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CADERNO DE DIREITO CONSTITUCIONAL
 
 
 
 
 
 	ÍNDICE 
 	 
 (clique no capítulo 
 desejado para ir diretamente até ele)
 
	 
 INTRODUÇÃO
 	Direito 
 Constitucional e Constituição - Conceito, objeto, Conteúdo E Fontes 
 Do Direito Constitucional
	 
 Capítulo 
 I
 
	Direitos, 
 deveres e garantias fundamentais constantes no artigo 5º da Constituição 
 Federal brasileira de 1988
	 
 Capítulo 
 II
 
	Direitos 
 trabalhistas, sindicais e sociais
	 
 Capítulo 
 III
 
	Direitos 
 relativos à nacionalidade, direitos políticos e partidos políticos
	 
 Capítulo 
 IV
 
	Da 
 organização política e administrativa do estado e da divisão de competências
	 
 Capítulo 
 V 
 
	Da 
 organização dos poderes e da divisão de competências e funções
	 
 Capítulo 
 VI - 
 
	Da 
 defesa do Estado e das instituições democráticas. As intervenções
	 
 Capítulo 
 VII - 
 
	Da 
 tributação e do orçamento
	 
 Capítulo 
 VIII - 
 
	Da 
 ordem econômica e financeira e da ordem social
 
 
 
 
 
 	
 INTRODUÇÃO
	
 • Conceito
 	
 Como falar em Direito
 Constitucional sem antes relembrarmos o que é o Direito? Segundo as
 noções mais básicas, mais primárias, temos que o Direito é um sistema
 de comandos, de normas impositivas, obrigatórias, que orientam os homens
 que vivem em sociedade e que são acompanhadas de sanções para o caso de
 eventual não-cumprimento das mesmas. Esse complexo conjunto de regras
 impostas aos indivíduos (que se denomina ordenamento jurídico do Estado)
 possui caráter de universalidade e de generalidade, sendo emanado dos
 órgãos competentes, segundo os ditames da Constituição.
	
 Relembradas estas
 obviedades, já podemos falar especificamente a respeito do Direito
 Constitucional.
	
 Tendo firmado-se como
 disciplina acadêmica autônoma em 1834, na Faculdade de Direito de Paris,
 o Direito Constitucional é o principal ramo do Direito Público Interno
 que estuda a lei definidora e regulamentadora da estrutura
 jurídico-política de um Estado; esta norma fundacional do Estado recebe
 o nome genérico de Constituição. Na órbita do Direito Constitucional
 gravitam todos os demais ramos do Direito Público1 (Direito
 Administrativo, Penal, Tributário, Financeiro, Processual, Internacional
 Público e Privado, Econômico, Urbanístico, Militar, Eleitoral,
 Marítimo) e também do Direito Privado2 (Civil, Comercial), bem como
 daquelas áreas do Direito tidas como Direito Social ou Misto (Direito do
 Trabalho e Direito Previdenciário). Quer dizer, o Direito Constitucional
 é a base, é o fundamento, o tronco de todos os demais ramos do Direito.
	
 Para o constitucionalista
 pátrio José Afonso da Silva, o Direito Constitucional é o ramo do
 Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e
 normas fundamentadoras do Estado (1997, p. 38).
	
 Aqui é pertinente
 fazermos uma observação: de todas as disciplinas jurídicas, a de
 Direito Constitucional é a menos jurídica! E justamente pela influência
 que recebe dos fatores sociológicos e políticos, presta-se a análises
 conjunturais, pois, do contrário, não seria possível abordar amplamente
 o fenômeno Estado ou, conforme Pedro Salvetti Netto (1975, p. 11), sem
 aqueles fatores não se explica a organização e a estrutura do Estado,
 ainda que formalizada em um código de leis. É a disciplina que mais
 próxima está da Ciência Política. Em função disso, Maurice Duverger
 nos passa a lição de que o estudo do Direito Constitucional não deve
 limitar-se tão somente a uma análise jurídica das instituições
 políticas, mas abarcar também aquelas instituições que o Direito
 ignora, mais ou menos completamente, como os partidos políticos, a
 imprensa, a propaganda, os grupos de pressão, etc. E, para além disso, o
 estudo isolado do fenômeno político sob o único prisma do fenômeno
 jurídico também deixa de oferecer a visão completa da organização da
 sociedade política, da criação e do exercício do poder político.
	
 • Objeto do Direito
 Constitucional
	
 O objeto de estudo do
 Direito Constitucional é a própria Constituição. Antecipamos que o
 conceito de Constituição abrange tanto normas (estas sempre escritas)
 quanto princípios constitucionais (sendo que estes podem ser escritos e
 também, eventualmente, não-escritos).
	
 • Conteúdo do Direito
 Constitucional
	
 A disciplina Direito
 Constitucional subdivide-se em Direito Constitucional Geral ou Teoria
 Constitucional, Direito Constitucional Positivo, Particular ou Especial, e
 Direito Constitucional Comparado. Ressaltamos de antemão, no entanto, que
 nenhuma destas três subdivisões sobrevive ou é estudada puramente, de
 maneira rigorosamente isolada; o que há é uma interpenetração dos
 conteúdos. Dito isto vemos, a seguir, a que se referem e o conteúdo
 científico abrangido por cada uma destas subdivisões:
	
 Direito Constitucional
 Geral ou Teoria Constitucional - como já diz o nome, nesta matéria
 tratam-se das teorias gerais constitucionais, aquelas que podem ser
 utilizadas como instrumento de análise de qualquer ordenamento jurídico
 constitucional, que podem ser aplicadas em relação a qualquer
 Constituição. É a disciplina que fornece os parâmetros para a
 interpretação das Constituições, que classifica as normas
 constitucionais, que diz de quem é a titularidade do poder constituinte
 originário, etc.
	
 Direito Constitucional
 Positivo, Particular ou Especial - trata especificamente do Direito de um
 determinado Estado, ou seja, estuda a organização e o funcionamento dos
 poderes constitucionais específicos. É disciplina que pertence ao
 Direito Positivo, ao Direito posto de um dado Estado, tendo por objeto a
 análise e a interpretação de sua Constituição, de forma tanto
 dogmática quanto jurisprudencial.
	
 Direito Constitucional
 Comparado - tem por objeto de estudo várias Constituições, e não
 apenas uma, como o faz o Direito Constitucional Positivo. Podem ser feitos
 estudos comparativos entre as Constituições de um mesmo Estado,
 usando-se o critério da confrontação temporal para verificar as
 evoluções ou os retrocessos constitucionais, assim como se podem
 realizar estudos comparativos do Direito Constitucional no espaço, com a
 análise das Constituições de vários Estados. Esta segunda
 possibilidade, qual seja, a comparação do Direito Constitucional
 nacional com o Direito Constitucional estrangeiro, tem merecido mais larga
 aplicação pelos estudiosos. O grande mestre italiano, Biscaretti di
 Ruffia (1975, p. 13) esclarece que, servindo-se do método comparativo, ao
 comparar os vários textos constitucionais, do presente e do passado,
 tem-se o propósito de pôr em evidência, além das características mais
 significativas, as semelhanças e as diferenças entre os ordenamentos
 constitucionais. Em geral, no entanto, realizar estudos comparativos não
 é atividade comum em cursos de graduação, e sim nos de
 pós-graduação, até porque muitas vezes exige o conhecimento de vários
 outros idiomas.
	
 • Fontes do Direito
 Constitucional
	
 Seguindo os ensinamentos
 do constitucionalista pátrio Paulo Bonavides (1996, p. 36), a partir de
 Xifra Heras e Biscaretti di Ruffia,
tem-se que as fontes aparecem como
 "formas de manifestação" da norma jurídica constitucional,
 assumindo duas modalidades:
	
 Fontes escritas: estas
 abrangem as leis constitucionais propriamente ditas; as leis
 complementares ou regulamentares (que servem para auxiliar a aplicação
 das Constituições); as prescrições administrativas, contidas em
 regulamentos e decretos, de importância para o Direito Constitucional,
 desde que o governo tenha entrado no exercício da delegação
 legislativa; os regimentos das Casas do Poder Legislativo, ou do órgão
 máximo do Poder Judiciário; os tratados internacionais; as normas de
 Direito Canônico; a legislação estrangeira; as resoluções da
 comunidade internacional dadas pelos seus órgãos representativos, sempre
 que o Estado as aprovar ou reconhecer internamente; a jurisprudência e a
 doutrina, sendo que esta última é, na verdade, fonte
 "auxiliar", funcionando como técnica de
 "conhecimento" das normas constitucionais e não de criação
 destas.
	
 Fontes não-escritas: os
 usos e os costumes constitucionais. Estes, de enorme importância para o
 Direito Constitucional, são de criação pública e baseados no
 consentimento tácito que o uso reiterado autoriza. Aqueles, possuem maior
 relevância nos países desprovidos de Constituições escritas ou que, em
 as possuindo, têm-nas em textos sumários; na Inglaterra, por exemplo,
 certos usos constituem matérias constitucionais de fundamental
 importância, o mesmo ocorrendo nos Estados Unidos.
	
 2 Um Intróito
 Necessário: Histórico Evolutivo Do Estado E Do Constitucionalismo
	
 2.1 Delimitação dos
 conceitos de Estado e de Estado Constitucional de Direito
	
 Como a Constituição
 "cria" toda a estrutura político-jurídico-administrativa e
 confere a vocação ideológica de um Estado, não podemos estudá-la
 dissociada deste. Assim, necessário faz-se um exame preliminar da
 natureza e das principais características do Estado, o que podemos
 brevemente fazer por meio do resgate de suas fases históricas. É muito
 provável que os alunos já tenham visto algo do que agora trataremos em
 Ciência Política; ainda assim, válido é retomar.
	
