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Agentes colinomiméticos muscarínicos Caso 1: Uma mulher de 25 anos de idade chega ao consultório médico geral queixando-se de problemas de visão. Ela tem dificuldade em manter os olhos abertos e queixa-se de "visão dupla". Seus sintomas oscilam ao longo do dia. Sua ptose é mais comum no olho esquerdo, mas também alcança o olho direito. Seus sintomas são, em geral, menores na parte da manhã e pioram ao longo do dia. Sua ptose parece melhorar depois de descansar os olhos. Ela faz exercícios regularmente, mas notou que, nos últimos dois meses, tem dificuldades para completar sua corrida noturna, devido à fadiga em seu quadril. Você suspeita de miastenia gravis e realiza um teste com edrofônio (Tensilon). O teste é positivo e, portanto, a paciente inicia o tratamento com mestinon. Como o teste de edrofônio ajuda no diagnóstico da miastenia gravis? Quais são os mecanismos de ação do edrofônio e do mestinon? Teste com edrofônio e diagnóstico: Uma injeção intramuscular ou intravenosa de edrofônio aliviará a ptose, aumentando temporariamente a disponibilidade da acetilcolina na sinapse, o que possibilita a contração do músculo elevador da pálpebra superior. Esse teste é muito específico para o diagnóstico de miastenia gravis. Mecanismos de ação de edrofônio e mestinon: Inibição da acetilcolinesterase (AChE) Correlação clínica: A miastenia gravis é uma doença autoimune em que o paciente produz autoanticorpos contra o receptor de acetilcolina (ACh). Esses autoanticorpos frequentemente atingem os receptores nicotínicos encontrados na placa motora do músculo esquelético. Com o tempo, o número de receptores de ACh na sinapse é significativamente reduzido. Assim, a doença é caracterizada por fraqueza e fatigabilidade do músculo esquelético. Mais de SOo/o dos pacientes apresentam problemas oculares, incluindo ptose e diplopia. Os músculos proximais dos membros (quadril e ombro), bem como os músculos da respiração, são frequentemente afetados. Os sintomas geralmente oscilam ao longo do dia, pioram à noite e com esforço, e são aliviados com o repouso. Acredita-se que o timo seja importante na geração de anticorpos; os sintomas, muitas vezes, são aliviados após timectomia. Os inibidores da AChE são pilares do tratamento contra a miastenia gravis. Eles suprimem o metabolismo da ACh, aumentando, assim, sua presença na sinapse, o que possibilita a transmissão sináptica sustentada e a contração muscular. Agentes colinomiméticos muscarínicos Sistema nervoso parassimpático Divisão anatômica do sistema nervoso autônomo (o outro é o sistema nervoso simpático). Fibras pré- ganglionares integram os nervos espinais cranianos e sacrais e fazem sinapse em gânglios que dão origem a fibras pós-ganglionares curtas, muitas das quais estão nos órgãos que inervam. Agentes colinomiméticos Agentes que imitam a ação da ACh. Atuam direta ou indiretamente para ativar colinorreceptores. Os agentes que atuam de forma direta (pilocarpina, betanecol, carbacol) são projetados para atuar seletivamente em colinorreceptores muscarínicos ou nicotínicos. Já os agentes que atuam de forma indireta (como neostigmina, fisostigmina, edrofônio, demecario), que inibem a enzima acetilcolinesterase que é responsável pelo metabolismo da ACh, podem ativar ambos. A pilocarpina é um agente colinomimético de ação direta que atua principalmente nos colinorreceptores muscarínicos. A seletividade adicional da pilocarpina e outros colinomiméticos, no tratamento de glaucoma, é conseguida pelo uso de uma preparação oftálmica (tópica). Classe Os nervos eferentes do sistema nervoso autônomo parassimpático liberam o neurotransmissor ACh, tanto nas terminações nervosas pré-ganglionares como pós- ganglionares (colinérgicas) e também nas terminações nervosas somáticas. O óxido nítrico é um cotransmissor em muitos