Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
Principais conceitos ecológicos e sua importância para a conservação da vida silvestre.
PROPÓSITO
Conhecer os principais conceitos ecológicos por meio dos diferentes níveis hierárquicos na
Ecologia, bem como sua importância para a conservação da vida silvestre, é essencial para
uma atuação efetiva dos profissionais que trabalham com manejo e conservação da vida
silvestre.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever a ecologia dos indivíduos
MÓDULO 2
Reconhecer as relações interespecíficas
MÓDULO 3
Caracterizar comunidades no contexto da conservação
INTRODUÇÃO
QUANDO ALGUÉM FALA A PALAVRA “ECOLOGIA”, O QUE
VEM À SUA CABEÇA? RECICLAGEM? PLANTAR UMA
ÁRVORE? SALVAR AS BALEIAS? PARAR DE COMER CARNE?
Certamente, a Ecologia tem a ver com esses temas, mas ela não é só isso. Indiretamente,
esses temas garantem que a nossa presença no planeta não ultrapasse limites seguros para a
nossa sobrevivência e a de tantas outras espécies. Isto é objeto de interesse da Ecologia, no
entanto, ela não se restringe a esta posição mais “ambientalista”.
A Ecologia é uma ciência regida por métodos específicos, conceitos, validação e refutação de
hipóteses, pela determinação de padrões e dos mecanismos que explicam tais padrões. A
Ecologia pode, então, ser definida como a “ciência que busca explicar os padrões e processos
que determinam a distribuição e abundância das espécies na Natureza.” (BEGON et al., 2006,
p.-2)
Tal ciência possui vários conceitos fundamentais para cumprir seu papel e contribuir para a
conservação da vida silvestre. Afinal, é através do entendimento dos fatores que determinam a
distribuição e abundância das espécies que será possível estabelecer as condições
necessárias para sua conservação, bem como de suas funções ecológicas.
MÓDULO 1
 Descrever a ecologia dos indivíduos
A ECOLOGIA DE INDIVÍDUOS
Se observarmos uma mosca que passa por nós, poderíamos fazer algumas perguntas que
teriam relação com a “distribuição e abundância”, como a Ecologia pretende.
Foto: Shutterstock.com
Estas e outras questões são alvo da ecologia de indivíduos, ou seja, o estudo de como
adaptações e escolhas comportamentais pelos indivíduos afetam sua sobrevivência e
reprodução e, consequentemente, sua distribuição e abundância. Desse modo, a ecologia de
indivíduos possui relação estreita com as respostas evolutivas das espécies. A evolução é a
mudança da frequência de atributos herdáveis de uma população ao longo do tempo e possui
como principal mecanismo a seleção natural.
Três são os requisitos que determinam o processo de evolução por seleção natural em uma
população:
VARIAÇÃO INDIVIDUAL
HEREDITARIEDADE
SUCESSO REPRODUTIVO DIFERENCIADO
VARIAÇÃO INDIVIDUAL
Devem existir diferenças entre os indivíduos.
HEREDITARIEDADE
A característica que se modificou deve ser passada para as próximas gerações.
SUCESSO REPRODUTIVO DIFERENCIADO
A característica modificada deve conferir ao indivíduo a maior probabilidade de produzir
descendentes.
Consequentemente, é esperado que a frequência desta característica ou atributo modificado
aumente em proporção na população. Assim, a fonte primária do que explica o processo
evolutivo está nos mecanismos atrelados à ecologia dos indivíduos e, como nada na Biologia
faz sentido, exceto, à luz da evolução, a ecologia de indivíduos é o começo de tudo.
ORGANISMOS, AMBIENTE E
CONSERVAÇÃO DA VIDA SILVESTRE
Os limites que determinam a ocorrência e distribuição de uma espécie ou um indivíduo nem
sempre são fáceis de serem estabelecidos. Os organismos podem estar de “passagem” por
determinada área e, portanto, ter pouca relação com as características desse ambiente. Por
outro lado, esse mesmo ambiente pode fazer parte da área de vida desse indivíduo.
 EXEMPLO
As aves migratórias vão para localidades distantes do seu ambiente natural para buscar
alimentos ou temperaturas mais adequadas durante o inverno. Outro exemplo são as
tartarugas marinhas, que nadam longas distâncias para desovarem na areia da praia.
O lugar onde um organismo vive ou aquele mais provável de encontrá-lo é chamado
de habitat. O habitat é caracterizado pelo meio físico e pela presença dos organismos que
compartilham o mesmo espaço. Sítios naturais podem abrigar espécies e compor o habitat
delas. Veja:
Foto: Shutterstock.com
O habitat da larva de um inseto pode ser uma bromélia-tanque.
Foto: Shutterstock.com
O habitat de um peixe pode ser um lago.
Foto: Shutterstock.com
O habitat de uma onça pode ser uma área florestal de um parque nacional.
Muitos fatores determinam a ocorrência de uma espécie em seu habitat e operam em
diferentes escalas espaciais e temporais. Muitos deles podem ter relação direta com a
presença e interação com outras espécies e, portanto, são reconhecidos como fatores
bióticos.
 EXEMPLO
A ocorrência de um predador pode ser determinada pela presença de sua presa. Enquanto o
predador busca os sítios de ocorrência de sua presa, as presas evitam o encontro com seus
predadores.
Os organismos podem ser diretamente afetados pelas características do ambiente físico,
determinando a ocorrência e abundância deles, tais como: a temperatura, a umidade, a
luminosidade e a disponibilidade de nutrientes. Esses fatores são chamados fatores abióticos.
A importância relativa de fatores bióticos e abióticos é contexto-dependente e deve ser
analisada de maneira específica.
De forma geral, dois conceitos são chave na ecologia de indivíduos: condição e recurso.
Vejamos cada um deles.
CONDIÇÃO
Uma condição refere-se a qualquer fator abiótico que determina o funcionamento e a atividade
dos organismos. Uma condição é sempre um fator abiótico. É esperado que uma condição
seja determinada pelo comportamento do indivíduo em um gradiente e não em um valor
predefinido. Ou seja, o mais correto é dizer que determinada espécie de sapo vive em regiões
com temperaturas entre 15oC e 30oC, do que dizer que vive a 22oC, mesmo que esta
represente sua temperatura ótima. Este padrão de tolerância das espécies é um fator
ambiental, geralmente, abiótico, que pode ser descrito por um método gráfico, representando a
resposta do indivíduo ou da população à sua variação. Este método gráfico é conhecido como
curva de tolerância.
Imagem: Aliny Pires
 Limites de tolerância evidenciando organismos euri (azul) e esteno tolerantes (vermelho).
Algumas representações da curva de tolerância explicitam níveis críticos para a manutenção de
populações, organismos e de funções críticas em uma decrescente do topo até os vales das
curvas.
Um organismo que ocorre em uma grande amplitude de determinado fator ambiental é
caracterizado pelo prefixo euri (Tolerância ampla.) .
Por exemplo, organismos euritérmicos vivem em amplo gradiente de temperatura. Já os
organismos eurialinos são aqueles que toleram grandes variações e ocorrem em um amplo
gradiente de salinidade.
Este é o caso dos organismos que vivem nas regiões estuarinas, próximas à foz de rios, e
estão sujeitos à variação de salinidade devido à força das marés. Trata-se do caso também do
salmão, que sai do ambiente marinho com elevados valores de salinidade e sobe o rio, um
ambiente de água doce, para eventos de reprodução em massa.
Foto: Shutterstock.com
 Salmão buscando a cabeceira dos rios para se reproduzir.
Por outro lado, os organismos que apresentam pouca tolerância à variação de um fator
ambiental são caracterizados pelo prefixo esteno (Tolerância estreita.) .
Assim, um organismo estenotérmico ou estenoalino possui baixa tolerância à variação de
temperatura e salinidade, respectivamente. Cabe ressaltar que um organismo esteno tolerante
pode ocorrer em qualquer posição de um gradiente. Isso significa que organismos
estenotérmicos podem ser:
Foto: Shutterstock.com
RESTRITIVOS A
BAIXAS TEMPERATURAS
Como é o caso do urso polar.

Foto: Shutterstock.com
RESTRITIVOS A
ELEVADAS TEMPERATURAS
Vide o caso das girafas africanas.
A tolerância diferenciada das espécies a determinado fator ambientalé o principal argumento
para o seu uso como bioindicadores. Sabendo-se da tolerância das espécies que compõem
determinado ambiente, é possível inferir sobre as condições ambientais a partir da ocorrência
destes organismos.
 EXEMPLO
Se uma espécie pouco tolerante a baixas concentrações de oxigênio em um riacho está
presente em uma amostra coletada em determinado ambiente, podemos dizer que aquele
ambiente possui bons níveis de oxigenação, mesmo sem quaisquer medidas de oxigênio. Da
mesma forma, à medida que vamos perdendo espécies menos tolerantes e espécies
resistentes aumentam sua proporção em uma amostragem, podemos inferir que se trata de um
ambiente impactado.
RECURSO
Recurso refere-se a quaisquer requerimentos de um organismo cuja quantidade pode ser
reduzida por sua atividade. Ou seja, um recurso é um item de consumo.
Foto: Shutterstock.com
FATOR BIÓTICO
Como uma presa para um predador.
Exemplo: formigas e tamanduá bandeira procurando por presas.

Foto: Shutterstock.com
FATOR ABIÓTICO
Como água ou abrigos.
Exemplo: Zebras bebendo água.
CABE RESSALTAR QUE A DISPONIBILIDADE DE RECURSOS É
UM DOS PRINCIPAIS FATORES QUE REGULAM A
COMPETIÇÃO NA NATUREZA. SE UM RECURSO
COMPARTILHADO É LIMITADO NA NATUREZA, SEJA ENTRE
INDIVÍDUOS DA MESMA ESPÉCIE OU DE ESPÉCIES
DISTINTAS, É PROVÁVEL QUE HAJA COMPETIÇÃO.
Evitar a competição e alocar energia em reprodução talvez seja um dos “melhores negócios”
em termos evolutivos. Porém, quais são os limites de ajuste possíveis? Há um limite? A
resposta para tais perguntas está presente na ideia de nicho ecológico, como veremos em
seguida.
Assista ao vídeo com a professora Aliny Patrícia Flauzino Pires explorando os principais
aspectos do conceito de nicho ecológico.
POR QUE AS ESPÉCIES, QUE NÃO ESTÃO TODAS NOS
MESMOS LUGARES, UTILIZAM OS RECURSOS E AFETAM O
AMBIENTE DA MESMA MANEIRA?