 Mas, de início, faz-se
 necessário delimitarmos o entendimento acerca de duas categorias
 fundamentais para este estudo, quais sejam, Estado e Estado Constitucional
 de Direito.
	
 Em primeiro lugar, o que
 entendemos por Estado?
	
 Trazemos um conceito de
 Estado dado por Max Weber, para quem o Estado é o detentor do monopólio
 da força legítima, isto é, do monopólio da Justiça (punição), da
 cobrança de tributos fiscais, de cunhar moeda, etc. Verdadeiramente, um
 dos mais antigos preceitos da Filosofia Política diz que o Estado tem o
 monopólio do uso da força, isto é, apenas o poder público pode usar a
 violência (e mesmo assim, na medida necessária) para garantir o
 cumprimento da lei e evitar que surja a guerra de todos contra todos.
 Logo, o Estado é a Instituição com poderes para organizar a sociedade
 em um dado território, coercitivamente, isto é, para disciplinar o
 convívio social humano através do Direito, por meio de normas jurídicas
 obrigatórias, acompanhadas de sanções.
	
 Já quanto ao caráter a
 um só tempo abstrato e concreto do Estado, Georges Burdeau nos diz que
 "ninguém jamais viu o Estado, porém, quem se atreveria a negar sua
 existência?"
	
 E Estado Constitucional
 de Direito, o que é? É o Estado limitado pelo Direito, cujo poder se
 baseia no respeito a uma Constituição, que o auto-limita. Este Estado
 foi o resultado dos processos revolucionários dos séculos XVII e XVIII,
 marcado pela preocupação com a limitação do poder soberano,
 significando o reconhecimento, ao indivíduo, de uma esfera de liberdade
 intangível pelo próprio Estado.
	
 2.2 Estado - Histórico
 de sua formação
	
 Procuramos, neste item,
 reconstruir minimamente os vários tipos de Estado e suas fases
 históricas correspondentes, para que os alunos possam facilmente
 localizá-los, conforme os contextos históricos que serão referidos ao
 longo desta obra. É importante frisar que o Estado, como o conhecemos, é
 uma invenção moderna, que adveio com o surgimento dos grandes
 Estados-Nações, mas mesmo assim é importante que se tenha uma visão
 panorâmica de como se organizava o poder político desde a Antigüidade
 Clássica.
	
 a) Antigüidade
 Clássica. Estados Escravistas
	
 Caracterizava-se a
 organização política da Antigüidade Clássica pela multiplicidade de
 Cidades-Estados gregas (polis), tais como Atenas, Esparta, Tebas, Cartago,
 Itaca, e pela Civitas Romana, que era um Estado-Cidade. Todos eram, de
 regra, Estados de tipo escravistas.
	
 b) Feudalismo. Europa
 Medieval. Estado Feudal
	
 O Feudalismo foi o
 sistema social que vigiu na Europa durante quase toda a Idade Média.
 Nele, os Estados eram caracterizados pela debilidade do poder central e
 pela dispersão do poder público entre inúmeros senhores feudais, para
 os quais o exercício da função estatal confundia-se com o interesse
 privado. A principal característica do Estado feudal era, portanto, a
 fragmentação da autoridade. Cada feudo fazia as vezes de um Estado
 (exatamente porque todas as tarefas e funções hoje centralizadas no
 Estado eram realizadas por cada feudo, eis que possuíam poder local
 autônomo economicamente, exércitos próprios, aparelhos jurídicos -
 prisões e tribunais -, tributação e administração próprias, etc.) e,
 assim, o poder era fragmentado. O Estado em si era descentralizado em
 relação ao Rei (este revelava-se fictício, submisso ao Papa, verdadeiro
 poder temporal e representante do poder espiritual na Terra). Para o
 declínio do sistema feudal contribuiu o início das Grandes Navegações
 (o que originou a fase "metalista" do mercantilismo, ou seja,
 país rico seria aquele que lograsse possuir metal precioso) e o
 conseqüente comércio de especiarias, sedas e outras mercadorias, o que
 deu destaque aos mercadores e artesãos e fez cair radicalmente o preço
 da terra. Com a desvalorização fundiária, as pestes, as guerras
 internas entre senhores feudais, tomou força a evasão dos servos para os
 "burgos", dando origem à incipiente burguesia, a qual, em pouco
 tempo, passou a ter a proeminência econômica. Mas faltava-lhe a
 centralização econômica total, o que passava pela centralização do
 poder político, notadamente para destruir alguns obstáculos às suas
 atividades, como por exemplo a necessidade de pagar tributos aos feudos
 para transportar as mercadorias de um burgo para outro, a falta de um
 exército nacional, a necessidade de moeda única, etc. E, assim, em fins
 da Idade Média e primórdios da Idade Moderna, essa mesma burguesia
 aliou-se ao Rei para absolutizar o poder na figura deste. Para isso,
 contribuiu também o inicial esclarecimento das pessoas por meio da
 invenção da imprensa, em 1440, por Gutemberg, a apologia do Absolutismo
 Monárquico feita por Thomas Hobbes (que viveu de 1588 a 1679), já que,
 para ele, os homens eram maus por natureza (lobos entre si) e, para evitar
 um estado de permanente violência, o poder deveria ser centralizado no
 monarca; após, também contribuiu a nova ideologia nacionalista
 pró-unificação dos Estados Nacionais, desenvolvida pelo florentino
 Maquiavel (1469-1527), em seu famoso livro "O Príncipe",
 escrito em 1513. Maquiavel, que foi o primeiro grande pensador da Idade
 Moderna, inclusive desprezava o pensamento deísta da Idade Média e
 proclamava
que a origem do poder não era divina, mas se encontrava na
 força.
	 
	
 c) Idade Moderna. Estado
 Absolutista ou Absolutismo Monárquico
	
 Por fim o Rei, aliado à
 burguesia, cumpriu a tarefa de unificar o Estado e passou a governar de
 forma absoluta, tendo sido o francês Luis XIV o paradigma dos monarcas
 absolutistas (foi ele, o Rei Sol, que proferiu a célebre frase L'État c'est
 moi: "o Estado sou eu"), revelando a completa identificação
 entre o Rei e o Estado. O poder centralizado nas mãos do monarca
 substituiu de vez a fragmentação da autoridade que caracterizava o
 Estado medieval. Como já adiantado anteriormente, o filósofo moderno
 Thomas Hobbes representava o reacionarismo, o totalitarismo, o domínio do
 indivíduo pelo Estado, representado este pela figura do Leviatã, que
 serviu de nome à sua obra fundamental.
	
 Hobbes defendia, então,
 a teoria do Governo Absoluto, e é por isso que nestes Estados Absolutos
 Unificados, os direitos do homem enquanto indivíduo não tinham
 condições de ser exigidos, pois, na verdade, eram os habitantes do reino
 apenas "súditos" e não titulares de direitos. Aliás, não
 havia um Estado de Direito, e sim algumas tolerâncias por parte do
 monarca, em um regime de privilégios, sendo que estes poderiam a qualquer
 momento ser violados ou derrogados pelo próprio monarca, conforme sua
 única e exclusiva vontade.
	
 No Absolutismo
 Monárquico (muitas vezes "Despotismo Esclarecido"), tinha-se
 como base e justificativa dos mandos e desmandos o Poder Divino dos Reis,
 e assim fazia-se o "Pacto Social", pelo qual os súditos
 contratavam a própria submissão perante o Estado. Para além disso, a
 burguesia, que havia lutado pela unificação dos Estados Nacionais, ficou
 de fora do poder político, da gestão pública, pois o monarca, na hora
 de compor sua corte, não deu lugar de destaque aos burgueses, indo buscar
 os membros nos antigos feudos, isto é, na aristocracia. Descontente com
 este estado de coisas, a burguesia decide tomar de assalto aquele mesmo
 poder que ajudou a construir e investe contra o Rei. A partir daí vêm os
 desdobramentos da Revolução Francesa, o que pode ser visto com bastante
 didática em análises ao filme "Danton", que consegue recriar a
 época em que se bradava a "morte ao Rei"!
	
 Ressaltamos que John
 Locke (que viveu de 1632 a 1704) foi, juntamente com Hobbes, o outro
 grande filósofo da época moderna, porém, de idéias contrárias,
 movidos por espíritos diferentes, já que Hobbes era absolutista e Locke
 anti-absolutista. Aqui importa frisar que Locke, inspirado no liberalismo
 inglês, advogou o regime de liberdade individual e de equilíbrio
 político, procurando proteger o homem contra os abusos do Estado e os
 abusos do poder. Sua obra fundamental recebe o nome de "Dois Ensaios
 sobre o Governo Civil" e nela vamos encontrar a filosofia política
 do princípio de Liberdade, de equilíbrio, que constitui a base do Regime
 Democrático. Para ele, o pressuposto da liberdade era a propriedade.
	 
	
 d) Início da Idade
 Contemporânea. Estado Liberal Clássico, Gendarme (Estado Polícia,
 Estado Segurança ou Estado Guarda-Noturno), Não-interventor
	
 No início da Idade
 Contemporânea, outro discurso passa a justificar e a fundamentar o
 exercício do poder político: da teoria da Soberania Divina dos Reis
 passa-se à teoria da Soberania Popular, tendo para isso contribuído as
 formulações teóricas de grandes ideólogos, com destaque para John
 Locke, Jean-Jacques Rousseau, Montesquieu (que viveu de 1678 a 1755) e
 Emmanuel Joseph Sieyès. Para derrubar a Teoria do Direito Divino dos
 Reis, Rousseau apregoava que o soberano não era o representante de Deus
 na terra, mas que deveria ser o representante do povo. Assim, a soberania
 popular seria a expressão da vontade soberana de todos os homens,
 considerados livres e iguais por natureza. Nascem aí os Estados
 Constitucionais limitados pelo Direito. Do mesmo modo, o famoso abade
 Sieyès (que será melhor estudado quando formos tratar do Poder
 Constituinte Originário) havia lançado, com seis meses de antecedência
 à Revolução Francesa, a sua não menos famosa obra "Que é o
 Terceiro Estado?", que acabou se traduzindo na grande palavra de
 ordem destruidora da monarquia tradicional, isto é, do Antigo Regime.
 Para Sieyès, o Terceiro Estado representava a Nação, entidade abstrata
 e indefinível, mas que se concretizava na representação do povo e da
 burguesia. E a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, acolhendo
 as teorias de Sieyès, enunciou solenemente: "O princípio de toda
 soberania reside essencialmente na nação". Passou a ser a nação,
 por conseguinte, titular do poder supremo.
	
