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Aula 02 — Introdução Curso Redação ENEM 2020 Professor Fernando Andrade Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 2 Sumário Apresentação .................................................................................................................. 3 1. Entendendo a Introdução ............................................................................................ 3 1.2 O quê não fazer ......................................................................................................................... 4 1.3 Regra geral do que é uma introdução ...................................................................................... 5 1.3 Evitar ....................................................................................................................................... 10 1.4 Introdução no Enem ................................................................................................................ 11 2. Introdução e Projeto de Texto ................................................................................... 12 2.1 Exercícios ................................................................................................................................. 12 3. Introduzir e seduzir .................................................................................................... 14 3.1 Provocar Adesão ...................................................................................................................... 15 3.2 Informar ................................................................................................................................... 17 3.3 Provocar a curiosidade ............................................................................................................ 19 3.4 Encantar .................................................................................................................................. 22 4. Introdução e Conclusão.............................................................................................. 25 4.1. A relação entre introdução e conclusão no Enem .................................................................. 26 5. Introdução e Máscara ................................................................................................ 26 5.1 Estatísticas ............................................................................................................................... 28 6. Treino ........................................................................................................................ 30 6.1 Citação ..................................................................................................................................... 32 6.2 Analogia .................................................................................................................................. 34 6.3 Percurso histórico .................................................................................................................... 35 6.4 Descrição ou Paráfrase............................................................................................................ 36 7. Organização ............................................................................................................... 37 8. Propostas de redação ................................................................................................ 38 8.1 Propostas Comentadas ........................................................................................................... 47 9.Considerações Finais ................................................................................................... 67 10. Referências .............................................................................................................. 69 Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 3 Apresentação Querido aluno, Agora sim, vamos pegar embalo, começamos com este PDF a considerar a estrutura dissertativa. Nas outras aulas, discutimos os tipos de temas, a apreensão do tema. Todas essas atividades têm a ver com a preparação da escrita. São momentos fundamentais para uma boa escrita. A má compreensão do tema um é fator limitante, e escrever um texto sem qualquer esquematização prévia é um risco. Esta aula começa pela parte mais fácil da dissertação, a introdução. Na verdade, ela está bem dividida, você vai observar que nos primeiros tópicos, eu considero os recursos gerais para se fazer uma introdução, aqueles que podem ser utilizados nos modelos tradicionais de dissertação. Depois disso, passo a considerar o Enem em particular, a partir das redações nota mil publicadas por várias mídias. Como a redação no Enem é mais engessada, digamos assim, é possível perceber que alguns tipos de introdução são mais eficazes para dar conta do recado do que é solicitado pela banca. Mas não deixe de considerar outras possibilidades, seja porque você só tem a ganhar mesclando estilos, seja porque um vestibulando, as vezes, presta outros vestibulares. Não deixe de fazer os exercícios e, principalmente, as redações. Estou ansioso pela sua produção. Boa aula, boa escrita e boa diversão. 1. Entendendo a Introdução Você gostaria de ler isto? “No começo, ele andava tropeçando nas coisas. Uma mão o ajudava caminhar tropegamente entre os brinquedos jogados no chão. A mesma mão o empurrou na primeira bicicleta e deu todo apoio para outros caminhares. Mas agora, essa mesma mão não tem mais o mesmo significado. Ele se tornou adolescente. Essa é a história repetida em várias famílias, a adolescência representa um momento de crise dolorida que afeta a todos que estão próximos, configurando uma travessia necessária”. Espero que sim, tentei caprichar nessa introdução que deveria ser sobre adolescência. Se você ficou com vontade de ler o restante, esse é um bom parágrafo de início de texto. A finalidade da introdução é seduzir o leitor. Trazer o leitor para dentro do seu texto. Contudo, essa é a função mais avançada. Na verdade, se o seu texto chegar ao que é importante para o bom desenvolvimento do tema, já é o bastante. Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 4 O leitor deve ser informado sobre o tema e sobre a tese para que ele possa avaliar se os argumentos que se seguirão terão o poder de convencimento necessário. Nesse sentido, o início determina o encaminhamento do desenvolvimento ou serve como mapa da mina do leitor. A palavra “introdução”, do latim intro, significa “dentro” e ductor significa “conduzir”. Essa é a função desse parágrafo inicial. Com ou sem sedução, ele deve servir de guia para a leitura do que vai se seguir. Podemos resumir a finalidade da introdução da seguinte forma: 1.2 O quê não fazer Antes de mais nada, a primeira orientação é algo que você JAMAIS deve fazer num parágrafo introdutório. Uma proposta de redação supõe uma coisa bizarra: deve manter a ilusão de que seu texto foi escrito porque você teve vontade de se manifestar em relação a alguma questão social, e não porque você foi obrigado a fazê-lo, tendo de se servir de uma coletânea e de uma proposta direcionadas para sua produção do texto. Imagine alguém que escreve um parágrafo introdutório como o abaixo: Para começar a discutir a questão proposta nas instruções, é preciso dizer que a ideia do texto 1 de que o trabalho vai desaparecer é algo inimaginável.... Sacou o problema, corujinha ligeira? Nessas duas linhas acima, o tema está configurado, pois o autor fala de trabalho e há uma tese – o trabalho não vai desaparecer -, enfim, é possível ler o que se seguirá, pois as coordenadas estão dadas. Mas esse parágrafo introdutório supõe que o leitor pôdeter acesso à proposta e entender esse diálogo inicial entre a proposta e o texto produzido. Não dialogue explicitamente com a proposta e com a coletânea. apresentar o tema (contextualização) pôr o leitor em contato com a proposta de redação; apresentar o posicionamento (tese) do escritor em relação à proposta. Fo n te : S h u tt er st o ck Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 5 1.3 Regra geral do que é uma introdução Uma boa estratégia consiste em resumir e colocar as informações mais importantes, aquelas que serão fundamentais para sua argumentação logo na introdução. Para exemplificar o que vamos discutir sobre a introdução, considerando o Enem 2018, algo que não deve ser muito complicado porque já consideramos a proposta no primeiro pdf. TEXTO II Nos sistemas dos gigantes da internet, a filtragem de dados é transferida para um exército de moderadores em empresas localizadas do Oriente Médio ao Sul da Ásia, que têm um papel importante no controle daquilo que deve ser eliminado da rede social, a partir de sinalizações dos usuários. Mas a informação é então processada por um algoritmo, que tem a decisão final. Os algoritmos são literais. Em poucas palavras, são uma opinião embrulhada em código. E estamos caminhando para um estágio em que é a máquina que decide qual notícia deve ou não ser lida. PEPE ESCOBAR. A silenciosa ditadura do algoritmo. Disponível em: http://outraspalavras.net. Acesso em: 5 jun. 2017 (adaptado) ENEM 2018 TEXTOS MOTIVADORES TEXTO I Às segundas-feiras pela manhã, os usuários de um serviço de música digital recebem uma lista personalizada de músicas que lhe permite