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3. Legislação e Regulamentação sobre Assédio Moral e suas consequências Introdução do módulo 03 Considerando que o assédio moral é uma prática que, infelizmente tem sido identificada de maneira recorrente no mundo do trabalho, você tem ideia de como as leis e os regulamentos brasileiros tratam esse tema? Quais as consequências de tal prática? Como atos que atentam contra a dignidade do profissional podem impactar as organizações e os empregados? Essas são questões que serão respondidas ao longo deste módulo. Ao final, esperamos que você compreenda como a nossa legislação tem tratado o tema e quais os efeitos da prática de assédio moral, tanto na esfera do indivíduo que sofre o assédio quanto no âmbito organizacional. Busque, durante os estudos elementos que possam auxiliar na reflexão a respeito do seu papel para coibir o assédio na Empresa. A legislação e o assédio moral no trabalho A legislação brasileira ainda é incipiente ao tratar do fenômeno do assédio moral sobretudo se fizermos uma comparação com países como França e Suécia, por exemplo que criaram leis específicas sobre o tema. Para saber o que dizem as leis francesa e sueca veja os itens a seguir. Legislação da Suécia: “A Ordenação do Conselho Nacional Sueco de Saúde e Segurança Ocupacionais, aprovada no ano de 1993, estabelece que ao empregador incumbe "propiciar que cada empregado tenha o maior conhecimento possível sobre suas atividades e seus objetivos; informações regulares e reuniões no local de trabalho ajudarão a alcançar esse objetivo". Acrescenta, ainda, como obrigação do empregador "fornecer aos gerentes e supervisores treinamento pessoal em assuntos ligados às normas trabalhistas, aos efeitos de diferentes condições de trabalho na experiência de cada empregado, aos riscos decorrentes da interação e dos conflitos em grupos e às qualificações necessárias para resposta rápida, em casos de stress ou de crise". Por fim, afirma que entrevistas individuais e trabalhos em grupo devem ser estimulados, com conversas francas, abertas e respeitosas.” (NASCIMENTO, 2004) Legislação da França: A França foi o país pioneiro a instituir uma lei propriamente dita em seu ordenamento jurídico, na busca de coibir o assédio moral. A normatização está no Capítulo Quatro da Lei 2002 73 de Modernização Social (Capítulo IV da Lei 2002-73), promulgada em 2002, que prevê, em resumo: • o contrato de trabalho deve ser executado de boa-fé; • a vedação do assédio moral pela degradação deliberada das condições de trabalho do empregado; • a proteção à testemunha que presencia condutas de assédio; • a nulidade de ruptura do contrato decorrente do assédio; • a possibilidade de sanção disciplinar ao empregado que praticar o assédio; • procedimento de mediação entre a vítima e o agressor; • a responsabilidade de o empregador adotar medidas preventivas para coibir tal prática; • caberá à vítima apresentar os elementos indicativos da existência do assédio e ao réu provar objetivamente que os fatos alegados não constituem assédio, caso haja judicialização de demanda; e • pena de um ano de reclusão e o pagamento de multa no valor de 15.000 Euros àqueles que praticarem o assédio moral. No Brasil, mesmo não havendo ainda uma legislação federal específica que tipifique o assédio moral é possível resguardar os direitos do trabalhador nas esferas cível, administrativa e trabalhista utilizando como base a Constituição Federal de 1988 e outras legislações existentes. Conheça o que diz a legislação brasileira a respeito. Constituição Federal A Constituição Federal de 1988 estabelece como um dos princípios gerais o respeito à dignidade do trabalhador, consagrando, ainda, em seu art. 1º, inciso III, como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, “a dignidade da pessoa humana”. O art. 3º, além de outros objetivos fundamentais, prevê “a construção de uma sociedade livre, justa e solidária”. No art. 5º e incisos V e X, a nossa Constituição é taxativa ao afirmar que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […] V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; […] X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Código Civil O Código Civil Brasileiro dispõe, nos artigos 186 e 187, que: Art. 186. “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Art. 187. “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Decreto 1.171/94 O Decreto 1.171/94 aprovou o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, estabelecendo a necessidade de observância de princípios morais norteadores da conduta dos agentes públicos, estando, portanto, órgãos e empresas públicas do executivo federal submetidos ao referido dispositivo. Em relação ao tema assédio, destacam-se as seguintes vedações contidas na Seção III do referido Decreto: XV - É vedado ao servidor público: • prejudicar deliberadamente a reputação de outros servidores ou de cidadãos que deles dependam; • usar de artifícios para procrastinar ou dificultar o exercício regular de direito por qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material; e • permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos, paixões ou interesses de ordem pessoal interfiram no trato com o público, com os jurisdicionados administrativos ou com colegas hierarquicamente superiores ou inferiores. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) A CLT prevê no artigo 483 as hipóteses em que, configurando-se a prática de assédio moral, o empregado poderá vir a requerer a rescisão indireta do seu contrato de trabalho, em razão da atuação culposa do empregador frente aos atos praticados por ele ou seus prepostos, que conferirá ao requerente os mesmos direitos da demissão sem justa causa. Art. 483. “O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a. forem exigidos serviços superiores às forças do empregado, defesos por lei, contrários aos bons costumes ou estranhos ao contrato; b. o empregado for tratado pelo empregador, ou por seus superiores hierárquicos, com rigor excessivo; c. correr o empregado perigo manifesto de mal considerável; d. não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e. praticar o empregador, ou seus prepostos, contra o empregado, ou pessoas de sua família, ato lesivo a honra e boa fama; f. o empregador, ou seus prepostos, ofenderem o empregado fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g. o empregador reduzir o trabalho do empregado, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar consideravelmente a importância dos salários”. Como vimos, o Brasil ainda não possui uma lei federal que tipifique as práticas que configuram o assédio moral no trabalho. Mas, além da legislação apresentada há também iniciativas nas esferas municipal e estadual referentes à edição de leis com o objetivo de proteger servidores públicos de práticas que atentam contra a dignidade dos profissionais. De outro lado tramita no Congresso Nacional o projeto de lei 4742/01 que tipifica no Código Penal o crime de assédio moral no ambiente de trabalho. A proposta foi aprovada no Plenário da Câmara dos Deputados e seguiu para análise e aprovação do Senado. Nos termos desse projeto de lei o crime estará caracterizado quando alguémofender reiteradamente a dignidade de outro, causando-lhe dano, sofrimento físico ou mental no exercício de emprego, cargo ou função. No âmbito dos órgãos e das empresas públicas podemos identificar a existência de códigos de ética que abordam diretamente condutas profissionais esperadas dos agentes públicos, bem como atitudes que podem ser consideradas inaceitáveis. No SERPRO, por exemplo, há um instrumento que normatiza esse tema. O Código de Ética, Conduta e Integridade do SERPRO explicita valores e princípios corporativos que orientam a conduta pessoal e profissional entre aqueles que atuam na Empresa ou em nome dela, incluindo empregados, integrantes do Conselho de Administração, Conselho Fiscal, Auditoria, Diretores, prestadores de serviços, terceirizados, estagiários, jovens aprendizes e requisitados de outros órgãos. Entre os princípios estabelecidos para nortear o relacionamento entre os agentes públicos, está o de “manutenção de um ambiente de trabalho onde o relacionamento é baseado no respeito às diferenças individuais e urbanidade.” Adicionalmente, o Código de Ética, Conduta e Integridade do SERPRO estabelece um rol de condutas esperadas de todos os agentes públicos que atuam na Empresa ou em nome dela, bem como, uma relação de comportamentos inaceitáveis. Não é demais relembrar que, em relação ao tema assédio moral no trabalho, o SERPRO espera que você se comporte buscando sempre: • Desenvolver e manter condições propícias ao estabelecimento de um clima produtivo e agradável no ambiente de trabalho, procedendo com lealdade, justiça, franqueza, transparência e ética. • Tratar as pessoas e suas ideias com dignidade, preservando o bem-estar coletivo, com respeito às características pessoais, à privacidade e à liberdade de opinião. Em contrapartida, no SERPRO considera-se inaceitável: • Exercer qualquer tipo de discriminação de pessoas por motivos de natureza econômica, social, cultural, política, religiosa, cor, raça, gênero, orientação sexual, nacionalidade, linguística, idade, capacidade física ou psíquica. • Permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos, paixões ou interesses de ordem pessoal interfiram nas suas relações profissionais ou comprometam atos legais e de gestão empresarial. • Prejudicar deliberadamente a reputação de empregado da Empresa ou de qualquer outro profissional com quem o SERPRO mantenha relacionamento. • Facilitar ou praticar deliberadamente ações que possam resultar em prejuízo ou dano para a Empresa ou agente público. Consequências do assédio moral no trabalho Práticas de assédio poderão ocasionar consequências para a vítima, para o grupo em que a vítima está inserida, para o assediador, para a organização e, ainda, para a sociedade. Tais consequências podem se relacionar com efeitos negativos na saúde física, mental ou psicológica do indivíduo e do grupo e também podem trazer implicações jurídicas e administrativas tanto para o agressor quanto para a empresa. Conhecer os desdobramentos da prática do assédio é fundamental para que você atue como agente de prevenção e combate ao assédio moral no trabalho. E você sabe o que pode acontecer com a vítima do assédio? São inúmeras as consequências negativas para o indivíduo que sofre o assédio moral. Além do prejuízo para o desenvolvimento profissional e pessoal do empregado assediado e as consequências econômicas derivadas disso as práticas de assédio moral podem, ainda ocasionar perturbações psicológicas como estresse, medo, sentimento de culpa, isolamento, ansiedade, desnorteamento, depressão, agressividade, alterações no apetite e até mesmo dificuldades relacionadas ao sono. O assédio moral pode contribuir também para perturbações psicossomáticas como oscilações de pressão