 RESPOSTA
A resposta para essa pergunta está na infinitude de possibilidades onde uma espécie vive, com
quais espécies interage ou como afeta o meio em que vive. Esse conjunto de fatores, que são
particulares de cada espécie, foi de onde partiu o conceito de nicho ecológico.
O termo nicho deriva do latim nidus para ninho, em francês nichier, e foi usado para se referir à
reentrância feita nas paredes para abrigar armários, quadros, prateleiras ou eletrodomésticos.
Ou seja, nicho é o espaço para determinado objeto.
Foto: Shutterstock.com
 Nicho de parede com objetos decorativos.
O nicho ecológico, por sua vez, refere-se ao espaço que uma espécie ocupa na natureza, e foi
determinado por Grinell em 1917. Neste momento, é fundamental estabelecer as diferenças
entre o conceito de nicho de Grinell e o conceito de habitat que discutimos anteriormente.
 RESUMINDO
Habitat é um conceito que está atrelado ao meio físico onde uma espécie ocorre. Nicho
ecológico refere-se ao senso amplo do termo lugar de uma espécie e se relaciona tanto ao
espaço físico como à função que uma espécie executa, ao horário que se alimenta, do que se
alimenta etc. Ou seja, o habitat é um dos componentes do nicho de uma espécie. Assim, o
nicho ecológico de uma espécie refere-se ao intervalo de condições necessárias para ela viver
e se reproduzir.
A ideia de um conceito capaz de descrever todos os aspectos de um organismo foi
rapidamente adotada pela comunidade ecológica. Foi sendo elaborada e reelaborada ao longo
das primeiras décadas do século passado, até que George E. Hutchinson definiu nicho
ecológico como a soma de todos os fatores ambientais que atuam sobre o organismo. O
nicho é então definido como uma região de um hipervolume dimensional. O sucesso da
proposta de Hutchinson reside no fato de assumir a complexidade do termo (n dimensões -
fatores) e permitir que seu uso seja feito à luz da interpretação necessária.
A seguir, vemos uma representação tridimensional do nicho de uma espécie, considerando três
fatores (X, Y e Z). Se pensarmos em uma ave frugívora, por exemplo, X poderia representar a
hora do dia que a ave se alimenta; Y ao tamanho do fruto e Z ao estrato da árvore em que ela
forrageia, como podemos ver abaixo:
Imagem: Aliny Pires
 Representação de três potenciais dimensões do nicho de uma ave frugívora.
Foto: Shutterstock.com
 Um tucano se alimentando de uma goiaba.
Talvez, para um pesquisador interessado em entender o modo de forrageamento de aves
frugívoras, estas três dimensões do nicho ecológico das espécies estudadas sejam suficientes
para revelar padrões ecológicos interessantes. Porém, é sempre importante lembrar que estas
são três das n dimensões possíveis.
De forma geral, o conceito de nicho ecológico se diferencia em dois conceitos acessórios
importantes: nicho fundamental e nicho realizado.
NICHO FUNDAMENTAL
NICHO REALIZADO
NICHO FUNDAMENTAL
É o conjunto de condições ideais nas quais um organismo pode viver. Entende-se aqui por
condições ideais aquelas onde predadores e competidores são ausentes e os recursos são
ilimitados. Logo, o nicho fundamental é aquele que revela os limites potenciais para uma
espécie, mas que, dificilmente, encontrará tais condições na natureza.
NICHO REALIZADO
É o conjunto de condições nas quais os organismos, de fato, vivem. O nicho realizado revela,
portanto, como cada organismo necessitou se “restringir” do nicho fundamental, ou seja, de seu
potencial ótimo, para estar onde se encontra. Portanto, o nicho realizado é sempre menor que
o nicho fundamental.
Alguns outros conceitos relacionados ao nicho se agrupam no que é chamado teoria de nicho
e buscam explicar o padrão de organização das comunidades biológicas, ou seja, como o nicho
de diferentes espécies se ajusta à presença umas das outras. Vejamos:
AMPLITUDE DE NICHO
Refere-se à variedade de recursos e/ou habitats usados por determinada espécie.
DIFERENCIAÇÃO DE NICHO
Refere-se ao grau de uso diferencial de um recurso por espécies que coexistem.
SOBREPOSIÇÃO DE NICHO
Refere-se à sobreposição no uso de um recurso por espécies distintas.
Todos estes aspectos serão fundamentais para estabelecer os processos que garantirão a
colonização e a organização de espécies com diferentes usos de recurso em habitats novos ou
abandonados.
Novas perspectivas e abordagens têm viabilizado novos usos do conceito de nicho ecológico.
Entre esses usos, está o modelo de nicho proposto em 2003, definindo um conceito de nicho a
partir das suas consequências populacionais.
SOB ESTA PREMISSA, NICHO ECOLÓGICO PODE SER
DEFINIDO COMO: AS CONDIÇÕES AMBIENTAIS QUE
PERMITEM UMA ESPÉCIE SATISFAZER SEUS
REQUERIMENTOS MÍNIMOS PARA QUE A TAXA DE
NATALIDADE DE UMA POPULAÇÃO LOCAL SEJA IGUAL OU
MAIOR QUE SUA TAXA DE MORTALIDADE EM RESPOSTA AO
IMPACTO PER CAPITA DELA EM SUAS CONDIÇÕES
AMBIENTAIS.
Ou seja, as condições ambientais em que uma população se estabiliza (taxa de natalidade
igual à taxa de mortalidade) ou cresce (taxa de natalidade maior que a taxa de mortalidade)
determinariam o nicho da espécie.
Esta abordagem permitiu estabelecer uma perspectiva mais quantitativa do nicho ecológico,
valendo-se de métodos matemáticos que viabilizaram a inclusão das múltiplas dimensões que
definem o nicho. A integração do conceito de nicho ecológico à ecologia de populações revela
como a competição entre indivíduos da mesma espécie é determinante para definir o
comportamento das populações na natureza.
NICHO ECOLÓGICO, CONSERVAÇÃO DA
VIDA SILVESTRE E EFEITOS EM CASCATA
Imagem: Shutterstock.com
A Ecologia tem muito a contribuir com as estratégias de conservação vigentes, e o conceito de
nicho é central no estabelecimento dessas estratégias. Ao se reconhecer as condições
necessárias para a ocorrência de uma espécie, os recursos que viabilizam sua existência e
definem os arranjos entre as espécies nas comunidades biológicas, a viabilidade de
populações mínimas e que asseguram sua manutenção, definimos limiares fundamentais para
garantir a conservação das espécies.
Um exemplo da importância destes conceitos e que tem sido amplamenteutilizado nos estudos
sobre o potencial impacto das mudanças climáticas na ocorrência, distribuição e abundância
das espécies é a modelagem com base no nicho da espécie.
De forma simples, esta técnica, a partir das tolerâncias climáticas conhecidas para as espécies,
estabelece a mudança em suas áreas de ocorrência em condições climáticas futuras. Como
resultado, o modelo pode revelar, por exemplo, que a área de ocorrência de determinada
espécie pode retrair, se expandir e/ou se deslocar. Como consequência, áreas de proteção
estabelecidas hoje podem não ser eficientes em proteger as espécies no futuro, dado o
deslocamento provocado pelas novas condições climáticas.
 SAIBA MAIS
Em um estudo recente, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, utilizando o
modelo de distribuição de nicho, revelaram que a mudança na distribuição das espécies pode
ter consequências para a saúde pública. Isso porque eles avaliaram o efeito que o aumento de
temperatura e precipitação esperados para o país nos próximos 30 anos (2050) teria para a
área de ocorrência do mosquito Lutzomyia (Nyssomyia) flaviscutellata, vetor da leishmaniose
cutânea, típica da região Norte. Os pesquisadores revelaram que o clima da região Sudeste, ao
se tornar mais parecido com o clima típico da região Amazônica, ampliaria a área de ocorrência
de L. flaviscutellata, trazendo com ele potencialmente os impactos das doenças de que é vetor.
RELAÇÕES INTRAESPECÍFICAS
Se o conceito de nicho deixa explícito que entender o lugar que uma espécie ocupa na
natureza é passo primordial para a organização das comunidades biológicas, ele também deixa
evidente que indivíduos da mesma espécie são aqueles que apresentam maior sobreposição
de nicho. Consequentemente, é esperado que a competição entre indivíduos da mesma
espécie se manifeste em todas as dimensões possíveis de seu nicho ecológico, conforme
explicado pelo modelo de crescimento populacional exponencial e pelo modelo logístico.
Confira os detalhes abaixo:
A competição intraespecífica é explícita no modelo de crescimento populacional logístico de
Verhust-Pearl, que parte do modelo de crescimento populacional exponencial, onde uma
população cresce indefinidamente, com base apenas na sua taxa de crescimento intrínseca
(r) e do número de indivíduos na população (N). Quanto maior a taxa de crescimento e
maior o número de indivíduos da população, mais rapidamente ela cresce, assumindo uma
curva na forma de J. Porém, esta forma de crescimento é pouco provável na natureza, pois
assume uma quantidade ilimitada de recursos e, à medida que as populações crescem, tais
recursos tendem a se tornar menos disponíveis.
Já o modelo logístico estabelece que o número de indivíduos de uma população em
determinado ambiente é limitado e controlado pela competição entre indivíduos da mesma
população. Este número de indivíduos é definido como sendo a capacidade suporte (K) do
ambiente.
Se o número de indivíduos (N) é menor que a capacidade suporte (K), a população tende
a crescer até que N seja igual a K.
Se o número de indivíduos (N) é maior que a capacidade suporte (K), a população tende
a diminuir, até que N seja igual K.
Para dado ambiente com disponibilidade de recursos (K), constante e com atraso na
resposta populacional, o que se observa é uma população que oscila em torno de K.
Assim, temos:
 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Imagem: Aliny Pires
 Modelos de crescimento populacional exponencial e logístico. Neste último, a competição
intraespecífica controla o tamanho da população.
Nem só de competição são feitas as interações intraespecíficas. Na natureza, é possível
observar uma série de interações que mostram a vantagem de se viver em grupo. Por
exemplo, a defesa de território em espécies que vivem em bando pode favorecer a sua
sobrevivência, bem como o comportamento de corte entre machos e fêmeas. Para tanto, é
fundamental que os benefícios de viver em grupo, por exemplo, melhor identificação e defesa
de predadores, maior eficiência na busca por alimento etc., sejam maiores que os custos da
competição.
