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AULA 3 INOVAÇÃO ABERTA E REDES COLABORATIVAS PARA INOVAÇÃO INTRODUÇÃO Aqui, você observará a importância das redes colaborativas como estratégia para o crescimento da organização. As transformações digitais e a globalização possibilitam e impulsionam o fortalecimento das redes colaborativas em parceria com a inovação aberta, ambas são uma forte estratégia de crescimento Nesta etapa, você estudará os seguintes tópicos: 1. As redes como forma de convivência; 2. As redes colaborativas e as organizações; 3. Desafios da rede colaborativa; 4. Inovação aberta e redes colaborativas: estratégia de desenvolvimento; 5. Fiat MIO – pioneirismo na inovação colaborativa. TEMA 1 – AS REDES COMO FORMA DE CONVIVÊNCIA Você trabalha, estuda, tem sua família e suas atividades de lazer. Em todos esses contextos, você tem seu grupo social, você tem a sua rede de apoio. Vocês se ajudam, compartilham informações, momentos de alegria, se apoiam nas dificuldades. Em suma, é sua rede de colaboração. A palavra rede tem origem no latim1 retis, que significa teia, entrelaçamento de fios e nós, que formam uma trama, tipo tear, uma malha fechada. Redes são entidades interligadas umas às outras respeitando as regras estabelecidas. Você já deve ter observado que as mudanças na forma de vida vêm se alterando significativamente, seja através das inovações tecnológicas ou das mudanças econômicas, resultando em novas formas de produzir conhecimento. A vida social e profissional se tornou muito mais interligada, conectada. As tecnologias permitem contatos sociais através do Facebook, do Instagram, do LinkdIn entre outros. Alguém que você conhece nas redes sociais conhece alguém, que conhece alguém... então, você pode observar que a sociedade está em rede, nela é possível compartilhar conhecimentos, experiências, ou simplesmente fazer postagens. 1 Disponível em: <https://conceito.de/rede>. Acesso em: 7 out. 2022. 2 O tema da sociedade em rede começou a ter destaque quando abordado pelo sociólogo espanhol Manuel Castells, com o livro A Sociedade em Rede, lançado em 1999. Nele, o autor busca esclarecer a nova dinâmica social e econômica resultante da era da informação, incluído os processos de globalização que excluem alguns povos, tornando insignificantes sociedades inteiras que estão excluídas das redes de informação. Segundo o autor, na sociedade da informação, as redes sociais são cada vez mais mediadas pelas tecnologias da informação e da comunicação, conectando pessoas, lugares, organizações nas mais diversas dimensões. A presença ou a ausência das pessoas ou das organizações na rede permite transformações na sociedade, o que o autor chama de sociedade em rede, quando formamos uma rede ou estamos em rede (Castells, 2013). Além de Castells, o sociólogo francês Pierre Levy, no livro Cibercultura, também traz reflexões para repensar o caminho da humanidade através das tecnologias digitais. Nele, o autor reflete sobre como a tecnologia impacta na construção da inteligência coletiva, com a interatividade e o ciberespaço que é “o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial de computadores” (Lévy, 2010, p. 17-18). Ainda, segundo Lévy, “A internet é um dos mais fantásticos exemplos de construção cooperativa internacional” (2010, p. 126). Podemos observar com esses autores que a compreensão da expressão rede colaborativa vai além da infraestrutura, ela perpassa por relações sociais, práticas, linguagem, atividades sociais, comportamentos... em suma, há uma interligação entre todas essas dimensões. Essas transformações em todos os setores da sociedade permite uma diferente concepção de uma nova forma de criar, produzir, distribuir e consumir. Essa nova realidade se apresenta através da valoração na criação, que surge por meio do conhecimento compartilhado e das redes de consumo colaborativo, através de pessoas que desejam resolver problemas em comum. Saiba mais Vivemos em um planeta com, aproximadamente, 7 bilhões de habitantes. Por esse motivo, é difícil acreditar que todos estamos conectados de alguma forma. Porém, em 1929, o escritor húngaro Frigyes Karinthy formulou uma hipótese na qual é possível estabelecer um vínculo entre duas pessoas desconhecidas com não mais que cinco conexões. Em 1967, a hipótese