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RODRIgO gOyenA SOAReS 92 (Diplomacia – 2007 – CESPE) No Brasil, a instabilidade da política alfandegária prevaleceu no século XIX - estendendo- -se até o advento da República – e foi uma das causas da baixa industrialização. A respeito das tarifas praticadas e do comércio exterior brasileiro nesse período, julgue (C ou E) os itens a seguir. (1) Os tratados de comércio da época da Independência do Brasil inauguraram um período de baixas tarifas, o que provocou déficit na balança comercial brasileira. (2) Na década de 40 do século XIX, o pensamento industrialista se impôs à política de comércio exterior, abrindo possibili- dades para a criação de manufaturas. (3) Os Estados Unidos da América (EUA) dificultavam a impor- tação do café por meio das altas tarifas que aplicavam à entrada do produto brasileiro no país. (4) No Brasil, durante as décadas finais da Monarquia, o deficit do comércio exterior contribuiu para a queda desse regime. 1: Certo. Os Tratados de Navegação e de Comércio com a Inglaterra inauguraram um período de baixas tarifas e de subsequente déficit na balança comercial. A Tarifa Alves Branco, contudo, representava uma ruptura nessa lógica; 2: Certo. A Tarifa Alves Branco, de 1844, representava a expressão do protecionismo industrialista brasileiro advogado pelo partido liberal. A proteção às indústrias nascentes propiciou um breve surto industrial. Com efeito, em 1860, a Tarifa Silva Ferraz reduziu as barreiras alfan- degárias, o que favoreceu as manufaturas inglesas; 3: Errado. Os Estados Unidos constituíram o principal mercado importador de café brasileiro. No contexto do advento da República, o Tratado Blaine-Mendonça, de 1891, articulou-se no sentido de garantir a exportação de café e de açúcar brasileiros aos Estados Unidos em troca da importação de manufaturas norte-americanas; 4: Errado. Em grandes traços, a balança comercial brasileira perma- neceu positiva até 1860, quando sofreu um influxo de importações. A partir de 1874, contudo, o saldo comercial foi nitidamente favorável ao Brasil. Os Estados Unidos e a Europa eram os principais mercados importadores de produtos brasileiros; essencialmente bens agrícolas. O debate historiográfico acerca da crise do Segundo Reinado aponta quatro questões explicativas: a religiosa, a servil, a republicana e a militar. Pandiá Calógeras e Emília Viotti da Costa, nos anos de 1960, deram importância igual às quatro questões. Boris Fausto, na década de 1990, preferiu o viés explicativo que prioriza as questões republicana e militar. José Murilo de Carvalho, mais recentemente, reabilitou a relevância da questão servil. Outra corrente, encabeçada por Ângela de Castro Gomes, advoga a existência de uma corrente de pensamento, denominada, geração de 1870, que teria influenciado diretamente, por oportunismo ou possibilismo, a queda do Império. Gabarito 1C, 2C, 3E, 4E. (Diplomacia – 2005 – CESPE) A única alteração importante verifi- cada no cenário econômico colonial, à época da independência, foi o desenvolvimento da cultura do café. A propósito desse e de outros aspectos relativos ao sentido histórico dos aconteci- mentos de 1822, assinale a opção correta. (A) O surgimento do Estado nacional brasileiro em 1822, em face da decisão do príncipe regente, configurou-se como um indiscutível processo revolucionário, visto que foram rompidos padrões essenciais que sustentaram os três séculos de dominação colonial. (B) A manutenção das relações escravistas de produção, mesmo que após a independência, explica-se pela confi- guração, naquele momento, do capitalismo mundial, o qual, impulsionado pelos negócios britânicos, exigia a expansão do consumo nas regiões periféricas do sistema. (C) A novidade trazida pelo café consistia na incorporação de conceitos e métodos capitalistas modernos nas fazendas do Vale do Paraíba, o que explica a posição de liderança do produto na pauta de exportações brasileiras já na década 30 do século XIX. (D) O texto reitera o caráter inovador e, sob determinado prisma, revolucionário do café no contexto da economia brasileira na primeira metade do século XIX, a começar pela mudança que esse cultivo impôs nas formas de trabalho e pelo volume de sua exportação. (E) A onda revolucionária que tomou conta da Europa a partir da Revolução Francesa e que se expressou nos movimentos de 1820, 1830, 1848 também repercutiu no Brasil, a exem- plo da própria independência – na esteira da revolução do porto – e da abdicação de D. Pedro I, em 1831. A: Incorreto. O surgimento do Estado nacional brasileiro não rompeu com as estruturas produtivas que sustentaram os três séculos de domi- nação colonial. A estrutura produtiva guardou assuas características fundiária e monoexportadora. Não se tratou, ainda, de uma revolução, visto que Dom João VI legou a seu filho, Dom Pedro I, a Coroa do Brasil; B: Incorreto. Os ingleses combateram, desde os Tratados de 1810, o trato negreiro no Brasil. A manutenção das relações escravistas de produção, nesse sentido, em muito contrastava com a emergência, na Europa, de uma classe trabalhadora assalariada, que consumia bens e acumulava capitais; C: Incorreto. A estrutura