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Modelos de gestão II Apresentação A teoria da contingência considera que pode existir uma teoria ou uma combinação de teorias administrativas possível de ser implementada da melhor forma para cada situação. Essa teoria é a base para os modelos de gestão inovativos, que se referem à maneira como as organizações operam sistematicamente de acordo com as condições propostas pelo ambiente. Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará os modelos de gestão inovativos. Uma vez que uma organização está frente a um ambiente vasto e complexo, ela deve ajustar-se às condições apresentadas de acordo com seus objetivos ou problemas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar como os modelos de gestão inovativos são aplicados nas organizações.• Diferenciar as características da teoria dos sistemas e da teoria sociotécnica.• Relacionar a teoria sociotécnica e a teoria da contingência.• Desafio Fábio é proprietário de uma pequena agência de publicidade. Com ele, trabalham mais três pessoas. Cada uma tem sua especialidade e é responsável por uma parte do processo de criação e desenvolvimento. Quando recebe um pedido de um cliente, Fábio reúne sua equipe e divide as tarefas da seguinte maneira: - Rafael é encarregado da criação das peças gráficas, como folders e cartazes; - Amanda desenvolve os anúncio para jornais e revistas; - Márcia faz as versões das peças para rádio e televisão. Fábio, por sua vez, coordena essas atividades e distribui as metas, cuida dos prazos e aprova, junto ao cliente, a finalização de todas as peças. Perceba que, embora a agência trabalhe em um sistema organizado de divisão de tarefas, os funcionários não participam de todo o processo. Fábio centraliza o planejamento das ações e pede que todas as etapas passem pela sua aprovação, o que gera um desconforto entre os funcionários, que gostariam de contribuir mais com suas ideias e conhecimento técnico para melhorar a qualidade dos produtos da agência. De que forma as teorias inovativas podem auxiliar Fábio a obter melhor rendimento de seus funcionários e conquistar novos clientes, pensando que cada um tem problemas diferentes, que precisam de ações diferentes? Infográfico Observe, no infográfico a seguir, a importância da interação, dentro de um sistema organizacional, entre todos os subsistemas e suas relações com os ambientes interno e externo. Conteúdo do livro As teorias da administração contribuem para o modelo de gestão das organizações. No trecho selecionado a seguir, você vai ler sobre como as organizações são consideradas sistemas abertos e também sobre as teorias da contingência e sociotécnica. O livro Técnico em administração: gestão e negócios, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, aborda, de maneira sintética, como cada uma dessas teorias tem contribuído para empresas que necessitam de uma gestão inovativa. Leia até o final do subitem Teoria da contingência. Boa leitura! ADM INIS TRA ÇÃO CLÁUDIO V. S. FARIAS ORGANIZADOR TÉCNICO EM GESTÃO E NEGÓCIOS Catalogação na publicação: Natascha Helena Franz Hoppen - CRB 10/2150 T255 Técnico em administração [recurso eletrônico] : gestão e negócios / Cláudio V. S. Farias, organizador. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2013. Editado também como livro impresso em 2013. ISBN 978-85-65837-71-2 1. Administração. I. Farias, Cláudio. CDU 658(075.3) 26 Organizações vistas como sistemas abertos e teoria da contingência O cientista Von Bertalanffy (1950), com sua publicação The theory of open systems in physics and biology, influenciou diversos ramos do conhecimento divulgando o conceito de sistemas abertos, que entendeu como um complexo de elementos em interação e em intercâmbio contínuo com o ambiente. Os pressupostos bási- cos da teoria geral dos sistemas afirmam que: • Há uma tendência para a integração nas várias ciências naturais e sociais. • Tal integração parece orientar-se para uma teoria dos sistemas. • Essa teoria pode ser um meio importante de objetivar os campos não do conhe- cimento científico, especialmente nas ciências sociais. • Desenvolvendo princípios unificadores que atravessam verticalmente os uni- versos particulares das diversas ciências, essa teoria aproxima-nos do objetivo da unidade da ciência. • Isso pode levar a uma integração muito necessária na educação científica. Cabe abordar alguns conceitos importantes sobre a teoria geral dos sistemas, como o conceito de sistema (ao lado), sinergia e entropia. Sinergia é quando duas ou mais partes do sistema produzem, atuando em con- junto, um efeito maior do que a soma dos efeitos que produziriam atuando indi- vidualmente. Entropia ocorre quando partes do sistema perdem sua integração e comunicação entre si, fazendo com que o sistema se decomponha, perca energia e informação, degenerando-se. A