dos locais pós-ganglionares parassimpáticos. A ACh liberada a partir das terminações nervosas do sistema nervoso parassimpático interage com componentes da membrana celular especializados e chamados de colinorreceptores, que são classificados como nicotínicos ou muscarínicos de acordo com os alcaloides utilizados, inicialmente, para distingui-los. Os colinorreceptores nicotínicos estão localizados em todos os neurônios pós-ganglionares (os gânglios autonômicos), incluindo a medula suprarrenal, bem como as placas terminais de músculo esquelético inervadas por nervos somáticos. Os colinorreceptores muscarínicos estão localizados em órgãos inervados por terminações nervosas pós- ganglionares parassimpáticas, por exemplo, no músculo cardíaco atrial, em células do nodo sinoatrial e células do nodo atrioventricular, em que a ativação pode causar um efeito cronotrópico negativo e condução atrioventricular tardia. A estimulação colinérgica dos receptores muscarínicos no músculo liso, glândulas exócrinas e endotélio vascular pode provocar, respectivamente, broncoconstrição, aumento da secreção ácida e vasodilatação. Existem dois subtipos dos colinorreceptores nicotínicos na periferia: NN, localizados nos neurônios pós- ganglionares, e NM localizados nas placas terminais do músculo esquelético. Existem cinco subtipos de colinorreceptores muscarínicos, MI, M2, M3 , M4 e M5; os dois últimos são encontrados apenas no SNC. MI, M2 e M3 estão localizados nos neurônios pós-ganglionares simpáticos (e SNC), no músculo atrial, em células sinoatriais (SA) e nodo atrioventricular (AV) do coração, no músculo liso, nas glândulas exócrinas e no endotélio vascular, que não recebe invervação parassimpática. Os agonistas do receptor do muscarínico colinérgico de ação direta são divididos em dois grupos, ACh e os ésteres de colina sintéticos (ACh, metacolina, carbacol e betanecol) e os alcaloides colinomiméticos (pilocarpina, muscarina e areocolina). Agentes muscarínicos de ação indireta atuam principalmente por inibição do metabolismo de ACh, por meio do bloqueio da enzima acetilcolinesterase (AChE), aumentando, assim, a disponibilidade de ACh de ocorrência natural na sinapse. Os inibidores de AChE comumente utilizados no tratamento de patologias autonômicas incluem fisiostigmina, neostigmina, piridostigmina e ambedonium. Os agentes colinomiméticos parassimpáticos de ação direta e indireta, sobretudo pilocarpina e betanecol, e neostigmina, são mais frequentemente usados de forma terapêutica para o tratamento de determinadas doenças dos olhos (glaucoma agudo de ângulo fechado), do trato urinário (retenção urinária), do trato gastrintestinal (íleo pós-operatório), glândulas salivares (xerostomia) e junção neuromuscular (miastenia gravis). A ACh, em geral, não é usada clinicamente por suas inúmeras ações e hidrólise muito rápida pela AChE e pseudocolinesterase. Os efeitos adversos dos colinomiméticos de ação indireta e direta resultam de excesso colinérgico e podem incluir diarreia, salivação, sudorese, constrição e brônquica, vasodilatação e bradicardia. Náuseas e vômitos também são comuns. Os efeitos adversos dos inibidores da colinesterase (mais frequentemente como resultado de toxicidade decorrente de exposição a pesticidas, p. ex., organofosforados) também podem incluir fraqueza muscular, convulsões e insuficiência respiratória. Estrutura A ACh é um éster de colina não muito lipossolúvel, devido a seu grupo de amônio quaternário carregado. Ela interage com colinorreceptores, tanto muscarínicos como nicotínicos. Ésteres de colina de uma estrutura semelhante à acetilcolina que são usados terapeuticamente incluem metacolina, carbacol e betanecol. Ao contrário de acetilcolina e carbacol, metacolina e betanecol são altamente seletivos para colinorreceptores muscarínicos. A pilocarpina é um alcaloide de amina