos
oligárquicos, a docilidade do Poder Legislativo, e o fortalecimento do Poder Executivo,
que fizeram de Campos Salles o grande arquiteto da direção política na Primeira
República.
Foi o próprio Campos Salles quem formulou a melhor síntese da arquitetura política
que, a partir de seu governo, presidiu a República brasileira, quando escreveu em seu
livro de memórias políticas o segredo de sua fórmula para governar:
Nessa, como em todas as lutas, procurei fortalecer-me com o apoio dos Estados,
porque - não cessarei de repeti-lo - é lá que reside a verdadeira força política [...].
Em que pese os centralistas, o verdadeiro público que forma a opinião e imprime
direção ao sentimento nacional é o que está nos Estados. É de lá que se governa a
República, por cima das multidões que tumultuam, agitadas, as ruas da Capital
Federal.
(CAMPOS SALLES, 1983, p. 127)
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A política dos governadores: dos
municípios aos estados
Para compreender o funcionamento da política dos estados, é preciso identificar as
relações estabelecidas entre:
Os municípios
Espaço por excelência do poder
pessoal dos coronéis.
Os estados
Onde se orquestravam os
acordos entre as oligarquias
regionais
O Poder
Executivo
federal
Que necessitava construir um
equilíbrio entre os três níveis da
vida administrativa e política do
país.
Para isso, era preciso conceder às oligarquias estaduais a autonomia necessária para
que exercessem seu mando inconteste no interior dos estados e, assim, pudessem
apoiar decididamente o governo federal. Essas oligarquias eram a força política da
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República, seu verdadeiro público e, nessa perspectiva, nelas residia a opinião, a
direção e o sentimento nacional.
Além disso, era necessário estabelecer as condições de um pacto político de modo
que o Poder Executivo se fortalecesse, efetivamente, com seu apoio, e não se
subordinasse aos conflitos que opunham diferentes grupos, famílias e interesses em
conflito em cada um dos estados.
A denominação de República oligárquica,
frequentemente atribuída aos primeiros
40 anos da República, denuncia um
sistema baseado na dominação de uma
minoria e na exclusão de uma maioria do
processo de participação política.
(RESENDE, 2003, p. 91)
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Representante da oligarquia paulista, uma das mais poderosas do país, o campineiro
Campos Salles sabia que era no Poder Legislativo que os conflitos entre os interesses
e as paixões estaduais se expressavam.
Por isso, encontrou uma fórmula na qual o governo federal pactuava diretamente com
as oligarquias dominantes nos estados da federação ao garantir sua perpetuação no
poder e receber em troca apoio à política do Executivo, bem como resultados de
eleições que garantissem deputados e senadores dóceis ao comando do presidente
da República. Esse pacto não escrito foi chamado de política dos governadores, e a
República pautada por essa política foi denominada de República oligárquica.
O governo federal dispunha de instrumentos que lhe assegurassem a direção do pacto
não escrito. Vamos ver a seguir esses dois instrumentos:
O primeiro desses instrumentos era a garantia das verbas necessárias para a
manutenção do prestígio das oligarquias que dominassem o poder estadual.
No caso dos estados economicamente mais poderosos, a política financeira
adotada garantia essas verbas ao não retirar deles sua principal fonte de renda,
que vinha dos impostos de exportação, e ao não criar novos impostos
estaduais. Nos estados mais pobres, que não podiam contar com receitas
Garantia de verbas para as oligarquias 
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significativas dos impostos sobre a exportação, a concessão de verbas
federais a conta-gotas funcionou perfeitamente como elemento de cooptação.
O segundo instrumento era acionado em casos de necessidade. A comissão
de verificação de poderes, encarregada de corroborar os resultados eleitorais,
era o mecanismo adequado, e Campos Salles fez os ajustes necessários para
não a deixar ao sabor das disputas no interior do Legislativo. Nas raras
ocasiões em que as eleições estaduais escapavam às rédeas da situação, a
Comissão simplesmente impedia a titulação dos eleitos.
Esse equilíbrio político era complexo e frágil. Ainda que, na prática, negasse os
princípios da cidadania republicana, foi eficiente até que uma das unidades da
federação, o Rio Grande do Sul, rompesse o pacto não escrito entre o governo federal
e as oligarquias estaduais, aliando-se a outros setores da sociedade brasileira
descontentes com os rumos políticos da Primeira República e tomando o poder pela
força na chamada Revolução de 1930.
Impedimento da titulação dos eleitos 
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Coronelismo: a base municipal do
acordo
O livro Coronelismo, enxada e voto, do sociólogo Victor Nunes Leal, é uma síntese da
vida política brasileira na Primeira República. Publicado pela primeira vez em 1949, a
obra tornou-se um clássico e nela seu autor esquadrinha a prática política nos
municípios e o significadodo poder pessoal dos coronéis.