Além disso, é possível identificar comportamento altruísta entre organismos aparentados, o que
tem sido chamado de seleção de parentesco. Quando um indivíduo favorece um parente, ele
também afeta o ajustamento daquela parte de seu próprio genótipo, dado que eles possuem
dN  / dt  :  rN  (N   −  K/K)
um ancestral comum. Consequentemente, a cooperação e o comportamento altruísta tendem a
aumentar à medida que aumenta o grau de parentesco entre os indivíduos interagentes. Esse,
inclusive, é o argumento para o sucesso evolutivo de insetos eussociais, que apresentam
diferentes castas, inclusive, estéreis, como é o caso de formigas, vespas e abelhas. Para esse
grupo de organismos, garantir a reprodução de indivíduos de castas reprodutivas é garantir
maior contribuição da carga genética para a geração seguinte.
INSETOS EUSSOCIAIS
São aqueles que apresentam sobreposição de gerações, divisão de trabalho e
cooperação no cuidado com a prole.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (FGV-SP 2020) A FIGURA MOSTRA ONZE ESPÉCIES DE LAGARTOS DO
GÊNERO ANOLIS ENCONTRADAS NA ILHA DE PORTO RICO. CADA
ESPÉCIE VIVE EM UMA REGIÃO PREFERENCIAL DA VEGETAÇÃO, QUE É
DEFINIDA PELO TIPO E PELA ALTURA DAS PLANTAS, INTENSIDADE DE
LUZ SOLAR E UMIDADE, ENTRE OUTROS FATORES.
javascript:void(0)
HTTPS://ES.KHANACADEMY.ORG. ADAPTADO.)
SOBRE AS RELAÇÕES ECOLÓGICAS ENTRE ESSAS ESPÉCIES DE
RÉPTEIS E PLANTAS, PODE-SE AFIRMAR QUE:
A) As onze espécies de lagartos ocupam o mesmo habitat e o mesmo nicho ecológico.
B) Os fatores abióticos determinam o tipo de alimentação dos lagartos em cada árvore.
C) A cadeia alimentar nessa vegetação é composta por, no mínimo, onze níveis tróficos.
D) A distribuição de diferentes nichos ecológicos na vegetação reduz a competição por
alimento entre os lagartos.
E) A competição em uma mesma planta tende a deslocar as espécies dominadas para plantas
mais baixas.
2. A EQUAÇÃO LOGÍSTICA PROPOSTA POR VERHUST-PEARL QUE
EXPLICA O CRESCIMENTO DE UMA POPULAÇÃO PREVÊ UM
COMPORTAMENTO ESPECÍFICO, RESULTADO DE PROCESSOS E
DINÂMICAS ESPECÍFICOS. A ALTERNATIVA QUE DESCREVE O
COMPORTAMENTO DA CURVA LOGÍSTICA E O CONCEITO-CHAVE DESTE
MODELO É:
A) Sigmoidal e capacidade suporte.
B) Sigmoidal e taxa de natalidade
C) Linear e capacidade suporte.
D) Exponencial e taxa de natalidade.
E) Exponencial e capacidade suporte.
GABARITO
1. (FGV-SP 2020) A figura mostra onze espécies de lagartos do gênero Anolis
encontradas na ilha de Porto Rico. Cada espécie vive em uma região preferencial da
vegetação, que é definida pelo tipo e pela altura das plantas, intensidade de luz solar e
umidade, entre outros fatores.
https://es.khanacademy.org. Adaptado.)
Sobre as relações ecológicas entre essas espécies de répteis e plantas, pode-se afirmar
que:
A alternativa "D " está correta.
Os lagartos vivem no mesmo habitat (árvore), mas exploram recursos diferentes nesse
ambiente (nichos ecológicos diferentes). Em consequência, a competição por alimento entre as
espécies se reduz.
2. A equação logística proposta por Verhust-Pearl que explica o crescimento de uma
população prevê um comportamento específico, resultado de processos e dinâmicas
específicos. A alternativa que descreve o comportamento da curva logística e o conceito-
chave deste modelo é:
A alternativa "A " está correta.
A curva de crescimento logístico estabelece uma curva em forma de S (sigmoidal), onde o
ambiente determina um tamanho populacional limítrofe, caracterizado pelas condições e pelos
recursos disponíveis, também chamado de capacidade suporte (K).
MÓDULO 2
 Reconhecer as relações interespecíficas
INTRODUÇÃO
A natureza é palco para uma série de interações ecológicas que revelam a interdependência
entre indivíduos. Assim como as interações intraespecíficas revelam a importância do balanço
entre competição e cooperação, as interaçõesentre espécies distintas, interações
interespecíficas, adicionam mais algumas camadas de complexidade na determinação do
sucesso de algumas espécies.
As condições do meio físico são fundamentais para determinar a ocorrência das espécies e
como isso se relaciona com a dinâmica de suas populações. Além disso, você conhece as
consequências evolutivas e a importância destes aspectos para sua conservação. Tudo isso é
fortemente influenciado pela interação entre as espécies e afeta diretamente a performance
das populações na natureza.
A pergunta óbvia dessa relação é:
Foto: Shutterstock.com
Desta forma, as interações interespecíficas são um dos temas mais estudados e debatidos
na Ecologia. Tal tema inspira diversos experimentos científicos e é capaz de explicar o sucesso
e o fracasso de iniciativas que buscam a conservação das espécies.
Por exemplo, imagine as seguintes situações:
Se necessitarmos garantir a conservação de um predador em um sítio onde a abundância de
presas seja um grande desafio, o que podemos fazer? Seria possível ajustar sua dieta? Como
isso afetaria as outras espécies? Que tipo de efeito em cascata poderíamos observar?
Da mesma forma, imagine que, ao plantarmos espécies que produzem flores polinizadas por
organismos específicos, sua população seja favorecida devido ao aumento na disponibilidade
de um recurso limitante.
A partir de agora, vamos explorar como as interações interespecíficas ocorrem na natureza, as
implicações para as espécies interagentes e os desafios para sua conservação. Se em última
instância o objetivo dos indivíduos é crescer, sobreviver e se reproduzir, a dependência de
outras espécies deve passar por estes aspectos.
TIPOS DE INTERAÇÕES
INTERESPECÍFICAS
De forma geral, as demandas que justificam a interação entre as espécies baseiam-se na
necessidade de:
Alimentar-se, a fim de obter energia para realizar todas as funções ecológicas importantes para
a sobrevivência e reprodução dos indivíduos.
Locomover-se, ao passo que muitas espécies possuem parcial ou total dependência de outras
espécies para ocupar novos sítios ou melhorar o sucesso no forrageamento.
Reproduzir-se, pois a reprodução pode ter um aspecto relacionado ao transporte de gametas
ou de frutos, como é o caso da polinização e dispersão, respectivamente.
Estas interações se organizam de formas distintas e afetam positiva e negativamente uma ou
mais espécies interagentes de múltiplas formas.
Não é raro considerarmos o termo interações positivas, negativas ou nulas, geralmente,
definidas pela direção dos efeitos que possuem no crescimento, na reprodução e sobrevivência
das espécies que interagem. No entanto, esta é uma forma simples de pensar as interações
ecológicas. Ao analisarmos as interações desta forma, teríamos que nos ater ao efeito desta
interação em uma das espécies.
 ATENÇÃO
No entanto, toda interação causa efeitos em ambas as direções e nunca se deve pensar de
maneira unilateral nas interações interespecíficas. Uma simplificação aceitável para a
complexidade da rede de interações que ocorre na natureza é pensar nas interações
interespecíficas sob a perspectiva da interação entre duas espécies.
Neste sentido, as interações entre duas espécies apresentam sempre duas direções, que
podem inclusive ter respostas distintas. Assim, imagine uma espécie que se beneficie da
presença de outra espécie, ao mesmo tempo que a beneficia, ou seja ambas as espécies são
favorecidas (interações +/+), como ocorre no mutualismo.
Imagem: ODUM & BARRET 2014, p. 284.
 Diversos tipos de interações interespecíficas harmônicas e desarmônicas.
Entre as interações mutualísticas mais conhecidas na natureza, a polinização merece destaque
especial. Muitas espécies de plantas possuem relação estreita com diferentes espécies
animais, fruto de um processo coevolutivo fantástico de ajuste entre as espécies. A polinização
é tão importante para a produção de alimentos que estimativas recentes sugerem que os
benefícios monetários desta interação são da ordem de 43 bilhões de reais, através da ação de
insetos e morcegos, por exemplo:
Imagem: WOLOVSKY <em>et al</em>., 2019, p. 23.
 Dependência da polinização para o cultivo de 44 plantas e seus principais polinizadores.
Da mesma forma, uma espécie pode ser indiferente ao benefício que outra obtém de sua
presença, como é o caso do comensalismo. Entre os exemplos clássicos do comensalismo,
destaca-se a relação entre a remora e o tubarão. A remora se alimenta dos restos alimentares
do tubarão, ao passo que não prejudica sua locomoção ou alimentação, já que se restringe ao
material descartado por ele. As relações interespecíficas onde alguma ou ambas as espécies
são favorecidas sem causar prejuízo às outras são conhecidas como relações harmônicas.
Foto: Shutterstock.com
 Remoras beneficiam-se dos restos alimentares dos tubarões através do comensalismo.
Conforme mostrado na imagem sobre diversos tipos de interações interespecíficas
harmônicas e desarmônicas, muitas interações podem causar efeitos negativos em alguma
ou ambas as espécies envolvidas.
No amensalismo, por exemplo, uma espécie prejudica a outra e não é afetada por sua
presença. O amensalismo ocorre quando organismos produzem toxinas que inibem o
crescimento de outras espécies, sendo comum entre microrganismos.
Já a predação consiste em um efeito positivo para o predador e negativo para a presa, que
paga com a vida o custo desta interação.
Por fim, a competição é uma interação que causa efeitos negativos em ambas as espécies
envolvidas.
O investimento em estratégias que garantem o sucesso de espécies competidoras desloca
energia para outras atividades, em vez de investir em outras atividades, como a reprodução,
por exemplo. As interações interespecíficas onde uma ou mais espécies são afetadas
negativamente são chamadas de relações desarmônicas.
DIVERSOS TIPOS DE INTERAÇÕES
INTERESPECÍFICAS HARMÔNICAS E
DESARMÔNICAS
javascript:void(0)
javascript:void(0)
Imagem: ODUM & BARRET 2014, p. 284.
 Diversos tipos de interações interespecíficas harmônicas e desarmônicas.
É POSSÍVEL IMAGINAR O TIPO DE INTERAÇÃO QUE SE DARIA
ENTRE DUAS ESPÉCIES QUAISQUER? QUE TIPO DE
INFORMAÇÃO PODERIA NOS AJUDAR A PREVER O TIPO DE
INTERAÇÃO QUE SURGIRIA?