 Para os ideólogos da
 burguesia revolucionária o Estado era uma criação da sociedade civil,
 devendo a ela subordinar-se e somente teria legitimidade o Estado que
 fosse representativo, isto é, cujos órgãos dirigentes fossem eleitos
 pelos cidadãos.
	
 Este modelo de Estado dos
 primórdios da Idade Contemporânea, isto é, logo após os feitos
 revolucionários franceses de 1789, passou a receber a designação de
 Estado Gendarme, isto é, aquele Estado que apenas fazia as vezes de um
 "Guarda Noturno", no sentido de que se limitava a policiar a
 ordem pública, ou seja, era não-intervencionista. É este o Estado
 Liberal Clássico: aquele que governa e administra, porém não interfere
 nas atividades econômicas privadas, nas relações contratuais dos
 indivíduos, deixando isso para a "mão invisível do mercado".
 Diz-se liberal clássico porque foi centrado no valor
 "liberdade", isto é, garantia a ampla liberdade dos cidadãos
 perante seu poder, especialmente em relação à propriedade privada.
 Naquele contexto, o aforismo econômico laissez faire, laissez passer
 (deixai fazer, deixai passar) traduziu o ditames da escola liberal:
 liberdade de produção e liberdade de circulação, sendo defeso ao
 Estado intervir na ordem econômica, bem como proibido limitar o direito
 de propriedade.
	
 Mas ocorre que a alta
 burguesia, tão logo realizada a Revolução e ter ascendido ao poder,
 transformou-se em uma força conservadora, contrária a qualquer outro
 avanço revolucionário fazendo com que, dentre todas as camadas sociais
 que integravam o Terceiro Estado, tivesse sido a que colheu os melhores
 frutos da Revolução. Nasceram aí as desigualdades fáticas, que, tempos
 mais tarde, com o acirramento das exclusões e das explorações sociais,
 iriam culminar com a imperativa necessidade de entrar em cena um Estado
 que, pela intervenção na economia, pudesse corrigir esses defeitos de
 origem do Estado liberal individualista.
	 
	
 e) Idade Contemporânea.
 Início do século XX. Estado-Providência, Estado do Bem-Estar Social,
 Welfare State, Estado Intervencionista
	
 Como já adiantamos
 acima, com o incremento do liberalismo e da Revolução Industrial, as
 explorações cometidas aos seres humanos pelo regime capitalista foram se
 acirrando, devendo os trabalhadores laborarem sem qualquer proteção
 social ou legal, em jornadas diárias trabalhistas em torno de 12 a 18
 horas, muitas vezes chegando a 20, por salários miserentos e inclusive
 diminuindo sobremaneira a expectativa de suas vidas. 3 E o Estado Liberal
 Clássico, que não intervinha neste tipo de relações privadas (entre
 trabalhadores e patrões) passou a não dar conta da crescente situação
 de extrema pobreza e desigualdade social. A partir daí, os trabalhadores,
 sem a proteção do Estado
ausente, recorreram à violência como
 represália às relações trabalhistas não-regulamentadas e a todas as
 demais injustiças cometidas à época. Neste contexto é escrito por Marx
 e Engels, em 1848, o Manifesto do Partido Comunista, conclamando os
 "trabalhadores do mundo inteiro" para unirem-se na defesa de
 seus interesses. No início do século XX ocorrem duas revoluções de
 cunho socialista (a Revolução Russa e a Revolução Mexicana, de 1917),
 entre 1914 e 1918 ocorreu a Primeira Guerra Mundial e tudo isso fez com
 que o Estado, de mero espectador passasse a ator, passasse a atuar a
 serviço do bem comum. Em suma, foi preciso que os horrores da I Guerra
 Mundial alterassem profundamente as condições econômicas e políticas
 do Estado para que se realizassem reformas de base e estrutura. Foram
 estas complexidades da sociedade contemporânea, aqui sumariamente
 referidas, que retiraram o Estado daquela passividade em que se viu imerso
 ao longo de quase dois séculos. A partir daí, nasce o que se passou a
 chamar Estado Social, ou Estado do Bem-Estar Social, ou Welfare State,
 todos sinônimos para designar um Estado intervencionista, providente, ou
 seja, aquele Estado que se obrigou a implementar um sistema de
 previdência e de seguros sociais, de seguro desemprego, de habitação e
 educação às suas populações pauperizadas. Foi o Estado obrigado a
 dirigir, a traçar normas, ao mesmo tempo restringindo um tanto o
 indivíduo em sua autonomia contratual e contemplando interesses sociais,
 através da intervenção nas atividades econômicas. O grande marco do
 surgimento deste modelo de Estado são as Constituições Mexicana, de
 1917 e a de Weimar, de 1919.
	
 Mais tarde, após o crack
 da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, esta teoria do Intervencionismo estatal
 ganhou mais um aliado, o teórico economista John Keynes (Keinesianismo =
 Intervencionismo).
	 
	
 f) Fase atual.
 Globalização. Estado Neoliberal, Gestor ou Gerencial
	
 Após o já referido
 crack da Bolsa de Nova Iorque, veio a II Guerra Mundial e, com a quebra
 quase total da Europa, foi preciso apelar para o Plano Marshall de
 reconstrução do continente europeu, o que demandou novamente uma forte
 intervenção dos Estados de cunho social. Com o passar do tempo, nas
 décadas de 80 e 90, foi-se percebendo que este tipo de Estado onerava
 muito os cofres públicos e teve início uma "campanha" para
 enfatizar a idéia da necessidade de diminuir gastos com
 seguro-desemprego, com previdência social, etc. Este movimento acaba por
 retirar o Estado da economia, como se estivéssemos voltando ao
 liberalismo clássico, mas como o processo assume novas feições,
 denomina-se neo; daí "neoliberalismo". Atualmente, esse
 encolhimento do Estado (teoria do Estado mínimo) está sendo efetivado
 por meio de uma onda de privatizações e por um processo de
 "Desregulamentação" das relações trabalhistas, incluindo
 flexibilização para as contratações trabalhistas (contratações e
 dispensas temporárias), o que acaba sendo uma regulamentação por outros
 meios, já que passa a garantir a sobrevivência dos grandes na área
 econômica, dos oligopólios. O Estado sai, aos poucos, da intervenção
 econômica e passa a ser um mero "Gestor"; este é o modelo do
 Estado gerencial apregoado pelo Ministro brasileiro da Administração e
 Reforma do Estado, Sr. Bresser Pereira.
	
 Para se ter uma idéia
 básica e geral a respeito desse processo de globalização e das nefastas
 conseqüências disso nas vidas dos trabalhadores, sugiro a leitura da
 obra "O Horror Econômico", da francesa Viviane Forrester.
	
 E, lamentavelmente,
 parece que esse processo globalizador neoliberal veio para ficar, fazendo
 com que os trabalhadores cheguem ao cúmulo de se submeterem a salários
 menores (o que inclusive é inconstitucional para nós brasileiros), a
 jornadas menores, à desproteção legal, tudo para poderem manter um
 emprego. E como diz Joan Robinson, na abertura da obra "Manual do
 Perfeito Idiota Latino-Americano": "Só há uma coisa pior do
 que ser explorado pelo imperialismo: é não ser por ele explorado".
 A propósito, quando em sala de aula perguntei em que Estado estávamos
 vivendo, um aluno prontamente respondeu: "em estado de
 necessidade".
	
 2.3 Histórico do
 Constitucionalismo
	
 Como a cada tipo de
 Estado corresponde um tipo de Constituição, procuraremos dar, em
 rápidas pinceladas, uma visão a respeito do nascimento do que se chamou
 "constitucionalismo". Embora o Constitucionalismo dito
 "moderno" só tenha iniciado em fins do século XVIII,
 iniciaremos pela Antigüidade Clássica, pois lá já havia
 Constituições, embora com outras características, haja vista que o
 próprio modelo de Estado de antanho possuía características bem
 diversas das que modernamente se firmaram.
	