Coronel Marcolino Diniz e seus homens de confiança,
Paraíba.
Para manter o poder que detinham no
mundo rural, os coronéis usavam a força
em muitas circunstâncias, tanto para
mostrar seu poderio a outros coronéis
quanto, sobretudo, para exercer a
dominação sobre os trabalhadores rurais,
em relação aos quais não só usavam de
sua autoridade e poder no cotidiano, mas
também se utilizavam da violência
quando isso lhes parecia adequado.
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No entanto, a força e a violência não eram suficientes. Era preciso que os coronéis
construíssem prestígio no município. Esse prestígio era posto em evidência pelos
sinais de riqueza e poder que ostentavam, pelas benesses que distribuíam como
favores pessoais, pelas melhorias que obtinham para o município através de suas
relações com o governo estadual ou federal e pelos investimentos que faziam com
suas próprias fortunas, pois lidavam com o que era público como algo que
privadamente lhes pertencesse.
É ao seu interesse e à sua insistência que se devem os principais melhoramentos
dos lugares. A escola, a estrada, o correio, o telégrafo, a ferrovia, a igreja, o posto
de saúde, o hospital, o clube, o football, a linha de tiro, a luz elétrica, a rede de
esgotos, a água encanada, tudo exige o seu esforço [...] É com essas realizações
de utilidade pública, algumas das quais dependem só do seu empenho e prestígio
político, enquanto outras podem requerer contribuições 3 pessoais suas e dos
amigos, é com elas que, em grande parte, o chefe municipal constrói ou conserva
sua posição de liderança.
(LEAL, 1976, p. 37)
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Coronéis eram os poderosos locais, assim chamados porque muitos deles tinham a
patente de coronel da Guarda Nacional, instituição fundada no império, mas que
perdurou na República até 1918. A patente de oficial da guarda nacional confirmava o
poder local ao conferir a chancela do Estado ao mando pessoal que exerciam.
As melhorias que os coronéis faziam ou conseguiam que o governo fizesse no
município eram de seu interesse, pois confirmavam aos olhos de todos o seu poder
pessoal e a sua influência. Para tanto, usavam uma moeda de troca poderosa: os
votos que controlavam em seus currais eleitorais, ou seja, o voto de cabresto.
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Ilustração do voto de cabresto.
Você sabe o que é voto de cabresto?
Voto de cabresto é o nome dado ao abuso do poder local que levava ao
controle dos coronéis sobre os eleitores para que votassem nos candidatos
por eles apoiados. O controle do eleitorado se fazia pela troca do voto por
algum favor, pela compra do voto ou pelo uso da violência e da coerção.
Violentas estruturalmente, as eleições aumentavam ainda mais o grau de
truculência em função das rivalidades entre coronéis de facções opostas.
Na Primeira República, as eleições eram um ritual vazio, distante da prática
democrática e do exercício da cidadania pelo voto. A fraude eleitoral era a norma e
supunha desde o roubo de urnas até o desaparecimento das cédulas depositadas por
eleitores da oposição, passando pelo voto dos fósforos, nome dado a pessoas já
mortas, mas que continuavam a figurar nas listas eleitorais.
Além disso, o voto não era secreto e o eleitor devia declará-lo à mesa eleitoral. A
condição de alfabetizado, imposta pela Constituição para ser eleitor, era atestada
Voto de cabresto 
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através da mera capacidade de assinar toscamente o nome.
Para os eleitores pobres, a sobrevivência era a grande questão
que se impunha, e o voto dado a algum poderoso local poderia
trazer em troca um emprego, a proteção da família, a escola para
os filhos.
Na perspectiva dos coronéis, eram eles que comandavam a política republicana, assim
como atestou o depoimento de José Bonifácio Lafayette de Andrada, político mineiro
que se reconhecia como coronel por exercer o poder político municipal:
A base é o chefe local, o coronel, que
manda seus eleitores votarem contra ou a
favor de determinado candidato. Isso é a
base. O coronel é o homem que comanda a
política nacional, porque é ele quem elege
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os homens que a fazem. Sem ele ninguém
é eleito.
(ANDRADA, 1982, p. 47)
Na perspectiva de Victor Nunes Leal, no entanto, era certo que os coronéis
continuassem a exercer o poder local tal como o haviam feito no império. O
coronelismo era um elemento do sistema político próprio de um momento específico
da República, e isso ocorria por três razões:
 As práticas coronelísticas do século XIX ocorriam em um contexto em que o poder local
era autônomo e, para afirmar-se localmente, não era necessário negociar com poderes
regionais ou com o poder central: no império, a malha municipal corria solta na trama da
administração e da política.