Certamente, muitas informações são importantes e você pode ter imaginado várias delas. Por
exemplo, do que as espécies se alimentam, onde vivem etc. Todas estas informações estão
contidas no conceito de nicho ecológico. Em especial, quando nos referimos à competição,
o conceito de nicho ecológico torna-se ainda mais relevante, ao passo que a sobreposição total
ou parcial simétrica ou assimétrica do nicho das espécies torna-se um indicativo de competição
e permite inferir sobre a espécie que possuirá vantagem em relação a outra.
Outro aspecto interessante sobre o papel que uma espécie exerce nas interações
interespecíficas está relacionado ao fato de que ele pode não ser constante ao longo da vida.
Algumas espécies, por exemplo, podem mudar sua forma de alimentação nas diferentes fases
da vida. Um exemplo disso são as larvas da ordem Megaloptera, também conhecidas como
lacraia da água, devido à sua aparência. Espécies desta ordem possuem suas fases de vida
iniciais (ovos e larvas) no ambiente aquático, principalmente, em riachos, ocupando áreas de
correnteza. No ambiente aquático, estas larvas são uma das principais predadoras de outros
insetos. No entanto, quando adultos, ocupam o ambiente terrestre e, neste ambiente, quase
não se alimentam, desfazendo-se de toda a voracidade das fases larvais.
Foto: Shutterstock.com
 Os megalópteros, predadores vorazes no ambiente aquático, praticamente não se
alimentam quando adultos.
Vamos explorar os aspectos chave das principais interações interespecíficas e os conceitos
que subsidiam a compreensão de seus efeitos na natureza.
COMPETIÇÃO
A competição ocorre quando duas espécies compartilham o mesmo recurso. A
importância desta interação se acentuaà medida que o recurso compartilhado se torna
limitante. A competição surge, portanto, da sobreposição parcial ou total dos nichos das
espécies e possui efeito líquido negativo para ambas, conforme mostrado na imagem sobre
diversos tipos de interações interespecíficas harmônicas e desarmônicas.
A competição é geralmente classificada em dois tipos: a competição por interferência e a
competição por exploração.
DIVERSOS TIPOS DE INTERAÇÕES
INTERESPECÍFICAS HARMÔNICAS E
javascript:void(0)
DESARMÔNICAS
Imagem: ODUM & BARRET 2014, p. 284.
 Diversos tipos de interações interespecíficas harmônicas e desarmônicas.
COMPETIÇÃO POR INTERFERÊNCIA
COMPETIÇÃO POR EXPLORAÇÃO
COMPETIÇÃO POR INTERFERÊNCIA
Ocorre quando há efeito direto entre as espécies competidoras. Por exemplo: quando há um
embate físico na disputa por um recurso específico. Espécies territorialistas, que defendem um
território como recurso, geralmente, o defendem através do embate físico. Assim, em geral, a
competição por interferência é assimétrica, ou seja, uma das espécies interagentes é mais
apta que a outra. A competição por interferência também pode ser intraespecífica, quando
machos costumam disputar fêmeas através do confronto físico com machos da mesma
espécie.
COMPETIÇÃO POR EXPLORAÇÃO
Ocorre quando o efeito de uma espécie em outra é indireto, através do uso compartilhado de
um mesmo recurso. Não há presença de um embate, o consumo de determinado recurso
compartilhado diminui a sua disponibilidade para a outra espécie. Este é o caso de espécies
que forrageiam o mesmo alimento, mas sequer encontram seus competidores. Neste caso, a
competição pode ser simétrica ou assimétrica.
Consequência do compartilhamento de recursos, a competição tem impacto direto no tamanho
das populações interagentes. Inclusive, um dos experimentos clássicos que demonstram os
efeitos da competição para dinâmicas populacionais foi desenvolvido utilizando populações de
protozoários do mesmo gênero, de onde surgiu o conceito de exclusão competitiva.
LEIA MAIS SOBRE O SURGIMENTO DO CONCEITO DE
EXCLUSÃO COMPETITIVA.
No início da década de 30 do século passado, uma série de experimentos foram realizados por
Gause com culturas isoladas e mistas de duas espécies de protozário Paramecium aurelia e
Paramecium caudatum. Nele, Gause percebeu que em culturas mistas P. aurelia excluía
competitivamente P. caudatum, uma vez que ambas as espécies forrageavam sobre o mesmo
recurso, bactérias. No entanto, quando em cultura mista com Paramecium bursaria, P.
caudatum conseguia coexistir, porque P. bursaria forrageia principalmente as células que se
depositam no fundo dos tubos experimentais. Assim, a coexistência foi associada à
diferenciação do nicho realizado das espécies.
Uma vez que as espécies competem pelos mesmos recursos, é esperado que ela tenha efeito
direto na capacidade suporte dos ambientes que compartilham. Você já conhece o modelo de
crescimento logístico, que explica o crescimento das populações em ambientes com recursos
limitantes. Neste modelo, r é taxa de crescimento intrínseca da espécie, N é o número de
indivíduos da população e K o número máximo de indivíduos que o ambiente pode conter, com
base nos fatores ambientais (capacidade suporte). Se uma espécie compartilha os recursos
com outra espécie, é esperado que seu tamanho populacional também seja influenciado pelo
número de indivíduos da outra população (N2) e pelo coeficiente de competição (α1,2), ou seja,
o efeito que um indivíduo da espécie 2 exerce sobre a taxa de crescimento exponencial da
população da espécie 1.
Quanto maior a população da espécie competidora e maior o coeficiente de competição, menor
será o crescimento da população da espécie 1. Este modelo foi desenvolvido pelo ecólogo
italiano, Vito Volterra, que incorporou a competição interespecífica dentro do modelo de
equação logística.
 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Um aspecto interessante da competição e que tem sido explorado pelas novas abordagens de
nicho ecológico e seu papel na dinâmica de populações é o uso de isoclinas. Estas são
representações gráficas que designam condições em que a taxa de crescimento de populações
é zero, ou seja, a população se encontra em equilíbrio.
Imagem: Aliny Pires.
 Isoclina de uma espécie em relação à abundância dos recursos A e B.
Observe que, acima dos valores indicados na isoclina, a população cresce (área cinza),
enquanto abaixo dos valores a população diminui (área branca).
Se em um mesmo gráfico representamos isoclinas de espécies distintas, é possível identificar
em que condições de recursos a coexistência é possível. Esta isoclina é conhecida como a
isoclina de crescimento líquido zero e seria uma forma direta de acessar o nicho da espécie.
dN  / dt  :  rN1  *  (k1  −  N1  −  α1, 2  *  N2 ) /K1
PREDAÇÃO E OUTRAS INTERAÇÕES
CONSUMIDOR-RECURSO
Assista ao vídeo com a professora Aliny Patrícia Flauzino Pires explorando os efeitos não letais
de uma das principais interações ecológicas na natureza: a predação.
A busca por alimento é um dos principais gatilhos da interação entre espécies. Neste sentido, a
predação em um sentido amplo da relação entre consumidor-recurso possui efeitos distintos
para as espécies interagentes. A predação é uma interação positiva para o predador, que
obtém energia para suas atividades vitais a partir do consumo de sua presa e,
consequentemente, negativa para a presa, com efeitos negativos para sua dinâmica
populacional.
Assim como na competição, o efeito da predação na dinâmica das populações foi incorporado
ao modelo logístico, no modelo conhecido como modelo Lotka-Volterra, formulado por Alfred
Lotka e Vito Volterra. O modelo estabelece que a taxa de variação da população de presas é
resultado da taxa de crescimento intrínseco da população de presas menos o efeito dos
predadores na remoção de indivíduos nessa população. Como resultado desta dinâmica, o
número de predadores acompanha o aumento na abundância de presas, que responde
negativamente ao aumento populacional de seus predadores.
Uma das observações que deixa explícito o acoplamento na dinâmica de predadores e
presas é o caso do lince (predador) e da lebre (presa), que são os principais exemplos do
acoplamento e da variação cíclica na população de predadores e presas na natureza:
Foto: Shutterstock.com
Lince (Lynx canadensis).
Foto: Shutterstock.com
Lebre (Lepus americanos).
Utilizando dados de armazenamento de peles da empresa Hudson Bay Company, foi possível
verificar o quanto o tamanho das duas populações estava acoplado e apresentava padrões
cíclicos, como previsto pelos modelos matemáticos.
Imagem: RICKLEFS, 2010, p. 269.
 Acoplamento da população de linces e lebres, entre o final do século XIX e início do século
XX.
Apesar de a predação ser uma das interações consumidor-presa mais bem estudadas na
Ecologia, outras interações que ocorrem a partir da demanda alimentar podem apresentar
resultados similares.
A herbivoria é uma interação que se refere ao consumo de partes ou de plantas inteiras e
pode se assemelhar à predação, caso o herbívoro se alimente de um componente vital da
planta, levando-a à morte. Neste caso, o herbívoro atuaria como um predador da planta, mas,
nem sempre esse efeito é o mais frequente, já que herbívoros, geralmente, alimentam-se de
partes que não levam a planta à morte.
No caso do parasitoidismo, a relação ocorre entre hospedeiro e parasitoide, que,
frequentemente, leva à morte de seu hospedeiro. O parasitoide alimenta-se de partes de um
hospedeiro vivo, até que complete todo ou parte do seu ciclo de vida, podendo levar o
hospedeiro à morte, pois está muito debilitado.
As vespas são um grupo de parasitoides bem conhecidos e utilizam outros insetos, como
baratas, para colocarem seus ovos. O hospedeiro torna-se um “zumbi”, até que o parasitoide
complete esta fase do seu ciclo de vida, levando-o à morte.
Foto: Shutterstock.com A vespa parasitoide (Evania appendigaster) e um de seus hospedeiros potenciais, a barata
(Periplaneta americana).
O parasitismo, em contrapartida, apesar de também envolver o consumo de partes de um
hospedeiro vivo, não leva à morte, na maioria das vezes. É o caso dos parasitas humanos,
como do piolho e dos vermes que ocupam o aparelho digestivo humano. Exemplo: tênia e
lombriga. Como fica evidente, apesar de não causar obrigatoriamente a morte do hospedeiro, o
grau de infestação de um parasita pode afetar as atividades de seu hospedeiro, levando-o,
indiretamente, à morte.
 SAIBA MAIS
Um dos temas recentemente explorados na Ecologia, para se entender o potencial impacto de
consumidores em sistemas naturais, tem sido agrupado no chamado de efeitos não letais.
Estes se referem ao impacto que a presença do predador pode ter na atividade da presa,
mesmo que isso não implique o seu consumo. Sabendo da presença do predador, a presa
pode alterar seu comportamento para evitar a predação. Por exemplo, ela pode reduzir seu
tempo de forrageamento ou buscar outras áreas para serem ocupadas. Estes efeitos possuem
consequências em cascata, que podem ter efeitos na dinâmica da interação com outras
espécies, com consequências ecossistêmicas.
