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59 A escrita de diários

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A escrita de diários Um instrumento fundamental no processo de ensino-aprendizagem e, 
consequentemente, no desenvolvimento de uma pesquisa é o diário de aprendizagem. De 
acordo com Bailey (1990) os diários podem ser usados tanto para pesquisa como em vários 
outros contextos diversos: aprendizagem de língua estrangeira, interação professor-aluno, 
formação de professores. A autora define o diário como um relato em 1ª. pessoa acerca da 
aprendizagem ou da experiência profissional, escrito de maneira sincera e imparcial para 
depois ser analisado naquilo que tange os eventos considerados como padrão e/ou aqueles 
que mais chamam a atenção do pesquisador, que pode ser o próprio autor do diário. Segundo 
Machado (1998), a utilização do diário se impôs a partir do século XIX. As contradições sociais e 
os ideais de liberdade típicos da época, associados à realidade do cotidiano dos indivíduos 
foram o pano de fundo para a utilização do diário de maneira mais contundente. De acordo 
com Liberali (1999:21) “o diário apareceria como uma forma de dar vazão aos conflitos 
interiores”. Se tomarmos tal informação como ponto de partida e compararmos com os dias de 
hoje, verificaremos que o tipo de sociedade na qual vivemos, também parece favorecer a 
utilização dos diários, o que faz com que sua utilização seja cada vez mais diversa, pois ele vai 
aparecer em diferentes campos de atuação e sob diferentes pontos de vista: literário, 
metodológico, científico, educacional, entre outros. Os textos de Barthes (1979) e de Machado 
(1998), remetem a produção diarista a um momento em que o autor entra em contato consigo 
mesmo, procurando dar sentido a aquilo que vive, por meio da escrita, que pode, ou não, ter 
características de um texto falado. Por meio do diário, o autor pode assumir o papel que quiser, 
vislumbrando assim o sentido de “liberdade” que geralmente se atribui à produção diarista. 
Naquele instante, o indivíduo é totalmente livre para relatar suas impressões acerca de 
documentários, palestras, seminários, aulas, textos, observações diversas. Essas produções, 
dependendo do objetivo com que foram desenvolvidas podem (ou não) se transformar em 
documentos de pesquisa, instrumentos de ensinoaprendizagem, instrumentos do processo de 
avaliação de ensinoaprendizagem, ensaios teóricos e outros materiais com finalidade de 
pesquisa, a fim de que se promova não apenas um processo reflexivo, mas também a 
transformação da ação, por meio da reflexão. Liberali (1999), baseando-se em Machado (1998) 
e Zabalza (1994) apresenta algumas áreas de conhecimento em que os diários aparecem e sua 
finalidade: ciências sociais, história, psicologia clínica, pesquisas educacionais, entre outras. 
Dentre essas áreas, a que mais nos interessa é a educacional. A autora afirma que o diário 
pode ser: • Instrumento de pesquisa • Instrumento de ensino-aprendizagem • Exploração da 
dinâmica de situações concretas, por meio dos relatos de protagonistas. O indivíduo escreve 
para si, mas sabe que poderá haver outro “eu” a ler os registros. É um espaço para que se 
registrem opiniões e impressões, além de hipóteses, dúvidas, resumos de palestras e de outros 
materiais usados no processo educativo e/ou de pesquisa. Diferente da visão valorizadora de 
acúmulo de informações fatuais, a utilização do diário é pertinente em situações em que a 
observação e a reflexão, aliadas ao raciocínio e a determinada forma de encadear o 
pensamento, promotoras de reflexão, se façam presentes. Nesse ambiente, o diário pode ser 
usado como um instrumento capaz de contribuir para a (re) organização do processo, 
fornecendo ao pesquisador, ao professor e ao aluno informações sobre o processo, tanto da 
pesquisa, como do indivíduo como um todo. Para Zabalza (1994) os diários podem ser 
entendidos como a expressão das características, tanto de alunos como de professores. Pode 
apresentar estruturas das aulas e descrição das tarefas. Nele podem ser registradas as 
impressões acerca de aulas, materiais, dúvidas, percepções, hipóteses, intenções, além de 
referências a sentimentos e atuações do indivíduo. Nesse contexto, ele se coloca diante dos 
fatos, avaliando e reavaliando o processo, podendo muitas vezes perceber a necessidade de se 
posicionar de maneira diferente, de se reorganizar. O diário como instrumento de pesquisa 
suscita diferentes tipos de reflexão. A interferência do pesquisador pode oferecer condições 
para a ocorrência da reflexão sobre a prática durante o trabalho de pesquisa. Como 
instrumento de ensino-aprendizagem, é possível citar a utilização do diário como diário de 
leituras, cujas impressões, tendo o principal aporte na pesquisa de Machado (1998), são 
apresentadas a seguir.

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