descobrir novidades. Assim como os sistemas de outros aplicativos e redes sociais, este cérebro artificial consegue traçar um retrato automatizado do gosto de seus assinantes e constrói uma máquina de sugestões que não costuma falhar. O sistema se baseia em um algoritmo cuja evolução e usos aplicados ao consumo cultural são infinitos. De fato, plataformas de transmissão de vídeos on-line começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando o banco de dados gerado por todos os movimentos dos usuários para analisar o que os satisfaz. O algoritmo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis. Dessa forma, a filtragem de informações feita pelas redes sociais ou pelos sistemas de busca pode moldar nossa maneira de pensar. E esse é o problema principal: a ilusão de liberdade de escolha que muitas vezes é gerada pelos algoritmos. VERDÚ, Daniel. O gosto na era do algoritmo. Disponível em: https://brasil.elpais.com. Acesso em: 11 jun. 2018 (adaptado). Fi gu ra 1 : P ix ab ay Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 6 TEXTO III TEXTO IV Mudanças sutis nas informações às quais somos expostos podem transformar nosso comportamento. As redes têm selecionado as notícias sob títulos chamativos como “trending topics” ou critérios como “relevância”. Mas nós praticamente não sabemos como isso tudo é filtrado. Quanto mais informações relevantes tivermos nas pontas dos dedos, melhor equipados estamos para tomar decisões. No entanto, surgem algumas tensões fundamentais: entre a conveniência e a deliberação; entre o que o usuário deseja e o que é melhor para ele; entre a transparência e o lado comercial. Quanto mais os sistemas souberem sobre você em comparação ao que você sabe sobre eles, há mais riscos de suas escolhas se tornarem apenas uma série de reações a “cutucadas” invisíveis. O que está em jogo não é tanto a questão “homem versus máquina”, mas sim a disputa “decisão informada versus obediência influenciada”. CHATFIELD, Tom. Como a internet influencia secretamente nossas escolhas. Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 3 jun. 2017 (adaptado). O tema era “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”. Considerando que você deveria apresentar o tema com sua problemática, a escolha de informações dos textos de apoio poderia ser uma boa estratégia de começo do texto. A técnica consiste em grifar os trechos que você acha mais relevantes e colocar nas suas próprias palavras. No caso do Enem, até o mundo mineral sabe que a tese é dada. Você deve apresentar o problema e depois mostrar como ele pode ser resolvido. Sendo assim, a introdução baseada na paráfrase tema vantagem de permitir que você mostre para o corretor que você entendeu a problemática. Observe o exemplo. Paráfrase Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 7 Exemplo de paráfrase que aproveita as informações das instruções. Veja que algumas palavras se repetem e usei muitas ideias que constavam do texto original, mas a configuração se adequou ao que pretendo desenvolver no texto: mostrar o perigo da situação-tema. A forma mais tradicional de se fazer uma introdução técnica é apresentar o tema, um comentário e a tese. Cada parte deve ser expressa em um período. Considere como modelo o texto abaixo, de uma das melhores redações da FUVEST de 2006. O tema era sobre o “Trabalho no mundo contemporâneo”. Estrutura Tradicional Texto 1 Assim como os sistemas de outros aplicativos e redes sociais, este cérebro artificial consegue traçar um retrato automatizado do gosto de seus assinantes e constrói uma máquina de sugestões que não costuma falhar... (...) O algoritmo constrói assim um universo cultural adequado e complacente com o gosto do consumidor, que pode avançar até chegar sempre a lugares reconhecíveis. Dessa forma, a filtragem de informações feita pelas redes sociais ou pelos sistemas de busca pode moldar nossa maneira de pensar. Texto2 TEXTO II Nos sistemas dos gigantes da internet, a filtragem de dados é transferida para um exército de moderadores em empresas localizadas do Oriente Médio ao Sul da Ásia, que têm um papel Texto 3 Quanto mais os sistemas souberem sobre você em comparação ao que você sabe sobre eles, há mais riscos de suas escolhas se tornarem apenas uma série de reações a “cutucadas” invisíveis... No Brasil, mais da metade das pessoas se valem da internet para os mais variados fins. Há, contudo, um perigo que espreita cada usuário. Os aplicativos e sites valem-se de algoritmos capazes de perceber regularidades no comportamento do usuário. A partir disso, as respostas que o usuário tem nas redes sociais e mesmo nos sites de busca, criam um mundo à sua imagem e semelhança, buscando influenciar a maneira de pensar de cada um. O risco de o usuário ser manipulado em suas escolhas é real. O jovem entre 16 e 21 anos que hoje chega ao vestibular, gera expectativa em relação à sociedade. Nesse sentido, seria importante saber quais são as características mais pronunciadas desse grupo social. Considerar os valores e a consciência social desses jovens deve indicar o que podemos esperar do futuro. Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 8 Note que o autor menciona a palavra “trabalho” logo na primeira linha. Ele faz uma afirmação genérica para chamar a atenção do leitor. No segundo período, ele acrescenta uma outra informação, o trabalho se modificou ao longo dos séculos. No último período, ele faz uma afirmação que merece ser provada: é através do trabalho que o homem constitui a sua história, essa é a tese. Para cumprir o papel de apresentar o essencial para a leitura, seu texto deve observar dois pontos: Dentro dessa tipologiade introdução tradicional, há um modelo preferido por aqueles que gostam de redação mais técnica. Consiste em apresentar, ao final da introdução, aquela tese já • Escreva de 2 a 3 períodos (período é o espaço entre a letra maiúscula e ponto final). • Em um dos período, apresente a palavra chave do tema. • Em um período intermediário, acrescente algum detalhe. • No último período, apresente a tese. Apresentar de forma simples o tema Introdução com tese e 2 argumentos 1º Período 2º Período 3º Período Tese Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 9 elaborada no planejamento e que deve contemplar também os argumentos. Esse tipo de introdução e o desenvolvimento para o qual ela aponta sugerem uma escolha mais linear do tema. Exemplo: Atualmente, no Brasil, discute-se a possível manipulação do usuário de internet pelos sites de busca e das redes sociais. Essa situação torna-se mais dramática, quando observamos que mais de 60 % dos brasileiros são usuários assíduos da internet. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que isso representa um perigo real (tese), pois aprisiona o indivíduo em suas opiniões (argumento 1) o que o distância de uma perspectiva mais objetiva da realidade, algo fundamental para o exercício da cidadania.(argumento 2). Esquema desse tipo de introdução: Tudo bem, corujinha apavorada. Arranje um jeito de colocar as palavras-chave do tema logo nas primeiras linhas. Observe que, na introdução por paráfrase, eu consegui colocar os termos “manipulação” e “internet” logo nas duas primeiras linhas. Mas há outra forma um pouco clichê de começar sua redação: apresente o aspecto temporal, associando o texto ao momento presente. Falei bonito para sugerir que você use o odiado: “Nos dias de hoje....” Na verdade, corujinha, o uso de clichês não soa muito bem para o corretor. Contudo, não é isso que vai determinar sua nota. Você pode fazer uma redação menos encantadora e mais técnica e tirar uma nota muito boa. Para convencê- lo de que essa forma de começar o Introdução clichê 1º Período: Comentário geral (o tema deve aparecer) 2º Período: Comentário estendido 3º Período: TESE Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 10 texto não depõe contra o seu texto, observe o próximo fragmento também tirado de uma das melhores redações da FUVEST sobre o tema da política. Ele afirma no primeiro período: “É muito comum ouvir de jovens hoje em dia que são apolíticos ou que a política não os diz respeito”. Veja aí o clichê, na expressão “hoje em dia”. Seguramente, isso não teve qualquer impacto negativo na avaliação. 1.3 Evitar O que realmente prejudica sua redação? Parágrafo introdutório que apresente (1) ideias desorganizadas que não funcionem como guia de leitura ou (2) que tenha informações em excesso. Normalmente, o primeiro caso acontece quando o candidato pensa em contextualizar o tema e vai se enrolando ao descrever situações outras que não têm a ver diretamente com o tema. O grande problema desse tipo de introdução é que ela desvia a atenção do leitor da tese e, ao mesmo tempo, faz o escritor perder linhas preciosas para a argumentação. Enquanto o tema não for colocado com toda clareza, o jogo não começa, ou seja, o leitor terá a impressão de que ainda não há argumento. Tome como exemplo esse texto abaixo da uma corujinha enrolada... Desde passados remotos, a busca e divulgação foi uma constante para o homem. Nos primeiros agrupamentos humanos, o saber tradicional era passado de boca em boca. Demorou algum tempo para que o homem inventasse a escrita, mas mesmo essa técnica esbarrava no suporte do nova técnica. A passagem das tabuinhas de barro para o papel foi um processo lento. Atualmente, demos um novo salto. Passamos do papel para as telinhas de computador. A informação se tornou onipresente e estamos tão acostumados a simplesmente a tirar qualquer dúvida acessando o gooogle que não nos perguntamos por onde passam essas informações. Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 11 Com essa introdução você não vai a lugar nenhum. Você já está no segundo parágrafo e ainda não entrou no tema: falar sobre a manipulação por algoritmos. O outro tipo de erro consiste querer apresentar toda a informação na qual você pensou no primeiro parágrafo. No Brasil, o número de usuários da internet aumenta dia a dia, isso porque essa mídia se tornou uma ferramenta necessária na atualidade. Mas essa prática não está isenta de riscos, já que tem havido manipulação de informações por parte dos plataformas digitais, já que elas se valem de algoritmos que são uma espécie de inteligência artificial que capta as regularidades do comportamento da pessoa e monta um perfil para empresas que desejam essas informações. Isso porque a concorrência entre as empresas está cada vez mais acirrada o que as leva a utilizar de qualquer tipo de marketing, inclusive desrespeitando a liberdade do consumidor, já que isso faz com que ele viva numa bolha de informações que sempre lhe agradem. Consequentemente ele fica alienado da realidade, pois tem sempre a confirmação de um mundo que é sempre o mesmo e que está a serviço de negócios. Nessa introdução, o candidato apresentou a tese, os argumentos e começou a estabelecer relações de causa e consequência. A quantidade de informação empilhada torna o parágrafo confuso. Além disso, como há muitas informações nesse trecho que mereceriam ser desenvolvidas, quando o escritor der continuidade ao texto, provavelmente ele retomará várias das ideias que já explicitou no primeiro parágrafo. O leitor ficará com a impressão de que o texto é repetitivo. É preciso equilíbrio, nem apresentar uma tese muito curta, nem muito comprida. Se você satisfizer toda a curiosidade do seu leitor logo no primeiro parágrafo, ele não vai ler o que se segue. 1.4 Introdução no Enem Nunca é demais ressaltar. A tese no Enem já é dada pela banca e, na verdade, pressupõe toda a trajetória de escrita. Você deve falar do problema, mostrar que ele é grave e deve ser enfrentado e, no final, deve apresentar proposta de intervenção. Sendo assim, a introdução não precisa manifestar claramente o que será defendido. Ela deve apresentar a situação problema e os motivos pelos quais nós devemos nos sensibilizar diante da problemática. Devido a isso, muitas vezes não há muito espaço, no Enem, para uma introdução cuja a finalidade seja atrair o leitor. Em várias redações nota 1000, a introdução parece já um argumento. Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 12 2. Introdução e Projeto de Texto Este tópico é para lembrá-lo de que a introdução está profundamente vinculada a sua preparação anterior e deve refletir aquilo que discutimos na aula passada: a reflexão sobre o tema e sobre a tese. A tese, a gente já sabe, é mais ou menos a seguinte: o problema “x” desrespeita os direitos mínimos dos cidadão, portanto é preciso que tomem medidas para minimizar a questão. Nesse sentido, o projeto deve contemplar as partes dessa tese: ✓ Apresentar a questão-problema; ✓ Mostrar em que medida a questão viola os direitos das pessoas envolvidas; ✓ Apresentar propostas de intervenção. Apesar de ser uma estrutura bastante fechada, a questão passa a ser como você vai preencher essas partes, já que um dos critérios de correção é o uso de repertório. Nesse caso, alguém poderia comparar o controle por algoritmos com o controle do livro 1984, de George Orwell; outra pessoa poderia considerar a ideia de controle a partir das ideias de Foucault; outra poderia fazer um percurso históricoda internet para mostrar como essa plataforma passou de um mecanismo de divulgação científica, quando foi criada, para um meio de obtenção de dados das pessoas. Os caminhos devem variar bastante. Sobre isso, já conversamos no pdf anterior. Você provoca o Brainstorm, coloca as ideias que tiver no pré-rascunho e depois vai organizando num esboço. É a partir desse esboço, ou seja, a partir da definição do caminho que você vai trilhar, é que você escolhe a sua introdução. 2.1 Exercícios Chegou a hora de exercitar o que consideramos até agora. A ideia é que você fixe uma forma de fazer a introdução, a forma mais simples, que deve servir para momentos em que você deve fazer uma redação rapidamente e não tem muito tempo para fazer um texto inicial muito sofisticado. Você vai encontrar 3 propostas curtas de redação e deve produzir dois parágrafos de introdução de acordo com os modelos apresentados: ✓ Introdução clichê; ✓ Introdução tradicional; ✓ Paráfrase; ✓ Introdução com tese desenvolvida. Q.1 Faça dois parágrafos de introdução com técnicas diferentes sobre o seguinte tema: A participação política do jovem no Brasil. Considere o texto de apoio abaixo (ele pode ser utilizado para a introdução por meio da paráfrase). Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 13 Uma pesquisa do Instituto Data Popular mostra bem o perfil do jovem brasileiro e seu interesse pela política. O levantamento traz recados importantes à classe política, pois os jovens, a par da crença (92%) na própria capacidade de mudar o mundo, botam fé (70%) no voto como instrumento de transformação da nação e ainda reconhecem (80%) o papel determinante da política no cotidiano brasileiro. Porém, fatia expressiva dos jovens do Brasil (quase 60%) acredita que o país estaria melhor se não houvesse partido político. Um petardo na democracia. Para eles, as agremiações partidárias e os governantes não falam sua linguagem. Interessante a observação do estudo: os políticos são analógicos, mas a juventude é digital. Mais de 50% se encontram entre os eleitores indecisos ou que pretendem anular o voto no pleito deste ano. E o discurso carrega um viés oposicionista. Como a maioria da população brasileira, o desejo de mudança se faz presente em 63% deles, que acreditam que o Brasil está no rumo errado. Apesar disso, 72% consideram ter melhorado de vida. Querem mais: serviços públicos de qualidade, maior conectividade, acessos livres à banda larga e à tecnologia de ponta, não abrindo mão da manutenção do poder de compra, nas palavras do autor do estudo, Renato Meirelles, do Instituto de Pesquisa Locomotiva. (Estado de São Paulo, 06/06/2018) Q.2 Faça dois parágrafos de introdução com técnicas diferentes sobre o seguinte tema: Como lidar com o desemprego juvenil. Considere o texto de apoio abaixo (ele pode ser utilizado para a introdução por meio da paráfrase). Uma pesquisa do Instituto Data Popular mostra bem o perfil do jovem brasileiro e seu interesse pela política. BRASÍLIA - Um em cada dois jovens brasileiros com idade entre 19 e 25 anos corre sério risco de ficar fora do circuito dos bons empregos no País e, com isso, está mais vulnerável à pobreza. É o que aponta o relatório “Competências e Empregos: Uma Agenda para a Juventude”, divulgado pelo Banco Mundial. O documento diz que 52% da população jovem brasileira, quase 25 milhões de pessoas, estão desengajados da produtividade. Nessa conta, estão os 11 milhões dos chamados “nem-nem”, aqueles que nem trabalham, nem estudam. A eles, foram somados aqueles que estão estudando, mas com atraso em sua formação. E os que trabalham, mas estão na informalidade. http://tudo-sobre.estadao.com.br/banco-mundial Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 14 (...) “É uma população que vai ser vulnerável, vai ter mais dificuldade de achar emprego, corre maior risco de cair na pobreza”, disse o diretor da instituição para o Brasil, Martin Raiser. (Disponível em https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,metade-dos-jovens-brasileiros- tem-futuro-ameacado-alerta-banco-mundial,70002217121, acessado em 31.08.2019) Q.3 Faça dois parágrafos de introdução com técnicas diferentes sobre o seguinte tema: Como evitar que tecnologia seja prejudicial ao aprendizado. Considere o texto de apoio abaixo (ele pode ser utilizado para a introdução por meio da paráfrase). Assim como os livros expandiram nossa capacidade cerebral, as tecnologias atuais podem gerar o efeito contrário. A vida no século XXI pode não ser maravilhosa como sugerem as propagandas de telefones celulares, graças aos consideráveis impactos sociais provocados pela onipresença das novas tecnologias de comunicação e informação. Dois filmes recentes tratam do tema: Disconnect (de 2012, dirigido por Henry Alex Rubin) e Men, Women & Children (de 2014, dirigido por Jason Reitman). As duas obras adoçam seu olhar crítico com uma visão humanista. O grande tema é a vida contemporânea, marcada pelo consumo de bens e estilos, e povoada pelas doenças da sociedade moderna: bullying, identidades roubadas, comunicações mediadas e relações fragilizadas. No centro dos dramas estão a internet e as mídias sociais. Maior o acesso a informações, menor nossa capacidade de atenção, e menor nossa capacidade de análise. E nossa paciência sofre com o processo. (Disponível em http://www.cartacapital.com.br/revista/840/a-era-da-impaciencia- 5039.html, acessado em 31.08.2019) 3. Introduzir e seduzir Tendo se exercitado no básico, agora vamos ao “tchan”, aquilo que vai fazer da sua introdução uma espécie de cartão de visitas; aquelas primeiras frases que irão conquistar ou afastar seu leitor. Apesar disso, lembre-se: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,metade-dos-jovens-brasileiros-tem-futuro-ameacado-alerta-banco-mundial,70002217121 https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,metade-dos-jovens-brasileiros-tem-futuro-ameacado-alerta-banco-mundial,70002217121 http://www.cartacapital.com.br/revista/840/a-era-da-impaciencia-5039.html http://www.cartacapital.com.br/revista/840/a-era-da-impaciencia-5039.html Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 15 ✓ O corretor é obrigado a ler sua redação, você não precisa ficar tão preocupado com essa sedução; se sua introdução cumprir a função primordial, está bom demais; ✓ Uma redação maravilhosa e uma argumentação ruim ampliam a sensação de “texto ruim”; é como ir a uma festa com um terno todo remendado. ✓ Uma introdução bem elaborada requer tempo. Você pode fazer rapidamente a redação inteira, valendo-se de uma introdução básica e, se sobrar tempo, reelaborar o primeiro parágrafo. Considerando os vários tipos de introduções, podemos separá-las em 4 grandes grupos, conforme o efeito que podem produzir: provocar adesão ao tema; informar; provocar curiosidade e encantar. 