transformou-se na Teoria dos Seis Graus de Separação, um psicólogo 3 novaiorquino Stanley Milgtam, que desconhecia o trabalho do húngaro. Atualmente, há indícios que essa distância diminuiu para 4,74 pessoas, de acordo com estudo realizado pelo Facebook, em parceria com a Universidade de Milão, levando-se em conta que quase 20% da população mundial está cadastrada na rede social. Fonte: <https://fnq.org.br/comunidade/wp- content/uploads/ 2018/12/n_10_atuacao_em_rede_fnq.pdf>. Acesso em: 7 out. 2022. TEMA 2 – AS REDES COLABORATIVAS E AS ORGANIZAÇÕES Entende-se como organização todo e qualquer grupo de pessoas que trabalham e atuam por uma causa em comum. Eles podem ser formais ou informais, ter como objetivo a lucratividade ou o bem coletivo. Em resumo, as organizações são sistemas sociais, que desempenham um papel importante no gerenciamento das redes (chamadas redes organizacionais), como os parceiros, os clientes, os fornecedores, com a sociedade em geral (os stakeholders). Quadro 1 – Tipos de arranjos de redes TIPOS DE ARRANJOS DE REDES No livro “Gestão Estratégica do Conhecimento: Integrando Aprendizagem, Conhecimento e Competências”, de Afonso Fleury, foram definidas as seguintes classificações de redes, quanto aos tipos de arranjos: - agrupamentos horizontais de companhias de diferentes indústrias e setores; - agrupamentos verticais, os keiretsu, dominados por uma empresa com suas fornecedoras; - agrupamentos ad hoc, em que as empresas participam de um arranjo temporário de atividades, com duração limitada. A publicação também explica: “As redes organizacionais são novas configurações de arranjos em que as empresas se organizam de forma a se manter no mercado. Esses novos arranjos têm como características: cooperação, interação, integração e compartilhamento de informações. Sendo essa última, um dos principais benefícios que se pode obter dentro da rede”. Fonte: FNQ, [S.d.]. Nos últimos anos, a expressão rede organizacional ampliou seu poder de atuação, agindo como uma rede colaborativa. Essa expressão é recente e não há academicamente uma definição única, pois há diferentes abordagens dos autores. 4 Entende-se que as redes colaborativas são interações que ocorrem entre os indivíduos e as organizações, permitindo a troca de conhecimentos através da coparticipação, possibilitando o aumento da inovação, ofertando impactos positivos no desempenho da organização. Em suma, uma rede colaborativa tem como objetivo colaborar, esse impacto positivo pode ocorrer tanto no desempenho econômico, como no processo, na capacidade de inovação ou mesmos nos resultados apresentados. Olivieri (2002) sintetiza um bom conceito rede: As redes são grupos ou sistemas complexos e interconectados (Tidd; Bessant, 2015). Podem ser entendidas como uma nova forma hibrida da organização, apresentando uma nova configuração da construção organizacional, substituindo a hierarquia. Segundo Balestrin e Verschoore (2016, p. 53), são três objetivos principais das redes: a) Permitem uma adequação ao ambiente competitivo dentro de uma estrutura dinâmica, sustentada por ações uniformizadas, mas descentralizadas; b) Possibilitam ganhos de escala com a ação coletiva; c)Não deixam as empresas envolvidas perderem a flexibilidade proporcionada por seu porte enxuto. Muitas são as possibilidades de redes. Por exemplo: pequenos comércios de varejo podem se fortalecer através da cooperação, como um caminho alternativo para enfrentar os gigantes do varejo. A cooperação pode ocorrer através da rede de compra conseguindo um melhor valor, ou pode ser nas campanhaspromocionais. O importante é construir uma rede compartilhada. Alguns desafios podem surgir na criação de uma rede, como ter um comprometimento, confiança e espírito de parceria para construir algo coletivo, ciente que a troca de informação permite a construção de algo melhor. Além desses fatores, Augusto de Franco destaca que para construir uma rede é necessário considerar três dimensões: Redes são sistemas organizacionais capazes de reunir indivíduos e instituições, de forma democrática e participativa, em torno de objetivos e/ou temáticas comuns. Estruturas flexíveis e cadenciadas, as redes se estabelecem por relações horizontais, interconexas e em dinâmicas que supõem o trabalho colaborativo e participativo. As redes se sustentam pela vontade e afinidade de seus integrantes, caracterizando-se como um significativo recurso organizacional, tanto para as relações pessoais quanto para a estruturação social. 