produtiva do café reproduziu a forma colonial de produção, baseada na mão de obra escrava e no latifúndio. A incor- poração de métodos capitalistas de produção deu-se progressivamente a partir de 1850, com a emergência do trabalho imigrante –sobretudo nas fazendas de café do Oeste Paulista, e não na conservadora região dos Barões do café do Vale do Paraíba - e a proibição do tráfico negreiro. Ainda, o café constitui-se como principal produto na pauta de exporta- ções a partir da segunda metade do século XIX; D: Incorreto. Foi somente na segunda metade do século XIX que o café incorpora mudanças nas formas de trabalho e assume liderança no volume de exportações. O surgimento da cultura, por volta de 1830, atrelou-se à estrutura fundiária e escravista de produção; E: Correto. As ondas revolucionários de 1820, de 1830 e de 1848 reper- cutiram, no Brasil, respectivamente, na Revolução do Porto, de 1820, na abdicação de Dom Pedro I, em 1831 e na Revolução Praieira, em 1848. Gabarito "E”. (Diplomacia – 2005 – CESPE) Considerando a revolução do pro- cesso histórico do Brasil, julgue (C ou E) os itens seguintes. (1) A importância do café na história brasileira transcende o aspecto totalmente econômico, sendo também decisivo o seu papel para a configuração político-institucional do país, que se tornara independente em 1822. (2) Quanto ao modelo de Estado a ser implantado a partir da independência, havia convergência de pontos de vista entre as elites brasileiras, unidas pelo compromisso inarredável de garantir a unidade do país. (3) As riquezas geradas pelo café foram importantes para que se assegurasse a estabilidade política do Império, particu- larmente visível entre 1850 e 1870, além de respaldarem os investimentos no país e os empréstimos contraídos no exterior. (4) A ação empreendedora de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, marcada, do principio ao fim, pelo êxito e pelos lucros expressivos, somente foi possível porque a economia cafeeira produzia os capitais necessários ao financiamento das atividades industriais requeridas pelo moderno capitalismo. 1: Certo. Para além se seu papel estrutural na economia do Brasil independente, o café moldou as relações de poder e configurou a polí- tica do país. Os barões de café do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, exerceram notável influência na política econômica e escravista durante o Segundo Reinado. Os cafeicultores do Oeste paulista, por sua vez, tiveram papel fundamental no arrefecimento da escravidão, na queda da monarquia e na consolidação da República; 2: Errado. Não havia consenso entre as elites brasileiras quanto ao modelo de Estado a ser implantado a partir da independência. Exemplo notável dessa ausência de convergência política foi a proclamação da Confederação do Equador, em1824. Sob a liderança de Pernambuco, o Ceará, o Rio Grande do Norte e a Paraíba romperam a incolumidade do território nacional ao desvincularem-se da Coroa e proclamarem uma Constituição semelhante a da República da Colômbia. A Confederação opunha-se ao autoritarismo de Dom Pedro I, consubstanciado pelo Poder Moderador e pela noite da agonia, que dissolveu a Assembleia Constituinte e outorgou a carta constitucional de 1824. O movimento foi debelado e seu líder, o Frei Caneca, fuzilado. Note-se que o exército de Dom Pedro I era composto por mercenários, o que denota a ausência de nacionalidade no seio das forças armadas; 933. HIStóRIA DO bRASIl 3: Certo. O café garantiu estabilidade econômica e política ao Império na medida em que os dividendos alfandegários auferidos da exportação do bem agrícola permitiam à Coroa respaldar os investimentos no país e assegurar os empréstimos contraídos no exterior; 4: Errado. O surto industrial consubstanciado pelos empreendimentos capitalistas de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, derivou de investimentos britânicos, e não de empréstimos diretamente vinculados à produção de café. Ainda, se a Tarifa Alves Branco, o fim do tráfico negreiro e a urbanização do Rio de Janeiro permitiram a expansão dos empreendimentos do Barão; a Tarifa Silva Ferraz, a concorrência britânica e as elites rurais brasileiras pautaram o fim da Era Mauá. Note- -se, ainda, que os investimentos de Irineu Evangelista de Souza não eram direcionados à indústria pesada, mas às iniciativas capitalistas, como a criação de estaleiros, de bancos e de companhias de gás e de navegação. A falência de Mauá, para além das razões acima apontadas, deveu-se ao desequilíbrio orçamentário da inédita construção da linha telegráfica que ligava o Brasil à Europa. Gabarito 1C, 2E, 3C, 4E. 6. a prImeIra repúblIca (1889- 1930) 6.1. a proclamação da repúblIca e os Governos mIlItares A transição do Império para a República, proclamada em 1889, constituiu a primeira grande mudança de regime político ocorrida desde a Independência. Republicanistas “puros”, como Silva Jardim, defendiam uma mudança de regime que, a exemplo da França, tivesse como resultado maior participação da população na vida política nacional. Mas, vitoriosos, os republicanos conservadores, como Campos Sales, mantiveram o modelo de exclusão política e sociocultural sob nova fachada. Ao “Parlamentarismo sem povo” do Segundo Reinado, suce- deu uma República praticamente “sem povo”, ou seja, sem cidadania democrática. Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Editora SENAC, 2008, p. 552 (com adaptações). (Diplomacia – 2011 – CESPE) Tendo o texto acima como referência inicial e considerando aspectos marcantes da história brasileira entre o regime monárquico do século XIX e a Primeira Repú- blica, julgue (C ou E) os itens seguintes (1) A Revolução de 1930 rompeu com as deterioradas estruturas da República Velha ao encampar a consistente ideologia do tenentismo e alçar ao poder Getúlio Vargas, cuja expressão política se restringia ao Rio Grande do Sul. (2) Apesar de o republicanismo ter sido assimilado e apoiado por grande parte da opinião pública brasileira, fato compro- vado com a eleição de significativa bancada de deputados do Partido Republicano nas últimas décadas do Império, a implantação do novo regime ocorreu por golpe de Estado liderado por oficiais do Exército. (3) O caráter excludente da Primeira República, apontado no texto, expressava-se, entre outros aspectos, no sistema eleitoral vigente, marcado pelo reduzido número de elei- tores e pelas fraudes recorrentes, como a adulteração de atas eleitorais, problemas estruturais que a reforma cons- titucional - aprovada no governo Artur Bernardes - com a introdução do voto secreto, não foi capaz de tangenciar. (4) Embora com características bastante peculiares, que lhe imprimiram o rótulo de parlamentarismo às avessas, o regime parlamentarista implementado no Brasil, durante o Segundo Reinado, aproximava-se nitidamente do modelo inglês, dada a adoção do Poder Moderador, exercido pelo presidente do Conselho de Ministros. 1: Errado. A Revolução de 1930, embora tenha rompido a estrutura oligárquica da República Velha, foi posta em prática pela Junta Militar do Rio de Janeiro, que não era tenentista. Malgrado a congregação dos interesses tenentistas na Aliança Liberal, chapa composta por Getúlio Vargas e João Pessoa, também se beneficiava essa do apoio das dissidências oligárquicas de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e da Paraíba. O próprio Getúlio Vargas era parte dessas oligarquias. Nas eleições de 1930, Júlio Prestes obteve 57% dos votos, enquanto a expressividade política de Vargas restringiu-se ao Rio Grande do Sul; 2: Errado. O republicanismo, nos últimos anos do Império, não foi assimilado nem apoiado por grande parte da opinião pública brasileira. Consoante célebre análise de Aristides Lobo, o povo teria assistido à proclamação da República bestializado, sem compreender o que se passava, julgando ver talvez uma parada militar”. As eleições imperiais continuavam a dar maioria aos partidos consagrados, o Liberal e o Con- servador, embora tenham surgido os partidos republicanos provinciais legais a partir de 1870, data de publicação do Manifesto Republicano. A implantação do novo regime ocorreu após a derrubada do gabinete de Ouro Preto por Deodoro da Fonseca; 3: Errado. O voto secreto foi institucionalizado, no Brasil, pelo Código Eleitoral de 1932, que criou a Justiça Eleitoral. O Código também introduziu o voto feminino e o sistema de representação proporcional. A característica excludente da Primeira República expressava-se nas fraudes articuladas pela Comissão de Verificação dos Poderes. Nas palavras de Victor Nunes Leal, “inventavam-se nomes, eram ressuscitados os mortos e os ausentes compareciam; na feitura das atas, a pena todo-poderosa dos mesários realizava milagres portentosos”; 4: Errado. O parlamentarismo às avessas, implementado durante o Segundo Reinado, dava ao Poder Moderador a faculdade de dissolver a Câmara de Deputados. Ainda, o Imperador, que exercia o Poder Moderador, estruturava o Conselho de Estado e elegia em lista tríplice senadores vitalícios e, por fim, nomeava e demitia o Presidente do Conselho de Ministros; se a nomeação fosse rejeitada pela Câmara, era essa dissolvida pelo Imperador. O modelo brasileiro aproxima-se da máxima de Guizot segundo a qual o Rei reina, governa e administra. No modelo inglês, o gabinete advinha das eleições que davam maioria partidária na Câmara Baixa. Assim, consoante Thiers, o Rei reina, mas não governa. O parlamentarismo brasileiro, portanto, distanciava-se do modelo britânico. Gabarito 1E, 2E, 3E, 4E 6.2. a constItuIção de 1891. o reGIme olIGárquIco: a “polítIca dos estados”; coronelIsmo; sIstema eleItoral; sIstema partIdárIo; a HeGemonIa de são paulo e mInas GeraIs (Diplomacia – 2010 – CESPE) Com relação ao período da Primeira República brasileira, que vigorou até 1930, julgue (C ou E). (1) Sob inspiração norte-americana, o regime republicano bra- sileiro adotou o presidencialismo e substituiu o unitarismo do Império pelo federalismo. (2) Em sintonia com os interesses da oligarquia cafeeira, o pri- meiro governo republicano adiou, ao máximo, a instalação da Assembleia Constituinte. (3) No que se refere à política externa, ao longo de todo esse período, prevaleceram as relações econômicas e financei- ras com a Europa, em detrimento de uma possível opção americanista. (4) Durante a gestão do Barão do Rio Branco no Ministério das Relações Exteriores, todas as disputas fronteiriças herdadas do Império foram definidas favoravelmente ao Brasil. 