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Behaviorismo e Linguagem

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Comportamentalismo e Aquisição da 
Linguagem
Conteudista
Prof. Dr. Carlos Eduardo Borges Dias
Revisão Textual
Esp. Pérola Damasceno
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OBJETIVO DA UNIDADE
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• Compreender a proposta do Behaviorismo no que diz respeito à lingua-
gem e, sobretudo, à sua aquisição pela criança, abordando, principal-
mente, a proposta de Skinner de uma análise funcional do comporta-
mento verbal, sua concepção de aquisição de linguagem e a crítica de 
Chomsky ao “Comportamento Verbal” de Skinner.
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Introdução
O comportamentalismo – ou behaviorismo, como ficou conhecido no Brasil 
– é uma escola da Psicologia nascida no início do século XX, que se dedicou 
ao estudo do comportamento dos animais, tanto dos humanos quanto dos 
não humanos. Ela parte de uma concepção radicalmente positivista, na qual 
uma ciência só pode ser considerada enquanto tal caso o fenômeno a ser 
analisado seja considerado de maneira objetiva, sendo mensurável, repetí-
vel e categorizável. Por isso, nessa perspectiva, o comportamento deve ser 
considerado sem nenhuma referência a eventos mentais ou a processos psi-
cológicos internos.
O comportamento, objeto de estudos da escola comportamentalista, é o con-
ceito que se refere a uma resposta de um organismo animal diante de um 
estímulo externo. Tendo em mente que essa escola se pauta nos princípios 
positivistas, essa resposta precisa ser observável e quantificável, assim como 
os fatores que a estimularam. De acordo com os behavioristas, para que qual-
quer aprendizagem seja compreendida sob um ponto de vista científico, ela 
deve ser explicada pela associação entre os estímulos e as respostas, não 
sendo necessário qualquer referência a princípios inatos ou internos que não 
podem ser analisáveis pelos princípios positivistas.
Em seus primórdios, o behaviorismo foi muito influenciado pelos trabalhos 
do fisiologista russo Ivan Pavlov, que, em seus experimentos sobre o sistema 
digestivo dos cachorros, percebeu que eles normalmente salivam quando 
são colocados diante de algum alimento. Pavlov descobriu que quando outro 
estímulo é associado à entrega do alimento, como o toque de uma campai-
nha, os cachorros passavam a sempre salivar diante desse toque, mesmo 
sem a presença do alimento. Esse tipo de associação entre um estímulo e 
uma resposta passou, então, a ser chamado de “reflexo condicionado”.
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Figura 1 – Reflexo condicionado de Pavlov
Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: 4 imagens, sendo: 1) cão saliva diante do alimento; 2) cão não saliva diante da 
campainha; 3) cão saliva diante do alimento e a campainha soa ao mesmo tempo; 4) cão saliva diante do 
som da campainha sem haver alimento. Fim da descrição.
John B. Watson, considerado o principal fundador da escola behaviorista, se ba-
seou nos estudos de Pavlov para argumentar não só que os humanos reagem a 
estímulos, assim como os animais, mas também que é possível condicionar uma 
resposta a um determinado estímulo a partir de certas mudanças no ambiente. 
Esse é o caso do experimento que ficou conhecido como o do “pequeno Albert”, 
no qual Watson apresenta, simultaneamente e por diversas vezes, um estímulo 
inicialmente neutro (um coelho branco) e um estímulo aversivo (som metálico 
muito forte) a um bebê, o que fez com que a criança passasse a desenvolver uma 
fobia em relação a animais peludos. 
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Figura 2 – O experimento do Pequeno Albert
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: fotografia em preto e branco de uma criança diante de um coelho e, no fundo a imagem, 
um martelo prestes a causar um barulho. Fim da descrição.
Na sua principal obra, denominada Behaviorism (1925), Watson dedicou dois capítulos 
ao tema da linguagem, abordando a relação entre pensamento e comportamento 
verbal. Rejeitando as concepções mentalistas da Psicologia da época e, em particular, 
a noção de consciência, o autor propôs analisar todos os fenômenos psicológicos em 
termos de estímulos e respostas, e afirmou que os objetivos essenciais da Psicologia 
deveriam ser a previsão e o controle do comportamento. No que diz respeito à lingua-
gem, o autor explica que seu campo de estudos tem como objeto os “hábitos verbais” 
e considera que eles, quando “exercidos por trás dessas portas fechadas que são os 
lábios”, constituem o que se pode denominar como o “pensamento”. 
O pensamento e a linguagem são assim reduzidos ao estatuto de comportamentos. 
Apesar da semelhança que o autor atribuiu a linguagem e pensamento e os outros 
tipos de comportamento, ele considerou em ambos algumas características espe-
cíficas: para Watson, a nomeação de objetos e eventos é o que permite o desenca-
deamento de outros comportamentos verbais e não verbais. Nas associações entre 
estímulos e respostas, as palavras podem provocar reações da mesma forma que 
os objetos que elas substituem. Da equivalência de reação entre objetos e palavras, 
resulta no que psicólogos comumente chamam de representação e comunicação. 
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A maioria dos sucessores de Watson respeitaram os princípios do behaviorismo 
de análise objetiva dos fenômenos comportamentais, mas eles também tentaram 
atenuar um pouco seu mecanicismo radical. Os neobehavioristas passaram a cri-
ticar a aspectos como a retirada de fenômenos internos do campo da Psicologia 
assim como o estabelecimento de uma relação rígida entre estímulo e resposta, 
introduzindo variáveis intermediárias no esquema de análise estímulo-resposta, 
o que simularia uma atividade interna do sujeito. Ao analisarem a linguagem, 
esses autores não rejeitaram totalmente conceitos de origem mentalista, como 
“significado” ou “significação”, apesar de terem os definidos de uma maneira es-
tritamente operacional e de terem considerado esses conceitos sempre como 
originados em fatos empíricos. 