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Embora o coronelismo, a enxada e o voto costurassem pela base a arquitetura política
da Primeira República, não é possível afirmar que era do município que se governava o
país.
 O coronelismo era próprio de uma sociedade eminentemente agrária, em que o
eleitorado estava concentrado nas áreas rurais. Logo, se pensarmos nos dias de hoje,
embora as práticas coronelísticas subsistam depois da Primeira República, não é
possível utilizar o conceito de coronelismo tal como proposto por Leal depois que o país
se industrializou e a população se tornou eminentemente urbana.
 O coronelismo da Primeira República evidenciava não a força, mas, sim, o
enfraquecimento do poder local no sistema político nacional, uma vez que, ainda que
controlassem os votos nos municípios, os coronéis necessitavam e buscavam o apoio
do poder público dos governos estaduais e do governo federal para manter seu poder
privado.
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A política dos estados e a
estabilidade da ordem oligárquica
Nos municípios, os grupos chefiados pelos coronéis locais disputavam o poder,
faziam e desfaziam alianças, estabeleciam e rompiam acordos. Nos estados, os
conflitos e arranjos oligárquicos reproduziam essa mesma lógica e incidiam sobre a
vida municipal. No governo federal, o Poder Legislativo espelhava as disputas
oligárquicas estaduais e regionais na Câmara dos Deputados federal e no Senado e as
alimentavam. O terreno sempre movediço das alianças e dos ódios entre as
oligarquias paralisava o Poder Executivo e inviabilizava a estabilidade da política
nacional.
Os partidos políticos não existiam ou simplesmente expressavam disputas entre
oligarquias. Os cargos políticos eram vistos como uma propriedade a mais das
famílias poderosas. Algumas dessas famílias influentes eram: os Accioly, no Ceará; os
Sousa Campos, no Sergipe; os Calmon, os Vianna e os Seabra na Bahia; os Vieira, os
Cunha Martins e os Araújo, no Maranhão; os Rosa e Silva em Pernambuco; os
Albuquerque Maranhão, no Rio Grande do Norte.
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Para construir a estabilidade políticae a possibilidade de governar, Campos Salles
estabeleceu uma pauta para a República que foi mantida por seus sucessores.
Segundo essa pauta política:
 O Poder Executivo federal não interferia na política estadual e apoiava uma dada
oligarquia no controle do poder estadual para receber em troca o suporte político
daquele estado e o apoio das bancadas estaduais no Legislativo para seu governo.
 Da mesma maneira, a oligarquia no poder em determinado estado não intervinha na
política municipal e recebia em troca os votos que elegiam seus correligionários para o
Legislativo estadual e para a Câmara federal e o Senado.
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A estabilidade da ordem oligárquica
assim obtida era o resultado desse jogo
de interesses mútuos que criava
condições para o acordo não formal
entre o governo federal e as oligarquias
estaduais, cuja correlação de forças se
expressava no governo de cada estado
da federação. As condições para que o
presidente da República efetivamente
exercesse sua autoridade e governasse o
país dependiam de seu entendimento
com os chefes das oligarquias estaduais,
já que a composição do Poder
Legislativo expressava a direção que
essas oligarquias exerciam em seus
estados.
Compromisso Constitucional de 1891.
 Os coronéis que manipulavam os votos nos municípios, por sua vez, recebiam em troca
cargos políticos e verbas estaduais e federais que lhes permitiam confirmar seu
prestígio e seu poder pessoal no município.
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Uma alteração no Regimento Interno da Câmara e a fraude sistemática nas eleições
transformaram a situação anterior que fazia do Legislativo a principal arena das
disputas oligárquicas estaduais: com a garantia de não intervenção do governo
federal, as oligarquias dominantes se estabilizaram no poder estadual e puderam
comandar as eleições para o Legislativo federal, cuja composição passou a ser
expressão da força dessas oligarquias em seus estados.
Para que o presidente da República governasse, era fundamental
seu entendimento direto com os chefes estaduais e, por
consequência, a submissão do Legislativo federal ao Executivo. A
esse entendimento chamou-se política dos governadores.
No reverso da estabilidade republicana, estabelecida através da política dos
governadores, a triste combinação entre fraude eleitoral e poder oligárquico indicava
seu lado obscuro, que Rui Barbosa assim resumiu:
Apreciando a eleição de 31 de dezembro nesta capital, disse o nosso colega da
Tribuna que o resultado trazido a lume pelos jornais ‘não exprime senão o que a
fraude mais desbragada e indecente, como 10 jamais se praticou, resolveu que
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fosse a expressão do voto popular’. [...] O crime de todos nós está principalmente
em não determinarmos confessar de uma vez a verdade inteira. Ela não produzirá
os seus efeitos salutares, enquanto nós não deliberarmos, afinal, a fazer cada qual
a sua penitência do nosso quinhão de co-responsabilidade na peste das
instituições, reconhecendo sem rodeios que elas mentem despejadamente ao
país, isto é que, sob o nome de república e democracia, o que a nossa pátria está
a suportar, com tanta resignação quanto náusea, é o absolutismo de uma
oligarquia quase tão opressiva em cada um dos seus feudos quanto a dos
mandarins e a dos paxás.