1: Certo. A Constituição promulgada de 1891 retomava o modelo republicano dos Estados Unidos. Não por acaso, os Estados Unidos do Brasil, por curta duração, adotou a bandeira norte-americana com as cores verdee amarelo. Note-se que a Constituição federalista e republicana instituía o Estado laico, os direitos políticos para os homens alfabetizados maiores de 21 anos e a tripartição dos poderes. As mulheres e os analfabetos não votavam. O Executivo presidencialista operava junto ao Legislativo constituído em Câmara Alta e Baixa. O poder Judicial, por sua vez, assemelhava-se ao da Carta de 1824, embora tenha surgido o Supremo Tribunal Federal, para dirimir eventuais embates entre Estados; 2: Errado. Ao governo provisório, que se estendeu de novembro de 1889 a fevereiro de 1891, sucedeu o governo constitucional, até novembro de 1891. O Marechal Deodoro da Fonseca, durante o governo constitucional, foi eleito por eleições indiretas. Em 1890, reuniu-se o RODRIgO gOyenA SOAReS 94 Congresso Nacional Constituinte, cujo desdobramento foi a Constituição de 1891. Homem da caserna, Deodoro não conseguiu apoio político no Congresso. Ao fechá-lo, Deodoro foi destituído e o Marechal Floriano Peixoto assumiu o poder; 3: Errado. A Primeira República marcou a inflexão americanista da política externa brasileira. Não ocorreu um distanciamento completo com a Europa, mas a opção pelos Estados Unidos foi prioritária. O marco inaugural dessa aproximação foi o Tratado Blaine-Mendonça, de 1891, pelo meio do qual os Estados Unidos garantiriam acesso ao café e ao açúcar brasileiros e o Brasil, em contrapartida, abriria suas fronteiras às manufaturas americanas. Além de reordenar o equilíbrio do poder externo, o diploma de 1891 foi, para Deodoro, uma forma de barganhar o apoio político de um Congresso pouco satisfeito com o Executivo. Esse apoio derivaria da composição do Legislativo fortemente representado pelo nordeste açucareiro. Os frutos dessa aproximação foram colhidos na defesa americana às forças leais a Floriano Peixoto, na Revolta da Armada, contra Custódio de Melo, que obteve alento das embarcações portuguesas. Em nítido distanciamento com a Europa, Floriano rompeu com Portugal depois do episódio. Se com Quintino Bocaiuva o americanismo assume um viés ideológico, com o Barão do Rio Branco ressaltou-se a vertente pragmática. O Presidente Cleveland deu ganho de causa ao Brasil contra a Argentina na questão de Palmas, e o secretario de Estado dos Estados Unidos, Elihu Root, visitou o Brasil por ocasião da III Conferência Interamericana no Rio de Janeiro, em 1906. O discurso do Barão do Rio Branco, que ressaltou, na conferência, a influência europeia no continente sul-americano, poderia ser interpretado como uma política pendular visando suscitar a atenção americana para a importância da região. Note-se, finalmente, a conversão da legação brasileira em Washington em Embaixada, no ano de 1905, ato que teve imediata correspondência americana. Joaquim Nabuco foi o primeiro embaixador brasileiro em Washington; 4: Errado. Durante a gestão do Barão do Rio Branco, no Ministério das Relações Exteriores, a questão de Palmas, com a Argentina; a questão da Guiana, com a França, e a questão do Acre, com a Bolívia, foram resolvidas favoravelmente ao Brasil. A questão do Pirara, no entanto, foi prejudicial ao Brasil. Diferenças estruturais marcam esses litígios lindeiros. Se Palmas, Amapá e Acre tinham por base, respectivamente, os tratados de Madri (1750), de Utrecht (1713) e de Ayacucho (1867), a questão do Pirara não possuía a mesma solidez de diplomas jurídicos: fundou-se nos princípios de inchoate title e de watershed doctrine, segundo os quais, respectivamente, a posse intermitente é fator de posse definitiva e a bacia de origem de um rio determina sua propriedade. Ainda, o litígio do Pirara não se valeu do princípio de uti possidetis - quem possui de fato, possui de direito - que estruturou as outras questões. Por último, a questão do Pirara foi agenciada por Joaquim Nabuco, enquanto as outras, pelo Barão do Rio Branco, o que não significa que aquele fora menos qualificado que este, já que o próprio Barão, consoante tese de Álvaro Lins, teria salientado que Palmas e Amapá eram exceções, e o Pirara, a regra. Gabarito 1C, 2E, 3E, 4E. (Diplomacia – 2009 – CESPE) A história da Primeira República, ou República Velha, no Brasil, foi marcada por tensões políticas e econômicas relevantes para o entendimento da Revolução de 1930. A respeito desse período e de suas contradições, julgue (C ou E) os itens a seguir. (1) Inspirado na Carta inglesa, o marco constitucional de 1891 reproduziu a deformação política do voto censitário, mantendo herança do Império e adotando fundamentos de constituição europeia. (2) Na República Velha, a economia agroexportadora, tecno- logicamente moderna, apresentou elevada produtividade e introduziu as bases sustentáveis para o amplo processo de industrialização iniciado pelos próprios agroexportadores nessa fase histórica. (3) Nesse período, as oligarquias políticas dos estados, con- gregadas em partidos políticos, atuavam, na prática, em torno de bases, interesses e projetos locais e regionais. (4) Nessa quadra histórica do Brasil, adotou-se sistema eleitoral que, na prática, submetia-se ao controle dos chefes políticos locais, sobretudo no campo, o que ficou conhecido como voto de cabresto. 