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gestacao_alto_risco-83

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Dada a possibilidade de ocorrência de anemia no recém-nascido em uso de 
AZT, recomenda-se a realização de hemograma completo, possibilitando avaliação 
prévia ao início da profilaxia e o monitoramento após 6 e 16 semanas.
É recomendado o alojamento conjunto em período integral, com intuito de 
aprimorar o vínculo mãe-filho.
Recomenda-se a não amamentação e substituição do leite materno por fórmula 
infantil após o aconselhamento. Em situações especiais, pode ser utilizado leite hu-
mano pasteurizado, proveniente de Banco de Leite credenciado pelo Ministério da 
Saúde, como é o caso de recém-nascidos pré-termo ou de baixo peso.
Para informações sobre alternativas ao uso de fórmula infantil e a introdução de 
outros alimentos, deve-se consultar o “Guia prático de preparo de alimentos para crianças 
menores de 12 meses que não podem ser amamentadas” e o “Manual normativo para 
profissionais de saúde de maternidades – referência para mulheres que não podem ama-
mentar”, do Ministério da Saúde, disponíveis na página web www.aids.gov.br 
São terminantemente contraindicados o aleitamento cruzado (amamentação 
da criança por outra nutriz), o aleitamento misto e o uso de leite humano com pas-
teurização domiciliar. 
A criança deve ter alta da maternidade com consulta agendada em serviço es-
pecializado para seguimento de crianças expostas ao HIV. A data da primeira consulta 
não deve ultrapassar 30 dias após o nascimento. Devem-se anotar no resumo de 
alta do recém-nascido as informações do pré-natal, as condições do parto, o tempo 
de uso do AZT injetável na mãe, tempo de início de AZT xarope para o RN com dose e 
periodicidade, além das mensurações antropométricas, o tipo de alimento fornecido à 
criança e outras informações importantes relativas às condições do nascimento. Essas 
informações deverão ser anotadas em papel timbrado da maternidade e encaminha-
das ao serviço de assistência especializado (SAE), juntamente com o resumo de alta. 
Deve-se preencher, na ficha de notificação da Gestante HIV+ e Criança Exposta, 
os dados inerentes ao nascimento da criança, e enviá-la ao núcleo de vigilância epide-
miológica da maternidade (quando houver) ou do município.
A partir de 4 a 6 semanas de vida até a definição do diagnóstico da infecção 
pelo HIV, a criança deve receber quimioprofilaxia para pneumonia pelo P. jiroveci, com 
sulfametoxazol (SMX) + trimetoprima (TMP), na dosagem de 25-40mg/kg/dia de SMX 
ou 5-10mg/kg/dia de TMP, divididos em duas doses diárias, três vezes por semana, ou 
em dias alternados. 
Indica-se a consulta e o seguimento das “Recomendações para terapia antir-
retroviral em crianças e adolescentes infectados pelo HIV - 2009”, do Ministério da 
Saúde, quanto ao acompanhamento, diagnóstico de infecção pelo HIV e monitoração 
de efeitos adversos associados à exposição perinatal a drogas antirretrovirais e uso de 
alimentação por fórmula infantil.
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Infecção pelo Papiloma Virus Humano (HPV)
É a DST viral mais frequente no mundo. A Organização Mundial da Saúde esti-
ma cerca de 30 milhões de casos novos/ano no mundo, podendo alcançar cerca de 30-
40% em pacientes abaixo dos 20 anos. É causada por um vírus do grupo Papova com 
contaminação habitual por via sexual, mas outras vias de contaminação e propagação 
devem ser lembradas, visto que crianças e recém-nascidos podem adquirir a doença 
sem a existência de abuso sexual. 
Atualmente são conhecidos mais de 100 serotipos diferentes, alguns deles com 
potencial oncogênico (capacidade de invadir o genoma celular), principalmente os 
HPVs 16, 18, 31, 33, 45, os quais são capazes de levar ao surgimento de neoplasias 
intraepiteliais de diversos graus. Destes, cerca de um terço acometem o trato genital 
inferior, principalmente o colo uterino.
Não está bem estabelecida a prevalência da infecção pelo HPV durante a ges-
tação. Há estudos demonstrando que é aumentada, o que se deveria à diminuição da 
imunocompetência da gestante. Os estudos mais recentes mostram que as taxas de 
incidência em gestantes e não gestantes são similares. As interpretações anteriores 
são devidas ao diagnóstico mais facilitado durante a gravidez.
A gestação favorece o desenvolvimento e a proliferação das lesões condiloma-
tosas e também torna mais difícil seu tratamento, pelas constantes recidivas. É impor-
tante lembrar que o vírus se instala na membrana basal dos tecidos que infecta e, mui-
tas vezes, a simples retirada da área lesada não impede que outras áreas contaminadas 
ou mesmo a própria área previamente tratada venham a ser sede de nova lesão por 
multiplicação viral e por recontaminação.
Os processos displásicos na gestação podem sofrer progressão, pois, juntamen-
te com o problema das lesões virais da gravidez, o aumento das concentrações séricas 
hormonais provocado pelo estado gravídico por si só leva a um ectrópio frequente-
mente importante, com consequente exteriorização da junção escamocolunar e com 
um estado inflamatório constante. Isso, em associação a uma baixa de imunidade, fa-
vorece a magnificência das alterações celulares provocadas pelo vírus quando de sua 
incorporação à cadeia de DNA celular e quando da duplicação celular, provocando 
“cópias” celulares imperfeitas, levando a uma desorganização da estrutura tecidual, o 
que irá traduzir-se em graus variados de displasia.
Os estudos mostram que há risco da transmissão perinatal do HPV 16 e 18 (on-
cogênicos) e também dos HPV 6 e 11 (condiloma acuminado). A incidência de condilo-
ma acuminado em gestantes é de 0,5 a 3%. Ele tende a aumentar durante a gestação e 
pode ser exuberante, chegando a obstruir o canal do parto. Muitas vezes é resistente aos 
tratamentos e há riscos secundários de infecção, hemorragia, ulceração, distocia, rotura 
prematura das membranas ovulares, corioamnionite e deiscência de episiotomia.
A detecção de infecção HPV pesquisada em recém-nascidos varia entre 38 a 
73% dos nascimentos, sendo considerado maior risco para o neonato o papiloma da 
laringe. No entanto, não está estabelecido se o HPV detectado ao nascimento causa in-
fecção persistente ou transitória. Por outro lado, existem outras formas comprovadas 
de infecção do feto: a materno-fetal intraútero e a infecção adquirida no pós-natal.

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