EVITANDO PREDADORES, BUSCANDO
PRESAS
Outras formas de evitar os predadores são: a coloração críptica, o aposimatismo, o
mimetismo e a tanatose.
COLORAÇÃO CRÍPTICA
A coloração críptica ocorre quando uma espécie apresenta padrão morfológico e/ou coloração
similares ao de seus arredores, como galhos, folhas e cascas. Sabe aquele “graveto” andando?
Pode ser um louva-deus ou um gafanhoto.
Foto: Shutterstock.com
 Bicho folha, insetos da subfamília Pterochrozinae.
APOSEMATISMO
Se algumas espécies querem se disfarçar no meio de tudo, outras preferem mostrar que estão
ali e que seus predadores devem tomar cuidado. O aposematismo, também conhecido como
coloração de advertência, é uma mensagem de alerta sobre o potencial impacto da espécie
para o seu consumidor. Sabe aquela perereca fluorescente que aparece e você já deduz que
ela é venenosa? Pois é! É exatamente isso que ela queria, e ocorre na natureza o tempo todo.
Foto: Shutterstock.com
 Sapo-boi-azul (Dendrobates tinctorius).
MIMETISMO
A coloração de advertência e impalatabilidade de muitas espécies servem de modelo de
imitação para outras espécies, é o que ocorre no mimetismo. Se espécies palatáveis imitam o
padrão de espécies nocivas, este tipo de mimetismo é chamado de mimetismo batesiano.
Foto: Wallembergsousa - Obra do próprio/ Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0 à esquerda e
Shutterstock.com à direita.
 Mimetismo batesiano de cobras corais. A- falsa (Erythrolamprus aesculapii), não
peçonhenta; B- verdadeira (Micrurus corallinus) modelo, peçonhenta.
Se diferentes espécies impalatáveis apresentam padrão similar entre si, este tipo de mimetismo
é chamado mimetismo mülleriano e forma complexos miméticos.
Imagem: Punnett, Reginald Crundall / Wikimedia Commons, Domínio público.
 Diferentes espécies de borboletas impalatáveis com coloração semelhante.
TANATOSE
Se a aparência de outra espécie menos palatável, o alerta de que pode ser venenoso, ou tentar
se esconder no meio da paisagem não for suficiente para evitar que o predador capture sua
presa, a saída pode ser “fingir-se de morto”. Exatamente! Alguns predadores só se alimentam
de presas vivas, se ele não estiver seguro disso, ele pode abandonar a presa capturada,
acreditando que ela esteja morta. Este padrão é bastante comum em alguns insetos e é
conhecido como tanatose.
Foto: Shutterstock.com
 Tanatose em besouro.
É FUNDAMENTAL DESTACAR QUE AS SAÍDAS DISCUTIDAS
AQUI SÃO FRUTO DE UM PROCESSO EVOLUTIVO DE
MILHARES DE ANOS, ONDE ESPÉCIES QUE APRESENTAVAM
TAIS CARACTERÍSTICAS FORAM FAVORECIDAS E
AUMENTARAM SUA FREQUÊNCIA AO LONGO DAS
GERAÇÕES. DA MESMA FORMA QUE AS PRESAS EVOLUEM
PARA EVITAR A PREDAÇÃO, OS PREDADORES EVOLUEM
PARA AUMENTAR A EFICIÊNCIA NA PREDAÇÃO.
Duas estratégias de predação são bem reconhecidas na Ecologia: a “busca ativa” e a “senta e
espera”. Uma espécie pode ir em busca de suas presas em uma estratégia de captura ativa,
como é o caso do lince. Contudo, os predadores podem adotar uma estratégia de “senta e
espera”, onde eles aguardam a passagem da presa e o melhor momento para atacar.
Um exemplo dessa estratégia é a larva da libélula, da Ordem Odonata, também conhecida
como lavadeira ou pitu do diabo. As libélulas possuem suas fases de ovos e larvas no ambiente
aquático, principalmente, em riachos, lagos e lagoas. No ambiente aquático, as ninfas são
importantes predadoras de outros insetos, possuindo um aparato bucal especializado em
capturar suas presas através dessa estratégia.
Fonte:Shutterstock
 Larva de libélula, predador do tipo “senta e espera” no ambiente aquático.
DECOMPOSIÇÃO E DETRITIVORIA
O impacto da decomposição e da detritivoria é nulo na população do recurso, pelo simples fato
de o recurso já estar morto.
Dois grupos de organismos usam a matéria orgânica morta:
DECOMPOSITORES
Bactérias e fungos.
DETRITÍVOROS
Animais consumidores da matéria orgânica morta.
Eles são fundamentais em inúmeros processos ecossistêmicos. Espécies decompositoras e
detritívoras possuem papel fundamental na reciclagem de nutrientes, ao retornar parte deles
para a natureza e incorporar outra parte em nova biomassa viva, podendo ser, inclusive, fonte
de energia para outras espécies através da cascata trófica.
Confira os detalhes abaixo:
DECOMPOSITORES
DETRITÍVOROS
DECOMPOSITORES
A decomposição como processo envolve a participação de diferentes espécies, em especial,
de microrganismos (bactérias e fungos), degradando a matéria orgânica morta. A capacidade
de degradação da matéria orgânica pelos decompositores é dependente da capacidade
funcional da comunidade de decompositores e do tipo de composto a ser degradado. Algumas
bactérias, por exemplo, são capazes de degradar compostos oleaginosos e podem atuar como
biorremediadores em situações em que há derramamento de óleo, especialmente, em
ambientes aquáticos. No entanto, dada a distribuição limitada desses organismos na natureza,
testes de laboratório e o cultivo dessas cepas são necessários para que este processo ganhe
escala.
DETRITÍVOROS
Além dos microrganismos, outros animais atuam de forma distinta no processo. Este é o caso
dos detritívoros, que se alimentam de detritos orgânicos maiores, atuando nas fases
intermediárias do processo de decomposição da matéria orgânica. Decompositores e
detritívoros atuam de forma complementar e são importantes ao longo do processo de
remineralização da matéria orgânica.
Para entendermos melhor a interação desse grupo de organismos, vamos imaginar a seguinte
situação:
O que acontece com uma folha que cai de uma árvore na beira de um rio?
Assim que cai no rio, a folha passa pela primeira fase da decomposição, a chamada lixiviação,
que é a perda dos materiais solúveis presentes na matéria orgânica para a água. Em seguida,
essa folha será condicionada pelos decompositores e por processos físico-químicos típicos que
a tornarão mais palatável, facilitando a ação dos organismos detritívoros. Estes serão capazes
de cortar a folha em fragmentos menores, e a decomposição fina continua a ser realizada pelos
microrganismos, até que toda a folha seja degradada.
Em um riacho, processos físicos, principalmente, relacionados à correnteza, também são
importantes na fragmentação da matéria orgânica e atuam conjuntamente com a ação de
decompositores e detritívoros. A variação da sua importância na dinâmica do sistema ao longo
do riacho, da nascente até a foz, foi organizada na Teoria do Rio Contínuo, que prediz uma
mudança na composição da comunidade de macroinvertebrados em virtude da variação do
grau de fragmentação da matéria orgânica, das características físicas do riacho e entrada de
luz no sistema.
Diversos grupos de invertebrados são exemplos da detritivoria em ambientesaquáticos.
Algumas espécies de tricópteros utilizam fragmentos foliares para construir abrigos e
contribuem para a degradação da matéria orgânica morta.
Foto: Shutterstock.com
 Tricóptero em abrigo foliar.
INTERAÇÕES POSITIVAS: MUTUALISMO
Apesar da predominância de interações desarmônicas na literatura ecológica, as harmônicas
são fundamentais para processos ecológicos. Cabe ressaltar que uma relação de benefício
mútuo não é bondade.
MUTUALISMO NÃO É ALTRUÍSMO!
Entre as interações mutualísticas, a polinização merece destaque. Ela ocorre devido à
necessidade que a planta possui de transportar seus gametas e do polinizador de obter
energia. Assim, enquanto o polinizador busca o néctar que garantirá a fonte de energia para a
manutenção de suas atividades, a planta garante que seus gametas chegarão em outra planta,
permitindo assim a fecundação e sua contribuição genética para a próxima geração. Porém, o
que garante que o polinizador dispensará o pólen no lugar certo? Eis a importância da
evolução.
Muitas espécies de plantas possuem o arranjo das peças florais especializado no formato do
aparato bucal de seu polinizador, fruto de um processo coevolutivo das espécies. Assim, é
possível garantir que apenas um polinizador específico carregue os gametas, acessando com
maior probabilidade outro indivíduo da mesma espécie de planta. Em contrapartida, fica
garantido que apenas ele possui acesso àquela fonte de energia. Logo, a polinização é uma
interação mutualística que demanda elevado grau de especificidade para que seja favorável
para as espécies envolvidas.
Algumas espécies animais também são importantes para garantirem a dispersão de espécies
vegetais. Ao se alimentarem de frutos, podem defecar as sementes ingeridas em outras
regiões, diminuindo a competição com organismos parentais. É importante que as sementes,
ao passarem pelo trato intestinal do dispersor, não afetem sua capacidade de germinação,
caso contrário, o dispersor torna-se um predador. Inclusive, a germinação de algumas espécies
é muito mais eficiente se passar pelo trato intestinal de alguns animais, como é o caso da
lobeira (Solanum lycocarpum) e do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), típicos do cerrado
brasileiro.
Estudos recentes mostraram que a germinação das sementes frescas não ultrapassa 1%,
enquanto sementes que passaram pelo trato intestinal do lobo-guará ultrapassam os 40%.
Foto: Shutterstock.com
Lobo-guará.
Foto: Wagner Santos de Almeida/ Shutterstock.com
Lobeira.
Esses são alguns exemplos de interações interespecíficas harmônicas na natureza, mas há
uma infinidade de outras possibilidades.
Por exemplo, microrganismos presentes no interior do trato intestinal de cupins e ruminantes
beneficiam-se da ingestão de alimentos por eles, ao mesmo tempo que degradam a matéria e
garantem o acesso à energia contida nela.
A associação entre as formigas e a embaúba é outro exemplo de relações positivas presentes
na natureza. Enquanto as formigas protegem a embaúba do ataque de herbívoros, a planta
oferece abrigo e alimento para as formigas.
Interações mutualísticas entre formigas e outros organismos são chamadas de mirmecofilia,
especialmente, com plantas.