1: Errado. A Carta Constitucional de 1891 inspirou-se no modelo presi- dencialista dos Estados Unidos. No que concerne aos direitos políticos, a carta Instaurou o voto para os homens alfabetizados. Ainda, instituiu a laicidade, a tripartição de poderes e a organização federativa do Estado. A República, nesse sentido, rompeu com a herança do Império; 2: Errado. A economia agroexportadora da República Velha não era tecnologicamente moderna, nem produtiva. Sua rentabilidade variava em função do preço internacional do café, produto que apresentava baixa elasticidade-preço da demanda e baixa elasticidade-renda da demanda. O Convênio de Taubaté, de 1906, representou uma articu- lação financeira entre os governos estaduais e o federal para garantir, com cobertura da União, os empréstimos externos destinados a comprar os excessos da produção e sustentar, por conseguinte, o preço do café. Embora Amaury Gremaud veja no surto industrial de 1914-1918 o marco da industrialização do Estado, Celso Furtado atribui o início da industrialização brasileira exclusivamente ao governo Vargas. Nesse sentido, ainda que a importação de máquinas, a escassez de manufaturas na Europa, devido a Primeira Guerra Mundial, e o tênue deslocamento de interesses dos agricultores para a indústria tenham contribuído para lançar as bases da produção de manufaturados no Brasil, a industrialização começou apenas a partir de 1930; 3: Certo. A política dos governadores, instaurada na gestão Campos Sales, constituía uma articulação personalista entre o Presidente da República e as oligarquias regionais, que garantiam a eleição dos candidatos oficiais no Congresso, o que permitia a aprovação das leis de interesses do Executivo. A base local, portanto, atrelava as famílias oligárquicas à União. No caso de dissidências, o sistema engessava e o Executivo da União e dos Estados enfrentavam situações de ingo- vernabilidade e de disputa personalista. A Comissão de Verificação de Poderes, azeite na máquina da política dos governadores, estava vinculada ao Legislativo, que se encarregava de oficializar os resultados das eleições. As fraudes eram constantes; 4: Certo. As oligarquias, além de vincularem-se ao Executivo nacional, teciam laços com os coronéis locais. Em um complexo sistema de favores fundados na relação de compadrio descrito por Victor Nunes Leal, em Coronelismo, enxada e voto, os coronéis submetiam o sis- tema eleitoral aos seus interesses e àqueles das oligarquias. Os votos dos eleitores que iam ao encontro das demandas dos coronéis eram conhecidos como votos de cabresto. Caso houvesse indisciplina, os jagunços encarregavam-se de impingir sua violência aos eleitores. Gabarito 1E, 2E, 3C, 4C Texto - para as próximas duas questões. Ooligarca é um coronel como outro qualquer - ou um repre- sentante dele - que se mantém no poder pela liderança, pelo autoritarismo, pelas obrigações que impõe e pelos favores que concede a seus aliados – os favores concedidos não procedem somente dos seus bens pessoais, mas aproveitam-se das rendas e do poder do Estado para uma política individual. Sem isso e as obrigações que se impõem, dificilmente se manteria no poder. Os favores concedidos não procedem somente dos seus bens pessoais, mas aproveitam-se das rendas e do poder do Estado para uma política individual. Edgard Carone. A República velha. Rio de Janeiro: DIFEL, 1978, p. 269-70 (com adaptações). (Diplomacia – 2007 – CESPE) Tomando o texto como referência inicial, julgue (C ou E) os itens seguintes, acerca do Brasil da Primeira República (1889-1930). (1) O regime político adotado favorecia o exercício do poder a serviço dos interesses nacionais em detrimento dos interesses individuais dos dirigentes. (2) Durante esse período, o conceito de propriedade separava os bens da classe fundiária do bem público gerido pelo Estado. (3) Os dissidentes encontravam, nesse período, concretas possibilidades de ascensão política, em razão da mobilidade social. (4) Nesse período, estreito vínculo estabeleceu-se entre governo e partido, envolvendo lealdade entre ambos, porém sobrepondo os interesses deste aos daquele. 953. HIStóRIA DO bRASIl 1: Errado. O exercício do poder, durante o regime político adotado na Primeira República, era profundamente individual e personalista. José Murilo de Carvalho, em Os bestializados, salienta a característica excludente da República de 1889. Os cidadãos teriam sido manipulados pelos coronéis locais e pelas oligarquias regionais, não podendo exercer o poder que, consoante a Constituição de 1891, lhes foi conferido juridicamente pelo instituto do voto; 2: Errado. O período caracterizou-se pela confusão entre bem público e privado. As oligarquias apropriavam-se do bem público para seu interesse próprio, distorcendo a legalidade, a impessoalidade, a mora- lidade, a publicidade e a efetividade que deveriam constituir a essência da administração pública; 3: Errado. A estrutura de