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1 Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo Gabriella Almeida XXIV Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA (ENCEFÁLICA) DA VIA COLINÉRGICA Os receptores colinérgicos nicotínicos estão localizados no cérebro e distribuem-se nas regiões pré, pós, peri e extra sinápticas. Podem liberar neurotransmissores e consequentemente atividade sináptica neuronal. Esses receptores são importantes em diversos processos como aprendizado, memória, desenvolvimento neuronal e participam também do sistema de recompensa no núcleo accumbens. O sistema nervoso parassimpático faz parte do sistema nervoso autônomo (é crânio-sacral). Do crânio emergem os nervos cranianos parassimpáticos como: o III par – nervo oculomotor; o VII par – nervo facial; o IX par – nervo glossofaríngeo; o X par – nervo vago. Exemplos de atividades parassimpáticas: Diminuição do metabolismo; Diminuição da frequência e da força da contração cardíaca; Diminuição da pressão arterial; Aumento da atividade gastrointestinal; o Aumento da secreção salivar; o Aumento do peristaltismo; o Aumento da defecação; Aumento da micção; Nos homens, provoca ereção. 2 Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo Gabriella Almeida XXIV BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DA NEUROTRANSISSÃO COLINÉRGICA A) Síntese de Acetilcolina: A Acetilcolina é sintetizada em uma única etapa a partir da colina e da acetil coenzima A (acetil CoA) pela enzima. Colina Acetiltransferase (ChAT): O transporte de acetilcolina na vesícula é mediado por um transportador de prótons acetilcolina. Essas vesículas contendo acetilcolina, fundem-se com a membrana plasmática, liberando o neurotransmissor na fenda sináptica. O neurotransmissor pode ter vários estímulos. o Pode ser metabolizado pela acetilcolesterase, liberando colina e acetato. o Pode interagir com receptores nicotínicos (canal de sódio potássio excitatório e a ligação desse neurotransmissor causa a abertura do canal) ou muscarínicos (receptores metabotrópicos acoplados a proteína G, com diversas funções) da acetilcolina. Os receptores nicotínicos pré-sinápticos e os receptores muscarínicos M1, M3 e M5 são excitatórios. Já os receptores muscarínicos M2 e M4 pós-sinápticos são inibitórios. Esses receptores nicotínicos aumentam a entrada de cálcio no neurônio pré-sináptico, aumentando assim a fusão das vesículas e a liberação de acetilcolina. Já os receptores M2 e M4 pré-sinápticos inibem a entrada de cálcio no neurônio pré-sináptico diminuindo, assim, a função das vesículas e a liberação do neurotransmissor. A acetilcolina pode ser degrada pela acetilcolinesterase ligada à membrana. (Existem numerosos inibidores de acetilcolinesterase, chamados de anticolinesterásicos, clinicamente relevantes, e em sua maioria são inibidores competitivos). Receptores nicotínicos de acetilcolina (ionotrópicos) são particularmente sensíveis à nicotina. Localizados no SNC e fibras pré-ganglionares do SNA. São canais iônicos transmembrana que, constitutivamente, apresentam-se fechados. Em presença do agonista se abrem apresentam o influxo de sódio e consequente despolarização da membrana. Os receptores nicotínicos colinérgicos presentes nos músculos são heteropentâmeros constituídos por subunidades α, β, γ, δ e ε, enquanto os receptores do cérebro são formados por várias subunidades α2-10 e β2-4. Os receptores muscarínicos de acetilcolina (metabotrópicos) são particularmente sensíveis à muscarina. Localizados no SNC e fibras pós-ganglionares do SNA. 3 Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo Gabriella Almeida XXIV AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO DIRETA (parassimpaticomiméticos ou colinomiméticos) Betanecol: São usados com mais frequência. Possui intensa atividade muscarínica e pouca ou nenhuma ação nicotínica. o Devido à ação de estimular o músculo detrusor da bexiga e relaxar o trígono e o esfíncter, provoca a expulsão da urina. o É utilizado principalmente para estimular e bexiga atônica (pós-parto, retenção urinária, retenção obstrutiva pós-operatória). o Devem ser lembrados os efeitos adversos dessa estimulação colinérgica generalizada: queda da pressão arterial, sudorese, salivação, rubor cutânea, náusea, dor abdominal, diarreia e bronco espasmo. o Não deve ser utilizado pela via intramuscular nem via intravenosa, porque pode provocar efeitos