Outro exemplo de mirmecofilia é a relação entre formigas e pulgões. A formiga protege o
pulgão, ao mesmo tempo que utiliza a secreção, rica em energia, produzida pelos pulgões.
Foto: Shutterstock.com
 Mirmecofilia entre formigas e pulgões.
INTERAÇÕES INTERESPECÍFICAS:
PARTICULARIDADES E DESAFIOS
Muitos ecólogos buscam entender de que maneira as interações interespecíficas variam ao
longo de diversos contextos ecológicos. Entre eles, o processo de sucessão ecológica merece
destaque. A sucessão ecológica consiste em um processo de mudança nas características da
comunidade a partir de um evento catastrófico onde espécies pioneiras ocupam
primeiramente o sistema, seguido por espécies tardias. É reconhecido que há uma mudança
grande na predominância de interações harmônicas e desarmônicas ao longo da sucessão
ecológica, com prevalência de interações desarmônicas no início do processo, em que
espécies r selecionadas neutralizam a elevada mortalidade desta fase e o predomínio de
interações harmônicas no clímax, aumentando a sobrevivência das espécies.
Entender interações interespecíficas através de interações entre duas espécies é, sem dúvida,
uma simplificação dos sistemas naturais. Em sistemas tropicais biodiversos, como o Brasil,
uma miríade de interações é possível. No entanto, essa simplificação é fundamental para que
possamos entender os mecanismos que operam na natureza e transpô-los para a
complexidade real da natureza.
ESPÉCIES PIONEIRAS
Em ambientes impactados, são as primeiras que surgem. Geralmente, produzem muitas
sementes, precisam de luz para germinar, crescem rapidamente e têm ciclo de vida curto.
ESPÉCIES TARDIAS
Espécies que surgem após o estabelecimento das pioneiras. Possuem crescimento
médio e ciclo longo. Toleram níveis baixos de recursos e crescem somente na presença
de espécies iniciais e as eliminam por competição.
ESPÉCIES R SELECIONADAS
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
Possuem as mesmas características descritas para as pioneiras.
A CONSTRUÇÃO DE REDES DE INTERAÇÃO É UMA DAS
INICIATIVAS NESSE SENTIDO E, APESAR DE ALTAMENTE
COMPLEXA, HOJE CONTA COM O AUXÍLIO DE FERRAMENTAS
COMPUTACIONAIS. UMA REPRESENTAÇÃO QUE FICA ENTRE
O ENTENDIMENTO DE INTERAÇÕES PAR A PAR E REDES DE
INTERAÇÃO SÃO AS TEIAS TRÓFICAS, ONDE A INTERAÇÃO
ENTRE AS ESPÉCIES É REPRESENTADA ATRAVÉS DOS
VÍNCULOS ALIMENTARES QUE POSSUEM.
Este aspecto fica evidente quando entendemos a predação através do que é chamado de
competição aparente. Duas espécies que compartilham o mesmo predador podem apresentar
comportamento similar ao de espécies competidoras, porém, este efeito está centrado no papel
que o predador exerce sobre elas. Se, por qualquer razão, uma destas espécies é favorecida e
aumenta em abundância, ela poderá causar um aumento na abundância do predador, que
reduzirá a abundância da segunda espécie. Se observarmos apenas o comportamento das
duas espécies de presas, poderíamos dizer que elas estão competindo pelo mesmo recurso. A
competição aparente explicita os desafios para se desvendar os mecanismos que operam e
revelam os padrões que observamos na natureza.
 RESUMINDO
As interações interespecíficas possuem efeitos que ultrapassam todos os níveis hierárquicos
na Ecologia, influenciando diretamente em todos os aspectos que determinam a conservação
das espécies.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. NOS ESQUEMAS ABAIXO, É REPRESENTADO O NICHO DE DUAS
ESPÉCIES A E B, QUE COMPARTILHAM O MESMO RECURSO, PORÉM,
COM PREFERÊNCIAS DIFERENCIADAS. CONSIDERANDO APENAS ESTA
DIMENSÃO DO NICHO DESTAS ESPÉCIES, EM QUAL DAS SITUAÇÕES
ABAIXO A COMPETIÇÃO É MAIS INTENSA?
(ADAPTADO.)
A) Na situação 1, pois as espécies possuem sobreposição total de nichos.
B) Na situação 2, pois as espécies apresentam separação total de seus nichos.
C) Na situação 3, pois as espécies possuem sobreposição total de nichos.
D) Igualmente intensas na situação 1 e 2, pois a espécie B apresenta parte de seu nicho
separado da espécie A.
E) A competição é igualmente intensa nas três situações, pois as espécies apresentam mesma
amplitude de nicho.
2. EM QUAL DAS INTERAÇÕES ABAIXO A ESPECIALIZAÇÃO ENTRE AS
ESPÉCIES INTERAGENTES É MAIS COMUM:
A) Competição
B) Predação
C) Polinização
D) Herbivoria
E) Dispersão
GABARITO
1. Nos esquemas abaixo, é representado o nicho de duas espécies A e B, que
compartilham o mesmo recurso, porém, com preferências diferenciadas. Considerando
apenas esta dimensão do nicho destas espécies, em qual das situações abaixo a
competição é mais intensa?
(Adaptado.)
A alternativa "C " está correta.
Na situação 3, todo o nicho da espécie B é compartilhado com espécie A, que apresenta
melhor desempenho.
2. Em qual das interações abaixo a especialização entre as espécies interagentesé mais
comum:
A alternativa "C " está correta.
Na polinização, os processos coevolutivos entre plantas e seus organismos polinizadores são
extremamente comuns, a fim de garantir que os gametas transportados pelos polinizadores
sejam utilizados com maior eficiência e o recurso que a planta oferece seja restrito (néctar).
Inclusive, muitos organismos apresentam estruturas especializadas para garantir o sucesso da
polinização.
MÓDULO 3
 Caracterizar comunidades no contexto da conservação
ECOLOGIA DE COMUNIDADES
Foto: Shutterstock.com
Todas essas perguntas se referem e são trabalhadas no contexto da ecologia de
comunidades. Entende-se por comunidade o conjunto de populações como uma unidade
integrativa por meio de transformações metabólicas coevoluídas em uma área
determinada de um habitat físico.
Essa definição traz luz a algumas características importantes das comunidades:
São estabelecidas por populações de espécies distintas.
Formam uma unidade integrada por meio das interações entre as espécies.
Tais interações são fruto de processos de coevolução.
Ocupam um espaço físico determinado.
Apesar da clareza do que se entende por uma comunidade na Ecologia, percebemos diversos
desafios.
Por exemplo, imagine a seguinte situação:
Há uma bromélia no alto de uma árvore em uma floresta. Dentro dessa bromélia, há um
acúmulo de água, que favorece a ocupação por diversos organismos de diferentes espécies.
Você se lembra do conceito de habitat? Esses organismos interagem através de múltiplas
interações, o que nos remete ao conceito de comunidade. Qual o limite físico desta
comunidade? Os organismos que estão dentro da bromélia, ou você incluiria os organismos
que frequentam aquela árvore e que, ocasionalmente, utilizam a bromélia como sítio de
descanso? Afinal, eles também podem interagir com os organismos dentro da bromélia, ou
seria toda a floresta? Já que muitos organismos, de outros lugares, podem eventualmente
interagir com as espécies presentes naquele sistema.
Os limites de uma comunidade são difíceis de serem definidos e, na maioria das vezes,
restringem-se à pergunta ou ao local de interesse de quem investiga.
Como consequência da dificuldade em torno do que define uma comunidade, outros termos
também são utilizados a partir de diferentes perspectivas, que vão além dos aspectos espaciais
(ex.: forma de obtenção de recursos e aspectos filogenéticos). Comunidades que são definidas
por táxons específicos, geralmente, são chamadas de assembleias. Assim, podemos ter uma
assembleia de aves, quando buscamos entender as interações entre espécies deste táxon
(aves) específico em determinado local.
Se quisermos falar sobre a interação de espécies distintas, mas que se alimentam do mesmo
recurso, podemos nos referir a elas como guildas locais, como mostra a imagem abaixo:
Imagem: Aliny Pires
 Conceitos que permeiam o conceito de comunidades em Ecologia.
Todos estes termos representam, na ecologia, um grupo de organismos de espécies distintas
ocupando determinado ambiente.
Agora, vamos explorar como as comunidades se organizam na natureza, os conceitos e
princípios que são fundamentais para sua compreensão e os mecanismos necessários para a
conservação de suas espécies constituintes.
PADRÕES DE COMUNIDADES NO
CONTEXTO DA CONSERVAÇÃO DA VIDA
SILVESTRE
COMUNIDADES ABERTAS VERSUS
COMUNIDADES FECHADAS
O esqueleto do que constitui uma comunidade é a infinitude de interações possíveis entre as
espécies na natureza. Duas visões distintas da estruturação das comunidades foram
elaboradas no século passado:
COMUNIDADES FECHADAS
Caracterizadas por serem unidade de organização com fronteiras reconhecíveis (discreta),
culminando em uma grande coincidência na distribuição de espécies distintas
interdependentes. Nas comunidades fechadas, sua estrutura e seu funcionamento seriam
regulados pelas interações entre as espécies, funcionando como um “superorganismo”. Disto,
surgiriam propriedades emergentes particulares, como estabilidade, resistência e resiliência
das comunidades. No contexto da paisagem, as fronteiras que distinguiriam as comunidades
fechadas ocorreriam em ecótonos, ou seja, zonas de transição entre duas comunidades,
geralmente, estreitas e com área limitada. Os ecótonos são mais facilmente reconhecíveis
onde há diferenças agudas nas condições físicas do ambiente, separando conjuntos de
espécies distintos.
Imagem: RICKLEFS, 2010, p. 331.
 Distribuição das espécies ao longo de gradientes ambientais prevista pelos modelos de
comunidades fechadas.
COMUNIDADES ABERTAS
São entidades abertas, fruto de associações fortuitas entre as espécies e controladas por
condições ambientais específicas. Consequentemente, a distribuição das espécies ocorreria de
maneira independente, sem se restringir a presença de uma ou outra espécie. Em
contraposição ao conceito de ecótono, sob a perspectiva de comunidades abertas, haveria
um continuum com a ausência de uma zona de transição definida, ocorrendo uma substituição
gradual de espécies entre duas comunidades adjacentes. Neste contexto, regiões mais
homogêneas sem mudanças abruptas nas condições ambientais serão mais susceptíveis a
este padrão.
Imagem: RICKLEFS, 2010, p. 331.
 Distribuição das espécies ao longo de gradientes ambientais prevista pelos modelos de
comunidades abertas.
