Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
174 Diagnóstico • Hemograma: variações na forma e tamanho dos eritrócitos (aniso e poiquilo- citose, respectivamente), com possível presença de macrovalócitos. Nos casos mais graves, possível aparecimento de pontilhado basófilo e de restos nuclea- res. Macrocitose (VCM varia de 100 a 150dL) e anisocitose com índice de RDW (Red Cell Distribution Width) aumentado. Neutrófilos podem apresentar hiper- segmentação do núcleo (pleiocariocitose) e pode haver leucopenia, bem como plaquetopenia. • Contagem de reticulócitos baixa. Em gestantes com anemia ferropriva com ausência de microcitose, deve-se suspeitar de anemia megaloblástica associada. • Dosagem de folato sérico e do folato nas hemácias. • Mielograma: presença de megaloblastos (células gigantes com grande quanti- dade de citoplasma e núcleo com características imaturas). A relação G:E (gra- nulócitos/eritrócitos medulares) costuma estar invertida devido à hiperplasia eritroide. Presença de metamielócitos gigantes, denominada de alteração de Tempka-Braun. Os megacarió citos podem ter tamanho aumentado, com pou- cos grânulos no citoplasma e alteração nuclear. Na coloração para ferro, os si- deroblastos estão aumentados em número e contém maior quantidade de grâ- nulos de ferro. • Dosagem de bilirrubina: aumento da bilirrubina indireta. • Desidrogenase láctica (DHL): aumentada devido à hemólise intramedular. Conduta Ácido fólico: a maioria dos suplementos vitamínicos prescritos na gestação contém 1mg de ácido fólico, quantidade suficiente para prevenir e tratar a deficiência de folato. Após três dias de tratamento com ácido fólico, usualmente ocorre uma reticu- locitose e em seguida há a recuperação da hemoglobina. O valor do hematócrito deve aumentar em 1% por dia após uma semana de tratamento. A resposta ao tratamento é rápida, com melhora da anemia em uma semana. Na falta da resposta esperada ao tratamento, é necessário considerar a presença de outras deficiências concomitantes, pois a deficiência de ácido fólico geralmente cursa também com deficiência de ferro. Se após uma semana de tratamento com ácido fólico a gestante não apresentar uma reticulocitose significante, a anemia ferropriva concomitante deve ser considerada. Profilaxia Nas regiões em que a anemia megaloblástica na gestação for um problema comum, como por exemplo, em áreas afetadas pela malária, o uso rotineiro é justifi- cado. Nesses locais, a prescrição rotineira de ácido fólico combinada com quimiopro- filaxia antimalárica melhora o prognóstico materno-fetal. A maioria dos suplementos vitamínicos prescritos na gestação contém 1mg de ácido fólico, quantidade suficiente para prevenir e tratar a deficiência de folato. Quantidades maiores de ácido fólico somente são recomendadas para pacientes com hemoglobinopatias que utilizem 175 anticonvulsivantes, ou com gestações gemelares, ou multíparas com intervalo inter- partal curto. Nesses casos, recomenda-se o uso de 5mg de ácido fólico. Hemoglobinopatias Em termos de estrutura, a hemoglobina é uma proteína tetramérica composta por dois pares de cadeias polipeptídeas ligadas por uma molécula do grupo heme. As cadeias polipeptídeas são chamadas de alpha(α), beta(β), gamma(γ), delta(δ), epsilon(ε) e zeta(ζ). A hemoglobina adulta (hemoglobina A) compreende 95% do total da hemoglobina e é formada por duas cadeias α e duas cadeias β. Os outros 5% consis- tem de hemoglobina A2 (formada por duas cadeias α e duas cadeias δ) e hemoglobina fetal F (formada por duas cadeias α e duas cadeias γ). A hemoglobina F é primária do feto e declina no terceiro trimestre de vida intrauterina atingindo o seu nadir alguns meses após o nascimento. As hemoglobinopatias ocorrem quando há uma mudança na estrutura da cadeia peptídea ou uma falha em sintetizar uma cadeia específica. Os genes que codificam as cadeias α estão localizados no braço curto do cromossomo 16, e os que codificam as cadeias β estão localizados no braço curto do cromossomo 11. Anemia falciforme A anemia falciforme é uma das doenças hereditária mais comum no Brasil. A causa da doença é uma mutação de ponto da globina beta da hemoglobina, originan- do no lugar da hemoglobina A (HbA) uma hemoglobina mutante denominada hemo- globina S (HbS). Em determinadas situações, estas moléculas alteradas podem sofrer polimerização com falcização (assumindo forma de foice, daí o nome falciforme) das hemácias, ocasionando encurtamento da vida média dos glóbulos vermelhos, fenô- meno de vaso oclusão, episódios de dor e lesão de órgãos. A denominação ANEMIA FALCIFORME é reservada para a forma da doença que ocorre em homozigose(SS), ou seja, a criança recebe de cada um dos pais um gene para hemoglobina S. Quando recebe de um dos pais um gene para hemoglobina S e do outro um gene para hemoglobina A ela é apenas portadora do TRAÇO FALCIFORME, não tem a doença e não precisa de cuidados especiais. Além disso, o gene da hemoglobina S pode combinar-se com outras alterações hereditárias das hemoglobinas como hemoglobinas C, D, E Alfa e Beta Talassemias gerando combinações que se apresentam com os mesmos sintomas da combinação SS. O conjunto de combinações SS, SC, SD, S/Beta Talassemia e outras denomina-se DOENÇA FALCIFORME. A doença originou-se na África e foi trazida às Américas pela imigração forçada dos escravos, hoje é encontrada em toda Europa e em grandes regiões da Ásia. A doença fal- ciforme faz parte de um conjunto de doenças que denominamos HEMOGLOBINOPATIAS. Os dados do Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministério da Saú- de estimam que nasçam por ano, no Brasil, em torno de 3 mil crianças com Doença Falci forme e 200 mil com Traço. Maiores prevalências são encontradas nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais e Maranhão.
Compartilhar