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A escrita de diários Um instrumento fundamental no processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, no desenvolvimento de uma pesquisa é o diário de aprendizagem. De acordo com Bailey (1990) os diários podem ser usados tanto para pesquisa como em vários outros contextos diversos: aprendizagem de língua estrangeira, interação professor-aluno, formação de professores. A autora define o diário como um relato em 1ª. pessoa acerca da aprendizagem ou da experiência profissional, escrito de maneira sincera e imparcial para depois ser analisado naquilo que tange os eventos considerados como padrão e/ou aqueles que mais chamam a atenção do pesquisador, que pode ser o próprio autor do diário. Segundo Machado (1998), a utilização do diário se impôs a partir do século XIX. As contradições sociais e os ideais de liberdade típicos da época, associados à realidade do cotidiano dos indivíduos foram o pano de fundo para a utilização do diário de maneira mais contundente. De acordo com Liberali (1999:21) “o diário apareceria como uma forma de dar vazão aos conflitos interiores”. Se tomarmos tal informação como ponto de partida e compararmos com os dias de hoje, verificaremos que o tipo de sociedade na qual vivemos, também parece favorecer a utilização dos diários, o que faz com que sua utilização seja cada vez mais diversa, pois ele vai aparecer em diferentes campos de atuação e sob diferentes pontos de vista: literário, metodológico, científico, educacional, entre outros. Os textos de Barthes (1979) e de Machado (1998), remetem a produção diarista a um momento em que o autor entra em contato consigo mesmo, procurando dar sentido a aquilo que vive, por meio da escrita, que pode, ou não, ter características de um texto falado. Por meio do diário, o autor pode assumir o papel que quiser, vislumbrando assim o sentido de “liberdade” que geralmente se atribui à produção diarista. Naquele instante, o indivíduo é totalmente livre para relatar suas impressões acerca de documentários, palestras, seminários, aulas, textos, observações diversas. Essas produções, dependendo do objetivo com que foram desenvolvidas podem (ou não) se transformar em documentos de pesquisa, instrumentos de ensinoaprendizagem, instrumentos do processo de avaliação de ensinoaprendizagem, ensaios teóricos e outros materiais com finalidade de pesquisa, a fim de que se promova não apenas um processo reflexivo, mas também a transformação da ação, por meio da reflexão. Liberali (1999), baseando-se em Machado (1998) e Zabalza (1994) apresenta algumas áreas de conhecimento em que os diários aparecem e sua finalidade: ciências sociais, história, psicologia clínica, pesquisas educacionais, entre outras. Dentre essas áreas, a que mais nos interessa é a educacional. A autora afirma que o diário pode ser: • Instrumento de pesquisa • Instrumento de ensino-aprendizagem • Exploração da dinâmica de situações concretas, por meio dos relatos de protagonistas. O indivíduo escreve para si, mas sabe que poderá haver outro “eu” a ler os registros. É um espaço para que se registrem opiniões e impressões, além de hipóteses, dúvidas, resumos de palestras e de outros materiais usados no processo educativo e/ou de pesquisa. Diferente da visão valorizadora de acúmulo de informações fatuais, a utilização do diário é pertinente em situações em que a observação e a reflexão, aliadas ao raciocínio e a determinada forma de encadear o pensamento, promotoras de reflexão, se façam presentes. Nesse ambiente, o diário pode ser usado como um instrumento capaz de contribuir para a (re) organização do processo, fornecendo ao pesquisador, ao professor e ao aluno informações sobre o processo, tanto da pesquisa, como do indivíduo como um todo. Para Zabalza (1994) os diários podem ser entendidos como a expressão das características, tanto de alunos como de professores. Pode apresentar estruturas das aulas e descrição das tarefas. Nele podem ser registradas as impressões acerca de aulas, materiais, dúvidas, percepções, hipóteses, intenções, além de referências a sentimentos e atuações do indivíduo. Nesse contexto, ele se coloca diante dos fatos, avaliando e reavaliando o processo, podendo muitas vezes perceber a necessidade de se posicionar de maneira diferente, de se reorganizar. O diário como instrumento de pesquisa suscita diferentes tipos de reflexão. A interferência do pesquisador pode oferecer condições para a ocorrência da reflexão sobre a prática durante o trabalho de pesquisa. Como instrumento de ensino-aprendizagem, é possível citar a utilização do diário como diário de leituras, cujas impressões, tendo o principal aporte na pesquisa de Machado (1998), são apresentadas a seguir.
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