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Disciplina Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Unidade Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia Conteudista: Prof. Dr. Francisco de Assis Cavallaro Revisão Textual: Esp. Jéssica Dante Objetivo da Unidade: • Apresentar parâmetros acústicos e princípios de instrumentação diag- nóstica em Fonoaudiologia. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 2 Introdução A voz é um evento que possui grandes variações e que está relacionado a um complexo e interdependente trabalho dos músculos envolvidos em sua produ- ção, somados à integridade dos tecidos do aparelho fonador. Esse evento é pro- duzido pelo trato vocal, iniciando na laringe, onde o fluxo de ar passa pelas pre- gas vocais e pelo movimento das estruturas fonoarticulatórias. Desta forma, os fundamentos básicos da qualidade vocal estão intimamente relacionados com as condições fisiológicas, perceptivas e acústicas. Já a disfonia ou patologia vocal pode ser conceituada como uma alteração da comunicação oral, no qual a voz não transmite uma mensagem verbal e emocional de forma considerada normal. Atualmente são utilizados na análise dos sinais da voz, diversas ferramentas ba- seadas em dinâmica não-linear, beneficiando o método acústico com a aplicação das tecnologias de Engenharia de Processamento de Sinal. Essas tecnologias proporcionam funcionalidades a nível de programas e de equipamentos, facili- tando tarefas de análise e classificação de uma voz ao longo das várias fases do processo terapêutico. Nesta unidade são mostrados parâmetros acústicos e princípios de instrumentação diagnóstica em Fonoaudiologia. Noções de Espectrografia Acústica O objeto de estudo da avaliação acústica é a realização de medições do sinal sonoro vocal. Porém, a execução correta das várias técnicas de análise depende da forma de digitalização do sinal acústico. Muitos estudiosos do assunto suge- rem normas para obtenção do registro do áudio de vozes para se obter uma aná- lise e interpretação correta do ponto de vista visual (espectrografia) e na forma quantitativa, na forma de medidas temporais, de periodicidade, perturbação, de amplitude, ruído etc. Cuidados devem ser tomados para uma correta análise e interpretação confiável e podem ser agrupados em quatro categorias: • Quanto às condições de registro: utilização de equipamentos adequados, controlar o ruído de quantização, por exemplo; Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 3 • Quanto aos protocolos de gravação: deve-se diminuir a variabilidade das amostras da fala usadas na prática clínica e nas investigações, pois essas diferem no tipo (vogais sustentadas, leitura, conversação etc). Também na produção (voz suave, habitual, projeção vocal etc.) e duração (tempo ou unidade de fala), utilizando um mesmo protocolo de gravação. A aná- lise da frequência fundamental, e seus índices de perturbação, são fre- quentemente realizados com bases nas vogais /i/, /u/ e /a/; • Quanto ao sistema de gravação: O microfone deve ser do tipo dinâmico e omnidirecional com frequência de resposta linear e impedância baixa. Atualmente existem vários equipamentos com alta definição em capta- ção e armazenamento desses dados; • Quanto à análise qualitativa do sinal acústico: esse item concentra-se na qualidade da gravação do som, podendo ser classificado em três tipos de sinais sonoros: o Sinal do tipo 1: no qual o sinal é periódico com pequenas altera- ções qualitativas no intervalo estudado, permitindo realizar me- dições de F0, jitter, shimmer e índice sinal-ruído, discutidos nesta unidade. Na Figura 1 é apresentado um exemplo de sinal acústico característico de vozes normais (ou ligeiramente alteradas); Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 4 Figura 1 – Ilustração representando, na forma temporal, o Sinal do tipo 1 Fonte: Adaptada de FREITAS, 2012 #ParaTodosVerem: ilustração de um gráfico. Sob fundo branco é mostrado um gráfico que apresenta um sinal do tipo 1 na forma temporal, mostrado em linhas irregulares na cor preta, em que no eixo das abscissas está o tempo, em milissegundos, e no eixo das ordenadas, a amplitude. Fim da descrição. • Sinal do tipo 2: é um sinal acústico que contém alterações qualitativas no segmento analisado, ou seja, bifurcações, intermitênicas, sub- harmôni- cos e modulações (Figura 2). F0 (frequência fundamental) não é única, pois a frequência dos sub-harmônicos (ou modulações) é de considerável energia. Porém, pode-se eleger as amostras mais estáveis. Apenas per- mite uma análise visual do traçado, uma vez que a alteração sobreposta não possibilita uma caracterização confiável. Uma grande porcentagem de vozes patológicas produz um sinal deste tipo. São necessários pelo me- nos 100 ciclos para uma medição confiável; Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 5 Figura 2 – Exemplo de sinal do tipo 2 – representação espectral Fonte: Adaptada de FREITAS, 2012 #ParaTodosVerem: ilustração de um gráfico. Sob fundo branco é mostrado um gráfico que apresenta um sinal do tipo 2, representado na forma espectral, mostrado em li- nhas irregulares na cor preta, em que no eixo das abscis- sas está a frequência, em hertz, e no eixo das ordenadas, a magnitude, em decibéis. Fim da descrição. ● Sinal do tipo 3: é um sinal instável, não periódico, ou periodicidade estável, motivo pelo qual sua medição será restrita e condicionada (Figura 3). Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 6 Figura 3 – Exemplo de sinal tipo 3, com representação temporal Fonte: Adaptada de FREITAS, 2012 #ParaTodosVerem: ilustração de um gráfico. Sob fundo branco é mostrado um gráfico que apresenta um sinal do tipo 2, representado na forma espectral, mostrado em li- nhas irregulares na cor preta, em que no eixo das abscis- sas está a frequência, em hertz, e no eixo das ordenadas, a magnitude, em decibéis. Fim da descrição. Principais Parâmetros Acústicos Relacionados à Técnica A captação do sinal acústico, através do microfone, relativo ao vozeamento pode ser digitalizado e em seguida analisado por meio de programas computa- cionais apropriados para determinação de fatores de perturbação, objetivos que estão associados à forma de onda desse vozeamento. Na Figura 4 é representado um sinal de voz, obtido por um microfone e correspondente à palavra voz. Des- taca-se a região vozeada do sinal e a região não-vozeada. Aplicando técnicas de Processamento Digital de Sinal (PDS) é possível a medição de alguns parâmetros de perturbação. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 7 Figura 4 – Ilustração do sinal de voz captado por um microfone Fonte: Adaptada de FREITAS, 2012 #ParaTodosVerem: ilustração gráfica do sinal de voz. Sob fundo branco é mostrado os segmentos vozeados (ilustrados à esquerda da figura) e não vozeados (ilustrados à direita) proveniente de um sinal captado por um microfone (ilustrado no centro na parte superior). Após a obtenção dos segmentos de voz, pode-se aplicar o processa- mento digital de sinais (PDS) que permite obter algumas outras medi- das da perturbação sonora. Fim da descrição. O sinal da voz pode ser analisado de formas distintas: diretas e indiretas. • Formas diretas do sinal: consiste na aplicação de técnicas que interpre- tam o sinal vocal como um fenômeno de pressão sonora; Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 8 • Formas indiretas do sinal: trata-se de uma versão modificada do sinal vo- cal, como, por exemplo, o espectro, o cepstrumou o sinal residual. Há também a separação — por meio de procedimentos de modelagem mate- mática do trato vocal (entre a fonte glótica e o filtro) e técnicas pontuais de filtragem inversa que retiram todo o efeito do trato. Destaca-se a téc- nica de filtragem inversa residual, que remove os efeitos acústicos inde- sejados do trato vocal que interferem nas características do sinal de voz, aproximando do sinal emitido da excitação glótica e as técnicas de filtra- gem inversa glotal que subtraem os efeitos acústicos da radiação labial e do trato vocal que atuam sobre as características do sinal da voz. A frequência fundamental (F0) da fala é igual à velocidade corresponde a uma forma de onda que se repete por unidade de tempo em uma fala encadeada, ou de outra forma, reflete quantidade de ciclos vibratórios produzidos, através das pregas vocais, por segundo. É utilizada como medida acústica (no domínio do tempo — transformada de Fourier) e pode ser aplicada através da equação: 1 𝑁 ∑ 𝑁 𝑖=1 𝐹𝑂 = 𝐹𝑂. Importante! A separação entre a radiação labial e o trato vocal pode ser re- alizada matematicamente, pois são resultados de diferenças acústicas conhecidas. O trato vocal está relacionado às resso- nâncias (formantes), já a radiação labial tem a função principal de condicionar o acoplamento com o meio cujo meio se pro- paga. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 9 As unidades mais comuns utilizadas são o Hertz (Hz), o semitons (ST) e/ou as oitavas. A F0 é importante, pois mostra a eficiência do sistema fonatório, dá informa- ções importantes sobre a biomecânica laríngea, i.e., sobre o comprimento natu- ral da prega vocal, alongamento, da massa de vibração e tensões aplicadas. Tam- bém sobre a aerodinâmica, i.e., pressão subglótica (produzida pela passagem do ar pulmonar). A determinação de F0, de cada ciclo, realizada normalmente pela comparação entre formas de ondas de dois intervalos adjacentes, com mesmo comprimento de onda, ou por meio de programas de computadores especializados em proces- samento de sinais digitais. Outro método de obtenção de F0 é o ceptrum, muito poderoso, que normalmente é utilizado em fala encadeada e em vozes alteradas numa forma acentuada. Outra medida importante é o jitter (perturbação da frequência a curto prazo), onde a característica principal é a medição ciclo a ciclo, ou curto termo de Leitura Fundamentos em Laringologia e Voz O ciclo glótico — também designado por vibratório ou fonató- rio — é um ciclo de vibrações das pregas vocais, desde que co- meçam a abduzir até à próxima vez em que tal acontece (PI- NHO; PONTES, 2008; SOUZA, 2010). https://bit.ly/3t0D9eQ Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 10 variabilidade não voluntária na (F0 ou período). Sua representação mais sim- ples, utiliza dois períodos (ou ciclos) glóticos consecutivos de frequências 𝐹𝑂1 𝑒 𝐹𝑂2, podendo ser determinado por: 𝐽(%) = (𝐹𝑂1 − 𝐹𝑂2) ( 1 2 [𝐹𝑂1 + 𝐹𝑂2]) × 100; Um intervalo muito utilizado, jitter saudável para as fonações sustentadas em jovens adultos, é o intervalo entre 0,5-1,0%. A