Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
266 certos macacos, podem ser atribuídos, quase inteiramente, ao uso contínuo e à hereditariedade. Quanto às mamas dos animais superiores, pode conjeturar-se que, primitivamente, as glândulas cutâneas que cobriam a superfície total de um saco marsupial, segregavam um líquido nutritivo, e que estas glândulas, melhora- das no ponto de vista da sua função pela seleção natural e concentradas em um espaço limitado, acabam por formar a mama. Não é mais difícil de compreender como os espinhos ramificados de algum antigo equinoderme, servindo de armas defensivas, foram transformados pela seleção natural em pedicelos tridáctilos, do que explicar o desenvolvimento das pinças dos crustáceos por modificações úteis, ainda que ligeiras, operadas nos últimos segmentos de um membro servindo a princípio unicamente para a locomoção. Os aviculários e as celhas vibráteis dos polizênidas são órgãos que têm uma mesma origem, ainda que muito diferentes pelo aspecto; é fácil de compreender os serviços que prestaram as fases sucessi- vas que produziram as celhas vibráteis. Nos ajuntamentos polínicos das orquí- deas, podem encontrar-se as fases da transformação em caudículo dos filamentos que primitivamente serviam para prender em conjunto os grãos do pólen; pode igualmente seguir-se a série de transformações pelas quais a substância viscosa parecida com a que segregam os estigmas das flores ordináxias, e servindo pouco mais ou menos, ainda que não inteiramente, ao mesmo uso, está ligada às extre- midades livres dos caudículos; todas estas gradações têm sido evidentemente vantajosas às plantas em questão. Quanto às plantas trepadoras, é inútil repetir o que acabo de dizer neste instante. Se a seleção natural dispõe de tanto poder, porque é, tem-se muitas vezes perguntado, que não deu a certas espécies tal ou tal conformação que lhes hou- vesse sido vantajosa? Mas seria desarrazoado pedir uma resposta precisa a ques- tões deste gênero, se refletirmos na nossa ignorância sobre o passado de cada espécie e sobre as condições que, hoje, determinam a sua abundância e sua dis- tribuição. Salvo alguns casos em que podem invocar-se estas causas especiais, somente podemos dar de ordinário razões gerais. Assim, como são necessaria- mente precisas numerosas modificações coordenadas para adaptar uma espécie a novos hábitos de existência, pode ter acontecido muitas vezes que as partes
Compartilhar