 Neste sentido, esclarece
 Pedro Salveti Netto (1975, p. 16) que o Direito Constitucional parte da
 existência das Constituições, que, escritas ou não, deram forma a um
 Estado específico em um certo tempo. Assim, é possível fazer-se um
 levantamento do Direito Constitucional na Roma Antiga, nas cidades gregas
 da época clássica, nos países que viveram sob a égide do regime
 monárquico absolutista, na Itália fascista, na democracia inglesa, na
 Alemanha nazista, etc. E, indo mais além, Karl Löewenstein (1976, p.
 154-157), ao tratar justamente da evolução histórica do
 Constitucionalismo, esclarece que a existência de uma Constituição
 escrita não se identifica com o constitucionalismo, pois, muito antes que
 isso acontecesse (no ambiente racionalista da Ilustração, século XVIII),
 organizações políticas viveram sob um governo constitucional, sem
 sentir a necessidade de articular os limites estabelecidos ao exercício
 do poder político, eis que tais limitações estavam tão profundamente
 enraizadas nas convicções das comunidades e nos costumes nacionais, que
 eram respeitadas tanto por governantes quanto pelos governados. E cita o
 grande constitucionalista, o exemplo dos hebreus, para ele, o primeiro
 povo que praticou o constitucionalismo. Sua forma de sociedade teocrática
 (sistema político em que os súditos vivem ou pretendem viver sob o
 domínio de uma autoridade divina), comum nos impérios orientais da
 Antigüidade, caracterizou-se pela limitação do poder secular (poder
 religioso, confiado por Deus aos detentores do poder na terra) através da
 lei moral, é dizer: o dominador, longe de ostentar um poder absoluto e
 arbitrário, estava também limitado pela Lei do Senhor, pois esta
 submetia igualmente a governantes e governados.
	
 a) Antigüidade Clássica
 (época da fundação de Roma - século VIII a.C. - em diante)
	
 A grande maioria dos
 autores de Direito Constitucional não menciona a existência de
 Constituições na Antigüidade Clássica. Mas que as havia, havia. 4
 Porém, com outras funções e características, e isto nos atesta o
 próprio Aristóteles, que buscou estudar as Constituições gregas.
 Naquela época, a Constituição apenas organizava a Sociedade, como algo
 natural, e não o poder na Sociedade, eis que não havia distinção entre
 Estado e Sociedade Civil. Assim, a idéia era a de uma relação natural,
 a de uma constituição para o perfeito funcionamento do corpo social.
 Aliás, a própria gênese da palavra CONSTITUIÇÃO demonstra que a mesma
 não vem da Ciência Política, mas sim da Biologia, da idéia de
 Natureza, de constituição física de um corpo. E é por isso que era
 natural que existissem escravos, que as mulheres e filhos
fossem
 considerados res nulius ("coisas de ninguém") e que obedecessem
 aos patriarcas e livres fossem apenas estes, que obedeciam apenas a Deus.
	
 Mas Karl Löewenstein
 afirma que durante dois breves e brilhantes séculos existiu na Grécia um
 regime político absolutamente constitucional, chegando a dizer que a
 nação grega alcançou o mais avançado tipo de governo constitucional: a
 democracia constitucional. Isto teria se dado no século V a.C., em que a
 democracia direta das Cidades-Estados gregas é o único exemplo conhecido
 de um sistema político com plena identidade entre governantes e
 governados, no qual o poder político estava igualmente distribuído entre
 todos os cidadãos ativos. Afirma, inclusive que, frente ao permanente
 impacto que os gregos ocasionaram na evolução política do mundo
 ocidental, tem pouca importância o fato de que a polis-Estado fosse o
 domínio oligárquico de uma classe ociosa, relativamente reduzida,
 montada sobre a infra-estrutura de uma economia de escravos. E ressalta
 que todas as instituições políticas gregas refletiam uma profunda
 aversão a todo o tipo de poder concentrado e arbitrário, tendo devoção
 quase fanática pelos princípios do "Estado de direito" de uma
 ordem que era regulada democrática e constitucionalmente, em que as
 diferentes funções estatais eram acessíveis a todos os cidadãos
 ativos, dado que não se exigia nenhuma qualificação especial, exceto
 para certos postos encarregados de tarefas técnicas. Cita, como exemplo,
 o fato de o poder dos magistrados ser restringido por engenhosas
 instituições de controle (dentre as quais: os detentores dos cargos eram
 nomeados por sorteio, havia prescrição de curtos períodos e rotações
 nos cargos, não poderiam os detentores dos cargos ser reeleitos).
	
 Do mesmo modo, Karl
 Löewenstein refere a República Romana, que durou muito mais tempo (desde
 o século V até o final do século II a.C.), como o exemplo clássico de
 uma sociedade estatal que, sendo fundamentalmente constitucional, não
 cometeu o erro de uma excessiva democratização. Em Roma, a organização
 estatal republicana foi um sistema político com complicados dispositivos
 de freios e contrapesos para dividir e limitar o poder político dos
 magistrados estabelecidos.
	
 b) Idade Média - século
 XIII
	
 Podemos dizer que a
 Inglaterra escreveu um primeiro capítulo na história do
 Constitucionalismo dito "moderno", o que se deu em 1215, com a
 assinatura da Magna Cartha Libertatum, sendo esse o primeiro documento em
 defesa das liberdades, resultado da marcha dos barões ingleses sobre
 Londres, em protesto às tiranias do Rei João Sem-Terra. É por isso que
 se considera a Inglaterra o berço do Liberalismo.
	
 Conta-nos Pontes de
 Miranda (1955, p. 11-4) que, morto Ricardo I [Ricardo Coração de Leão],
 sucedeu-lhe no trono da Inglaterra seu tio João, que tantas anarquias,
 desastres e arbitrariedades cometeu no novo governo até que a nação,
 por seus representantes mais tradicionais, reagiu: os barões acordaram
 que era preciso obter do rei uma carta de liberdades, o que aconteceu a 19
 de junho de 1215. Depois de outorgada, no entanto, João Sem-Terra violou
 por várias vezes essa declaração de 1215.
	
 c) Idade Moderna
	
 Um segundo capítulo na
 história do Constitucionalismo tem como protagonistas novamente a
 Inglaterra e suas ex-colônias na América do Norte. Os acontecimentos que
 marcam o que chamamos "Constitucionalismo Moderno" tiveram vez
 nos últimos quartéis dos séculos XVII e XVIII.
	
 Primeiramente, há que se
 destacar, em 1689 (logo após a Revolução Inglesa, de 1688), a
 afirmação do Bill of Rights, que foi uma Declaração de Direitos para
 limitar o Poder Absoluto.
	
 Na seqüência, em 1776,
 tem-se a Declaração de Independência de Virgínia, após a rebelião
 das 13 colônias de origem britânica, formando a Confederação dos
 Estados Norte-Americanos.
	
 E, por fim, em 1787, em
 Filadélfia, assina-se a primeira Constituição escrita da história do
 Constitucionalismo, marcando a criação da Federação dos Estados Unidos
 da América do Norte. Tal Constituição ainda está em vigor.
	
 É interessante ressaltar
 que a Revolução Inglesa, de 1688, a revolução que marcou a
 independência norte-americana e a Revolução Francesa formam o conjunto
 das assim denominadas grandes "Revoluções Burguesas", sendo a
 francesa a mais radical revolução anti-feudal, conforme veremos a
 seguir.
	
 d) Idade Contemporânea.
 Constitucionalismo Liberal Clássico
	
 Na França, em fins da
 Idade Moderna, a Monarquia Absolutista dos Bourbons mantinha a divisão
 social em três classes: a nobreza, o clero e o povo, sendo que este
 compunha o que se denominava Terceiro Estado, vivia na miséria e não
 participava no plano governamental, sequer para fiscalizá-lo. E foi em
 tal contexto que, marcando o início da Idade Contemporânea, um
 importantíssimo passo foi dado na erradicação dos resquícios do poder
 feudal e do absolutista monárquico: a Revolução Francesa, eclodida em
 1789, com a literal queda da Bastilha (símbolo maior do poder
 monárquico), tendo sido capitaneada pelo assim denominado Terceiro Estado
 (burguesia, artesãos, operários e camponeses) e excluído das benesses
 do Reino a nobreza parasitária que às suas custas vivia. Sobreveio-lhe,
 ainda no mesmo ano, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
 Cidadão e, logo após, em 1791, criou-se, de forma popular
 representativa, a Primeira Constituição escrita da Europa, contemplando
 a laicização do Estado (isto é, a separação entre a Igreja e o
 Estado) e registrando em seu texto outras tantas vitórias das idéias
 democráticas, embora o Poder Executivo tenha continuado a ser exercido
 pelo Rei (a República só foi proclamada em 1792) e houvesse sido
 instituído o voto censitário. A Nova Ordem foi instituída sob a tríade
 Liberdade, Igualdade, Fraternidade, justamente o lema da bandeira
 francesa.
	
 Esta Constituição
 Liberal Clássica continha como conteúdo básico, exatamente o teor do
 art. 16 da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão:
 "Toda a sociedade na qual a garantia dos direitos não estiver
 assegurada nem determinada a separação dos poderes, não tem
 Constituição". Assim, seu duplo conteúdo essencial era: a) a
 tripartição do Poder em Executivo, Legislativo e Judiciário, visando
 com isso limitá-lo, já que, pela teoria clássica elaborada por
 Montesquieu5 "todo aquele que exerce o poder tende a dele
 abusar" e "só o poder freia o poder" (le pouvoir arrête
 le pouvoir), limitação feita através do sistema de cheks and balances:
 "freios e contrapesos"; b) a declaração dos direitos
 fundamentais do homem, que haviam sido negados durante séculos e que
 agora passaram a ser exigidos como inatos, inalienáveis,
 imprescritíveis, anteriores e superiores ao próprio Estado. Nasceram,
 assim, as Constituições, com a fundamental função de proteger a pessoa
 humana contra os abusos de poder dos governantes.
	
 É nesta fase do
 constitucionalismo que efetivamente o Poder Divino dos Reis cedeu por
 completo ao Poder Soberano do Povo, ou seja, a partir de então o
 "contrato social" seria redigido entre o povo e o Estado, por
 intermédio de representantes eleitos para tal. Assim, a idéia de
 "contrato social" passa a coincidir com a idéia de
 Constituição, e de Constituição escrita.
	
 E este modelo de
 Constituição escrita espraiou-se para outros países europeus
 continentais
(isto porque a Inglaterra seguiu na sua tradição de
 Constituição não-escrita) e por suas colônias americanas,
 principalmente as de Portugal e Espanha, onde nos incluímos.
	