adversos potencialmente graves ou mesmo fatal (principalmente a hipotensão arterial). o Contraindicado no caso de úlcera péptica, asma, insuficiência coronária e hipertireoidismo. Pilocarpina: É um alcaloide derivado de uma planta brasileira. o Consiste numa amina terciária estável: hidrólise pela acetilcolesterase é muito menos potente que a acetilcolina. o Possui atividade muscarínica. o Com a aplicação ocular, apenas, produz contração no músculo ciliar provocando miose. o Usado em oftalmologia para terapêutica do glaucoma. o Efeitos adversos: Pode atingir o SNC, principalmente em idosos em idade avançada, provocando confusão, distúrbios de natureza central, sudorese, salivação o A via de administração é unicamente tópica (ocular). AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO INDIRETA (anticolinesterásicos reversíveis) Fisiostigmina: Bloqueia de modo reversível a acetilcolinesterase, potencializando a atividade colinérgica em todo o organismo. Produzindo, assim, grande número de atividades, inclusive agindo no SNC. o Duração de ação de 2 a 4 horas. o Embora seja menos eficiente que a pilocarpina, também é utilizada por via ocular no tratamento do glaucoma, porque produz miose e contração do músculo ciliar permitindo a drenagem dos canais de Schlemm e 4 Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo Gabriella Almeida XXIV consequentemente diminuindo a pressão ocular. o É mais utilizada no tratamento de overdose de fármacos com atividade anticolinérgica, como por exemplo, antidepressivos tricíclicos. o Também é utilizado na atonia do intestino e da bexiga, aumentando a motilidade desses órgãos. o Para tratamento sistêmico, a fisiostigmina pode ser administrada por via intravenosa, intramuscular, sendo muito bem absorvida por todos os lugares de aplicação. Entretanto, distribui-se para o SNC e pode provocar efeitos tóxicos, inclusive convulsão. Neostigmina: Derivado trimetil benzamínico. o Inibe reversivelmente a acetilcolinesterase. o É mais polar que a fisiostigmina e não atravessa a barreira hematoencefálica, não atingindo, portanto, o SNC, tendo como principal atividade a ação na musculatura esquelética. o Duração de ação de 2 a 4 horas. o Possui as seguintes indicações: ▪ Atonia do intestino e da bexiga; ▪ Miastenia Gravis, prolongando a duração da acetilcolina na placa motora, consequentemente aumentando a força muscular; ▪ Antídoto de agentes bloqueadores neuromusculares, como por exemplo, a tubucuralina. o É mais útil no tratamento da Miastenia Gravis do a Fisiostigmina que tem menor potência na junção neuromuscular. Entretanto, é mais útil em condições de etiologia central, como casos de superdosagem de atropina. o Efeitos adversos: estimulação colinérgica generalizada, salivação, rubor cutâneo, queda da pressão arterial, náuseas, dor abdominal, diarreia e broncoespasmo. o Forma parenteral: pode ser administrada por via subcutânea, intramuscular e intravensosa. Piridostigmina: Consiste em inibidor da acetilcolinesterase. o Duração de ação: 3 a 6 horas. o Também utilizado no tratamento de Miastenia Gravis e como antídoto de agentes bloqueadores neuromusculares. o Apresentam atividade agonista diretonos receptores nicotínicos existentes no músculo esquelético. o Efeitos adversos (semelhantes aos da neostigmina, entretanto com menor incidência de bradicardia, salivação e estimulação gastrointestinal). o Via de administração de acordo com a forma farmacêutica. Sobre a Miastenia Gravis: Consiste num distúrbio que afeta especificamente a junção neuromuscular. Ocorrendo em 1 para cada 2.000 até 25.000 indivíduos em diferentes regiões. Devido à falha da transmissão neuromuscular que provoca fraqueza ou incapacidade dos músculos que produzem as contrações persistentes. Assim, a ptose palpebral constitui em um dos sinais mais importantes em pacientes astênicos. Trata-se de doença autoimune em que anticorpos interferem na transmissão do impulso no receptor de acetilcolina, mas especificamente nos receptores colinérgicos nicotínicos ou no músculo esquelético causando diminuição da quantidade de receptores funcionais e resultando na diminuição na sensibilidade do músculo à acetilcolina. AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO INDIRETA (anticolinesterásicos irreversíveis) Correspondem aos compostos organofosforados sintéticos que possuem capacidade de efetuar a ligação covalente com a enzima, com ação bastante prolongada, irreversível, que leva um aumento duradouro da concentração da acetilcolina nos locais onde é liberada. Os únicos fármacos utilizados são o diisopropilfluorofosfato e ecotiofato (utilizado por via ocular no tratamento do glaucoma). Foram desenvolvidos com finalidade bélica, como arma química, mas são utilizados principalmente como inseticidas e pesticidas e acidentalmente provocam intoxicações. Os estudos mostram que a meia-vida de agonista irreversível dura cerca de 100 horas. 