poder, na República Velha, era essencialmente estática. Poucas famílias controlavam o poder do Estado e a mobilidade social ficava restrita às vontades dessas classes dominantes. A família Accioli, no Ceará, assim como os Tarrasca, em Minas Gerais, são exemplos dessas oligarquias fundiárias; 4: Certo. O poder era exercido pelos partidos republicanos vinculados aos Estados. Estabelecia-se, assim, laços de lealdade entre os grupos dominantes e o governo, que, a rigor, era cooptado pelo sistema de alianças partidárias instituídas no poder. Gabarito 1E, 2E, 3E,4C. (Diplomacia – 2007 – CESPE) Ainda tomando o texto como refe- rência inicial, julgue (C ou E) os itens subsequentes, relativos ao Brasil da Primeira República. (1) O regime oligárquico favorecia, também no cenário político, o domínio das famílias socialmente hegemônicas. (2) Durante a Primeira República, apesar do regime político, observam-se, por vezes, sucessões de oligarquias nos estados da Federação. (3) Borges de Medeiros manteve-se como detentor do poder oligárquico no governo do Rio Grande do Sul por mais de duas décadas. (4) Nesse período, os governantes eram, na maioria das vezes, dominados por indivíduos, famílias ou grupos. 1: Certo. As famílias socialmente hegemônicas articulavam-se de forma a perpetuar-se no poder. Em A invenção republicana, Renato Lessa evidencia a institucionalização do sistema oligárquico de poder mediante três variáveis: a gestão do Estado pelos atores políticos coletivos; as relações de poder entre a União e os Estados; e a articulação de interesses entre Executivo e Legislativo. As oligarquias dos Tarrasca, em Minas Gerais; dos Medeiros, no Rio Grande do Sul; dos Accioli, no Ceará; dos Nery, no Amazonas; dos Rosa e Silva, no Pernambuco; e do Partido Republicano Paulista, em São Paulo, moldavam o quadro político da República Velha, participando ativamente das variáveis de poder mencionadas por Renato Lessa; 2: Certo. A contradição essencial, em termos conceituais, da Primeira República diz respeito à inexistência, consoante José Murilo de Car- valho, de uma res publica - ou coisa pública - atrelada à emanação do poder pelos cidadãos. A República era sucessivamente tomada pelas oligarquias como se de um bem privado se tratasse. Não haveria uma cidadania plena, mas em negativo; em outros termos, expressava-se por intermédio de revoltas e agitações populares, mas não era demandante e ativa no exercício do voto; 3: Certo. A oligarquia dos Medeiros perpetuou-se no poder, no Rio Grande do Sul, por mais de duas décadas. Com efeito, Borges de Medeiros exerceu a presidência gaúcha de 1898 a 1922; 4: Certo. O exercício do poder, no decurso da República Velha, foi essencialmente personalista. Gabarito 1C, 2C, 3C, 4C. Texto para a próxima questão Em 3 de outubro de 1930, o presidente da República, Washington Luís, foi deposto por um movimento armado dirigido por civis e militares de três estados da federação, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Terminava, assim, a Primeira República. O epi- sódio ficou conhecido como a Revolução de 30, - embora tenha havido, e ainda haja, muita discussão sobre o uso da palavra “revolução” para descrever o que aconteceu. A Primeira República caracterizava-se pelo governo das oligar- quias regionais, principalmente das mais fortes e organizadas, como as de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A partir da segunda década do século, fatos externos e internos começaram a abalar o acordo oligárquico. Entre os externos, devem-se mencionar a Grande Guerra, a Revolução Russa e a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. José Murilo de Carvalho. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 89 (com adaptações). (Diplomacia – 2006 – CESPE) A partir da caracterização da Primeira República (1889-1930) apresentada no texto, além de outros aspectos significativos da etapa inicial do regime republicano brasileiro, julgue (C ou E) os itens que se seguem. (1) A implantação da República foi um golpe de Estado que assinala, formal e diretamente, a entrada dos militares no primeiro plano do cenário político brasileiro, presença que se tornou comum na trajetória republicana, mesmo quando eles não estavam à frente do governo. (2) Apesar da reconhecida habilidade política que demons- traram possuir, obtendo considerável apoio no Congresso Nacional, os governos dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto enfrentaram dificuldades incontornáveis, razão pela qual não conseguiram cumprir seus respectivos mandatos. (3) Especialmente a partir do governo Campos Sales, o “acordo oligárquico” mencionado no texto ganhou densidade, sendo bem representado pela Política dos Estados, também conhe- cida como Política dos Governadores, por meio da qual o atendimento às demandas das oligarquias estaduais era a contrapartida ao apoio político dado aos seus representantes, que momentaneamente ocupavam o governo federal. (4) A manutenção regular e sem maiores sobressaltos do pacto oligárquico requeria a realização de eleições periódicas, com voto secreto, embora não universal, já que o sistema censitário excluía da condição de eleitores as mulheres, os analfabetos e os pobres. 