 Mas importa ressaltar
 que, embora tenha representado um avanço grandioso na conquista e no
 reconhecimento de direitos e na limitação do poder político, este
 modelo de constitucionalismo - o liberal clássico - realizou, dentre o
 tripé que sustentou o movimento revolucionário, muito mais e
 prioritariamente o valor "liberdade" (e por isso institui
 direitos que os chamamos "negativos", "de oposição ao
 Estado", o que era necessário justamente para o exercício da ampla
 liberdade dos indivíduos), deixando em segundo plano o valor
 "igualdade".
	
 e) Idade Contemporânea.
 Constitucionalismo Social
	
 Esta fase do
 constitucionalismo tem como principal característica a entrada de
 direitos sociais e trabalhistas nos textos constitucionais, e isto deu-se
 grandemente por meio das assim denominadas Normas Programáticas, ou seja,
 normas portadoras de programas para tentar realizar na prática o
 valor/direito "igualdade". Aí começou-se a falar em
 "função social da propriedade", em direitos educacionais e
 habitacionais, na disciplina das relações entre capital e trabalho, no
 direito à saúde e à previdência social. O Estado foi, assim, chamado a
 efetivar direitos que até então só existiam nos textos das leis,
 especificamente todos aqueles direitos ligados ao Direito à Igualdade.
 Por isso tais direitos são tidos como "positivos", pois impõem
 obrigações positivas ao Estado. E isto significou uma guinada daquele
 individualismo clássico do Liberalismo Clássico para o coletivismo, para
 o socialismo.
	
 Em nível mundial
 ocidental, a primeira Constituição que teve essas preocupações com o
 social, com o coletivo, foi a do México, de 1917 (que ainda está em
 vigor). Após, a Constituição de Weimar, de 1919, teve um programa que
 contemplava esses direitos. Esta Constituição regeu a vida da Alemanha
 do imediato pós-guerra até 1931, com a ascenção de Hitler ao poder (o
 período da história alemã denominado "República de Weimar"
 foi de 1918 a 1931).
	
 No Brasil, a
 Constituição de 1934 é tida como a versão sul-americana da
 Constituição de Weimar. Direitos sociais e preocupações coletivistas
 seriam retomados, após, na Constituição de 1946.
	
 f) A Constituição no
 Neoliberalismo. Fase de "Desconstitucionalização"
	
 Como reflexo direto da
 Globalização e do Neoliberalismo, as reformas à Constituição visam
 retirar do seu texto aquelas normas que sustentam a tese da
 ingovernabilidade: em não havendo como cumpri-las, tira-se-as da
 Constituição. 6 E neste contexto de Nova Ordem Mundial, o Consenso de
 Washington dita aos países "periféricos" (dentre estes o
 Brasil) atitudes a serem tomadas pelos governos de plantões,
 especialmente no que se refere às imposições dos programas de
 privatizações e descentralizações, isto é, passando para a iniciativa
 privada o patrimônio que sempre foi público e que foi construído com os
 tributos pagos pela população trabalhadora do País. Assim, pouco a
 pouco, o Estado retira-se da economia, deixando tudo mais uma vez nas
 "mãos invisíveis do mercado" e esse processo passa
 necessariamente por reformas às Constituições.
	
 3 Constituição
	
 3.1 Conceito de
 Constituição
	
 Podemos dizer, em
 linguagem simples e corrente, que a Constituição é o documento
 político-jurídico por excelência de um Estado, que nos regimes
 democráticos é redigido, aprovado e publicado por uma Assembléia
 Constituinte eleita pelo povo.
	
 É a lei fundamental, a
 lei magna, que retrata a forma de ser de um Estado e que confere direitos
 e garantias fundamentais, tanto aos indivíduos quanto à coletividade.
 Conforme José Joaquim Gomes Canotilho, é a obra fundacional de um
 Estado, ou seja, o conjunto daquelas normas que fundam um Estado.
	
 Além disso, a
 Constituição indica os poderes do Estado, através dos quais a nação
 há de ser governada e ainda marca e delimita, no regime administrativo
 brasileiro, por exemplo, as competências dos três Poderes Constituídos
 (Executivo, Legislativo e Judiciário), as atribuições da União e de
 cada Estado-membro da Federação, bem como dos Municípios e do Distrito
 Federal.
	
 Vários podem ser os
 sentidos dados às Constituições, dentre os quais citamos:
	
 1. O Sociológico
 (Ferdinand Lassalle) - em sentido sociológico, o grande mestre francês
 afirmou ser a Constituição uma "folha de papel" que deve ser
 criada pela soma dos "fatores reais de poder" que regem um
 país, ou seja, cada segmento da sociedade deve ser representado em sua
 criação, sob pena de a mesma não resultar legítima.
	
 2. O Político (Carl
 Schmitt) - em sentido político, cujo maior expoente foi o mestre alemão,
 tem-se que Constituição é a "decisão política fundamental sobre
 a forma de ser de um Estado".
	
 3. O Jurídico (Hans
 Kelsen) - o mestre austríaco dá para a Constituição um fundamento
 puramente jurídico, em que a Norma Hipotética Fundamental, conforme
 desdobramentos de sua teoria feitos por Norberto Bobbio, teria o seguinte
 conteúdo: por um lado "faça o poder constituinte originário uma
 Constituição" e, por outro lado, "obedeçam a tudo o que está
 na Constituição". Esta verticalidade fundamentadora do ordenamento
 jurídico com base na Norma Fundamental (que não é escrita, mas apenas
 pressuposta, ou seja, uma abstração) justifica a existência do
 Princípio da Supremacia da Constituição.
	
 • O Princípio da
 Supremacia da Constituição
	
 Como já adiantado,
 garante-se, por este princípio, o primado da Constituição, a sua
 superioridade em relação a qualquer outra norma.
	
 Partindo-se da idéia de
 que o Direito é composto por comandos emanados do Estado para organizar a
 vida em sociedade, o princípio da supremacia da Constituição faz com
 que a mesma esteja no ápice das leis, conforme a construção escalonada
 do ordenamento jurídico do jurista austríaco, o famoso professor de
 Viena, Hans Kelsen, cuja teoria prevê que cada comando normativo encontra
 respaldo naquele que lhe é superior e lhe deve obediência, sob pena de
 incorrer em inconstitucionalidade da espécie normativa e conseqüente
 retirada do ordenamento jurídico, uma vez que a Constituição está no
 topo da pirâmide e é justamente esta verticalidade que confere validade
 a todo o sistema normativo infraconstitucional.
	
 3.2 Conteúdo, estrutura
 e elementos da Constituição
	
 • Conteúdo da
 Constituição
	
 Quanto ao conteúdo
 costuma-se fazer uma classificação das Constituições em materiais e
 formais.
	
 Assim:
	
 Materiais - Sob o aspecto
 do conteúdo material, são aquelas Constituições que abrangem o
 conteúdo básico, o mais importante, o único merecedor de ser reduzido a
 MATÉRIA CONSTITUCIONAL. São as normas referentes à composição e ao
 funcionamento da ordem política-estatal (aquelas referentes à
 organização do poder, à distribuição das competências, ao exercício
 da autoridade, às formas de governo (monarquia ou república), às formas
 de Estado (Federação ou Estado Unitário) ao sistema de governo
 (Presidencialismo ou Parlamentarismo) e as relativas aos direitos e
 garantias fundamentais das pessoas.
	
 Normalmente as
 Constituições que contemplam apenas este conteúdo básico são de
 textos extremamente curtos. Porém, importa ressaltar que
mesmo que a
 nossa atual Constituição só fizesse constar em seu texto o conteúdo
 puramente material, ainda assim seria um texto bastante extenso, haja
 vista que o art. 5º (que trata da maior parte dos direitos fundamentais)
 possui, sozinho, setenta e sete incisos.
	
 Exemplos de normas
 puramente materiais na Constituição Federal de 1988:
	
 - art. 5º, XXX: "é
 garantido o direito de herança";
	
 - art. 44: "O Poder
 Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara
 dos Deputados e do Senado Federal".
	 
	
 Formais - Quando as
 Constituições inserem em seu corpo textual matéria apenas de APARÊNCIA
 CONSTITUCIONAL, que aí ingressa de MODO IMPRÓPRIO, apenas FORMALMENTE,
 especificamente para gozar da garantia e do valor superior conferidos pelo
 texto constitucional quanto à ALTERAÇÃO: ou seja, qualquer norma que
 esteja na Constituição deve atender a processo diferente de
 modificação, mais solene, mais difícil, mais demorado (como por exemplo
 a exigência do quórum qualificado de 3/5, enquanto que para a
 alteração ou aprovação de lei ordinária basta o quórum de maioria
 simples - conforme art. 47 do Regimento Interno do Senado Federal).
	
 Ressaltamos que é
 justamente a entrada de normas de qualquer conteúdo nas Constituições,
 visando uma maior garantia quanto à mutação e, por conseguinte,
 buscando a longevidade, que acarreta o inchaço dos textos
 constitucionais.
	
 Exemplos de normas apenas
 formalmente constitucionais na CF/88:
	
 • uma norma sobre
 desportos: art. 217; ou
	
 • uma norma
 trabalhista: art. 233.
	 
	
 Outros exemplos poderiam
 aqui ser citados, mas estes já são suficientes para comprovar que os
 conteúdos veiculados pelas normas não são da organização do Estado,
 tampouco a garantia em si de direitos fundamentais das pessoas, o que
 significa que poderiam muito bem estar presentes em leis ordinárias,
 infraconstitucionais, como é o caso de, em relação ao segundo exemplo,
 haver uma Consolidação das Leis Trabalhistas que poderia pormenorizar
 tais direitos trabalhistas.
	 