(BARBOSA, 1975, p. 14)
Vamos refletir um pouco sobre fraude com a pergunta a seguir.
Não lhe daremos uma resposta certa, mas um estímulo a continuar sua
pesquisa, notando as características estruturais e simbólicas de nossa
sociedade.
O que você tem a discutir sobre a fraude e a corrupção na história do
Brasil? 
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Estabilidade? Vamos a um exemplo:
Contestado
Na região chamada de Contestado, ocorreu, entre 1912 e 1916, um movimento rural de
cunho messiânico.
Saiba mais
Importante destacar que essa área era denominada Contestado devido ao fato de ser disputada por Paraná e
Santa Catarina.
Um movimento de caráter messiânico se estrutura a partir de uma liderança de
caráter místico, sustentando a ideia de redenção após um dado período de
sofrimento. Para o movimento ter esse caráter, é preciso que mantenha a noção de
sacralidade e providência divina, a partir da qual se ampara, durante e depois do
período de provações, aqueles que nele estiverem engajados.
Em Contestado, o conflito ocorreu tanto por se tratar de uma zona rica em erva-mate
como por ter importantes recursos florestais. Além disso, havia os confrontos de
terras nos quais os posseiros eram expulsos por pretensos proprietários, além do
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coronelismo presente naquela região. Os grandes proprietários locais buscavam
manter expressivas quantidades de agregados às suas fazendas.
Em um clima de insegurança social, emergiu uma figura que ganhou imensa projeção
local: o monge. A figura do monge estava associada não só à reza, mas também à
cura com ervas, benzimentos e fórmulas. Cabe ressaltar que, nessa região, os
médicos eram escassos e havia um olhar pejorativo em relação à medicina, como se
ela fosse invasiva e nem sempre eficaz.
Entre os diversos monges da região, se
destacava João Maria.
Recomendando águas santas, remédios
caseiros e a penitência, João Maria foi
expulso do Rio Grande do Sul pelo
presidente da província em 1849.
Contudo, sua fama de caridoso e
curandeiro continuaria por todo o Sul do
país.
As autoridades civis não aceitavam o
fato de ele auxiliar rebeldes federalistas
feridos. O segundo monge João Maria
permaneceria na região até 1908, quando
não mais foi visto.
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João Maria de Jesus.
Contudo, sua pregação foi suficiente para
que os camponeses locais lhe dessem
um imenso crédito.
Em agosto de 1912, realizou-se uma festa no arraial de Taquaruçu, comandada por
Praxedes Gomes Damasceno, um pequeno comerciante e proprietário de terras. No
desafio dos cantadores, venceu o que afirmava ser a monarquia Lei de Deus e o
ajuntamento para a festa não se dispersou. Francisco Ferreira de Albuquerque, chefe
político do município de Curitibanos, cidade onde se localizava o arraial, temia que a
reunião fosse um movimento liderado por seu opositor, o coronel Henriquinho de
Almeida.
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Desse modo, exigiu a presença do monge José Maria em Curitibanos, mas este
argumentou que a distância era rigorosamente a mesma e, portanto, ele aguardava o
prefeito em Taquaruçu. O coronel Albuquerque considerou a recusa um ato de
insubordinação e comunicou-se com o governador do estado, Vidal Ramos,
informando sobre a criação de uma “monarquia” em Taquaruçu, na qual o “rei” José
Maria teria formado seu ministério com festeiros locais.
Rapidamente, a polícia aproximou-se do
ajuntamento, mas José Maria e seus
seguidores marcharam para os campos
do Irani, na época sob jurisdição do
Paraná. A polícia paranaense foi
informada por José Maria, mas, na
imprensa do estado, difundiu-se que a
marcha de “fanáticos” era uma ação do
governo catarinense para forçar o
cumprimento da sentença do SupremoTribunal Federal que lhe garantia a maior
parte da área contestada.
A reação foi uma ação policial
comandada pelo coronel João Gualberto,
que prometia trazer os “fanáticos”
amarrados até Curitiba.
Tropas de infantaria na linha de frente na Guerra do
Contestado.