Nessa breve apresentação do behaviorismo, não nos deteremos na análise des-
sas escolas neobehavioristas. Focaremos nosso estudo na apresentação da obra 
do autor que desenvolveu, de uma forma mais fiel e radical, os fundamentos de 
Watson, ou seja, Burrhus Frederic Skinner.
Figura 3 – Skinner diante de seus pombos
Fonte: Reprodução
#ParaTodosVerem: fotografia em preto e branco de Skinner diante de vários pombos engaiolados e 
mantendo um pombo em suas mãos. Fim da descrição.
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Elementos Essenciais da 
Abordagem Behaviorista da 
Linguagem
O primeiro passo para a compreensão da abordagem comportamentalista de 
Skinner sobre a linguagem é compreender as variáveis relacionadas ao comporta-
mento verbal, ou seja, o estímulo antecedente, a resposta ou resposta operante, 
o reforço e o condicionamento. Vejamos, em detalhe, cada um desses conceitos.
Um estímulo que antecede um determinado comportamento verbal pode ser 
de diferentes naturezas: ele pode ser uma palavra ou um conjunto de palavras, 
um objeto, um evento, ou até mesmo uma forma de relação que se estabeleça 
entre os interlocutores. Chamamos de estímulo aversivo quando, tendo vivencia-
do uma situação ameaçadora no passado e tendo respondido de modo a cessar 
a ameaça, um indivíduo se sente novamente ameaçado e, levando em conta o 
seu sucesso anterior, procura responder da mesma forma que respondeu antes. 
Quando cantamos uma música, por exemplo, as palavras do início da letra nos 
fazem lembrar das palavras que se sucedem. O estímulo antecedente cria opor-
tunidades e, acima de tudo, condições para que a resposta seja reforçada. 
Quanto às respostas, pode se dizer que, da mesma maneira como ocorre no caso 
dos experimentos com animais, no comportamento verbal as respostas dadas 
pelos indivíduos também são analisadas através de variáveis que as controlam.A expressão ‘resposta operante’ diz respeito a respostas que não têm estímulo 
correspondente que seja evidente.
Já o reforço diz respeito a um estímulo que pode estar associado a outro estí-
mulo ou a uma resposta. Para ser considerado como um reforço, esse estímulo 
deve ser capaz de aumentar a intensidade da resposta. Dessa forma, do ponto 
de vista de Skinner, o que chamamos de aprendizagem ocorre quando há uma 
intensificação de uma resposta, de modo que, para aprender uma língua, é pre-
ciso haver reforço, que pode ocorrer após cada comportamento verbal, como 
veremos mais adiante. 
Vídeo
Veja o vídeo “Teorias da Aprendizagem – 
Behaviorismo”, disponível no QR Code ao lado.
https://youtu.be/SfwaLmh_8uA
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O Behaviorismo Skinneriano e 
a Análise da Linguagem
Desde o início do livro Verbal Behavior (Comportamento Verbal), livro de 
Skinner dedicado ao problema da linguagem, o autor faz uma crítica radical 
às concepções de linguagem propostas na psicologia clássica a esse respeito. 
Segundo o autor, a impotência da psicologia em realizar uma análise funcio-
nal do comportamento verbal resultaria da consideração, na interpretação e 
na explicação do comportamento, de várias causas fictícias, como ideias, in-
tenções ou sentimentos. Isso porque as intenções que estariam na origem de 
todo comportamento verbal são inobserváveis de seu ponto de vista, e, por 
outro lado, as descrições que podem ser feitas delas não seriam nada além de 
paráfrases do que pode ser considerado a partir do comportamento verbal. 
Ao contrário dos neobehavioristas, Skinner rejeitou noções como a de "ideia", 
"intenção" e "significado", uma vez que isso não poderia ser identificável no 
nível das palavras ou no nível das frases. 
Skinner deixou para outras disciplinas a tarefa de abordar noções como essas 
e se empenhou em reduzir a linguagem a um comportamento passível de ser 
considerado como um objeto do ponto de vista da ciência. Para ele, o principal 
perigo de se adotar um vocabulário filosófico ou linguístico é a crença de que a 
linguagem pode ter existência independente do funcionamento comportamen-
tal do sujeito, quando, na realidade, existem apenas o comportamento verbal e 
seu funcionamento. Com isso, é possível compreender melhor a escolha do título 
“comportamento verbal”, que denota a intenção de Skinner de dedicar seu estu-
do apenas às atividades linguísticas do sujeito que são aparentes, assim como às 
suas leis de aparecimento, sua evolução e sua extinção.
Na introdução de seu livro, Skinner explica que o comportamento verbal quase 
sempre ocorre no cenário que os linguistas chamam de “contexto de comunica-
ção” ou “situação de enunciação”, para o qual ele adota o conceito de “episódio 
total verbal”. Essa referência à situação de comunicação é apenas um lembrete 
e não será mais mencionado no restante do livro. O autor considera que essa 
situação é a soma dos comportamentos individuais nela envolvidos, e que no 
episódio verbal total basta levar em consideração o comportamento do falante 
que supõe um ouvinte e vice-versa. Uma vez que, dessa forma, o comportamen-
to verbal é considerado como um comportamento qualquer, Skinner se propõe 
a analisá-lo por meio de um método inscrito em um quadro conceitual que visa 
corrigir o mecanicismo do behaviorismo inicial proposto por Watson, estenden-
do a análise das sequências estímulo-comportamento também aos eventos que 
sucedem à emissão do comportamento.
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Reintegrando assim, em suas análises, os fatores que levaram Edward Thorndike 
a argumentar a favor da lei do efeito, Skinner explica que haveria três classes de 
eventos necessários para a formulação de uma explicação: a resposta do sujei-
to, o estímulo e o reforço. Esses três elementos interagem da seguinte forma: o 
estímulo, produzido antes da emissão da resposta, constitui uma oportunidade 
a partir da qual a resposta é passível de ser emitida e reforçada positivamente. 
Constitui um reforço positivo todo evento que aumenta a probabilidade de emis-
são de uma resposta. Se ocorrer esse reforço positivo, inicia-se um processo de 
discriminação e o estímulo torna-se um agente capaz de provocar a resposta; a 
essas interações Skinner denominou contingências de reforço.