3.1 Provocar Adesão Por que o leitor vai ler seu texto (fora o fato de que ele é corretor)? Porque ele é seu amigo, ou porque leu o título e ficou interessado. Mas vamos supor que não seja um tema que o interesse. Nesse caso, você precisa mostrar para ele que o tema deveria interessá-lo, pois a situação é grave. Esse é o tipo de introdução e até de desenvolvimento mais apropriado para uma dissertação no ENEM. Quais são os métodos mais comuns para fazer isso? Apresentando dados científicos, estatísticos ou mostrando a causa de você estar escrevendo (que não seja a causa verdadeira: você está escrevendo para passar no vestibular!). Dada nossa formação científica, acreditamos que aquilo que for mostrado por números, por cientistas renomados ou por universidades será verdadeiro. Lógico que isso é mais apropriado para um argumento, já que no desenvolvimentovocê deverá convencer seu leitor de que o que você diz “é verdade”. O efeito de apresentar dados logo no começo do texto não é dizer que é verdade, mas mostrar dados que impressionam o leitor, dados que apresentem uma dimensão assustadora do assunto para que o leitor se interesse pelo texto que você vai desenvolver. Nesse caso, o texto da coletânea acima é exemplar e vale a pena repeti-lo: Um em cada dois jovens brasileiros com idade entre 19 e 25 anos corre sério risco de ficar fora do circuito dos bons empregos no País e, com isso, está mais vulnerável à pobreza. É o que aponta o relatório “Competências e Empregos: Uma Agenda para a Juventude”, divulgado pelo Banco Mundial. Esses dados impactantes despertam o leitor para o tema, fazem-no perceber que discutir isso é importante. Dados Fo n te : S h u tt er st o ck http://tudo-sobre.estadao.com.br/banco-mundial Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 16 * Pois é, esse o grande problema, afinal ninguém é um Google ambulante e, como você sabe, não poderá consultá-lo quando for produzir seu texto. O jeito é se contentar com algum tipo de estatística ou dado fornecido pela coletânea. Antes que você pergunte se você pode copiar os dados, eu já lhe respondo o óbvio “não”. Porém, você pode fazer uma paráfrase, acrescentando uma certa dramaticidade para despertar o leitor. Observe uma possível paráfrase. Recentemente, foi publicada uma matéria no Jornal O Estado de São Paulo com dados preocupantes sobre os jovens brasileiros. Quase 50% dos jovens em idade de começo de carreira terão que se contentar com empregos nada promissores. Serão adultos em estado de vulnerabilidade. Em relação a pesquisas científicas, nesse caso, da sociologia, isso é um pouco mais simples, se você se lembrar do que disseram os sociólogos ou outros especialistas, é claro. Você poderia dizer algo assim... Segundo a sociologia, o processo de industrialização inaugurou uma era em que a tecnologia aplicada a processos de produção ou excluem mão de obra, ou absorvem pessoas especializadas. O jovem entre 19 e 25 anos tende a ser excluído por falta de experiência ou por não ser especializado. Ficará vulnerável. “Causa” na dissertação pode significa duas coisas: Causa factual Esse tipo de recurso será melhor explorado, no item a seguir, pois apresentar uma causa factual se confunde com o próprio ato de informar o leitor de algo. Causa Explicativa No caso da introdução, “causa” significa dizer por que você resolveu escrever o texto (que não seja a causa verdadeira, tirar uma boa nota do Enem). Vamos supor que você tenha que fazer Causa Causa factual: como os fenômenos que contribuíram para o fato discutido. Exemplo, a causa do desemprego é a crise de 2016. Causa explicativa: como o motivo pelo qual você considera o assunto. Esse tema é importante para que possamos planejar o futuro Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 17 uma redação sobre a falta de emprego para os jovens. Você pode fingir que está escrevendo porque percebe a dificuldade de um primo de conseguir sua primeira colocação no mercado de trabalho. Começar com essa experiência seria bastante sedutor. Imagine: Esses dias, meu primo estiveram em casa para que eu o ajudasse a fazer um currículo. Será o seu primeiro emprego. Deus, que tarefa difícil! Cada site de sugestão dizia uma coisa. Coloque suas qualificações. Quais? Se é o primeiro emprego, obviamente ele ainda não descobriu suas qualificações. Isso me levou a refletir sobre o assunto e resolvi escrever um texto. Mas a dissertação deve ser impessoal. Você terá que adaptar as experiências pessoais ao tipo de linguagem que generaliza. Nesse caso, sua introdução será muito parecida com aquela que apresenta dados ou informações científicas. O jovem que procura sua primeira colocação no mercado de trabalho se depara com situações paradoxais deve convencer que tem habilidades para um trabalho que ele nunca efetuou. Esse é um dos vários desafios humilhantes que cada vez mais brasileiros em início de carreira enfrentam. 3.2 Informar A argumentação não é só técnica, ela inclui traços performativos, ou seja, não basta que a ideia apresentada no texto seja convincente por si, você deve produzir um efeito de que aquilo que você disse tem peso. Esse efeito qualquer orador consegue quando prova para seu interlocutor que conhece o assunto sobre o qual vai falar. Apresentar informações como introdução tem essa finalidade. Prepara o leitor para que ele leve o seu texto a sério. Ou seja, detalhe a informação para o leitor mostre que você tem conhecimento do assunto. Utilizar o percurso histórico para começar uma redação é um recurso informacional e também ilustrativo, ou seja, tem o potencial de encantar o leitor. Cuidado para não se alongar. Além disso, você deve ter a capacidade de vincular a história ao tema... não se perca. Às vezes a ligação é fácil, às vezes não. Por exemplo, vamos supor que você tenha informação sobre a história da internet. Esse é um repertório e tanto para quem vai escrever sobre manipulação de dados hoje. Mas se você contar a história por contar, o texto ficará sem sentido. É preciso que você encontre um ponto que permita puxar a história para o tema sobre o qual você vai discorrer. O mundo estava no auge de Guerra Fria. A possibilidade de que centros de controle fossem destruídos por uma possível terceira Guerra Mundial, levou o Departamento de defesa americano a desenvolver um sistema que interligava centros de pesquisa. Desse uso de difusão de informações precisas e importantes, passamos para os dias de hoje em que a internet se torou meio não só de divulgar informação, mas também de capturar informações dos usuários. História Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 18 Primeira observação importante: note como o parágrafo ficou longo. Lembre-se, você terá apenas 30 linhas no total. Segunda observação: tive que adaptar a história internet ao tema: manipulação de dados na internet, o que consegui fazer somente na última linha. “Definir” e “conceituar” são ligeiramente diferentes, entretanto, para o nosso propósito, você pode usar tanto um quanto o outro. Definir vem do latim, que significa “limitar” ou “marcar o fim”. Isso significa que se deve, através de palavras, mostrar qual a singularidade do objeto. Utilizar com precisão esse recurso faz com que seu leitor confie na sua competência, mas não apenas isso. Toda definição/conceitualização pode servir como uma premissa para um raciocínio. Premissa é uma afirmação que serve como fundamento do que será dito nos parágrafos de desenvolvimento. Você pode encarar a legislação como um livro de definições que servem de premissas para julgar ações podendo puni-las. Por exemplo, é interessante como o texto legal do marco civil da internet define o que pode ser considerado crime ou não. Observe: “Art. 7o O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: (...) II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei;” A partir dessa definição fica fácil dizer que um provedor comete crime ao manipular os dados do usuário...Se não fosse outra definição. “§ 1o A discriminação ou degradação do tráfego (...) somente poderá decorrer de: (...) III - informar previamente de modo transparente, claro e suficientemente descritivo aos seus usuários sobre as práticas de gerenciamento e mitigação de tráfego adotadas, inclusive as relacionadas à segurança da rede;” (disponível em https://www.cgi.br/lei-do-marco-civil-da-internet-no-brasil/,acessado em 08.04.2020). Ou seja, é você que dá autorização para que o provedor utilize seus dados, embora a própria lei reconheça que a manipulação de dados é ilegal. Mas essa definição em si já é um ótimo argumento para dizer que, no mínimo, o que os provedores fazem é antiético. Oferecem um serviço sedutor e necessário em troca dos seus dados que podem ser usados para atividades comerciais. Como ficaria uma introdução a partir dessas “definições”? O marco Civil da internet definiu muito bem o que seria considerado crime virtual. Seria crime violar, ou seja, tornar público o fluxo de informações pelos servidores. Isso mostra como a manipulação de informações pelas plataformas de acesso a partir de algoritmos não deve ser encarado como algo banal. Mas como os servidores mantém essa prática sem qualquer punição? Quando o usuário aceita os termos do serviço, ele autoriza a captação desse fluxo. Definição https://www.cgi.br/lei-do-marco-civil-da-internet-no-brasil/ Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 19 Calma, corujinha estressada. Esse foi um exemplo. Lógica que as leis, como você percebeu, são ótimas definições e, portanto, premissas. Você poderá se valer de leis, quando elas estiverem na sua coletânea, e isso não é tão raro assim. Mas há outros tipos de definição que são muito úteis em redação, aquelas que circulam em sociologia e filosofia como definições de “liberdade”, democracia”, “república”, “Estado” etc. Falarei mais desse recurso em outro momento, pois associado à citação é uma das técnicas mais utilizadas por alunos que tiraram 1000 na redação do Enem. 3.3 Provocar a curiosidade Um dos gatilhos mentais de mais bem-sucedidos para chamar a atenção de alguém é o da curiosidade. Por incrível que pareça, encontrar a solução de um problema ativa uma parte do nosso cérebro responsável pelo prazer. Isso significa que, ao apresentarmos algum problema para nosso leitor, ele irá entrar no jogo e vai ler o texto ou para saber a resposta ou para conferir se a resposta que ele deu mentalmente é a correta. Esse ímpeto humano pode ser observado mesmo em crianças de 3, 4 anos que manifestam uma certa mania pelos porquês. Há basicamente 3 expedientes para despertarmos a curiosidade em alguém em redação: perguntas, enumeração e afirmações contundentes. Por que começar um texto com uma pergunta? Porque obrigará o leitor a continuar lendo. Assim como você fez quando se deparou com a pergunta acima. Mas note, ela não pode aparecer do nada. Você deve contextualizá-la. Ela se assemelha à introdução tradicional sem a apresentação da tese. Exemplo. Perguntas 1º Período: Comentário geral (o tema deve aparecer) 2º Período : Comentário estendido 3º Parte : Perguntas Fi gu ra 2 : P ix ab ay Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 20 Todo usuário de internet já deve ter reparado naquelas janelas que se abrem com propagandas sobre algum produto que estranhamente era do seu interesse. Não se trata de um milagre. Os provedores são capazes de registrar os fluxos de informação do usuário e usá-los para fins comerciais. Qual o problema dessa prática? Até que ponto podemos ser manipulados? Que se pode fazer em relação a isso? Note que esse é um bom expediente de escrita, evita que você apresente a tese toda no começo da redação e obriga você, escritor, a seguir um script já previsto por você. Ou seja, seu texto será mais direcionado. E quem falou isso tem toda razão em relação a perguntas retóricas. Perguntas que não precisam ser respondidas, pois ou a resposta é óbvia demais, ou você já a respondeu no argumento. Além disso, uma pergunta no último parágrafo, com raras exceções, abre espaço para um novo argumento e deve ser evitada, afinal você está na conclusão, lugar de reafirmação das ideias apresentadas e não o lugar da abertura para novos argumentos. Estou certo de que essa é a intenção ao fazer a pergunta no último parágrafo, corujinha instigante. Contudo, uma dissertação é um texto autoritário, você deve levar seu leitor pela mão através das suas ideias sem deixá-lo sozinho para pensar por conta própria. Isso vai acontecer depois que ele tiver lido seu texto, não precisa motivá-lo. O que é, o que é? Lembra-se dessa brincadeira? Pois é, diante dessas palavras quase mágicas, você parava para tentar descobrir o que era. Trata-se de um jogo que foi se tornando mais sofisticado até chegar a estruturar um filme policial, pois, afinal, o que nos prende à poltrona diante de um filme como esse é saber quem foi o assassino. Enumeração Fi gu ra 3 : P ix ab ay Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 21 Essa é a lógica de apresentar pelo menos três palavras soltas na primeira frase de uma introdução. O leitor fica imaginando o que significam aquelas palavras e espera o desvendar desse mistério. Para tornar mais claro do que estou falando, observe a seguinte introdução: Partido político, congresso nacional, STF, financiamento partidário. Essas são algumas expressões do vocabulário político que parecem desconhecidas para os jovens. Uma observação desse tipo leva a acreditar que os jovens de hoje são alienados em relação à política. Percebeu qual é o tema? Jovem e política. Há um método para construir uma enumeração desse tipo. Primeiro considere que, para ser uma enumeração, é preciso ter, pelo menos, 3 termos. Segundo, essa fórmula admite uma frase nominal, com os termos interligados por vírgula, sem verbos, seguida de uma outra frase que deve retomar e explicar a anterior. Uma última dica: os termos da enumeração devem ser coerentes em relação a uma ideia unificadora. Nem sempre é fácil de achar o elemento comum a essas palavras. Tente mudar o foco. Por exemplo, na enumeração acima, eu utilizei termos políticos, mas poderia ter selecionado outro elemento: o que dizem do engajamento dos jovens. Alienados, despreocupados, desinformados. Essas são algumas palavras usadas para designar os jovens no que diz respeito ao engajamento político... Outra forma de despertar a curiosidade do leitor é fazer uma afirmação forte sobre o assunto ou apresentar alguma fonte que tenha dito algo que contraria a sua tese. Nos dois casos, o fato de haver uma ideia a ser contestada, seja pela agressividade, seja pela polêmica, faz com que o leitor fique curioso em saber como o litígio será resolvido. Considere a seguinte afirmação: A forma como as plataformas digitais se valem dos dados do usuário é, no mínimo, antiética e autoritária, o que evidência o vale-tudo que se transformou a internet nos dias atuais. Não há dúvida de que tal frase desperta a atenção. Tanto alguém que compartilha a ideia, quanto um opositor vão interagir com o texto. Não há como ficar indiferente e, aliás, esse é o problema. O corretor, com certeza, será mais exigente com uma redação desse tipo, pois para se chegar a essa conclusão, o escritor deve ter argumentos muito bons. Trata-se de uma introdução possível, mas arriscada. Já deve ter acontecido com você estar em uma discussão de vida ou morte como alguém, sentindo que sua tese começa a ser ridicularizada, quando você se lembra de um especialista que disse o mesmo que você. Ah, que satisfação! Você e seus amigos que estão discutindo não são Frases contundentes Citação Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 22 exatamente ninguém na fila do pão, mas o especialista de Harvard, o filósofo do século XIX ou o cientista que ganhou o prêmio Nobel são pessoas de tão alto gabarito que basta citar a fraseda sumidade para ganhar a parada. Acho que você já entendeu o efeito desse recurso. Em si, ele representa uma espécie de carteirada, afinal, você pode citar uma frase fora do contexto, ou mesmo, o especialista pode estar errado, por que não? Mas nas dissertações, esse recurso tem grande efeito, sobretudo porque permitem que o candidato demonstre repertório. Afinal, durante os três anos do ensino médio, você entrou em contato com figurões da história, da sociologia e da filosofia e discutiu algumas das frases mais famosas produzidas pela humanidade. Agora é hora de usá-las. Normalmente, eu discuto esse tópico na argumentação. Contudo, tem sido recorrente o uso de citações na introdução nas melhores redações. Primeiramente, você deve ter um repertório de frases significativas. Depois deve tentar encontrar uma relação entre a frase e o tema. A técnica de começar pela frase, provoca impacto. Segue um exemplo. “O homem é o lobo do homem”, dizia Hobbes no século XVII. Segundo ele essa era a condição do homem no estado da natureza. Ao se submeterem a uma autoridade maior, um poder absoluto, as pessoas puderam viver com uma certa harmonia. Contudo, algo extremamente tecnológico, a internet, parece nos ter devolvido ao estado de natureza. Nesse espaço de ninguém, as pessoas parecem ter se tornado lobos, o ódio parece ser usual nessa mídia. 