teoria geral dos sistemas passou a influenciar outras ciências, tornando-se uma forma explicativa e uma referência para diferentes ciências, entre elas, a adminis- tração, para a qual possibilitou uma ampliação na visão dos problemas organiza- cionais, até então percebidos como fechados. A concepção de homem funcional, com o desempenho de vários papéis e seus conflitos somados aos da organização (mistos), compõe o quadro organizacional dessa abordagem, que necessita de melhor sistematização e possui pouca aplica- ção prática. Existe uma relação entre todos os elementos constituintes da socieda- de. Os fatores essenciais dos problemas públicos, das questões e dos programas a serem adotados devem sempre ser considerados e avaliados como componentes interdependentes (Figura 1.2). • C c S j v E e d A f DEFINIÇÃO Sistema é um conjunto de elementos dinamicamente relacionados, formando uma atividade para atingir um objetivo, que opera sobre dados/energia/matéria para fornecer informação/energia/ matéria. 27 c a p ít u lo 1 F u n d a m e n to s d e a d m in is tr a ç ã o Recursos a serem transformados Entradas Saídas Bens e Serviços Processo de transformação Ambiente Recursos de transformação Figura 1.2 A empresa em uma perspectiva sistêmica. A teoria geral dos sistemas considera que as organizações são sistemas que transfor- mam insumos (recursos) em produtos e/ou serviços e que as partes do sistema ou departamentos se inter-relacionam, sofrendo intervenções e intervindo no ambien- te externo da organização. Talcott Parsons (1964, 1969, 1971) entende que as organizações são a consequên- cia da divisão do trabalho na sociedade, com atributos da burocracia weberiana, como uma descrição de funções e papéis, já que “a sociedade está constituída por subsistemas (estruturas) que operam (funcionam) de modo interdependente, cada parte do sistema desempenha um papel que busca o equilíbrio e a ordem social”. Seu modelo explicativo contempla quatro funções de um sistema social (Quadro 1.5). Quadro 1.5 Funções de um sistema social segundo Parsons Latência A forma como o sistema se sustenta e se reproduz continuamente e como transmite os valores e padrões culturais que o embasam. Integração A função que assegura coerência e coordenação entre indivíduos e grupos que compõem o sistema e entre suas partes diferenciadas. Gerar e atingir objetivos A função que garante o estabelecimento de metas e objetivos e a implementação de meios visando atingi-los. Adaptação Quando a organização ou o sistema social buscam recursos para a sua sobrevivência. 28 T é c n ic o e m a d m in is tr a ç ã o : g e st ã o e n e g ó c io s Teoria sociotécnica Motta e Vasconcelos (2006) afirmam que, quando a tecnologia interage com indivíduos, não é possível maximizar a eficiência nem da tecnologia nem do sistema social. A teoria sociotécnica foca a integração de pessoas e tecnolo- gias e mostra que é o ser humano que atribui sentido à ferramenta, de acordo com os seus padrões cognitivos, seus objetivospessoais e seus elementos de identidade social. Os principais teóricos dessa teoria são os psicólogos Eric Trist e Fred Emery. Segundo essa abordagem sociotécnica, a organização divide-se em dois subsis- temas: o técnico e o social. O técnico corresponde às demandas da tarefa, à im- plantação física e ao equipamento existente, sendo responsável pela eficiência potencial da organização. O social refere-se às relações sociais daqueles encar- regados pela execução da tarefa e que transformam a eficiência potencial em eficiência real. Conheça os fundamentos da escola sociotécnica, a seguir: • A organização é um sistema aberto. Ela interage com o ambiente, é capaz de au- torregulação e pode alcançar um mesmo objetivo a partir de diferentes caminhos e usando diferentes recursos. • A organização é formada por dois subsistemas: o técnico e o social. • A escola sociotécnica considera que o comportamento das pessoas, face ao tra- balho, depende da forma de organização desse trabalho e do conteúdo das tarefas a serem executadas. • Os subsistemas social e técnico devem ser considerados, particularmente, e oti- mizados de forma conjunta para que os objetivos organizacionais sejam atingidos, ao mesmo tempo em que alcançamos o desenvolvimento e a integração dos in- divíduos. Teoria da contingência Chiavenato (2011) afirma que não existe uma única maneira melhor de organizar uma empresa, assim, as organizações precisam ser sistematicamente ajustadas às condições ambientais. A teoria da contingência considera que, para cada situa- ção, existe uma teoria ou combinação de teorias administrativas. Não existe um modelo administrativo ideal ou único que sirva para todas as organizações, in- dependentemente de sua natureza. Mas, dependendo do objetivo ou problema, deve-se estudar qual o melhor modelo para gerir a organização. Essa teoria mostra que não há one best way, mas um leque de opções. Segundo Motta e Vasconcelos (2006), a teoria demonstra o princípio da equifi- nalidade dos sistemas: existe mais de uma maneira de atingir os objetivos pro- T NO SITE Mais detalhes sobre a organização do trabalho você encontra no ambiente virtual de aprendizagem. 