Com base nesse quadro conceitual, Skinner se propõe a realizar uma análise do 
comportamento verbal em duas fases. A primeira é de ordem descritiva: qual é a 
estrutura do comportamento verbal considerado como parte do comportamen-
to humano? Assim que uma resposta for dada a esta questão, é possível, então, 
abordar a segunda fase, que é a da explicação. Trata-se de analisar as condições 
necessárias para o aparecimento de um determinado comportamento, suas va-
riáveis, e de dar conta das características dinâmicas, bem como das relações fun-
cionais que constituem o quadro da sua organização.
A Estrutura do 
Comportamento Verbal
Na primeira parte da sua obra Comportamento Verbal, fundamentado em uma 
análise experimental bastante rigorosa, Skinner identifica vários tipos de com-
portamentos verbais, incluindo mandos e tatos.
O termo “mando” foi escolhido por sua relação com as palavras “demanda” e “co-
mando” para designar uma categoria de respostas verbais que inclui pedidos, or-
dens e proibições. Para Skinner, o que caracteriza essas respostas é que, ao longo 
da história comportamental do sujeito, elas foram submetidas ao controle fun-
cional de estímulos internos, ou seja, as chamadas necessidades, às quais podem 
ser qualificadas como estímulos aversivos. Um exemplo característico de mando 
seria a resposta “silêncio nas fileiras” emitida por um sargento diante de uma tropa 
de soldados. Na história do referido sargento, essa resposta foi geralmente refor-
çada de forma estável: os militares se calaram assim que a ordem foi dada. Pela 
própria razão deste histórico de reforços, a probabilidade de emissão de novas 
respostas do tipo “silêncio...” depende de haver barulho nas fileiras. Outro exem-
plo seria o de uma criança que, ao verbalizar um pedido por água, acredita que 
vai conseguir atingir seu objetivo tendo por base o sucesso comprovado por sua 
experiência passada; a água, nesse caso, torna-se o reforço.
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Ao contrário dos mandos, os comportamentos ditos ecóicos, textuais e intraver-
bais estão sob o controle de estímulos externos, neste caso, estímulos verbais. 
O comportamento ecoico designa a imitação verbal, espontânea ou exigida. 
Da perspectiva de Skinner, esse comportamento é construído da mesma 
forma que outros comportamentos verbais, ou seja, sob o efeito de con-
tingências de reforço. Como explica Finger (2007, p. 18-19), nesse tipo de 
comportamento:
falante ouve toda a sequência primeiro e depois a repete inteiramen-
te. Refere-se a casos em que o comportamento verbal é reproduzido 
ou imitado, independentemente de o estímulo ser oral ou espacial, 
como no caso da língua de sinais. Entretanto, um comportamento 
somente é considerado ecoico se tanto o estímulo quanto o compor-
tamento dele resultante forem de um mesmo tipo (espacial ou oral). 
Ou seja, repetir algo que alguém acabou de dizer é considerado um 
ecoico vocal-vocal, ao passo que dizer “não fume” ou “é proibido fu-
mar” na presença de um cartaz em que se lê ‘proibido fumar’ não é 
considerado um ecoico (mas, sim, textual). O repertório-eco que a 
criança constrói a partir de vários estímulos que a rodeiam é, para 
os behavioristas, inteiramente atribuído a situações de reforço dife-
rencial. Segundo Skinner, tanto a qualidade como a quantidade do 
repertório adquirido pela criança dependem unicamente do grau de 
precisão que é requerido pela comunidade na qual a criança está in-
serida – que pode ser mais ou menos flexível.
O comportamento textual designa a leitura. A resposta vocal está sob o con-
trole de um estímulo verbal não auditivo, seja percebido de modo visual ou 
tátil (no caso do braile). Como exemplo de comportamento textual, podemos 
pensar no contexto em que um indivíduo fala algo que acabou de ler,dizendo 
‘proibido fumar’ após ver um cartaz no qual está escrito isso. Finger (2007) ex-
plica que não é considerado um operante textual o caso em que um falante diz 
“não fume” ao ver um aviso de que é proibido fumar no qual somente apareça 
algum tipo de desenho.
O comportamento intraverbal também consiste na emissão de uma resposta 
verbal sob o controle de um estímulo verbal, mas sem que haja, como na imita-
ção verbal ou na leitura, uma correspondência, termo a termo, entre estímulo e 
resposta: a relação entre estímulo e resposta é arbitrária. Os comportamentos 
intraverbais correspondem às transmissões de informação realizadas por asso-
ciações entre palavras, nas quais uma palavra determina as palavras que virão 
na sua sequência. Normalmente os intraverbais também envolvem informações 
memorizadas (sequências, músicas etc.).