3.4 Encantar Agora, entramos na parte mais sedutora das técnicas de introdução: contar uma história ou fazer uma analogia. Uma boa história faz uma conexão emocional com o leitor. As pessoas conseguem se colocar no lugar de quem viveu o que é narrado. No caso da analogia, o escritor surpreende o leitor com uma conexão inesperada. No caso da dissertação, contar uma história é problemático, mas não impossível. O texto dissertativo deve ser impessoal. Isso significa que as histórias contadas não podem ser tão restritas, não devem ter personagens tão particulares que dificultem a passagem da história particular para a discussão generalizante própria da dissertação. Nesse caso, a solução é imaginar uma trajetória que pode ser particularizada, mas que tem a ver com a história de muitas pessoas. Por exemplo, se você estiver considerando o tema do Narrativa Fi gu ra 4 : P ix ab ay Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 23 “jovem que hoje chega ao vestibular”, você poderia imaginar a trajetória de um jovem que se esforça para prestar o vestibular, as ações envolvidas nessa trajetória e atribuir isso a um “ele” enigmático que será identificado como qualquer jovem. A partir dos 15 anos, ele começou a trilhar o caminho incerto de quem vai decidir sua vida. Pesquisou universidades, cursos e carreiras. Fez não um, mas dois testes de vocação. Aos 16, tinha uma ideia vaga do que queria. No ano que fez 17, estudou como um louco. Na primeira bateria de vestibulares, veio a frustração, percebeu que não estava preparado. Essa poderia ser a história de boa parte dos jovens que desejam fazer um curso universitário. Impossível não questionar o vestibular como sistema de avaliação. É possível fazer uso desse expediente para uma série de propostas. Há outras que permitem a utilização de histórias que foram veiculadas nos jornais. Se você souber em detalhes o que aconteceu é uma boa forma de começar seu texto. Há mais de 4 anos, um fato horrorizou o Brasil. Um jovem foi amarrado pelo pescoço, nu, a um poste no bairro do Flamengo. Tinha uma orelha cortada com faca. Teria sido acusado de praticar furtos. Essa cena bárbara acusa um problema crônico no Brasil, o envolvimento de jovens com o crime e o ódio que eles despertam em uma parte da sociedade. Analogia ou comparação, embora sejam palavras que manifestam diferenças sutis de procedimento técnico, serão aqui tratadas como uma coisa só. São as técnicas mais difíceis, até porque muitas vezes podem servir para estruturar uma redação inteira. Observe como é expressiva a comparação que o músico Cartola fez: “Preste atenção, o mundo é um moinho Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos Vai reduzir as ilusões à pó” Ele fala a alguém amado, alertando sobre o mundo. Poderia dizer simplesmente que o mundo destrói ilusões, mas, ao comparar essa ideia abstrata à ação inexorável de um moinho reduzindo tudo a pó, a mensagem ganha outras dimensões. Na verdade, há vários tipos de comparação e todas podem ser usadas de algum modo na sua redação, contudo, para a introdução, seria interessante o uso de uma analogia, uma espécie de comparação mais longa na qual se estabelece uma ponte entre a história contada e os significados atribuídos ao tema desenvolvido. As comparações possíveis são as seguintes: ✓ Comparação imagética ou metáfora, cujo elemento comparado não é revelado: Os penhascos pareciam cortados por faca; ✓ Comparação explicativa, cujo elemento comparado é revelado: Os penhascos tão retos que pareciam cortados com faca; Analogia ou comparação Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 24 ✓ Comparação entre dois elementos semelhantes: as feições dos índios são tão boas quanto às dos nossos compatriotas; ✓ Analogia entre histórias: conta-se uma história que deve servir como modelo para o momento atual. A analogia narrativa requer conhecimento de mitologia, histórias bíblicas, lendas de personagens de filmes consagrados ou de romances conhecidos. Por exemplo, ao falar sobre o tema do jovem na política, pode-se lembrar de Antígona, da mitologia grega. Os irmãos de Antígona lutam pelo trono de Tebas, ambos morrem lutando em lados opostos. O tio, que herda o trono, resolve enterrar um deles com pompas de herói e deixar o outro apodrecer fora dos muros da cidade. Antígona, irmã deles, fica entre obedecer ao rei e obedecer à tradição, que manda os parentes enterrarem seus mortos. Ela resolve enfrentar o tio e, por isso, é condenada à morte. Como essa história ficaria numa introdução? Para entender o dilema do jovem em relação à política, podemos retomar a tragédia grega de Antígona. Os irmãos tinham se enfrentado em uma batalha e ambos morreram. O tio, que herdou o trono, determinou que um deles não fosse enterrado. Antígona, desafiando o tio, põe sua vida em risco. Essa é uma trágica metáfora da diferença entre o núcleo familiar e a política. Antígona, como os jovens, vê a política como aquilo que ameaça sua experiência enraizada na família. Calma, corujinha exigente. Claro que não. Essa é uma possibilidade entre outras e, diga- se de passagem, a mais complexa. Mas os alunos que gostam de escrever e que gostam de textos mais criativos podem se dar bem com esses modelos. O mais importante é que você entenda a técnica e que, mesmo que não consiga fazer algo assim, descubra quais são suas preferências e com quais introduções você se identifica. Qual é, realmente, a técnica desse tipo de introdução? Em primeiro lugar, você deve pensar com qual elemento ou história o objeto de seu tema se assemelha. Mesmo que você vá destacar as diferenças, você deve primeiro começar pelas semelhanças. Depois de ajustar as analogias no seu esboço, você deve gastar algumas linhas para descrever a cena ou para contar a história. O leitor deve ser sensibilizado para a narrativa. Um texto curto não fará isso. Além disso, ao contar a história, você vai selecionando elementos que depois permitirão a comparação. Isso significa que uma introdução desse tipo vai ficar longa, não tem jeito. Seria interessante que o argumento que você fosse utilizar pudesse aproveitar essa analogia. Se isso ocorrer, teremos uma redação inteira estruturada pela analogia. Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 25 4. Introdução e Conclusão Nessetópico, gostaria apenas de destacar a grande diferença entre a conclusão tradicional e a conclusão do ENEM. Em 2011, a banca da FUVEST solicitou que o candidato escreve um texto sobre o altruísmo, a capacidade que o ser humano tem de se preocupar com os outros. Posteriormente, a banca selecionou e publicou as melhores redações. Selecionei uma delas para mostrar o que significa concluir de forma tradicional em uma dissertação escolar. Introdução Conclusão Na introdução, o autor do texto inverteu um pouco a ordem das coisas. Ele começou com o resumo da argumentação, “a efemeridade do mundo moderno acarreta uma devastadora inversão de valores”. Acrescenta elementos no segundo período, “o outro como inimigo potencial”. Por fim, no último período, ele apresenta a tese e o tema: “o altruísmo vai se desfalecendo e se tornando raridade no mundo contemporâneo”. Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 26 No parágrafo final, ele utiliza palavras sinônimas do mesmo campo semântico e reafirma a tese. Ou seja, ele resume e repete as informações mais importantes do que foi discutido. 4.1. A relação entre introdução e conclusão no Enem No Enem, a coisa muda de figura. Por causa da exigência de proposta de intervenção, a conclusão basicamente retoma somente o tema que deve ter sido inserido na introdução, pois é para isso que ela serve. Algumas redações nota 1000, de 2018, foram publicadas em vários sites. Escolhi uma delas, selecionei a introdução e a conclusão para analisar a relação entre essas partes do texto. Texto de André Bahia (18 anos), Janaúba – MG Introdução Segundo Steve Jobs, um dos fundadores da empresa “Apple”, a tecnologia move o mundo. Contudo, os avanços tecnológicos não trouxeram apenas avanços à sociedade, uma vez que bilhões de pessoas sofrem a manipulação oriunda do acesso aos seus dados no uso da internet. Nesse sentido, esse processo é executado por empresas que buscam potencializar a notoriedade dos seus produtos e conteúdos no meio virtual. Sob tal ótica, esse cenário desrespeita princípios importantes da vida social, a saber, a liberdade e a privacidade. Conclusão Em suma, são necessárias medidas que atenuem a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet. Logo, a fim de dar liberdade de escolha ao indivíduo, cabe às empresas de tecnologia solicitar a autorização para o uso dessas informações, por meio de advertências com linguagem clara, tendo em vista a linguagem técnica utilizada, atualmente, por avisos do tipo. Ademais, compete ao cidadão ficar atento a essa questão, de modo a cobrar e pressionar essas empresas.Enfim, a partir dessas ações, as tecnologias, como disse Steve Jobs, moverão o mundo para frente. 