arterial, enxaquecas, perturbações gastrointestinais e dores pelo corpo. E como a equipe da qual a vítima faz parte pode reagir a esse tipo de situação? A equipe na qual a vítima está inserida também poder ser impactada com a ocorrência do assédio moral. Os colegas de trabalho da vítima ao assistirem as condutas assediadoras poderão sofrer com a situação, tanto pelo sentimento de impotência e pela sensação de impossibilidade de reversão daquela situação, quanto pelo receio de que as práticas de assédio possam ser dirigidas a outras pessoas do grupo. Entre as consequências negativas para a equipe podemos identificar temor constante, fragilização das relações de confiança, perda de motivação, queda na produtividade, ocorrência de erros, dificuldades de concentração e tensão grupal, questões que impactam diretamente no clima e no relacionamento entre os membros da equipe. E quais são as consequências para o agressor? Como consequência imediata o agressor poderá estar sujeito à obrigação de indenizar a vítima pelo dano provocado. Além disso, dependendo da conduta praticada o assédio moral pode ser fonte do crime de calúnia, quando, por exemplo o assediador acusar o assediado pela prática de algum crime não cometido conforme orienta o artigo 138 do Código Penal Brasileiro. A pena, nesse caso é de detenção de seis meses a dois anos e multa. Se o assediador ofender publicamente a honra da vítima, poderá, ainda ser caracterizado crime de difamação nos termos do artigo 139 do Código Penal cuja pena é de detenção de três meses a um ano e multa. No caso de ofensa ao decoro ou à dignidade da vítima o assédio poderá ser tipificado como crime de injúria nos termos do artigo 140 do Código Penal cabendo detenção de seis meses a um ano ou multa. Em situações mais extremas, o assediador poderá ser enquadrado em outros crimes como, por exemplo, lesão corporal. Poderá também caber crime de ameaça previsto no artigo 147 do Código Penal não se esgotando a possibilidade de incriminação das condutas assediadoras. Há ainda sanções funcionais que podem de acordo com a gravidade do ato resultar em advertência, suspensão ou até mesmo demissão por justa causa do empregado agressor. Quando o agente assediador é um ente vinculado a um órgão público sua conduta poderá ser enquadrada como abuso de autoridade na forma da Lei nº 4.898 que regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade Administrativa Civil e Penal nos casos de abuso de autoridade. É possível também o enquadramento do assédio dentro das hipóteses previstas na Lei 8.429 conhecida como Lei de Improbidade Administrativa que estabelece uma série de preceitos que devem ser seguidos pelo gestor e busca preservar o interesse público de agentes que assumem condutas não recomendáveis. De acordo com Lei 8.429 caso o agente público utilize de sua condição para assediar outros agentes públicos a ponto de afetar consideravelmente o ambiente de trabalho em detrimento da finalidade institucional o ato pode ser enquadrado juridicamente como improbidade. Nesse caso, a punição poderá ser ressarcimento integral do dano sofrido pelo ente público, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e, até mesmo, proibição de contratar com o Poder Público, e receber benefícios ou incentivos fiscais e creditórios. Agora que já conhecemos algumas das consequências para o agressor quais as possíveis consequências para a empresa? O empregador quando configurada ilicitude da prática será sempre responsável pelos atos de seus prepostos e empregados independente de sua culpa já que responde objetivamente nos termos do Código Civil. A autoridade conferida ao empregador público por meio do poder diretivo exercido por seus prepostos não implica em práticas de autoritarismo e arbitrariedade. A menos que a subordinação do empregado seja usada com o objetivo de violar a dignidade da pessoa humana, tendo como consequência o desequilíbrio no ambiente de trabalho. O abuso da autoridade que configurar assédio moral pode refletir negativamente na vítima e na equiperesultando em perda de produtividade, ausência de motivação, de concentração e de comprometimento. Essas consequências poderão se estender às demais áreas e aos empregados contaminando por completo todo o meio ambiente de trabalho trazendo implicações econômicas negativas como, por exemplo, o absenteísmo e a perda de qualidade dos serviços prestados. Além disso, o empregador poderá sofrer sanções administrativas como aplicação de duras multas impostas por Auditores do Trabalho ou ter que se submeter à assinatura de Termos de Ajustamento de Conduta junto ao Ministério Público do Trabalho. Mesmo considerando que o empregador é responsável pelos atos de seus prepostos e empregados nada impede que a empresa busque a reparação de danos causados pelo agressor. Esse tipo de prática pode gerar queda na produtividade e na qualidade de serviços prestados além do desinteresse da equipe pelo trabalho. Sem contar as consequências nas finanças da empresa gerando custos com serviços jurídicos relacionados a pedidos de indenização por danos morais e materiais decorrentes da situação assediadora. Conforme pôde ser observado o assédio moral no trabalho é uma conduta que pode gerar severas consequências para a saúde da vítima para o ambiente organizacional e até mesmo para a sociedade. Introdução do módulo 03 A legislação e o assédio moral no trabalho Consequências do assédio moral no trabalho
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