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Os tatos, terceira categoria de resposta verbal, têm a característica de ser evo-
cada (ou pelo menos reforçada) por um determinado evento ou objeto, ou 
mesmo por uma propriedade de um objeto ou evento. Estes são os comporta-
mentos de linguagem mais frequentes e específicos, nomeadamente aqueles 
que se referem a objetos ou eventos no contexto de uma narrativa ou discur-
so. Skinner, no entanto, se esforçou para descrever os tatos em seus aspectos 
menos específicos, enfatizando as analogias entre suas leis de funcionamento 
e as dos comportamentos ecoicos, textuais e intraverbais. Segundo ele, no caso 
do comportamento ecoico, por exemplo, seria absurdo dizer que a resposta 
"remete" ou "menciona" o estímulo verbal que a provocou (tal como seria ab-
surdo, por exemplo, afirmar que uma criança que imitou a afirmação “a físi-
ca é universal” teria se referido a esta afirmação). Do mesmo modo como, no 
comportamento ecóico, um estímulo aumenta a probabilidade de ocorrência 
de respostas de uma determinada forma, de acordo com Skinner, no tato, a 
única relação funcional que deve ser examinada no comportamento verbal de 
qualquer tipo é aquele entre o estímulo e a resposta. Assim como no mando, 
o comportamento verbal que seja um tato deve resultar de um estímulo não 
verbal, como explica Finger (2007, p. 18): 
A consequência direta do tato é o reforço social (condicionado), que 
ocorre normalmente através de alguma forma de elogio: por exem-
plo, quando a criança diz “gato” ao ver uma foto de um gato e a mãe 
afirma “Muito bem!! É um gato.” O tato é baseado na referência da 
criança a objetos não verbais e em sua capacidade de ‘nomear’ – 
dar nome às coisas – para referir ou significar. Com tatos ‘puros’, 
existe correspondência direta entre o estímulo e a resposta verbal, 
que serve para designar, nomear, ou especificar o objeto, evento ou 
situação (ou alguma de suas propriedades) sobre o qual se fala – a 
criança diz “cachorro” ao ver um. No caso dos tatos ‘impuros’, existe 
menor correspondência direta entre o estímulo e a resposta verbal, 
como em distorções, exageros ou mentiras. A comunidade de fala 
instaura tatos na criança para que ela possa estender seu próprio 
contato com o meio – a criança ouve a mãe dizer “boneca” e reage 
de forma apropriada: olha em volta, busca a boneca que está no 
quarto, aponta para a boneca ou para a gravura da boneca, pega a 
boneca no colo etc. Para o autor, o comportamento decorrente de 
ouvir o estímulo (boneca) é forte e, por isso, o estímulo é considera-
do reforçante. Assim, o comportamento da criança é um operante 
discriminado pelo estímulo.
As três categorias de respostas verbais são definidas exclusivamente pela natu-
reza dos estímulos em relação aos quais elas são emitidas: para o mando, trata-
-se de estímulos aversivos; para o tato, de estímulos externos não verbais; e para 
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a categoria intermediária, de estímulos externos verbais. O mando possibilita in-
ferir algo sobre o falante sem levar em consideração as circunstâncias externas; 
o tato permite ao ouvinte inferir algo sobre as circunstâncias externas, indepen-
dentemente do estado do falante.
Os processos geralmente qualificados como morfossintáticos são abordados 
por Skinner através da expressão “autoclíticos”. Assim como o faz em rela-
ção ao problema da referência, Skinner começa a sua análise reformulando 
alguns problemas clássicos relacionados à diversidade das estruturas mor-
fossintáticas, pelo estatuto dos fenômenos que essa diversidade acarreta e 
pelas próprias regras de produção destas estruturas. Em seguida, o autor 
indica que para responder a essas questões, é necessário, antes de tudo, re-
examinar a noção de “unidade linguística”. Esse exame o leva a perceber que 
é muito comum que a unidade do comportamento verbal não corresponda 
exatamente ao que é reconhecido como uma unidade lexical ou gramatical. 
Basta demonstrar a unicidade de uma contingência de reforço para isolar 
uma unidade funcional de comportamento. 
Tendo em mente essa definição de unidade do comportamento verbal, desse 
ponto de vista, os processos morfossintáticos têm uma importância muito 
menor do que geralmente se imagina. De fato, durante a aquisição da lingua-
gem, as respostas verbais mais amplas são controladas pelas mesmas vari-
áveis e, portanto, adquirem uma unidade funcional. Essa evolução permite 
não especular sobre a existência de um processo morfossintático cada vez 
que uma resposta verbal contém uma forma morfológica ou sintática. Apesar 
desse esforço de redução, algumas das respostas morfossintáticas permane-
cem e devem ser analisadas. Skinner, então, as define como respostas intra-
verbais, ou seja, como respostas controladas por estímulos verbais, elas mes-
mas controladas, em última instância, por estímulos externos e não verbais. 
As respostas sintáticas são, portanto, de fato, tatos de segundo, terceiro ou 
enésimo grau.
Nessa análise dos fenômenos sintáticos, Skinner realmente se empenha em 
tentar encontrar, entre unidades reais e entidades gramaticais, uma corres-
pondência, termo a termo, análoga àquela que, segundo ele, existe entre re-
ferentes e unidades lexicais. Em particular, ele afirma que as respostas que a 
linguística tradicional classifica sob os títulos preposição, conjunção ou artigo 
servem, sobretudo, como tato mínimo, e que só têm função gramatical inciden-
talmente. Para justificar essa posição, ele invoca a hipótese segundo a qual os 
morfemas gramaticais são o produto histórico de palavras com conteúdos ou 
lexemas que teriam se contraído ao longo do tempo. 
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Segundo John Tooke, etimólogo autor dessa hipótese, a linguagem teria 
duas partes principais: na primeira, seriam classificados os substantivos e 
verbos, e, na segunda, apareceriam todas as demais palavras, que constitui-
riam, na verdade, abreviações de substantivos e verbos. Este autor também 
levantou a hipótese da existência de um processo histórico pelo qual as for-
mas mais antigas (e, geralmente, as mais longas) foram gradualmente mo-
dificadas e contraídas. Tentando demonstrar essa evolução, ele procurava 
encontrar o verdadeiro significado de morfemas e estruturas gramaticais: 
assim, o morfema inglês but seria, etimologicamente, derivado de be out 
(estar fora de) e sua função seria ordenar ao ouvinte a excluir algo ou fazer 
uma exceção relacionada a uma resposta simples ou a uma frase inteira. O 
fato de Skinner ter recorrido a esse tipo de interpretação é surpreendente. 
No entanto, decorre diretamente do impasse constituído pelo método do 
autor: recusando-se a analisar os processos sintáticos em termos de estru-
turas amplamente autônomas, ele poderia apenas isolar os estímulos ex-
ternos que os geraram, mesmo que isso significasse recorrer às hipóteses 
meramente especulativas de Tooke.