5 • 1) compreender que a rede é um conjunto que envolve a cultura, os valores, as atitudes e a infraestrutura da organização; • 2) a rede se forma através de grupo, de um sistema; • 3) as pessoas estão interconectadas no tempo e no espaço através da tecnologia. Variados são os motivos que reúnem um grupo de pessoas, os chamados atores sociais para atuarem em rede. Segundo Tidd e Bessant (2015, p. 288), são quatros os argumentos básicos para criar uma rede: • 1) A eficiência coletiva – através do compartilhamento de informações, as redes permitem fortalecimento para responder com eficiência as demandas do mercado competitivo; • 2) O aprendizado coletivo – as redes permitem compartilhamento de informação, facilitam o processo de aprendizado, trocam experiências, e propõem novas ideias; as redes de aprendizado com bons atores sociais são extremamente eficientes; • 3) O enfrentamento coletivo do risco – as redes se fortalecem no enfrentamento de riscos, diferentemente de enfrentá-los sozinhos (a conhecida troca de ideias); • 4) A intersecção de diferentes conjuntos de conhecimentos: as redes permitem a construção de muitos relacionamentos entre fronteiras de conhecimento e permitindo novos estímulos e experiências. Veja a seguir as imagens apresentadas pela FNQ (Fundação Nacional de Qualidade). Há uma sensível diferença gráfica entre os modelos centralizado, descentralizado e distribuído. Observe que o verde é efetivamente uma rede, pois não há hierarquia e compartilhamento é contínuo. 6 Figura 1 – Imagens apresentadas pela FNQ Fonte: FNQ.org, [S.d.]. TEMA 3 – DESAFIOS DA REDE COLABORATIVA As redes colaborativas oferecem ganhos competitivos que dificilmente a empresa conseguiria sozinha. Segundo Balestrin e Verschoore (2016, p. 135), uma rede se estabelece quando há coerência e conectividade: • Coerência ocorre quando há interesses semelhantes, buscam objetivos em comum; • Conectividade ocorre quando há uma “empatia” entre os participantes, através de uma interação, que transpassa pelos bens tangíveis e intangíveis. Embora tenham essas características, o que importa numa rede colaborativa é gerar soluções coletivas, atendendo os objetivos em comum para os desafios impostos pelo mercado. A figura a seguir representa as condições para o estabelecimento de uma rede de colaboração, que devem ter objetivos comum: 7 Figura 2 – Rede de colaboração Fonte: Balestrin e Verschoore, 2016, p. 145. De modo geral, os objetivos em comum são referentes a “acessar recursos, exercer assimetria de poder, buscar reciprocidade, ganhar eficiência, alcançar estabilidade, conquistar legitimidade, obter flexibilidade, entre outros” (Balestri; Verschoore, 2016). A busca de ganhos competitivos está relacionada a soluções coletivas, redução de risco, poder no mercado entre outros. Entre os objetivos e os ganhos, é necessária uma interação, uma conectividade, uma sinergia para a criação da rede. E sobretudo, destaco também a necessidade de uma boa gestão, um líder visionário, que acredite na equipe e no poder das redes. Saiba mais Atualmente, o papel do líder é muito mais complexo e importante. O foco não está somente no trabalho, mas nas pessoas que o executam. Ele conduz ações, influencia o comportamento e a mentalidade das pessoas, estabelece metas direcionadas. O líder está pronto para enfrentar as mudanças, dirigindo a equipe por meio e uma visão de futuro, engajando e inspirando a superar os obstáculos. Um grande líder dirige a equipe de forma ética e positiva. A liderança exige paciência, disciplina, humildade, respeito e compromisso. 