Entre estas duas visões sobre a organização das comunidades, o mais produtivo não é
imaginar qual delas é a mais correta, mas entender que, na natureza, as comunidades se
organizam dentro de um gradiente entre estas possibilidades. As condições do ambiente e as
características das espécies que compõem a comunidade são fundamentais para situá-la neste
gradiente.
Assim, o importante é aceitar as premissas individualistas, previstas na perspectiva de
comunidades abertas, mas admitindo que alguns atributos do funcionamento das comunidades
surgem somente a partir das interações entre as espécies.
NICHO E NEUTRALIDADE
O conceito de nicho é fundamental em diversos contextos na Ecologia, inclusive, no estudo das
comunidades. A possibilidade de entender a sua organização a partir das dimensões do nicho
das espécies permitiu o desenvolvimento do tema, principalmente, no campo teórico.
A partir dos conceitos de amplitude de nicho, sobreposição de nicho e diferenciação de
nicho podemos entender como as espécies coexistem em determinado local, formando
comunidades complexas, constituindo o que é chamado de teoria de nicho. A teoria de nicho
compreende tanto a perspectiva prevista em comunidades abertas e fechadas, uma vez que
ambas levam em consideração as características das espécies, como componentes
fundamentais na determinação de sua ocorrência, mas diferem em relação à importância de
dimensões de nicho relacionadas a fatores abióticos e bióticos, respectivamente.
Em contraposição à teoria de nicho, conhecemos a Teoria Neutra da Biodiversidade e
Biogeografia, que presume que as comunidades são estruturadas por processos estocásticos,
onde todos os organismos das comunidades possuem igual probabilidade de se reproduzir,
morrer ou de migrar. Essa perspectiva tira o peso da identidade das espécies, contrapondo-se
à perspectiva prevista na teoria de nicho.
 RESUMINDO
Tanto os mecanismos previstos na teoria de nicho, quanto aqueles associados à teoria neutra,
operam e guiam iniciativas voltadas à conservação da vida silvestre. Entender o nicho da
espécie, bem como reconhecer sua susceptibilidade ao acaso no contexto das comunidades, é
passo fundamental para garantir que quaisquer iniciativas de conservação sejam bem
sucedidas no longo prazo.
CARACTERIZANDO COMUNIDADES
BIOLÓGICAS
Assim como podemos definir uma população com base em parâmetros demográficos, as
comunidades podem ser caracterizadas a partir de diferentes atributos; entre eles, a
diversidade é um dos mais importantes.
A diversidade pode ser entendida como o número de táxons em uma área ou região específica
e leva em consideração aabundância relativa de cada espécie. Assim, incorpora outros dois
importantes conceitos: a riqueza e a equabilidade das espécies.
A riqueza de espécies refere-se ao número de espécies distintas presentes em uma
comunidade (S).
A equabilidade refere-se à distribuição dos organismos que compõem uma comunidade entre
suas espécies constituintes. Ou seja, se uma comunidade é composta por 10 espécies e 100
indivíduos, sendo 90 indivíduos pertencentes a uma única espécie, a equabilidade é baixa. No
entanto, se cada uma das 10 espécies for representada por 10 indivíduos nesta comunidade, a
equabilidade será máxima, como mostra a imagem abaixo:
Imagem: Aliny Pires
 Exemplo de duas comunidades distintas com o mesmo número de espécies e
equabilidades distintas. Cada cor representa espécies distintas.
Como forma de mensurar esses atributos, alguns índices foram estabelecidos para facilitar o
estudo do tema, através de abordagens mais quantitativas. Para avaliar a diversidade, os
índices de Shannon e Simpson estão entre os mais utilizados. Ambos levam em consideração
a riqueza e a equabilidade das espécies, mas devido a aspectos matemáticos, o índice de
Simpson tende a valorizar o papel de espécies raras na comunidade. Isso ocorre porque o
índice de Shannon usa valores logaritimizados, o que tende a reduzir a importância das
diferenças na abundância das espécies, enquanto o índice de Simpson explora a sua
proporção em uma escala de potência.
ALÉM DA DIVERSIDADE, RIQUEZA E EQUABILIDADE, UMA
COMUNIDADE PODE SER DESCRITA COM BASE EM OUTROS
ATRIBUTOS IGUALMENTE RELEVANTES E QUE LEVAM EM
CONSIDERAÇÃO ASPECTOS QUE VÃO ALÉM DE
ABORDAGENS QUANTITATIVAS, E QUE INCORPORAM
TRAÇOS RELACIONADOS À IDENTIDADE DAS ESPÉCIES.
SABER QUAIS ESPÉCIES COMPÕEM UMA COMUNIDADE
PODE SER MAIS IMPORTANTE PARA ENTENDER SEU
FUNCIONAMENTO DO QUE SABER QUANTAS ESPÉCIES
ESTÃO PRESENTES E COMO OS INDIVÍDUOS SE DISTRIBUEM
ENTRE ELAS.
Algumas abordagens, ditas multivariadas, integram aspectos relacionados à composição das
comunidades. Além disso, é possível obter informações sobre aspectos funcionais das
espécies e, assim, determinar potenciais efeitos para processos ecológicos específicos. Por
exemplo, a determinação de guildas tróficas leva em consideração o tipo de forrageamento das
espécies, e pode ser entendida como uma função ecológica. Estudos mais recentes têm
utilizado o termo diversidade funcional, a fim de caracterizar a variação dos traços funcionais
em uma comunidade.
A FORMAÇÃO DAS COMUNIDADES
Aspectos que ocorrem em escala evolutiva também são importantes para determinar o estudo
de comunidades biológicas.
A DIVERSIDADE QUE CONFIGURA A PRESENÇA DE
DIFERENTES ESPÉCIES NAS COMUNIDADES É FRUTO DE UM
PROCESSO EVOLUTIVO.
O efeito fundador ressalta como as características genéticas de uma população inicial pode
ser determinante para a ação da seleção natural ao longo do tempo. Este efeito é observado,
principalmente, em habitats isolados, como em ilhas, que recebem um pool genético limitado
por seus colonizadores, o que limita a diversificação ao longo do tempo. Neste contexto, a
comunidade é altamente influenciada pela população de fundadores e pelo ambiente, atuando
como força seletiva no seu estabelecimento.
Quando observamos uma comunidade, é necessário imaginarmos que ela é fruto de fatores
que atuam em escalas de tempo e espaço distintas. Ao mesmo tempo que a presença de
um predador é importante para a configuração da comunidade, o clima e os processos
evolutivos, que operam em escalas maiores, são igualmente relevantes.
Em termos espaciais, os fatores que controlam a estrutura da comunidade são chamados
fatores locais e regionais.
FATORES LOCAIS
Entende-se como fatores locais aspectos relacionados a eventos que caracterizam o
ambiente na escala local, tal como a disponibilidade de recursos, a heterogeneidade de
habitats e as interações interespecíficas (competição, predação e mutualismo). Desta forma, a
importância relativa de fatores locais é controlada pela identidade das espécies.
FATORES REGIONAIS
Já fatores regionais operam em macro escala e estão relacionados a eventos de extinções e
formações de espécies, aparecimento de barreiras de dispersão e grandes mudanças
climáticas. Nesta escala, a identidade das espécies é menos importante:
Imagem: RICKLEFS, 2010, p. 409.
 Integração entre processos que operam em diferentes escalas espaciais e temporais para a
determinação da diversidade local, atributo chave de uma comunidade.
SUCESSÃO ECOLÓGICA
Até aqui, pudemos entender como a identidade das espécies pode ser importante para
estabelecer arranjo das comunidades na natureza. Se é possível identificar quais espécies são
favorecidas por determinadas condições ambientais e como as espécies podem favorecer ou
prejudicar o estabelecimento de outras espécies, podemos prever uma mudança gradual na
configuração das comunidades, com base no efeito que as espécies possuem no ambiente e
como eles se substituem com o tempo.
Este é o princípio da sucessão ecológica, que pode ser definida como um padrão de
colonização e extinção local de populações de espécies não sazonal, direcionado e
contínuo em dado ambiente.
De toda forma, a mudança na estrutura de uma comunidade poderia ser cíclica e não cíclica.
CÍCLICA
É cíclica quando ela é não direcional, ou seja, trata de mudanças que ocorrem em escalas de
tempo mais curtas e se repetem regularmente ao longo de toda a comunidade. Isso ocorre,
principalmente, em comunidades que são formadas por espécies com ciclos sazonais.
Por exemplo, espécies de aves migratórias que utilizam sítios específicos para sua estação
reprodutiva e não compõem a comunidade todo o tempo, apesar de retomarem a comunidade
todo o ano.
Foto: Shutterstock.com
 Aves migratórias constituem comunidades biológicas em intervalos específicos do ano.
NÃO CÍCLICA
A sucessão ecológica, em contrapartida, é uma mudança na estrutura da comunidade não
cíclica, ou seja, direcional e, geralmente, apresenta uma trajetória previsível, desencadeada
por uma perturbação, ou seja, um evento discreto que remove organismos ou interfere na
comunidade.
A sucessão ecológica pode ser primária ou secundária. Confira:
SUCESSÃO ECOLÓGICA PRIMÁRIA
Ocorre quando não há influência prévia de uma comunidade ou condição ambiental. Ocorre no
surgimento de novos sítios de colonização ou após eventos catastróficos, como uma erupção
vulcânica, crateras formadas por meteoros, formação de dunas ou retração de geleiras, que
removem quaisquer resquícios de aspectos pretéritos.
Entre os exemplos bem documentados do processo de sucessão primária, destaca-se a
intensa atividade vulcânica na ilha de Cracatoa, que “explodiu” em 27 de agosto de 1883. A
maior parte da ilha foi arremessada para longe de seu sítio original e foi invadida por ondas
enormes de maré, o que varreu a vida da ilha.
Cientistas perceberam que ali havia uma boa oportunidade de estudar o processo de sucessão
primária e como ocorre o desenvolvimento das comunidades. Eles observaram uma mudança
significativa no número de espécies e na sua identidade, relacionada ao seu tipo de dispersão.
Das 24 primeiras espécies que colonizaram a ilha, 10 apresentavam dispersão pelo mar e,
aproximadamente, 40 anos após, com o aumento no número de espécies dispersadas pelo
vento e animais, iniciou-se o desenvolvimento de sistemas florestais, como podemos ver
abaixo:
Imagem: Ricklefs, 2010, p. 350 à esquerda e Foto: Shutterstock.com à direita.
 Variação no número de espécies na ilha de Cracatoa, Indonésia, após a destruição pela
intensa atividade vulcânica em 1883.