29 c a p ít u lo 1 F u n d a m e n to s d e a d m in is tr a ç ã o postos. Para Chiavenato (2011), a teoria da contingência apresenta os seguintes aspectos básicos: • a organização é um sistema aberto; • as características organizacionais apresentam uma interação entre si e com o ambiente; • as características ambientais funcionam como variáveis independentes, en- quanto as características organizacionais são variáveis dependentes. Assim, os autores da escola contingencial apresentam duas variáveis principais que determinam toda a organização da empresa e os relacionamentos entre suas partes: o ambiente e a tecnologia. Ambiente é o que envolve externamente uma organização (ou um sistema). É o contexto dentro do qual uma organização está inserida e, como a organização é um sistema aberto, ela mantém transações e in- tercâmbio com seu ambiente. Isso faz com que tudo o que ocorre externamente no ambiente passe a influenciar o que ocorre internamente na organização. Como o ambiente é vasto e complexo, envolvendo tudo ao redor da organização, ele pode ser analisado em dois extratos: ambiente geral e ambiente de tarefa. O ambiente geral é o macroambiente, comum a todas as organizações. É cons- tituído de um conjunto de condições que podem ser semelhantes para todas as organizações: • tecnológicas; • econômicas; • políticas; • legais; • demográficas; • ecológicas; • culturais. Já o ambiente de tarefa é o ambiente mais próximo e imediato de cada organiza- ção. Consiste em um segmento do ambiente geral, do qual a organização extrai as suas entradas e deposita suas saídas. É formado por: • fornecedores de entradas; • clientes ou usuários; • concorrentes; • entidades reguladoras. 30 T é c n ic o e m a d m in is tr a ç ã o : g e st ã o e n e g ó c io s É importante destacar que as teorias aqui apresentadas analisaram as organiza- ções sob pontos de vista diferentes, assim, formam conceitos que se sobrepõem. Não necessariamente negam umas às outras, mas utilizam-se de lentes diferentes para analisar aspectos diferentes das organizações. Todavia, elas têm em comum alguns pressupostos vinculados com a atualidade des- sas organizações e que marcam o momento histórico cultural, como, por exemplo, a orientação para o resultado e as relações de poder hierarquizadas entre quem de- tém os meios de produção, ou são seus representantes, e quem detém a força de trabalho. Essas abordagens pouco questionam como a sociedade evoluiu até o estágio atual, partindo do princípio de que o mundo está posto e que as organizações são a forma hegemônica de produção hoje. Retomando o caso inicial em uma perspectiva crítica A seguir, serão abordados aspectos centrais presentes nessas teorias, para os quais deve-se atentar, em especial, aqueles expostos anteriormente, buscando uma re- flexão crítica sobre os fundamentos da administração. O pensamento administrativo atual é fruto de uma conjunção de fatores sociais, econômicos, políticos, produtivos, científicos e tecnológicos. É, portanto, dotado de um conjunto ideológico, de uma visão do homem, do estado e do mundo, orienta- do por interesses pessoais, sociais e coorporativos, por meio de uma perspectiva de compreensão das organizações e da própria administração. Assim, concordamos com Tragtenberg (1992) quando afirma que as bases do pensamento administrativo surgiram a partir da burocracia e das mudanças sociais por ela proporcionadas. Logo, estão imbricadas com a racionalidade instrumental legal, já que representam o modo de pensar escolhido pelos capitalistas. Assim, os fundamentos de administração e a Teoria Geral da Ad- 31 c a p ít u lo 1 F u n d a m e n to s d e a d m in is tr a ç ã o ministração são ideológicos, visto que seu aparato técnico-científico autoriza certos tipos de relações de poder e de dominação, que atribuem força a um grupo específico. Para tanto, a administração será situada a partir das proposições de Motta e Vascon- celos (2006), o que, por consequência, resgata as pesquisas e os conceitos de Max Weber (2004), apresentados no livro Economia e sociedade, sobre o processo de mo- dernização da sociedade e sua relação com a emergência do pensamento administra- tivo e da administração como campo de conhecimento. Além disso, será abordada a forma como esse pensamento está vinculado com a sociedade capitalista, logo, com a subordinação do trabalho ao capital e com as formas de reprodução do capital pelo trabalho. Segundo Motta e Vasconcelos (2006), ao contrário do que é afirmado por outros