1: Certo. A implantação da República é explicada, em parte, pela questão militar, que foi um conjunto de atritos entre o gabinete de Ouro Preto e o Clube Militar, que era formado por oficiais tarimbei- ros, veteranos da Guerra do Paraguai, e pela Mocidade Militar. Os primeiros exigiam maior reconhecimento do Exército, que haveria sido desfavorecido em favor da Marinha. Os segundos advogavam o positi- vismo e a ordem republicana. A união entre tarimbeiros e a Mocidade Militar forjou o golpe que findou oSegundo Reinado. Note-se que o Marechal Deodoro era um tarimbeiro da ala monarquista enquanto a Mocidade era formada por classes baixas e médias. À radicalização da Mocidade juntou-se o oportunismo dos tarimbeiros, o que permitiu a queda do gabinete de Ouro Preto e a proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Não havia, ainda, homogeneidade no seio da Mocidade Militar: os revolucionários agrupavam-se sob a liderança de Silva Jardim; os republicanos históricos, sob Quintino Bocaiúva: e os evolucionistas, sob Aristides Lobo. A Primeira República marcou o início da incursão militar no poder, que se perpetuou, com fluxos e refluxos, ao longo do século XX na trajetória republicana brasileira; 2: Errado. O Marechal Deodoro da Fonseca notabilizou-se por repetidos atritos com o Congresso Nacional, o que ocasionou sua renúncia depois da tentativa de alijar o poder legislativo de suas funções. O Marechal Floriano Peixoto, a seu turno, reabriu o Congresso e restabeleceu as garantias constitucionais embargadas pela decretação de estado de sítio durante o governo de Deodoro. Por outro lado, Floriano interveio no sistema federalista ao depor os governadores que apoiaram Deodoro quando decretou a dissolução do Congresso. Floriano Peixoto, o Mare- chal de Ferro, era vice de Deodoro e, malgrado a ordem constitucional que compelia a realização de novas eleições caso o presidente não completasse 24 meses de governo – o que foi o caso de Deodoro -, manteve-se no poder até 1894, em nítido embate com o Congresso Nacional. Durante seu governo, Floriano combateu com êxito a Revolta da Armada e a Revolução Federalista; 3: Certo. Em A invenção republicana, Renato Lessa salienta o fim dos anos entrópicos e a institucionalização da Política dos Estados com o advento do governo de Campos Sales. Ao compromisso de não intervenção do governo federal interpôs-se a articulação de interesses entre as oligarquias estaduais de maior envergadura, como as de RODRIgO gOyenA SOAReS 96 São Paulo e Minas Gerais, o que garantiria a estabilidade do regime. A Comissão de Verificação dos Poderes asseguraria o controle das eleições e a manutenção das elites oligárquicas no poder. As demandas estaduais seriam, portanto, atendidas pela federação, em uma simbiose de interesses entre os municípios, os Estados e a União; 4: Errado. O pacto oligárquico sofreu três maiores sobressaltos: i) nas eleições de 1910, quando Rui Barbosa reuniu os interesses da Bahia e de São Paulo contra o Marechal Hermes da Fonseca, que contava com o apoio do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais. Rui Barbosa, em sua campanha civilista, denunciava a articulação coronelista do poder sob os auspícios dos militares; ii) nas eleições de 1922, quando Arthur Bernardes, com o apoio de São Paulo e de Minas Gerais, confrontou Nilo Peçanha, que reunia os interesses do Rio de Janeiro, de Pernambuco, do Pará e do Rio Grande do Sul. As dissidências tenentistas enfrentaram-se a Arthur Bernardes, visto que, segundo o episódio das cartas falsas, teria criticado o Exército e exaltado o pacto oligárquico; e iii) nas eleições de 1930, que abalaram a ordem institucionalizada por Campos Sales e deram fim à Primeira República. Durante o regime instituído em 1889, o voto era secreto e universal masculino; não era, portanto, censitário. A exigência de alfabetização está diretamente vinculada com a baixa participação eleitoral, o que, em outros termos, reflete as fragilidades educacionais do período. Contrariamente à Carta de 1824, a Constituição Federal de 1889 não instituía a obrigatoriedade do ensino primário gratuito. Gabarito 1C, 2E, 3C, 4E. O estabelecimento da República, a bem da verdade o estabe- lecimento da Federação, permitiu que as diversas oligarquias locais ascendessem ao poder, no seu âmbito regional, e assu- missem o controle da máquina administrativa, em particular da fiscalidade, construindo mecanismos para sua eternização no poder. Essa era a alma do coronelismo. Hamilton de Mattos Monteiro. Da República Velha ao Estado Novo. In: Maria Yedda Linhares (Org.). História geral do Brasil. Rio de Janeiro:Campus, 1996, p. 233 (com adaptações). (Bolsa-Prêmio/Itamaraty – 2010 - CESPE) Considerando o texto acima e os aspectos marcantes da República brasileira em suas primeiras décadas, julgue os itens subsequentes. (1) O coronelismo foi fenômeno político exclusivo da Primeira República e, em certa medida, um tipo de prática política razoavelmente democrática. (2) Embora oligárquica, a Primeira República caracterizou-se por eleições livres, fiscalizadas pela justiça eleitoral, e por estar assentada no voto secreto. (3) As crises que se multiplicaram na década de 20 do século passado anunciavam o colapso da Primeira República, processo que se completou com a Revolução de 1930. (4) O federalismo constituiu-se em diferença marcante em relação ao Império, cuja estrutura unitária conferia amplos poderes ao governo central. 