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Domingos Soares, chefe político de Palmas, município onde se localizavam os
campos do Irani, tentou uma mediação, para que houvesse a dispersão do grupo, e
José Maria lhe pediu três dias de prazo para que todos pudessem voltar às suas
casas. Contudo, a polícia atacou antes do prazo, morrendo os dois líderes: João
Gualberto e José Maria.
No início de 1916, pressionados pela fome e sem condições de manter a resistência,
muitos rebeldes renderam-se. Adeodato, último chefe, foi preso alguns meses mais
tarde e condenado a trinta anos de prisão. Morreria, segundo a versão oficial, em uma
tentativa de fuga.
Nos anos 1930, a experiência do Contestado seria demonizada como comunista no
discurso dos padres da região.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
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Leia atentamente o texto a seguir:
“Completamente analfabeto, ou quase, sem assistência médica, não lendo jornais,
nem revistas, nas quais se limita a ver as figuras, o trabalhador rural, a não ser em
casos esporádicos, tem o patrão na conta de benfeitor. No plano político, ele luta
com o “coronel” e pelo “coronel”. Aí estão os votos de cabresto, que resultam, em
grande parte, da nossa organização econômica rural.” (Adaptado de: LEAL, V. N.
Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Alfa-Ômega, 1976)
O coronelismo, fenômeno político da Primeira República (1889-1930), tinha como
uma de suas principais características o controle do voto, o que limitava, portanto, o
exercício da cidadania. Nesse período, essa prática estava vinculada a uma estrutura
social
A igualitária, com um nível satisfatório de distribuição da renda.
B estagnada, com uma relativa harmonia entre as classes.
C
tradicional, com a manutenção da escravidão nos engenhos como
forma produtiva típica.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
Para manter o poder que detinham no mundo rural, os coronéis usavam a força em
muitas circunstâncias, tanto para mostrar seu poderio a outros coronéis quanto,
sobretudo, para exercer a dominação sobre os trabalhadores rurais. Com relação a
esses trabalhadores, os coronéis exerciam sua autoridade e seu poder no cotidiano,
bem como utilizavam-se da violência quando isso lhes parecia adequado.
Questão 2
O problema central a ser resolvido pelo Novo Regime era a organização de outro
pacto de poder que pudesse substituir o arranjo imperial com grau suficiente de
estabilidade. O próprio presidente Campos Salles resumiu claramente seu objetivo:
D
ditatorial, perturbada por um constante clima de opressão mantido
pelo Exército e polícia.
E
agrária, marcada pela concentração da terra e do poder político local
e regional.
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“É de lá, dos estados, que se governa a República, por cima das multidões que
tumultuam agitadas nas ruas da capital da União. A política dos estados é a política
nacional” (Adaptado de: CARVALHO, J. M. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a
República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987).
Nessa citação, o presidente do Brasil no período expressa uma estratégia política no
sentido de
A governar com a adesão popular.
B atrair o apoio das oligarquias regionais.
C conferir maior autonomia às prefeituras.
D democratizar o poder do governo central.
E ampliar a influência da capital no cenário nacional.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
A estratégia política de atrair o apoio das oligarquias regionais durante a Primeira
República visava reorganizar as demandas e as relações de poder antes
capitaneadas pelo poder imperial. Para tal, usavam-se as bases dos estados e das
oligarquias regionais como principal apoio ao poder central do Estado e do
presidente da República.
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3 - O Rio de Janeiro, cidade capital: a vitrine do
progresso republicano
Ao �nal deste módulo, você será capaz de compreender o papel da cidade do Rio de Janeiro
no contexto de instauração da ordem republicana.
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Vamos começar
Vamos agora compreender o papel simbólico conferido à cidade do Rio de Janeiro,
capital da República, no contexto de instauração da ordem republicana.
Cidades do Brasil
Cidades podem ser símbolos? Neste vídeo, vamos pensar sobre as cidades
Republicanas que foram criadas e projetadas para dar um sentido: os casos de Belo
Horizonte, Aracaju e São Paulo.

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Entre muitas cidades e a criação da
cidade-símbolo
O sucessor de Campos Salles na presidência da República, Rodrigues Alves, governou
o país de 1902 a 1906 e tinha como um de seus projetos principais a reforma da
capital federal.
A intenção do governo de Rodrigues
Alves era modernizar a cidade, já que a
mesma ainda tinha ares coloniais,
ruazinhas estreitas e tortuosas,
ambulantes e graves problemas de
saneamento que assustavam os
moradores, os visitantes vindos de
outros estados e os viajantes
estrangeiros.
Pessoas caminhando pela rua do Ouvidor, centro do
Rio de Janeiro, maio de 1942.