autores, a preocupação de Weber não era propor a burocracia como teoria admi- nistrativa. Pelo contrário, buscava, a partir de uma perspectiva fenomenológica, compreender a emergência da burocracia em um processo amplo de evolução da sociedade, na transição entre o feudalismo e o capitalismo. Weber (2004) classificou a burocracia como o corpo administrativo das organiza- ções racionais legais na busca pela colaboração entre um grande número de indi- víduos com funções especializadas de maneira estável e duradoura. Portanto, não restrito ao sistema econômico, mas um modelo de sociedade: a sociedade moder- na, baseada na razão instrumental, ou, como Weber preferiu chamar, dominação racional instrumental legal. Dica do professor O vídeo a seguir apresenta exemplificações de como a teoria geral dos sistemas e as teorias contingenciais atuam e se diferenciam na prática, considerando que as duas visões são modelos de gestão inovativos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/e79f9da9231c980c406efd0bba428219 Exercícios 1) A teoria geral dos sistemas(TGS) tem por objetivo oferecer uma análise da natureza dos sistemas e de sua inter-relação entre os diferentes espaços, assim como suas partes. A TGS, por sua natureza, tem sido a menos criticada entre os modelos de gestão. Com base na perspectiva da TGS, como as organizações podem se utilizar de sistemas externos para aumentar o desempenho da organização? A) Com a contratação de novos funcionários. B) Mediante integração com ambiente de tarefa. C) A partir de pesquisa de mercado. D) Estabelecendo parceria com fornecedores. E) Mediante integração com ambiente geral. 2) Talcott Parsons (1964, 1969, 1971) definiu as funções de um sistema. Indique qual das funções a seguir NÃO é uma das propostas de Parsons. A) Transformação de insumos. B) Latência. C) Integração. D) Gerar e atingir objetivos. E) Adaptação. 3) A teoria sociotécnica é compreendida pelos subsistemas social e técnico, sendo que a visão desses dois subsistemas é integrada e as mudanças percebidas em cada um deles refletem no sistema como um todo. Como a teoria sociotécnica auxiliou as organizações em relação à organização de trabalhos? A) No processamento e na transformação de insumos e entradas (materiais, energia, informação) em produtos ou saídas (produtos, serviços, informação). B) Definindo funções e postos de trabalho. C) Na forma como um sistema se sustenta e se reproduz continuamente e como transmite os valores e os padrões culturais que o embasam. D) No processo em que o julgamento de ser não se sobreponha aos interesses da organização. E) Na integração de pessoas e tecnologia, e mostra que é o ser humano que atribui sentidos à ferramenta. 4) Segundo a teoria contingencial, a organização é envolvida por um ambiente vasto e complexo, que pode ser analisado em dois estratos: ambiente geral e ambiente de tarefa. O ambiente geral é o macroambiente, comum a todas as organizações. Quais fatores a seguir NÃO fazem parte do ambiente externo? A) Econômicos. B) Políticos/legais. C) Concorrentes. D) Culturais. E) Demográficos. 5) Qual é o conceito da teoria da contingência? A) A teoria contingencial foca na integração de pessoas e tecnologia, e mostra que é o ser humano que atribui sentidos à ferramenta. B) Esta teoria entende o homem funcional como aquele que desempenha vários papéis. C) Esta teoria considera que não existe um modelo administrativo ideal ou único. D) A teoria contingencial tem como pressuposto a integração entre as ciências sociais e naturais. E) Sinergia e entropia são conceitos importantes para a teoria contingencial. Na prática Imagine as compras que você faz no dia a dia: padaria, posto de combustível, mercado, etc. Cada uma dessas empresas trabalha com um sistema de gestão (ou até mesclando mais de um sistema). Possivelmente, seus proprietários não pensaram nas teorias da administração quando decidiram qual modelo adotar. Mas observe como é fácil perceber exemplos: Assim, a empresa investe nas condições sociais do ambiente (interação) e também nas condições tecnológicas. Você percebe? A ideia de gestão sociotécnica está presente em toda essa estratégia implementada pelo dono do negócio, assim como a ideia de contingência, que fica clara quando vemos que o dono da empresa aproveitou um momento de investimento tecnológico para colocar em prática a interação entre todos os funcionários. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Teoria sistêmica e contingencial-loteria Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Teoria Geral dos Sistemas Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Técnico em Administração - Série Tekne Farias, Claudio Vinicius Silva. Bookman, 2013. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.youtube.com/embed/B8V5U5h7jyY?rel=0 https://www.youtube.com/embed/lWFvMI1G8o0?rel=0