	
 • Estrutura da
 Constituição
	
 Geralmente as
 Constituições trazem suas normas agrupadas em TÍTULOS, os quais, de
 maneira sistematizada, são divididos em CAPÍTULOS, e estes em SEÇÕES e
 SUBSEÇÕES, que agrupam os ARTIGOS, com seus INCISOS (algarismos romanos)
 e ALÍNEAS (letras minúsculas do nosso alfabeto), em função da conexão
 do conteúdo específico que as vincula. Convém salientar que inciso de
 art. faz parte do caput (cabeça) desse art., já o parágrafo (§) possui
 uma certa autonomia em relação ao caput.
	
 Frisa José Afonso da
 Silva (1998, p. 204) que os Preâmbulos Constitucionais têm
 "eficácia interpretativa e integrativa; mas, se contêm uma
 declaração de direitos políticos e sociais do homem, valem como regra
 de princípio programático, pelo menos". Já as normas Transitórias
 possuem o mesmo valor das Permanentes, e, de regra, eficácia plena e
 aplicabilidade imediata, porém temporária.
	
 Quanto à estrutura de
 nossa Lei Maior, a Constituição Federal de 1988, é composta por 324
 arts., tendo 250 destes em sua parte fixa e 74 dispositivos denominados de
 "Disposições Constitucionais Transitórias" - ADCT. Estes
 dispositivos possuem vida útil curta, pois uma vez desenvolvidos,
 cumpridos, perdem seu valor enquanto ordem, restando apenas como parte
 histórica no texto da Constituição.
	
 Antes da numeração
 sucessiva dos seus 324 artigos, possui a CF/88 um Preâmbulo, após o qual
 os 250 artigos referidos encontram-se divididos em 9 grandes TÍTULOS, os
 quais por sua vez dividem-se em Capítulos, Seções e Subseções,
 conforme o conteúdo que agrupam, cada um deles representando um assunto
 específico.
	
 Os nove Títulos
 referidos são:
	
 •Título I - Dos
 Princípios Fundamentais
	
 •Título II - Dos
 Direitos e Garantias Fundamentais
	
 •Título III - Da
 Organização do Estado
	
 •Título IV - Da
 Organização dos Poderes
	
 •Título V - Da Defesa
 do Estado e das Instituições Democráticas
	
 •Título VI - Da
 Tributação e do Orçamento
	
 •Título VII - Da Ordem
 Econômica e Financeira
	
 •Título VIII - Da
 Ordem Social
	
 •Título IX - Das
 Disposições Constitucionais Gerais
	 
	
 • Elementos da
 Constituição
	
 O poder constituinte
 sistematiza em um todo unitário as normas constitucionais que julga
 fundamentais para a coletividade estatal, mas a doutrina constitucional
 diverge quanto ao número e à caracterização desses assim denominados
 elementos constitucionais. José Afonso da Silva (1997, p. 47) divisa
 cinco categorias de elementos:
	
 1) Elementos Orgânicos:
 referem-se a normas que regulam a estrutura do Estado e do poder. Na CF/88
 concentram-se nos Títulos III ("Da Organização do Estado"),
 IV ("Da Organização dos Poderes"), Capítulos I ("Do
 estado de defesa e do estado de sítio") e II ("Das Forças
 Armadas") do Título V ("Da Defesa do Estado e das
 Instituições Democráticas") e VI ("Da Tributação e do
 Orçamento").
	
 2) Elementos Limitativos:
 normas que consubstanciam o elenco dos direitos e garantias fundamentais,
 que por sua vez limitam a ação dos poderes estatais e dão a tônica do
 Estado de Direito. Na CF/88 estão no Título II ("Dos Direitos e
 Garantias Fundamentais"), exceto o Capítulo II ("Dos Direitos
 Sociais"). Por que os direitos sociais não entram aí? Porque os
 elementos limitativos tratam de direitos negativos, contra o Estado, e os
 direitos sociais são direitos positivos, que requerem prestações
 concretas do Estado.
	
 3) Elementos
 Sócio-ideológicos: revelam o caráter de compromisso das Constituições
 modernas, pactuado entre o Estado Individualista (o Liberal Clássico,
 não-intervencionista) e o Estado Social/ Providente/Intervencionista. Na
 CF/88 encontram-se no Capítulo II do Título II ("Direitos
 Sociais"), no Título VII ("Da Ordem Econômica e
 Financeira") e no Título VIII ("Da Ordem Social").
	
 4) Elementos de
 Estabilização Constitucional: normas destinadas a assegurar a solução
 dos conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, a defesa do
 Estado e das Instituições Democráticas. Na CF/88 aparecem no art. 102,
 I, a (Ações Diretas de Inconstitucionalidade), nos arts. 34 a 36 (da
 intervenção nos Estados e Municípios), no art. 59, I e 60 (processo de
 emendas à Constituição), arts. 102 e 103 (jurisdição constitucional)
 e no Título V ("Da Defesa do Estado e das Instituições
 Democráticas"), especialmente em seu Capítulo I ("Do estado de
 defesa e do estado de sítio").
	
 5) Elementos Formais de
 Aplicabilidade: normas que estatuem regras de aplicação das
 Constituições, como o Preâmbulo, o dispositivo que contém as
 cláusulas de promulgação e as Disposições Constitucionais
 Transitórias, bem como § 1º do art. 5º, segundo o qual "as normas
 definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
 imediata".
	
 3.3 Classificação das
 Constituições
	
 Trazemos aqui as quatro
 grandes classificações em que comumente são as Constituições
 enquadradas.
	
 3.3.1 Quanto à forma
 como se apresentam
	
 a) Escritas ou Positivas:
 aquelas postas em documentos formais, em um corpo textual único.
 Acompanharam o processo de racionalização do Direito e tiveram origem no
 "Contrato Social" de Rousseau, só podendo ser modificadas pela
 soberania popular. Em geral,
as Constituições dos Estados modernos são
 escritas e codificadas, por pelo menos três razões comprovadas, conforme
 Paulo Bonavides (1996, p. 69): a) crença na superioridade da lei escrita
 sobre o costume; b) a imagem simbólica de que quando se criasse uma
 Constituição estar-se-ia renovando o "contrato social"; c) a
 concepção firmada desde o século XVIII de que não há melhor
 instrumento de educação política do que o texto de uma Constituição.
 Aqui fazemos uma crítica: esta última razão só se justifica onde a
 população à Constituição tem acesso!
	
 Exemplos: a
 Constituição dos EUA; todas as do Brasil; a da França, da Espanha, da
 Itália, da Argentina, do Paraguai, etc.
	
 É importante ressaltar
 que em relação às Constituições Escritas poderia haver ainda uma
 classificação que as dissessem Imutáveis ou Fixas, mas isto possui
 apenas valor histórico, mais especificamente referindo-se às Leis
 Fundamentais antigas, como o Código de Hamurabi e a Lei das XII Tábuas,
 que, tendo surgido com a pretensão de eternidade, não podiam ser
 modificadas sob pena de maldição dos deuses.
	 
	
 b) Não-escritas,
 Costumeiras ou Consuetudinárias: por não serem escritas, são
 praticamente auto-explicativas; aquelas que se baseiam nos costumes e nas
 tradições observadas espontaneamente por um povo, secularmente
 transmitidas. Predominaram até os fins do século XVIII, em grande parte
 coincidindo com os regimes absolutistas. Atualmente são em número muito
 reduzido e podemos dizer que são "impostas" pela prática.
	
 Exemplos: o exemplo
 clássico vem da Inglaterra (que entretanto também se baseia em alguns
 textos fundamentais escritos7); a da Hungria e a da Nova Zelândia.
	
 3.3.2 Quanto à origem
	
 a) Democráticas,
 Populares ou Promulgadas: aquelas que têm origem em órgão
 constitucional eleito especialmente eleito pelo povo para tal finalidade,
 por meio de sufrágio universal e direto. São elaboradas pelas
 Assembléias Nacionais Constituintes, como expressão do Poder
 Constituinte Originário, isto é, exprimindo o princípio político e
 jurídico de que todo o governo deve ser legitimado pelo consentimento dos
 governantes.
	
 Exemplos: As brasileiras
 de 1891, de 1934, de 1946 e de 1988, embora seja esta última
 questionável quanto à legitimidade de sua origem, uma vez que os
 Deputados Federais e os Senadores da República eleitos em 1986 não o
 foram com a exclusiva finalidade de criação da Constituição e, além
 disso, não podemos nos esquecer que, como a renovação do Senado Federal
 se dá de quatro em quatro anos, por um e dois terços, havia Senadores
 eleitos em 1982 (cujo cumprimento do mandato de 8 anos dar-se-ia em 1990),
 os quais, com certeza não foram eleitos para o fim de elaborar a nova
 Constituição, até porque em 1982 ainda nem se cogitava uma efetiva
 feitura de novo texto constitucional.
	 
	
 b) Outorgadas: são
 aquelas impostas pelo detentor eventual do poder. Assim, não resultam da
 manifestação da soberania popular. A outorga aproxima-se das formas
 totalitárias de governo, uma vez que suprime do povo o exercício do
 poder de fazer a Constituição, através de seus representantes eleitos.
	
 Exemplos: as brasileiras
 de 1824 (imposta por D. Pedro I), de 1937 (imposta pelo ditador Getúlio
 Vargas), de 1967 (esta é também denominada "Atípica", por ter
 sido outorgada pelo Congresso Nacional, mas em função ordinária, isto
 é, sem delegação constituinte, o que não lhe retira o caráter de
 outorga) e a de 1969.
	 
	
 c) Pactuadas: aquelas que
 exprimem um compromisso entre duas forças políticas rivais, como por
 exemplo, na época dos primórdios do constitucionalismo, a realeza
 absoluta debilitada e a nobreza de um lado e, de outro, a burguesia em
 franca ascenção. Desse pacto resultou a Monarquia Limitada ou Monarquia
 Constitucional. Formam uma categoria de Constituições históricas, pois
 dificilmente as veremos nos dias atuais.
	