Para realizar essa transformação, Rodrigues Alves não poupou verbas conseguidas
através de novos empréstimos feitos junto a banqueiros internacionais nem mediu
esforços. A fim de ordenar e embelezar a cidade, as obras iniciadas por Pereira
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Passos, o Haussmann tropical (BENCHIMOL, 1990), e comandadas pelos engenheiros
tinham três frentes:
A urbanização da avenida Beira Mar, para embelezar a enseada de Botafogo,
cartão postal da cidade
Avenida Beira Mar.
Primeira frente 
Segunda frente 
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A construção do novo cais do porto na praça Mauá, para permitir que navios de
grande calado atracassem na cidade, evitando o velho cais no qual antes
atracavam ao largo, obrigando passageiros e mercadorias a utilizarem um
precário serviço de catraias e barquinhos para desembarcarem na praça
Quinze de novembro
Praça Mauá.
A criação da soberba linha reta da avenida Central.
Terceira frente 
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Avenida central.
Limpar,sanear, e civilizar a capital
da República
Enquanto os engenheiros derrubavam e construíam prédios monumentais planejados
por arquitetos, Oswaldo Cruz empreendia uma cruzada para sanear a cidade. Cientista
com estudos em microbiologia e soroterapia feitos em Paris, o médico comandava as
ações saneadoras voltadas para moradias insalubres, ruas cheias de ratos
transmissores de peste bubônica e hábitos pouco saudáveis da população.
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Comentário
O Rio de Janeiro foi tomado por um exército da saúde pública, que o povo logo chamou de mata-mosquitos,
pois entravam nas casas com seus instrumentos de combate aos insetos transmissores de doenças como a
febre amarela.
Para controlar a varíola que assolava a cidade (CHALHOUB, 1996), o governo
encaminhou um projeto de lei que tornava obrigatória a vacina antivariólica. Os
agentes da saúde pública, que antes devassavam as casas para combater mosquitos
e ratos, passaram a devassar também os corpos dos moradores da cidade para
vacinar, mesmo contra a vontade, toda a população.
A revolta da vacina (publicada na revista O Malho, em
1904).
A população se via descontente com as
reformas, e também sem compreender
as medidas saneadoras impostas pelo
governo e as posturas municipais
supostamente civilizadoras que proibiam,
por exemplo, a circulação na avenida
sem sapatos, paletó e gravata. Por conta
disso, se insurgiu o movimento
conhecido como Revolta da Vacina.
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O papel simbólico do Rio de Janeiro e o
Brasil da Belle Époque
O que explicava o empenho, os gastos astronômicos e o desgaste político para
reformar e sanear a cidade do Rio de Janeiro, se Rodrigues Alves sabia que era com a
influência dos demais estados que se governava?
Exemplo
Na compreensão da historiadora Margarida de Souza Neves (2003b), isso ocorreu porque uma cidade-capital
não o é apenas por sediar o governo, ou por ser a mais populosa ou por concentrar as principais atividades
econômicas e culturais do país. Uma cidade-capital é uma representação do país para ele mesmo e para o
mundo. Por esse motivo, deve ser a síntese dos projetos e da identidade que se quer para esse país.
Ainda que a ordem tivesse seus alicerces nas práticas políticas do passado, era
importante que a República construísse, no Rio de Janeiro, um cenário de progresso
que apagasse a memória colonial e anunciasse um projeto de futuro que já fosse uma
realidade no presente, mesmo se pouco mudasse na cidade e no país. Para o discurso
oficial, os dois quilômetros da avenida Central eram a imagem do Rio de Janeiro, e a
cidade-capital, por sua vez, era a imagem do Brasil.
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Na virada do século XIX para o XX, a
Europa viveu um período de grande
otimismo chamado de Belle Époque,
expressão francesa que significa Bela
Época. Eram tempos de paz no
continente europeu. Havia grande
entusiasmo com o progresso e com as
novas invenções da ciência e da técnica,
tais como o telefone, o cinema, o avião e
o telégrafo. Houve também grandes
transformações nos hábitos cotidianos,
crescimento da indústria e novidades no
campo das artes e da cultura.
Santos Dumont - 14 Bis.
No Brasil, a Belle Époque foi, sobretudo,
uma moda vivida pelos elegantes que
copiavam formas e modos de vida da
burguesia francesa sem que o país
tivesse de fato uma burguesia industrial.
Nicolau Sevcenko (2003, p. 35) alude a
uma inserção compulsória do Brasil na
Belle Époque.
Exemplo de construção na Belle Époque: Palácio
Monroe.
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O lugar periférico do Brasil no cenário internacional fez com que o país, sempre atento
ao que se passava e ao que se pensava nas capitais europeias, copiasse modismos
da Belle Époque. Contudo, os tempos não eram efetivamente belos para os brasileiros,
a não ser para uma minoria de privilegiados que, por certo, passavam longas
temporadas em Londres, em Paris ou em Viena.