8 Nas redes colaborativas, a liderança empresarial precisa: ▪ entender que a rede se faz com pessoas e instituições sobre as quais ele(a) não exerce autoridade formal, mas sim a capacidade de organizar e fazer brotar os benefícios da rede; ▪ entender a necessidade de focar em resultados, ter clareza nas escolhas propostas pela rede; ▪ ter serenidade para entender que nem todos irão querer participar de uma rede colaborativa, por razões diversas, desde desconfiança, até desanimo pessoal mesmo. Fonte: elaborado com base em Soares, 2015, e Bastos, 2020. Observa-se, de modo geral, que para a criação das redes é necessário ter o apoio de uma liderança forte. Segundo relatório do Sebrae Inteligência Setorial2, o fortalecimento das redes ganha força em momentos de crise, quando falta recursos ou quando se observa que o crescimento pode ser facilitado pelas redes colaborativas. Bastos (2020) identifica que as redes colaborativas que obtiveram sucesso identificaram no concorrente um “aliado”, colaborando em pontos em comum, mas guardando informações fundamentais para o seu negócio, mantendo a ética e a responsabilidade. Ainda, o autor destaca que as grandes empresas praticam com mais frequência as redes de apoio, enquanto os pequenos empreendedores necessitam desenvolver a cultura da confiança, para se fortalecer e enfrentar períodos difíceis como da pandemia. Ainda, Bastos (2020) destaca como positivo os ganhos que as redes colaborativas oferecem: • Redução de custos, com trocas e empréstimos de equipamentos, de ferramentas; • Práticas de sustentabilidade, com a reciclagem e aproveitamento do que for excedente; • Compartilhamento de fretes, aproveitamento de transporte e logísticas, reduzindo os custos; • Compartilhar espaços de trabalhos, como galpões e armazenagens; e • Rede de grupos de compras, para reduzir o custo e aumentar os lucros. 2 Disponível em: <https://sebraeinteligenciasetorial.com.br/produtos/ noticias-de-impacto/o-que-e- e-como-trabalhar-em-rede-colaborativa/ 5e9da0947bb6781900c7ca07>. Acesso em: 7 out. 2022. 9 Em uma sociedade cada vez mais complexa, com a revoluções tecnológicas transformando o mundo, as organizações e as pessoas terão que se abrir e se adaptar as redes colaborativas para encontrar soluções para os novos problemas. TEMA 4 – INOVAÇÃO ABERTA E REDES COLABORATIVAS: ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO As organizações têm que enfrentar os desafios atuais com mais agilidade, apresentando mais resultados com eficiência. As mudanças ocorrem com muita intensidade. Novas demandas, um consumidor mais exigente, a tecnologia que evolui muito rápido, as novas gerações de profissionais que chegam ao mercado conectados, um maior número de empresas concorrendo no mercado. Além destes, há ainda os desafios globais. • 1) No enfrentamento a Pandemia do Covid-19, as organizações tiveram que utilizar toda sua capacidade criativa, com o comprometimento da equipe de colaboradores para continuar atuando no mercado. • 2) A Guerra na Ucrânia (em pleno século XXI uma guerra no Leste Europeu) afeta a distribuição de gás aumentando a inflação e o custo de vida global. • 3) A demanda por seguir as diretrizes da ODS, assunto sempre em pauta no contexto organizacional e global. Há uma preocupação que o crescimento organizacional não se sobreponha ao desenvolvimentosustentável. São 17 os objetivos “ambiciosos” apresentados pela ONU para desenvolvimento. Fonte: <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs>. Acesso em: 7 out. 2022. 10 Essas situações nos mostram o quão globalizado o mundo se encontra. O isolamento social causado pela pandemia do Covid-19 fez com que muitas empresas reduzissem seus ritmos de produção, isso resultou na falta de matéria prima a nível global3, que interfere diretamente na produção local. A Guerra na Ucrânia mostra que os países estão interdependentes, pois a Ucrânia é o quarto maior exportador de grãos do mundo4, com a guerra até os países da América Latina sentem o impacto do aumento do preço dos alimentos. Esses exemplos mostram como o desenvolvimento econômico é resultado da interligação e interconexão, não há mais espaço para economias fechadas. Soma-se a esses fatores a preocupação que crescimento econômico dos países e das organizações devem respeitar o meio ambiente, a qualidade de vida, combater a pobreza, permitir um trabalho descente, lutar contra as desigualdades... em suma, são 17 as propostas da Organização das Nações Unidas para trazer melhorias sociais. Empresas e países que não apresentam engajamento a essas propostas não são bem-vistos no mercado globalizado. Uma empresa que se utiliza do trabalho infantil na África terá dificuldade da aceitação dos seus produtos pelos consumidores nos países Europeus. Além desses desafios, uma nova geração de profissionais chega ao mercado de