1: Errado. O coronelismo não foi fenômeno político exclusivo da Pri- meira República. Antecedeu-a, durante o Império, e ultrapassou-a, com a renovação política promovida pela Revolução de 1930. Vitor Nunes Leal define o coronelismo como “complexa estrutura de poder que tem início no plano municipal, exercido com hipertrofia privada (a figura do coronel) sobre o poder público (o Estado), e tendo como caracteres secundários o mandonismo, o filhotismo (ou apadrinhamento), a fraude eleitoral e a desorganização dos serviços públicos - e abrange todo o sistema político do pais, durante a República Velha”. Não há, portanto, semelhança entre coronelismo e prática democrática. 2: Errado. A Primeira República, além de oligárquica, não se caracte- rizou por eleições livres, nem secretas. O voto secreto, no Brasil, foi institucionalizado em 1932 por intermédio da promulgação do primeiro Código Eleitoral. 3: Certo. As sucessivas crises políticas e econômicas que pautaram o andar da década de 1920 deram claros sinais de desgaste da Primeira República. O processo de arrefecimento desse regime completou-se com a Revolução de 1930. 4: Certo. A centralização politico-administrativa do Império cedeu lugar ao federalismo da Primeira República, que acresceu o poder executivo e o legislativo aos Estados federados. Gabarito 1E, 2E, 3C, 4C 6.3. a crIse dos anos 20 do século xx: tenentIsmo e revoltas Texto para a próxima questão. Em 3 de outubro de 1930, o presidente da República, Washing- ton Luís, foi deposto por um movimento armado dirigido por civis e militares de três estados da federação: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Terminava, assim, a Primeira República. O episódio ficou conhecido como a Revolução de 30, embora tenha havido, e ainda haja, muita discussão sobre o uso da palavra “revolução” para descrever o que aconteceu. A Primeira República caracterizava-se pelo governo das oligar- quias regionais, principalmente das mais fortes e organizadas, como as de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A partir da segunda década do século, fatos externos e internos começaram a abalar o acordo oligárquico. Entre os externos, devem-se mencionar a Grande Guerra, a Revolução Russa e a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. José Murilo de Carvalho. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 89 (com adaptações). (Diplomacia – 2006 – CESPE) Ainda considerando o assunto abordado no texto, o termo revolução, embora questionado, é de uso frequente na historiografia brasileira quando se trata de denominar o movimento que, em 1930, depôs Washington Luís e alçou o gaúcho Getúlio Vargas à chefia do governo federal. No que respeita à crise que abalou o pacto oligárquico e que culminou com a vitória do movimento armado dirigido por Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, julgue (C ou E) os itens seguintes. (1) A predominância econômica de São Paulo e de Minas Gerais tinha correspondência na hegemonia políticaque exerciam, popularmente sintetizada na expressão Política do café-com-leite. Não havia, contudo, unanimidade quanto a essa liderança nacional, razão pela qual as sucessões presidenciais, não raro, geravam dissensões entre setores das oligarquias. (2) Os anos 20 do século passado assistiram ao aprofunda- mento da crise que corroeu o pacto oligárquico. O movi- mento tenentista, do qual decorreram duas insurreições armadas (em 1922, no Rio e em 1924, em São Paulo) e a própria Coluna Prestes, demonstra o grau de crescente insatisfação com os costumes políticos típicos do regime vigente nessa época. (3) Antecedendo Washington Luís, o período de governo do mineiro Artur Bernardes transcorreu em estado de sítio em praticamente todo o período, em clara demonstração do esgotamento do modelo político em que se assentava a Primeira República. (4) Por não ser um país industrializado, o Brasil passou incó- lume pela Crise de 1929 e, apenas tangencialmente, sentiu o impacto da grande depressão econômica do início dos anos 1930, o que explica o sucesso da política econômica adotada pelo governo Vargas. 1: Certo. A institucionalização da Política do café-com-leite não signi- ficou sua perpetuação sem sobressaltos durante a Primeira República. As eleições de 1910 e de 1930 ratificaram a frágil unanimidade quanto a essa liderança nacional e as dissensões entes setores das oligarquias; 2: Certo. Os levantes tenentistas, consubstanciados pelos episódios de 18 do Forte, em 1922, e pela Revolução Paulista, de 1924, denotam as insatisfações dos militares de baixa patente do Exército quanto ao pacto oligárquico; 3: Certo. O governo do mineiro Arthur Bernardes transcorreu em estado de sítio, visto que os levantes tenentistas causaram grandes abalos à estrutura oligárquica. Embora Washington Luís, eleito pelo Partido Republicano Paulista, o tenha sucedido, a articulação do poder entre São Paulo e Minas Gerais esgotou-se, já que as oligarquias paulistas