 Exemplos: o já
 mencionado documento constitucional Bill of Rights, de 1689 e a Magna
 Cartha inglesa, de 1215, firmada entre os barões e o Rei João Sem-Terra.
	
 3.3.3 Quanto à
 consistência, à estabilidade ou à mutabilidade
	
 Esta classificação
 deve-se a James Bryce, referindo-se à maior ou menor facilidade para a
 modificação dos textos constitucionais, sempre tendo como parâmetro de
 comparação as leis ordinárias. Assim, quanto à mutabilidade as
 Constituições podem ser:
	
 a) Rígidas: as que
 exigem a observância de procedimento diferenciado e mais complexo para
 sofrerem alterações em seus textos, sempre em relação às leis
 ordinárias. Assim, não podem ser alteradas pelo processo comum de
 elaboração das leis ordinárias, pois requerem debates mais amplos,
 prazos dilatados e quóruns qualificados. São adotadas pela maioria dos
 países contemporâneos. Esta diferença no processo de reforma visa a
 proteger a Constituição dos golpes de força das maiorias partidárias,
 de tendências oportunistas de grupos políticos predominantes e da
 exaltação dos ânimos em momentos de crise nacional.
	
 Exemplos: a dos EUA;
 todas as brasileiras, exceto a Imperial.
	 
	
 b) Flexíveis ou
 Plásticas: aquelas que sofrem alterações da mesma maneira pela qual se
 elabora ou modifica qualquer espécie normativa, isto é, não exigem
 nenhum requisito especial de reforma. Certo é que só servem para
 nações democráticas evoluídas e de alto nível cultural.
	
 Exemplo: o exemplo
 clássico é da Constituição da Inglaterra, onde o Parlamento tem
 função de Poder Constituinte Originário permanente.
	 
	
 c) Semi-rígidas: aquelas
 que possuem parte de seu texto rígido, parte flexível, mas isto não
 quer dizer que não possam ser modificadas. Todas as Constituições podem
 sofrer alterações, o que varia apenas é o grau de dificuldade ou de
 facilidade para tanto. Assim, nas semi-rígidas, parte do texto é
 modificado como o são as leis ordinárias, e parte requer para sua
 mutação os procedimentos rigorosos e difíceis próprios das
 Constituições rígidas.
	
 Exemplo: a Constituição
 Imperial brasileira (de 1824) que, pela regra do art. 178 criou uma
 terceira categoria de Constituições, integrando parte de dispositivos
 rígidos, parte flexíveis, isto é, vindo a ser semi-rígida.
	
 3.3.4 Quanto à extensão
	
 a) Concisas: são as
 sintéticas, breves, sumárias; as que apresentam texto enxuto, sucinto.
 Abrangem somente direitos e princípios gerais, bem como regras básicas
 de organização e fundamento dos sistema político-jurídico estatal,
 deixando as pormenorizações à legislação complementar ou ordinária
 e, por isso mesmo, atendem à metáfora do "guarda-chuva", como
 se suas regras básicas fossem as poucas varetas que o compõem. São as
 Constituições do tipo "clássicas", qual seja, aquelas que
 contemplam apenas o conteúdo básico apregoada pelo já conhecido art. 16
 da Declaração Universal dos Diretos do Homem e do Cidadão.
	
 Exemplo: a dos EUA, que,
 desde 1787, possui apenas 7 artigos e 26 emendas.
	 
	
 b) Prolixas: são aquelas
 ditas inchadas, extensas, longas, que apresentam texto amplo. Também
 chamadas "Analíticas" por alguns autores, devido justamente à
 sua extensão. Cada vez mais numerosas, geralmente contemplam regras
 programáticas e apresentam caráter polifacético por albergarem normas
 não apenas materialmente, mas sobretudo formalmente constitucionais. Até
 parece que o que não está na Constituição não está no mundo, mas
 isso tem uma
razão de ser: as matérias de natureza alheia ao Direito
 Constitucional propriamente dito adentram nos textos das Constituições,
 visando garantias que só as próprias Constituições proporcionam em
 toda a amplitude.
	
 Exemplos: a brasileira de
 1988 - originalmente contendo 315 artigos, atualmente está com 324; a de
 Portugal (de 1976), que possui 296 artigos mais a Lei do Tribunal
 Constitucional; a da Espanha (de 1978); a Constituição da República do
 Paraguai, com 311 artigos e a da República da Índia, com 395 artigos.
 Longe estão, como vemos, de ser Constituições "Clássicas".
	
 Aqui vale uma
 observação: praticamente todas estas Constituições extremamente
 extensas surgiram em contextos de larga desconfiança em relação a
 recém-extintos regimes militares ditatoriais, o que fez com que se
 quisesse pôr o máximo de direitos nos textos constitucionais justamente
 para que aí desfrutassem da garantia de não serem suprimidos com tanta
 facilidade. Ocorre que isto configura uma "faca de dois gumes",
 pois, se de um lado realmente elevou vários direitos à categoria de
 constitucionais, por outro lado, dá azo aos argumentos de "ingovernabilidade",
 ou seja, fortalece aqueles ataques à Constituição que afirmam que é
 impossível governar com uma Constituição tão inchada e isso vem,
 paradoxalmente, apressar a sua reforma.
	
 3.3.5 Classificação da
 Constituição Federal brasileira de 1988
	
 Aplicando as tipologias a
 respeito das Constituições acima vistas, temos que a Constituição da
 República Federativa do Brasil de 1988 é: escrita quanto à forma como
 se apresenta; promulgada, democrática ou popular quanto à sua origem;
 rígida quando à sua alteração e prolixa ou analítica quanto à sua
 extensão.
	
 4 Breve Apanhado Sobre A
 História Constitucional Brasileira
	
 O Brasil tem uma
 História Constitucional dolorosa, em que poucas vezes se conheceu uma
 verdadeira democracia.
	
 Iniciamos a história
 constitucional de forma pouco ou nada democrática, já que nossa primeira
 Constituição, a Imperial de 1824 (outorgada em 25 de março daquele
 ano), surgida no imediato pós-Independência, acabou sendo outorgada pelo
 Imperador Dom Pedro I, após este ter dissolvido a "Assembléia Geral
 Constituinte e Legislativa", de 1923, que, para elaborá-la, havia se
 reunido naqueles anos (fora convocada para tanto antes mesmo da
 Proclamação da Independência, sendo composta exclusivamente por membros
 da elite agrária brasileira) e que efetivamente possuía um "Projeto
 de Constituição".8 Assim, a "Constituição Política do
 Império", oferecida e jurada por Sua Majestade o Imperador, perdurou
 por todo o Império e conferiu ao Estado então Unitário características
 centralizadoras (as Províncias não gozavam de autonomia para
 auto-organização, autogoverno e auto-administração) e, a partir da
 criação jurídica do teórico francês Benjamin Constant, previu uma
 divisão quadripartite do poder: única fase histórica constitucional em
 que tivemos quatro Poderes Constituídos (o Executivo, o Legislativo, o
 Judiciário e o Moderador), sendo que o Rei, na qualidade de Chefe Supremo
 da Nação, concentrava o exercício de dois desses poderes: o Executivo e
 o Moderador, caracterizando o autoritarismo político que marcou o
 Império brasileiro. Ademais, em determinado momento da monarquia
 implantou-se uma prática parlamentarista, vedada pelo texto
 constitucional. Procurou, enfim, a Constituição, coadunar em seu texto
 as idéias liberais derivadas das Revoluções Americana e Francesa,
 mediante algumas concessões à soberania popular (malogradas, eis que
 instituiu o voto censitário), com a manutenção da monarquia. Traduziu,
 em realidade, os interesses particulares dos grandes proprietários
 rurais, eis que foi inspirada na "Constituição da Mandioca",
 com correções que julgava necessárias. À primeira e única
 Constituição do Brasil Imperial seguiram-se algumas leis que com ela
 mantinham estreita relação, a saber: a) Lei, de 12 de outubro de 1932 -
 "Ordena que os eleitores dos Deputados para a seguinte Legislatura
 lhes confiram nas procurações faculdade para reformarem alguns artigos
 da Constituição"; b) Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834 -
 "Faz algumas alterações e adições à Constituição Política do
 Império, nos termos da Lei, de 12 de outubro de 1832" (denominado
 "Ato Adicional"); c) Lei nº 105, de 12 de maio de 1840 -
 "Interpreta alguns artigos da reforma constitucional"; d) Lei
 nº 234, de 23 de novembro de 1841 - "Criando um Conselho de
 Estado". Com a exacerbação do Poder Moderador (desde há muito não
 exercido por D. Pedro I, que havia renunciado em nome de seu filho, o
 Príncipe D. Pedro de Alcântara, em 7 de abril de 1831) apressou-se o
 declínio do Império.
	