trabalho, a chamada Geração Z5 que está iniciando o desenvolvimento das suas atividades profissionais. Eles são extremamente conectados, acreditam conseguir fazer várias coisas ao mesmo tempo, são mais soltos, não tem aderência a cumprir horário, nem de se submeter a uma hierarquia e gostam de mudanças, tendem a ficar pouco tempo nas empresas. Por outro lado, são visionários, conhecem bem as ferramentas tecnológicas, sobretudo das redes sociais. Esse é um grande desafio para as empresas, conseguir integrar, conciliar e aproveitar as diferentes características de cada geração. Essas situações, entre outras, exigem que as empresas sejam mais abertas para a inovação e possuam uma rede colaborativa, revendo conceitos e 4 Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional- Disponível em <https://www.cnnbrasil.com.br/business/quatro-em-cada-dez- industrias- 3 brasileiras-relatam-falta-de-materia-prima-diz-fgv/>. Acesso em: 7 out. 2022. 62272076#:~:text=A%20Ucr%C3%A2nia%20%C3%A9%20o%20quarto,maior%2 0exportador%2 0mundial%20%2D%20tiveram%20queda>. Acesso em: 7 out. 2022. Disponível em: <https://www.dinamicaej.com.br/como-se-comunicar-com- geracoes/?gclid=Cj0KCQjwjvaYBhDlARIsAO8PkE1-BMExyHNxiltlzB_p- GSBkSOpLepY6r7kkkOnOPIKgftsyPRmvtkaAn8wEALw_wcB>. Acesso em:7 out. 2022. 5 11 abrindo-se para o novo, o que em muitas situações pode resultar em um impacto de estratégia, de direcionamento, exigindo da organização novas ações. Nesta nova realidade, as redes sociais desenvolvem um papel muito importante, elas permitem que o consumidor se manifeste sobre as marcas (o produto consumido), fazendo análises positivas ou negativas. É o que o Alvin Tofler chamou no livro A Terceira Onda (1980) de prosumidor (junção das palavras produtor/ profissional + consumidor) é o “consumidor que gera conteúdo”, que se manifesta, que critica, que elogia, em suma é um consumidor conectado. Esse novo ator social, o prosumidor, quebra o paradigma que a empresa é detentora total do conhecimento para desenvolver novos produtos. A partir dessa nova realidade, entende-se que os consumidores são também produtores, como por exemplo a produção de conteúdo na Internet, como a Wikipédia6 uma enciclopédia livre no qual disponibilidade da informação ocorre através da colaboração do usuário. Saiba mais A Wikipédia é um projeto de enciclopédia colaborativa, universal e multilíngue estabelecido na internet sob o princípio wiki. Tem como propósito fornecer um conteúdo livre, objetivo e verificável, que todos possam editar e melhorar. O projeto é definido pelos princípios fundadores e o conteúdo é disponibilizado sob a licença Creative Commons BY-SA e pode ser reutilizado sob a mesma licença, desde que respeitando os termos de uso. Todos podem publicar conteúdo on-line desde que criem uma conta e sigam as regras básicas, como verificabilidade ou notoriedade. Todos os editores da Wikipédia são voluntários e integram uma comunidade colaborativa, sem um líder, onde coordenam esforços em projetos temáticos e espaços de discussão. Dentre as várias páginas de ajuda à disposição, estão as que explicam como criar um artigo ou editar um artigo. Em caso de dúvidas, não hesite em perguntar. Debates e comentários sobre os artigos são bem-vindos. As páginas de discussão servem para centralizar reflexões e avaliações sobre como melhorar o conteúdo da Wikipédia. 6 Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal>. Acesso em: 7 out. 2022. 12 TEMA 5 – FIAT MIO: PIONEIRISMO NA INOVAÇÃO COLABORATIVA De modo geral, as empresas automobilísticas desenvolvem seus carros no setor de P&D, “de portas fechadas”, é uma estratégia desenvolver o automóvel dentro da organização. Eventos como as feiras de automóveis são datas importantes para apresentar ao mercado o carro desenvolvido, os consumidores fãs de carro aguardam com expectativa essa data. A Fiat quebrou esses paradigmas ao criar o carro conceito, chamado Fiat Mio. A Fiat é uma das maiores empresas automobilísticas do mundo, está presente em mais de 60 países. No Brasil, a fábrica da Fiat está instalada desde 1976, em Betim, Minas Gerais. O consumo da marca no país é representativo, influenciado e compondo nas estratégias e direcionamentos da empresa. Em comemoração os 30 anos de Brasil, a montadora italiana convidou o público para