Sarau, de Columbano Pinheiro (1880)
O café das fazendas paulistas continuava a ser o primeiro produto da pauta de
exportação. A borracha ocupou um lugar significativo em nossas exportações apenas
por um curto período, até que em 1910 a produção dos seringais amazônicos passou
por uma crise de difícil e penosa extração. A economia brasileira continuava sem um
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mercado consumidor interno solidamente constituído e sem atividades industriais
consolidadas.
A economia do país era sustentada pela exportação de produtos
agrícolas não essenciais para as atividades industriais dos países
europeus e para os Estados Unidos, que os importavam ou
suplantavam por novos mercados produtores, tais como: cacau,
borracha, algodão, açúcar, tabaco, erva mate, couro e pele.
Esses produtos, somados ao café que imperava absoluto na pauta de exportações
brasileiras, representaram de 1870 até a Primeira Grande Guerra de 1914 mais de 90%
do que exportava o país. Sua fragilidade se faria patente quando a guerra trouxe
cortes significativos das exportações e queda nas importações de produtos
industrializados.
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Na sociedade, poucos foram os que
puderam gozar dos luxos e dos prazeres
da Belle Époque. No interior dos estados
da federação, os trabalhadores
continuavam a viver em condições
precárias, submetidos ao poder pessoal
dos coronéis e dependentes de sua
vontade soberana.
Nas cidades, os pobres continuaram a
trabalhar nas fábricas nascentes, no
comércio e no setor de serviços em troca
de salários baixos, sem nenhuma
conquista no campo da legislação
trabalhista e em condições de vida e de
trabalho aviltantes.
Retirantes de Candido Portinari (1944)
As reformas urbanas construíram uma fachada moderna nas cidades, buscaram
controlar e disciplinar as multidões urbanas quer pela imposição de uma ética positiva
do trabalho, quer pela ação das forças de segurança e ordem. Mas mesmo na capital
federal as melhorias dividiam a cidade entre os bairros elegantes, beneficiados pelas
obras de saneamento e urbanização, e os subúrbios, cujos bairros pobres eram quase
sempre abandonados pelo poder público.
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O �m da política dos governadores
nos anos 1920
Segundo Ferreira e Pinto (2003):
Na década de 1920, a sociedade brasileira viveu um período de
grande efervescência e profundas transformações. Mergulhado
numa crise cujos sintomas se manifestam nos mais variados
planos, o país experimentou uma fase de transição cujas rupturas
mais drásticas se concretizaram a partir de 1930.
(FERREIRA; PINTO 2003, p. 389)
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No plano político, os problemas do “federalismo desigual”, que confundia os
interesses nacionais com os de Minas Gerais e de São Paulo e subordinava os demais
estados da federação ao comando político das oligarquias paulista e mineira,
começavam a aparecer.
Assim, bem pesada, a Política dos Governadores não se resumia
a transferir as disputas oligárquicasque se concentravam no
Congresso para o âmbito dos estados; ela se caracterizou
também por criar uma hierarquia entre eles - as oligarquias de
primeira grandeza decidiam sobre a chefia do Executivo Federal e
as demais apoiavam a decisão, em nome da garantia de sua
permanência à frente dos governos de seus respectivos estados.
(CARVALHO, 2001, p. 98)
Nem sempre, no entanto, as oligarquias de segunda grandeza, em especial as do Rio
de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco, se conformavam com seu lugar
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subordinado. Foi o que sucedeu quando esses estados, no movimento conhecido
como Reação Republicana, se congregaram em torno das eleições presidenciais
realizadas em março de 1922, com as candidaturas de:
Nilo Peçanha
Candidato de Minas Gerais.
Artur Bernardes
Candidato de São Paulo.
Artur Bernardes foi eleito, como era previsível, mas a crise estava anunciada e
retornaria, irreversivelmente, na campanha à sucessão de Washington Luís em 1930,
quando os resultados eleitorais que deram a vitória a Júlio Prestes não foram
reconhecidos e a revolução estourou no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no
Nordeste.
Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas, derrotado nas eleições, foi empossado no
cargo de presidente da República pelas forças revolucionárias que se haviam
levantado contra o arbítrio oligárquico e em nome dos novos tempos. O poder foi

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tomado com a pretensão de construir um país moderno e de responder às novas
demandas sociais postas em cena ao longo dos anos 1920.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O governo de Rodrigues Alves (1902-1906) foi responsável pelos processos de
modernização e urbanização da então capital federal, o Rio de Janeiro. Coube ao
prefeito Pereira Passos a urbanização da cidade e ao doutor Oswaldo Cruz o seu
saneamento, visando combater principalmente a febre amarela, a peste bubônica e a
varíola. Essa política de urbanização e saneamento público, apesar de necessária e
modernizante, encontrou forte oposição junto à população pobre da cidade e à
opinião pública porque
A
mudava o perfil da cidade e acabava com os altos índices de
mortalidade infantil entre a população pobre.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
A população não compreendia como as reformas iriam melhorar sua vida nem o
significado das medidas saneadoras impostas pelo governo. Revoltada com as
B
transformava o centro da cidade em área exclusivamente comercial
e financeira e acabava com os infectos quiosques.
C
desabrigava milhares de famílias, em virtude da desapropriação de
suas residências, e obrigava a vacinação antivariólica.
D
provocava o surgimento de novos bairros que receberiam, desde o
início, energia elétrica e saneamento básico.
E
implantava uma política habitacional e de saúde para as novas áreas
de expansão urbana, em harmonia com o programa de ampliação
dos transportes coletivos.
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posturas municipais supostamente civilizadoras que proibiam, por exemplo, a
circulação na avenida, sem sapatos, paletó e gravata, a população se insurge no
movimento que ficou conhecido como Revolta da Vacina.
Questão 2
(UNICAMP, 2016) “O Rio civiliza-se!” eis a exclamação que irrompe de todos os
peitos cariocas. Temos a avenida Central, a Avenida Beira Mar (os nossos Campos
Elíseos), estátuas em toda a parte, cafés e confeitarias (…), um assassinato por dia,
um escândalo por semana, cartomantes, médiuns, automóveis, autobus, autores
dramáticos, grandmonde, demi-monde, enfim todos os apetrechos das grandes
capitais. (“O Chat Noir”, em Fon-Fon! Nº 41, 1907. Extraído de
www.objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon1907)
A partir do excerto, que se refere ao período da Belle Époque no Brasil, no início do
século XX, analise as afirmações:
I. O Rio de Janeiro procurava apagar aspectos da época do império e impulsionar a
cultura francesa.
II. A cidade expressava as contradições de um processo de transformações urbanas,
sociais e políticas nas primeiras décadas da República.
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III. A modernização representou um processo de exclusão social e cultural,
patrocinado pelo governo francês, que financiava obras públicas e impunha os
produtos franceses à população brasileira.
IV. Os costumes franceses eram elementos incorporados pela sociedade carioca
como sinônimo da modernização republicana.
Está correto o que se afirma em:
A Apenas I, II e III
B Apenas I, III e IV
C Apenas I, II e IV
D Apenas II e IV
E
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Parabéns! A alternativa C está correta.
A afirmação III está incorreta porque, na verdade, Belle Époque no Brasil diz respeito
à moda vivida pelos elegantes que copiavam formas e modos de vida da burguesia
francesa sem que o país tivesse de fato uma burguesia industrial.
Considerações �nais
Sertão, campo e cidade na política brasileira representaram uma estrutura que hoje
nos ajuda a entender o funcionamento da República fundada no início do século XX.
Ao longo de nosso estudo, passamos pela relação existente entre o sertão, o campo e
a cidade associados aos fenômenos políticos da Primeira República. Assim, pudemos
conhecer a política dos governadores, o coronelismo e os novos ideais de urbanidade
no Brasil.
Apenas I e II
20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 89/93
Podcast
Neste podcast, o especialista irá discorrer sobre o tema, a partir de algumas questões,
como: os projetos republicanos nos primeiros anos da República; os elementos
fundamentais da Primeira República no contexto do Governo de Campos Salles; o
papel da cidade do Rio de Janeiro no contexto da instauração da ordem Republicana.
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20/04/2024, 20:00 Os sertões, o campo e a cidade na Primeira República
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03469/index.html?brand=estacio# 90/93
Assista ao filme 1930: tempo de revolução, de Eduardo Escorel, 1990. Neste filme, você
encontrará um ótimo resumo sobre o contexto político da primeira república e o
coronelismo.
Leia o artigo Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual, de
José Murilo de Carvalho, sobre o coronelismo e as continuidades dessa política ao
longo da história republicana brasileira.
Leia o livro A alma encantadora das ruas, de João do Rio. Trata-se de uma coletânea de
crônicas que retrata literariamente, de maneira crítica, as mudanças na cidade do Rio
de Janeiro do início do século. Leia, em especial, a crônica “A Rua”.
Leia a matéria “Revolta da Vacina, 116 anos: diferenças e semelhanças com a onda
negacionista atual”, de Daniel Giovanaz, publicada no site Brasil de Fato. A matéria
apresenta uma boa comparação entre o contexto da Revolta da Vacina e a situação
contemporânea envolvendo a pandemia de

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