 Após as longas décadas
 de vigência da Constituição Imperial (dentre todas as Constituições
 brasileiras foi a que teve mais longa duração) podemos dizer que uma
 segunda fase de nossa história constitucional iniciou com a Proclamação
 da República, em 15 de novembro de 1889, quando nosso Estado, após longa
 "Campanha Federalista" de inspiração norte-americana, muda por
 completo sua estrutura: de um Império unitário e centralizador, passamos
 a uma República presidencialista, federativa e descentralizadora
 (autonomia política e administrativa dos Estados-membros da Federação).
 Adotou-se a teoria tripartite de divisão do poder elaborada por
 Montesquieu, com um Executivo presidencialista, um Legislativo bicameral
 (dividido em Câmara dos Deputados e Senado Federal) e um Judiciário
 independente, com novas funções e prerrogativas. Operou também a
 separação entre Igreja e Estado, passando o Estado brasileiro a ser
 laico a partir de então. Inicialmente tivemos a "Constituição
 Provisória", de 1890 (publicada pelo Decreto nº 510, de 22 de junho
 de 1890) e, após, a definitiva - "Constituição da República dos
 Estados Unidos do Brasil", de 24 de fevereiro de 1891, sendo esta a
 segunda brasileira e a primeira republicana. Na prática, esta
 Constituição teve muitos de seus princípios violados, pela
 inexistência ou difícil implementação da "verdade eleitoral"
 (uma vez que as eleições foram, durante toda a chamada República Velha,
 até 1930, portanto, marcadas e definidas por "votos de
 cabrestos", fraudes nas urnas por meio dos "bicos de
 penas", mecanismos pelos quais até defuntos votavam e que, em
 síntese, evidenciam o predomínio do "coronelismo", das
 oligarquias locais no cenário político-econômico), pela primazia dos
 Estados economicamente mais fortes na condução do poder político
 público (Minas Gerais e São Paulo: "Política do
 café-com-leite" e "Política dos Governadores"), pelas
 freqüentes intervenções - muitas vezes abusivas - nos Estados e pelas
 suspensões das liberdades públicas ante qualquer ameaça de desordem,
 mediante a decretação do "estado de sítio". Essa
 Constituição sofreu emendas em 1926. A partir daí, evento relevante foi
 a chamada "Revolução de 1930", que pôs termo à Primeira
 República e instituiu o "Governo Provisório dos Estados Unidos do
 Brasil", pelo Decreto nº 19.398, de 11 de novembro de 1930, que
 acabou derrogando a Constituição de 1891.
	
 Outra fase deu-se entre
 entre 1934 e 1937, período da efêmera vigência da nossa terceira
 Constituição, a de 1934 ("Constituição dos Estados Unidos do
 Brasil", de 16 de julho de 1934), tida como a versão sul-americana
 da Constituição Alemã de Weimar (de 1919), por ter pela primeira vez
entre nós incorporado direitos sociais, econômicos, culturais,
 trabalhistas, sindicais e previdenciários, o que foi feito, em sua grande
 maioria, pela previsão de "normas programáticas". Essa novel
 inclusão da "ordem econômica" como matéria constitucional
 deve-se também ao exemplo da Constituição Mexicana de 1917. É
 importante observar que na Constituinte de 1934 foi apresentado projeto de
 instituição de uma Corte Constitucional, inspirada no modelo austríaco,
 o que não foi acolhido pela Constituição. Esta, de vida curta, foi uma
 das mais belas Constituições que já tivemos, de caráter marcadamente
 democrático, onde se reconheceu o voto feminino, se instituiu o voto
 secreto e a Justiça Eleitoral, bem como se incluiu a proteção à
 família. Foi emendada em 18 de dezembro de 1935, através do Decreto
 Legislativo nº 6/1935 e acabou sendo abolida, ou melhor, derrogada por
 ato do então Presidente da República, em 1937, com a implantação do
 Estado Novo.
	
 Uma quarta fase
 iniciou-se com o golpe de Estado de 1937, capitaneado pelo então
 Presidente Getúlio Vargas, que suspendeu o curso da formação e
 afirmação de nossas instituições democráticas. Ao golpe seguiu-se a
 imposição da nossa quarta Constituição ("Constituição dos
 Estados Unidos do Brasil", outorgada em 10 de novembro de 1937), que
 foi redigida por Francisco Campos, a pedido do ditador Vargas, tendo o
 apoio das forças armadas e como "modelo" a Constituição
 polonesa de 1935, do regime do General Pilsudski. Como resultou
 praticamente em uma cópia literal desta última, ficou alcunhada como
 sendo a "Constituição Polaca". Alguns autores lhe atribuem
 inspiração fascista. Certo é, pelo menos, que traduziu-se em uma
 ruptura com a história constitucional do Brasil. Previa, em seu texto
 (art. 80) que deveria ser submetida a um plebiscito nacional para ser
 aprovada, mas tal plebiscito nunca se realizou. A partir daí, até a
 queda de Vargas em 1945, alijaram-se da vida política os partidos
 políticos, o Parlamento e o povo; para alguns historiadores de nossa
 constitucionalidade, a Carta de 1937 operou uma "deformação
 democrática". Apenas para termos um exemplo disso, chegava a
 registrar em seu Preâmbulo que ela haveria de conter meios
 extraordinários para combater o Comunismo. De cunho autoritário, a
 Constituição de 1937 foi emendada pelo próprio Governo que a editou por
 inúmeras vezes, por meio de "Leis Constitucionais", chegando-se
 a dizer que tão violada foi que sequer os privilégios que a si mesmo o
 governo havia inserido no texto constitucional foram observados; ou, dito
 de outra maneira, praticamente não foi executada. E, assim, a fase da
 nossa história que ficou conhecida por "Estado Novo" teve uma
 Carta Constitucional que para muitos não passou de um engodo, destinado,
 pura e simplesmente, a disfarçar um regime ditatorial em toda a amplitude
 do conceito. Conforme Pontes de Miranda, a Carta de 1937 "foi
 solapada, logo depois, pelos seus próprios autores. Não se realizou;
 não foi respeitada - quase toda nem, sequer, existiu". (Comentários
 à Constituição de 1946. v. 1, p. 23). Por fim, o regime autocrático
 fundado na Constituição de 1937 teve seu termo com a eleição de uma
 Constituinte para elaborar uma nova Constituição, que viria a ser agora
 democrática.
	
 Assim, uma quinta fase
 constitucional iniciou-se com o advento democrático da igualmente
 democrática Constituição de 1946 ("Constituição dos Estados
 Unidos do Brasil", de 18 de setembro de 1946), tendo ela sido
 elaborada pela Assembléia Constituinte convocada para tal em 2 de
 fevereiro de 1946, marcando a superação dos anos ditatoriais de Getúlio
 Vargas e lembrando em muito o texto constitucional de 1934, mormente em
 seu aspecto social. Prestigiou grandemente o municipalismo, reimplantou o
 bicameralismo no Poder Legislativo, alargou a competência do Poder
 Judiciário e, no campo dos direitos individuais, para além de retomar o
 rol já contemplado pela Constituição de 1934, acresceu a garantia de
 acesso incondicionado ao Poder Judiciário, afirmando que nenhuma lesão
 de direito individual poderia ser subtraída à sua apreciação, bem como
 inovou com o princípio da liberdade de criação de partidos políticos
 (pluralismo partidário baseado na garantia de direitos fundamentais e com
 restrições de não serem contrários ao regime democrático). Os valores
 coletivos nela também tiveram destaque, o que se pode verificar pela
 subsunção da propriedade privada ao "bem-estar social", pela
 coibição do abuso do poder econômico, pelo reconhecimento do direito de
 greve, dentre outros direitos trabalhistas e previdenciários. Entre 1950
 e 1963 recebeu seis Emendas Constitucionais e, após o Ato Institucional
 nº 1, de 9 de abril de 1964, mais quinze. Na verdade, desde 1961 as
 diversas emendas operadas em seu texto denunciavam uma série de crises
 institucionais que se davam no Brasil, tendo inclusive a Emenda nº 4/61
 instituído o sistema parlamentar de governo que, após plebiscito
 desaprovando-o, foi substituído pelo já entre nós tradicional
 presidencialismo, através da Emenda nº 6/63.
	
 Muito discute-se a
 respeito do exato momento em que a Constituição de 1946 deixou de
 vigorar, eis que, embora inicialmente "respeitada pelo regime
 militar", já que este afirmava manter "em vigor a
 Constituição de 1946", com as modificações por ele introduzidas,
 sob o ângulo jurídico, a partir do Ato Institucional de 9 de abril de
 1964, diz Manoel Gonçalves Ferreira Filho, "não é propriamente a
 Constituição de 1946, estabelecida pela Constituinte de 46, que está em
 vigor. Está em vigor uma Constituição outorgada pelo movimento
 revolucionário cujo conteúdo corresponde ao da Constituição de 1946,
 com as alterações que ele próprio introduz." (apud BASTOS, 1997,
 p. 133) Assim, ainda que tecnicamente tenha vigorado por praticamente 21
 anos (de 1946 a 1967), na prática, é possível dizer-se que tenha sido
 superada já com a edição do primeiro Ato Institucional (de 9 de abril
 de 1964), por conta das modificações então introduzidas, ou ainda, mais
 apropriadamente com o impacto que sofreu pelo Ato Institucional nº 2,
 que, dentre outras medidas, extinguiu os partidos políticos. De todos os
 modos, certo é que o movimento militar de 1964 rompeu com a ordem
 constitucional de 1946.
	
 Uma sexta fase iniciou-se
 com a outorga, em 24-1-1967, da primeira Constituição do Regime Militar
 entre nós implantado desde 31 de março de 1964 ("Constituição do
 Brasil"), que com vários Atos Institucionais (de números 5 a 17) e
 entre estes, após o AI n° 5/1968, inseriu-se o Ato Complementar n°
 40/1968 que, ao "arrepio da técnica legislativa", fez
 acréscimos aos artigos 13, 24, 26, 99 e 136 daquele texto constitucional,
 distorção contornada com a expedição do AI nº 6/1969, instrumento que
 ratificou as emendas operadas através do referido Ato Complementar. Para
 a feitura da Carta de 1967 o Congresso Nacional foi convocado para
 "discussão, votação e promulgação do Projeto de Constituição
 apresentado pelo Presidente da República" - Ato Institucional nº 4,
 de 7 de dezembro de 1966. A Constituição de 1967 teve cunho
 centralizador no âmbito federal e fortalecedor do Poder Executivo
 (inclusive com poderosas competências legislativas), podendo sua
 principal peculiaridade ser resumida na enorme preocupação que dispensou
 à "segurança nacional" (conceito jurídico indeterminado que
 permitiu diversas posteriores manipulações

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