participar e compartilhar suas expectativas sobre o futuro, com a chamada de campanha: Fiat 30 anos, convidando você para pensar o futuro. Através de um projeto participativo, a empresa convidou as pessoas a falarem sobre um novo tempo, e o que esperavam dele. As pessoas puderam participar de modo interativo, através da Internet, envolvendo pessoas de diversas regiões, idades e classes sociais. Seguindo a mesma conduta de interação com o público, no ano de 2009, a Fiat investiu na proposta de carro conceito7, uma tentativa de laboratório que apresenta tendências no mercado automobilístico. Ela convidou os internautas a pensarem o carro do futuro e registrassem suas opiniões através de uma plataforma aberta criada e regida sob a licença Creative Commons 8, na qual a propriedade intelectual é aberta, coletiva, distribuída. Por ser uma construção coletiva, uma inovação aberta compartilhada, todo o processo foi filmado e compartilhado na internet, todas as informações estavam disponíveis inclusive para os concorrentes. Essa ação resultou na participação de mais de 11 mil ideias, com a participação de mais de 17 mil pessoas, oriundas de 160 países. A Fiat colocou em fabricação a proposta em 5 meses. O Fiat Mio é um carro colaborativo por 7 Pode-se entender a carro conceito similar ao mundo da moda, eles não são necessariamente comercializados como os outros automóveis, mas servem como referências para ser colocados em práticas futuramente em outros automóveis 8 Fonte: <http://www.fiatmio.cc/wp-content/uploads/2009/07/ MIO_creative_commons_pt.pdf>. Acesso em: 7 out. 2022. 13 crowdsourcing9, foi baseado nas ideias e nas necessidades dos usuários. A sua versão conceito foi apresentada no 26o Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro de 2010. A proposta do carro foi inovadora também na forma de construção da ideia, sendo um marco na forma de comunicação e interação entre a empresa e os clientes. O slogan do Fiat Mio traz um toque de sentimento de propriedade, de personalidade, de pessoalidade: “Fiat Mio: um carro parachamar de seu”, o termo Mio em italiano significa “meu”. Na Itália o conceito do Fiat Mio foi registrado como “Um carro compacto e ágil, confortável e seguro com soluções inovativas de tráfego para grandes cidades, um motor não poluente e com capacidade de receber atualizações personalizadas e mudanças na configuração, tendo interface entre carro e usuário” (Scheidemantel, 2013). O processo de inovação aberta do Fiat Mio é o primeiro registrado academicamente e nas mídias, causou uma revolução na forma de comunicação entre as empresas e os consumidores. Foi um projeto muito ousado! Ao optar por esse modelo de inovação a empresa enfrentou muito desafios, que lhe renderam um valor diferenciado no mercado. Saiba mais Para saber mais, assista ao vídeo ‘’Um dia no futuro do Fiat Mio’’ disponível no link a seguir: < https://www.youtube.com/watch? v=JoWbUR4b9io>. Acesso em: 10 out. 2022. 9 Crowdsourcing é um processo que coleta de informação, ideias e conteúdos em rede. 14 REFERÊNCIAS BALESTRIN, A.; VERSCHOORE, J. Redes de Cooperação Empresarial. Porto Alegre: Grupo A, 2016. BASTOS, G. O que é e como trabalhar em rede colaborativa. Sebrae, 2020. Disponível em: <https://sebraeinteligenciasetorial.com.br/produtos/ noticias-de- impacto/o-que-e-e-como-trabalhar-em-rede- colaborativa/5e9da0947bb6781900c7ca07>. Acesso em: 7 out. 2022. BRAGA, A. C. et al. Cocriação de Valor: Conectando a Empresa com Os Consumidores Através das Redes Sociais e Ferramentas Colaborativas. São Paulo: Grupo GEN, 2014. BUENO, B.; BALESTRIN, A. Inovação colaborativa: uma abordagem aberta no desenvolvimento de novos produtos. RAE- Revista de Administração de Empresas, v. 52, n. 5, 2012. CASTELLS, M. A sociedade em rede – A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 2013. v. 1. LÉVY, P. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: 34, 2009. OLIVIERI, L. A importância histórico-social das redes. In: Manual de redes sociais e tecnologia. São Paulo: CONECTAS/Friedrich Ebert Stiftung, 2002. SCHEIDEMANTEL, A. A. O impacto dos sistemas colaborativos nas organizações: O caso Fiat Mio. Monografia (Comunicação Social). Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília, 2013. 15 16
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