Por fim, para Skinner, os comportamentos chamados autoclíticos depen-
dem dos outros comportamentos anteriormente descritos, como o mando, 
o tato, o ecoico, o textual e o intraverbal, atuando sobre eles podendo mo-
dificá-los. Finger (2007, p. 20) dá um exemplo de um tato associado a um 
autoclítico: 
“O assassino está na cadeia”.Se o falante disser “Eu ouvi falar que 
o assassino está na cadeia”, temos um exemplo de palavras autoclí-
ticas – “Eu ouvi falar que…” – empregadas pelo falante, nesse caso, 
com o objetivo de tecer um comentário sobre um operante verbal 
básico/primário que é supostamente ecoico (ou seja, o falante ou-
viu alguém dizer que o assassino está na cadeia e está repetindo 
isso). Em outras palavras, “O assassino está na cadeia” é a parte 
básica da sentença. A partir daí, o indivíduo tece um comentário 
sobre a sentença básica utilizando-se de palavras autoclíticas. Se a 
sentença fosse “Eu li no jornal que o assassino está na cadeia”, o co-
mentário autoclítico teria tomado como base um operante ‘textual’ 
(...). Outros exemplos de autoclíticos envolvem inícios de sentenças 
contendo as expressões “Tenho certeza de que…”, “Eu acredito…”, 
“Supostamente…”, além de exercícios de retórica e construção de 
argumentos lógicos. 
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Explicação do Comportamento 
Verbal
Para Skinner, explicar o comportamento significa oferecer os meios necessários 
para controlá-lo e prevê-lo. Para acessar esse controle, é preciso, por um lado, de-
terminar precisamente quais são os elementos inferidos durante a produção de 
um tato ou mando e especificar os modos de realizações dessas inferências. Para 
isso, é preciso identificar as variáveis que controlam esses comportamentos, as 
quais a Psicologia Clássica chama de “significados” ou “contextos de produção”.
Na Análise Experimental do Comportamento, os estímulos do ambiente têm um 
papel na seleção das respostas do organismo, seleção que só pode ser opera-
da sobre um organismo atuante. Essa concepção darwiniana da organização do 
comportamento tem dois corolários que, embora implícitos em Skinner, são ne-
cessários. A primeira é que o organismo só pode ser reforçado de acordo com os 
comportamentos que é capaz de emitir (ninguém jamais pensaria em condicio-
nar um rato a levantar um peso de 100 Kg). Essa capacidade do organismo é, em 
particular, uma função de seu equipamento genético e, em escritos posteriores 
ao Comportamento Verbal, Skinner parece admitir que algumas capacidades 
sintáticas estão inscritas no potencial genético. O segundo corolário é que o or-
ganismo só pode ser controlado pelo efeito de seu comportamento apenas na 
medida em que é sensível a ele. Mas é superficial e inútil analisar essa sensibi-
lidade a variáveis reforçadoras em termos de necessidades ou motivações. As 
variações internas do sujeito podem ser descritas em termos comportamentais, 
referindo-se à história do sujeito, à de seu grupo social ou de sua espécie. Assim, 
nossas necessidades e gostos alimentares são o resultado da evolução dos refor-
ços que recebemos desde a mais tenra infância.
Nesta perspectiva, a explicação do comportamento verbal terá de dar conta, por 
um lado, das variáveis situacionais suscetíveis de reforçar a resposta e, por outro 
lado, da história dos reforçamentos do sujeito, no que concerne a seu grupo social 
e às limitações genéticas de sua espécie. A explicação do comportamento verbal é, 
dessa forma, definida de forma clara para Skinner, o que o levou a afirmar que a 
forma pela qual um estímulo adquire controle sobre uma dada forma de resposta 
teria sido, então, compreendida de forma clara: a forma de uma resposta é molda-
da pelas contingências que prevalecem em uma comunidade verbal.
Nas bases apresentadas, a análise experimental do comportamento verbal cons-
titui uma abordagem possível, mas o problema é saber como realizá-la na prá-
tica. Neste sentido, Skinner permanece surpreendentemente discreto; ele cer-
tamente refuta os procedimentos mentalistas e apresenta alguns exemplos de 
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bom senso para fazê-lo, mas nunca sai do nível das generalidades, mesmo das 
banalidades. De acordo com Bronckart (2019), essa relutância do autor em che-
gar ao cerne da explicação do comportamento verbal deve-se à impossibilidade 
prática de experimentar as variáveis que o controlam. 
Seguindo as análises de Skinner, até agora não foram consideradas caracterís-
ticas formais das respostas verbais. Limitamo-nos estritamente ao seu conteú-
do, sem examinar aspectos linguísticos, como os fonológicos e morfossintáticos. 
Para Skinner, as variações nas formas de resposta obedecem às mesmas leis do 
conteúdo: são as contingências de reforçamento predominantes na comunidade 
verbal do sujeito que moldam e mantêm as características fonêmicas e sintáticas 
do comportamento verbal e respondem por uma ampla gama de particularida-
des funcionais.
Considerando que a análise experimental das variações linguísticas das respos-
tas verbais é tão problemática quanto a de seus conteúdos, tentaremos apro-
fundar, daqui para frente, a posição de Skinner analisando a maneira como ele 
aborda três dos problemas fundamentais de qualquer teoria da linguagem, a 
saber: a questão do signo, a questão do sujeito falante e a questão da sintaxe.
O Signo e o Sujeito Falante
Skinner aborda o problema do significado e da referência expressando pesar pelo 
fato de o mundo não estar organizado em conjuntos de objetos claramente dife-
renciáveis que não podemos atribuir a cada um deles uma forma distinta de res-
posta verbal. Desde o início, ele restringe consideravelmente seu ponto ao afirmar 
que a única questão que faz sentido do ponto de vista da análise experimental do 
comportamento é a da natureza do referente. Essa redução da problemática signi-
fica, em particular, que para o behaviorismo skinneriano não há signo no sentido 
saussuriano do termo: não há significado, não há significante, e muito menos qual-
quer relação arbitrária. Existe apenas o enunciado (ou resposta verbal) e o referen-
te, sendo esse último definido como a propriedade (ou grupo de propriedades) a 
qual um reforço foi atribuído e que, ao fazê-lo, controla a resposta. Essas proprie-
dades que constituem o referente são elas próprias dificilmente analisáveis, na 
medida em que, de acordo com Skinner, elas poderiam ser descobertas apenas 
analisando uma série de situações nas quais as propriedades variam sistematica-
mente e observando a ausência ou a presença de uma resposta.