magnitude pode variar e estão associadas: • Acoplamento entre a região glótica e supraglótica; • Assimetria mecânica e histologia da prega vocal; • Distribuição de muco sobre as pregas vocais durante a vibração; • Pouca tensão e massa nas pregas vocais; • Sensação tátil laríngea. De forma geral, as fontes dessa forma de perturbação são do tipo: • Neurológicas: variações no controle da tensão muscular por lesões neu- ronais ou descontrole emocional; • Mecânicas: alterações nas propriedades biomecânicas do tecido das pre- gas vocais; • Estilísticas: o vibrato, por exemplo. Outro parâmetro é o shimmer que tem a função de identificar e quantificar as variações mínimas de amplitude do sinal (num curto intervalo de tempo) com base em cada ciclo fonatório, indicando apenas pequena variabilidade entre os ciclos sucessivos glóticos. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 11 O shimmer pode se expresso matematicamente por dois ciclos consecutivos com amplitude 𝐴1 𝑒 𝐴2 podendo ser determinado pela função de perturbação de 1ª ordem: 𝑆(%) = |𝐴1 − 𝐴2| ( 1 2 𝐴1 + 𝐴2]) × 100; Esse parâmetro permite uma percepção indireta do ruído na produção vocal, aparecendo nas perturbações da voz mais alterados em frequências graves e com intensidade baixa. O shimmer pode ser apresentado de diferentes formas: Importante! Se o sistema fonador fosse completamente estável, o valor do shimmer seria zero. Importante! O shimmer e o jitter tendem a covariação (medida estatística que permite comparar duas variáveis, como elas se relacio- nam). Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 12 ● Em porcentagem (%): fator de perturbação direcional com valor limite frequentemente usado de 3%. É a variação da amplitude de cada par de períodos de tons consecutivos relativos ao valor médio das amplitudes contidas no segmento de voz em estudo; ● Em Decibéis (dB): com o coeficiente logarítmico da amplitude ciclos con- secutivos, através da equação: 𝑆(𝑑𝐵) = 20 𝑙𝑜𝑔 𝑙𝑜𝑔 [ 𝐴1 𝐴2 ] ; Com valores aproximados em 0.4 dB que diminuirá à medida que o vo- lume vocal aumenta. Representa a variação média da amplitude entre cada par de períodos de tons consecutivos. ● Cociente de perturbação na amplitude [%] (ou Amplitude Perturbation Quotient - APQ): pode ser calculado através dos desvios (valores médios) das amplitudes de cada conjunto de 3, 5, 11 ou 55 períodos de tons conse- cutivos, relacionados ao valor médio das amplitudes no segmento de voz em estudo; ● Variação do pico da amplitude [%] (ou Peak Amplitude Variation): repre- senta variação do desvio padrão em torno da amplitude (cálculo realizado de período a período); ● Índice de intensidade de tremor da amplitude [%] (ou Amplitude Tremor Intensity Index – ATRI): determinado através da razão entre a amplitude da componente de baixa frequência mais elevada e a soma das amplitudes pertencentes ao segmento de voz em estudo; ● Fator de perturbação da amplitude [%] (ou Amplitude Perturbation Factor – AFT): determinado pela razão entre o número de vezes em que a ampli- tude de um período de tons ultrapassa um determinado limiar e o número total de períodos de um tom estudado; ● Fator de perturbação direcional da amplitude [%] (ou Amplitude direcional Perturbation Factor - ADPF): é determinado pela razão entre o número de Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 13 vezes que a diferença das amplitudes de cada par de períodos de tons con- secutivos troca de sinal e o número total de períodos de tons estudados. Considere uma laringe normal com adução glótica, completa ou parcial, e com um fluxo de ar através da constrição definida pelo espaço que existe entre as pregas vocais (glote) que formam um jato que exerce pressão nas paredes do trato vocal, ligeiramente acima das pregas vocais (Figura 5). Considerando tam- bém que não ocorrem contrições na faringe e cavidade oral, então a fonte domi- nante de ruído, localizada entre 1,0 e 2,5 cm acima da glote, é consequência do fluxo turbulento que é gerado nas paredes que envolvem a coluna de ar na região supraglótica. Podem existir outras fontes, fendas glóticas, por exemplo. Importante! Adução glótica refere-se à aproximação das pregas vocais, de forma suave ou brusca. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 14 Figura 1 – Ilustraçãoda direção do fluxo aéreo através da glote e em con- tato com a coluna de ar supraglótica Fonte: Adaptada de FREITAS, 2012 #ParaTodosVerem: ilustração da direção de fluxo de ar. Sob fundo branco é mos- trado uma ilustração da glote, indicando o fluxo de ar que passa entre as pregas vocais no centro da figura e entra em contato, na parte superior, com uma coluna de ar supraglótica, exercendo pressão nas paredes do trato vocal. Fim da descri- ção. Quantitativamente há a medida HNR (Harmonic-to-Noise Ratio), que é uma ava- liação objetiva, com bases matemáticas, que relaciona a componente aperiódica com a periódica, constituinte de um segmento de fala. Pode ser estimada com base na análise de 50 ciclos glotais (consecutivos), aproximadamente (Figura 6). A componente periódica é consequência da vibração das pregas, decorrentes da energia dos harmônicos, e a não periódica do ruído glótico, sobretudo energia inter-harmônica. A medida HNR resulta da razão entre a média da potência do sinal e a média