terciária. Mecanismo de ação Os colinorreceptores muscarínicos ativamproteínas G inibitórias (Gi) estimulando a atividade da fosfolipase C, que, por meio de aumento do metabolismo de fosfolipídeos, resulta na produção de trifosfato de inositol (IP3) e diacilglicerol (DAG), que leva à mobilização de cálcio intracelular do retículo endoplasmático e sarcoplasmático. Por meio da ativação da proteína cinase C (PK-C), a ativação de colinorreceptores muscarínicos leva à abertura de canais de cálcio do músculo liso, provocando um influxo de cálcio extracelular. A ativação de colinorreceptores muscarínicos também aumenta o fluxo de potássio, que resulta em hiperpolarização das células e inibição de atividade de adenililciclase e acúmulo de AMPc induzida por outros hormônios, incluindo as catecolaminas. O receptor nicotínico funciona como um poro de canal iônico de abertura ativada por ligante da membrana celular. Após a interação com a ACh, o receptor sofre uma alteração conformacional que resulta em um influxo de sódio com despolarização da membrana da célula nervosa ou da placa terminal neuromuscular do músculo esquelético. Agentes colinomiméticos parassimpáticos de ação indireta inibem a AChE e, assim, aumentam os níveis de ACh nos colinorreceptores muscarínicos e nicotínicos. Administração Os agentes colinomiméticos muscarínicos de ação direta podem ser administrados topicamente como preparações oftálmicas (pilocarpina, carbacol), por via oral (betanecol, pilocarpina) ou por via parentérica (betanecol). Dependendo do agente, um inibidor de colinesterase de ação indireta pode ser administrado por via tópica, por via oral ou parenteral. Farmacocinética A ACh é sintetizada a partir de colina e acetil-coenzima- A (acetil-CoA) pela enzima colina acetiltransferase e, em seguida, transportada em vesículas das terminações nervosas. Como a acetilcolina, a metacolina, o carbacol e o betanecol são precariamente absorvidos por via oral e têm penetração limitada no SNC, a pilocarpina é mais lipossolúvel e pode ser absorvida e penetrar no SNC. Após a liberação proveniente das terminações nervosas, a ACh é rapidamente metabolizada em colina e acetato, e pela ação das enzimas AChE e pseudocolinesterase seus efeitos terminam. A metacolina e, particularmente, carbacol e betanecol, são resistentes à ação de colinesterases. Resumindo Colinorreceptores são classificados como nicotínicos ou muscarínicos. Colinorreceptores muscarínicos estão localizados em órgãos, como o coração, causando um efeito cronotrópico negativo. A estimulação de receptores muscarínicos no músculo liso, em glândulas exócrinas e endotélio vascular causam broncoconstrição, aumento da secreção de ácido e vasodilatação. Metacolina e betanecol são altamente seletivos para os colinorreceptores muscarínicos. Os agentes colinomiméticos, incluindo inibidores de anticolinesterásicos, não podem ser utilizados para o tratamento de doenças do trato gastrintestinal ou urinário devido à obstrução mecânica, pois a terapia pode resultar em aumento da pressão e possível perfuração. Eles também não são indicados para pacientes com asma. Questões - agentes colinomiméticos muscarínicos 1º)Uma paciente de 62 anos de idade tem glaucoma de ângulo aberto. Ela inadvertidamente aplica pilocarpina nos olhos em excesso. Isso pode resultar em qual das seguintes alternativas? A. Dilatação do músculo liso brônquico B. Redução da motilidade gastrintestinal C. Dilatação dos vasos sanguíneos D. Midríase 2º) Agonistas colinérgicos muscarínicos A. Ativam proteínas G inibitórias (Gi) B. Diminuem a produção de IP3 C. Diminuem a liberação de cálcio intracelular D. Inibem a atividade de fosfolipase C 3º) Ésteres de colina, como carbacol, são mais propensos a causar qual dos seguintes efeitos adversos? A. Anidrose (pele seca) B. Delirium C. Salivação D. Taquicardia (frequência cardíaca rápida)