Uma das formas de apresentar as posições de Skinner em relação à linguagem 
consiste em afirmar que a análise experimental do comportamento está inte-
ressada no sujeito falante, no falante individual, enquanto a linguística estaria 
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preocupada com as regras que regem o sistema linguístico. Com efeito, a análise 
skinneriana é feita ao nível do funcionamento do sujeito, mas este não é dotado 
de qualquer estatuto teórico; ele não é considerado como uma variável inde-
pendente que intervém no funcionamento do comportamento, e Skinner pare-
ce mesmo desejar o seu desaparecimento quando diz que a direção que deve 
tomar a análise do comportamento é a de transformar o sujeito num espectador 
interessado. Na realidade, a própria noção de sujeito falante ou locutor é apenas 
uma metáfora, da mesma ordem que as noções de ideia, intenção ou significado.
De acordo com Skinner, de fato, é inútil dizer que o sujeito inventou uma figura de 
linguagem para expressar algo. Basta dizer que esse algo é um estímulo que ad-
quiriu o controle da resposta verbal que compreende essa figura de linguagem. Da 
mesma forma, não faz sentido argumentar que um locutor escolhe suas palavras 
de acordo com sua audiência. O que realmente acontece é que um determinado 
tipo de público aumenta a probabilidade de que uma determinada subclasse do 
repertório lexical apareça. Essas duas formulações são paráfrases, mas é melhor – 
conclui Skinner – escolher aquelas que reduzem ou obscurecem o lugar do falante.
A abordagem empreendida em Comportamento Verbal visa, portanto, não ana-
lisar o funcionamento do falante, mas fazer com que esse falante desapareça 
como tal. Há, porém, um domínio em que a eliminação do sujeito é difícil de se 
concretizar: trata-se do domínio das palavras funcionais e domínio do da sintaxe 
que, nas palavras do próprioSkinner, parece testemunhar a natureza ativa do 
comportamento verbal.
Uma Avaliação da Análise do 
Comportamento Verbal de 
Skinner
Depois de ter colocado os problemas fundamentais que devem ser enfrentados 
por qualquer teoria da produção da linguagem (aqueles relativos ao significado, 
às estruturas morfossintáticas, às relações entre lexemas e aos morfemas etc.), 
Skinner se esforçou para bloquear todos os caminhos teóricos e metodológicos 
susceptíveis de resolvê-los. Ele se contentou em propor um esquema explicati-
vo que assume a forma de uma redução – às vezes, clara e justificada; às vezes, 
trabalhosa e fora de questão – às interações entre a resposta, o estímulo e o re-
forço. Esse formalismo explicativo resulta da impossibilidade prática de dominar 
as variáveis que controlam as respostas verbais, nomeadamente, os estímulos 
contextuais e a história comportamental do sujeito.
 17
A análise proposta se reduz, assim, a certa banalidade ao nível dos fatos apresen-
tados e a generalidades redundantes ao nível da explicação. Portanto, mesmo que 
concordemos em considerar que o livro Comportamento Verbal é apenas uma in-
trodução muito longa ao estudo do comportamento verbal, é difícil acreditar na efi-
cácia de qualquer pesquisa que fosse além do referencial teórico e da metodologia 
skinneriana, já que esse quadro é apresentado como o único aceitável, ou seja, o 
único verdadeiramente científico. Skinner, de fato, distingue os homens de ciência 
dos demais: de um lado, aqueles que empreendem análises experimentais rigoro-
sas para detectar os estímulos que controlam uma situação e, de outro lado, aque-
les que dão crédito a conceitos mentalistas – que, do ponto de vista dele, seriam 
infundados – e que constroem teorias para dar a si mesmos uma ilusória sensação 
de segurança. Diante do descrédito de Skinner pelas teorias, é possível levantar um 
questionamento a respeito da análise experimental: ela se trataria unicamente de 
um método científico ou de uma teoria?
Diante da impossibilidade metodológica de controlar os fenômenos internos, Watson 
considerou que eles não existiam e que o campo de estudo da psicologia se limitava 
aos comportamentos observáveis. Essa concepção inicial foi um pouco modificada 
pelos neobehavioristas que reintroduziram pelo menos uma análise parcial dos fe-
nômenos mentais. A abordagem skinneriana é radicalmente oposta à dessas últimas 
correntes: apenas o método experimental é destacado e qualquer teoria é banida por 
causa de seus perigos. Skinner, de fato, afirma dispensar a teoria, e o problema que se 
coloca naturalmente é saber se isso é possível: há uma diferença fundamental entre 
um sistema conceitual racionalista/mentalista como o de Chomsky, por exemplo (que 
veremos na próxima Unidade), e o quadro conceitual behaviorista?
No primeiro caso, o linguista tem um modelo relativamente sofisticado, deriva-
do da Matemática, no qual ele tenta fundamentar sua organização da linguagem. 
Esse modelo geralmente é flexível o suficiente para mudar continuamente à medi-
da que novos fatos linguísticos são introduzidos. Para Skinner, ao contrário: todas 
as leis que regem o comportamento operante desempenham um papel na seleção 
e organização dos comportamentos de um organismo equivalente ao da seleção 
natural na evolução das espécies. Se cada nível de complexidade exige uma descri-
ção adequada, isso não quer dizer que precisamos renunciar à unidade explicati-
va fundamental introduzida pelos conceitos-chave da seleção pela intervenção do 
ambiente, e se isso é verdade no que diz respeito à escala filogenética, também o 
é, do ponto de vista de Skinner, no que diz respeito aos organismos.
Mesmo que sejam importados de outras teorias (biológicas ou físicas), são postu-
lados ou conceitos-chave que acabarão por fornecer toda a explicação. Skinner, 
portanto, também propõe um modelo teórico; contudo, ao contrário de elabora-
ções mentalistas, como as de Chomsky, ele é muito simples, muito geral e, conse-
quentemente, muito restritivo.