da potência da componente de ruído da onda. Um método de Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 15 quantificação foi proposto por Yumoto e colaboradores (YUMOTO; GOULD; BAER, 1982) para estimar o ruído glótico através da equação: 𝐻𝑁𝑅 = 10 𝑙𝑜𝑔 𝑙𝑜𝑔 { 50 ∑𝑇𝑚𝑎𝑥 𝑛=0 [𝑥(𝑛)] 2 ∑50 𝑖=1 ∑𝑇𝑚𝑎𝑥 𝑛=0 [𝑥𝑖(𝑛) − 𝑥(𝑛)] 2} ; 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑥(𝑛) = 1 50 ∑ 50 𝑖=1 𝑥𝑖(𝑛). A média dos 50 períodos de sinal, após alinhamento temporal, é representada por 𝑥(𝑛) que tem a finalidade de minimizar a influência do ruído, que é estatis- ticamente aleatório. O valor de 𝑇𝑚𝑎𝑥 é o período máximo glotal entre os 50 ciclos. A determinação do número de ciclos é arbitrária. A razão entre as componentes periódica e não periódica mostra a eficiência do processo de fonação, i.e., a relação HNR tenderá a valores maiores quando maior for a eficiência na utilização do fluxo de ar expelido pelos pulmões, em energia de vibração das pregas vocais. Os valores dessa relação serão maiores quanto mais saudável (íntegro) for o ciclo vibratório dessas. Portanto, essa relação mede a quantidade (relativa) de ruído adicional contido no sinal cocal, podendo ser gerado pela turbulência do fluxo aéreo na glote nas situações em que há fecha- mento incompleto (durante a fonação), ou pela vibração não periódica da prega vocal. Importante! Uma voz saudável caracteriza-se por uma relação HNR ele- vada, a que se associa a impressão de voz sonora e harmônica. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 16 Figura 6 – Ilustração de um sinal de onda complexa – representação isolada da onda sinusoidal e de ruído e a conjugação dos dois compo- nentes Fonte: FREITAS, 2012 #ParaTodosVerem: ilustração de gráficos. Sob fundo branco são mostrados três gráficos, sendo os dois da esquerda (superior representa uma onda senoidal e o inferior um ruído). São mostradas algumas setas e um sinal de soma para indicar a conjugação das ondas senoidal e de ruído para resultar no terceiro gráfico (grá- fico da direita), com a sobreposição das duas ondas, gerando um sinal de onda complexo. Fim da descrição. Leitura Harmonics‐to‐noise Ratio as an Index of the Degree of Hoarseness Mais conhecimento sobre a razão sinal/ruído, acesse o se- guinte material. https://bit.ly/3t3BEwp Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 17 Espectrografia O estudo relativo à análise do sinal acústico é realizado pela técnica de espectrografia. É a técnica mais utilizada, pois os requisitos de equipa- mentos são bem acessíveis. O conceito fundamental matemático envol- vido é a transformada de Fourier, ferramenta matemática poderosa, que pode ser aplicada de forma computacional, usando a matemática dis- creta, por meio de um método numérico eficiente, conhecido FFT (Fast Fourier Transform). Nesse método o espectro de frequências é caracteri- zado por um número de bandas, cuja largura de banda é ajustada por um parâmetro de “tamanho” ou “número de pontos”. Frequentemente, esta característica é um binário (normalmente 256, 512, 1.024 bytes). Quanto maior for o número de pontos (maior a representatividade), mais estreita cada banda do espectro da FFT e melhor a capacidade de separação dos harmônicos da voz (Figura 7). A informação produzida por esta técnica na sua representação, denominada por espectrograma, pode ser represen- tada na forma tridimensional com: ● O tempo no eixo horizontal; ● A frequência no eixo vertical; ● A amplitude na acentuação de cor. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 18 Figura 7 – Espectrograma de um caso com o software Dr. Speech Fonte: FREITAS, 2012 #ParaTodosVerem: ilustração da imagem da tela de um software. Sob fundo branco é mostrado uma impressão da tela de um software chamado Dr. Speech, em que se mostra um espectrograma, sendo que na parte superior são mostra- das duas ondas irregulares (uma na cor azul e outra na cor vermelha). Na parte inferior é mostrado um gráfico com diversos pontos na cor cinza, represen- tando um tipo de onda. Fim da descrição. A espectrografia é uma técnica interessante, pois reflete características im- portantes da voz; a F0 (frequência fundamental) e os seus harmônicos corres- pondentes. Também a amplitude de cada um dos harmônicos e a duração do re- gisto vocal, e o número de pontos da FFT. A forma tridimensional, ou as três componentes que a compõem, constituem a chamada série harmônica do som periódico, cuja frequência de cada componente é um múltiplo inteiro da fre- quência fundamental, de outra forma, a frequência de menor valor é considerada o harmônico fundamental (F0). As frequências seguintes são múltiplas dessa, i.e., segundo harmônico e seguintes. Já as componentes não periódicas da voz (ruído gerado pelas consoantes fricativas ou nas fendas glóticas) apresentam um Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 19 espectro denso de frequências, diferenciando das linhas espectrais bem defini- das, características das séries harmônicas. Sons semiperiódicos, iguais aos das vogais, apresentam-se na forma de sobreposição de várias componentes sinu- soidais, cada uma com uma frequência caraterística, amplitude e desfasagem (atraso). O som produzido pela voz humana (complexo) pode ser analisado e in- terpretado quanto ao seu conteúdo em frequência através do uso de filtros de banda larga (Figura 8) ou de banda estreita (Figura 9). Figura 8 – Espectro de banda larga Fonte: FREITAS, 2012 #ParaTodosVerem: ilustração de gráfico. Sob fundo branco é mostrado na figura 8 um espectro de banda larga, em que no eixo das abscissas está o tempo, em milissegundos, e no eixo das ordenadas, a frequência, em hertz. Observa-se na cor cinza-escura um formato ondular. Fim da descrição. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 20 Figura 9 – Espectro de banda estreita Fonte: FREITAS, 2012 #ParaTodosVerem: ilustração de gráfico. Sob fundo branco é mostrado na figura 9 um espectro de banda estreita, em que no eixo das abscissas está o tempo, em milissegundos, e no eixo das ordenadas, a frequência, em hertz. Observa-se na cor cinza em tons claros um formato ondular da onda, indi- cando uma resolução do espectro menor com o uso deste tipo de filtro. Fim da descrição. O espectrograma de banda larga resulta da aplicação de um filtro de banda larga e tem uma faixa de frequências de 200-500 Hz. É um gráfico de resolução temporal disposto em estrias verticais, que salienta as regiões de energia do si- nal, apontando a existência de atividades periódica eaperiódica dele. Assim, é possível a identificação das frequências de ressonância, ou seja, os formantes, e ainda as zonas de concentração de ruídos, representadas por “chuva” no fundo do traçado. Os formantes são visíveis como barras escuras, que indicam zonas de concentração de energia. A disposição deles tem uma relação direta com a con- figuração do trato vocal durante a emissão do som, variável de acordo com ca- racterísticas de postura dos articuladores — faríngeos e bocais — associados. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 21 O espectrograma de banda estreita é retratado com estrias horizontais, cada uma representa um harmônico. São designados deste modo porque evidenciam a estreita largura de banda do sinal da fala — em torno dos 30-50 Hz. Não realiza medições temporais, sendo útil na obtenção da frequência fundamental e de as- pectos associados à prosódia. Tem como principal finalidade a representação da estrutura harmônica do sinal da fala. Acústica das Salas de Aula e de Am- bientes A acústica é a área da física responsável pelo estudo dos sons, geração, trans- missão e recepção das vibrações mecânicas audíveis, ou não, que se propagam num meio elástico. Ao contrário da luz, eletricidade e das vibrações eletromagnéticas de uma maneira geral, as ondas sonoras não se propagam no vácuo. A propagação do som está condicionada à existência de um meio de propagação e a fonte sonora, sendo propagado por impulsos ao redor do corpo sonoro, que provocam Leitura Características da Espectrografia de Banda Larga e Estreita da Emissão Vocal de Homens com Laringe sem Afecções Para um aprofundamento maior sobre Banda larga e Banda es- treita, veja o link a seguir. https://bit.ly/3ETSS2g Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 22 deformações ao meio, com trechos de compressão e distensão no sentido lon- gitudinal, caracterizando a onda de pressão e promovendo a propagação so- nora. Parte da energia transmitida ao meio dá origem a uma vibração sonora, en- quanto a restante é transformada em calor. As vibrações recebidas pelo meio são transmitidas para as regiões adjacentes até que a energia mecânica dimi- nua e as vibrações não sejam mais perceptíveis a uma determinada distância da fonte sonora. No mundo real a propagação do som geralmente encontra em sua trajetória obstáculos, que fazem com que sua amplitude diminua com a distância da fonte e o tempo. Quando não há nenhum obstáculo às ondas sonoras, chama-se esta propagação do som de transmissão em campo livre, o que só é possível em um ambiente ideal. Isolamento Acústico Um ambiente é considerado acusticamente isolado quando os sons externos não são transmitidos para o seu interior. A transmissão do som se dá por três caminhos diferentes: ● Por meio do ar, pelas aberturas situadas nas portas, nas janelas, nas gra- des de ventilação etc; ● Por meio da estrutura da própria construção ou canalizações diversas, onde vibrações se transmitem e podem assumir valores que inviabilizam a utilização de um ambiente para certos tipos de atividades mais acura- das; ● Através das superfícies do meio fechado, como tetos, forros, pisos, pare- des, portas e janelas fechadas etc. Acústica de Ambientes Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 23 Entender o comportamento das ondas sonoras nos ambientes permite com- preender as qualidades e problemas que vivenciamos em igrejas, teatros, giná- sios, salas de eventos, entre outros ambientes. Os estudos do comportamento acústico em ambientes se assemelham ao es- tudo de ótica geométrica, pois para estabelecer as condições geométricas e di- nâmicas aceitáveis para as ondas sonoras, nos limitamos a fazer hipóteses sim- ples que nem sempre se comprovam na prática. As relações temporais, espaciais, de intensidade e de fase entre os sons diretos e refletidos determinam a qualidade da acústica de um ambiente. Assim, um am- biente pode estragar a performance mais perfeita ou torná-la ainda mais agra- dável. Parâmetros como o tempo de reverberação e o nível do som reverberante de- vem ser ajustados de