SUCESSÃO ECOLÓGICA SECUNDÁRIA
Ocorre quando há a influência de uma comunidade ou condição ambiental prévia. Este
processo ocorre após perturbações menos intensas e/ou em uma escala espacial menor,
como, por exemplo, a queda de uma árvore em uma floresta, abrindo uma clareira. A vegetação
do entorno, assim como a matéria orgânica depositada no soloe o banco de sementes, são
fatores que serão importantes no desenvolvimento da comunidade.
A Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, é um exemplo de como a sucessão secundária pode
ocorrer de maneira bem-sucedida.
Fonte:Shutterstock
 Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, uma das maiores florestas urbanas do mundo.
A área onde hoje está o Parque Nacional da Floresta da Tijuca, por muito tempo, foi área de
intenso plantio de café, removendo a vegetação típica da Mata Atlântica. Devido à crise hídrica
que a remoção da floresta causou na cidade do Rio de Janeiro, deu-se início ao processo de
restauração da vegetação florestal na área. Apesar da presença de uma mata secundária
robusta e frondosa, muitos animais perdidos no desmatamento da era do café ainda não
retornaram à floresta. Iniciativas recentes buscam reintroduzir esta fauna nativa na Floresta da
Tijuca, garantindo, assim, a recomposição de toda a funcionalidade da floresta.
TANTO A SUCESSÃO PRIMÁRIA QUANTO A SECUNDÁRIA
PODEM SER DEFINIDAS POR DIFERENTES ESTÁGIOS
SUCESSIONAIS (SERE). A COMUNIDADE SE DESENVOLVERIA
AO LONGO DOS DIFERENTES SERES SUCESSIONAIS, ATÉ
QUE SEJA FORMADA UMA ASSOCIAÇÃO ÚLTIMA DE
ESPÉCIES (CLÍMAX).
A ideia de uma comunidade clímax é muito debatida na Ecologia, pois, na natureza, a
ocorrência de perturbações é frequente e, portanto, há retomada constante de seres
sucessionais iniciais. Desta forma, torna-se questionável se a vegetação clímax é mais do que
um doce sonho na mente dos teóricos, ou seja, conceitualmente importante, mas improvável na
prática. Em uma floresta, por exemplo, onde clareiras são abertas naturalmente em diferentes
momentos, temos manchas de vegetação em diferentes estágios sucessionais (dinâmica de
manchas).
Os caminhos que serão tomados pela comunidade ao longo do processo sucessional são
controlados pelo efeito das espécies das seres iniciais nas espécies das seres seguintes. Neste
sentido, três mecanismos principais determinam diferentes modelos de sucessão ecológica:
facilitação, tolerância e inibição. Confira os detalhes abaixo:
FACILITAÇÃO
TOLERÂNCIA
INIBIÇÃO
FACILITAÇÃO
O modelo de facilitação estabelece que colonizadores iniciais tendem a criar condições
favoráveis a espécies sucessionais tardias, o que ocorre, geralmente, em condições em que
apenas espécies pioneiras podem colonizar o ambiente. Caso a ocupação inicial ocorra por
espécies que podem persistir em sua fase adulta, o modelo de tolerância e inibição é mais
provável.
TOLERÂNCIA
O modelo de tolerância prevê que, apesar de as espécies iniciais criarem condições menos
favoráveis à ocupação de espécies tardias, este processo tem pouco efeito e espécies de
ambos os estágios coexistem, até que as espécies sucessionais iniciais sejam totalmente
eliminadas.
INIBIÇÃO
Já no modelo de inibição, a persistência dos indivíduos bem-sucedidos das espécies iniciais
exclui e suprime colonizadores posteriores, sejam eles de espécies sucessionais iniciais ou
tardias. Estes modelos tendem a operar até que alguma perturbação crie condições novas de
colonização, o que pode levar ou não a uma mudança na composição das comunidades.
COMUNIDADES NO CONTEXTO DE
PAISAGENS FRAGMENTADAS
Assista ao vídeo com a professora Aliny Patrícia Flauzino Pires explorando o conceito de
metacomunidades e sua importância para a conservação da vida silvestre.
O arranjo das comunidades, atualmente, enfrenta uma série de desafios causados,
principalmente, pela intensa modificação no uso da terra pelas atividades antrópicas. Onde
antes havia uma floresta, hoje passa uma rodovia. A expansão da urbanização gera manchas
de vegetação em paisagens dominadas por construções, reduzindo a possibilidade de
ocupação por espécies nativas.
Vivemos em um mundo fragmentado, onde as espécies seguem em busca de condições de
crescimento, sobrevivência e reprodução favoráveis. Assim, observamos o movimento de
espécies entre manchas de habitat, conectando comunidades na paisagem. Com base nesta
dinâmica, foi desenvolvido o conceito de metacomunidades, explorando como o movimento
de espécies em paisagens fragmentadas pode ser fundamental para explicar sua estruturação
e seu desenvolvimento, bem como de diversos processos ecológicos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. QUAL DAS SEGUINTES SENTENÇAS ESTÁ RELACIONADA À
ECOLOGIA DE COMUNIDADES?
A) A atual razão entre machos e fêmeas não garantirá a sobrevivência desta espécie.
B) Nesta região, os indivíduos da espécie A se distribuem de maneira uniforme.
C) A diversidade funcional é uma maneira de entender o papel que as espécies possuem para
determinado processo.
D) O crescimento exponencial refere-se a uma forma de crescimento ilimitado.
E) A capacidade suporte é um conceito que se refere ao número de indivíduos de uma
população em determinado ambiente.
2. A SEGUIR, SÃO APRESENTADAS DUAS ASSEMBLEIAS DE INSETOS
DISTINTAS AMOSTRADAS COM O MESMO MÉTODO. DE ACORDO COM A
FIGURA, É POSSÍVEL AFIRMAR QUE:
(ADAPTADO.)
I – A COMUNIDADE A APRESENTA MAIOR RIQUEZA DE ESPÉCIES.
II – A COMUNIDADE B APRESENTA MENOR EQUABILIDADE DE
ESPÉCIES.
III – AS COMUNIDADES A E B APRESENTAM MESMA DENSIDADE DE
INDIVÍDUOS.
A) I
B) II
C) III
D) I e III
E) I e II
GABARITO
1. Qual das seguintes sentenças está relacionada à ecologia de comunidades?
A alternativa "C " está correta.
Todas as demais alternativas referem-se à ecologia de populações.
2. A seguir, são apresentadas duas assembleias de insetos distintas amostradas com o
mesmo método. De acordo com a figura, é possível afirmar que:
(Adaptado.)
I – A comunidade A apresenta maior riqueza de espécies.
II – A comunidade B apresenta menor equabilidade de espécies.
III – As comunidades A e B apresentam mesma densidade de indivíduos.
A alternativa "A " está correta.
A alternativa I é a única asserção correta, visto que a comunidade A apresenta o maior número
de espécies (11) e menor equabilidade (há espécies com 1 indivíduo e outra com 14) em
relação a B. As densidades de indivíduos também são diferentes.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos os principais conceitos relacionados à ecologia de indivíduos e que fundamentam a
ecologia de populações e como estes conceitos se propagam ao longo de todos os níveis de
organização. Além disso, exploramos como tais aspectos ecológicos são fundamentais para
garantir a conservação das espécies, ao entender aspectos fisiológicos, fenológicos,
morfológicos e comportamentais dos organismos.
A Ecologia é uma das principais ciências capazes de fornecer subsídios que garantam a
conservação da vida silvestre. Entender como fatores bióticos e abióticos são importantes para
determinar a abundância e distribuição dos organismos, como tais aspectos regulam as
interações que se estabelecem entre as espécies e sua importância para a configuração das
comunidades é passo primordial para estabelecer estratégias efetivas de conservação.
Estudamos que a definição de diferentes níveis de organização na Ecologia é importante para
organizarmos os conceitos e mecanismos que operam na natureza. Porém, devem ser
entendidos à luz de como os efeitos vislumbrados em determinado nível se propagam
através de todos os outros. A complexidade desta rede intrincada de efeitos e interações
revela os desafios e o potencial da Ecologia.
Assim, quando olhar um organismo na natureza, seja uma árvore, um pássaro ou inseto, tente
imaginar todos os fatores que poderiam justificar a presença dele naquele lugar. Lembre-se dos
conceitos e processos que discutimos. Conservar a vida silvestre é garantir que os organismos
tenham condições de exercer todas as suas atividades vitais, desafio que só pode ser cumprido
através da Ecologia.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BEGON, M., TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L. Ecologia: De indivíduos a ecossistemas. 4.
ed. Artmed, 2006.
CARVALHO, B. M. et al. Ecological Niche Modelling Predicts Southward Expansion of
Lutzomyia (Nyssomyia) flaviscutellata (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae),Vector of
Leishmania (Leishmania) amazonensis in South America, under Climate Change. PLoS
ONE, 2015.
CHASE, J. M.; LEIBOLD, M. A. Ecological Niches: Linking Classical and Contemporary
Approaches. USA: University of Chicago Press, 2003.
ODUM, E. P.; BARRET, G. W. Fundamentos de Ecologia. 5. ed. Cengage Learning. 2007.
OLIVEIRA, A. M. S. et al. Importância da ingestão da fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum,
A. St-Hil Solanaceae) pelo lobo-guará (Chrysocyon brachyurus, Canidae) para a
germinação das sementes. MG Biota, 2017.
RICKLEFS, R. E. A Economia da Natureza. 6. ed. Guanabara Koogan, 2010.
WOLOWSKY, M. et al. Relatório temático sobre polinização, polinizadores e produção de
alimentos no Brasil. Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. São
Carlos: Cubo, 2019.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema:
Pesquise:
O site da BPBES, onde você encontrará o relatório temático sobre a importância da
polinização no Brasil. A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços
Ecossistêmicos (BBPES) discute diversos temas que integram conservação da
biodiversidade e bem-estar humano.
A revista Nature, é uma das principais revistas científicas do mundo. No “The knowledge
Project”, em “Comumunity Ecology”, você conhecerá um material com fins didáticos
bastante interessante sobre ecologia de comunidades (material em inglês).
Visite:
O site e as redes sociais do Projeto Refauna, e saiba um pouco mais sobre o projeto que
busca reintroduzir a fauna na Floresta da Tijuca.
Assista:
Ao vídeo O que são Bioindicadores?, disponível no canal Bioindicadores e
Biomonitoramento do Youtube, e saiba como funcionam organismos bioindicadores.
Trata-se de um vídeo leve e descontraído sobre o tema. Vale a pena conferir!
CONTEUDISTA
Aliny Patricia Flauzino Pires
 CURRÍCULO LATTES
javascript:void(0);
javascript:void(0);

Mais conteúdos dessa disciplina