 18
Análise Formal e Análise 
Funcional da Linguagem
Nesse ponto, vale a pena lembrarmos que a análise da linguagem proposta por 
Skinner é essencialmente uma análise funcional, voluntariamente diferenciada da 
análise formal realizada pelos linguistas. Mas defender uma análise funcional da lin-
guagem não é nem defender uma explicação Estímulo-Resposta, nem argumentar 
a favor da experiência para resolver o dilema do inato e do adquirido; também não 
significa negar o caráter “criativo” ou “produtivo” do comportamento verbal. Uma 
das maiores condições para o sucesso de uma análise funcional parece ser, de fato, 
ter em conta a especificidade do objeto estudado. No entanto, essa condição não é 
atendida pela abordagem de Skinner, justamente na medida em que os domínios 
formal e funcional são, por ele, concebidos como fundamentalmente distintos. 
Se quisermos analisar o comportamento verbal como um todo, é essencial incluir 
em sua descrição elementos como a referência, o significado, as várias regras sin-
táticas, ou seja, todos os elementos fornecidos pela análise formal da língua. Com 
efeito, uma análise funcional do objeto da linguagem só parece fazer sentido se ela 
se aplicar a cada uma das características específicas desse objeto; para que servem 
as estruturas gramaticais, em que contexto e para que finalidade são aplicadas? 
Para que servem as estruturas de ordem, qual é o seu papel, os limites contextuais 
de sua variação? Essa problemática funcional já encontrou aplicações e é provável 
que ela venha a se impor gradualmente, mas ela só será, de fato, relevante quan-
do chegar a considerar os elementos fornecidos pelo aspecto formal da análise. A 
análise funcional proposta por Skinner, ao reduzir todas as especificidades linguís-
ticas a mecanismos gerais darwinianos, não cumpre esta condição e encontra nos 
fatos apenas o que ali procura, ou seja, os estímulos, os reforços e as respostas.
A Aquisição da Linguagem
Do ponto de vista behaviorista, a linguagem é adquirida a partir da experiência 
que a criança tem com a língua que chega a ela por meio das pessoas que con-
vivem com ela, de modo que o seu desenvolvimento se fundamenta não apenas 
na qualidade e na quantidade dessas experiências, mas, sobretudo, no reforço 
que é oferecido pelas outras pessoas.
Assim como o filósofo empirista John Locke defendia, ainda no período moder-
no da filosofia, a ideia de uma tábula rasa, ou seja, a ideia de que inicialmente a 
criança é como uma folha em branco, não tendo nenhum tipo de conhecimento 
 19
prévio, dependendo para conhecer apenas daquilo que a experiência lhe for-
nece, no behaviorismo, uma versão contemporânea do empirismo moderno, a 
pressuposição fundamental sobre a aquisição da linguagem é de que o conhe-
cimento deve estar assentado no mínimo de condições inatas possível, relegan-
do à experiência o papel fundamental. De fato, o único aspecto inato requerido 
pelos behavioristas é a capacidade (de todo organismo biológico, e não necessa-
riamente humano) de associar estímulos a respostas.
No que diz respeito especificamente aos conhecimentos da linguagem, o beha-
viorismo parte do pressuposto de que a criança constitui sua língua a partir da 
imitação que ela faz de sons da fala do adulto, assim como da prática assistida 
por eles que lhe fornecem reforços negativos e positivos. Quanto à imitação, 
a fala do adulto serve como um input. Através de tentativa e erros, elas procu-
ram imitar os sons produzidos pelos adultos, chegando às formas corretas. Por 
outro lado, enquanto as tentativas das crianças são reforçadas de modo positivo, 
isso facilita seu aprendizado da língua. Para Skinner, as crianças recebem reforço 
positivo como uma consequência de uma situação comunicativa bem-sucedida 
ou mesmo na forma de elogios. Aos poucos, elas formam o hábito de uso dito 
correto da língua. É o caso, por exemplo, de uma criança que aprende um novo 
vocábulo de sua língua. Como explica Finger(2007, p. 21-22):
Se todas as vezes em que a criança estiver diante de um objeto (ou de 
uma ação), os pais introduzirem a palavra referente a ele, a criança 
será supostamente condicionada a associar a palavra ao objeto (ou a 
uma ação). Nesse caso, o estímulo condicionado será a pronúncia da 
palavra sempre que o objeto (ou a ação) for apresentado.
A aquisição da linguagem é vista assim como uma consequência do estabelecimento 
de associações entre estímulos e respostas. Os comportamentos verbais são adqui-
ridos se recebem reforço. Os erros são eliminados não havendo reforço ou havendo 
reforço negativo. Se todo o conhecimento linguístico advém do meio e quase nada 
relacionado a ele é inato, então a criança é um organismo passivo diante do meio. 
Existe, assim, uma dependência do organismo aos estímulos externos, ou seja, os 
interlocutores da criança são totalmente responsáveis pelo processo de aprendiza-
gem, ou seja, pelo que a criança vai ou não aprender em relação à linguagem.
Assim, a título de síntese, pode se dizer que, em relação ao comportamento ver-
bal e à aquisição da linguagem, para Skinner: 
• Todo comportamento verbal obedece à lei do efeito, e é, por isso, previsível;
• O ambiente que circunda uma pessoa exige um comportamento verbal 
específico. Por exemplo, dizer “bola” quando se vê uma bola;
 20
• Cada item do inventário verbal é um comportamento operante selecio-
nado, em algum momento da história da pessoa, pela atuação de algum 
reforço, como a demonstração de aprovação por outras pessoas ou a 
obtenção de algo (comida, brinquedo, alguma ação de outra pessoa);
• Somente respostas reforçadas se converterão em comportamento ope-
rante e passarão a compor o repertório de respostas verbais;
• Uma língua é igual a uma coleção de comportamentos operantes asso-
ciados a uma coleção respectiva de estímulos ambientais.