acordo com o propósito do auditório, salas de aulas, de concertos, shows etc. ● Intimidade: sensação acústica de se estar perto da fonte sonora; ● Vivacidade: tempo de reverberação para médias e altas frequências; ● Calor: relacionado a riqueza dos sons graves (75 a 350 Hz); ● Brilho: boa percepção de altas frequências; ● Intensidade do som direto; ● Nível de som reverberante: deve ser o mesmo em todo o auditório; ● Clareza: mede o grau de percepção de todos os detalhes musicais ou o grau de definição com que os sons são percebidos como distintos; ● Envolvimento e difusão: boa distribuição do som. Todas essas características acústicas estão relacionadas às reflexões e absor- ção dos materiais utilizados na construção do ambiente. Se há grande quanti- dade de reflexões e alto tempo de reverberação, o ouvinte irá confundir os sons. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 24 Acústica em Salas de Aula Com o advento da Revolução Industrial, deu-se início a uma grande ge- ração de equipamentos produtores de ruídos, culminando na atual situa- ção em que temos uma grande dificuldade de realizar tarefas que envol- vam a comunicação através da fala-escuta, gerando prejuízos em todos os setores que dependem deste tipo de comunicação. Nas salas de aula isto não se torna diferente. São várias as fontes de ruídos que interferem no aprendizado do aluno e influenciam nas atividades do professor. Tratar a acústica de salas de aula como parte integrante do processo pedagógico auxilia os professores diminuindo significativamente os problemas fono- audiológicos enfrentados por eles. Por outro lado, os alunos também se- rão beneficiados com a melhor interpretação do conteúdo ministrado pe- los professores. Inteligibilidade da Fala A inteligibilidade da fala refere-se a quão bem alguém pode ser compreen- dido quando se está falando. O discurso que é transmitido através de uma sala por uma pessoa ou por um sistema de endereçamento público nunca é recebido como uma réplica exata do sinal original. Não só é acrescentado ruído de fundo como o sinal é também distorcido pelas propriedades refletoras e reverberantes da sala. As ondas sonoras saltam das paredes, do teto e do chão, bem como de qualquer mobiliário ou pessoas na sala, o que resulta numa mancha do sinal de fala. Isto pode muitas vezes resultar numa redução da inteligibilidade da fala. Além disso, esses reflexos podem também criar ondas de pé, que podem ampli- ficar certas frequências e criar “pontos quentes” onde o som é muito mais alto do que em outras partes da sala. Embora existam formas de mitigar estes efei- tos (tais como painéis de absorção sonora), são muitas vezes inevitáveis em grandes salas com superfícies duras. Como resultado, a inteligibilidade da fala é muitas vezes reduzida em tais ambientes. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 25 Quando se trata da inteligibilidade da fala, medida numa sala, o fato é que o tratamento acústico é muitas vezes necessário para resolver quaisquer proble- mas pendentes. É por isso que remédios como o reforço do som e a redução do tempo de reverberação são tipicamente utilizados em auditórios e salas de reu- nião. Em grandes recintos, entretanto, o foco está muitas vezes na prevenção de ecos. Finalmente, os sistemas de endereçamento público devem ser optimi- zados e o ruído de fundo atenuado. Todas estas etapas são cruciais se se pre- tende melhorar a inteligibilidade da fala. Importânciada Relação Sinal/Ru- ído para a Percepção de Fala, Com- preensão e Aprendizado Um ambiente que minimize a interferência do ruído deverá obedecer às se- guintes indicações: mínimo de ruído interno; reverberação atenuada; relação si- nal/ruído ou voz/ruído otimizada; ruído de fundo atenuado. As fontes de ruído são caracterizadas em três tipos: fontes externas, fontes locais e fontes internas ao ambiente. A relação sinal/ruído, define-se entre a intensidade sonora da voz emitida pelo professor em ambiente de aprendizado e o ruído existente naquele ambiente e, quanto maior for a relação, melhor a inteligibilidade da fala. Alunos de escolas afetadas pelo ruído de aviões não aprendem a ler tão bem quanto alunos de escolas em regiões mais silenciosas. Dificuldades como déficit na leitura, nas habilidades linguísticas relacionadas à má acústica das salas de aula aumentam sucessivamente, resultando em prejuízos no processo de apren- dizagem e os professores ficam sujeitos a uma carga de estresse, que pode refle- tir na qualidade do ensino. Em várias salas de aula nos EUA, até 25% da infor- mação pode ser perdida por causa do ruído. O ruído pode ser minimizado com algumas adequações do espaço. Se a escola apresenta chão frio (cerâmicas, lajotas etc.), que é altamente reverberante, seria Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 26 indicado um revestimento com algum material absorvente (carpetes, tapetes, revestimento emborrachado etc.). As salas de aula deverão ser separadas por pa- redes, caso continuasse interferindo, investir em material de revestimento (cor- tiça, painéis móveis etc.). As janelas, quando não apresentam tratamento antir- ruído, deveriam ter cortinas. Se as salas de aula forem equipadas com ventila- dores e/ou condicionadores de ar, o ruído por eles gerados também deverão ser monitorados