5 Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo Gabriella Almeida XXIV ANTAGONISTAS COLINÉRGICOS – BLOQUEADORES OU AGENTES ANTIMUSCARÍNICOS São fármacos que agem nos receptores colinérgicos bloqueando seletivamente a atividade parassimpática, reduzindo ou bloqueando a ação da acetilcolina. Diminuem, inibem ou bloqueiam a resposta colinérgica, portanto, reduzem ou anulam o efeito da estimulação do SN parassimpático, ou seja, impede que a acetilcolina estimule os receptores colinérgicos. São também chamados espasmolíticos ou antiespasmódicos, poque reduzem os espasmos principalmente do trato gastrointestinal. De acordo com o local e ação do efeito são classificados em bloqueadores ou agentes antimuscarínicos, bloqueadores ganglionares, bloqueadores neuromusculares e ainda anticolinérgicos centrais. São seletivos para o SN parassimpático, agindo unicamente nos receptores muscarínicos bloqueando ou inibindo as ações da acetilcolina nesses receptores. Mais utilizados: o Atropina o Escopolamina ou hioscina o Ipratrópio o Propantelina o Dicicloverina o Glicopirrolato o Ciclopentolato o Tropicamida Atropina: Alcaloide extraído da planta beladona. o Usado como agente bloqueado muscarínico de potente ação, tanto central quando periférica, com duração de 4 horas, exceto quando é administrado no epitélio ocular (em que os efeitos podem durar até alguns dias). o Todos os receptores muscarínicos são bloqueados pela atropina. o Embora seja um fármaco relativamente seguro, em doses elevadas bloqueia as funções do SN parassimpático. o Indicações, via de administração e efeitos: ▪ Antiespasmódico ▪ Broncodilatador ▪ Midriático ▪ Antissecretório no trato respiratório superior e inferior e antiarrítmico. Escopolamina: o Também é um alcaloide da beladona. o Apresenta efeitos parecidos com os da atropina. o Porém tem ações e efeitos mais pronunciados no SNC e duração mais prolongada que a atropina. o Apresenta efeito bloqueador de memória recente. o É utilizado na hipermotilidade gastrointestinal e para evitar náuseas e vômitos de origem labiríntica. o Em obstetrícia, é utilizada associada à morfina para produzir amnésia e sedação. o As vias de administração são oral, parenteral e transdérmica. Ipratrópio: o Utilizado no tratamento da asma, bronquite, DPOC, promovendo broncodilatação principalmente através da via de administração inalatória. o As reações adversas sistêmicas são reduzidas e confinadas a principalmente à boca e vias aéreas. Bloqueadores ganglionares: Toxina botulínica. o Bloqueia os canais iônicos não sendo seletivos para o sistema simpático ou parassimpático. o Interfere na liberação de acetilcolina na junção neuromuscular provocando a paralisia do músculo esquelético e simultaneamente bloqueio ganglionar. o Essa toxina, sem a purificação em laboratório, pode ser fatal por insuficiência respiratória, causada pela incapacidade da contração dos músculos do diafragma. o É indicada para o tratamento de espasmo facial e hemifacial, bleforoespasmo, alguns tipos de estrabismo, rugas faciais, hiperidrose axilar e das palmas das mãos. 6 Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo Gabriella Almeida XXIV o Efeitos adversos comuns: erupção cutânea, edema local, alterações de sensibilidade, febre, artralgia, cefaleia, fraqueza geral, depressão, parestesia, diplopia, lacrimejamento, ptose palpebral. ABSORÇÃO PERCUTÂNEA É a absorção de uma substância pela pele, que penetra até as estruturas mais profundas, entrando inclusive na corrente sanguínea. Sistemas transdérmicos. Depende não apenas das propriedades físicas e químicas dos ativos presentes na formulação, mas também de seu comportamento quando colocado em uma base adequada e das características da pele. ANTAGONISTAS COLINÉRGICOS – BLOQUEADORES OU AGENTES ANTIMUSCARÍNICOS Bloqueadores de ação local. Tubocurarina (alcurônio). Atracúrio Mivacúrio Rocurônio Vecurônio Pancurônio Succinolcolina