5. Introdução e Máscara Frase que introduz o tema, associada à tese, a internet trouxe também manipulação Retomada da ideia principal anunciada na introdução Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 27 A redação do Enem tem uma estrutura bastante “engessada”, repeti isso várias vezes ao longo dos pdfs. Há nisso algo de bom para o candidato. No quesito estrutura, a Banca não vai surpreender você, mudando as regras do jogo. Além disso, ao longo desses anos, tanto a Banca foi adotando critérios padronizados para a correção, quanto os alunos foram desenvolvendo uma estrutura dissertativa que parece ser bastante exitosa nos exames. Isso gerou a procura pela estrutura nota 1000, que frequentemente é chamada de “máscara”. Trata-se de um esquema vazado, ou seja, um esquema composto com conectivos e algumas citações que podem ser decorados e exigem que você simplesmente preencha os espaços vazios. Vamos supor que eu transforme o primeiro parágrafo do texto acima, do candidato de Janaúba, numa máscara de introdução, como ficaria? Segundo (nome do pensador e o que ele disse, deve ser um ideia otimista em relação à internet).............................................Contudo, (agora você apresenta o tema, destacando a problemática)..........................................Nesse sentido, (desenvolva como o problema ocorre).....................................Sob tal ótica (agora destaque qual é o problema desse procedimento)................ Vamos supor que agora o tema seja outro, a participação dos jovens na política. Como eu poderia fazer essa introdução? Segundo Aristóteles, o homem é um ser social, isso significa também que a política é inerente a própria relação do homem com outros homens na construção de uma sociedade harmoniosa. Contudo, os jovens de hoje parecem reticentes em relação à política considerando uma área que não é de seu interesse. Nesse sentido, a ideia de que política é sinônimo de corrupção parece contribuir muito para essa perspectiva. Sob tal ótica, tais jovens se afastam justamente da área da ação humana cujas decisões poderão tornar o mundo futuro melhor ou pior para essas novas gerações. Essa ideia de fórmula mágica, como uma espécie de cálice sagrado que, por mágica, tornaria qualquer redação um texto nota 1000 se espalhou pela internet. É comum uma busca quase insana pela “MÁSCARA ‘Afinal, você deve ter reparado que o esquema sem o domínio de repertório (você deve saber falar sobre Aristóteles, por exemplo) e sem um bom vocabulário não resolve muito. Só a título de exemplo, imaginei alguém que se valesse do mesmo esquema, mas sem tanto preparo. Segundo um pensador grego, a política é a coisa mais importante para o homem naquilo que é da convivência. Contudo, os jovens não querem nem saber de político, não estão nem aí para o que acontece no país, por causa da falta de conhecimento. Nesse sentido, acham que político é tudo corrupto e não gostam de se informarem, só passam o dia inteiro na internet. Sob tal ótica, tais jovens agem de forma irresponsável , pois não ligam para os políticos e eles fazem o que querem. Fi gu ra 5 : P ix ab ay Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 28 Isso aí, corujinha arguta. É como se eu dissesse, faça uma operação matemática, eu te dou o esquema: Aí, você pega o esquema e preenche da seguinte forma 2+2=5. Não dá, né? Na verdade, a máscara pode até ajudá-lo, mas ela não substitui a preparação, o exercício com a linguagem, o desenvolvimento da sua capacidade intelectual de fazer ligações entre ideias, a capacidade de perceber quando uma ideia é coerente ou não etc. No final do curso, quando já tivermos considerado todas as partes do texto e tudo o que é necessário para escrever bem, discutirei alguns desses esquemas e quais podem funcionar. Por ora, essa ideia de máscara vai nos ajudar a elaborar introduções. O que interessa nesse momento, é perceber qual foi o esquema que a maioria dos alunos utilizaram para fazer as introduções das redações mais valorizadas pela banca. Nesse caso, debrucei-me sobre as 31 redações publicadas na internet sobre o tema da manipulação de dados e, a partir deles, vamos considerar juntos as introduções mais comuns no Enem. 5.1 Estatísticas Bom, vamos começar pelas estratégias. As duas mais utilizadas foram a citação e a analogia. No caso da analogia os candidatos utilizaram filmes (“Matrix” e “Jogo da Imitação”), série (“Black Mirror”) e romances (“1984” e “Admirável Mudo Novo”). Esse número alto de analogia explica-se pelo tema ligado à internet, mote para muitos filmes atuais. No caso da citação, obviamente estiveram presentes filósofos (a maioria) e sociólogos. No caso, do percurso histórico, o mais comum foi mostrar como a internet se desenvolveu, ou aproximar o fenômeno de manipulação a algo que aconteceu no passado, por exemplo na era Vargas. Chamou-me a atenção uma redaçãoem especial que apresentava uma frase típica de máscara. A primeira frase era “A Revolução Técnico-Científico-Informacional, iniciada na segunda metade do século XX, inaugurou inúmeros avanços no setor de informática e telecomunicações.” Ela faz referência a um processo histórico, mas é bastante vaga de tal forma que o escritor depois disso pode falar de muitos assuntos, financeirização da econômica através da revolução tecnológica, relações humanas depois do mundo virtual, o engajamento político virtual etc. E por último, vale a pena considerar o que chamei de descrição. Foram introduções mais simples e mais curtas também que descreviam a internet e a manipulação dos dados numa espécie de paráfrase bem feita e curta. Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 29 Além dessas estratégias gerais, eu observei a recorrência de uma estrutura de oposição logo na introdução. O autor citava um filósofo que defendia a autonomia (Kant por exemplo), para depois introdução através de um conectivo adversativo a ideia contrária, ou seja, que a manipulação de dados vai contra esse ideal. Acredito que isso tenha a ver com aquilo que já discutimos antes. A lógica da prova do Enem é opor um mundo idealizado que serve como referência para as políticas públicas e o mundo real. Em outros casos, deu para perceber que se tratava de um esquema decorado que o candidato tentava a todo custo preencher. Vou dar um exemplo, leia a introdução abaixo e observe o uso do conectivo de oposição. A obra musical "Admirável Chip Novo", da cantora Pitty, retrata a manipulação das ações humanas em razão do uso das tecnologias, que findam por influenciar o comportamento dos indivíduos. Não obstante, tal questão transcende a arte e mostra-se presente na realidade brasileira 76 através da filtragem de dados na internet e sua utilização como ferramenta de determinação de atitudes... Considerando cada um dos temas e a ocorrência entre a mescla dos dois recursos, o escolhido pelo candidato e a oposição, teríamos o seguinte gráfico. 36% 35% 25% 4% ESTRATÉGIAS Citação Analogia Percurso Histórico Descrição Esse “não obstante” não faz sentido, poderia ser suprimido, pois o que acontece é similar ao que é dito na música. Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 30 6. Treino Bem agora, chegou a hora de você treinar a introdução. Vou considerar cada uma das 4 estratégias e propor que você faça uma ou duas introduções sobre o tema escolhido, a proposta do Enem 2016, segunda aplicação. ENEM 2016 – Segunda aplicação INSTRUÇÕES PARA A REDAÇÃO • O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado. • O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas. • A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção. Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que: • tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada “texto insuficiente”. • fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo. • apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos. • apresentar parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Citação Analogia Percurso Histórico Descrição Título do Gráfico Estratégia Estratégia + contradição Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 31 TEXTOS MOTIVADORES TEXTO I Ascendendo à condição de trabalhador livre, antes ou depois da abolição, o negro se via jungido a novas formas de exploração que, embora melhores que a escravidão, só lhe permitiam integrar-se na sociedade e no mundo cultural, que se tornaram seus, na condição de um subproletariado compelido ao exercício de seu antigo papel, que continuava sendo principalmente o de animal de serviço. [...] As taxas de analfabetismo, de criminalidade e de mortalidade dos negros são, por isso, as mais elevadas, refletindo o fracasso da sociedade brasileira em cumprir, na prática, seu ideal professado de uma democracia racial que integrasse o negro na condição de cidadão indiferenciado dos demais. RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995 (fragmento). Texto II LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989 Define os crimes de resultantes de preconceito de raça ou de cor Art 1º – Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminalização ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Disponível em: www.planalto.gov.br - Acesso em: 25 maio 2016. Fragmento) Texto IV O que são ações afirmativas Ações afirmativas são políticas públicas feitas pelo governo ou pela iniciativa privada com o objetivo de corrigir desigualdades raciais presentes na sociedade, acumuladas ao longo de anos. Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 32 Uma ação afirmativa busca oferecer igualdade de oportunidades a todos. As ações afirmativas podem ser de três tipos: com o objetivo de reverter a representação negativa; para promover igualdade de oportunidades; e para combater o preconceito e o racismo. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que as ações afirmativas são constitucionais e políticas essenciais para a redução de desigualdades e discriminações existentes no país. No Brasil, as ações afirmativas integram uma agenda de combate à herança histórica de escravidão, segregação racial e racismo contra a população negra. (Disponível em: www.seppir.gov.br – Acesso em: 25 maio 2016. Fragmento). Proposta de redação A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema "Caminhos para combater o racismo no Brasil", apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Vou sugerir para cada exercício o uso de uma máscara. Ela não é obrigatória e você pode se valer de sinônimos. Lembre-se: esse é um treino de imitação. Tendo observado os modelos, proponho que você faça algo parecido. Mas lembre-se de que em redação outros caminhos são possíveis, eu diria, muitos outros caminhos. Ah, vou dar sugestões, mas pesquise também. Isso vai aumentar seu repertório. 6.1 Citação A técnica nesse caso é simples. Há alguns formatos próprios para isso. ✓ Segundo o filósofo “x”, a seguir você coloca a frase dele. ✓ Começar pela frase do pensador e depois acrescentar, isso foi dito por “x”. ✓ O pensador “x” viveu no século “y”, numa época em que se discutia de forma geral esse tema. É dele a frase.... Pensador , a legislação O que se disse Primeira frase Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 33 Lembre-se de que para nós, a legislação também é uma autoridade e pode ser citada, e a parte que interessa da lei encontra-se na coletânea. Q.1 Citação e conformidade Faça uma introdução com uma citação em que um filósofo, um sociólogo, um depoimento de algum negro de projeção (um artista, por exemplo), mas vale também o senso comum, já que tal frase por si só já manifesta racismo o que permite discutir o tema. A seguir introduza o tema segundo a máscara abaixo. Segundo (nomeda pessoa e o que ele disse, deve ser alguém que reconhece o racismo no Brasil).............................................Esse autor manifesta uma constante na sociedade brasileira, (agora você apresenta o tema, destacando a problemática)..........................................Nesse sentido, (desenvolva como o problema ocorre).....................................Sob tal ótica (agora destaque qual é o problema desse ação)................ Sugestões ilustrativas e motivadoras -Senso comum: você é um negro de alma branca. -Personagem histórica: “A discriminação dos negros está presente em cada momento das suas vidas para lembrá-los que a inferioridade é uma mentira que só aceita como verdadeira a sociedade que os domina”. (Martin Luther King) -Celebridade: “"O negro brasileiro sofre preconceito diariamente" (Thaís Araujo, atriz global). Q.2 Citação e oposição Faça uma introdução com uma citação em que um filósofo, um sociólogo que expresse algo geral, defendendo a igualdade entre os homens, a seguir mostre que não é isso que acontece no Brasil. Segundo (nome do pensador e o que ele disse, deve ser uma ideia otimista em relação à internet).............................................Contudo, (agora você apresenta o tema, destacando a problemática)..........................................Nesse sentido, (desenvolva como o problema ocorre).....................................Sob tal ótica (agora destaque qual é o problema desse procedimento)................ Sugestões ilustrativas e motivadoras Filósofo: “Toda a humanidade aprende que, sendo todos iguais e independentes, ninguém deve lesar o outro em sua vida, sua saúde, sua liberdade ou seus bens.” (Locke) Filósofo: “Liberdade não é poder escolher entre preto e branco, mas sim abominar este tipo de propostas de escolha.”(Adorno) Filósofo: “A força fez os primeiros escravos, a sua covardia perpetuou-os.” (Jean-Jacques Rousseau) Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 34 Direito: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” (Declaração dos Direitos Humanos, ONU) Direito: O artigo de lei da coletânea. 6.2 Analogia Vamos considerar aqui a analogia com filmes, músicas, romances e séries. É importante, nesse caso, que você saiba escolher exatamente a cena que pode se encaixar no que você destacará a seguir. Por exemplo, quando eu penso em racismo, sempre me vem a mente duas cenas envolvendo o negro Prudêncio de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Se for adotar essa técnica, devo escolher a cena que melhor me permite introduzir o tema racismo. Devo considerar adequadamente como vou descrevê-la e o que vou destacar logo em seguida. A título de exemplo, escrevi a seguinte introdução: Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, observa-se uma cena que diz muito sobre o Brasil. O protagonista, quando criança, tinha como um cavalo de brinquedo um menino negro chamado Prudência. Ele colocava arreio no garoto, subia em cima e o chamava de besta. Os tempos mudaram, os negros se fizeram respeitar, mas ainda hoje no Brasil, costumes arraigados de menosprezo ao negro permanecem na cultura. Na busca de uma sociedade mais harmônica, não é possível que restos dos séculos da escravidão ainda permaneçam entre nós. A estrutura desse tipo de introdução é mais complicada. Há dois jeitos de você começar a analogia. ✓ Fazer um resumo já estabelecendo a relação com o tema de forma geral: “Memórias Póstumas de Brás Cubas retrata muito bem a origem do racismo brasileiro. ✓ Contar primeiro a cena para depois fazer essa relação. Nos dois casos, observe que a cena escolhida deve ser descrita com cuidado. Um trecho simples, como “Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, discute-se o racismo na cena do Prudêncio” tem pouca valor atrativo. Q.3 Analogia e conformidade Nome da obra, autor etc Narração da cena escolhida Estabelecer a relação com o tema Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 35 Faça uma introdução comparativa com um filme, música, romance ou série. A história escolhida deve manifestar racismo. A seguir introduza o tema segundo a máscara abaixo. A obra “x” retrata muito bem a questão do racismo. O protagonista, em determinado momento (descreva a cena ou faça um resumo da narrativa, com detalhes).................................Guardadas as devidas diferenças, essa história parece refletir no acontece, hoje no Brasil. (Descreva a temática)....................... Nesse contexto, (agora destaque qual é o problema desse ação)................ Sugestões ilustrativas e motivadoras Literatura: Clara dos Anjos de Lima Barreto. Filmes: “A cor púrpura”, “12 anos de Escravidão”. “Histórias Cruzadas”, “Branco saí, preto fica”. Q.3 Analogia e oposição Faça uma introdução comparativa com um filme, música, romance ou série. A história escolhida deve manifestar um ideal, uma peça de harmonia entre brancos e negros. A seguir introduza o tema segundo a máscara abaixo. Na série “x”, as relações entre negros e brancos parecem harmônicas. O protagonista vive uma relação (resuma com detalhes o que ocorre no filme ou série)............................... Contudo, (agora você apresenta o tema, destacando a problemática)..........................................Nesse sentido, (desenvolva como o problema ocorre).....................................Contrastando essas duas situações (agora destaque qual é o problema desse procedimento)..................... Sugestões ilustrativas e motivadoras Essa proposta é mais desafiante, porque você deve encontrar algo que mostre relações harmônicas entre negros e brancos. Música: A música “Negro é lindo” de Jorge Bem (para introduzir uma música, você deve fazer as adaptações necessárias) Qualquer série ou filme americano que tenha como protagonistas negros que parecem não sofrer preconceito. 6.3 Percurso histórico Esse tipo de introdução se apresenta de forma mais variada, pois depende muito do episódio histórico que você selecionou. Pode ser algo mais geral, por exemplo, “desde a revolução Professor Fernando Andrade Aula 02: Enem Aula 02 —Introdução www.estrategiavestibulares.com.br 36 tecnológica começada na década de 1980...”, até episódios mais detalhados. Nesse caso, uma máscara não faz muito sentido. É possível dar algumas sugestões. ✓ Ao começar a desenvolver essa sequência discursiva, apresente, se possível, tempo e espaço ✓ Não siga uma linha histórica muito longa. ✓ Não se esqueça de fazer a relação entre o episódio histórico e o tema. ✓ Deixe claro par ao leito os dois momentos: passado e presente. Q.3 Percurso histórico e conformidade Faça uma introdução histórica mostrando como os negros foram humilhados no Brasil, isso permite destacar uma certa continuidade. Depois de destacar o problema do racismo, apresente uma frase final que, de alguma forma, você deixe claro que tal situação não pode continuar. Sugestões ilustrativas e motivadoras - A libertação dos escravos e sua consequência (libertos sem qualquer apoio do Estado). - A visão que os Republicanos positivistas tinham dos negros (lembrar as ideias dos positivistas). -A história da colonização europeia e a crença em povos inferiores. -A história particular de qualquer pessoa de destaque negra que no passado enfrentou muito preconceito: Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Sousa etc. Q.4 Percurso histórico e oposição Faça uma introdução histórica considerando alguma luta por igualdade no mundo e suas consequências para destacar a diferença com o Brasil. Sugestões ilustrativas e
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