para avaliação. Controlar o arrastar das carteiras, com carpetes ou mesmo colocando bolas de tênis perfurando os pés da carteira. Ou seja, montar estratégias para controlar esse agente que resulta em tanta discrepância na aprendizagem. O ruído para ser prejudicial necessita de um tempo de exposição a ele e que chegue a um nível nocivo, contudo, quando direcionamos para a realidade de sala de aula, os envolvidos desse ambiente, seja aluno ou professor, podem estar expostos ao ruído cinco vezes por semana, até mesmo um ano letivo completo. Nesse sentido, é notório que tanto os alunos quanto os professores, dentro de sala de aula, correm riscos e que, direto ou indiretamente, são vítimas do ruído. Dentre os problemas causados pelos efeitos do ruído, no ambiente de aprendi- zagem, ressaltam-se: baixa produtividade, interferência na comunicação, falta de concentração e, sobretudo, dificuldades na aprendizagem de crianças e ado- lescentes e na qualidade do ensino que o professor está ministrando. Nesse caso, o ruído é entendido como agente negativo à aprendizagem. Tal fato motiva a busca por discussões relacionando ruído e aprendizagem. Psicoacústica Aplicada aos Méto- dos Diagnósticos A Psicoacústica é uma área que envolve conceitos de física acústica e fisiolo- gia auditiva com objetivo de estudar a percepção subjetiva do som. É uma área de estudo muito importante para a audiologia, pois permitiu o melhoramento prático de diversas técnicas clínicas audiológicas, aprofundando conceitos di- recionados principalmente à reabilitação e avaliação auditiva. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 27 Os princípios da psicoacústica são constantemente estudados para aplicação prática em técnicas audiológicas, pois a percepção do som sofre grande varia- ção entre indivíduos, sobretudo no estudo dos mecanismos individuais de per- cepção de sons complexos e nas habilidades de processamento auditivo em cri- anças. Desta forma, os limiares auditivos não são somente especificados como uma média comparada a outros indivíduos, mas também por meio da determi- nação de diferenças aceitáveis de acordo com diversos fatores. Na prática clínica audiológica utilizam-se conceitos da psicoacústica para se comparar os limiares auditivos de um indivíduo com valores de limiares de re- ferência médios de pessoas consideradas audiologicamente normais. A seguir são resumidamente descritos alguns dos principais conceitos relaci- onados à psicoacústica que são importantes para o estudo desta disciplina. Sensibilidade auditiva: corresponde a capacidade do órgão sensorial de de- tectar um estímulo e realizar sua quantificação por meio do limiar de audibili- dade, podendo ser do tipo absoluto e diferencial. A sensibilidade auditiva absoluta indica que a intensidade dos estímulos acima de determinado valor é audível e abaixo, inaudível. Na audiometria, diversas técnicas objetivam realizar a determinação do li- miar auditivo, que é uma aproximação da sensibilidade auditiva absoluta, em que existe uma margem de erro especificada conforme o tipo de equipamento e Saiba Mais A psicoacústica é o ramo da psicofísica que estuda a relação en- tre as percepções auditivas individuais e subjetivas e as carac- terísticas físicas dos sons. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 28 a técnica utilizada, que segundo Boéchat et al. (2015, p. 59) corresponde nor- malmente a 5 dB. Sonoridade: é o nome dado à sensação subjetiva atribuída à intensidade so- nora, em que se ordena os sons em escalas, desde a mais baixa (mudo) até a mais forte. Assim, não se deve confundir a sonoridade com as diferentes medi- das físicas do som, pois ela corresponde à sensação subjetiva da intensidade, isto é, a percepção de um indivíduo do parâmetro físico associado, que depende de diversos fatores. Sonoridade: é o nome dado à sensação subjetiva atribuída à intensidade so- nora, em que se ordena os sons em escalas, desde a mais baixa (mudo) até a mais forte. Assim, não se deve confundir a sonoridade com as diferentes medi- das físicas do som, pois ela corresponde à sensação subjetiva da intensidade, isto é, a percepção de um indivíduo do parâmetro físico associado, que depende de diversos fatores. Importante! De acordo com Boéchat et al. (2015, p. 59), “limiar auditivo é a intensidade na qual um som é percebido em 50% das apresen- tações”. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 29 Para se avaliar a percepção auditiva de um indivíduo, faz-se o uso de medidas diversas que refletem numericamente o fenômeno de estudo. Dentre os méto- dos psicofísicos tem-se como princípio geral a detecção direta dos estímulos e a investigação da diferença entre os estímulos direcionados ao indivíduo. Os três métodos principais são: ● Método dos limites: neste método faz-se o controle do estímulo e o indi- víduo avaliado responde a cada apresentação, em que se obtém o limiar auditivo por meio do emprego de três técnicas de estimulação, denomi- nada de ascendente, descendente ou ascendente e descendente; ● Método do ajuste: neste método a intensidade do ajuste é controlada pelo paciente avaliado, por meio de um botão de ajuste, em que a intensidade sofre uma constante variação durante o exame, iniciando pelo som mais fraco audível pela pessoa em teste; ● Método do estímulo constante: neste método os estímulos são apresen- tados ao paciente de forma aleatória, em que se varia diversos níveis de intensidade durante o exame. Audiometria De acordo com Boéchat et al. (2015, p. 58) a “audiometria é realizada, na grande maioria das vezes, utilizando-se uma adaptação do método dos limites, com procedimentos em escada […]”. Importante! Audição binaural corresponde a capacidade de ouvir com as duasorelhas e poder identificar e diferenciar os sons em cada uma. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 30 Neste exame, o examinador apresenta estímulos e o indivíduo em teste res- ponde após cada apresentação sua percepção audiológica do referido estímulo. A Figura 10 mostra um exame de audiometria sendo realizado, em que o indi- víduo fica dentro de uma cabina, sendo avaliado por um profissional fonoaudió- logo. Figura 10 – Espectro de banda estreita Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: foto da execução de um teste diagnóstico. Sob fundo co- lorido é mostrado uma foto com duas mulheres, em que uma está à esquerda, de jaleco branco, sendo a examinadora, controlando o audiômetro. A outra mu- lher está dentro de uma cabina com fone de ouvido e com a mão levantada, res- pondendo aos estímulos impostos pelo examinador durante o exame de audio- metria. Fim da descrição. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 31 A audiometria é um exame indolor capaz de avaliar a capacidade de uma pes- soa ouvir e compreender sons em diferentes frequências, utilizando o método psicométrico dos limites auditivos para avaliar a sensibilidade auditiva. Conse- gue-se por meio deste exame avaliar a integridade do sistema auditivo do indi- víduo. Os principais tipos de audiometria são: • Audiometria Tonal Liminar: é um tipo de exame audiométrico subjetivo que permite avaliar o grau e o tipo de perda auditiva, possibilitando de- terminar o limiar auditivo do indivíduo. Neste tipo de exame faz-se a aplicação de estímulos em diversas frequências, em que para a obtenção dos limiares auditivos pode-se utilizar de diversos métodos, sendo o as- cendente, descendente ou ascendente/descendente, que são métodos psicoacústicos; • Audiometria Vocal: também denominada de logoaudiometria, permite avaliar a compreensão da fala humana, incluindo a capacidade de detec- ção e reconhecimento da fala em diferentes níveis de intensidade do som. Imitanciometria A imitanciometria é um exame complementar à audiometria para avaliação da audição. Neste método, se avalia a mobilidade da membrana timpânica e de seus ossículos, permitindo, em conjunto, verificar a existência de doenças otológicas relacionadas à esta região do ouvido. Com a imitanciometria, avalia-se a medida de imitância acústica em que se aplica uma pressão controlada no conduto auditivo utilizando-se de uma sonda. O procedimento básico deste tipo de exame consiste em duas partes: timpano- metria e medida do reflexo acústico. A Figura 11 mostra uma pessoa sendo examinada pelo método da imitancio- metria: Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 32 Figura 10 – Exame de imitanciometria Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: foto da execução de um teste diagnóstico. Sob fundo colo- rido é mostrado uma foto com uma mulher vestindo roupa de cor preta sendo examinada por meio do método da imitanciometria. Uma outra pessoa à direita executa o exame, em que se observa que ela segura uma sonda de cor preta, di- recionada a uma das orelhas da mulher que está sentada. Fim da descrição. Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 33 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Estudo das Propriedades Acústicas e Psicofísicas da Cóclea https://bit.ly/3rseQWQ Guia de Orientações na Avaliação Audiológica Básica https://bit.ly/46rk43Q Guia de Orientação na Avaliação Audiológica Volume I - Audiometria tonal liminar, logoaudiometria e medidas de imitância acústica. https://bit.ly/48vu5yK Guia de Orientação na Avaliação Audiológica Volume II – Eletrofisiologia & Eletroacústica. https://bit.ly/48wY09R Leitura O Mascaramento na Avaliação Audiológica: Um Guia Prático ALVARENGA, K. D. F.; CORTELETTI, L. C. B. J. O Mascaramento na Avaliação Au- diológica: Um Guia Prático. São José dos Campos: Pulso, 2006. https://bit.ly/3rseQWQ https://bit.ly/46rk43Q https://bit.ly/48vu5yK Biofísica Aplicada à Fonoaudiologia Princípios de Instrumentação Aplicada à Fonoaudiologia 34 Referências AUDIO PAULISTA. Exames - Audiometria, Imitanciometria e Processamento auditivo. c2023. Disponível em: <https://audiopaulista.com.br/exames>. Acesso em: 22/07/2023. BOÉCHAT, E. M. et al. (org.). Tratado de Audiologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Gua- nabara Koogan, 2015. FERREIRA, L. F. Acústica de ambientes e salas de aula. 2010. 45 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura Plena em Física) - Departamento de Física de Ji-Paraná da Universidade Federal de Rondônia, Rondônia, 2010. Disponí- vel em: <https://fisicajp.unir.br/uploads/48059049/arquivos/TCC_LEON- DAS_FERNANDES_FERREIRA_246377962.pdf>. Acesso em: 21/07/2023. FREITAS, S. A. V. S. Avaliação acústica e áudio perceptiva na caracterização da voz humana. 2012. 251 f. 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