Sobre a Crítica de Chomsky
Na resenha feita por Noam Chomsky ao livro Comportamento Verbal, de Skinner, 
o linguista americano critica uma definição de linguagem em termos de compor-
tamento. Na perspectiva behaviorista de Skinner, a atividade de linguagem deve 
ser considerada como uma atividade governada pelo modelo estímulo-resposta. 
Isso contradiz o fato de que existe uma evidente criatividade linguística: a criança 
não apenas repete o que ouve e produz ou compreende sentenças por analogia, 
mas compreende e produz novas sentenças. A generalização a partir do estímu-
lo obviamente não é possível neste caso. Essa simples observação mostra que a 
ideia de que a linguagem é condicionada pelo estímulo é insustentável.
Chomsky vincula o aspecto criativo da linguagem ao fato de que a linguagem não 
é um mero instrumento de comunicação, explicando que a linguagem humana, 
em seu uso normal, está livre do controle de qualquer estímulo; não cumpre 
simplesmente uma função de comunicação, mas é, antes, um instrumento para 
expressar livremente o pensamento e para reagir a novas situações.
Os principais pontos da crítica de Chomsky podem ser resumidos da seguinte forma:
• É impossível assumir que um comportamento como a linguagem, pro-
duzido por um órgão tão complexo como o cérebro humano, possa ser 
explicado sem qualquer consideração acerca desse órgão, mas apenas 
dos comportamentos determinados por ele.;
• É impossível assumir que as leis que regem o comportamento verbal 
humano não se distinguem das leis que regem o comportamento não 
verbal, manifestado por certos animais. Ao assumir que se trata das 
mesmas leis, Skinner não pode explicar o porquê que apenas humanos 
desenvolvem linguagem;
 21
• Skinner não respondeu adequadamente à questão “o que é um es-
tímulo?”, pois na sua teoria não fica claro se estímulo são todas as 
variáveis que atuam sobre um organismo ou apenas aquelas às quais 
o organismo responde;
• Skinner não respondeu adequadamente à questão “o que é uma respos-
ta?”, pois na sua teoria não fica claro se resposta é qualquer comporta-
mento manifestado por um organismo ou apenas aquele para o qual se 
pode identificar um estímulo respectivo;
• Caso se considere que tudo no ambiente é estímulo, mesmo o que não 
provoca resposta visível, então os comportamentos não são previsíveis, 
como prevê Skinner. Por outro lado, se um comportamento é sempre 
uma resposta a um estímulo ambiental, a maior parte do que os huma-
nos fazem não pode ser considerada como um comportamento;
• Na obra “Comportamento verbal”, não há uma definição explícita de 
quais seriam as variáveis fundamentais do behaviorismo. Por isso, para 
Chomsky, termos como “estímulo”, “resposta” e “comportamento”, im-
portado de estudos sobre animais de pequeno porte, seriam incapazes 
de descrever o comportamento verbal humano;
• No caso do comportamento verbal, o behaviorismo precisa primei-
ramente observar um comportamento, interpretado por ele como 
uma resposta, para então deduzir qual o estímulo que a teria pro-
vocado. Por isso, segundo Chomsky, não é possível prever que res-
posta verbal um estímulo desencadeará porque simplesmente não 
se sabe o que é um estímulo até que um organismo se manifeste de 
alguma maneira;
• Para Chomsky, Skinner não se deteve em aplicar seu modelo a aspec-
tos da aquisição, da produção, da compreensão ou da percepção de 
fonemas, traços suprassegmentais, morfemas ou de classes do léxico. 
Uma noção precisa do que seria o comportamento verbal não foi for-
malizada no livro. Em certos momentos, ela diz respeito à oralidade; 
em outros, a questões ortográficas, sem uma atenção rigorosa à distin-
ção fala vs. Escrita;
• De acordo com Chomsky, na maioria das ilustrações de “respostas” ou 
de “operantes”, presentes no livro de Skinner, o que o organismo pro-
duz linguisticamente é apenas um item lexical, e não uma frase, um 
texto ou um discurso;
 22
• Para Chomsky, Skinner teria traído sua natureza empirista de orientação 
experimental quando demonstrou, com argumentos puramente teóri-
cos e muito remotamente sustentados em dados obtidos de experiên-
cias com ratos e pombos, de que maneira seu modelo poderia ser em-
pregado para descrever o comportamento verbal humano;
• Por fim, para Chomsky, o prestígio e a aceitação generalizada dos para-
digmas e ideias behavioristas não foram o resultado de evidências em-
píricas ou de alguma lógica argumentativa, mas apenas eram a conse-
quência da inexistência de uma alternativa plausível. A construção de 
uma alternativa deveria começar com um confrontamento explícito ao 
paradigma dominante, o que foi realizado na “Resenha” de Chomsky. 
MATERIAL COMPLEMENTAR
Site
Skinner e o Behaviorismo: Psicologia da Educação
https://bit.ly/3OD9Xll
Vídeo
Teorias da Aprendizagem – Behaviorismo
https://youtu.be/SfwaLmh_8uA 
Leituras
Behaviorismo Metodológico
https://bit.ly/3qyt5ZG
O Comportamento Verbal de B. F. Skinner: uma Introdução
https://bit.ly/3DYNKZV
https://bit.ly/3OD9Xll
https://youtu.be/SfwaLmh_8uA
https://bit.ly/3qyt5ZG
https://bit.ly/3DYNKZV
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Psicol. teor. pesqui, p. 467-72, 1994. Disponível em: < h t t p s : / / p e s q u i s a . b v s a l u d . o r 
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CHOMSKY, N. A review of B. F. Skinner’s Verbal Behavior. Language, v. 35, n.1, p. 26-58, 
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18/04/2023.
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FINGER, I. Teorias de aquisição da linguagem. 3. ed., Florianópolis, SC: UFSC, v. 1, p. 
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MACCORQUODALE, K. On Chomsky’s review of Skinner’s Verbal Behavior. Journal of the 
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em: 18/04/2023.

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